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Fundamentos Históricos,

Teóricos e Metodológicos do
Serviço Social - Políticas Públicas
Professora Esp. Daniela Sikorski
AUTORA

Professora Esp. Daniela Sikorski

● Especialista em Política Social e Gestão de Serviços Sociais pela UEL (Univer-


sidade Estadual de Londrina).
● Bacharel em Serviço Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa
(UEPG).
● Professora Formadora EAD - UniCesumar.
● Docente de Cursos Presenciais – UniCesumar (Campus Londrina).
● Professora de Pós-Graduação em Gestão da Qualidade em Saúde – UniCesu-
mar.
● Supervisora Acadêmica de Estágio Obrigatório em Serviço Social.

Tem experiência profissional na área de Serviço Social na Educação, Organizacio-


nal, Terceiro Setor, Responsabilidade Social, Projetos Sociais, Gestão de Pessoas na Área
da Saúde e Acreditação Hospitalar.
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo(a)!

Ao escolher o curso de Bacharelado em Serviço Social, você escolheu uma profis-


são comprometida eticamente com a defesa dos direitos humanos, a justiça, a liberdade, a
equidade.

Gradativamente você conhecerá a história da profissão, conseguindo se apropriar


dos fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço Social e todas as demais
disciplinas do curso, possibilitando a você se tornar um profissional diferenciado e compro-
metido com a sociedade.

Este livro trata justamente dos fundamentos da profissão, fundamentos históricos,


teóricos e metodológicos do Serviço Social enfatizando as políticas públicas.

Você terá a oportunidade de estudar sobre a gênese do Serviço Social e seus


condicionantes históricos, políticos e sociais. A origem da questão social. O surgimento do
Serviço Social na Europa e nos Estados Unidos, prioritariamente no Brasil. Perspectivas
teórico-metodológicas sobre o surgimento da profissão. Entidades representativas da pro-
fissão. A legislação social: CLT, LDB, LOAS, ECA, LOS, Estatuto do Idoso; Lei Maria da
Penha; Estatuto da Igualdade Racial; Lei da Previdência Social.

Na Unidade I você conhecerá a gênese do Serviço Social e a fundação das primei-


ras escola de Serviço Social nos EUA, na Europa, na América Latina e no Brasil. Você ainda
entenderá como se deu o processo de racionalização da assistência e a origem da questão
social. Tais elementos serão fundamentais para a compreensão das demais unidades.

Já na Unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre Serviço Social no


Brasil e seus determinantes sócio-históricos. Veremos ainda como se deram as constru-
ções clássicas tradicionais da profissão, desde o período de sua emergência até a sua
legitimação.

Depois, na Unidade III, vamos tratar sobre o Projeto Ético-Político do Serviço Social.
Você ainda poderá se aproximar do Código de Ética e da Lei que Regulamenta a Profissão
de Serviço Social no Brasil. E para encerrar esta unidade de estudo lhe será apresentado a
trajetória de lutas e conquistas do conjunto CFESS/CRESS (Conselho Federal de Serviço
Social / Conselho Regional de Serviço Social).

E por fim na Unidade IV, veremos algumas legislações sociais e de proteção social,
com as quais o assistente social tem contato no seu cotidiano profissional.

Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada
de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em
nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional.

Muito obrigada e bom estudo!


SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 6
A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina

UNIDADE II.................................................................................................... 43
O Serviço Social no Brasil

UNIDADE III................................................................................................... 72
O Projeto Ético-Político do Serviço Social

UNIDADE IV................................................................................................. 122


Legislações Sociais
UNIDADE I
A Gênese do Serviço Social nos EUA,
na Europa e na América Latina
Professora Daniela Sikorski

Objetivos de Aprendizagem:
• Contextualizar a gênese do Serviço Social.
• Compreender como se deu a racionalização da prática da assistência e origem da Ques-
tão Social.
• Conhecer a fundação e especificidades das primeiras escolas de Serviço Social.

Plano de Estudo:
• A racionalização da Assistência e a gênese do Serviço Social.
• Origem da Questão Social.
• A fundação das primeiras Escolas de Serviço Social.
• A história do Serviço Social na América Latina.

6
INTRODUÇÃO

Olá, você está preparado(a) para nossos estudos? Vamos conhecer a gênese da
nossa profissão?
Vamos, a partir deste momento, compreender um pouco mais sobre a história do
Serviço Social, o que possibilitará a você uma fundamentação pautada na história, em que
atores foram construindo e consolidando a profissão para que se tornasse o que é hoje.
Você verá que, historicamente, o Serviço Social possui uma grande influência da
igreja, que, em seguida, foi se somando a questão política.
Conheceremos brevemente como se deu a criação das principais escola de Serviço
Social no Mundo, sobretudo na Europa, América do Norte (EUA) e América Latina (Peru e
Chile).
Para alguns a história pode parecer desestimulante, porém reforço meu convite em
aprender a história da profissão. Por que estudar a história da profissão? Para que você se
torne um(a) profissional fundamentado(a), embasado(a) e capaz de propor estratégias de
intervenção condizentes com a realidade sócio-ocupacional em que está inserido(a), consi-
derando a realidade atual. Um(a) profissional que saberá intervir com segurança, pensando
a longo prazo e não imediatista, capaz de diferenciar as ações profissionais das ações de
caridade, rompida ao longo dos tempos, porém sem nunca negar a sua essência.
Atualmente, o Serviço Social é uma profissão inserida na divisão social e técnica do
trabalho, e não filantropia, como por longo tempo foi entendido.

Está preparado(a)? Vamos lá!


Bons estudos

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 7


1 A RACIONALIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA E A GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL

Inicio este estudo apontando que, historicamente, a realização da prática da as-


sistência esteve distante das relações sociais, ou seja, por longo tempo a prática da assis-
tência social esteve associada à ideia de caridade, ajuda, assistencialismo, benevolência
e filantropia.
Nos dias atuais se faz necessário compreendermos com clareza, primeiramente,
quais foram os fundamentos e a gênese (origem) da profissão, conhecer como nasceu a
nossa profissão.
Em sua gênese, o Serviço Social encontra suas raízes na assistência aos pobres,
prestada, a princípio, por mulheres bondosas. Vê-se que a profissão, atualmente, se en-
contra inserida na divisão social e técnica do trabalho, em que, de acordo com Estevão
(2006), as ricas damas de caridade foram cedendo lugar às filhas da classe média ou
trabalhadores.
De forma bastante breve, leia a pequena história do Serviço Social, apresentada de
maneira criativa, por Estevão (2006, p. 8-9), em seu livro O que é o Serviço Social:
[…] o Serviço Social tem pai e mãe e, inclusive, até já se deitou no divã do
analista.
O Serviço Social é fruto da união da cidade com a indústria.
Seu nascimento teve como cenário as inquietudes sociais que surgiram do
capitalismo e, como qualquer bom filho, quis possuir mãe (a cidade) e de
identificar com o pai (a indústria).
Na adolescência, negou várias vezes suas origens e hoje pode-se dizer que
tem feições próprias, com contornos definidos na luta pela sobrevivência e,
identificando com seus pais, chegou para ficar.

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 8


É claro que, em sua fase de maturação, mantém todas as ambiguidades
inerentes a uma profissão que, buscando comprometer-se com a população
à qual presta serviços, é também canal de ligação entre instituições públicas
e cidadãos, empregados e patrões.

Assim apresentado, convido você a compreender um pouco mais sobre a gênese


da nossa profissão, construindo um processo de formação acadêmica que lhe conduza a
um futuro profissional brilhante.
Para você compreender melhor qual a relação da assistência com a caridade, é pos-
sível dizer que desde que existem pessoas em situação de pobreza, existem também pessoas
que se preocupam e se comovem com tal situação, buscando ações para minimizá-las.
Historicamente,
As damas de caridade que pretendiam ganhar o céu minorando as agruras
alheias acreditavam seriamente que os pobres eram a causa de sua própria
situação e bastavam uma ajuda inicial e alguns conselhos bem dirigidos para
que se lhes abrissem as portas das benesses que o capitalismo oferecia a
todos indistintamente. Como o pobre sempre tem, muitos filhos, não bastava
apenas ajudar a pessoa, era necessário também pensar na família, daí surge
o trabalho com as famílias, com menores, na área de higiene, etc. (ESTE-
VÃO, 2006, p. 16-17).

Veja com atenção a citação apresentada, percebendo que a assistência estava


diretamente ligada ao favor e ao assistencialismo, uma vez que o poder público não de-
monstrava nenhum interesse em custear os serviços de assistência social. Esses serviços
ficavam sob a responsabilidade das instituições religiosas.
É importante contextualizar que, estando o capitalismo despontando, a sociedade
também vai passando por transformações, em todos os seus aspectos.
Você sabia que em dado momento histórico o lucro foi considerado pecado, uma
imoralidade? Porém, com o surgimento do capitalismo, isso deixa de existir. A burguesia,
que almejava o poder, se sentia ameaçada pelos problemas sociais e possíveis revoltas
que os “pobres” ofereciam. Nesse sentido:
Estado e Igreja vão dividir tarefas: o primeiro impõe a paz política (e com toda
a violência necessária), a Igreja, ou melhor, as igrejas (Católica e Protestante)
ficam com o aspecto social: tratar de fazer caridade.
A justificativa é a necessidade de todos praticarem o bem, portanto os ricos
precisavam cumprir com seus deveres com os pobres. Era uma preocupação
com o indivíduo. O modo pelo qual se pensava resolver os problemas sociais
era pela “reforma dos costumes” ou “reforma social” de cada um (ESTEVÃO,
2006, p. 11).

Você, então, pode se questionar: como assim “reforma dos costumes”, professora?
Bem, quando se fala que é preciso “reformar” algo ou alguma coisa é porque ela
não serve mais do jeito que está, ou não serve mais para o meu “padrão” do que é ade-

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 9


quado. Por exemplo: quando você compra uma calça que ficou larga, você recorre a uma
costureira e pede que ela a reforme para que se ajuste ao seu corpo, correto?
Da mesma forma, com o advento do capitalismo, os pobres precisavam se ajustar
à sociedade, precisavam de “reforma” para que não oferecessem “perigo” à sociedade. Ser
pobre era uma contravenção, algo considerado errado, ou seja, eles eram “desajustados”.
Em dado momento, ser pobre ainda era entendido por alguns como castigo divino ou repre-
sentava a incapacidade da pessoa em se enquadrar na sociedade como as outras pessoas
“normais”.
Você achou isso estranho? Certamente você dirá que sim. Porém lembre-se que
eram outros tempos.
Voltemos ao entendimento sobre como era feita a assistência em outros tempos.
Primeiramente, era feita de maneira assistemática, sem a utilização de planejamento, mé-
todos e teorização. Com o tempo, as ações foram se organizando e tomando uma forma
mais organizada, porém sem perder a característica de caridade e ajustamento moral, como
você poderá observar a seguir:
É a partir da segunda metade do século dezenove que algumas pessoas,
como Chalmers na Inglaterra, Ozanam na França e Von der Heydt na Ale-
manha, praticam caridade de caráter assistencial que se constitui como um
esboço de técnica e de forma organizada.
Mas o que faziam estas pessoas era diferente da prática caritativa anterior?
Elas dividiam as paróquias em grupos de vizinhança, designaram um respon-
sável em cada setor para distribuir ajuda material e fazer trabalho educativo
(principalmente dando conselhos) (ESTEVÃO, 2006, p. 11).

A partir dos trabalhos mencionado temos algumas ações e marcos que permitem
compreender como as práticas de assistência vão se organizando. Um exemplo de ação
que permite essa compreensão foram as Conferências São Vicente de Paulo (1833). Elas
[...] organizam seu trabalho em torno de visitas e ajudas a domicílio, creches,
escolas de reeducação de delinquentes, cuidados e socorros a refugiados e
imigrantes. O que era feito apenas nas paróquias passa a ser feito por toda a
cidade. A princípio organizada em pequenos bairros, a assistência começou
a se expandir e procurou conquistar um espaço na cidade inteira.
Até aí a Assistência Social é exercida, em caráter não profissional, como
contribuição voluntária daqueles que possuíam bens para aqueles que
eram pobres (ESTEVÃO, 2006, p. 12, grifo nosso).

Caro(a) aluno(a), você está conseguindo perceber como eram realizadas as práti-
cas de assistência? Consegue perceber a dimensão caritativa das ações sociais?
Comentei, no início desta unidade de estudo, que a assistência era praticada por
“damas de caridades”, lembra? Sendo assim, como se dava essa prática na segunda me-
tade do século XIX? Vamos entender um pouco melhor? Veja a seguir:

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Procurava-se em primeiro lugar conhecer as verdadeiras necessidades de
cada um. Usar economicamente as esmolas disponíveis, visitar as casas dos
pobres e necessitados, estudar conscienciosamente os pedidos de ajuda e
conseguir trabalho para os “desocupados”, para prevenir os problemas deri-
vados da pobreza (ESTEVÃO, 2006, p. 12).

Além do apresentado quanto a ação das damas de caridade, temos ainda um outro
marco acerca da organização da Assistência Social, que se deu em 1869: a Sociedade de
Organização da Caridade, fundada em Londres. A Sociedade tinha suas ações fundamen-
tadas em alguns princípios, os quais você poderá conferir a seguir:
1. Cada caso será objeto de uma pesquisa escrita;
2. Este relatório será entregue a uma comissão que decidirá o que se deve
fazer;
3. Não se dará ajuda temporária, mas metódica e prolongada até que o
indivíduo ou a família voltem às suas condições normais;
4. O assistido será agente de sua própria readaptação, como também seus
parentes, amigos e vizinhos;
5. Será solicitada ajuda às instituições adequadas em favor do assistido;
6. Os agentes dessas obras receberão instruções gerais e escritas e se
formarão por meio de leituras e estadias práticas;
7. As instituições de caridade enviarão a lista de seus assistidos para
formar um fichário central, com o objetivo de evitar abusos e repetições
de pesquisas;
8. Formar um repertório de obras de beneficência que permite organizá-las
conveniente (ESTEVÃO, 2006, p. 14, grifo nosso).

Observe os itens grifados na citação da autora, perceba que as ações colocam os


vulneráveis e pobres numa condição de incapazes, passivos, em que a caridade sobrepõe
a noção de direito. Aliás, a ideia de direito passava longe da assistência social da forma
como vemos hoje.
Ressalto que, como a Sociedade de Organização da Caridade, fundada em Londres,
outras sociedades foram formadas em muitos outros países capitalistas, principalmente
nos Estados Unidos.
A novidade principal destas instituições era colocar, como princípio, a ne-
cessidade de criar instituições que se encarregasse, de formar pessoas
especificamente para realizar as tarefas de assistência social e colocar em
pauta a institucionalização do Serviço Social. O que se fazia por prazer ou
por obrigação religiosa passa a se esboçar como uma profissão secularizada
(ESTEVÃO, 2006, p. 14).

Chamo a sua atenção para algumas questões, ao apresentar a você a questão


da gênese da profissão e a racionalização da assistência, não devemos desconsiderar
a história, pois o Serviço Social também se desenvolve no sentido em que a sociedade
também evolui. Logo, não podemos e não devemos negar nossa origem, pois os movimen-
tos de institucionalização da assistência, somados a outros fatores, contribuíram para a
construção da profissão da forma como vemos nos dias atuais.

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No próximo item você compreenderá um pouco mais sobre como a assistência
social vai se racionalizando. Para isso é necessário compreender a questão social e como
ela se origina, pois compreender a questão social permitirá a dimensão reivindicatória e
politizada que o Serviço Social vai assumindo. Entendendo que a assistência social não é
caridade ou favor, ela vai ganhando conotação de direito a partir da exploração e desigual-
dade social, provocadas principalmente pela Revolução Industrial, um marco na história da
humanidade.
Existem duas teses, claramente opostas, sobre a gênese do Serviço Social. Elas se
enfrentam como interpretações extremas sobre o tema, sendo que, tal como foram formu-
ladas, se constituem em teses alternativas e mutuamente excludentes.

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 12


2 ORIGEM DA QUESTÃO SOCIAL

O Serviço Social, em sua gênese, é marcado pela forte influência da Igreja, bem
como encontram-se, em seu cerne, as contradições marcadas entre capital X trabalho,
que chamamos de questão social, seguido de seus desdobramentos, que nomeamos de
expressões/manifestações da questão social, como, por exemplo: fome, desemprego, vio-
lência, falta de acesso à saúde, educação etc.
Com o tempo, o Serviço Social foi se consolidando enquanto uma profissão inserida
na divisão social e técnica do trabalho, devidamente regulamentada e reconhecida por sua
luta pelos direitos da população.
Contudo, meu caro e minha cara aluna, precisamos compreender a nossa história
enquanto profissão, e ver que ela foi se transformando e adquirindo conquistas, quando não
mais utilizada enquanto instrumento da burguesia para manutenção da ordem e interesses
dessa classe dominante.
Estaremos mais que envolvidos com a questão histórica. Aliás, a história é mais
que necessária para que possamos compreender como e porque temos e vivenciamos
o mundo como ele é hoje.
A história não é sucessão de fatos no tempo, não é progresso das ideias,
mas o modo como homens determinados em condições determinadas cria os
meios e as formas de sua existência social, reproduzem ou transformam essa
existência social que é econômica, política e cultural (CHAUI, 2008, p. 8).

Não podemos apenas passar uma “borracha” em tudo o que já foi construído ou
simplesmente achar que os acontecimentos passados não influenciam em nossas vidas.
Não podemos desconsiderar as tentativas de melhorar as condições de vida realizadas por
nossos antepassados, os erros e acertos e a busca constante por um mundo melhor e que
atendesse às suas necessidades.
Vamos, então, ampliar nosso conhecimento? Aproveite a leitura!
Quando falamos em questão social não estamos abordando nenhum tema recente
ou algo novo. O surgimento da questão social está inserido em um contexto histórico, ligado
a uma gama de relações – mais especificamente trabalhistas. Relações contraditórias,
desiguais e que geraram mudanças na realidade social da época em que estava inse-
rida.
Assim, você pode compreender que a questão social deve ser apreendida a partir
de como as relações se configuram e se apresentam na sociedade e como acontece o

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enfrentamento da questão social (quais mediações são buscadas), tanto no âmbito social
quanto no âmbito político.
Tenha claro que, neste momento, falaremos sobre uma realidade que não é a bra-
sileira e sim inglesa. Contudo essa realidade nos serve de ponto de partida, pois muito dos
seus feitos e efeitos refletiram e repercutiram em todo mundo e são percebidos até os dias
atuais.
É importante termos sempre em mente que a leitura não só amplia nosso
conhecimento, como também contribui para nossa visão de homem e de mundo. Sem
contar que quem lê, escreve e reflete muito melhor, aperfeiçoa o vocabulário e melhora os
níveis de discussão.
Agora vamos observar o contexto histórico do surgimento da questão social no
mundo. É preciso ter clareza que não se trata de um fenômeno exclusivamente brasileiro,
visto que se apresenta em todo o mundo, e em cada lugar assume características diferen-
ciadas conforme a realidade de cada lugar, de cada cultura.
Começaremos pela Idade Média. No final desse período o trabalho consistia em
uma estrutura familiar, este era o modo de produção que prevalecia na sociedade. O espa-
ço temporal de trabalho era o dia, ou seja, o trabalhador iniciava suas atividades laborativas
com o nascer do sol e parava seus trabalhos somente ao anoitecer. Considerava-se muito
as forças místicas da natureza, era muito comum os trabalhadores se orientarem e regula-
rem suas vidas a partir da natureza. O espaço físico do trabalho era o lar, a residência e
os arredores da casa familiar (os agricultores, os sapateiros e os alfaiates).
É importante ressaltar como o trabalho feminino e o trabalho infantil estão
presentes nessa sociedade. As necessidades de sobrevivência e as
obrigações servis contribuem para isso. As crianças, desde que já possam
exercer alguma atividade laborativa, ingressam no mundo do trabalho para
auxiliar na economia familiar. Nessa lógica, quanto mais filhos, maior poderia
ser o aproveitamento produtivo. Pelo menos era assim que se apresenta
aquela sociedade e, de maneira não muito distante, podemos observar a
mesma lógica sendo empregada nas comunidades rurais mais atrasadas
atualmente (SAUCEDO; NICOLAZZI JUNIOR. In: GEDIEL, 2001, p. 84).

Com o passar do tempo, o comércio e o constante crescimento urbano vão ganhan-


do destaque no final da Idade Média, no qual gradativamente as cidades vão se tornando
espaço de trabalho, pois é nesse espaço que ocorrem as trocas (produtos agrícolas, arte-
sanato etc.) e todo tipo de negócio. Essas transações ocorriam tanto durante o dia como à
noite, em casa ou nas fábricas, rompendo, nesse final da Idade Média, toda estrutura feudal
vigente, pois surge aí o sistema capitalista.

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A evidência mais marcante do advento do sistema capitalista é a transformação
das relações sociais. Antes se tinha a relação senhor X servo, com o novo sistema temos
burguês X proletário. Outra característica é o início da produção em larga escala, lembran-
do que antes as produções eram baseadas na estrutura familiar, sem muitos recursos.
Priorizava-se o uso e, agora, a troca, aparecendo o que Marx chamava de mais valia.

SAIBA MAIS

Várias relações foram estabelecidas ao longo dos tempos. Perceba que sempre se apre-
sentou uma constante oposição que podemos resumir entre “opressores e oprimidos”.
Homem livre X Escravo; Patrício X Plebeu; Barão/Senhor X Servo; Burguesia (patrão)
X Proletariado (empregado).
Fonte: Marx e Engels, 2005.

