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UNIDADE I

Classes e Movimentos
Sociais

Profa. Ma. Maria das Graças


Introdução

 O estudo dos movimentos sociais é de fundamental importância para o assistente


social, uma vez que a questão social constitui o objeto de trabalho
do Serviço Social.

 Os movimentos sociais representam a principal forma de luta e organização,


visam à satisfação das necessidades criadas ao longo da história da sociedade
e de suas contradições.

 É com essa compreensão que esta disciplina foi


preparada. Nossa expectativa é que você tenha
disposição necessária para alcançar
os objetivos propostos.
Introdução

 Nesta unidade, você vai conhecer a questão da ideologia e sua relação com os
movimentos sociais e o Serviço Social, objeto e objetivos do Serviço Social, frente
às demandas dos movimentos sociais. O processo de conhecimento e intervenção
do Serviço Social, movimentos sociais no Brasil e o Serviço Social, globalização
e neoliberalismo.
 O pensamento de Karl Marx influenciou consideravelmente as ciências sociais
e a sociedade, especialmente no que se refere aos movimentos sociais
e à política em geral.
 As principais ideias desse clássico da Sociologia e seus
conceitos centrais nos ajudam a compreender a
sociedade capitalista e as suas consequências no
comportamento dos indivíduos, grupos
e instituições sociais.
Karl Marx e a abordagem dialética

 As ideias de Karl Marx (1818-1884), além de contribuírem para um estudo


científico crítico da sociedade, tornaram-se influentes junto aos movimentos sociais
e aos partidos de esquerda, e base para as diversas manifestações contrárias ao
capitalismo na busca por uma sociedade mais justa.

 Karl Marx elabora uma teoria marcada pela crítica ao capitalismo e por sua
metodologia dialética de análise do conflito.

 Karl Marx viveu no século XlX, período de consolidação


do capitalismo, e centrou sua teoria no estudo de maior
produtividade dos trabalhadores com vistas ao lucro
dos empresários.
Karl Marx e a abordagem dialética

 Marx estuda a sociedade a partir da metodologia dialética, evidenciando os


conflitos, as contradições e a dinâmica da sociedade, principalmente a capitalista.

 O termo dialética vem do grego e significa movimento. Na concepção de Karl


Marx, significa analisar o movimento e a dinâmica das sociedades do ponto de
vista histórico. Essas mudanças ocorrem pelas alterações tecnológicas na
produção, associadas ao modo de produção de bens e as relações técnicas,
sociais e contraditórias entre trabalhadores e patrões.

 Para Marx, as relações sociais estabelecidas no dia a dia


se dão em função do trabalho, do qual emergem os
conflitos, uma vez que, nessa relação, o dono dos meios
de produção (capitalista) explora o trabalhador.
Karl Marx e a abordagem dialética

 Nesse contexto de polarização entre proprietários e não proprietários dos meios de


produção, os conflitos e as lutas dos trabalhadores recrudescem. Karl Marx se
utiliza do método dialético para desmistificar as formas de exploração dos
capitalistas, tornando explícita para os trabalhadores sua situação de explorados,
visando à luta para a transformação da sociedade.

 Então, o objeto do marxismo é a análise da realidade capitalista, bem como das


sociedades divididas em classes.

 A noção de conflito, originada na luta de classes, é uma


categoria de análise que dá movimento à história. É a
partir do conflito que os movimentos sociais surgem,
defendendo o fim da exploração econômica.
As classes sociais segundo Marx

 Segundo a teoria de Karl Marx, classe social se define como conjunto de


agentes sociais nas mesmas condições no processo de produção e que têm
afinidades políticas e ideológicas.

 O objeto do marxismo é a análise da realidade capitalista e das sociedades


divididas em classes. Para Marx, a dialética é uma ideia fundamental, extraída da
filosofia clássica alemã, que aborda uma tensão permanente entre sujeito e objeto,
considerando o ser como uma totalidade em movimento.
As classes sociais segundo Marx

 Marx tece sua obra com centralidade no protagonismo do movimento operário que,
segundo o autor, torna-se sujeito histórico a partir da tomada de consciência da
exploração e da opressão sofridas dentro do sistema capitalista.

