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As origens sociais da ditadura e da democracia - Barrington


Moore
Política Comparada (Fundação Armando Alvares Penteado)

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Baixado por Manuela Queiroz (manuenem12@gmail.com)
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“As origens sociais da ditadura e da democracia” de Barrington Moore Jr.

Primeiro Capítulo

- A via democrática para a sociedade moderna

TRÊS VIAS PARA O MUNDO MORDERNO


VIA DA REVOLUÇÃO BURGUESA: aliou o capitalismo à democracia parlamentar por
meio de revoluções como a Rev. Puritana, a Ver. Francesa e a Guerra Civil Americana 
Inglaterra, França e EUA ingressaram nela em épocas sucessivas, mesmo com sociedades
profundamente diferentes
 VIA DE UMA REVOLUÇÃO VINDA DE CIMA: também capitalista, mas com ausência de
forte surto revolucionário, passou através de formas políticas reacionárias até culminar no
fascismo  industria se desenvolveu e floresceu na Alemanha e Japão
 VIA COMUNISTA: origem entre camponeses tornou possível a variante comunista
EXCEÇÃO  INDIA

 as vias constituem fases históricas e apresentam entre si uma relação determinada e


limitada  métodos de modernização adotados por um pais alteram dimensões para os
países seguintes que escolham o mesmo método  EXEMPLO: sem a experiência
capitalista o método comunista teria sido algo completamente diferente, se tivesse chegado
mesmo a existir  INDIA tem desconfiança com as 3 vias

DESENVOLVIMENTO DE UMA DEMOCRACIA COMO LUTA LONGA E INCOMPLETA, NO


SENTIDO DE FAZER:
1) controlar governantes arbitrários
2) substituir leis arbitrárias por leis justas e racionais
3) participação da população na elaboração de leis

 DIFERENÇAS ESTRUTURAIS EM SOCIEDADES AGRARIAS podem, em certos casos,


favorecer o subseqüente desenvolvimento em direção a democracia parlamentar, enquanto
que outros pontos de partida tornariam tal realização mais difícil ou anula-La  porém,
mesmo que o ponto de partida não seja decisivo, alguns poderão ser mais favoráveis que
outros para o desenvolvimento democrático
 TESE EM RELAÇÃO AO REUDALISMO: feudalismo ocidental continha algumas
instituições que o distinguiam de outras sociedades e que favoreceram as possibilidades
democráticas  aspecto mais importante foi o desenvolvimento da noção de imunidade de
certos grupos e pessoas ao poder do governante, bem como a concepção do direito de
resistência à autoridade injusta + concepção de contrato como acordo mútuo, feito por
pessoas livres, que resultou na relação feudal da vassalagem  legado da sociedade
medieval européia aos conceitos modernos ocidentais
FEUDALISMO  surgiu de fato no Japão com base na lealdade para os superiores, faltava-
lhe o conceito de um compromisso entre iguais teóricos  SISTEMA DE CASTAS INDIANO:
tendências no conceito de imunidade e do privilégio corporativo  podem surgir
despotismos tradicionais quando uma autoridade central está em posição de desempenhar
diversas tarefas ou supervisar atividades essenciais da sociedade  gama mais ampla de
escolha do que antigamente quanto ao nível político a que uma sociedade organiza a mão-
de-obra e a manutenção da coesão social

PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO EM SI

 A persistência de um absolutismo real ou um governo burocrático pré-industrial, até os


tempos modernos, criou condições desfavoráveis à democracia do tipo ocidental  China,
Rússia e Alemanha convergem nesse ponto  governos centrais poderosos (absolutismos