Outro aspecto que permanece com o sistema capitalista é que, assim como na
estrutura feudal, todos os membros da família eram trabalhadores, sujeitos aos mesmos
trabalhos, sem distinção. O que diferenciava era que a grande busca por mulheres e crian-
ças se dava por conta do baixo custo da mão de obra (mulheres recebiam salários bem
menores que os homens), representando uma maneira de baratear os custos de produção,
outro motivo era que estes dois grupos (mulheres e crianças) eram “facilmente” disciplina-
dos e fáceis de dominar.
A questão social, originalmente expressa no empobrecimento do trabalha-
dor, tem suas bases reais na economia capitalista. Politicamente, passa a
ser reconhecida como problema na medida em que os trabalhadores em-
pobrecidos, de forma organizada, oferecem resistência às más condições
de existência decorrentes de sua condição de trabalhadores para o capital
(SANTOS; COSTA, 2006, p. 12).

A Revolução Industrial começou na Inglaterra (XVIII), alterando as relações e con-


dições de trabalho, “inchando” as cidades com a vinda das famílias do campo em busca de
condições melhores de vida.
Aumentar lucros e diminuir despesas é o princípio do sistema capitalista,
portanto, os proprietários buscam novas tecnologias para suas fábricas; exploram seus
operários com carga horária de trabalho exorbitante, salários irrisórios e locais insalubres,

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 15


tudo isso para justificar o aumento da produção de mercadorias e o aumento do lucro para
os proprietários.
A partir desse cenário, originário da Revolução Industrial, vemos o aumento descon-
trolado da população nas cidades. Os camponeses, deslumbrados com a ideia de uma vida
mais fácil e melhores salários na cidade, sem pensar muito, abandonavam suas vidas no
campo, contudo, ao chegarem à cidade encontravam um cenário caótico e desesperador.
Temos o avanço na produção e industrialização, ao mesmo tempo, temos tam-
bém o crescimento dos problemas socioeconômicos, pois não havia emprego para toda a
demanda que chegava na cidade. Dessa forma, começou a aparecer, em larga escala, o
problema do desemprego, fome, moradia (cortiços), prostituição, alcoolismo, sem contar a
ausência de leis trabalhistas, o que muito facilitavam a exploração daqueles que ainda
possuíam emprego.
Nesse contexto histórico, temos ainda a chamada Segunda Fase da Revolução
Industrial (1871-1914), que é compreendida pela introdução de outras inovações tecnoló-
gicas; fonte de energia: não só o vapor, mas também a eletricidade e o petróleo; criação
de novas máquinas e ferramentas, com outra estrutura de trabalho que agora é colocada
em prática: avançada fragmentação de tarefas; ações eram repetidas infinitamente até al-
cançar maior produtividade; para obter a colaboração dos funcionários foram estabelecidos
remuneração e prêmios extras.
Assim, o trabalhador tornou-se uma extensão da máquina e, ainda hoje, vemos
nitidamente os reflexos desse modelo de trabalho. Um exemplo clássico desse formato é o
apresentado no filme Tempos Modernos, de Charlie Chaplin.
Entre os anos de 1855 e 1866 houve um aumento bem significativo de “indigentes”
na Inglaterra. Estes não tinham alternativa que não fosse recorrer à caridade pública e
acabavam se submetendo aos serviços das workhouses:
As Workhouses eram grandes casas fundadas para fornecer moradia, tra-
balho e educação ao homem destituído, mas apto a desenvolver um ofício
e ingressar na sociedade de trabalho requisitada pela indústria. Esta nova
organização exigia uma nova concepção de trabalho, pois a forma como
o homem se organizava na manutenção de sua vida já não respondia aos
interesses produtivos. Tal conceito de trabalho era diferente do até então
vigente, tendo por objetivo adaptar o trabalhador às novas necessidades pro-
dutivas. Algumas das Workhouses foram organizadas pela união de várias
igrejas para dividir melhor os custos, isto porque muitas cidades pequenas
não tinham condições de manter uma instituição desse porte. Outras eram
construídas em terras compradas pela comissão real 10 ou em prédios que
correspondessem às exigências da lei para abrigar os que necessitavam,
conforme previa o parágrafo 23 da Segunda Lei dos Pobres, de 1834
(DORIGON, 2006, p. 125).

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 16


Cabe ressaltar que no meio rural (campo) a realidade não era muito diferente que
a realidade da cidade. No campo se agravou a questão da fome, as mulheres e crianças
foram as mais atingidas, já que a prioridade na alimentação era o homem, pois este deveria
estar bem alimentado para que pudesse trabalhar, e o restante da família vinha em “segun-
do lugar”.
Quando analisamos esse contexto de crescimento do empobrecimento das famí-
lias, tanto do campo quanto da cidade, percebemos a origem do que hoje chamamos de
questão social.
Não esqueça que o sistema capitalista, com seus crescentes conflitos de classes,
gerou o agravamento das desigualdades sociais. O que trouxe à tona a discussão acerca
da questão social, isso se deu a partir dos problemas dos trabalhadores, a crescente misé-
ria, a insatisfação com as condições sociais, as lutas por melhorias urbanas. Esses pontos,
quando problematizados, ganham um caráter político na sociedade da época.
[...] a questão social, originalmente expressa no empobrecimento do trabalha-
dor, tem suas bases reais na economia capitalista. Politicamente passa a ser
reconhecida como problema na medida em que os indivíduos empobrecidos,
de forma organizada, oferecem resistência as más condições de existência
decorrentes de sua condição de trabalhadores para o capital. No percurso do
desenvolvimento do capitalismo atravessado por lutas sociais entre capital
e trabalho constituem-se respostas sociais mediadas ora por determinadas
organizações sociais, ora pelo Estado, em um processo impulsionado pelo
movimento de reprodução do capital (SANTOS; COSTA, 2006, p. 3).

Tudo isto gera uma grande insatisfação e descontentamento, originando, assim, a


organização dos operários, processo este que não ocorreu do dia para a noite.
Sendo assim, quem interveio nesse contexto foi a Igreja Católica, com vistas a “re-
cuperar” e melhorar os efeitos trágicos que caíam sobre a classe trabalhadora. Ela atuaria
no espaço entre
A recusa do Estado em assumi-la e a incapacidade das chamadas ‘classes
inferiores’ de decidir sobre seu destino. Nesse sentido, ela lançará mão de
um conjunto de procedimentos e estratégias de forte conteúdo moralizador,
atuando basicamente em três níveis: [...] assistência aos indigentes por meio
de técnicas que antecipam o trabalho social no sentido profissional do termo;
o desenvolvimento de instituições de poupança e de previdência voluntária
que apresentam as premissas de uma sociedade segurancial; a instituição da
proteção patronal, garantia da organização racional do trabalho e, ao mesmo
tempo, da paz social (CASTEL, 1998 p. 319).

Na Inglaterra, por volta do final do reinado de Elizabeth, os seus parlamentares da


época perceberam a necessidade de melhorar a política que estava relacionada ao auxílio
aos mais pobres do país.

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 17


No ano de 1597 foi implantada uma nova lei que ordenava que as paróquias no-
meassem o que chamaram de “inspetores” dos pobres. Estes tinham como função encon-
trar trabalho para aqueles que estivessem sem ocupação. Os inspetores dos pobres tinham
ainda como tarefa a construção de “paróquias-abrigo”, que deveriam contar com hospitais
e asilos.
As “paróquias-abrigo” eram utilizadas para acolher aqueles que não possuíam
condições de garantir a sua própria subsistência. Esse projeto era financiado com fundos
públicos, dando origem ao que chamamos, na história da Inglaterra, de “bem-estar social”
inglês.
No ano de 1601, todas as medidas, gradativamente sancionadas nesse sentido,
foram organizadas em um estatuto que se chamou de Primeira Lei dos Pobres (Poor Law),
mantida, basicamente, inalterada até 1834.
A Lei dos Pobres de 1601 foi estimulada pelas circunstâncias econômicas e
pelo aumento populacional da Inglaterra em relação a épocas anteriores, que
levou à expansão da pobreza. O homem pobre, destituído de seus direitos,
não tinha trabalho, alimentação e moradia, nem condições para alimentar
seus filhos, constituindo-se desta forma em um problema de ordem social
(DORIGON, 2006, p. 119).

Conforme explanação de Dorigon (2006), a Lei dos Pobres era financiada pelo
imposto fundiário, estabelecendo, para quem não tinha meios de subsistência, o direito à
assistência social. Acontecia a partir dos seguintes princípios: a) Obrigação de socorro aos
necessitados; b) Assistência pelo trabalho; c) Taxa cobrada para o socorro dos pobres (poor
tax); d) Responsabilidade das paróquias pela assistência de socorros e de trabalho.
A Lei dos Pobres foi pensada a partir do aumento da população carente no país,
oriunda da expansão do sistema capitalista, o que afetou a estabilidade da ordem econô-
mica. Claro que a lei não foi pensada somente por pura preocupação da classe dominante
com os mais necessitados e afetados pelo sistema, por trás dessa ideia encontrava-se a
intenção da classe burguesa controlar esse segmento da população.

REFLITA
A história revela que mesmo o homem sendo um ser de relações e em constante evolu-
ção, ele foi capaz de gerar entre a sua própria espécie segregação e divisão, instaurando
a “verdade” de que uns “abençoados” são melhores e “superiores” que outros coitados.
Fonte: a autora.

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 18


O progresso econômico e social da humanidade foi capaz de produzir também a
alienação, a exploração de uns poucos sobre muitos, bem como a divisão desigual de bens
e lucros, gerando, assim, as desigualdades de problemáticas sociais. Essas questões foram
sendo cada vez mais agravadas com o passar do tempo, crescia na mesma proporção que
a industrialização e o aumento do lucro.
O avanço veio às custas daqueles que eram obrigados a vender a sua força de tra-
balho, já que esta era a única coisa que tinha a oferecer em troca do mínimo para garantir
a sua subsistência. Feliz aquele que ainda possuía este recurso, e não dependia apenas
da caridade alheia.
O operário se torna mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais
aumenta a produção em poderio e em extensão. O operário converte-se em
mercadoria cada vez mais barata à medida que cria mais mercadorias. O
valor crescente do mundo das coisas determina a proporção direta da desva-
lorização do mundo dos homens. O trabalho produz não só mercadorias; se
produz a si mesmo e ao operário como mercadorias; e o faz na proporção em
produzir as mercadorias em geral (MARX, 2004, p. 68).

Marx, em sua obra O Capital (1985), já apontava a exploração do patrão sobre o


empregado, apontava a retirada da mais valia, com vistas à acumulação do capital; no qual,
gradativamente, poucos vão acumulando muito enquanto muitos, cada dia mais, experien-
ciam a dor da exploração, miséria e desigualdade.
A relação de exploração do trabalho vivo pelo capital é uma relação social de
produção historicamente determinada, na qual os trabalhadores são despos-
suídos dos meios de produção e obrigados a vender sua força de trabalho.
É no mercado que são encontrados os capitalistas dispostos a comprar tal
mercadoria para valorizá-la no processo de produção e realizá-las continua-
mente como capital.
Quando o capitalista gasta a soma inicial de dinheiro com o objetivo de au-
tovalorizar o dinheiro acumulado primitivamente, ele acaba por transformar
os meios de produção e a capacidade de trabalho em capital. As merca-
dorias compradas pelo capitalista não são capital por natureza ou por suas
características físicas próprias; elas se tornam capital em relações históricas
e sociais determinadas (CASTELO BRANCO, 2006, p. 144).

Logo, podemos dizer que as relações que se estabelecem assim, dessa forma
desigual e tão conflituosa entre o capital e o trabalho, acabam por configurar a questão
social em que o sistema econômico se encontra.
A partir do exposto anteriormente, vamos entender uma das fontes das desigualda-
des presentes há tempos na sociedade, em que o valor de troca vai dando lugar ao valor de
uso. Entendamos um pouco mais o que significa o termo mais valia, de acordo com Karl
Marx (2003, p. 227, grifos do autor):
A teoria marxiana da mais-valia consiste não só em perceber o trabalho como
fonte geradora do valor, mas, principalmente, em perceber que existe uma
dupla natureza do trabalho – concreto e abstrato – e uma diferença de mag-

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 19


nitude do valor de troca e do valor de uso da força de trabalho, o que significa
dizer que o trabalhador não recebe o valor integral da jornada de trabalho,
mas tão somente uma fração da mesma. “O possuidor do dinheiro pagou o
valor diário da força de trabalho; pertence-lhe, portanto, o uso dela durante o
dia, o trabalho de uma jornada inteira. A manutenção quotidiana da força de
trabalho custa apenas meia jornada, e o valor que sua utilização cria em um
dia é o dobro do próprio valor-de-troca”.

Além da exploração do homem pelo homem, por conta do sistema, gerando os


problemas sociais, vemos também nessa relação a alienação do homem.
É importante ter em mente que não se pode intervir junto aos problemas que não se
conhece. Para tanto, é preciso conhecer a história, dialogar com os pensadores e teóricos
e, assim, formular os conceitos e ideias acerca da questão social. Esse momento sinaliza o
início do processo de desalienação.
Já parou para pensar nisto? Então vamos continuar nossa empreitada. Retomar
nosso estudo.
Os trabalhadores, percebendo todo esse movimento exploratório ligado à acumu-
lação desigual de capital, resolvem se organizar em movimentos reivindicatórios e movi-
mentos de luta, buscando melhores condições de vida e trabalho, sem contar na solução
dos problemas sociais que se alastrava nas diversas realidades, tanto do campo quanto da
cidade.

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 20


3 A FUNDAÇÃO DAS PRIMEIRAS ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL

3.1 Serviço Social na Europa


Vou apresentar para você, neste tópico, um pouco sobre a criação das primeiras
escolas de Serviço Social no Mundo, assim você poderá conhecer mais sobre a profissão
que escolheu, pois conhecendo sobre o passado conseguimos também entender e dar
significado para o presente.
Ao estudar sobre o surgimento do Serviço Social na Europa e Estados Unidos,
irá compreender que essas Escolas trazem consigo uma história de lutas, reivindicações,
questionamentos, mas também muitas conquistas.
Assim exposto, entenda um pouco mais de como surgiu a nossa profissão, por que
surgiu e para que surgiu.
Em primeiro lugar é quando ela se torna essencialmente necessária e as
práticas profissionais se gestam no labor cotidiano. Antes de serem instituí-
das, as profissões se legitimam pela sua eficácia social e/ou política. É claro
que as questões humanísticas contam como declaração de boas intenções,
principalmente para aqueles que serão os pioneiros da profissão. O Serviço
Social também começou assim (ESTEVÃO, 2006, p. 14-15).

Assim entendido, no ano de 1899 é fundada, em Amsterdã, a primeira escola de


Serviço Social no mundo, em que a profissão vai assumindo um caráter científico, tendo
um primeiro suporte teórico.
Em 1899, na cidade de Amsterdã, funda-se a primeira escola de Serviço
Social do mundo e inicia-se também o processo de secularização da profis-
são, isto é, para o Serviço Social, as explicações religiosas do mundo são
substituídas por explicações científicas. O nascimento da Sociologia vai dar o
suporte teórico para o Serviço Social (ESTEVÃO, 2006, p. 14-15).

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 21


O Serviço Social na Europa possui forte influência da Igreja Católica e Protestante,
mas também foi fortemente impulsionado pelos movimentos dos trabalhadores, dado ao
contexto social e econômico pelo qual passava, sobretudo os ingleses que sofriam ampla-
mente os impactos trazidos pela Revolução Industrial.
Uma época de profundas crises econômicas, com a pobreza e a miséria se
alastrando, consequências do rápido crescimento urbano e industrial. A so-
ciologia tentou dar conta de tudo isto e oferecer uma explicação não religiosa
ao que acontecia na sociedade e, ao mesmo tempo, havia na sociedade
americana várias experiências de filantropia e caridade, tendendo a procurar
um espaço dentro das novas profissões emergentes (ESTEVÃO, 2006, p.
16-17).

Desta maneira, além da influência religiosa, é possível constatar que a profissão


surge na Inglaterra em meio ao cenário de industrialização e modernização do continente
europeu, devido às vastas reservas de carvão mineral, capaz de produzir energia suficiente
para colocar em movimento as locomotivas e máquinas à vapor.
A relação do Serviço Social e os impactos da Revolução Industrial consistem em
compreender que esta última provocou uma mudança no cenário social inglês. Em posse
de muita matéria prima, a Inglaterra também era possuidora de ampla mão de obra, e
muitos saíam do campo em busca de emprego nas cidades.
A burguesia, detentora do capital e matéria prima, também contratava os funcioná-
rios, com a modernização dos equipamentos e modo de produção a mão de obra humana
acaba, cada vez mais, sendo substituída por máquinas e processos mecânicos.
A Revolução Industrial, então, propaga-se pela Europa Ocidental e logo chega aos
Estados Unidos, dando visibilidade a um novo “modelo de produção”, através de grandes
fábricas e indústrias, acarretando um capitalismo industrial. Mesmo com toda a moderni-
zação dos processos, na época ainda era necessário mão de obra para a realização das
operações.
Considerando as pessoas que já viviam nas cidades, somado às famílias que mi-
graram do campo em busca de uma vida melhor, começa-se a ter um grande contingente de
pessoas vivendo ao redor das indústrias, sendo designadas “proletariados” (classe social
operária), ou seja, aquele que vende sua força de trabalho ao empresário capitalista (classe
dominante), sendo o proletário explorado. Até mesmo o Estado da época era subordinado à
burguesia; competia ao Estado da época a proteção do capital e aqueles que a possuíam.
Dada a sede pelo lucro, as condições e ambientes de trabalho não eram nada
salubres, as condições precárias de trabalho eram seguidas de baixa remuneração, longas
jornadas de trabalho. Devemos considerar ainda o alto índice de trabalho infantil e o traba-

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 22


lho feminino, sendo que mulheres e crianças possuíam um salário ainda menor. Um cenário
de exploração grandioso, podendo citar que os trabalhadores ainda estavam sujeitos a
castigos físicos praticados por seus patrões.
Não existia nenhum direito que protegesse o trabalhador, nenhuma lei trabalhista
que lhe garantisse férias, 13º salário, auxílio-doença etc. Diante deste cenário os traba-
lhadores começam a se organizar, buscando, através de manifestações, reivindicar seus
direitos e melhores condições de trabalho.
Como forma de defender seus interesses, a burguesia encontra novas maneiras de
continuar produzindo e obtendo lucro às custas da exploração do proletariado, e a opressão
só aumenta.
Tal aumento da opressão e exploração provoca também um aumento da miséria
do povo, repercutindo em toda as áreas sociais, pois sem emprego ou subemprego as
pessoas não tinham como prover as condições básicas de sobrevivência: cuidado com
saúde, moradia, alimentação, habitação, educação, entre outros.
Dado o cenário exposto, a burguesia novamente busca alternativas para contro-
lar as manifestações, inquietações e crescente pobreza do povo. É nesse contexto que
aparecem as primeiras práticas assistencialistas, porém estas ainda visavam conservar
as ordens capitalistas, pois o pobre deveria aceitar a ajuda (benesse), sem questionar.
Nesse movimento, ainda se tem um crescente número de pobres, os membros da classe
dominante, a Igreja Católica e as autoridades locais, se organizaram com o objetivo de
transformar a assistência pública.
Surge, então, a convocação para os chamados reformistas sociais. Estes tinham
como tarefa realizar um inquérito da vida pessoal e também familiar do pobre atendido.
O poder público passa a controlar a vida deste necessitado, estabelecendo, assim, uma
relação de dependência do necessitado para o com Estado.
Mesmo tal medida não foi suficiente para conter as manifestações e reivindicações
da população. Neste momento, então, burguesia, Igreja e Estado se unem e dão origem, em
1869, à Sociedade de Organização da Caridade, já abordadas anteriormente, lembra?
Certo, agora que você relembrou as atribuições dessa Sociedade, lembrou também
que competia a ela a reforma e regulamentação da prática da assistência.
É neste cenário que surgem os (as) primeiros(as) assistentes sociais, que
executavam as práticas relacionadas à assistência social. A profissionalização acontecia
por meio da prestação de serviços, designado como Serviço Social, denominação essa que
fora utilizada pelos Estados Unidos, em 1904.

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 23


O Serviço Social fora caracterizado, em sua origem, por várias determinações e
valores, através de práticas repressoras e controladoras. Assim, podemos entender que
o Serviço Social resulta da emergência da questão social do conjunto de expressões da
desigualdade social, econômica e/ou cultural.
Em seguida foi criado em Londres, em 1884, o Centro de Ação Social, com ativida-
des relacionadas à higiene e saúde para com os pobres e proletários.
A Sociedade de Organização da Caridade buscava novas estratégias de atuação,
organizava e efetivava a realização de visitas domiciliares que possuíam o objetivo de
educar e ensinar ao pobre regras de higiene e organização da vida, visto que a pobreza era
concebida como uma questão de caráter. A finalidade implícita das visitas domiciliares era
adequar o pobre à sociedade, incutindo o pensamento capitalista, bem como não oferecer
resistência à burguesia.
Essa prática social continuou a ser realizada por algum tempo, apresentando o
mesmo rigor para controlar e corrigir os desfavorecidos, que passaram a não considerar
tanto a assistência pública e começam a se ajudar mutuamente. Dão ainda continuidade às
reclamações quanto ao modo como eram tratados, uma vez que não eram atendidos em
suas reivindicações pelo setor público e muito menos pela burguesia. Por longo período se
fizeram presentes a exploração, a miséria, o poder capitalista e as práticas assistenciais,
objetivando tão somente o controle social.
Após a Conferência Nacional de Caridade e Correção, em que Mary Richmond
apresentou sua ideia de assistência social (que já citei anteriormente), foi criada na Ingla-
terra, no ano de 1908, a primeira escola de Serviço Social. Sendo seguida de várias outras
escolas, sempre com o apoio e influência da Igreja Católica.