 Durante o tempo que viveu na Inglaterra, no século XIX, os trabalhos de Marx


foram uma resposta aos sérios problemas sociais decorrentes da Revolução
Industrial. Nesse período, o capitalismo gerou contradições sociais e conflitos pela
enorme diferença de renda entre capitalistas e trabalhadores.
As classes sociais segundo Marx

 Na sociedade capitalista, a produção só se realiza porque capitalistas e


trabalhadores entram em relação. O capitalista paga ao trabalhador um salário e,
no final da produção, fica com o lucro. Esse excedente é chamado de mais-valia.

 Esse tipo de relação leva à exploração do trabalhador pelo capitalista. A mais-valia


está associada ao conceito de alienação. Costa (1997) assinala que Marx
desenvolve esse conceito mostrando que a industrialização, a propriedade privada
e o assalariamento separam o trabalhador dos meios de produção.
As classes sociais segundo Marx

 Pierre Bourdieu (1989) desenvolve um conceito mais complexo de classe social


partindo de sociedade de classe. Para ele, a análise das classes sociais só pode
ser feita se as diferenças culturais forem consideradas. Significa que, além dos
obstáculos econômicos, há também as diferentes classes e culturas, que impedem
a ascensão dentro desse sistema.

 Bourdieu chama isso de “capital simbólico”, pois considera


que as estruturas de poder são formadas por símbolos.
Diante dessa constatação, ele considera que o valor da
pessoa é sinalizado por formação, título e outros símbolos
que oferecem uma posição na sociedade.
As classes sociais segundo Marx

 Outro teórico que também destaca a importância do cultural na formação das


classes é Thompson (2001), historiador inglês neomarxista. Afirma que, apesar de
o econômico prevalecer, o simbólico é importante na difusão da cultura de classe.
Para ele, a classe se define segundo o modo como as pessoas vivem suas
relações de produção e segundo a experiência de suas situações determinadas,
no interior de suas relações sociais, com a cultura e as expectativas
a eles transmitidas.
 Para Thompson, a principal mudança que ocorre é a
questão da consciência de classe, que gera luta de
classes. Para ele, sem ter consciência de si, a classe não
existe. Entende que só pode haver uma luta quando existir
uma ação coletiva empreendida pela classe por meio da
consciência de si mesma.
Revolução Russa e o leninismo

 A Rússia, até a segunda metade do século XIX, ainda estava no regime feudal. A
concorrência mundial obrigava o país a se modernizar, pois a Rússia entrou no
período de industrialização muito depois das grandes potências mundiais.
Entretanto, com o aporte financeiro de países como Inglaterra e França, o país
pode importar tecnologia avançada e equipar suas indústrias no mesmo nível que
os países industrializados europeus.

 Ao se lançar na guerra, denominada Revolução Russa, a


Rússia acirrou os ânimos no interior do seu país, pois a
indústria desacelerou o crescimento, a área rural parou de
produzir e faltou alimento para a maioria da população.
Com o empobrecimento do povo, acentuaram-se as
contradições sociais.
Revolução Russa e o leninismo

 A Rússia fazia parte da Tríplice Intente, mas não havia consenso entre a
população, uma parte, os sovietes, queria a saída da Rússia; mas a Duma, grupo
representado pela ala burguesa, queria permanecer na guerra. Com esse
desentendimento, surgiram dois partidos que influenciaram a tomada de poder
pelos proletariados.
 O primeiro deles, o partido dos mencheviques, liderado por Plekhanov, pensava
em uma tomada de poder paulatinamente.
 O segundo partido, dos bolcheviques, liderado por Lenin,
fundamentava-se nas teses marxistas, sustentava a ideia
de que deveria existir um governo cujo poder estivesse
nas mãos de um único partido e representasse operários
e camponeses. Acreditava também que o poder deveria
ser derrubado pelas armas.
Interatividade

Karl Marx influenciou consideravelmente as ciências sociais e a sociedade,


especialmente no que se refere aos movimentos sociais e à política em geral. Nesse
sentido, assinale a alternativa que diz respeito ao objeto do marxismo.
a) É a análise da realidade capitalista e sociedades divididas em classes.
b) É a análise da realidade socialista e sociedades divididas em classes.
c) É a análise da realidade feudal e sociedades divididas em classes.
d) É a análise da realidade comunista e sociedades divididas em classes.
e) É a análise da monarquia, bem como das sociedades divididas em classes.
Resposta

Karl Marx influenciou consideravelmente as ciências sociais e a sociedade,


especialmente no que se refere aos movimentos sociais e à política em geral. Nesse
sentido, assinale a alternativa que diz respeito ao objeto do marxismo.
a) É a análise da realidade capitalista e sociedades divididas em classes.
b) É a análise da realidade socialista e sociedades divididas em classes.
c) É a análise da realidade feudal e sociedades divididas em classes.
d) É a análise da realidade comunista e sociedades divididas em classes.
e) É a análise da monarquia, bem como das sociedades divididas em classes.
Revolução Russa e o leninismo