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reais ou burocracias agrárias\0 se estabeleceram nos séculos XVI e XVII em todos os países
mais importantes (exceto EUA)  (não oferece explicação, valeu brother) o fato constitui
um suporte conveniente, embora parcialmente arbitrário, no qual podemos suspender os
princípios da modernização  instituições monárquicas fortes desempenharam função
indispensável, inicialmente, controlando a turbulência da nobreza  democracia não
poderia florescer à sombra da pilhagem iminente por parte de barões malfeitores
PRINCIPIO DOS TEMPOS MODERNOS  equilíbrio entre coroa e nobreza foi precondição
decisiva para a democracia moderna, poder real dominava mas deixava certa
independência para a nobreza  NOBREZA INDEPENDENTE constituiu ingrediente
essencial no desenvolvimento da democracia
EXEMPLO: A Guerra das Duas Rosas na Inglaterra dizimou a aristocracia proprietária,
tornando mais fácil o desenvolvimento de um absolutismo real, mais suave que na França
 fruto de métodos violentos e ocasionalmente revolucionários, que os liberais
contemporâneos rejeitam
E SE A NOBREZA QUE SE LIBERTAR NA AUSENCIA DE VER. BURGUESA?
 resultado altamente desfavorável à versão ocidental da democracia  EXEMPLO: Na
Russia, no século XVIII, nobreza rescindiu suas obrigações com o Czar
YOU GO MARX  forte acordo com a tese marxista de que uma classe vigorosa e
independente de habitantes da cidade tem sido um elemento indispensável no
desenvolvimento da democracia parlamentar  sem burgueses não há democracia
(IMPORTANTE A OPNIÃO DO AUTOR SOBRE A BURGUESIA, ACHO QUE É O ELO COM OS
OUTROS, NEGADA)  zona rural também tem papel importante, aliados da galera da
cidade  CASO DA INGLATERRA, aristocracia proprietária passou a adquirir
características comerciais  decisivo da evolução política: aristocracia se voltar ou não a
agricultura comercial
 DESENVOLVIMENTO DO COMÉRCIO NAS CIDADES  exigências em impostos dos
governantes absolutistas tem como conseqüência a necessidade de dinheiro por parte do
senhor feudal
TRÊS REAÇÕES NA EUROPA:
1) aristocracia proprietária inglesa voltou-se a agricultura comercial que implicava a
libertação dos camponeses para se governarem melhor
2) elite proprietária francesa deixava os camponeses a posse de facto do solo, nas áreas em
que se voltaram para o comércio, forçaram os camponeses a entregar parte de sua
produção para os nobres venderem
3) na Europa Oriental, verificou-se a reação senhorial, reduziram camponeses à servos
para cultivarem cereais (devido mais a razões políticas que econômicas)
 Na Inglaterra, aristocracia proprietária se afastou de sua independência, gerando
hostilidade contra as tentativas frustradas do absolutismo dos Stuarts  a forma que a
agricultura comercial tomou gerou considerável comunidade de interesses com as cidades
 CAUSAS DA GUERRA CIVIL e da vitória da causa parlamentar, nos séculos XVIII XIX

DUAS POSSIBILIDADES:
1) impulso comercial fraco entre classes superiores proprietárias  sobrevivência de
grande massa de camponeses  problema para a democracia e reservatório para
revolução camponesa que levaria a ditadura comunista
2) classe superior proprietária utilizar diversos níveis políticos e sociais para fixar à terra a
mão-de-obra e fazer sua transição para a agricultura comercial  se aliado com grande
desenvolvimento industrial: fascismo
NECESSÁRIO OBSERVAR:
1) como agricultura comercial era tão importante como própria comercialização
2) incapacidade de obter formas adequadas de agricultura comercial, no momento
oportuno, deixou aberta outra rota para instituições democráticas modernas
3 FATORES DESFAVORÁVEIS À DEMOCRACIA DA ESCRAVIDÃO AMERICANA:
1) classe superior necessita de terreno com sistema repressivo poderoso que imponha clima

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de opinião política e social desfavorável a liberdade humana


2) encoraja preponderância do campo sobre as cidades que se tornam depósitos da
exportação de mercados distantes
3) conseqüências brutalizastes das relações da elite com os escravos

ÊNFASE  importância das diferentes oportunidades para adoção da agricultura


comercial, assim como a existência de um mercado nas cidades próximas e a existência de
meios de transporte adequados  burguesia como ator principal  considerações
políticas também tem papel decisivo

ELIMINAÇÃO DA QUESTÃO DOS CAMPONESES através da transformação em outro tipo de


agrupamento social parece algo bom à democracia (exceção Suíça e Escandinávia)

VARIANTES ATÉ ENTÃO: relação das classes superiores proprietárias com a monarquia e
sua reação as exigências da produção para o mercado.