Quadro 1 - Surgimento das Escola de Serviço Social na Europa – XIX / XX

PAÍS EUROPEU ANO PAÍS EUROPEU ANO


Inglaterra 1886 Israel 1934
Alemanha 1899 Irlanda 1934
França 1907 Portugal 1935
Suíça 1910 Dinamarca 1937
Áustria 1912 Grécia 1945
Finlândia 1918 Itália 1945
Noruega 1920 Turquia 1961
Bélgica 1920 Iugoslávia 1953
Espanha 1932 Islândia 1981
Fonte: adaptado de Brauns e Kramer (1986).

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 24


Ao passar do tempo as ações sociais acabam se ligando cada vez mais à política,
mas ainda objetivando controlar as manifestações e conflitos dos trabalhadores. Essa apro-
ximação também oculta o semblante da miséria, atendendo àqueles que nela residiam. Nos
anos seguintes do fim da guerra, a relação com a Igreja Católica fora trocada para o Estado,
remetendo a prática social para outro contorno.

3.2 Serviço Social nos Estados Unidos


Considere o período pós Primeira Guerra Mundial, somado ao surgimento do
capitalismo monopolista, que evidencia seu lado excludente, provocando um aumento
exponencial da pobreza.
Retomando seu conhecimento em história, lembre-se que os Estados Unidos
saíram vencedores desta Primeira Guerra Mundial, tornando-se o centro do capitalismo.
Neste cenário de pós-guerra desponta também o Serviço Social. A profissão nasce com um
propósito bastante claro, nesta época tinha-se que a pessoa era passível de ser controlada,
adequada, reformada, para que se encaixasse na sociedade.
Mary Richmond foi uma grande impulsionadora do Serviço Social Norte Americano
e, posteriormente, em muitos outros países, como, por exemplo, europeus, que você viu
anteriormente.
Nesse contexto norte americano que temos despontando no cenário mundial uma
assistente social chamada Mary Richmond, que logo no início do século XX “teve a sen-
sibilidade de começar a pensar e a escrever a respeito do que é o Serviço Social e de
como ele deveria ser exercido” (ESTEVÃO, 2006, p. 18). Foi Mary Richmond a primeira
a sistematizar a diferença entre fazer caridade, fazer filantropia e o que era fazer Serviço
Social, ressaltando que este último se refere à profissão propriamente dita.
Mary Richmond traz no início do século XX a discussão de que o Serviço Social
exige uma prática competente e que “dar ajuda material para as pessoas pobres não era
Serviço Social, era apenas um osso [fazia parte] do ofício, mas não o próprio ofício” (ES-
TEVÃO, 2006, p. 18). Ela traz, pela primeira vez, a ideia de que era necessário olhar além
da necessidade imediata da pessoa e, para isso, seria necessário compreender a pessoa
na sua totalidade, o meio no qual está inserida, observar o contexto, propondo ações que
fossem além do imediatismo.
O grande mérito de Mary Richmond foi dar um estatuto de seriedade à profissão,
mostrar que era possível fazer mais do que caridade, ser rigoroso em termos de procedi-
mento, descobrir técnicas que possibilitassem o exercício profissional (ESTEVÃO, 2006).

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 25


Contudo, ainda não é nesse momento que a profissão rompe com a religião e práticas
assistencialistas, mas esse foi o início da consolidação da profissão.
No ano de 1897, precisamente na Conferência Nacional de Caridade e Correção,
Mary Richmond apresentou sua ideia de assistência social, propondo, com isso, a elabora-
ção e/ou criação de uma escola voltada à aprendizagem de Filantropia Aplicada. Enfatizou
a relação existente entre as pessoas e o mundo, considerando o sujeito enquanto pessoa
quando interage com o meio social do qual faz parte. Foi com a escola de Filantropia
Aplicada que tiveram início a institucionalização e a profissionalização do Serviço Social – o
interessado trabalhava como agente reintegrador e transformador de caráter.
Em 1917, com a obra Diagnóstico Social, de autoria da própria Mary Richmond, o
Serviço Social apresentou um considerável avanço enquanto profissão, levando em conta
o entendimento do sujeito, enfatizando o fortalecimento do ego para a obtenção do êxito no
tangível à solução de problemas internos e externos.
Ao escrever o livro Caso Social Individual, no ano de 1917, profissionais do mundo
todo começam a debater sobre o que seria o Serviço Social e quais seriam as ações reali-
zadas pelo profissional. Esse livro foi escrito em contexto mundial específico, pois
[...] após o susto da revolução socialista soviética , quando o capitalismo
assume novas feições, e que, nesta época, já várias instituições de filantropia
remuneravam seus profissionais; assim, trabalhar como assistente social,
pouco a pouco, perdia seu caráter de voluntariado para se constituir em mais
uma profissão dentro da divisão social do trabalho, na sociedade industrial
capitalista e desenvolvida. Mary Richmond foi pioneira do Serviço Social
nestas bandas (ESTEVÃO, 2006, p. 22).

O Serviço Social de Casos correspondia à prática de lidar com cada pessoa


individualmente, assim, o profissional teria melhor resultado, pois se olhar cada pessoa
no seu contexto individual, isoladamente, o profissional conseguiria resolver cada “caso”,
aqui entendido como demanda. As demandas são situações ou problemas que o usuário
apresenta quando recorre ao assistente social.
Após um tempo, o Serviço Social assume um outro método de atuação, chamado
de Serviço Social de Grupo. Convido você a entender primeiramente o contexto histórico,
para que possa compreender melhor porque esse método aparece no Serviço Social.
O aprofundamento da crise capitalista tornou evidente que resolver ‘casos’
de maneira isolada, um por um, já não era suficiente para atender as grandes
demandas. Ao mesmo tempo, a manipulação de massas realizada por fascis-
tas e nazistas, no bojo desta crise, despertou a atenção da psicologia social
para o desenvolvimento de teorias e experimentação sobre o comportamento
dos grandes grupos.
Kurt Levin, um psicólogo alemão, judeu, exilado nos Estados Unidos, ela-
borou uma teoria a respeito dos grupos: os grupos têm uma certa dinâmica
que, sendo trabalhada, poderia oferecer resultados práticos no tratamento

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 26


psicológico. A coisa funcionou e esta prática de psicologia de grupos passou
a ser utilizada em várias áreas de atividade: acampamento de jovens, Centros
Comunitários... etc. (ESTEVÃO, 2006, p. 23).

A partir do cenário apresentado é que, em meados de 1934, o Serviço Social de


Grupo também começa a ser utilizado nas práticas profissionais. Sendo possível ao As-
sistente Social, dentro das instituições que atua, organizar grupos por tipo de situação
apresentada.
grupo de jovens que [queriam] fazer recreação, senhoras que [queriam]
ajudar os “favelados” de uma região, ou então ser solicitada por algum grupo
local para dar orientação técnica necessária ao bom funcionamento destes
grupos. O problema a ser tratado pelo Assistente Social tanto podia ser do
grupo como exterior a ele (ESTEVÃO, 2006, p. 23).

Considerando os métodos e técnicas já adotados – Serviço Social de Casos e


Grupos –, além da observação do rápido crescimento urbano, o qual não possuía nenhum
planejamento, levando cada vez mais pessoas a uma situação de vulnerabilidade social,
o Serviço Social é levado a um terceiro método de atuação profissional: Serviço Social de
Comunidade.
A concepção de trabalhos com grupos se desenvolveu para ação intergrupos,
isto é: há certo tipo de problemática social que necessita dessa necessidade
de atuação de vários grupos, que, por terem objetivos comuns, devem se
interligar. É a partir dessa necessidade que começa a se gestar a noção de
Serviço Social de Comunidade (ESTEVÃO, 2006, p. 25).

E você faz ideia de como isso se deu em meio à profissão na década de 1930/1940?
Vamos lá, vou te contar brevemente como esse método foi utilizado:
De início trata-se de um trabalho de organização da comunidade enten-
dido como a arte e o processo de desenvolver os recursos potenciais e
os talentos de grupos de indivíduos e dos indivíduos que compõem esses
grupos. Depois o Serviço Social de Comunidade vai ser concebido como
um processo de adaptação e ajuste de tipo interativo e associativo e mais
uma técnica para conseguir o equilíbrio entre os recursos e necessidades
(ESTEVÃO, 2006, p. 23).

Assim apresentado, vamos conhecer como se organizaram as primeiras escolas


de Serviço Social nos Estados Unidos. No ano de 1919 inaugura-se a chamada Escola de
Trabalho Social, na cidade de Nova York. Logo em seguida, em 1920, é criada a Associação
Nacional de Trabalho Social, nesta associação participavam apenas aqueles que já fossem
assistentes sociais.
Com o passar do tempo, novas escolas foram sendo criadas, com caminhos di-
ferentes. Ressalto que, por muito tempo, no Brasil a profissão seguiu métodos e técnicas
norte americana.

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 27


4 A HISTÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA

Toda profissão deve responder a uma necessidade social, dentro de um determi-


nado contexto, pois é apenas dentro da dinâmica social que encontraremos os nexos de
explicação das exigências que originam o surgimento do Serviço Social como profissão
reconhecida tácita e legalmente.
Com a implantação do capitalismo na América Latina, as relações sociais dentro de
cada país do continente sofreram alterações.
A partir desse momento você terá a oportunidade de conhecer “Os protagonistas
das cenas – Igreja Católica, os Estados da nossa América [...], os movimentos das lutas de
classes, o imperialismo e suas agências, o Serviço Social e seus profissionais – aparecem
com suas determinações peculiares” (NETTO, 1984 apud CASTRO, 2006, p. 179) que
fizeram e fazem parte da profissão de Serviço Social.
Vamos lá? Bons estudos!

4.1 Serviço Social no Chile


Em 1925, inaugura-se o Serviço Social na América Latina, com a criação da Escola
Dr. Alexandre Del Rio e, quatro anos depois, a criação da Escola Católica Elvira Matte de
Cruchaga.
Nos anos de 1920, apareceram novos grupos sociais na vida chilena, resultado
das mudanças na economia do país. O movimento operário, já se manifestara
desde o final do século XIX, conquistou um espaço proeminente na sociedade
chilena. E sob o estímulo dos movimentos operários e populares, influenciado

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 28


por ideias anarco-sindicalistas, tem lugar uma mudança no sistema político
orientada a democratização do país e à elevação de vida nos setores que
lutam por um campo de ação para o seu desenvolvimento autônomo e pela
institucionalização das suas demandas (CASTRO, 2006, p. 68).

A legalização de medidas sociais e a própria criação do Serviço Social profissional


pode ser considerado como uma resposta à disfuncionalidade que ameaçava a ordem
social, dada a ação conflituosa vivida pelo Chile; alto índice de desemprego, baixos sa-
lários, analfabetismo, de 60% a 70% referente à população rural, problemas de natureza
médico-social (predomínio de tuberculose, sífilis etc.).
A influência das ideias europeias na configuração do Serviço Social latino americano
explica-se, entre outros fatores, pelos nexos da subordinação estrutural e ideológica.
Se ocorreu à Europa como modelo para a legislação trabalhista, para a previdência
social ou para a assistência social, foi porque existia uma compatibilidade entre os projetos
sociais de classe, que as classes dominantes sustentavam e o conteúdo e a mensagem
das fórmulas de ação importadas.
No quadro político interno, os anos de 1920 marcaram-se pela instabilidade. Arturo
Alessandri, oriundo das camadas médias e enfrentando a oligarquia, encabeçou um movi-
mento reformista. No poder, porém, conciliou com os setores oligárquicos e as demandas
operárias incorporaram-se à institucionalidade do Estado.
Alessandri abandonou o cargo três meses antes do término do mandato; Emílio
Figueiroa o substituiu, governando por pouco tempo, cedendo lugar ao Coronel Ibanez, em
1927. Contudo o regime, acuado por uma onda de protestos pelas graves consequências
da crise de 1929, foi derrubado por um levante geral em 1931.
O único dado que pode servir como referencial do impacto da crise: a produção de
salitre, produto básico da exportação chilena foi, em 1920, de mais de três milhões de tone-
ladas. A presença da organização da classe operária na vida política do Chile, registra-se
na tentativa socialista de 1932, que foi reprimida pela ação dos militares e marcou a volta
de Alessandri ao poder, através das eleições.
A burguesia chilena é pioneira ao institucionalizar diversas reivindicações popula-
res e operárias no seio do direito burguês. Essa institucionalização gerou uma legislação
que obrigava, (não exclusivamente do Estado), a busca de respostas aos angustiantes
problemas sociais.
A fundação da Escola Del Rio, em 1925, por Alejandro Del Rio, tem sua origem
mais ligada à ação do Estado. A legislação, aprovada em 1924, exigia a adequação das
entidades estatais e paraestatais em virtude da aprovação de leis referentes à Previdência

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 29


Social, seguro obrigatório, habitação popular, direito de greve, sindicalização legal, proteção
do trabalho infantil e feminino.
Alejandro Del Rio, ao criar uma escola, queria formar profissionais destinados à
complementação do trabalho médico, devido às consequências da miséria e desgastes da
força de trabalho.
No que se refere à Escola fundada por Del Rio, ficam assinaladas as ligações com
a expansão do aparelho estatal. A sua fundação ocorre num período de intensas lutas de
classes, de combatividade operária, de sérias dificuldades fiscais e de crise no Estado para
a elaboração de um definido projeto das classes dominantes.
Se a primeira escola católica de serviço social foi fundada depois da primeira
escola laica, isto não quer dizer que só a partir da criação do seu centro de
formação a Igreja decidiu intervir nesse terreno. Sem dúvida, ela [a Igreja] ti-
nha precedência na assistência social, exercendo-a sob arraigada inspiração
religiosa, com seus agentes operando um apostolado que sustentava
inúmeras “obras de misericórdia” com os vultuosos recursos de que dispunha
(CASTRO, 2006, p. 72).

A Igreja Católica busca uma estratégia de continentalização do Serviço Social,


como parte do seu projeto de recuperação de hegemonia, bem como
Procurava colocar-se à frente do conjunto do movimento intelectual para
recuperar a função de condutora da moral da sociedade. Comprimida entre
o pragmatismo burguês e o ‘ateísmo’ socialista, a Igreja Católica redobrava a
sua ação nos terrenos mais diversos, renovando os seus intelectuais orgâni-
cos e dotando-os dos instrumentos de intervenção requeridos pelo momento
(CASTRO, 2006, p. 73).

Em 1929, criou-se a primeira a primeira escola Católica de Serviço Social, chamada


de Escola Elvira Matte de Cruchaga. Desde o primeiro momento cobriu o amplo espaço da
questão social, e essa escola concebe o Serviço Social como uma vocação.
A Igreja se via impedida – e aqui radica o novo caráter da assistência social
– a situar-se no interior da questão social emergente com a modernização
capitalista. Tratava-se de atender não mais às vítimas das pestes ou aos
semi-libertos de um ordem social ainda não depurada, mas de voltar os olhos
para os que suportavam as consequências de uma ordem que mercantiliza a
força de trabalho, redefine família, promove concentrações urbanas, incorpo-
ra ao salariato a mulher, origina novas doenças, etc. (CASTRO, 2006, p. 73).

A visitadora social, proveniente da classe burguesa, com educação familiar e virtu-


des cristãs, devia combinar a esses requisitos a ciência e a técnica para obter desempenho
eficaz.
Tanto a Escola Del Rio como a Elvira Matte de Cruchaga tiveram início com a in-
fluência europeia; a influência norte americana tornou-se evidente após a Segunda Guerra

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 30


Mundial. Os projetos de ação das escolas se colocavam como instrumentos funcionais à
defesa, ao resguardo e à forma de regime da classe vigente.
A Escola Elvira Matte de Cruchaga, articulando a formação profissional de Serviço
Social aos interesses da Igreja Católica, elegeu requisitos básicos para que se pudesse ser
aluna do curso:
[...] ter 21 anos completos e menos de 35. Apresentar atestado médico de
boa saúde; apresentar declaração de antecedentes probatórios de honora-
bilidade e recomendação paroquial; ter bom aproveitamento nos estudos
fundamentais de ciências humanas; apresentação de um texto manuscrito,
contendo um resumo de sua história pessoal (COSTA, 2006, p. 79).

O que pode ser confirmado na citação a seguir. Leia com bastante atenção qual era
o perfil da assistente social (antes chamada de visitadora social) que se buscava:
[...] a formação das visitadoras sociais católicas, que desenvolvam suas
atividades à base de uma verdadeira caridade cristã; visitadoras que não só
cuidem do aspecto material dos seus assistidos, mas que se dediquem com
amor a tratar também de suas almas [...]. Baseando-se nestes princípios, a
escola concebe o Serviço Social mais que uma simples profissão – concebe-
-a como vocação, para qual são tão necessários os conhecimentos técnicos
como o amor. Portanto o fim colimado pela Escola é conseguir formas visita-
doras que, onde forem, levem a paz, transmitam alegria, ofereçam segurança
e confiança, abrindo o seu coração a todos que necessitam de ajuda e de
orientação. Tais visitadoras hão de ser as mais alegres, tolerantes e com-
preensivas, as mais inteligentes e as mais amáveis de todas as mulheres
que se entreguem a este trabalho. Hão de ser sadias de alma e corpo, já
que deverão comunicar esta saúde e esta força aos que nunca as tiveram
ou aos que delas se vêem privados pelas vicissitudes da vida (ESCUELA DE
SERVIÇO SOCIAL ELVIRA MATTE DE CRUCHAGA, s.d., p. 7-8).

Fica evidente a questão religiosa, bem como a busca de um elitismo, que só abrangia
as damas da sociedade, pois ligado aos requisitos havia taxas de matrículas. Ressalta-se,
contudo, mesmo com forte viés religioso, a Escola apresentava uma real aproximação da
ciência e da técnica, uma preocupação metodológica que foi dando contornos a essa nova
profissão.
A Escola Elvira Matte de Cruchaga representou não só uma possibilidade
diversificada de ação profissional, mas também um centro de educação
especializado que definiu a sua fisionomia a partir do Serviço Social católico
– com decisiva influência europeia, é certo – e onde membros ilustres da
burguesia puderam desenvolver as suas mais arraigadas convicções doutri-
nárias (CASTRO, 2006, p. 76).

O programa de formação prévia tem três anos de duração, sendo dividido em duas
partes: teórica e prática. A parte teórica é composta pelos estudos sobre: religião, psico-
logia, pedagogia, sociologia, economia social, assistência social, direito, instrução cívica,
anatomia, fisiologia, higiene privada e pública e ética profissional (COSTA, 2006).
Dentre os programas que tratavam das questões práticas, tinha-se o

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 31


tratamento de caso social individual, encaminhamentos jurídicos, técnicas de
escritório e estatísticas, contabilidade, primeiros socorros, cuidados domici-
liares à doentes, puericultura, nutricionismo, trabalhos manuais, exercícios
de oratória. Os cursos práticos incluíam nutricionismo, corte e costura e
puericultura (COSTA, 2006, p. 80).

A ênfase na questão de saúde relacionava-se aos problemas derivados das pés-


simas condições de salubridade resultantes do reordenamento capitalista da economia e
da sociedade, bem como antecedentes que aproximavam o Serviço Social e Enfermagem
– com influência da Europa.
Alguns anos após a sua fundação, a Escola Elvira Matte de Cruchaga organizou
as “Semanas de Estudos”, orientadas para o aperfeiçoamento técnico e espiritual das visi-
tadoras sociais já formadas. Com esses eventos regulares, a Escola mantinha um contato
permanente com suas ex-alunas, conhecia o seu desempenho profissional, assimilava as
experiências, reforçava o idealismo e o espírito religioso de suas egressas.
A Escola Elvira Matte de Cruchaga recebeu da União Católica Internacional de
Serviço Social (UCISS), com sede em Bruxelas, a tarefa de fomentar o Serviço Social Ca-
tólico na América Latina, o que ela acatou, passando a enviar aos países vizinhos folhetos
explicativos sobre a profissão, visitas às autoridades e contato nas escolas superiores.
Quanto ao objetivo da UCISS, tem-se que a União deveria
[...] propiciar a difusão do Serviço Social católico, e relacionar as diferentes
obras e pessoas que nele militam através de publicações, conferências e
congressos. A UCISS é o centro de orientações e direcionamento das expe-
riências que se realizam em distintos países e hão de servir como estímulo
e guia para o futuro desenvolvimento do Serviço Social católico (CASTRO,
2006, p. 94).

A Escola de Serviço Social desenvolveu trabalhos de estudo sistemático da reali-


dade social, orientando à “melhoria da situação das classes necessitadas”, como também
a preocupação em colaborar com a legislação do país. Surge aqui um importante elemento
de diferenciação em face das formas anteriores de assistência social. A Escola Elvira Matte
de Cruchaga, reconhecendo o papel mediador do Estado para normatizar as relações entre
o capital e o trabalho, reordenou a intervenção profissional, partindo da compreensão da
função das visitadoras sociais que, por sua proximidade e conhecimento dos problemas
sociais, teriam condições para sugerir leis e regulamentos.
Foi uma época em que a Igreja se reservava exclusivamente para os auxílios das
camadas sociais dominantes que desejam atuar junto às áreas de assistência social. Há,
na perspectiva desta Escola, um esforço para conquistar uma funcionalidade no interior
das relações entre as classes, propondo soluções aos problemas deste angulo do Estado.

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 32


Em 1937 surge a Escola de Montevidéu (Uruguai) a partir dos trabalhos realizados
e visitas de profissionais da Escola Elvira Matte de Cruchaga (Chile). Logo em seguida, no
ano de 1939, surge, no Paraguai, a Escola Polivalente de Visitadoras de Higiene; em 1940,
a Escola Católica de Serviço Social, em Buenos Aires (Argentina), após na Colômbia e
Venezuela, evidenciado, assim, a importância histórica do Chile na construção do Serviço
Social na América Latina.