 Os conflitos se intensificaram. No dia 25 de outubro de 1917, foi anunciada a


vitória dos bolcheviques. Lenin imediatamente promulgou dois decretos:
 Primeiro: iniciou uma conversação para que a Rússia saísse da guerra, o que deu
segurança aos russos e a possibilidade de iniciarem as transformações no interior
do país; então, providenciou o Tratado de Paz de Brest-Litovsk, em 1918.
 Segundo: deu um caráter comunista e marxista à revolução e anunciou o fim das
grandes propriedades privadas.
 Em um gesto de grande repercussão na Rússia e no
mundo, Lenin transferiu o poder dos proprietários privados
de acumular suas terras para as mãos da população, que
se organizava nos comitês agrários.
 Assim, nasce a União Soviética (URSS).
Revolução Russa e o leninismo

 Lenin governou de 1917 até 1924. Na esteira de suas ações, criou a Nova Política
Econômica (NEP); que se baseava no controle, por parte do Estado, dos meios de
produção, do sistema econômico e financeiro, das comunicações
e do comércio externo.
 A Revolução Russa causou impacto no mundo moderno. Só se viu algo parecido
na Comuna de Paris. Pretendia-se criar uma sociedade socialista e um modo de
produção alternativo àquele de produção capitalista.
 Os trabalhadores se apropriaram do poder e criaram pela
primeira vez na história uma nação socialista, que tinha
em seu centro as teses marxistas e os meios de produção
como coletivos e sob a tutela do Estado.
A luta de classes: uma força que produziu movimento na história

As características fundamentais das classes sociais são:

 Elas nem sempre existiram; o conflito entre elas é inevitável; a luta de classes é o
motor do desenvolvimento das sociedades ao longo da história; a ideia de uma
sociedade sem classes e construída na luta de classes e uma possibilidade
histórica concreta.
 Marx demonstrou que, nas sociedades primitivas, não
havia divisão de classes. Essa divisão surgiu com base
em mudanças nas forças de produção e nos conflitos
entre os homens, a posse privada, por um grupo social, da
terra e do excedente, graças à exploração de outra classe
social que não detinha os meios de produção.
A luta de classes: uma força que produziu movimento na história

 A primeira forma de propriedade é a propriedade tribal. O povo vive da caça e da


pesca, criando animais ou, na fase mais elevada, da agricultura.
 A segunda forma é a antiga propriedade comunal e do Estado, que provém da
união de várias tribos em uma cidade, por acordo ou conquista, e ainda é
acompanhada pela escravidão.
 Ao lado da propriedade comunal, já encontramos a propriedade privada móvel e,
mais tarde, a imóvel, em desenvolvimento, mas como forma subordinada à
propriedade comunal.
 Toda a estrutura da sociedade baseada em tal
propriedade comunal, e com ela o poder do povo, entra
em decadência na mesma medida em que progride a
propriedade privada imóvel.
A luta de classes: uma força que produziu movimento na história

 A divisão do trabalho já está mais desenvolvida. Já encontramos o antagonismo


entre a cidade e o campo, depois o antagonismo entre aqueles Estados que
representam interesses urbanos e os que representam interesses rurais e, dentro
das próprias cidades, o antagonismo entre a indústria e o comércio marítimo. As
relações de classe entre os cidadãos e os escravos estão, agora, totalmente
desenvolvidas (MARX, 1975, p. 114-115).
A inevitabilidade da luta de classes

 Por tudo que já estudamos, podemos concluir que a luta entre as classes é algo
historicamente determinado, por leis sociais, pois se iniciou em um período
histórico específico quando surgiu a primeira sociedade dividida em classes, e se
encerrará quando a propriedade privada dos meios de produção desaparecer,
como consequência da derrota da classe capitalista.