TERCEIRA VARIANTE: relação das classes superiores proprietárias com habitantes da


cidade (burguesia)  tais coligações constituíram a estrutura básica e o ambiente que
cerca a ação política  PROBLEMA passa a ser o de tentar identificar essas situações nas
relações entre as classes superiores proprietárias e os habitantes das cidades que
contribuem para o desenvolvimento de uma sociedade relativamente livre, nos tempos
modernos.
LINHAS DE CLIVAGEM ENTRE CIDADE E CAMPO:
1) conflito de interesses entre a necessidade urbana de alimentos baratos e os preços
elevados, conflito cresce com a importância do alargamento de uma economia de mercado
2) diferenças de classes  quando os interesses convergem contra os camponeses e
operários, o resultado é desfavorável à democracia  tudo depende das circunstancias
históricas
EXEMPLO: Época dos Stuarts e Tudors, ambos os grupos se opuseram à autoridade real 
crucial na explicação das conseqüências democráticas

BURGUESIA INGLESA  liberdade humana  primeira burguesia e ainda não tinha


levado seus rivais estrangeiros e domestico a seu máximo poder  HIPOTESES GERAIS A
PARTIR DISSO: colaboração entre setores importantes das classes superiores das cidades e
da zona rural poderia ser favorável ao desenvolvimento da democracia parlamentar 
chefes comerciais e industriais vão se tornar elemento dominante da sociedade  TUDO
ISSO SÓ ACONTECE SE estiver numa fase inicial do desenvolvimento econômico
TRÊS FATORES IMPORTANTES:
1) antagonismo entre elementos comerciais e industriais e as antigas classes proprietárias
2) classe proprietária mantém base econômica firme (encorajam competição e apoio
popular)
3) elite proprietária deverá poder transmitir algo do seu aspecto aristocrático às classes
comerciais e industriais
 CONSEQUENCIAS: atitudes burguesas devem se tornar mais fortes
 quando linhas de clivagem social, econômica, religiosa e política não são as mesmas, é
menos provável que conflitos sejam apaixonados e graves a ponto de excluírem uma
reconciliação democrática  dose de “abuso tolerável”
 FIM DA QUESTÃO CAMPONESA NA INGLATERRA : enclosures (pág. 219)
REVOLUÇÃO FRANCESA  quebrou poder da elite proprietária ainda muito pré-comercial
 modo alternativo de criar instituições eventualmente favoráveis a democracia
GUERRA CIVIL AMERICANA  também quebrou as pernas da elite proprietária que era
obstáculo ao progresso democrático, desenvolvida como parte do capitalismo

CONCLUSÃO de que é necessário agrupar as revoluções pelos amplos resultados

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institucionais para que elas contribuam  GUERRA CIVIL INGLESA, REVOLUÇÃO


FRANCESA, GUERRA CIVIL AMERICANA

“Ao falar de revoluções burguesas a justificação para o termo apóia-se numa série de
conseqüências legais e políticas. A terminologia consistente impõe a invenção de novos
termos que, receio bem, só aumentariam a confusão. O principal problema, afinal, consiste
no que se sucedeu e por quê, não no emprego de rótulos certos.”

 momentos violentos que fizeram parte do longo processo de alteração política que levou
a democracia ocidental
 tem causas econômicas
 as liberdades criadas mostram uma relação clara entre si
 aparecimento do capitalismo moderno
 direito de votar, representação numa legislatura, sistema de leis objetivos sem
privilégios, segurança pro direito de propriedade, tolerância religiosa, liberdade de
expressão e tudo mais
 domesticação do setor agrário
 destruição da agricultura como atividade social importante é fundamental para
democracia bem-sucedida
 principal hegemonia da classe superior tem de ser quebrada
 classes superiores proprietárias ou ajudavam na revolução burguesa, ou eram
destruídas por ela