4.2 Serviço Social no Peru


A década de 1920 trouxe mudanças para a história do Peru. Léquia governou o
país nos anos de 1919 a 1930, quando ocorria a subordinação ao capital norte americano,
exportação das riquezas minerais para os Estados Unidos.
Em 1929, com a crise internacional, devido à quebra da Bolsa de Valores de Nova
York, a economia peruana foi afetada, pois tinha boa parte dos recursos públicos depen-
dentes de financiamento externo. O preço das matérias primas caiu e reduziu-se a expor-
tação, ocasionando crise de desemprego. Nesse período ocorreram lutas e movimentos de
classes e populares.
● 1931 - Eleições: não trouxeram estabilidade. Houve um atentado contra o então
presidente, Sanchez Cerro, sendo responsável a Aliança Popular Revolucioná-
ria Americana (APRA), que alimentou e patrocinou várias rebeliões que foram
violentamente reprimidas pelas forças armadas.
● 1933 – Sanchez Cerro é assassinado e a Assembleia entrega o poder ao Gene-
ral Oscar R. Benavides.
● 1936 – Benavides convocou eleições e foi impedido de participar sob a alega-
ção de ser um partido internacional, porém apoiou Luiz Antônio Eguigurem, que
ganhou as eleições. O governo pedido a anulação das eleições, sob a alegação
de que o presidente eleito se beneficiou dos votos de um partido internacional e
Benavides proclamou-se Presidente.

Benavides, na segunda etapa de seu governo, compreendeu que a repressão e a


violência não impediam a mobilização popular, então adotou medidas sociais em favor do
povo peruano, dentre elas:
● Regulamentação de pagamento de hora extra;
● Remuneração do feriado de primeiro de maio;
● Criação do Seguro Social Operário;
● Restaurantes populares;
● Criação de bairros populares em Lima (capital do Peru);
● Criação do Ministério de Saúde Pública, Trabalho e Previsão Social; Reorgani-
zação do Ministério da Educação.

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 33


Em 1937, criou-se a Lei 8530 – Fundação da Escola de Serviço Social do Peru
(ESSP), que surge vinculada ao Ministério da Saúde Pública, Trabalho e Previsão Social.
Francisca Benavides (Primeira Dama do país) interveio diretamente na formação da Escola
de Serviço Social do Peru (ESSP) , com a ajuda da ação Católica e da União Católica de
Serviço Social.
A ESSP deveria contribuir com parte do pessoal que trabalharia naquele ministério,
bem como com outras instituições que estavam surgindo em decorrência das medidas do
governo Benavides. Assim, o surgimento dessa escola está mais ligado à expansão e a
modernização estatal do que à demanda procedente do setor privado.
A Escola de Serviço Social do Peru foi precedida por outras tentativas de organi-
zação e formação de agentes sociais. Em 1931, o Instituto da Criança criou a Escola de
Visitadoras Sociais de Higiene Infantil e Enfermeira de Puericultura, ampliando a interven-
ção do Estado no campo dos cuidados à infância. Essa escola teve curta duração devido
a interesses políticos, pois fora fundada por iniciativas do governo Léquia, quando este já
estava fora do poder.
Houve, então, com a criação da Escola de Serviço Social do Peru, a rivalidade
desta com a Escola de Visitadoras Sociais, devido ao restrito mercado de trabalho, influindo
para a mudança da titulação profissional da Escola de Serviço Social do Peru de visitadora
social para Assistente Social.
Esses conflitos evidenciavam a indefinição profissional entre visitadoras sociais,
enfermeiras, nutricionistas e assistentes sociais, na medida que existia uma constante
superposição de funções que cada profissão reclamada como sua.
A Escola de Serviço Social do Peru revelava a concretização de três projetos distin-
tos, porém ideologicamente unidos:
1. Igreja: como estratégia de continentalização de sua influência sobre o Serviço
Social na busca de resgatar sua função de condução da moral da sociedade,
dentro de uma estrutura capitalista vigente.
2. Estado: mediar conflitos oriundos da estrutura de produção ligada ao capitalista
dependente e subordinação externa, bem como estabelecer clima de estabilida-
de interna, assegurando a própria permanência política do governo.
3. Medicina: responder de forma mais eficiente aos problemas médico-sociais
decorrentes das condições de trabalho e moradia da população trabalhadora.

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 34


A Igreja, através da Ação Católica, contando com o apoio de Christine de Hemptine,
centrava-se no âmbito das requisições da Igreja e de sua ação social, no Peru e no con-
tinente. O médico Venceslau Molina defendia a formação de assistentes sociais, a fim de
promover a saúde por via da educação.
A formação acadêmica enfatizava a preparação doutrinária, tanto através de cursos
explicitamente ministrados para esse fim (religião, ética profissional, moral) quanto median-
te cadeira de cariz científico (que eram marcadas por uma orientação predominantemente
introdutória e formativa).
O primeiro plano de estudos estimulava também a preocupação para trabalhos
considerados propriamente femininos (como economia doméstica) que, em larga medida
constituíam o corpo instrumental da profissão. As alunas da Escola de Serviço Social do
Peru eram provenientes das classes altas da sociedade e as escolas as distanciavam do
ambiente universitário que, no Peru, tinha influência das ideias de esquerda e, assim, as
elites não suprimiam as suas reticências quanto a incorporação da mulher no trabalho.
Para as pioneiras da profissão, a opção pelo Serviço Social era – tal como no caso
chileno – algo ligado mais à vocação que à profissão. Outro aspecto material, como remu-
neração, não era questionado devido às primeiras assistentes sociais não dependerem do
salário para viver. Assim o próprio caráter de sub profissional não era questionado e a sua
autonomia ligada aos pareceres de outras profissões, como o da medicina e o direito.
Por fim, encerro esta unidade com as considerações de Iamamoto acerca desta
breve história do Serviço Social:
[...] não significa apenas uma revisão do passado, mas instiga indagações
sobre o presente. Em tempos de globalização, sob a hegemonia do capital
financeiro e do neoliberalismo na condução das políticas governamentais,
renascem, sob novos moldes, velhos recursos e ideológicos que tiveram
vigências no passado desenvolvimentista no trato da questão social
(IAMAMOTO, 2000 apud CASTRO, 2006, p. 179).

E agora eu te pergunto: valeu a experiência? Ampliou seu conhecimento? Espero


que sim, pois cada vez mais essa profissão nos encanta e apaixona pela história de luta em
prol do ser humano.

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 35


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Veja bem como a história da nossa profissão traz elementos significativos e muito
importantes para a sua formação. Sem saber de onde viemos enquanto profissão, sem
sabermos nossa história, dificilmente entenderemos as bandeiras e posicionamentos ado-
tados pela profissão atualmente. Temos muito orgulho de nossa história, não somente no
Brasil (como veremos adiante) mas em todo o mundo.
Iniciamos nossa unidade estudando sobre a origem do Serviço Social, as suas raízes
históricas e sua relação com a Igreja Católica, o processo de racionalização da assistência
e o entendimento enquanto necessidade humana e cidadã. Em breve você compreenderá
como a assistência foi considerada um direito previsto na Constituição Federal de 1988.
Você conseguiu compreender a origem da questão social e como ela se tornou o
objeto de intervenção profissional do Serviço Social, em que o homem é o foco da ação
profissional.
Em seguida você conheceu como a profissão foi se desenvolvendo em diferentes
países da Europa, Estados Unidos e América Latina (Chile e Peru), onde tivemos diferentes
personagens que contribuíram para a construção do Serviço Social. Uma construção co-
nectada com movimentos sociais e econômicos da sociedade, sempre voltada para o bem
comum.
A marca trazida pela profissão nos faz compreender que não existe justiça sem
luta, empenho e determinação. Muitas profissões fazem parte dessa história e essa marca
precisa estar presente na sua formação e durante toda a sua atuação profissional.
A seguir iremos conhecer um pouco sobre a história do Serviço Social Brasileiro e
você conseguirá compreender algumas questões presentes em nossa profissão até os dias
atuais e de onde vêm algumas imagens atreladas à profissão. Esse conhecimento fará com
que você consiga compreender que a sua escolha pelo Serviço Social foi acertada e que
você tem uma grande missão pela frente!
Até a próxima e bons estudos!

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 36


LEITURA COMPLEMENTAR

Quando o Serviço Social surgiu?


No Brasil, as primeiras escolas de Serviço Social surgiram no final da década de 1930,
quando se desencadeou no país o processo de industrialização e urbanização. Nas déca-
das de 1940 e 1950, houve um reconhecimento da importância da profissão, que foi regu-
lamentada em 1957 com a Lei nº 3252. Acompanhando as transformações da sociedade
brasileira, a profissão passou por mudanças e necessitou de uma nova regulamentação: a
lei 8662/93. Ainda em 1993, o Serviço Social instituiu um novo Código de Ética, expressan-
do o projeto profissional contemporâneo comprometido com a democracia e com o acesso
universal aos direitos sociais, civis e políticos. A prática profissional também é orientada
pelos princípios e direitos firmados na Constituição de 1988 e na legislação complementar
referente às políticas sociais e aos direitos da população. Não pode haver qualquer tipo de
discriminação no atendimento profissional.

Qual a cor do Serviço Social?


Não raras vezes, o CFESS é consultado acerca da “cor da profissão”, consulta advinda
com maior frequência de formandas/os, quando da organização das solenidades de for-
matura. Tradicionalmente a profissão é relacionada ao verde, cor que tem se tornado uma
referência para grande parte de profissionais e vem sendo “adotada” ao longo do tempo.
Não existe uma explicação exata para tal fato, nem tampouco como surgiu essa correlação;
porém um dos motivos mais usuais é que tenha relação com o fato de que a cor verde é
representativa das profissões da área de saúde. Como se sabe, o trabalho da/o assistente
social na área de saúde vem sendo requisitado institucionalmente há muitas décadas, hoje
consolidado, sendo uma das áreas de maior concentração de profissionais. Daí, a tendên-
cia de se vincular o Serviço Social à cor verde.  

Quais os símbolos do Serviço Social e o que eles significam?


Os símbolos têm referências e significados em determinados contextos sócio-históricos.
O que se convencionou para identificar o Serviço Social nos seus primórdios, a exemplo
da Estrela dos Reis Magos e a Balança com a Tocha, haja vista a aderência da profissão
a valores religiosos e perspectivas vinculadas a movimentos de bases confessionais, hoje
estão distantes das características e referências da profissão.
Atualmente, o Serviço Social existe como profissão em diversos países. Está presente em
todos os continentes e, em cada um desses locais, há símbolos ou identidades visuais
distintas, que, em geral, expressam a perspectiva da profissão em determinado momento
da história e são assumidos pela categoria a partir da identificação simbólica entre o fazer
profissional e o significado dos símbolos escolhidos.

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 37


Nessa perspectiva, o CFESS, a partir dos anos 1990 (na gestão 1996-1999), adotou uma
referência na obra de Arthur Bispo do Rosário – fundos murado –, que se encontra estam-
pada na capa do Código de Ética Profissional e, mais recentemente, está também grafada
no documento de identidade profissional do/a assistente social (DIP). A escolha não foi
aleatória, muito pelo contrário: esse homem, diagnosticado como paranóico-esquizofrêni-
co, viveu por mais de 40 anos internado em hospitais psiquiátricos, onde executou a maior
parte de sua obra artística, composta por mais de 1000 peças, e tornou-se uma das referên-
cias para as gerações de artistas brasileiros dos anos 1980 e 1990. Uma “homenagem do
CFESS a cada usuário/a das políticas e serviços sociais, em nome do respeito, qualidade
e responsabilidade nos termos dos princípios firmados por este Código que nossa ética
profissional pretende assegurar. A imagem de Bispo procura ainda reconhecer e enaltecer
os esforços dos vários segmentos sociais, políticos e profissionais que se mobilizam pelo
compromisso ético com a liberdade, equidade e democracia”, diz trecho da apresentação à
edição de 1996 do Código de Ética.

Identidade Visual do CFESS


Embora não haja, para o Conjunto CFESS-CRESS, símbolos que representem a profissão,
tanto os CRESS quanto o CFESS idealizaram suas identidades visuais (que aparecem no
site e em documentos oficiais) a partir de uma simbologia que represente a perspectiva
atual da profissão, identificada com os princípios e valores expressos no Código de Ética
Profissional.
A gestão do CFESS (2008-2011) adotou uma imagem colorida que expressa a diversidade,
a abertura para os novos desafios que se põem cotidianamente na sociedade e para a pro-
fissão; as alternativas, as escolhas, enfim, a liberdade!

Assistentes sociais: quem são?


São profissionais que cursaram graduação em Serviço Social (reconhecida pelo Ministério
da Educação) e possuem registro no Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) do
estado em que trabalham. A profissão é regida pela Lei Federal 8.662/1993, que estabelece
suas competências e atribuições.

O que fazem?
Analisam, elaboram, coordenam e executam planos, programas e projetos para viabilizar
os direitos da população e seu acesso às políticas sociais, como a saúde, a educação, a
previdência social, a habitação, a assistência social e a cultura. Analisam as condições de
vida da população e orientam as pessoas ou grupos sobre como ter informações, acessar
direitos e serviços para atender às suas necessidades sociais. Assistentes sociais elabo-
ram também laudos, pareceres e estudos sociais e realizam avaliações, analisando do-
cumentos e estudos técnicos e coletando dados e pesquisas. Além disso, trabalham no
planejamento, organização e administração dos programas e benefícios sociais fornecidos
pelo governo, bem como na assessoria de órgãos públicos, privados, organizações não
governamentais (ONG) e movimentos sociais. Assistentes sociais podem ainda trabalhar

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 38


como docentes nas faculdades e universidades que oferecem o curso de Serviço Social.
As competências e atribuições privativas dessa categoria profissional estão previstas nos
artigos 4º e 5º da Lei 8.662/1993.

Onde trabalham?
Em instituições públicas e privadas. Você pode encontrar assistentes sociais trabalhando
em ministérios, autarquias, prefeituras, governos estaduais, em empresas privadas, hospi-
tais, escolas, creches, unidades de saúde, centros de convivência, movimentos sociais em
defesa dos direitos da mulher, da classe trabalhadora, da pessoa idosa, de crianças e ado-
lescentes, de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), negros e negras,
de indígenas, em organizações não governamentais, em universidades públicas e privadas
e em institutos técnicos. E assistentes sociais podem trabalhar junto a outras categorias:
profissionais da psicologia, da educação, da enfermagem, do direito, dentre outras. Cabe
destacar que, durante o atendimento individual, assistentes sociais devem garantir sigilo à
pessoa que é atendida.

Trabalham somente com pessoas em situação de pobreza?


Não. Entretanto, como o Brasil é um país com alto índice de desigualdade social, assis-
tentes sociais no país, em sua maior parte, têm seu trabalho voltado para a população em
situação de pobreza ou com ausência de renda. Trabalham também com pessoas que têm
seus direitos violados ou que estão em situação de vulnerabilidade social.

Qual a diferença entre serviço social, assistente social, assistência social e assisten-
cialismo?
Serviço social: é a profissão de nível superior regulamentada pela Lei 8.662/1993.  
Assistente social: profissional com graduação em Serviço Social (em curso reconhecido
pelo MEC) e registro no Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) do estado em que
trabalha.
Assistência social: política pública prevista na Constituição Federal e direito de cidadãos e
cidadãs, assim como a saúde, a educação, a previdência social etc. É regulamentada pela
Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), constituindo-se como uma das áreas de traba-
lho de assistentes sociais.
Assistencialismo: forma de oferta de um serviço por meio de uma doação, favor, boa von-
tade ou interesse de alguém e não como um direito.

Atualmente, qual é o número de assistentes sociais no Brasil?


O Brasil tem hoje aproximadamente 190 mil profissionais com registro nos 27 Conselhos
Regionais de Serviço Social (CRESS), um em cada Estado.

Qual é o perfil da categoria de assistentes sociais?


De acordo com a pesquisa “Assistentes Sociais no Brasil”, realizada em 2005 pelo CFESS,
a profissão é composta majoritariamente por mulheres (pouco mais de 90%). O estudo

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 39


confirma a tendência de inserção do serviço social em instituições de natureza pública, com
quase 80% da categoria ativa trabalhando nessa esfera. A saúde, a assistência social e a
previdência social são as áreas que mais empregam profissionais.
[...]

Qual o é o piso salarial da categoria? E a média de salários?


A profissão não possui piso salarial, mas existe uma Tabela de Honorários Profissionais, que
determina o valor da hora técnica, fixando o valor mínimo a ser cobrado, e serve de parâ-
metro para prestação dos serviços profissionais que trabalham sem qualquer vínculo em-
pregatício, vínculo estatutário ou de natureza assemelhada.
De acordo com dados do Salariômetro (2018) da Fundação Instituto de Pesquisas Econô-
micas (Fipe), a média salarial da categoria é de R$2.528,00, embora existam projetos de
lei na Câmara dos Deputados reivindicando um piso em torno de R$4.000,00. A jornada
semanal de trabalho da assistente social deve ser de, no máximo, 30 horas, de acordo com
a Lei 8.662/1993.

Assistentes sociais: fontes de informação


Por ser tratar de profissionais que estudam a realidade social brasileira e trabalham, em sua
maioria, diretamente com a população, assistentes sociais podem ser importantes fontes
de informação, inclusive para a imprensa. Em situações de violação de direitos humanos,
retratadas diariamente pela mídia, é comum encontrarmos análises de profissionais do
direito, da psicologia e de outras categorias. Entretanto, o olhar para a questão social nem
sempre é levado em conta. Assistente sociais, em seu trabalho cotidiano, ficam face a face
com os problemas sociais. Por isso, podem analisar situações noticiadas pela imprensa
diariamente.

Por que se comemora o 15 de maio como o Dia do/a Assistente Social?


O dia é comemorado em virtude do Decreto 994/62 que regulamenta a profissão do/a as-
sistente social e cria os Conselhos Federal e Regionais ter sido editado em 15 de maio de
1962. Assim, embora a profissão tenha sido legalmente reconhecida por meio da Lei no.
3252 de 27 de agosto de 1957, somente em 15 de maio foram regulamentados e instituídos
os instrumentos normativos e de fiscalização, na época Conselho Federal e Regional de
Assistentes Sociais. Hoje com a edição da Lei 8662 de 08 de junho de 1993 - Conselho
Federal e Regionais de Serviço Social.

Fonte: CFESS (2020)

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 40


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: História do Serviço Social na América Latina
• Autor: Manuel Manrique Castro.
• Editora: Cortez Editora
• Sinopse: A obra registra o processo de constituição do Serviço
Social em nosso continente, analisando a sua emergência no Chi-
le, no Brasil e no Peru.

LIVRO 2
• Título: O que é Serviço Social
• Autor: Ana Maria R. Estevão
• Editora: Editora Brasiliense
• Sinopse: O livro trata dos tempos em que o Assistente Social
era reconhecido como “aquela moça boazinha ue o governo paga
ter dó dos pobres” até hoje, muita coisa mudou no conceito de
Serviço Social. Mudaram as pessoas: não mais “boas mocinhas”,
mas profissionais preparados. Mudaram os métodos: já não se
deve mais esperar sentado, mas sair às ruas. Ir direto nas regiões
carentes. O Serviço Social, hoje em vez de jogar “panos quentes”
nas feridas do capitalismo deve procurar melhores condições de
vida para a população.

FILME/VÍDEO
• Título: A casa dos espíritos
• Ano: 1993
• Sinopse: A história do Chile da década de 20 é contada através
da saga da família Trueba, que começa com a união de um ho-
mem simples (Jeremy Irons), que fica rico, com uma jovem (Meryl
Streep) de poderes paranormais. A saga se desenvolve até essa
família ser atingida pela revolução, que, no início da década de 70,
derrubou o presidente Salvador Allende.
• Link do vídeo: https://youtu.be/IMLSe0h1LOc

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 41


FILME/VÍDEO
Título: Pelle: O Conquistador
Ano: 1987
Sinopse: O filme “Pelle – O Conquistador” se passa no século
XIX, em que pai e filho saem da Suécia e vão para Dinamarca,
pois estão em busca de melhores condições de vida. Começam
a trabalhar em uma fazenda, na condição de escravos, sob con-
dições precárias. O pequeno Pelle, aprende a língua do país e
sonha em busca de uma vida melhor para ele e seu pai.
Comentário: O filme retrata muito bem as mudanças sociais do
século XIX, podendo ser percebidas claramente as transforma-
ções advindas com a Revolução Industrial. O pai de Pelle tem
uma atuação emocionante como incentivador, contudo se utiliza
da violência física como método de educar o pequeno Pelle. Para
ampliarmos nosso conhecimento, podemos utilizar vários recursos,
um deles são os filmes. Logo, para refletir mais sobre a Revolução
Industrial, você poderá assistir ao filme “Pelle: O Conquistador”.

UNIDADE I A Gênese do Serviço Social nos EUA, na Europa e na América Latina 42


UNIDADE II
O Serviço Social no Brasil
Professora Daniela Sikorski

Objetivos de Aprendizagem:
● Apresentar o Serviço Social no Brasil: determinantes sócio-históricos.
● Estabelecer a importância das construções clássicas tradicionais da profissão, do
período de sua emergência e legitimação.

