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Alex Romeiro Sagaz

Prova de sociologia
Professor Doutor Ernesto Seidl
25 de out. de 2023
Finalizado Revisado
Questão 1
a)Discorra sobre as mudanças identificadas por Thompson na relação entre tempo e
trabalho (2,5 pontos);
Para os mais afortunados monetariamente, o tempo é uma ameaça, já que implica na
morte, entretanto para os outros, esse passa a ser quase que sinônimo de dinheiro, pelo menos
atualmente, entretanto, não foi sempre assim.
O relógio foi criado por uma necessidade burguesa de exatidão e de uma disciplina
puritana(Thompson, 1998), o que afetou a vida dos trabalhadores ao reestruturarem sua vida
ao redor do tempo, algo que antes não passava de um evento da natureza, agora ditava suas
vidas proletárias e seus hábitos de trabalhos.
Nos povos primitivos, tempo estava correlacionado a ciclos familiares de trabalho e
tarefas domésticas, devido a sua baixa estruturação de mercado e administração
mínima(Thompson, 1998), não sendo preciso esse requerimento da sociedade moderna, já
que a divisão do trabalho e a produção eram feitas de maneira simples e sem a necessidade de
produzir dinheiro, apenas para a produção de alimentos e bens de consumo para a sociedade,
ou seja, diante desse cenário despretensioso, a regulação do tempo poderia ser feita sem
nenhum tipo de método auxiliar, como o relógio(Thompson, 1998).
A noção de tempo que surge no contexto atual é descrita como orientação pelas
tarefas(Thompson, 1998), e o mesmo passa a ser de extrema importância para a economia
não só local como mundial, sendo preciso alguma forma de o marcá-lo, surgindo dessa
forma, mas não de repente, o relógio. No início da criação do relógio, o artefato era um
objeto caro, de luxo, sendo usado somente por pessoas com maior poder aquisitivo,
entretanto, com o passar do tempo, principalmente a partir da Revolução Industrial que
requer maior sincronização do trabalho, este passou a ser considerado uma
necessidade/conveniência(Thompson, 1998).
A produtividade passa a ser uma pauta de relevância absurda, no qual conceitos como
vagabundo e vadio começam a ser empregados como forma de disciplina, e para ensinar de
que se tempo é dinheiro, se deve utilizar muito bem o tempo de forma a ser lucrativo. Essa
concepção de tempo passa a ser algo internalizado por todos, que o tempo precioso não deve
ser desperdiçado com preguiça desnecessária(Thompson, 1998). A sociedade industrial tem
clara essa demarcação, correlacionando claramente o tempo e o trabalho.

b)Discorra sobre a importância que essas mudanças trouxeram para a percepção da


autonomia individual na época do capitalismo nascente (2,5 pontos);
Por um prisma produtivo, apesar da racionalidade do tempo quase que inerente ao
pensamento, as pessoas devem descobrir formas de satisfazer a si próprias no seu tempo livre,
de forma a seguir as suas necessidades.
Se o racionalismo moderno é semelhante ao
mecanismo de um relógio, deve existir alguém para lhe
dar corda. (Wedgwood;Godwin;1956 - citado por
Thompson, 1998)
Diante desse cenário humanizador, a cultura muda junto ao desenvolvimento
econômico, e o ser se altera junto a esses, muitas vezes se individualizando ao passo que
discorre sobre a questão do ser, além da perspectiva capitalista de necessidade inerente de se
destacar perante os outros seres humanos, criando certo senso de individualidade(Thompson,
1998).
A autonomia, por outro lado, foi algo um tanto dificultoso de se desenvolver, à
medida que, na sociedade industrial, o trabalhador não tinha ao menos noção daquilo que
estava sendo feito. Contudo, no começo do capitalismo industrial, a divisão do trabalho ainda
era precária, assim como a tentativa de separação do proletário dos meios de produção, dessa
maneira, o operário ainda tinha uma conexão com aquilo que produzia, dando certo senso de
autonomia, não tão desenvolvida quanto nos tempos da produção artesanal.