CONDIÇÕES AO DESENVOLVIMENTO DEMOCRATICO:


1) desenvolvimento de um equilíbrio para evitar uma coroa demasiado forte ou uma
aristocracia proprietária demasiado independente
2) movimento no sentido de uma forma adequada de agricultura comercial
3) enfraquecimento da aristocracia proprietária
4) impedimento da coligação aristocrática-burguesa contra os camponeses e operários
5) ruptura revolucionária com o passado

Segundo capítulo.

- A revolução vinda de cima e o fascismo.

A segunda rota principal para o mundo da indústria moderna relaciona-se a rota


capitalista e a reacionária – exemplificada pelos processos ocorridos no Japão e na
Alemanha. O capitalismo enraizou-se tanto na agricultura como na indústria,
transformando estes países em Estados industriais. No entanto, o fez sem movimentos
revolucionários. As tendências revolucionárias que houveram foram esmagadas, pois os
tipos específicos de transformação capitalista acabaram com estes impulsos
revolucionários.

Há formas de transformação capitalista na zona rural que podem ter êxito econômico, mas
são desfavoráveis ao desenvolvimento das Instituições livres do Ocidente. Exemplo: uma
classe superior proprietária pode deixar intacta a população camponesa garantindo que
produzam excedente suficiente para a sua apropriação e venda para obterem lucro. Em
contrapartida, há outra forma, a qual consiste basicamente em criar mecanismos no
sistema social do estilo de escravatura.

No tocante a conservação da classe camponesa intacta, serão necessários que se criem


mecanismos para manter a mão-de-obra em seu respectivo lugar e também para manter o
sistema de exploração (ordem vigente) funcionando. Liga-se a conservação da classe
camponesa intacta à exploração servil ou semi-servil.

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Os sistemas agrários pré-comerciais e pré-industriais não são necessariamente repressivos,


apenas devem conter, mesmo que grosseiramente, um equilíbrio entre a contribuição do
senhor feudal para a justiça e segurança e a contribuição do agricultor, sob a forma de
colheitas. Ou seja, a questão importante não é o sofrimento dos camponeses por estarem
em um modo de produção repressivo e sim por que os sistemas agrários repressivos criam
um clima desfavorável ao desenvolvimento da democracia e que uma parte importante
deste complexo institucional leva ao fascismo.

Na fase posterior do curso da modernização, a coligação grosseira entre os setores


influentes das classes fundiárias e os interesses comerciais e industriais dos emergentes, os
quais eram ligados à aristocracia proprietária. Nesta aristocracia, foram surgindo
concepções de superioridade inerente, ligada ao radicalismo.

Quando a classe comercial e industrial alia-se à aristocracia proprietária e da burocracia


real, trocando o direito de governar por ganhar dinheiro, emerge-se um digno corpo
político capaz de evitar que haja uma revolução camponesa que leve ao comunismo.

A porta do fascismo encontra-se aberta, quando estas democracias possuem dificuldades


de introdução às mudanças estruturais fundamentais para o desenvolvimento da sociedade
e Estado. Exemplo: quando o poder político está demasiadamente concentrado nas mãos
da elite proprietária resulta na revolução camponesa junto às camadas urbanas populares.
Portanto, nota-se que o curso da modernização pode advir das revoluções vindas da alta
estrutura do corpo político.

Em suma, o curso da modernização foi marcado com determinado conservadorismo no


espectro político com a ênfase à monarquia como instrumento de reforma para a
unificação nacional.

Motivos do êxito da modernização conservadora: 1. chefia hábil para manipular elementos


reacionários; 2. máquina burocrática poderosa (poder militar e de policiar) e 3. separação
do Governo da Sociedade. A somatória destes fatores traz o desenvolvimento econômico e a
estabilização das classes inferiores no âmbito social. No entanto, a Alemanha e o Japão,
queriam modernizar-se sem alterar tais estruturas altas de seus Governos, acreditavam
que apenas utilizando o aumento do militarismo seriam capazes de tomarem os rumos da
modernidade.