 Enquanto a posição econômica dos homens permitir que uma minoria se aproprie
gratuitamente de grande parte do que é produzido pela maioria trabalhadora, é
inevitável a divisão da sociedade.
Pensamentos sociológicos e as relações de poder
A crítica marxista: o pensamento de Antonio Gramsci (1891-1937)

 Antonio Gramsci foi um dos destacados pensadores do século XX que deixou um


legado importante para a análise e a compreensão da sociedade. Suas ideias se
apresentam com nova compreensão e prática das propostas de Marx. Como
afirma Reale (1991, p. 829).
 Desenvolvido, sobretudo, nos seus Cadernos do Cárcere, o pensamento de
Antonio Gramsci constitui uma das mais notáveis reelaborações do marxismo
do século XX.
 É de Gramsci os conceitos de hegemonia, bloco histórico,
superestrutura, sociedade política e sociedade civil, entre
outros. Esse pensador contribui significativamente para o
estudo da sociedade no que diz respeito à cultura
e à política.
Pensamentos sociológicos e as relações de poder
A crítica marxista: o pensamento de Antonio Gramsci (1891-1937)

Reale acrescenta que:

 “[...] na construção da hegemonia, parte-se da direção e da capacidade de indicar


soluções para os problemas de uma sociedade e de bater-se eficazmente por tais
soluções. A direção permite construir o domínio. Quando decai a capacidade de
dirigir, de indicar a solução para os problemas, a hegemonia entra em crise: o
domínio ainda manterá aquelas forças sociais e politicas no poder por certo
período, mas elas já estão condenadas” (GRUPI apud REALE, 1991).
 E, então, teremos a revolução que explode e abre
caminho no interior do vazio de direção criado por uma
classe que controla a cidadela, mas que não sabe mais
dirigir e perde o consentimento das classes subalternas.
Pensamentos sociológicos e as relações de poder
A crítica marxista: o pensamento de Antonio Gramsci (1891-1937)

 O conceito gramsciano de hegemonia é de fundamental importância para a


compreensão do seu pensamento e de sua influência na análise sociológica. A
ideia de hegemonia se refere ao poder exercido pela classe dirigente da
sociedade. Gramsci, assim como Marx, percebe a existência de duas classes
sociais fundamentais, diferenciadas a partir da economia, da cultura e da ideologia.

 Para permanecer no poder, a classe dirigente precisa criar mecanismos que se


tornem eficazes para manter sua hegemonia, isto é, ser aceita pela maioria da
sociedade, muito embora o conflito seja, por vezes, latente.
Pensamentos sociológicos e as relações de poder
Sobre a sociedade civil e a sociedade política

 Os conceitos de sociedade civil e política em Gramsci são básicos nessa reflexão


sobre hegemonia e bloco histórico. A diferença é que a sociedade política é
formada pela classe dirigente (o poder como força e o Estado que consiste na
máquina jurídico-coercitiva), enquanto a sociedade civil é formada pela trama das
relações sociais que os homens estabelecem em instituições, como sindicatos,
partidos, igreja, imprensa, escola e assim por diante (REALE, 1991, p. 833).
 Para Gramsci, as classes sociais se confrontam o tempo todo, embora haja
a hegemonia.
 O Estado procura manter o poder a partir da hegemonia,
do contrário, utiliza-se da força. A classe que se confronta
com o Estado é aquela fora da esfera institucional do
Estado e se constitui no grupo social que, para assumir o
Estado/poder, precisa criar condições favoráveis.
Pensamentos sociológicos e as relações de poder
Os intelectuais orgânicos e o partido

 Em razão da necessidade de organização das classes, surge a figura do


intelectual orgânico, na concepção de Gramsci, forjado entre as massas que não
têm sentido sem uma liderança e uma organização. O intelectual orgânico passa a
ser o elemento central capaz de orientar a classe dirigida para a conquista dos
seus direitos ou para a conquista do poder.
 Na compreensão de Gramsci, o partido político consiste no principal meio
representativo para a organização em torno do poder. O autor compara o partido
como o príncipe moderno, em referência às ideias de Maquiavel e sua clássica
obra O Príncipe.
Pensamentos sociológicos e as relações de poder
A superestrutura

 Diferentemente de Karl Marx, Gramsci não dá primazia à infraestrutura


(economia), mas à superestrutura (ideias, pensamentos, teorias e cultura em geral
que fazem parte da sociedade). Para ele, no desenvolvimento da história, a
superestrutura se torna fundamental. Essas abordagens poderão servir-lhe como
instrumento de análise para compreensão das contradições e dos conflitos
gerados no contexto dos grupos e indivíduos com os quais você irá trabalhar.