Finalizado Revisado
Questão 2
a)Como os autores caracterizam a atividade histórica desempenhada pela burguesia
(2,5 pontos);
A história(escrita, ao menos) da humanidade e de todas as sociedades até hoje
existentes foram movidas e redigidas pela luta de classes, classe de opressores e classe de
oprimidos, estruturando a mesma nessas classes antagônicas(Marx;Engels, 1848). A
sociedade burguesa moderna, a qual surgiu a partir de uma classe “revolucionária”, serviu
para estabelecer uma nova classe dominante com novas condições de opressão, e com isso
substituiu as relações feudais, patriarcais e idílicas(Marx;Engels, 1848) e também substitui
as todas liberdades antes presentes na sociedade por uma só, a liberdade do comércio. Com o
surgimento de uma nova classe opressora, há também o surgimento de uma nova classe
oprimida, o proletariado. (Marx;Engels, 1848)
A burguesia emergente então, ao descobrir a américa, e descobrir novos caminhos
para a África, desenvolveram um novo campo de ação para suas atividades econômicas e
indústrias, desenvolvendo o mercado novo(Marx;Engels, 1848).
Por esse prisma “inovador”, a burguesia substitui os mestres de corporações, as
manufaturas cedem seu lugar a grandes indústrias e a burguesia manufatureira cede seu lugar
aos milionários das indústrias. Dessa maneira, com a substituição de inúmeras atividades
pelas grandes indústrias, as mesmas desempenharam um papel fundamental ao desenvolver o
comércio, a navegação e os meios de comunicação. Com o estabelecimento da indústria
como ordem mundial, a burguesia conquista a soberania política exclusiva no Estado
representativo moderno(Marx;Engels, 1848).
A burguesia não existe sem reinventar seus instrumentos de produção, as relações de
produção e com isso todas as relações sociais, e por esse e outros motivos a burguesia se
desenvolve a nível mundial, prosperando e transformando as antigas necessidades da
“economia” do mundo. Ela submete o campo a cidade, os bárbaros aos civilizados, o oriente
ao ocidente(Marx;Engels, 1848).
As criações intelectuais de uma nação tornam-se
patrimônio comum. A estreiteza e a unilateralidade nacionais
tornam-se cada vez mais impossíveis; das numerosas literaturas
nacionais e locais nasce uma literatura universal.(Marx;Engels,
1848, pg.43)
Dito isso, o papel desempenhado pela burguesia foi um papel que serviu para a
evolução da sociedade em diversos âmbitos, entretanto essa classe, inicialmente,
revolucionária, se tornou rigorosa e detentora do poder, e subordinou o proletariado as suas
forças, fazendo com que esses trabalhassem para a burguesia, desenvolvendo
tecnologicamente e de outras formas a sociedade, como foi feita a evolução dos meio de
comunicação, de locomoção, de trabalho, entre outros, os quais não só foram úteis para a
sociedade como um todo, como também foi útil para a manutenção da burguesia no poder.

b)Qual a principal característica da relação que existe entre a classe burguesa e a classe
operária. Comente essa relação (2,5 pontos);
Os operários, no capitalismo, só vivem se há trabalho e só há trabalho se este
aumenta o capital, de forma a enriquecer a burguesia, ou seja, o operário é uma mercadoria,
disposto a todos os fatores da concorrência(Marx;Engels, 1848). São submetidos às forças do
Estado Moderno e da burguesia, além do trabalho que rege suas vidas, existe essa submissão
presente em seu dia a dia, o qual são impostos e ditados os seus salários que sofrem
oscilações tremendas e normalmente são somente para sobreviver(Marx;Engels, 1848).
A luta dos trabalhadores contra a burguesia se inicia com sua própria existência e vai
se empenhando e aprimorando com o passar do tempo e da exploração, como os quebra
máquinas, pois além de dirigirem seu ódio ao que os empregam, dirigem-a também contra o
instrumento de produção(Marx;Engels, 1848). Com o desenvolvimento da indústria, a força
do proletariado cresce assim como sua consciência e esses têm mais condições de participar
ferozmente da luta de classes. Toda luta de classes é uma luta política e essa luta política
tende sempre a algum lado, ao lado da classe dominante, da burguesia, que explora e
determina o futuro do proletariado ao impor seu modo de vida capitalista e impor um salário
o qual não condiz com aquilo que o operário produz, entretanto, embora a balança seja
desfavorável ao proletariado, este tem condições para se livrar de uma vez por todas da
burguesia(Marx;Engels, 1848).
As condições de existência da velha sociedade já estão
destruídas nas condições de existência do proletariado. O proletário
não tem propriedade; suas relações com a mulher e os filhos já
nada tem de comum com as relações familiares burguesas. O
trabalho industrial moderno, a subjugação do operário ao capital,
tanto na Inglaterra como na França, na América como Alemanha,
despoja do proletariado todo o carácter nacional. As leis, a moral, a
religião são para ele meros preconceitos burgueses, atrás dos quais
se ocultam outros tantos interesses burgueses.(Marx;Engels, 1848,
pg.49)
Por esse prisma histórico, a principal característica da relação entre a classe burguesa
e a classe operária, é a característica de luta, de disputa, de efervescência, de uso e
apropriação, de manipulador e manipulado, dominante e dominado, entre outros sinônimos
que posso continuar dissertando sobre. Com tais palavras ditas, comento a relação de forma
crítica, que se, de tal forma, a dominação fosse consideravelmente amenizada, que se os
salários se equiparavam mais ao que valem de fato e se o lucro não fosse algo tão almejado e
perseguido, a sociedade não precisaria nem de um extremo nem de outro, entretanto, vejo a
impossibilidade da mudança de um pensamento milenar que brilha os olhos dos membros da
sociedade no simples pensamento do enriquecimento e que gera de maneira ou de outra,
extremos inconciliáveis e injustos, como o bilionário com seu jato particular e sua mansão de
4 andares, e o morador de rua.

Referências bibliográficas
THOMPSON, E. P. Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial. In.: ---. Costumes
em comum. Trad. Rosaura Eichemberg. Editora Schwarcz, São Paulo:1998.p. 267 – 304.
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=41786 Acesso em:
24 de out. de 2023
Marx, Karl, and Friedrich Engels. Manifesto Comunista. 1848. Barcelona, Edicións Xerais,
2015. Disponível em:https://www.pcp.pt/publica/edicoes/25501144/manifes.pdf Acesso em:
24 de out. de 2023

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