O fascismo tem suas raízes na democracia, pois é através dela que há a entrada das massas
nos palcos na História. Neste contexto, no qual os camponeses sofrem diversas dificuldades
devido às tensões criadas pela indústria e às mudanças políticas, a figura do próprio
camponês e das classes inferiores tornaram-se demasiadas importantes para a formação e
desenvolvimento do fascismo, posto que eram utilizado suas condições precárias de vida
como base e fomento deste ideologia direita radical – o fascismo

Terceiro Capítulo

- Os camponeses e a revolução

“Neste capítulo final, a nossa tarefa é a de relacionar esses fatos entre si, sistematicamente,
na esperança de descobrir que tipos de estruturas sociais e situações históricas produzem
revoluções camponesas, e quais as que inibem ou impedem.”

De início, o Moore diz que existem algumas explicações gerais e tradicionais que tentam
explicar esta questão, mas que ele encara como genéricas.

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1) Ater-se a interpretação econômica. Que justifica um movimento revolucionário a


partir da deterioração da situação camponesa sob o impacto do comércio e da
indústria. Os chineses e os indianos passaram por esta deterioração, e não
responderam da mesma forma. Os ingleses foram jogados à deriva por
causa dos enclosures (No modo de produção feudal a terra era um bem
comum para a produção camponesa. A partir do momento em que se processa a
transição para o modo de produção capitalista, a terra passou a ser encarada
como um bem de produção. Desse modo, uma parte dos senhores feudais ingleses -
a "gentry" (nobreza rural mais progressista, aburguesada) e os "yeomen" (camada
mais rica dos pequenos e médios proprietários), passaram a cercar as suas terras,
arrendando-as como pastagens para a criação de ovelhas, e delas expulsando os
camponeses.), mas sim os franceses que só se sentiram ameaçados por eles.
2) Acreditar que quando a aristocracia vive no campo entre seus camponeses, há
menos probabilidade de revoltas camponesas graves do que quando ele passa a
amar o luxo e viver na capital. Os senhores russos moravam, em maioria, no
campo e os camponeses se revoltaram.
3) A noção de que um grande proletariado rural de mão-de-obra sem terras é uma
fonte potencial de insurreição e revolução, pode aproximar-se um pouco mais da
verdade, mas na Índia não suscitou o levante. Muitos camponeses estão “de
acordo” com a manutenção de sua posição. Ainda mais que lá existe um
arranjo de castas e ausência de uma força única autoritária. Esta
justificativa é mais plausível em situação de escravidão ou em mão-de-obra
contratada muito barata.
4) A religião, ou a imposição de uma, como um fator conflitante. Sim, faz sentido,
mas não diretamente. Uma vez que o isolamento das aldeias camponesas,
ou uma diversidade religiosa (em um país como a Índia) não faz com que
este seja um fator de direta influencia.

O defeito de todas estas hipóteses reside no fato de elas fixarem demasiadamente a atenção
nos camponeses. O Moore diz que para melhor análise, devemos prestar atenção nas ações
da camada superior (óbvio, porque pelo o que eu percebi, ele não curte muito o
proletariado. Ainda mais depois do “sem burguesia, não há democracia...”) e na reação que
tomam os camponeses, para justificar tal movimentação.
E ainda... “Outra característica notável das rebeliões nas sociedades agrárias é a sua
tendência para tomarem o caráter da sociedade contra a qual se revoltaram.” Assim como
fizeram os franceses que decapitaram a corte, e depois rearranjaram o governo de maneira
similar a anterior. O autor ainda ressalta que esta característica está obscurecida nos anais
da história, porque as revoluções que deram certo reestruturaram total a forma da
sociedade em questão, e por isso tem destaque.
“Antes de observarmos os camponeses, teremos que observar toda a sociedade. [...] (O
PORQUÊ DE...) certos tipos de sociedades agrárias e pré-modernas estarem mais sujeitos a
insurreições e rebeliões camponesas do que os outros e quais as características estruturais
que ajudam a explicar as diferenças.”

