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FICHAMENTO: “MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA”

Bruno Camargos1

Karl Marx (1818-1883) foi um economista, filósofo e socialista alemão influenciado,


principalmente, pela filosofia hegeliana e feuerbachiana. Estudou filosofia na Universidade de
Berlim e formou-se em Iena em 1841. Três anos mais tarde conheceu Friedrich Engels
(1820-1895), um filósofo e industrial alemão, de quem se tornou grande amigo, escrevendo
grandes trabalhos com sua coautoria, como “A ideologia alemã” (1846) e o “Manifesto do
Partido Comunista” (1848).
Sem dúvidas, o “Manifesto do Partido Comunista” é um dos tratados políticos mais
importantes do mundo ocidental. Foi publicado como um folheto durante a Primavera dos
Povos, quando estourou a revolução na França, em 1848, e acabou adquirindo grande
importância por desestabilizar as concepções políticas, sociais e econômicas do mundo
moderno.
A concepção da história para os autores aparece logo no início deste folheto, quando
afirmam que “a história de toda a sociedade até agora é a história da luta de classes (...) que
sempre terminou ou por uma transformação revolucionária de toda a sociedade, ou pela
destruição das duas classes em luta” (MARX & ENGELS, 2006, p. 84). Para eles, a sociedade
burguesa moderna foi responsável não por abolir os antagonismos de classe, mas por
simplificá-los cada vez mais em dois campos opostos, a burguesia e o proletariado. Segundo
Engels, por burguesia entende-se a classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios
de produção social e que empregam o trabalho assalariado, enquanto o proletariado é a classe
dos trabalhadores modernos que, não tendo meios próprios de produção, vendem sua força de
trabalho.
A burguesia, resultado de um longo trajeto de desenvolvimento, “desempenhou na
história um papel altamente revolucionário [pois] pôs no lugar da exploração envolta em
ilusões religiosas e políticas a exploração aberta, desavergonhada, direta, árida” (MARX &
ENGELS, 2016, p. 56-57) graças aos avanços políticos correspondentes que acompanharam
cada fase do seu desenvolvimento.
Parte importante da teoria marxiana sobre o Estado também é encontrada neste
folheto. Marx e Engels afirmam que “o poder estatal moderno é apenas uma comissão que