Plano de Estudo:
● As primeiras Escolas de Serviço Social no Brasil.
● As protoformas do Serviço Social.
● O Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo e a necessidade de uma
formação técnica especializada para a prestação de assistência.
● Conservadorismo religioso e bases teórico-metodológicas

43
INTRODUÇÃO

Pronto(a) para mais uma etapa de estudos? Tenho certeza que sim, pois se você
chegou até aqui, demonstra a sua convicção e empenho em buscar por uma formação de
qualidade. Certamente você será um(a) profissional diferenciado(a) no mercado de trabalho.
Nesta unidade estudaremos as primeiras escolas de Serviço Social no Brasil,
compreendendo as relações e a influência da Igreja Católica, em seguida conheceremos
a atuação do Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo e a necessidade de uma
formação técnica especializada para a prestação de assistência.
Dando seguimento ao nosso estudo, será apresentado o tópico acerca do conser-
vadorismo religioso e bases teórico-metodológicas que permearam o Serviço Social, são
conhecimentos importantes que contribuem para a sua fundamentação profissional.
Conhecer as bases profissionais é fundamental para a consolidação da formação
profissional, entender as bases que auxiliarão sua atuação futuramente.
Dedique-se a este momento com bastante atenção e cuidado, tenha sempre em
mente o contexto histórico, compreendendo que a influência religiosa em nada diminui
a profissão, ao mesmo tempo em que essa compreensão permite que você entenda o
Serviço Social como vemos hoje: fruto de uma longa história.
Deixo uma dica para você: não basta apenas nos voltarmos para a natureza da pro-
fissão, é preciso verificar as influências teóricas e filosóficas que historicamente a marcaram
e que dão uma configuração própria ao seu objeto de intervenção. Muito embora, desde
seus primórdios, o Serviço Social tenha seus objetivos dirigidos a aspectos de mudança
social, nem sempre conseguiu dar uma unidade de pensamento a essa finalidade.
Na verdade, os objetivos de mudar o homem e o meio, de transformar o homem
e a sociedade, sofreram influências do momento histórico e em decorrência das correntes
teóricas e filosóficas imperantes. Poderíamos citar, por exemplo, duas grandes influências:
a do funcionalismo e seus derivados e a da dialética hegeliana e/ou materialista.
Por fim, é necessário compreender que uma unidade de estudo está diretamente
relacionada à outra, bem como cada disciplina. Sendo assim, a formação é integrada,
complementar e articulada.
Bons estudos!

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 44


1 AS PRIMEIRAS ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL

As obras de caridade realizadas pela Igreja e por pessoas leigas possuem uma vasta
tradição, remetendo aos primórdios do período colonial. A parca e a péssima infraestrutura
hospitalar e assistencial existentes até o período pós Império se justificam quase que unica-
mente à ação das ordens religiosas europeias que implementam e se disseminam pelo país.
A tentativa de intervenção na organização e controle da classe proletária
também não é atual. Os Carlistas, ou Scalabrianos, se efetivam no Brasil logo
depois das amplas ondas migratórias que surgem na Itália, para atuar conjun-
tamente com seus patriotas. Estes se constituíram no principal contingente
da Força de Trabalho que veio substituir o escravo nas vastas plantações
e, consequentemente, integrar o mercado de trabalho urbano (IAMAMOTO;
CARVALHO, 2007, p. 165).

A interação do clero no controle direto do operariado industrial remete à origem das


primeiras grandes unidades industriais, nos fins do século passado. É viva a presença de
religiosos no interior das referidas unidades, que na maioria das vezes possuíam capelas
próprias, onde, cotidianamente, os trabalhadores eram submetidos a participarem das
missas e outras liturgias.
Nas vilas operárias sua presença é constante. No âmbito sindical, com o apoio pa-
tronal, realizam iniciativas assistenciais e organizacionais, objetivando opor-se ao sindica-
lismo independente de inspiração anarco-sindicalista. Na imprensa operária autônoma são
comuns as críticas à posição patronal e divisionista desses movimentos, cujos aderentes e
mentores são ironicamente denominados de amarelos e urubus.

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 45


Entretanto, o que se poderia interpretar como protoformas do Serviço Social, como
é hoje considerado, tem seu fundamento nas obras e instituições que começam a originar-
se posteriormente, ao final da Primeira Guerra. Marca esse momento, no contexto externo,
a origem da primeira nação socialista e a efervescência do movimento popular operário em
todo o continente Europeu.
O Tratado de Versalhes busca estatuir a nível internacional uma política social iné-
dita mais compreensiva no tocante à classe operária. É ainda o momento em que surgem
e se intensificam, na Europa, as escolas de Serviço Social. No âmbito interno, como visto,
os intensos movimentos operários de 1917 a 1921 tornaram patente para a sociedade a
existência da “questão social” e da necessidade em buscar soluções para resolvê-la, ou
então, reduzi-la. As instituições assistenciais que surgem a partir de então, por exemplo,
a Associação das Senhoras Brasileiras (1920), no Rio de Janeiro, e a Liga das Senhoras
Católicas (1923), em São Paulo, possuem uma diferenciação em função das atividades
tradicionais voltadas à caridade.
Desde os primórdios há obras que envolvem, de maneira mais direta e vasta, os
nomes das famílias e compõem a grande burguesia paulista e carioca e, às vezes, mili-
tância de seus componentes femininos. Possuem um suporte de recursos e potencial de
contratos em termos de Estado que lhes permite o planejamento de obras assistenciais de
maior envergadura e eficiência técnica.
A origem dessas instituições ocorre dentro da primeira etapa do movimento de “rea-
ção católica”, da apresentação do pensamento social da Igreja e da construção das bases
organizacionais e doutrinárias do apostolado laico. Objetiva não o auxílio aos indigentes,
mas, já dentro de uma perspectiva embrionária de assistência preventiva, de apostolado
social, atender e atenuar determinadas consequências do desenvolvimento capitalista,
especificamente no que se refere aos menores e mulheres. É nessa fase ainda que a
inserção da mulher à força de trabalho urbana deixa de ser privilégio das famílias operárias,
acometendo também as parcelas da pequena burguesia.

REFLITA
A criação, em 1922, da Confederação Católica objetiva a centralização política e dinâ-
mica dos primeiros embriões do apostolado laico. As considerações dessas instituições
e obras e de sua centralização, a partir da cúpula da hierarquia, não podem ser subes-
timadas à compreensão da gênese do Serviço Social no Brasil.
Fonte: a autora.

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 46


Com a ação efetiva extremamente restrita, e conteúdo assistencial e paternalista,
será mediante seu lento desenvolvimento que se criarão as bases materiais e organiza-
cionais, e especificamente humanas. Assim, a partir da década seguinte possibilitaram a
expansão da Ação Social e a origem das primeiras escolas de Serviço Social. A Sra. Estela
de Faro, por exemplo, designada como a grande pioneira do Serviço Social no Rio de
Janeiro e figura preeminente da Ação Social na década de 1930, é, em 1922 – na qualidade
de componente de confiança de dom Sebastião Leme –, a primeira coordenadora do ramo
Feminino da Confederação Católica.
Foi, entretanto, a partir do desenvolvimento do Movimento Laico que essas iniciati-
vas embrionárias se propagaram no interior da Ação Social Católica; tomando aí sua marca
característica de apostolado social. Dentre elas, se destacaram as instituições voltadas à
organização da juventude católica para a ação social junto à classe operária e sua exten-
são a outros setores, por meio da Juventude Estudantil Católica, Juventude Independente
Católica, Juventude Universitária Católica e Juventude Feminina Católica.
O componente humano e o fundamento organizacional que viabilizarão a origem do
Serviço Social se constituirão diante da mescla entre as antigas Obras Sociais, as quais se
diferenciavam criticamente da caridade tradicional, e os novos movimentos de apostolado
social, principalmente aqueles voltados à intervenção junto ao proletariado, ambos envolvi-
dos no interior da estrutura do Movimento Laico, impulsionado e controlado pela hierarquia.

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 47


2 AS PROTOFORMAS DO SERVIÇO SOCIAL

Após fazermos um passeio acerca do surgimento das Escolas de Serviço Social


em outros países, iremos neste momento olhar para como essa história ocorreu no Brasil.
Você poderá estudar sobre as influências externas e como a profissão a se estruturou em
nosso país.
Antes de darmos início ao nosso estudo, vamos definir o significado de protofor-
mas, que são as instituições sociais que se mostram com origem confessional, prática da
ajuda, caridade e solidariedade, impregnadas pela filosofia tomista e a serviço da classe
dominante.

REFLITA
Quando surgiu em nosso país, nas décadas de 1920 e 1930, o Serviço Social tinha
como fundamento para sua implantação o reconhecimento de conflitos sociais, acarre-
tados mediante a industrialização.
Fonte: a autora.

Primordialmente, apresentava caráter filantrópico, possuindo uma característica


assistencial, missionária e beneficente. A Igreja Católica controlava o processo voltado ao
auxílio de pessoas necessitadas. As protoformas da profissão se relacionavam diretamente
com o desenvolvimento da Ação Social, realizada pela Igreja Católica, com a finalidade de
recristianizar a classe trabalhadora, passou a assumir o enfrentamento da questão social.
Em suas origens no Brasil, o Serviço Social está intimamente vinculado a
iniciativas da Igreja, como parte de sua estratégia de qualificação do laicato,
especialmente de sua parcela feminina, vinculada predominantemente aos
setores abstratos da sociedade, para dinamizar sua missão política de apos-
tolado social junto às classes subalternas, particularmente junto à família
operária. Essa origem confessional, articulada aos movimentos de Ação
Social e Ação Católica, conforma um tipo de legitimidade à profissão cujas
fontes de justificação ideológica encontram-se na doutrina social da Igreja
(IAMAMOTO; CARVALHO, 2007, p. 83).

Entretanto, nesse momento do Serviço Social inexistia a expressão da questão


social, somente as expressões concretas da “questão social”, isto é, o conceito de um
conflito social, interpretado enquanto uma questão moral e religiosa, em que as condições
precárias do proletariado eram interpretadas como consequência da falta de dinâmica do

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 48


processo industrial, sem relacioná-la à luta de classes, o que significa, na verdade, a sua
essência.

SAIBA MAIS
Protoformas são as instituições sociais que se mostram com origem confessional, prática
da ajuda, caridade e solidariedade, impregnadas pela filosofia tomista e a serviço da
classe dominante. As protoformas do Serviço Social brasileiro estão ligadas às institui-
ções e obras desenvolvidas no âmbito da assistência. As instituições ligadas à Igreja,
com o compromisso de desenvolver ações no âmbito da caridade, benemerência, em
processo de capacitação para melhor desenvolver as ações, começam a se aproximar
daquilo que se tornaria o Serviço Social brasileiro
Para saber mais, acesse o link: https://youtu.be/ecVs6FMwQcc
Fonte: BARBOSA (2016).

A complicada relação existente entre as protoformas do Serviço Social e a Igreja fez


com que fosse predominante dentro do exercício da profissão o pensamento conservador
baseado na corrente neotomista. Nesse âmbito, as bases estruturais do Serviço Social,
durante longo período, encontraram-se a serviço da classe dominante, sendo fortemente
influenciadas pela doutrina social, desenvolvida pela Igreja Católica.
Versando a respeito desse período do processo histórico referente ao Serviço So-
cial, Iamamoto (1998, p. 27) ensina que: “o Serviço Social surgiu como uma das estratégias
concretas de disciplinamento, controle e reprodução da força de trabalho e seu papel era
conter e controlar as lutas sociais”.
Assim, nesse sistema de organização social capitalista, a classe dominante se
aliava com a igreja e com o Estado, com a finalidade de profissionalizar a assistência social.
Por meio da influência do pensamento europeu e norte-americano, a caridade passou a va-
ler-se de novos métodos, ou seja, recursos que a ciência e a técnica lhe ofertam. Busca-se,
então, a adaptação do indivíduo ao meio em que está inserido e vice-versa.
Por meio das relações formadas por moças católicas que prestavam assistência
ao proletariado, surgiu a primeira Escola de Serviço Social no Brasil, fazendo com que
o Estado solicitasse assistentes sociais para trabalhar em instituições estatais. A igreja
católica tornou-se essencial na abertura das duas primeiras escolas de Serviço Social: a

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 49


Escola de Serviço Social de São Paulo, em 1936, e a Escola do Serviço Social do Rio de
Janeiro, em 1937, escolas estas consideradas as pioneiras do Serviço Social em nosso
país, recebendo notável influência europeia.
Como citado, no ano de 1936, foi criada a primeira escola de Serviço Social no
Brasil, em resultado da expansão das práticas de assistência social, ainda por meio do
assistencialismo e do caráter fortemente religioso. A escola foi criada na cidade de São
Paulo, por iniciativa de Maria Kiehl e Albertina Ramos. O curso era constituído de formação
técnica, sendo constantemente influenciado pelos meios cristãos. A metodologia funda-
mentava-se no homem enquanto ser livre, desenvolvido e dotado de inteligência, possuidor
do direito de viver em sociedade, extraindo dela os meios necessários à sua sobrevivência.
Com a movimentação do processo de industrialização, o Estado passou a financiar
bolsas de estudo para pessoas que pertenciam a classes subalternas, enviando-as para
os Estados Unidos. A instituição responsável pelo processo de currículo do curso era a
Associação Brasileira de Ensino e Serviço Social (ABESS). A partir de então, tem início uma
certa padronização, e no currículo mínimo constam o estudo de caso, grupo e comunidade.
Daí, relacionadas à igreja católica, tiveram origem as escolas de trabalho e as protoformas
da profissão. Para Iamamoto (1998, p. 18), “o debate sobre a ‘questão social’ atravessa
toda a sociedade e obriga o Estado, as frações dominantes e a Igreja a se posicionarem
diante dela”.
Assim, o seu surgimento corresponde à conjuntura vivenciada em nosso país na-
quele período, em razão da industrialização e das grandes mobilizações da classe operária,
que crescia cada vez mais e em condições precárias de higiene, saúde e habitação, evi-
denciando-se a questão social que tomava proporções imensas, voltando a atenção social
do Estado às manifestações da classe operária que passava a reclamar seus direitos,
melhores condições de vida e de trabalho. Entretanto, se de um lado se reconhece a exis-
tência dessa contrariedade do capital e trabalho, resultado da ordem liberal que estimula a
competitividade excessiva, o proletariado é também responsabilizado por sua condição de
vida precária.
O proletariado é visto como uma classe denominada “ignorante social”, de pouca
e fraca formação moral, que somada à sua baixa condição financeira o deixa submisso
aos capitalistas e, por sua deficiência individual, o impede de alcançar uma maior ascen-
são social. Isso reflete o cenário em que a pobreza é naturalizada, passando por cima da
contrariedade existente entre o modo de produção capitalista, causas e efeitos, que são
invertidos e reinvertidos.

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 50


Seguindo esse raciocínio, os assistentes sociais observam a necessidade de inter-
vir na crise de “formação moral, intelectual e social” da família, para que assim seja possível
a obtenção de um padrão de vida que lhes ofereça o mínimo de qualidade. Para isso, faz-se
necessário realizar um ajuste familiar por meio de uma ação educativa de longo prazo, para
que tenha início a sua reeducação moral.

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 51


3 O CENTRO DE ESTUDOS E AÇÃO SOCIAL DE SÃO PAULO E A NECESSIDADE DE
UMA FORMAÇÃO TÉCNICA ESPECIALIZADA PARA A PRESTAÇÃO DE ASSISTÊNCIA

O Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo (CEAS), visto como manifestação
original do Serviço Social em nosso país, aparece, em 1932, com o incentivo e sob o
controle da hierarquia. Surge como condensação da necessidade sentida por setores da
Ação Social e Ação Católica – principalmente da primeira – de tornarem-se cada vez mais
concretas e acarretarem maior rendimento às iniciativas e obras realizadas pela filantropia
das classes dominantes paulistas sob patrocínio da Igreja e de dinamizar a mobilização do
laicato.
O CEAS foi considerado como o vestíbulo da profissionalização do Serviço
Social no Brasil – e aqui também, como no caso chileno, o trabalho de or-
ganização e preparação dos leigos se apoia numa base social feminina de
origem burguesa respaldada pro assistentes social belgas, que ofereceram
a sua experiência para possibilitar a fundação da primeira escola católica de
Serviço Social (CASTRO, 2006, p. 103).

Seu começo oficial será a partir do “Curso Intensivo de Formação Social para
Moças”, realizado pelas Cônegas de Santo Agostinho, para o qual fora convidada Mlle.
Adèle Loneaux, pertencente à Escola Católica de Serviço Social de Bruxelas. Com o final
do curso, será realizado um apelo para a organização de uma ação social, objetivando o
bem-estar da sociedade.
As participantes do curso, que na expressão do 1° relatório do CEAS, para ali
haviam ocorrido desejosas de se orientar, de esclarecer ideias, de formar um
julgamento acertado sobre os problemas sociais da atualidade constituíam-se
de jovens formadas em estabelecimentos religiosos de ensino, uma repre-
sentativa demonstração feminina das famílias que compõem as diferentes
frações das classes dominantes e setores abastados aliados (IAMAMOTO;
CARVALHO, 2007, p. 168-169).

Castro (2006, p. 104) ainda contribui com seus estudos quanto ao objetivo do CEAS:
Promover a formação dos seus membros através do estudo da doutrina social
da Igreja e fundamentar a sua ação nesta base doutrinária e no conhecimento
profundo dos problemas sociais, para tornar mais eficiente a atuação das as-
sistentes sociais e adotar uma orientação definida em face dos problemas por
resolver, favorecendo a coordenação de esforços dispersos nas diferentes
atividades e obras de caráter social.-

Os registros existentes sobre essa compreensão demonstram que seu núcleo or-
ganizador partia da consciência de vivenciar uma fase de profundas mudanças políticas e
sociais e da necessidade de interferir nesse processo a partir de uma perspectiva ideológica
e de uma prática homogênea:

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 52


As reuniões dessa comissão – de moças católicas que frequentaram o curso
ministrado por Mlle. de Loneaux – foram o início das atividades do CEAS.
Tinham se realizado as primeiras durante os meses de maio a junho quando
a 9 de julho rebentou em São Paulo o movimento pela reconstitucionalização
do país, que absorveu todas as energias e iniciativas, dirigindo-se para o
único fim da vitória de nossa causa (IAMAMOTO; CARVALHO, 2007, p. 164).

Certamente, não foi hoje que a Paulista aprendeu a se interessar pelos


destinos políticos de sua terra [...] se largos anos de paz e prosperidade
haviam adormecido o interesse feminino pela política do país, ele despertou
nas horas de sofrimento de São Paulo. E foi em 1932 que a mulher resolveu
retomar parte ativa e direta na luta que se está travando pelos destinos de
nosso Estado e do Brasil. Á causa que abraçou ela deu, na guerra, tudo o que
podia dar: os seus entes mais caros, toda a sua dedicação e atividade, o seu
ouro e as suas jóias. Na paz, ela aceitou o voto feminino, compreendeu o seu
alcance e exerce-o a bem de seu ideal. A mulher paulista de hoje conhece
o seu dever cívico e sabe cumpri-lo ‘para o bem de São Paulo’. E no campo
da ação social? Também desse lado, largos e novos horizontes se abriram,
em 1932, para a atividade feminina (IAMAMOTO; CARVALHO, 2007, p. 46).

Surge de maneira tão explícita que a origem desse movimento não pode ser des-
vinculada da conjuntura particular de São Paulo, principalmente porque ocorre no momento
em que as classes dominantes desse Estado se lançam no movimento surreal de 1932,
buscando reaver o poder local e nacional do qual havia sido alijado dois anos antes. Nessa
vertente, que se envolve dentro dos movimentos políticos e ideológicos do início da década
de 1930, que possui como pano de fundo as tentativas de reunificação e a reação a que se
lançam os antigos grupos dirigentes.
Existe também uma precisão referente ao sentido novo dessa ação social; tratar-
-se-á de intervir claramente junto ao proletariado para afastá-lo de influências subversivas.
Por que, então, não datar de 1932 uma nova era na atividade social feminina?
É que se até então a generosidade e o espírito cristão das Paulistas as
impeliram a fundar obras de socorro e assistência para acudir um sem-número
de males, foi apenas em 1932 que as moças residentes em São Paulo des-
pertaram interesses pelo estudo metódico da questão social, através da ação
nos meios operários nela abrangendo o problema do trabalho (IAMAMOTO;
CARVALHO, 2007, p. 48).

Logo no mês seguinte mons. Gastão Leberal Pinto, vigário-geral da arquidio-


cese, que se achava a par de nossos projetos, aconselhou-nos a continuar
nossos trabalhos, e a 29 de agosto realizávamos a reunião preliminar de
fundação do Centro pela leitura do projeto dos estatutos. Nessa reunião
resolvemos não nos limitar preliminarmente aos estudos, como era nosso
propósito, mas começar ao mesmo tempo nossa ação, aproveitando a opor-
tunidade que nos ofereciam os serviços de assistência da retaguarda em
que estávamos quase todas empenhadas, para entrar em contato com os
meios operários, nesse momento anormal muito trabalhado por elementos
subversivos [...] (IAMAMOTO; CARVALHO, 2007, p. 45).

Até dezembro de 1932, o CEAS fundou quatro centros operários em que suas pro-
pagandistas, por meio de aulas de tricô e trabalhos manuais, conferências, conselhos sobre
higiene etc., procuraram interessar e atrair as operárias e entrar, assim, em contato com

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 53


as classes trabalhadoras, analisando os ambientes e necessidades. Os referidos Centros
ofertavam uma tríplice vantagem e seriam o ponto de partida para um desenvolvimento
maior (IAMAMOTO; CARVALHO, 2007, p. 171):
1° - São campos de observação e de prática para a trabalhadora social, que
aí completa e aplica os seus estudos teóricos.
2° - São Centros de educação familiar, onde se procura estimular nas jovens
operárias o amor ao lar e prepará-las para o cumprimento de seus deveres
nessa missão.
3° - São núcleos de formação de elites que irão depois agir na massa operá-
ria. Com esse intuito não somente cuidamos de estimular nessas jovens uma
fé viva e esclarecida, o sentimento do exato cumprimento do dever, como
também despertar-lhes o espírito de apostolado da classe pela classe, com a
noção das responsabilidades que lhe incumbem nesse terreno.