Inicia-se então, uma discussão sobre peculiaridades de cada sociedade, tentando


encontrar razões para a revolta camponesa.

 TER UMA AUTORIDADE CENTRAL (FORTE OU FRACA) NA RELAÇÃO SENHOR-


CAMPONÊS

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Nações como a China, Rússia, o sistema feudal no Japão e na Europa, apresentavam uma
figura autoritária que representava a concentração do poder e desempenhava o papel de
controlar as atividades camponesas, bem como estabelecer regras e procedimentos de
trabalho que por muitas vezes vinham a prejudicar a camada camponesa ou sublimá-la. A
índia, como já citado neste resumo, não tinha esta personificação de autoridade no sistema
agrário. Logo, afirma: “A rebelião camponesa era um problema grave na China tradicional
e na Rússia czarista; era um pouco menos grave, mas frequentemente vindo à tona, na
Europa medieval; era bastante notável no Japão a partir do século XV; e quase não é
mencionada nas histórias da Índia.”
Mas ainda sim, se esta autoridade não for forte, ou agir de maneira precisa ou intensa
(fazendo com que as influencias comerciais tomassem parte do lifestyle dos camponeses), a
possibilidade de revolta é maior, uma vez que a agricultura comercial e o abuso das
relações sob um comando fraco dá espaço a reinvindicações.
Veja: “o êxito ou fracasso das classes superiores ao se ocupares da agricultura comercial
teve uma tremenda influencia nos resultados políticos. Onde a classe superior proprietária
se voltou para a produção destinada ao mercado, de um modo que permitiu às influências
comerciais permearam a vida rural, as revoluções camponesas foram fracas.”
Um exemplo: “... a sociedade camponesa foi destruída, quer pelo corte da ligação com a
terra, como na Inglaterra, quer pela intensificação dessa ligação, como no caso da
reintrodução da servidão na Prússia.”
Ainda sim: “provas indicam que é muito mais viável que um movimento revolucionário se
desenvolva e se torne uma séria ameaça quando a aristocracia proprietária de terras não
consegue desenvolver um impulso comercial realmente poderoso, dentro das suas próprias
fileiras. Então, poderá deixar atrás de si uma sociedade camponesa danificada, mas
intacta, com a qual tem poucos eles de ligação. Entretanto, é provável que tente manter o
seu estilo de vida num mundo em transformação, extraindo um maior excedente dos
camponeses.”.

A partir daí o autor passa a contar uma breve história, da página 454 a 460, que
mostra como os camponeses alemães, que de inicio estavam incorporados em uma
flexibilidade no tratamento senhor-camponês, mas posteriormente, com a
necessidade de uma maior exportação de cereais e ainda com uma crise
financeira, a cobrança excessiva e os abusos despertaram o levante camponês.
e compara: “As principais zonas onde as revoluções camponesas tiveram maior
importância nos tempos modernos, a China e a Rússia, eram semelhantes pelo fato de as
classes superiores proprietárias de terras não terem efetuado uma transição bem-sucedida
para o mundo do comércio e da indústria e não terem destruído a organização social
prevalecente entre os camponeses.”

Em seguida, o Moore diz pra nos distanciarmos um pouco da aristocracia para ele
começar a dissertar de maneira mais analítica sobre os fatores em ação entre os
próprios camponeses.