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Ciências Socias/Universidade de Brasília/bruno.camargos23@gmail.com
administra os negócios comuns de toda a classe burguesa”, mas esse caráter é justificado pelo
domínio político exclusivo do Estado representativo. Mais tarde, no “18 de Brumário de Luís
Bonaparte”, essa perspectiva é modificada, pois Marx nota que o Estado capitalista é, na
verdade, “uma instituição que tem um tipo de dominação de classe inscrita na sua própria
organização, em sua disposição interna – na forma de indicação dos seus dirigentes, nas
hierarquias entre seus ramos, na irresponsabilidade social dos seus processos decisórios”
(PERISSINOTTO & CODATO, 2010, p. 35), trazendo em si mesmo uma marca da classe
burguesa.
No entanto, essa teoria rudimentar presente no manifesto é essencial para o caráter
revolucionário que os autores atribuem à classe trabalhadora. Eles observam que na mesma
medida em que a burguesia se desenvolve, o proletariado também se desenvolve. Dessa
forma, “de todas as classes que confrontam atualmente a burguesia, apenas o proletariado é
uma classe realmente revolucionária. As classes restantes degeneram-se e perecem sob a
grande indústria; o proletariado é seu produto mais característico” (MARX & ENGELS,
2016, p. 70), pois o “avanço da indústria (...) substitui o isolamento dos trabalhadores por
meio da concorrência pela união revolucionária por associação” (idem, 2016, p. 73) e
favorece a formação do proletariado como classe, tornando inevitável a derrubada do domínio
burguês e a conquista do poder político pelos proletários, por meio da democracia.
Esse, inclusive, é o objetivo mais imediato dos comunistas e dos outros partidos
proletários. Pois é o caminho necessário para extinguir as oposições de classe, por meio da
abolição da propriedade privada, já que, em sua forma atual, ela movimenta-se na oposição
entre o capital e o trabalho assalariado. Contrapondo as críticas que se fazem a essa teoria, os
autores expõem as contradições ligadas à defesa da propriedade e explicam que “o capital é o
produto coletivo e pode apenas ser posto em movimento por meio de uma atividade conjunta
de muitos (...), em última instância (...), por meio da atividade conjunta de todos os membros
da sociedade” (MARX & ENGELS, 2016, p. 76), ou seja, ele é um poder social. Portanto,
“quando o capital é transformado em uma propriedade coletiva pertencente a todos os
membros da sociedade (...) apenas o caráter social da propriedade transforma-se. Ele perde
seu caráter de classe” (idem, 2016, p. 77) burguês.
Por outro lado, a remuneração do trabalho é a soma do necessário para a sua mera
conservação e reprodução da vida do trabalhador. Por isso, os autores dizem que o querem
suspender é “o caráter miserável desta apropriação, em que o operário vive apenas para
multiplicar o capital” (MARX & ENGELS, 2016, p. 77), em que a propriedade está abolida
para nove décimos da sociedade burguesa e que existe exatamente porque não existe para
nove-décimos.
A ficção científica de Andrew Niccol, “In Time” (2011), retrata bem essa ideia sobre
a propriedade burguesa. Na trama, o tempo de vida é utilizado como moeda e, enquanto os
trabalhadores recebem somente o suficiente para sobreviver durante o dia, os banqueiros e
empresários acumulam o suficiente para sobreviverem eternamente. No entendimento do
personagem principal, Will Salas, o tempo acumulado nos bancos provém do roubo que parte
dos empregadores aos trabalhadores, o que é análogo à ideia de mais-valia desenvolvida por
Marx no “O Capital” (1867).
O que julgam como o fim da propriedade significa, na verdade, o fim da propriedade
burguesa, cujo direito defendem com base nas ideias burguesas de liberdade, formação,
direito, que são “produtos das relações de propriedade e produto burguesas”, da mesma forma
que “seu direito é apenas o desejo de sua classe elevado ao status de lei, um desejo cujo
conteúdo está determinado nas condições de vida materiais de sua classe” (MARX &
ENGELS, 2016, p. 80). Também o desaparecimento da cultura de classe significa, para o
burguês, o desaparecimento de toda a cultura, contudo “a formação cultural cuja perda ele
lamenta é para a maioria esmagadora a formação voltada para a máquina” (idem, 2016, p. 80).
Assim seguem Marx e Engels respondendo todas as denúncias que são feitas aos
comunistas sobre a família, a educação, a pátria, a religião, etc. Disso, é importante notar
outra idéia fundamental do pensamento marxiano e marxista, isto é, “as ideias dominantes de
um tempo sempre foram apenas as ideias da classe dominante” (MARX & ENGELS, 2016, p.
85), pois as idéias, as noções e as concepções, em suma, a consciência do homem se modifica
com as mudanças em suas condições de vida, em suas relações sociais, em sua existência
social.
Respondidas as objeções da burguesia contra o comunismo, os autores instruem
quais serão as políticas aplicadas pelos trabalhadores após sua elevação a classe dominante, o
que inclui despojar a burguesia do capital, centralizar os instrumentos de produção nas mãos
do Estado e multiplicar a massa das forças de produção. Por último, eles retomam a literatura
socialista e comunista e afirmam que os comunistas apoiam em todos os lugares os
movimentos revolucionários contra as condições sociais e políticas vigentes. ​Proletários de
todos os países, uni-vos!
REFERÊNCIAS

IN time. Direção de Andrew Niccol. S.i: New Regency, Strike Entertainment, 2011.
MARX, K.; ENGELS, F. ​Manifesto do Partido Comunista: o tratado político mais influente
da história. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2016.
MARX, K.; ENGELS, F. ​Manifesto do partido comunista​. [s.l.] : São Paulo, SP : Global
distribuidora de Livros e Revistas G.B DE Oliveira & Cia Ltda, 2006., 2006. Disponível em:
<http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=cat07149a&AN=buin.982183&lang
=pt-br&site=eds-live>. Acesso em: 20 jan. 2019
PERISSINOTTO, R.; CODATO, A. Marx e seu legado para a teoria contemporânea do
Estado capitalista. ​BIB, São Paulo​, n. 70, p. 31-50, 2010.

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