 Foi a partir dos conceitos de Gramsci, como hegemonia,


sociedade civil, sociedade política, bloco histórico e
superestrutura que o Serviço Social passa a fazer uma
leitura crítica sobre as questões sociais, cujo marco foi o
Movimento de Reconceituação.
Interatividade

Com tudo que pudemos estudar até agora, podemos afirmar que a luta de classes é
um fenômeno historicamente determinado por:

a) Leis sociais.
b) Leis da natureza.
c) Acordos comunitários.
d) Hegemonia institucional.
e) Acordo entre as classes.
Resposta

Com tudo que pudemos estudar até agora, podemos afirmar que a luta de classes é
um fenômeno historicamente determinado por:

a) Leis sociais.
b) Leis da natureza.
c) Acordos comunitários.
d) Hegemonia institucional.
e) Acordo entre as classes.
Bourdieu: as relações sociais e suas contradições
Habitus e campo

 Pierre Bourdieu (1930), formado em Filosofia, apoiou-se nas fontes dos clássicos
Durkheim, Weber e Karl Marx e teve a preocupação de trabalhar uma Sociologia
voltada para a compreensão das complexidades das relações sociais e suas
contradições. Os conceitos de habitus e de campos são básicos para compreender
o pensamento de Bourdieu.

 A ação dos indivíduos é analisada em suas diversas situações. Habitus se refere a


um sistema de disposições duradouras adquirido pelo indivíduo durante um
processo de socialização, conforme destaca Bonnewitz (2003).
Bourdieu: as relações sociais e suas contradições
Habitus e campo

Nas palavras de Corcuff (2001):

 “[...] os habitus, de certa forma, são as estruturas sociais de nossa subjetividade


que se constituem inicialmente por meio de nossas experiências (habitus primário),
e depois, de nossa vida adulta (habitus secundário). E a maneira como as
estruturas sociais se imprimem em nossas cabeças e em nossos corpos, pela
interiorização da exterioridade” (CORCUFF, 2001, p. 51).

 É importante refletir sobre esses conceitos para perceber


que nenhuma ação humana ocorre simplesmente por
acaso, mas sim pelas várias situações desencadeadas
tanto pela interiorização do exterior quanto pela
exteriorização do interior.
Bourdieu: as relações sociais e suas contradições
A violência simbólica

 Os estudos de Bourdieu, além da ideia de habitus e de campos, têm, no conceito


de violência simbólica, uma importante referência para se compreender também a
sociedade capitalista e suas formas de reprodução.

 A partir da compreensão marxista de que a sociedade é dividida em classes e,


portanto, um ambiente de constantes lutas e de conflitos, Bourdieu percebe a
sociedade capitalista marcada por profundas desigualdades.

 Por outro lado, esse autor não deixa de beber na fonte


weberiana, “compreendendo que a realidade social é
também um conjunto de relações de sentido, que tem,
então, uma dimensão simbólica” (CORCUFF, 2001, p. 53).
Bourdieu: as relações sociais e suas contradições
A violência simbólica

 Para a compreensão do significado de violência simbólica, Bourdieu distingue dois


tipos de violência: a física e a simbólica.

1. A primeira é exercida pela força física: bater em uma criança, ataque de policiais
com cassetetes, entre outros.

2. A segunda, a simbólica, significa repassar para as pessoas e os grupos sociais


valores que devem ser seguidos, caso contrário, serão punidos.
Bourdieu: as relações sociais e suas contradições
A violência simbólica

 A violência simbólica também é repassada quando são incutidas nas pessoas, ou


na sociedade, normas e valores que devem ser seguidos por serem “os melhores”,
quando na maioria das vezes não correspondem ao que expressam. Por exemplo:
ouvimos ou lemos constantemente, por meio da mídia e outros meios de
comunicação, que a “escola é igual para todos”. Na realidade, é diferenciada
conforme a classe social.

 A dimensão simbólica para Bourdieu se relaciona com as maneiras de se pensar


as formas de dominação social.
Michel Foucault e a relação de poder

 O pensamento do filósofo francês Michel Foucault se faz influente pela sua


característica particular em perceber o conhecimento, o saber e o poder. As
contribuições desse teórico se mostram contrárias à interpretação da sociedade
feita pelas concepções positivistas e marxistas. Na concepção de Foucault, os
modelos ou paradigmas que se pautam em padronização e determinismo ignoram
as diversas realidades que se apresentam, bem como impedem a compreensão
maior dos diversos fenômenos sociais.
Michel Foucault e a relação de poder

 O Positivismo e o Funcionalismo têm como referência os modelos orgânicos na


análise social, comparando a sociedade a um grande organismo vivo com suas
partes interdependentes.