 MUDANÇAS QUE PODEM GERAR UMA AÇÃO CAMPONESA:


1) Na agricultura, a modernização econômica significa a extensão das relações do
mercado por uma zona muito mais ampla e a substituição, cada vez maior, da
agricultura para subsistência pela produção para o mercado. – exigindo uma
produção maior por parte dos camponeses (maior cobrança também,
consequentemente) e a tomada dos lucros pelos senhores.
2) Na política, a modernização bem-sucedida implica o estabelecimento da paz e da
ordem numa vasta área e a criação de um governo central forte. – o que pode

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suscitar a discórdia com futuras atitudes e imposições deste governo central, sobre
os camponeses.
3) A difusão da autoridade do Estado e a intrusão do mercado, que podem ocorrer em
épocas muito diferentes, afetam os laços entre o camponês e a senhor rural, a
divisão da mão-de-obra dentro da aldeia, o seu sistema de autoridade, os
agrupamentos de classe entre os camponeses, os direitos de locação e de
propriedade.

Dentro deste complexo de modificações relacionadas, há três aspectos politicamente


importantes:
1) O caráter da ligação entre a comunidade camponesa e o senhor rural.
“Há provas consideráveis em abono da tese de que, quando os lações resultantes
das relações entre o senhor rural e a comunidade camponesa são fortes, a
tendência para a rebelião (e, mais tarde, revolução) dos camponeses é fraca. Tanto
na China como na Rússia, os lações eram tênues e os levantamentos dos
camponeses, endêmicos nesses países, embora a estrutura das
comunidades camponesas fosse tão diferente quanto se possa imaginar.”
2) As divisões de propriedade e de classes entre os camponeses.
“Duas condições são provavelmente essências para que a ligação seja um agente
eficaz da estabilidade social. Uma delas é não haver forte competição, pela terra ou
por outros recursos, entre os camponeses e o senhor rural. Não se trata
simplesmente da questão da quantidade de terra disponível. As instituições sociais
são tão importantes como a quantidade de terras. Assim, sugiro uma segunda
condição, estreitamente relacionada com a primeira: a estabilidade política exige a
inclusão do senhor rural e/ou do padre como membros da comunidade aldeã que
executam serviços necessários para o ciclo agrícola e para a coesão social da
aldeia, e pelos quais recebem privilégios e recompensas materiais razoalmente
concedidos.”
PRA FIRMAR: “a tese aqui apresentada apenas afirma que as contribuições dos que
lutam, governam e rezam devem ser evidentes para o camponês, e que os
pagamentos do camponês, em troca delas, não devem estar em grande
desproporção em relação aos serviços prestados.”.
3) Grau de solidariedade ou de coesão apresentado pela comunidade camponesa.
“ ... parece obvio que o grau de solidariedade apresentado pelos camponeses, dado
que é uma expressão de toda a rede de relações sociais dentro das quais cada
individuo vive a sua vida, teria uma influencia importante nas tendências politicas.
Contudo, porque esse fator é interligado com muitos outros, a avaliação da sua
importância apresenta dificuldades. Tal como interpreto as provas, a ausência de
solidariedade (ou, mais exatamente, um estado de fraca solidariedade, visto que
sempre existe alguma cooperação) impõe grandes dificuldades no caminho de
qualquer ação politica. [...] A solidariedade radical, [...] poderá representar uma
tentativa para encontrar uma distribuição equitativa de um recurso escasso, ou
seja, da terra: a solidariedade conservadora baseava-se na divisão da mão-de-obra.
Em geral, parece mais fácil conseguir que as pessoas cooperem numa tarefa
comum do que o façam pacificamente no uso de recursos escassos. [...] O tipo de
solidariedade fraca que inibe a ação política de qualquer gênero é,
principalmente, um fenômeno moderno. Após o estabelecimento de uma estrutura

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capitalista legal, e depois de o comércio e a indústria terem obtido um impacto


substancial, a sociedade camponesa pode atingir uma nova forma de estabilidade
conservadora.”

Estes aspectos estão muito próximos um do outro, e acabam por se sobrepor de acordo
com a conjuntura particular de cada sociedade.