Os Centros Operários são idealizados como uma fase intermediária e, segundo


Iamamoto e Carvalho (2007), os organismos transitórios deveriam dar seu lugar a associa-
ções de classe que nossas elites operárias iriam formar e dirigir assim que estivessem em
condições.
Aceitando a idealização de sua classe sobre a vocação natural da mulher para as
tarefas educativas e caridosas, essa interferência assumia, na opinião desses ativistas, a
consciência do posto que cabe à mulher na preservação da ordem moral e social e o dever
de tornarem-se aptas para agir de acordo com as suas convicções e suas responsabili-
dades. Incapazes de promover a ruptura com essas representações, o apostolado social
possibilita àquelas mulheres, a partir da retificação daquelas qualidades, uma interação
ativa no empreendimento político e ideológico de sua classe, e da defesa de seus interes-
ses. De forma paralela, sua posição de classe lhes faculta um sentimento de superioridade
e proteção em relação ao proletariado.
Não somente é justificável a ação feminina social como ainda é indispen-
sável [...]. Não tem a mulher, na sociedade a missão de educar? Imaginem
a restauração da família sem a cooperação da mulher: a remodelação da
mentalidade, de hábitos e de costumes que irão depois influir na economia e
nas leis do país, tem de ser, toda ela, trabalho da mulher, em qualquer classe
da sociedade (IAMAMOTO; CARVALHO, 2006, p. 172).

Mas por qual motivo uma associação que importa moças da sociedade se ocuparia
com questões da classe operária?
Essa iniciativa é também legítima e é explicável: ela se baseia num sen-
timento profundo de justiça social e de caridade cristão, que leva aquelas
que dispõem de facilidade de tempo e de meios a auxiliar as classes sociais
mais fracas a formar as suas elites, para que estas também possam cumprir
eficientemente seu dever. Elas mostram a essas elites como deverão se
organizar para defender a Família e a Classe Operária contra os ambiciosos
e os agitadores que exploram seu trabalho ou a sua ignorância (IAMAMOTO;
CARVALHO, 2006, p. 177).

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 54


As atividades dos CEAS se orientarão para a construção técnica especializada
de quadros para a ação social e a propagação da doutrina social da Igreja. Ao admitir
essa orientação, passa a se comportar como dinamizador do apostolado laico por meio da
organização de associações para moças católicas e para a intervenção direta, juntamente
ao proletariado. Esta última globalizará, teoricamente, as demais, na proporção em que se
destinam ao mesmo fim. São promovidos inúmeros cursos de filosofia, moral, legislação do
trabalho, doutrina social, enfermagem de emergência etc.
O ano de 1933 caracteriza uma intensificação dessas atividades: interação na
Liga Eleitoral Católica por meio de campanhas de alistamento de eleitores e proselitismo,
realização da Primeira Semana de Ação Católica, começo da formação de quadros da
Juventude Feminina Católica constituída mediante aos Centros Operários e Círculos de
Formação para Moças, delegação pela hierarquia da representação da Juventude Feminina
Católica etc. No ano de 1936, diante dos esforços desenvolvidos por esse grupo e o auxílio
da hierarquia, é criada a Escola de Serviço Social de São Paulo, a primeira desse gênero
a existir em nosso país.
Partindo desse momento, é possível notar que paralelamente à busca inicial por
quadros habilitados por essa formação técnica especializada, criada da própria Ação Social
Católica, começa a surgir outro tipo de procura, partindo de certas instituições do Estado.
Elas serão enxergadas pelos integrantes desse movimento enquanto conquistas signifi-
cativas. Com a demonstração de um memorial ao Governo do Estado, o CEAS obteve a
criação de cargos de fiscais femininos para o trabalho de mulheres e menores, no Depar-
tamento Estadual do Trabalho. No ano de 1937, o CEAS trabalha no Serviço de Proteção
aos Imigrantes, funcionando dois anos juntamente com a Diretoria de Terras, Colonização
e Imigração; no ano de 1939, assina o contrato com o Departamento de Serviço Social de
Estado (SP) para a organização de três Centros Familiares em bairros populares.
No ano de 1935, fora criada a Lei n° 2.497, de 24 de dezembro de 1935. À referida
lei competiria:
a. superintender todo o serviço de assistência e proteção social;
b. celebrar, para realizar seu programa, acordos com instituições particulares de
caridade, assistência e ensino profissional;
c. harmonizar a ação social do Estado, articulando-a com a dos particulares;
d. distribuir subvenções e matricular as instituições particulares realizando seu
cadastramento.

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 55


Caberia ainda à estruturação de Serviços Sociais de Menores, Desvalidos, Traba-
lhadores e Egressos de Reformatórios, penitenciárias e hospitais e da Consultoria Jurídica
do Serviço Social. A maior parte dos artigos da mencionada lei dedica-se à assistência do
menor e aos requisitos essenciais para a sua qualidade de vida.
No ano de 1938, será organizada a Seção de Assistência Social, tendo como ob-
jetivo realizar o conjunto de funções necessárias ao reajustamento de certos indivíduos ou
grupos às condições normais de vida, e organiza, para isso, o Serviço Social dos Casos
Individuais, a Orientação Técnica das Obras Sociais, o Setor de Investigação e Estatística
e o Fichário Central de Obras e Necessitados.
A metodologia central a ser aplicada é definida como sendo o Serviço Social de
Casos Individuais, devendo-se estimular o necessitado, interagindo ativamente em todos
os projetos relacionados com seu tratamento, e usar todos os componentes do meio social
que possam de alguma forma influenciá-lo no sentido desejado, auxiliando sua readaptação,
proporcionando uma ajuda material diminuindo ao mínimo indispensável com a finalidade
de não prejudicar o tratamento.
Ainda nesse mesmo período, o Departamento sofre uma transformação de siglas,
passando a chamar-se Departamento de Serviço Social.
O Estado perpassa o marco de sua primeira área de intervenção para superintender
a gestão da assistência social. Assim, procurará racionalizar a assistência, fortalecendo e
enfatizando sua participação própria, controlando as iniciativas particulares. Estas tenderão
a se tornar ainda mais dependentes e destinadas para a busca de serviços por parte do
Estado, por meio de convênios etc. De forma paralela, figuras de importância, saídas das
instituições particulares, serão cooptadas para constituir os quadros técnicos e Conselhos
Consultivos das instituições estatais de coordenação e execução.
O governo buscará, portanto, subordinar a seu programa de ação as iniciativas
particulares no mesmo modo que adota as técnicas e a formação técnica especializada
desenvolvida a partir daquelas instituições de caráter particular. Dessa maneira, a busca
por essa formação técnica especializada, crescentemente, encontrará no Estado seu setor
mais dinâmico, ao mesmo tempo em que passará a regulamentá-la e incentivá-la, institu-
cionalizando sua progressiva mudança em profissão legitimada no interior da fragmentação
social-técnica do trabalho.
Nessa vertente, quando em 1936 é criada pelo CEAS a primeira Escola de Serviço
Social, não pode ser considerada como resultado de uma iniciativa exclusiva do Movimento
Católico Laico, uma vez que já se faz presente uma procura – real ou potencial – a partir

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 56


do Estado, que assimilará a formação doutrinária própria do apostolado social. A profunda
relação entre essa Escola e a do CEAS com o movimento católico laico, como demonstra
vastamente Arlette Alves de Lima, não deve obscurecer o fato de que desde aquele mo-
mento existia uma busca a partir do Estado, o que inclusive é explicitado de forma precisa
pelos Assistentes Sociais.
Podemos observar na citação:
Apesar das representações que muitas vezes fazem desse fato, sem que
tivéssemos feito propaganda, pois receávamos que a publicidade trouxesse
prejuízos à seriedade do nosso trabalho, as alunas que compunham a primeira
turma foram convidadas a trabalhar no Departamento de Serviço Social como
pesquisadoras sociais ou como comissárias de menores a partir do segundo
ano de funcionamento da Escola. A eficiência do trabalho por elas realizado
fez com que se estabelecesse a praxe de se pedir à Escola de Serviço Social a
indicação de nomes para o preenchimento de determinados cargos, e hoje já
temos alguns dispositivos legais que dão preferência às pessoas que tiverem
curso completo em escola de serviço social para o desempenho de funções
nos serviços sociais públicos (IAMAMOTO; CARVALHO, 2006, p. 180-181).

Como forma de fazer propaganda a respeito das possibilidades da carreira para os


discentes da Escola de Serviço Social em 1944, mostrar-nos-á que a concepção moderna
de Estado cria, a cada passo, iniciativas oficiais no terreno social, e daí a ampliação do
campo de ação da Assistente Social junto aos poderes públicos. Também, as instituições
particulares já estão recorrendo aos métodos modernos de ação. Se no início a Escola de
Serviço Social atraiu principalmente a atenção dos órgãos públicos, hoje está tomando
posição de destaque perante as instituições particulares.
Inúmeros são os pedidos de Assistentes, mas não tem sido possível corresponder a
todos, por falta de número suficiente de habilitados nas diversas funções. Sobejam motivos
para afirmar que a carreira de Assistente Social tomará, também no Brasil, o desenvolvi-
mento que tem sido em outros países.
A adequação dessa construção técnica especializada na busca pode ser observa-
da, também, por meio das transformações de orientação pelas quais passam as escolas
especializadas.
A Escola de Serviço Social passará por rápidas fases de adequação. A primeira
ocorre a partir do convênio estabelecido entre o CEAS e o Departamento de Serviço So-
cial do Estado, em 1939, para a organização de Centros Familiares. Essa busca terá por
reflexo a introdução no currículo da Escola de um Curso Intensivo de Formação Familiar:
pedagogia do ensino popular e trabalhos domésticos. A segunda ocorrerá, posteriormente,
para atender à demanda das prefeituras no interior do Estado.

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 57


O instituto de Serviço Social (SP), que se origina em 1940 como divisão da Escola
de Serviço Social, tendo o patrocínio da JUC, destinava-se à formação de trabalhadores
sociais especializados para o Serviço Social do Trabalho. Entretanto, um fato de interesse
superior veio imprimir novo rumo ao nosso ensino: a instituição de bolsas de estudo, pelas
administrações municipais do interior, concedidas a moços que quisessem matricular-se
no ISS, assumindo o compromisso de irem prestar seus serviços profissionais junto às
respectivas prefeituras de origem. Renunciando a intenção de encarecer o trabalho, nada
fez o Instituto a não ser procurar amoldar-se aos imperativos do meio, pois uma escola de
serviço social, mais do que qualquer outra agência social, deve esforçar-se para atender ao
que é mais urgente, a fim de proporcionar ao meio ambiente os recursos técnicos indispen-
sáveis aos empreendimentos mais insistentemente reclamados.
Ainda no tocante à questão da busca, caberia notar dois aspectos: a consideração
quantitativa de alunos bolsistas e dos cursos intensivos de formação de auxiliares sociais.
Quanto ao primeiro, os Relatórios anuais da Escola de Serviço Social (SP) apresentam que,
a partir de 1941, e durante longo período de tempo, o percentual de bolsistas raramente
é inferior a 30%, chegando a concomitantemente se constituir em maioria. Os principais
patrocinadores dessas bolsas eram o Estado e as grandes instituições estatais ou paraes-
tatais, como as prefeituras. No âmbito particular, sobressaem as Escolas de Serviço Social,
que começam a aparecer nos outros Estados, e diminuem o número de obras particulares
e estabelecimentos comerciais e industriais.
Quanto à formação de auxiliares sociais, esta reside em notável atividade das
escolas desde a origem das grandes instituições, efetivando-se seja em sua sede, seja nos
Estados, onde inexistem escolas especializadas.
Ao assinalar a questão da busca, não se objetiva subestimar, por exemplo, o
destaque do trabalho que desenvolvem as pioneiras do Serviço Social na propagação e
institucionalização da profissão, atuando no sentido de incentivar e concretizar a procura
por seus serviços. Cabe situar, entretanto, que acontece um processo de mercantilização
dos portadores daquela formação técnica especializada, que se traduz em sua modificação,
em força de trabalho que pode ser comprada. Essa alienação se dá ao mesmo momento
em que ocorre uma “purificação” do portador da qualificação, com as escolas realizando
uma função imprescindível para a viabilidade desse processo.
O portador dessa qualificação não mais necessariamente será uma moça da socie-
dade devotada ao apostolado social. Continuadamente se transformará em um elemento

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 58


da Força de Trabalho, possuindo uma determinada qualificação, englobada na divisão
social – técnica do trabalho.
Nesse mesmo processo não importa, entretanto, em regra, a eliminação do conteú-
do doutrinário da formação acadêmica do Assistente Social. Esse conteúdo não se constitui
em entrave à sua assimilação pelo Estado e empresas. Por oposto, essa formação é fun-
cional às suas necessidades.
Isso só é real, porém, a partir de uma visão histórica dos tipos de instituições que
vão se originando, do momento em que optam por incorporar o Serviço Social e das modifi-
cações paulatinas que a formação técnica especializada demonstra nesse mesmo período,
como se procurará situar posteriormente.

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 59


4 CONSERVADORISMO RELIGIOSO E BASES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

Como profissão contida na fragmentação do trabalho, o Serviço Social aparece


como parte de um movimento social mais abrangente, de fundamentos confessionais,
ligado à necessidade de formação doutrinária e social do laicato, para uma influência mais
contundente da Igreja Católica no mundo temporal, nos primórdios da década de 30.
Tentando recuperar áreas de influência de privilégios perdidos, em face da constan-
te secularização da sociedade e dos conflitos presentes na relação entre Igreja e Estado,
a Igreja procura superar a postura contemplativa. Opõe-se aos princípios liberais e ao
comunismo, que surgem como uma ameaça à sua posição no meio social.
A igreja busca ainda a legitimação jurídica de suas áreas de influência no interior do
aparato estatal. Mediante as intensas mobilizações da classe operária nas duas primeiras
décadas do século, a discussão sobre a “questão social” atravessa toda a sociedade e
obriga o Estado, as frações dominantes e a Igreja a se posicionarem diante dela.
A Igreja interpreta a questão social segundo os preceitos acordados nas encíclicas
papais, particularmente a Rerum Novarum e Quadragesimo Anno, fonte inspiradora das
posições e programas realizados frente aos conflitos sociais. A igreja analisa a questão
social enquanto uma questão moral e religiosa.

SAIBA MAIS

Rerum Novarum é uma encíclica escrita pelo Papa Leão XIII, em 15 de maio de 1891.
Era uma carta aberta a todos os bispos, na qual se debatiam as condições das classes
trabalhadoras. Leão XIII apoiava o direito dos trabalhadores formarem sindicatos, mas
rejeitava o socialismo e defendia os direitos à propriedade privada. Discutia as relações
entre o governo, os negócios, o trabalho e a Igreja, propondo uma estrutura social e
econômica que mais tarde se chamaria corporativismo.

Entre no link a seguir e leia a carta na íntegra:


http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum_po.html

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 60


A intervenção estatal na “questão social” é verdadeira, uma vez que o Estado deve
prover o bem de todos. Entretanto, o Estado não pode negar a independência da sociedade
civil. Existem grupos sociais “naturais”, ou seja, organismos autônomos que restringem a
ação dominadora do Estado. Cabe à Igreja partilhar com este a atuação frente à “questão
social” por meio de grupos sociais básicos, particularmente a família.
Corporificando esses princípios, o Serviço Social emerge da iniciativa de grupos e
frações de classes dominantes que se mostram por meio da Igreja. A profissão não se ca-
racteriza somente como uma forma inédita de realizar a caridade, mas também como uma
maneira de interferir ideologicamente na vida da classe trabalhadora, como fundamento na
atividade assistencial: suas consequências são essencialmente políticas.
Difere-se ainda da assistência pública, que, desconhecendo a singularidade e
particularidade dos sujeitos, apresenta respostas não diferenciadas aos problemas da
sociedade. Exercido por meio de entidades filantrópicas particulares e do Estado, o Serviço
Social norteia-se para uma individualização de proteção legal.
O Serviço Social se compromete, ainda, como uma ação organizativa entre a popu-
lação trabalhadora, no interior do programa de militância católica, opondo-se às iniciativas
decorrentes de lideranças operárias que não aderem ao associativismo católico. Dessa
maneira, o associativismo surge como uma atividade com fundamentos mais doutrinários
do que científicos, no bojo de um movimento de caráter reformista-conservador.
O processo de secularização e de ampliação e amplificação da base técnica –
científica da profissão –, que ocorre com o desenvolvimento das escolas especializadas
no ensino de serviço social, acontece sob interferência dos progressos alcançados pelas
ciências sociais nos ápices do pensamento conservador. Para justificar essas afirmativas, é
necessário retornar a algumas características do pensamento conservador e sua influência
na compreensão sociológica. O conservadorismo contemporâneo, que apresenta uma
forma específica de pensamento e experiência prática, é resultado de uma situação histó-
rico-social particular: a sociedade de classes em que a burguesia surge como personagem
principal do mundo capitalista.
Por meio desses mecanismos, o pensamento conservador deixa de se opor ao
capitalismo, aquele conflito referido, entre noções e ideias pretéritas, mas intencional e ra-
cionalmente ressuscitadas como ideologicamente válidas para responder às necessidades
de explicação da própria sociedade capitalista.
O conservadorismo não é interpretado apenas como a continuidade de perseve-
rança no tempo de um conjunto de ideias constitutivas da herança intelectual europeia

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 61


do século XIX, mas sim de ideias que, reinterpretadas, transformam-se em uma ótica de
explicação e em projetos de ação positivos à manutenção da ordem capitalista.
Ele reage, assim, aos princípios universais e abstratos referentes ao pensamento
dedutivo: seu pensamento tende à adesão aos contornos imediatos da situação com que
se afronta, considerando os detalhes, as informações qualitativas, os casos específicos, em
face do apoderamento da estrutura social.

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 62


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o fim de nossa unidade, caro(a) aluno(a), podemos observar que o Serviço
Social se desenvolve e se origina na órbita de um universo teórico. Perpassa da influência
do pensamento conservador europeu para a sociologia conservadora norte-americana, a
partir da década de 40.
A compreensão do percurso histórico do Serviço Social em nosso país remete à
predominância de um comportamento basicamente conservador. Percebe-se que ao final
da década de 50 e começo da década seguinte é que se fazem presentes as primeiras
manifestações, no meio profissional, de posicionamentos questionadores a respeito do
status quo e contestações a respeito das práticas institucionais em vigência.
Essas indagações originam uma conjuntura marcada por uma situação de crise e
de profunda efervescência, no quadro do colapso dos populismos e de uma reorientação
estratégica do imperialismo em relação às sociedades autônomas. No âmbito político inter-
no essas manifestações coincidem com a constante radicalização política que marca a fase
final do pacto populista e que apresenta como desfecho uma expressiva transformação
desse pacto, ou seja, uma modificação na correlação existente entre as forças com o golpe
de 1964.
O rompimento com a herança conservadora se apresenta como uma busca, uma
luta para alcançar novos fundamentos de legitimidade da ação profissional do assistente
social que, enxergando as contrariedades sociais existentes nas condições do exercício da
profissão, procura colocar-se, efetivamente, à disposição das necessidades dos usuários,
ou seja, setores dominados da sociedade. Compreendido em uma dimensão processual,
esse rompimento tem como pré-condição que o assistente social aprofunde o entendimento
das implicações políticas de seu exercício profissional, reconhecendo como polarizado pela
luta de classes.

Grande abraço!