 A preocupação dos teóricos do Positivismo, por exemplo, é realizar uma análise


objetiva da sociedade, de forma neutra e sem subjetividades.
Michel Foucault e a relação de poder
As relações de poder

O que significa poder? Como se apresenta ou quais as formas de poder existentes?


O que é preciso para se ter poder? Qual a relação entre poder e saber?

 Na concepção de Foucault, o poder está presente em toda parte, em todas as


relações sociais. Para muitas pessoas, o poder se refere às instâncias políticas:
representante político (presidente, governador, prefeito, Legislativo). Para
Foucault, o poder se faz presente nas mínimas relações sociais, até mesmo entre
duas pessoas.
Michel Foucault e a relação de poder
As relações de poder

 A concepção sobre as relações de poder se tornou paradigma para análise


contemporânea voltada para as nuances e para as relações do dia a dia,
contrariamente às análises totalitárias da sociedade até então vigentes.

 Na análise de Foucault, o controle do saber e do poder se apresenta, por exemplo:


no jurídico, no Estado, nas organizações, nos hospitais, nas prisões, no corpo, na
disciplina, entre outros.

 Os diferentes saberes se confrontam, afirmam-se,


controlam e reagem entre si. Na sociedade moderna, em
que predomina a força do capital, o saber se constitui em
uma forma de capitalização.
Michel Foucault e a relação de poder
O poder disciplinar

 Uma das formas de poder para a qual Foucault chama a atenção na sociedade
moderna é o que ele denomina de poder disciplinar. Essa forma de poder é muito
presente até mesmo nas fábricas, nas escolas, nas igrejas, nos presídios, nos
hospitais etc. Em uma de suas obras significativas sobre o tema, Vigiar e Punir, o
autor analisa as relações de poder na sociedade.
Michel Foucault e a relação de poder
O poder disciplinar

 As concepções de poder e de poder disciplinar são importantes para que se


perceba a política por vários ângulos. Por outro lado, os conceitos de habitus, de
campo e de violência simbólica, em Bourdieu, trouxeram novas perspectivas de
análises sociológicas para que possamos compreender as diferentes formas de
dominação presentes nos dias atuais, principalmente por meio da educação, da
mídia, das instituições e das organizações sociais modernas.

 Os pensamentos de Bourdieu e de Foucault são muito


relevantes, pois nos ajudam a analisar a sociedade atual,
especialmente por não se prenderem a modelos rígidos
e determinantes.
Interatividade

Repassar para as pessoas e os grupos sociais valores que devem ser seguidos,
caso contrário, serão punidos, significa:

a) Violência institucional.
b) Violência psicológica.
c) Violência física.
d) Violência simbólica.
e) Violência entre as classes.
Resposta

Repassar para as pessoas e os grupos sociais valores que devem ser seguidos,
caso contrário, serão punidos, significa:

a) Violência institucional.
b) Violência psicológica.
c) Violência física.
d) Violência simbólica.
e) Violência entre as classes.
Abertura democrática
Linha do tempo das políticas sociais

Para contextualizar como se deu o processo de amadurecimento das estruturas de


atendimento às demandas sociais públicas no mundo, acompanhe a tabela a seguir:

1349 Estatuto dos Trabalhadores


1563 Estatuto dos Artesãos
1531-1601 Lei dos Pobres (Poor Law)
Abertura democrática
Linha do tempo das políticas sociais

1662 Lei de Domicílio

1795 Inglaterra
Lei de proteção e assistência aos trabalhadores
urbanos empobrecidos
1834 Lei Revisora da Lei dos Pobres
Final do século XIX Seguro Social e Previdência Bismarkiana
1850-1900 Revolução Industrial
Direito à pensão e a 15 dias de férias
1889 Brasil
(trabalhadores da ferrovia e da
imprensa)
1891 Brasil Primeira legislação de assistência à
infância
Abertura democrática
Linha do tempo das políticas sociais

1892 Brasil Direito à pensão estendido aos funcionários da Marinha


1903 Brasil
Primeiros sindicatos (agricultura e indústrias agrícolas)

1907 Brasil Reconhecimento do direito sindical


1911 Brasil 1911 Brasil Redução da jornada de trabalho para 12 horas

1914-1918 Primeira Guerra Mundial


1919 Brasil Lei de acidentes no trabalho
Abertura democrática
Linha do tempo das políticas sociais

Lei Eloy Chaves (instituiu a Caixa de Aposentadoria


1923 Brasil
e Pensão – CAP)
Instituto de Aposentadorias e Pensões –
1926 Brasil
IAP, Funcionalismo Público
1926 Brasil Código de Menores
1929 Brasil Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque

Brasil Ministério do Trabalho,


1930
Ministério da Educação e Saúde.
Modelo Keynesiano (implantação
1932
do welfare state)
Abertura democrática
Linha do tempo das políticas sociais

1932 Brasil Carteira de trabalho


1941 Brasil Serviço de Assistência ao Menor – SAM
1942 Brasil Legião Brasileira de Assistência – LBA
1943 Brasil Consolidação das Leis Trabalhistas

1960
Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS
Brasil
1971
FUNRURAL
Brasil
Abertura democrática
Linha do tempo das políticas sociais

Aposentadoria de idosos pobres (com mais de 60 anos)


1974 Brasil
Política emergencial de alimentação
Programa Nacional de Alimentação Escolar
1985-1986
Programa de Suplementação Alimentar
Brasil
Programa Nacional de Leite para Crianças Carentes
Abertura democrática
Linha do tempo das políticas sociais

1985-1986
Ministério da Reforma e Desenvolvimento Agrário
Brasil
1985-1986
Seguro desemprego
Brasil
1988 Brasil Constituição Federal

1993
Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS)
Brasil
2005 Sistema Único de Assistência Social
Abertura democrática
Contextos do período de ditadura militar

 Historicamente, considera-se que a ruptura do regime militar foi lenta e gradual,


marcada principalmente pela anistia de 1979, que possibilitou o perdão aos
torturadores e concedeu direitos políticos e civis aos inimigos internos do regime
de segurança nacional.

 Ainda no contexto político do Brasil, é importante destacar as eleições para


governadores de 1982 e caminhada pelas eleições presidenciais diretas de 1984,
que resultou em eleições indiretas e convocação de Assembleia Nacional
Constituinte, em 1986.
Abertura democrática
Contextos do período de ditadura militar

 Esse período, denominado de Transição Democrática ou Nova República,


configurou-se como uma reorganização institucional. Trouxe consigo a concepção
de proteção social, na qual tanto os direitos sociais quanto as políticas de tutela
desses direitos passam a ser dotados de atenção especial.

 É nesse momento da história política do país que ocorre a inclusão da assistência


social, com todo o seu teor de estabelecimento dos mínimos sociais, a partir da
força da Constituição, além do sistema de seguridade social e de direito
de cidadania.
Revalorização das experiências da sociedade civil

 A partir da introdução dos preceitos do Estado de Bem-Estar Social (Welfare


State), que propunha o atendimento de todos os cidadãos por políticas sociais
universalistas, fortaleceram-se planos e redes públicas de atendimento, que
levavam a padronização das ações em todas as partes do território nacional.
Assim, redes foram estruturadas nas áreas da saúde, educação, assistência
social, entre outras.
Revalorização das experiências da sociedade civil

 Se, por um lado, a proposição de estrutura pública facilitava o acesso da


sociedade ao atendimento de suas necessidades; por outro, reduzia as
características e as peculiaridades regionais a um dado patamar geral
estabelecido no marco de cada plano ou programa. A princípio, a análise das
características e das peculiaridades regionais leva-nos a perceber apenas as
diversidades culturais e ambientais, geralmente ditadas pelas matrizes culturais e
delineamento das biodiversidades dos biomas.
 Muito além de caracterizações geográficas, o que merece nossos estudos e
preocupações é reconhecer que a pobreza não é homogênea em todo o território.
Revalorização das experiências da sociedade civil

 Configura-se, de acordo com a citação, que a pobreza tem perfil profundamente


alterado, passando a assumir diferentes características de acordo com o perfil
societário de cada grupo, de maneira a ser completamente heterogênea. Essa
heterogeneidade exigiu muito mais eficiência por parte das políticas sociais.

 O contexto socioeconômico dos países, destacadamente os de maior população e


de maior extensão territorial, aponta para fragilidades da implementação de
políticas sociais padronizadas para todos os seus cidadãos.
Revalorização das experiências da sociedade civil

 Nesse sentido, a política nacional de atenção e proteção da infância e


adolescência, por meio do Programa Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil
(PETI), encontra realidades, percepções e mesmo desafios diferentes nas
comunidades de uma favela da cidade de São Paulo (SP), na comunidade
ribeirinha de Breves (PA), na ilha de Marajó e na comunidade de Araguacema (TO).
Cenário de fortalecimento das organizações da sociedade civil

 Ao final da década de 1970, as comunidades encontram um campo bastante


propício para o fortalecimento de suas ações, por meio de associações, fundações
e sindicatos.
 demandas sociais crescentes;
 sinalização de fim do período de regime militar;
 crescente fragilização das políticas sociais emanadas do poder público;
 fortalecimento do papel social da Igreja.