Em resumo, as causas mais importantes das revoluções camponesas podem ter sido a
ausência de uma revolução comercial na agricultura, dirigida pelas classes superiores
proprietárias, e a concomitante sobrevivência das instituições sociais camponesas até a
era moderna, sujeitas a novas tensões e novas forças. [...] Daí o fato de uma importante
causa que contribuiu para a revolução camponesa ter sido a fraqueza dos laços
institucionais que ligam a sociedade camponesa às classes superiores, em conjunto com
o caráter de exploração dessa relação. Parte da síndrome geral tem sido a perda por
parte do regime, do apoio das classes superiores dos camponeses ricos, pelo fato de
estas terem começado a inclinar-se para sistemas mais capitalistas da agricultura e a
estabelecer a sua independência contra uma tentativa aristocrática para manter a sua
posição através da intensificação de obrigações tradicionais. Quando estas condições
estavam ausentes ou intervindas, a revoltas camponesas não conseguiam vingar ou
eram facilmente suprimidas.
Afirma-se também que uma vez que a aristocracia quer se manter distante e evidenciar
a distinção social, no sentido de superioridade, em relação aos camponeses mais
abastados, estes tem maior disposição a se unir a camada reacionária.
Ainda sim, caso as modernizações acontecessem e a estrutura social dos camponeses se
mantivesse intacta, afirma-se ser mais difícil que aconteça uma revolta, porque os
camponeses gostam do estilo de vida isolado e conservador. E mais: a solidariedade
entre os camponeses pode ajudar as classes dominantes ou construir uma arma contra
elas, por vezes mudando de um aspecto para o outro.

 O POTENCIAL DE REVOLUÇÃO CAMPONÊS


“Se esse potencial se torna politicamente eficaz ou não, depende da possibilidade
de uma fusão entre as queixas dos camponeses e as das outras camadas. Por si só,
os camponeses podem nunca chegar a executar uma revolução. Sob esse aspecto, os
marxistas estão absolutamente certos, embora estejam longe da realidade em
outros aspectos cruciais. Mas a chefia, por si só, não basta. As revoltas medievais e
posteriores foram chefiadas por aristocratas ou gente da cidade, e, contudo, foram
esmagadas. Este ponto deverá constituir um aviso salutar aos deterministas
modernos – nem todos eles marxistas – que acham que, desde que os camponeses se
movam, vêm naturalmente a caminho grandes modificações.”

 OS ALIADOS DA REVOLUÇÃO CAMPONESA (OU NÃO...)

O movimento camponês não encontra aliados na elite, claro, embora possam apoiar-se
numa parte dela, especialmente em intelectuais insatisfeitos nos tempos modernos, daí
extraindo os seus chefes.
E ainda, outros aliados que são variantes de acordo com a fase do desenvolvimento
econômico que o país possa ser atingido e de algumas circunstâncias históricas.

POR FIM, FIXAM-SE OS PONTOS:


“Nos Locais onde os camponeses se revoltam, há indicações de que foram acrescentados
novos métodos capitalistas de extrair o excedente econômico dos camponeses,

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enquanto os sistemas locais tradicionais se mantinham ou eram mesmo intensificados.”


“O que enfurece os camponeses (e não só os camponeses) é uma nova e súbita exigência
imposta que cai sobre muita gente, ao mesmo tempo, e significa uma quebra de regras
e costumes aceitos.”
“O ponto significativo é que, nestas circunstancias, as reclamações individuais tornam-
se subitamente coletivas.”

E PRA ACABAR DE VEZ, o autor retoma a análise na conjuntura indiana.


Primeiramente diz que na China e na Rússia não existia uma base forte para o
capitalismo liberal ou reacionário nas classes comercial e industrial, logo não era
possível evitar a decadência do processo, antes da revolução camponesa, mas basear-se
nestes casos para pensar na Índia é tolice, visto que as suas estruturas agrárias sociais
são, em muitos aspectos, exatamente opostas. Se o governo indiano atual não resolver
as questões da fome no país, melhorando seu programa agrário, é possível que ecloda
uma revolução, mas Moore duvida que seja de cunho comunista, pensa que uma
inclinação à direita seja muito mais provável, ou ainda um arranjo dos dois ao ser
fragmentado em linhas regionais, por ser a Índia um país de realidades diversas em um
mesmo território.

Baixado por Manuela Queiroz (manuenem12@gmail.com)

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