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 63


LEITURA COMPLEMENTAR

FUNDAMENTOS DO SERVIÇO SOCIAL: DESIDEOLOGIZANDO A COMPREENSÃO


SOBRE GÊNESE DA PROFISSÃO
[....]
Compreensão ideológica sobre a gênese da profissão
O Serviço Social na contemporaneidade já dispõe de uma bibliografia forte no que
se refere ao combate a chamada compreensão ideológica sobre a gênese da profissão
Montaño (2009), após análise cuidadosa de diversos trabalhos teóricos sobre a gênese da
profissão, afirma que existe uma tese de explicação da origem do Serviço Social que ele
chamou de endogenista. Esta tese “[...] sustenta a origem do Serviço Social na evolução,
organização e profissionalização das formas ‘anteriores’ de ajuda, da caridade e da filantro-
pia, vinculada agora à intervenção na ‘questão social’”. (Ibidem) Ou seja, a tese endogenista
refere-se a explicação da origem do Serviço Social de “dentro para dentro”, isto é, o que
explica a profissionalização do Serviço Social não é algo externo, de fora, estrutural, mas
é algo que a “história linear” das primeiras práticas de assistência dão conta de esclarecer.
Dessa forma, todos os expoentes da referida tese incorrem no equívoco de desconsiderar
as categorias estruturais de análise da realidade, tornando a compreensão da gênese da
profissão profundamente ideológica. Entretanto, não se trata apenas de um direcionamento
ideológico vinculado a um projeto societário conservador, Montaño (2009) afirma
. Entretanto, faz-se necessário um cuidado aguçado de profissionais do ensino
para que a exposição de temáticas como a origem do Serviço Social não sejam recebidas
e concebidas de maneira simplista e sem fundamentos concretos.
[...] não podemos deixar de destacar duas significativas distinções internas
nos autores que aqui se condensam; primeiramente, aqui co-participam
autores provenientes de um Serviço Social tradicional junto com membros do
movimento que marcou a ‘intenção de ruptura’ com aquele, a reconceituação;
[...] (p. 20, grifo meu)

Portanto, autores vinculados a distintos projetos societários podem incorrer nos mes-
mos erros de análise sobre diversos aspectos da realidade, neste caso, sobre a origem do
Serviço Social. Observa-se, dessa forma, que a compreensão ideológica não é privilégio de
teóricos vinculados a uma classe apenas, mas a ideologização é um equívoco também de
teóricos vinculados a um projeto libertário e emancipatório.
Observemos agora as teses de alguns autores que Montaño (2009) analisou, refe-
rentes a origem do Serviço Social:
- Natálio Kisnerman (1980 apud MONTAÑO, 2009) afirma que a origem do Serviço
Social se deu ao lado do positivismo de Augusto Comte, no século XIX, e se caracterizava
pela ajuda sistêmica de orientação protestante. Ou seja, na concepção de Kisnerman o
Serviço Social profissionalizado da contemporaneidade é fruto de uma evolução histórica
da assistência em forma de ajuda. Nessa perspectiva não existe uma coerção exterior que

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 64


fosse capaz de tornar a atividade da assistência/ajuda numa profissão que desse legitimi-
dade a uma forma de produção, isto é, a compreensão da origem do Serviço Social não
parte do concreto da realidade sócio-histórica da época em que a mesma se profissionaliza.
- Boris Alexis Lima (1986, apud Ibidem) afirma que o Serviço Social surge ainda na
Idade Média, pelo fato de que “[...] aceita como válida e evidenciada a afirmação de que a
origem da profissão está associada às múltiplas manifestações assumidas pela caridade
e pela filantropia.” (MONTAÑO, 2009) Ou seja, mesmo antes de sua profissionalização, o
Serviço Social, por ser caracterizado pelas práticas de caridade e filantropia, surge com as
primeiras manifestações de organização destas. Portanto, para o autor, o que caracteriza
a natureza da profissão é a caridade e a filantropia e as formas que elas irão assumir his-
toricamente.
- Norberto Alayón (1980, apud Ibidem) procurando explicar a gênese do Serviço So-
cial na Argentina, afirma que logo no início do século XVII com a fundação da Hermandad
de La Santa Caridad, que objetivava o cuidado e a atenção aos pobres, o Serviço Social
mostrava seus antecedentes históricos. Alayón compreendia que a partir da administração
estatal da referida instituição se iniciava um processo de institucionalização do cuidado e
atenção aos pobres, demarcando as primeiras fases do fazer profissional do futuro assis-
tente social.
- José Lucena Dantas (in Batista 1980, apud Ibidem) situa os antecedentes histó-
ricos da profissão também desde a Idade Média, diferenciando três tipos de modelos de
intervenção: o modelo assistencial (desde a Idade Média), o modelo de ajustamento, e o
modelo de desenvolvimento e mudança social. Ou seja, o referido autor afirma que a inter-
venção profissional pode ser historicizada desde o período da Idade Média, explicitando,
dessa forma, que a origem da profissão também ocorre concomitante a intervenção.
- Balbina Ottoni Vieira (1977, apud Ibidem) compreende que os antecedentes do
Serviço Social remonta a origem dos seres-humanos sobre a terra, tendo em vista que con-
sidera como antecedentes históricos toda forma de ajuda, não as distinguindo da caridade,
filantropia ou Serviço Social.
Observadas algumas teses sobre a origem do Serviço Social em períodos que va-
riam desde a década de 1970 a 1980, compreende-se que “Todas estas análises represen-
tam, na verdade, diferentes matizes e distintas ênfases da mesma tese: O Serviço Social
é a profissionalização, organização e sistematização da caridade e da filantropia.” (MON-
TAÑO, 2009) Mas por que motivo considerá-las ideológicas? Como já observado, dentre
os expoentes desta tese endogenista congregam teóricos vinculados a diversos projetos
societários, entretanto convergem no que diz respeito a origem da profissão, porque
Efetivamente, as análises desses autores quanto à natureza do Serviço
Social (mesmo que diferente quando tratam a sociedade no seu conjunto e
seu posicionamento perante a realidade) não consideram o real (a história da
sociedade) como o fundamento e causalidade da gênese e desenvolvimento
profissional, apenas situando as etapas do Serviço Social em contextos
históricos. (Ibidem, p. 26-27, grifo meu)

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 65


Nesse sentido, tendo em vista que as teses observadas não levam em considera-
ção o real, apresentando, simplesmente, para explicar a gênese do Serviço Social, etapas
históricas das primeiras formas de assistência e ajuda, podem ser consideradas teses e/ou
compreensões ideológicas. Mesmo que projetos profissionais distintos convirjam apenas
na compreensão sobre a origem da profissão, cada segmento utilizará essa compreensão
em defesa do projeto societário ao qual se vincula. Mas como uma compreensão sobre
a gênese da profissão, que pode ser considerada tema inofensivo e neutro em relação a
projetos divergentes, pode estar vinculada a um projeto societário, e ainda mais de projetos
societários distintos? Não existe neutralidade na ciência, e a ciência que se propõe neutra
já é ideológica no sentido de estar vinculada a manutenção do que está vigente.
Nesta perspectiva, entender a gênese da profissão é algo importante para a cate-
goria profissional no sentido desta se conhecer, reconhecer e poder renovar-se continua-
mente. Entretanto, a forma como se conhece uma realidade é que é determinante para a
ideologização. Se a forma de compreensão da gênese da profissão for ideológica, ideoló-
gica também, possivelmente, será a forma de compreensão da prática profissional. Nesse
sentido, retomando a discussão sobre a tese endogenista de compreensão da gênese do
Serviço Social, os mais conservadores utilizarão essa compreensão para legitimar uma
atuação prática mais fatalista, tendo em vista que esse pensamento ideológico vincula-se
a um projeto societário conservador de manutenção do que está vigente e de legitimação
da estrutura injusta de exploração. Já os “revolucionários” se apropriarão dessa forma de
pensar para dar suporte a visão messiânica desenvolvida no seio da profissão, propondo
rupturas com estruturas institucionais vinculadas ao Estado, tendo em vista que este pen-
samento ideológico vincula-se a um projeto de sociedade livre, emancipatória e igualitária,
que só será alcançada por meio de rupturas radicais. Ambos pensamentos ideológicos,
mas vinculados a projetos societários distintos.
Nessa linha de raciocínio, observa-se o profundo impacto que a ideologização da
compreensão de questões relacionadas a profissão promove, não só para alienação, mas
para o irracionalismo prático – referente a prática profissional – tendo em vista que o sus-
tentáculo para tal atuação é a compreensão ideologizante pró defesa de um projeto socie-
tário de classe. Portanto, a forma do pensamento ideologizante não é apática no sentido de
ser inofensiva para a profissão e/ou atuação profissão, muito pelo contrário, é uma forma
de pensamento que afeta diretamente a prática profissional, sobretudo do assistente social,
tendo em vista seu compromisso alienado e explícito de classe.

Compreensão histórico-crítica sobre a gênese da profissão

Obviamente que vinculada a defesa de um projeto societário, mas não com carac-
terísticas ideologizantes, a perspectiva histórico-crítica de compreensão sobre a gênese da
profissão desenvolve-se um pouco mais tarde no cenário do Serviço Social latino americano,
após um amadurecimento intelectual de compreensão da teoria crítica. Referências como
Netto (2011), Iamamoto e Raul de Carvalho (2013) são exemplos de como a compreensão

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 66


sobre a gênese da profissão assume uma maturidade intelectual desideologizada, a partir
do entendimento de que
[...] o surgimento da profissão do assistente social [é] [...] produto da síntese
dos projetos político-econômicos que operam no desenvolvimento histórico,
onde se reproduz material e ideologicamente a fração de classe hegemônica,
quando, no contexto do capitalismo na sua idade monopolista, o Estado toma
para si as respostas à ‘questão social’. (MONTAÑO, 2009, p.30)

Ou seja, a explicação da gênese da profissão perpassa elementos que vão desde o


entendimento acerca dos projetos político-econômicos que se desenvolvem historicamen-
te, até a forma e a função do Estado que modifica sua intervenção num estágio específico
de desenvolvimento do capitalismo: o monopolista. Isto é, “entende-se o assistente social
como um profissional que desempenha um papel claramente político, tendo uma função
que não se explica por si mesma, mas pela posição que o profissional ocupa na divisão
sociotécnica do trabalho” (Ibidem, grifo meu).
Nessa perspectiva compreende-se que, em virtude das recorrentes crises cíclicas do
capital, este renova-se e acentua seu processo de concentração e centralização de rique-
za, até culminar no estágio monopolista. Neste estágio do capitalismo mundial pretende-se
superar a crise de superprodução que é natural desse sistema, através de políticas eco-
nômicas intervencionistas e reguladoras do mercado, objetivando, nos termos de Keynes,
a efetivação da demanda, isto é, possibilitar o consumo massivo de acordo com um novo
modelo de produção seriada: o fordismo. É nesse contexto estrutural que o Estado assu-
me nova posição diante da “questão social”, agora não mais tratada apenas como caso
de polícia, mas também como caso de política. Portanto, é nesse período, nas imediações
da década de 1930, que a política social passa a ser concretizada de fato nas sociedades
capitalistas, tendo em vista a produção e reprodução da força de trabalho para valorização
do capital. E como executor das políticas sociais o profissional de Serviço Social, agora pro-
fissionalizado em decorrência de sua necessidade e funcionalidade concretas, surge para
garantir esse processo de dominação político-econômico-ideológica.
Nesses termos Iamamoto e Raul de Carvalho (2013) afirmam que
[...] o significado social dessa profissão na sociedade capitalista, situando-a
como um dos elementos que participa da reprodução das relações de classes
e do relacionamento contraditório entre elas. Nesse sentido, efetua-se um
esforço de compreender a profissão historicamente situada, configurada
como um tipo de especialização do trabalho coletivo dentro da divisão social
do trabalho peculiar à sociedade industrial. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2013,
p.77)

Ou seja, não se pode compreender a profissão a partir dela mesma, como se ela
fosse um fim em si própria. Mas a compreensão da profissão tem de levar em consideração
o contexto histórico externo às características “específicas” da mesma, para que dessa for-
ma, se compreenda a sua funcionalidade em determinado período histórico e consequen-
temente o motivo de sua origem com as características que lhe são peculiares.

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 67


Assim visto, o Serviço Social tem um papel a cumprir dentro da ordem social
e econômica – como uma engrenagem da divisão sociotécnica do trabalho –,
na prestação de serviços: ao assistente social lhe é demandado (e para isso
foi criada a profissão) participar na reprodução tanto da força de trabalho, das
relações sociais, quanto da ideologia dominante. (MONTAÑO, op. cit., p. 31)

Portanto, torna-se claro o entendimento de que a profissão é resultado de um pro-


cesso histórico e político-econômico, compreensão esta que é deixada de lado nas análises
de perspectiva ideológicas da realidade.
Nessa mesma linha de raciocínio Netto (2011) compreende que “é somente na in-
tercorrência do conjunto de processos econômicos, sócio-políticos e teórico-culturais [...]
que se instaura o espaço histórico-social que possibilita a emergência do Serviço Social
como profissão”, e ainda conclui que compreensões diferenciadas que desconsideram
essa dimensão histórica da realidade “transformam-se [em] [...] crônica essencialmente
historiográfica e linear” (Ibidem). Portanto, de acordo com Netto, não se analisa a gênese
profissional tendo como ponto de partida a própria história linear da profissão, isto é, como
uma “evolução da ajuda”, “racionalização da filantropia” ou “organização da caridade”, mas
a profissionalização vincula-se “à dinâmica da ordem monopólica” (Ibidem). Nesse sentido,
longe de se pensar ideologicamente, compreende-se a profissão como produto histórico da
ordem monopólica do capital, colocando o contexto histórico-social como protagonista no
processo de análise da realidade do Serviço Social.
Na perspectiva de análise histórico-crítica não cabe imediatismos analíticos, consi-
derando a aparência fenomênica do real como a reprodução fiel dessa mesma realidade.
Ou seja, ainda que pareça coerente tratar a gênese da profissão como uma evolução linear
e etapista da caridade e da filantropia, a gênese do Serviço Social enquanto profissão só
se justifica concretamente num contexto histórico determinado. Descarta-se, portanto, a
ideologização de uma concepção sobre a gênese da profissão, que teria características
imediatistas, particularistas e simplistas. No entanto, não significa que uma perspectiva de
análise histórico-crítica não tenha uma ideologia, isto é, não defenda um modelo de projeto
societário. Muito pelo contrário, essa perspectiva analítica possui explícita vinculação de
apoio e defesa de um projeto societário emancipatório e libertário, entretanto a forma de
análise da realidade não é ideologizante no sentido de defesa alienada (que desconsidera
a realidade) de um projeto de sociedade.
O conjunto de ideias vinculadas a um projeto societário (ideologia) pode não ser
ideologizante se tratar a concreção da realidade como um processo histórico complexo de
múltiplas determinações. Nesse sentido, a ideologia societária só será ideologizante se a
ideia se sobrepuser a realidade concreta, se a ideia se antepuser ao contexto histórico-so-
cial e se ela desconsiderar categorias imprescindíveis de análise do real.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O pensamento ideologizante é a-histórico e vazio de concreticidade, tendo em vista


que se afasta de uma análise que efetivamente se aproxime do real, não considerando esta
numa perspectiva de totalidade que compreende os fenômenos aparentes não como um

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 68


fim em si mesmo, mas como uma totalidade complexa de determinantes (KOSIK, 2002).
Essa forma do pensamento ideológico sempre estará vinculada a um projeto societário,
seja conservador ou mais progressista. Não existe exclusivismo da ideologização, no senti-
do de vincular a compreensão ideológica a apenas uma classe social, muito pelo contrário,
essa forma de pensamento pode ser manifesta e expressa em ambas as classes sociais
excluindo a possibilidade de imunidade classista.
A compreensão sobre a gênese do Serviço Social explicitadas na tese endogenis-
ta de Montaño (2009), é exemplo de como parte da categoria profissional em período de
reconceituação profissional embebedou-se de compreensões ideologizantes a respeito da
origem da profissão. Compreensão essa, que pode servir de legitimação para uma prática
profissional esvaziada de significado, por ter sido legitimada por um irracionalismo teórico e
alienador. Portanto, é importante destacar obras que serviram de exemplo para uma com-
preensão histórico-crítica da gênese do Serviço Social, quebrando o paradigma de com-
preensões ideologizantes do tema. R Raul de Carvalho, Iamamoto (2013) e Netto (2011)
são referências no que diz respeito a compreensão da gênese da profissão levando em
consideração o contexto histórico-social de determinação de profissionais que atuassem
nas relações sociais em determinado estágio histórico do capitalismo mundial, isto é, rela-
cionando a concreção histórico-social da época como um dos determinantes para a gênese
da profissão.
Assim visto, torna-se imprescindível para análises teóricas a aderência analítica de ca-
tegorias estruturais de determinada realidade. A realidade é complexa, e possui múltiplas
determinações, obviamente a aderência a essa forma de análise, numa perspectiva de
totalidade, não possibilita resultados exatos e finais, mas possibilita maior aproximação da
realidade, com menos risco de incorrer em ideologizações com características profunda-
mente alienantes.
[...]
Fonte: Magalhães (2015).

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 69


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: Relações Sociais e Serviço Social no Brasil
• Autor: Marilda Vilela Iamamoto e Raul de Carvalho
• Editora: Cortez
• Sinopse: Trata-se de trabalho indispensável, pelos aspectos
históricos e teóricos examinados. As atividades das instituições e
dos profissionais do Serviço Social revelam novos e surpreenden-
tes aspectos das relações sociais. Sob vários ângulos, este livro
é importante para o conhecimento da teoria e prática do Serviço
Social.

LIVRO 2
• Título: Serviço Social: Identidade e Alienação
• Autor: Maria Lúcia Martinelli
• Editora: Cortez
• Sinopse: Nesta obra, a autora aborda questões originais e com-
plexas, como a identidade profissional, a alienação, o fetiche da
prática e a consciência de classe da categoria profissional. Um
livro indispensável para o estudo da história do Serviço Social e
para a compreensão do real significado da profissão na sociedade
do capital.

LIVRO 3
• Título: O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e for-
mação profissional
• Autor: Marilda Vilela Iamamoto
• Editora: Cortez
• Sinopse: Este livro comporta uma nova e inquietante agenda
de questões para o trabalho e para a formação profissional do
assistente social. O Serviço Social sente hoje os impactos de uma
nova conjuntura, que lhe coloca o desafio de repensar a formação
profissional em tempos de novas demandas e de investimentos.

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 70


FILME/VÍDEO
• Título: Olga
• Ano: 2004
• Sinopse: O filme conta a história da militante Olga Benário e seu
romance com o brasileiro Luís Carlos Prestes, durante o governo
constitucional de Getúlio Vargas e a 2ª Guerra Mundial. A única
vez em que, segundo registros históricos, houve de fato um plano
comunista de tomada do poder no Brasil. A “ameaça comunista”
depois foi argumento para o Estado Novo, em 1937, para a tenta-
tiva de impedir a posse de João Goulart, em 1961, e para o golpe
militar de 1964.
• Link do vídeo: https://youtu.be/IseItjNRIhk

WEB
• Especial apresenta História da Assistência Social no Brasil:
comemorado em 15 de maio, o Dia do Assistente Social foi lembra-
do pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
(MDS) neste vídeo que se propõe a contar um pouco da história
da profissão no Brasil e resgatar sua memória coletiva. A produção
foi realizada em 2010, antes da regulamentação atual do Sistema
Único de Assistência Social (SUAS), grande marco da área.
• Link: https://youtu.be/gq4YXI1pggg

UNIDADE II O Serviço Social no Brasil 71


UNIDADE III
O Projeto Ético-Político
do Serviço Social
Professora Daniela Sikorski

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar o que são os projetos societários, projetos profissionais
e o Projeto Ético Político do Serviço Social.
• Compreender o que é ética profissional e o Código de Ética Profissional de 1993.
• Apresentar e compreender a trajetória de lutas e conquistas do conjunto CFESS/CRESS.

Plano de Estudo:
• Projetos Societários e Projetos Profissionais.
• O Projeto Ético Político Profissional.
• Ética Profissional, o que é?
• Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1993 (11 princípios
fundamentais).
• A trajetória de lutas e conquistas do conjunto CFESS/CRESS.

72
INTRODUÇÃO

Olá. Chegamos a mais uma unidade de estudo em que você aprofundará um pouco
mais seus conhecimentos sobre a profissão. Traremos nesta etapa da formação um estudo
acerca do Projeto Ético Político do Serviço Social, para isso você entenderá o que são
projetos societários e projetos profissionais. Falar sobre o Projeto Ético Político, implica
conhecer as diretrizes e posicionamento da profissão frente a sociedade na qual atuam os
Assistentes Sociais.
Em seguida falaremos sobre a Ética Profissional, seu conceito e porque ela é im-
portante para a categoria profissional. Você terá a oportunidade de se aproximar ainda mais
da profissão a partir da explanação do Código de Ética Profissional do Assistente Social de
1993 (vigente nos dias atuais). Aqui daremos foco para os 11 princípios fundamentais que
pautam a atuação dos profissionais de Serviço Social.
Por fim abordaremos os Conselhos do Serviço Social; Conselho Federal de Serviço
Social (CFESS) e o Conselho Regional de Serviço Social (CRESS), órgãos que fiscalizam,
orientam, normatizam, disciplinam e, sobretudo, defendem o exercício profissional do
Assistente Social, cada uma dentro das suas atribuições e competências.
Conto com seu empenho e dedicação neste processo formativo, pois no cenário
amplo e complexo que vivemos, precisamos investir na formação de qualidade. Conte
conosco para ser um profissional diferenciado, capaz de se destacar na sociedade e nos
diferentes espaços sócio-ocupacionais.
Vamos lá? Mãos à obra e bons estudos.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 73


1 PROJETOS SOCIETÁRIOS E PROJETOS PROFISSIONAIS

Os projetos societários exprimem a construção de uma sociedade ideal de acordo


com os interesses em disputa, e partindo da contradição existente na relação entre capital e
trabalho, o conflito de classes apresenta, para nós, diferentes projetos societários, que, no
seu desenvolvimento contraditório, movimentam a história. Segundo Marx e Engels (1998,
p. 41) “a história da sociedade até os nossos dias tem sido a história da luta de classes”.
Conforme são desenvolvidas as relações sociais no modo de produção capitalista,
mediadas pelo trabalho, a burguesia e o proletariado idealizam um determinado tipo de
sociedade que buscam atender a interesses de classe. Esses interesses visam a manuten-
ção dessa relação ou a sua superação, buscando uma sociedade livre e sem exploração
de classe.
Diante da concorrência entre projetos societários antagônicos, verificamos que o
desenvolvimento histórico do Serviço Social no Brasil está diretamente relacionado com
os interesses políticos, econômicos e sociais dos projetos em disputa e que tornavam a
profissão produtora e reprodutora das relações sociais em desenvolvimento.
Dentre as características dos Projetos Societários tem-se: a concorrência entre
diferentes projetos societários, um fenômeno próprio da democracia política; é quando
se conquistam e se garantem as liberdades políticas fundamentais que distintos projetos
podem confrontar-se e disputar a adesão dos membros da sociedade.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 74


Os projetos societários que correspondem aos interesses da classe trabalhadora
sempre dispõem de condições menos favoráveis para enfrentar ou superar os projetos
societários burgueses. Isso não significa que não possam ser alcançados, mas dependem
de crises estruturais, criadas pela própria incontrolabilidade de acumulação capitalista, para
que haja a sua superação e a incorporação de um novo projeto de sociedade.
Outra característica dos projetos societários é que eles são projetos que se cons-
tituem como macroscópicos e somente eles têm essa característica. De acordo com Netto
(1999, p. 2) “Trata-se daqueles projetos que apresentam uma imagem de sociedade a ser
construída, que reclamam determinados valores para justificá-la e que privilegiam certos
meios (materiais e culturais) para concretizá-la”.
Nos projetos societários há necessariamente uma dimensão política que envolve
relações de poder; essa questão coloca o Estado como mediador da relação entre capital e
trabalho e, de acordo com um determinado projeto societário, manifesta, no terreno político,
as relações de poder.
A experiência histórica demonstra que são projetos que constituem estruturas flexí-
veis e cambiantes, buscando superar crises e restabelecer as relações sociais de produção
de acordo com o movimento da história. Isso explica os mecanismos político/ideológicos
apropriados pelo capital para retomar o processo de acumulação em tempos de crise.
Os projetos societários podem visar dois tipos de relações sociais – e consequen-
temente de sociedade –: garantir a manutenção das relações sociais capitalistas ou supe-
rá-las, almejando a sua transformação para uma outra forma de sociabilidade, que, diante
da contradição, visaria a eliminação de classes, da exploração e de seus desdobramentos,
como a desigualdade e a pobreza.
Na segunda metade dos anos 1960 e início da década de 1970, diante do processo
de crise econômica, de surgimento e enfraquecimento da ditadura militar e da efervescên-
cia dos movimentos sociais, a história oferece os subsídios necessários para que esses
projetos societários entrassem em confronto direto, apontando de um lado o projeto do
capital financiado pela burguesia brasileira e pelo imperialismo norte americano através da
ditadura civil militar, e de outro o projeto societário da classe trabalhadora, que se organiza-
va e reivindicava por democracia e direitos sociais plenos.
O projeto societário da classe trabalhadora era representado através dos diversos
movimentos sociais que se organizavam, entre eles podemos destacar o Partido dos Traba-
lhadores (PT), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Nacional dos Estudantes
(UNE), o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), a Comissão Pastoral da Terra

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 75


(CPT), o Movimento Sanitário, entre muitos outros que, de modo geral, reivindicavam por
um projeto societário que buscava, através da luta democrática, conquistar direitos sociais
plenos, melhores condições de vida e trabalho e divisão da riqueza socialmente produzida.
Principalmente conforme a teoria marxista vai se espraiando para o interior da
profissão a partir dos anos 1980, e as demandas emergentes vão evidenciando que a
extrema condição de exploração da classe trabalhadora e de ausência do Estado, são
imperativos para construir um projeto profissional que dê conta de compreender o que,
de fato, é a sociedade capitalista, conceber a questão social como objeto de trabalho e a
classe trabalhadora como sujeito da intervenção profissional.