 Soma-se a tudo isso o movimento das empresas com o


objetivo de reduzir seus custos, gerando desemprego.
A transição para a democracia liberal

 Na elaboração da Constituição Federal de 1988, cada um de seus artigos foi


objeto de muita discussão e debates entre os grupos que compunham o
Congresso Nacional, muitas vezes produzindo antagonismos de blocos de
interesses distintos e forças também diversas, o que, ao final, amadureceu
a Carta Magna.
A transição para a democracia liberal

 Dentro do plano econômico, devemos destacar que a Constituição Federal


defendeu alguns monopólios estatais, como o do petróleo, das comunicações, do
transporte de cabotagem, dos portos; enquanto, especificamente no plano social,
defendeu o avanço dos direitos das mulheres, das crianças, dos índios e a
inclusão do conceito de Seguridade Social, que compreende direitos universais à
saúde, direitos à previdência e à assistência social.
A transição para a democracia liberal

 As políticas de educação, saúde, infância e de assistência foram transferidas para


a gestão municipal (movimento de municipalização) com controle social previsto
para os conselhos de direitos da criança, de assistência, educação e saúde.

 Os conselhos deveriam ser paritários, contando com número de representantes


escolhidos pela sociedade em equilíbrio com o número de representantes
escolhidos pelo Estado.
A transição para a democracia liberal

 Em 1999, metade dos municípios brasileiros conseguiu estruturar seus conselhos,


mesmo observando-se grande número de ocorrências de ingerência de prefeitos
municipais. Notamos nesse contexto de transição democrática o conflito entre um
modelo de garantia de direitos, caracterizado pela descentralização e pela
participação dos cidadãos, e uma política clientelista, de distribuição de favores
bastante fragmentada e com forte teor político-partidário.
A transição para a democracia liberal

Nos anos 1985-1986, as principais iniciativas de conteúdo econômico e social


adotadas pelo governo Sarney podem ser assim apresentadas:
1. Plano Cruzado: trouxe o início da política econômica da Nova República que
privilegiava o controle da inflação.
2. Plano de metas: foi desenvolvido como plano de sustentação de crescimento e
de combate à pobreza.
3. Política emergencial de alimentação: foi criada por meio do Programa Nacional
de Alimentação Escolar (PNAE).
A transição para a democracia liberal

4. Criação do Ministério da Reforma e Desenvolvimento Agrário (MIRAD) e


lançamento da primeira versão do Plano Nacional de Reforma Agrária.

5. Implantação do seguro-desemprego: contou com um estudo preliminar de


viabilidade da ampliação da sua cobertura e dos benefícios até então
concedidos. Foi implantado para reduzir os impactos socioeconômicos nas
famílias, no período imediatamente após a perda do emprego.

 O desmonte das políticas sociais federais, com a redução


dos programas de habitação, o sucateamento da saúde, o
excessivo controle das verbas da educação e a
distribuição de cargos para dar manutenção do governo
no poder.
A transição para a democracia liberal

 Assim, o cidadão brasileiro passou a ser o centro das políticas sociais e não mais
o ator periférico, que deveria buscar o foco das estruturas de atendimento para
suas necessidades.

 O governo de Sarney, como primeiro período pós-ditadura militar, fortaleceu as


ações nos municípios, perfil consolidado pela Constituição Federal, que remeteu o
cidadão a abarcar um novo perfil: “cidadão de direitos”.
Interatividade

Ao final da década de 1970, as comunidades encontram um campo bastante propício


para o fortalecimento de suas ações, por meio de:

a) Associações, fundações e sindicatos.


b) Leis municipais.
c) Acordos comunitários.
d) Acordo entre as classes.
e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.
Resposta

Ao final da década de 1970, as comunidades encontram um campo bastante propício


para o fortalecimento de suas ações, por meio de:

a) Associações, fundações e sindicatos.


b) Leis municipais.
c) Acordos comunitários.
d) Acordo entre as classes.
e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.
ATÉ A PRÓXIMA!

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