REFLITA
“Procure exercitar sua compreensão acerca dos diferentes projetos sociais em disputa
na realidade, analisando os diferentes enfoques dados pela mídia acerca de determina-
da informação ou fato” .
Fonte: CFESS (2005, p. 35).

1.1 Os Projetos Profissionais


Os projetos profissionais são construídos por um sujeito coletivo, ou seja, a categoria
profissional. Deve, obrigatoriamente, envolver todos os sujeitos que dão instrumentalidade
para a profissão. Segundo Netto (1999, p. 4) esses sujeitos são:
É através da sua organização (envolvendo os profissionais, as instituições
que os formam, os pesquisadores, os docentes e os estudantes da área,
seus organismos corporativos, acadêmicos e sindicais etc.) que um corpo
profissional elabora o seu projeto. Se considerarmos o Serviço Social no
Brasil, tal organização compreende o sistema CFESS/CRESS, a ABEPSS,
a ENESSO, os sindicatos e as demais associações de assistentes sociais.

Dentro da estrutura e organização de projetos profissionais, a dimensão política


deve estar presente, já que, entre diferentes projetos, há também a concorrência de pro-
jetos coletivos. Essa concorrência é inerente ao debate democrático, por isso um projeto
profissional é obrigatoriamente um projeto político. Mesmo que um projeto não assuma sua
posição frente aos interesses concorrentes entre projetos coletivos e societários, automati-
camente está assumindo um posicionamento, seja ele transformador ou conservador.
Sobre o caráter político dos projetos, o autor Netto (2006, p. 5) explica:

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 76


É importante ressaltar que os projetos profissionais também têm inelimináveis
dimensões políticas, seja no sentido amplo (referido às suas relações com os
projetos societários), seja em sentido estrito (referido às perspectivas particu-
lares da profissão). Porém, nem sempre tais dimensões são explicitadas, es-
pecialmente quando apontam para direções conservadoras ou reacionárias.
Um dos traços mais característicos do conservadorismo consiste na negação
das dimensões políticas e ideológicas.

Diante do conflito de interesses que está na diversidade de concepções que existe


no interior da categoria profissional, um fator determinante para equilibrar essa problemá-
tica é o respeito da presença do pluralismo. Por isso, é preciso ter clareza de que, mesmo
o projeto ético político sendo resultado da construção coletiva e hegemônica da categoria
profissional, estabelecendo aspectos imperativos e indicativos, o debate teórico, ético e
político deve respeitar os posicionamentos contrários, e realizá-los através do debate no
plano das ideias, e jamais pela coerção, pressão ou violência. Por isso o pluralismo é
importante para movimentar e propor respostas efetivas para atender os problemas que
emergem constantemente para a profissão.
De acordo com Netto (2005) e Teixeira (2009), os projetos profissionais requerem
componentes imperativos, pois são elementos obrigatórios a todos que exercem a profis-
são. Os elementos imperativos são os aspectos jurídicos legais e jurídicos políticos que
regulam toda a categoria profissional. Os aspectos jurídicos legais são todas as leis, reso-
luções e portarias que regem o exercício profissional, dentre elas as principais são a Lei
de Regulamentação da profissão (8662/93), o Código de Ética Profissional de 1993, e as
Diretrizes Curriculares de 1996. Os aspectos jurídicos políticos são todas as leis que partem
do artigo 6º da Constituição Federal, que prevê a garantia dos direitos sociais, e que, de
maneira transversal, representam os princípios ético/políticos profissionais, por exemplo, a
Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
Estatuto do Idoso, Lei Orgânica da Saúde (LOS).
Os projetos profissionais requerem componentes indicativos, sendo aqueles, se-
gundo Netto (2006, p. 7), “em torno dos quais não há um consenso mínimo que garanta
seu cumprimento rigoroso e idêntico por todos os membros do corpo profissional”. Sobre
os indicativos, Netto (2006) cita o código de ética, que, embora componha o arcabouço jurí-
dico legal da profissão, sendo passível de punição caso haja o seu descumprimento, é um
componente passível de contestações de práticas diferenciadas sob um mesmo princípio.
Os projetos profissionais possuem instâncias político/organizativas. Segundo
Teixeira (2009), essas instâncias representam os espaços democráticos de organização
para debater sobre a profissão, seus rumos, revisões, enfrentamentos, alianças e, prin-
cipalmente, sobre o projeto ético político. O conjunto Conselho Federal de Serviço Social

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 77


(CFESS)/Conselho Regional de Serviço Social (CRESS), a Associação Brasileira de Ensino
e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), os Centros e Diretórios Acadêmicos e a Executiva
Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO) são exemplos dessas instâncias.
Os projetos profissionais produzem conhecimento teórico/crítico. Segundo Teixeira
(2009), na medida em que a profissão avança no campo científico de produção no campo
das ciências sociais, desenvolve a investigação acerca da realidade social, subsidiada pela
teoria histórico crítico marxista, direcionando a profissão na esfera interventiva para a defesa
de projetos societários da classe trabalhadora e de recusa de concepções conservadoras e
tradicionais proprondo assim alternativas de enfrentamento da questão social.
Os projetos profissionais requerem sempre uma fundamentação de natureza ética
que extrapola o ordenamento jurídico legal, e impõe o aprofundamento ético, ideológico e
político do profissional para além do código de ética. Este, por sua vez, não deve ser consi-
derado um manual de direitos e deveres a ser seguido, uma vez que só tem real efetividade
se o profissional idealizar objetivamente no âmbito político ideológico os princípios éticos
pensados por toda a profissão.

SAIBA MAIS

“O Código de Ética não é um livro de receitas, mas um parâmetro jurídico – embasa-


do por referencias teórico-críticas, filosóficas e políticas – que deve nortear a prática
profissional diante das situações concretas, com seus limites e possibilidades... Ele é
um recurso fundamental para a prática cotidiana especialmente porque os valores nele
contidos são históricos e criados a partir das necessidades, interesses e experiências
culturais dos sujeitos, que, muitas vezes, expressam contradições conflitos, etc. Logo
eu posso, e devo, lançar mão dele sempre, e sobretudo quando me encontrar diante de
uma tensão ou impasse entre valores éticos que orientam as práticas sociais” (CFESS,
2005, p. 68).

Para saber mais sobre o projeto profissional, o código de ética e os valores éticos, leia o texto: CFESS.
Ética, cotidiano e práxis profissionais. In: CFESS. Ética e Sociedade. Brasília, 2005.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 78


2 O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL

Olá, seja bem-vindo(a) a mais uma etapa de estudos. Está preparado(a)? Vamos
lá, vamos aproveitar nosso tempo e dar seguimento a mais um passo rumo à formação
profissional!
Já sabemos que o Serviço Social é uma profissão inserida na divisão sociotécnica
do trabalho, uma profissão ligada diretamente à elaboração e operacionalização das políti-
cas públicas, em que tais políticas dão vida aos direitos previstos na Constituição Federal
de 1988.
Neste primeiro momento nos dedicaremos a estudar sobre o Projeto Ético-Político
da Profissão. Mas você pode estar se perguntando: do que se trata esse projeto? Para que
ele existe e qual a influência na categoria profissional? Essas perguntas são muito comuns
e com base nelas iniciamos nossos estudos.
O projeto ético-político envolve interesses diversos, contidos em uma sociedade;
diz respeito a interesses particulares presentes em determinados grupos sociais (nesse
caso, os assistentes sociais), e não existem por acaso, independente da realidade histórica.
O Projeto Ético-Político é fruto do contexto em que se apresenta, por isso está vinculado à
sociedade e a seus anseios por transformações e melhorias.
O Projeto Ético Político do Serviço Social é um projeto profissional articulado com
o projeto societário de transformação social. Exige pensar a profissão no âmbito do conflito
de classes; e partindo das suas contradições e interesses fortalecer a consciência de classe

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 79


para alcançar uma sociedade justa, emancipada, democrática e livre, que garanta a divisão
da riqueza socialmente produzida.
O Projeto Ético-Político fornece a direção das ações a partir dos objetivos para os
quais foi elaborado por determinada categoria ou grupo social, com vistas ao favorecimento
de uma dada demanda. Por isso, ao ser elaborado com objetivos claros e direções quanto
à aplicação, o projeto também diz respeito ao compromisso que o profissional que assume
o Projeto Ético-Político deve ter.
O [Projeto Ético-Político] tem em seu núcleo o conhecimento do recebimento
da liberdade como valor ético central – a liberdade concebida historicamente,
como possibilidade de escolher entre alternativas concretas; daí um dos
compromissos com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos
indivíduos sociais. Consequentemente, o projeto profissional vincula-se a
um projeto societário que propõe a construção e uma nova ordem social,
sem dominação e/ou exploração de classe, etnia e gênero (NETTO, 1999, p.
104-105).

Falar de projeto, o que isso significa?


Significa que se baseia em ordenamento, uma certa sistematização (clara e objeti-
va) daquilo que se almeja alcançar. Por isso vemos vigentes (aqui, em específico ao serviço
social) diversos projetos éticos-políticos, porque devem ser fruto de uma consciência e
consenso coletivo da categoria profissional.
Quando falamos no termo ético, falamos na relação com a demanda, seus anseios
e perspectivas, que, mesmo individuais, estão claramente vinculados aos anseios e à pers-
pectiva do coletivo (societário), por isso o termo político.
Esse coletivo (societário) se relaciona e se articula com os demais projetos éticos
presentes na sociedade, daí o termo profissional, uma vez que cada projeto expressa a
particularidade das categorias profissionais.
O projeto ético-político do Serviço Social tem como núcleo o reconhecimento da
liberdade como valor central; liberdade essa concebida historicamente. Os componentes,
que materializam o projeto ético-político, são articulados em três dimensões:
1. A produção do conhecimento
2. A dimensão político-organizativa
3. A dimensão jurídico-política da profissão

A dimensão da produção do conhecimento se constitui pela reflexão do fazer profis-


sional apresentada pela dimensão investigativa; a dimensão político-organizativa, por sua
vez, se constitui pelas entidades representativas da profissão CRESS/CFESS, ABEPSS,
CAs e DAs e pela Executiva Nacional dos Estudantes do Serviço Social (ENESSO) e pres-

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 80


supõe um espaço democrático; todavia, a dimensão jurídico-política se constitui no aparato
jurídico formal da profissão, envolve a Lei nº 8.662/93 que regulamenta a profissão; o Código
de Ética; as Diretrizes Curriculares da profissão; a Constituição Federal de 1988, bem como
os demais instrumentos viabilizadores dos direitos via políticas públicas e sociais. Ainda
não deixando de citar: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA); Estatuto do Idoso;
Política Nacional do Idoso; Lei Maria da Penha; Lei Orgânica da Assistência Social; Lei
Orgânica da Saúde; Código Civil; Estatuto da Cidade; Código de Defesa do Consumidores;
Lei de Execução Penal, entre outros.
Ressaltamos, então, que o projeto ético-político representa e se articula em relação
ao posicionamento e ao compromisso social, que se materializa a partir do momento em
que se busca a construção coletiva em uma determinada direção social.
É importante, nesse momento da formação e a partir da proposta dessa disciplina,
retomar algumas reflexões já feitas em outras oportunidades, que servirão de base. Nesse
momento, reforçamos ainda a necessidade de se fazerem presentes as demais reflexões
propostas pelas outras disciplinas do curso, pois não podemos compreender o processo
formativo como se fosse construído de forma fragmentada, isolada ou independente, uma
vez que
A proposta básica para o projeto de formação profissional, a partir da qual foi
elaborada o projeto das diretrizes curriculares, analisa o serviço social como
uma das formas de especialização do trabalho coletivo, parte da divisão
sociotécnica do trabalho. Assim, o desvendamento de seu significado sócio-
-histórico implica analisá-lo no quadro das relações entre as classes sociais e
dessas com o Estado, o âmbito dos processos de produção e reprodução da
vida social (IAMAMOTO, 2007, p. 262).

Faz-se necessário a compreensão de que as disciplinas vistas ao longo do processo


de ensino aprendizagem (nesse caso, a Graduação) são complementares e inter-relacio-
nais, servindo para um maior entendimento da profissão:
O reconhecimento da questão social como objetivo de intervenção profissio-
nal (conforme as Diretrizes Curriculares da ABPESS), demanda uma atuação
profissional em uma perspectiva totalizante, baseada na identificação dos
determinantes sócio-econômicos e culturais das desigualdades sociais. A
intervenção orientada por esta perspectiva crítica pressupõe a assunção,
pelo(a) profissional, de um papel que aglutine: leitura crítica da realidade e
capacidade de identificação das condições materiais de vida, identificação
das respostas existentes no âmbito do Estado e da sociedade civil, reco-
nhecimento e fortalecimento dos espaços e formas de luta e organização
dos(as) trabalhadores(as) e defesa de seus direitos; formulação e construção
coletiva, em conjunto com os(as) trabalhadores(as), de estratégias políticas
e técnicas para modificação da realidade e formulação de formas de pressão
sobre o Estado, com vistas a garantir os recursos financeiros, materiais, téc-
nicos e humanos necessários à garantia e à ampliação dos direitos (CFESS/
CFP, 2011, p. 25-26).

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 81


O Serviço Social, enquanto profissão, encontra-se regulamentada pela Lei nº 8.662
de 07/06/1993 e está orientado pelo Código de Ética do Assistente Social – regulação
do Conselho Federal de Serviço Social nº 273/93 – e sabe-se que “[...] ao longo de seu
desenvolvimento, o serviço social foi querido como uma profissão fundamentalmente
interventiva, situada no âmbito da prestação de serviços sociais, previsto pelas políticas
públicas e privadas” (KOIKE et al., 1997, p. 79).

O projeto ético-político do serviço social atualmente supera as concepções corpo-


rativistas, individuais e passionais da profissão e assume os interesses da coletividade. No
exercício da profissão não agimos em nome próprio, nem dos sonhos particulares e das
aspirações pessoais, mas em nome de uma causa muito maior (coletiva). Assim, devemos
nos atentar para que nossas ações sejam justas e éticas, pois respondemos eticamente
perante todas as nossas ações a partir do momento em que atendemos sob o princípio da
equidade e uma vez que nossa profissão assume relevância pública em meio à sociedade.
Aí está a razão das existências do Código de Ética do Assistente Social.
[...] o Código de Ética propõe a ampliação da liberdade concebida como
autonomia, emancipação e pleno desenvolvimento dos indivíduos sociais; a
consolidação da democracia, enquanto socialização da política e da riqueza
socialmente produzida e a defesa da equidade e da justiça social enquanto
universalização do acesso a bens e serviços relativos aos programas e
políticas sociais e à sua gestão democrática (ABESS/CEDEPSS, 1996, p.
146-147).

Temos previstos enquanto categoria profissional o compromisso com a liberdade,


como um dos valores ético centrais. Esse compromisso implica em autonomia, emancipa-
ção e plena expansão dos indivíduos sociais, o que tem repercussões efetivas nas formas
de realização do trabalho profissional e nos rumos a ele atribuídos.
A partir do momento em que se assume publicamente que a ação profissional segue
na direção consciente da defesa dos direitos humanos, isso pressupõe que haverá recusa
imediata a todas as maneiras e formas de autoritarismo e despotismo que se manifestarem
na sociedade.
Sendo assim, “o voluntarismo que quer o serviço social atrelado às organizações
populares e qualquer preço como idealismo da bondade vem sendo questionado” (FALEI-
ROS, 2008, p. 28).
Quando falamos em categoria profissional, a prática profissional, direitos sociais,
enfim, nas mais diversas dimensões que abrangem o fazer profissional e o cotidiano do
assistente social, falamos necessariamente da atitude e da identidade desse profissional.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 82


Logo, o “[...] caráter ético do serviço social é dado de forma concreta pela atitude profissio-
nal que entendemos como predisposição para pensar, agir, sentir, atuar junto ao [usuário]”
(KISNERMAN, 1976, p. 71). Ao mesmo tempo que as ações profissionais estarão sempre
voltadas para defesa dos direitos sociais, em sua expressão, visando à manutenção e à
ampliação das conquistas do coletivo, já seguidas. Isso tudo implica ser um profissional
comprometido com a cidadania.
De acordo com o Código de Ética do Assistente Social de 1993, o serviço social
atua na perspectiva da homogeneização dos espaços para garantir o acesso aos direitos,
bem como o fortalecimento do acesso aos direitos como meio e não como fim. Além desse
perfil, necessitamos ampliar-construir uma consciência política; a dimensão ético-política
da profissão pode ser entendida como uma mediação necessária ao enfrentamento da bar-
bárie e como suporte à prática profissional, sendo defendida a formulação de estratégias
de reforço aos valores democráticos e das políticas públicas com corte efetivamente social.
De acordo com Paiva e Netto (2001, p.163),
Esse processo de ampliação da democracia e construção de um novo projeto
societário deflagra a mobilização em torno do debate e da criação de novos
valores éticos, o que, por sua vez intensifica esse processo. Os assistentes
sociais dessa forma, coerentes com o projeto profissional que vem sendo
construído, deverão se somar ao movimento de constituição de novos valores
éticos, fundamentados decisivamente na liberdade e na equidade.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 83


3 ÉTICA PROFISSIONAL, O QUE É?

Prezado(a) acadêmico(a), temos acompanhado em nosso país (e no mundo), uma


ampla crise ética, e neste contexto se faz oportuno também a reflexão acerca da ética
profissional. É importante dizermos que a ética profissional será comprometida se a ética
pessoal também não estiver de acordo.
A palavra ética é oriunda do grego ethos, que quer dizer: costumes, a condução da
vida; regras que regem o comportamento humano.
Numa linguagem bem simples podemos dizer que a ética é o estudo da moralidade
do agir humano, o estudo dos atos humanos frente à moral, o estudo da bondade ou mal-
dade dos atos humanos (FRANKE, 2007). A Ética não estabelece regras, mas propõe uma
reflexão sobre a ação humana, sobre sua retidão frente à ordem moral.
De acordo com Franke (2007, p. 3), quando falamos em ética podemos conceber
que, de maneira espontânea, ela gera:
• Questionamentos: A ética nos leva a refletir sobre as normas ou regras
de comportamento, nos leva a analisar princípios, valores que fundamen-
tam nossa obrigação na sociedade.
• Sistematização da reflexão: Encontrada em teorias ou escolas que tra-
tam da moral e da ética, ou o conjunto de normas de grupos específicos,
como é o caso dos códigos de ética profissional.
• Prática concreta ou a realização de valores que exige o processo de
deliberação, a decisão, a atitude subjacente e a ação propriamente dita.

Importante! Só haverá ética profissional efetiva se primeiramente houver uma


ética pessoal efetiva. A primeira não existe efetivamente sem a segunda.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 84


Logo, se faz necessária a pergunta: quem e quando podemos considerar como
um sujeito ético? Podemos considerar como sujeito ético todo aquele que se encontra em
uma situação que haja a necessidade de se tomar uma decisão. Ética implica em respon-
sabilidade!
E Ética Profissional pode ser definida como? “A reflexão sobre as exigências do
profissional em sua relação: com o cliente/usuário; com o público; com seus colegas; e com
sua corporação, com os demais profissionais” (DURAND, 2003, p. 85).
E ainda,
A ética profissional se objetiva como ação moral, através da prática profis-
sional, como normatização de deveres e valores, através do Código de Ética
Profissional, como teorização ética, através das filosofias e teorias que funda-
mentam sua intervenção e reflexão e como ação ético-política (BARROCO,
2009, p. 175).

A palavra exigência na citação anterior está relacionada ao Conjunto de direitos


e de obrigações expresso no Código de Ética de determinada profissão.
Logo, quando pensamos no conjunto de direitos e obrigações de cada profissão, e
que ele define a ética profissional, precisamos ter em mente algumas questões que devem
preceder a nossa prática profissional. Questionamentos, por exemplo, sobre o exercício da
profissão que escolhi, no nosso caso serviço social:
● No que as ações do meu exercício profissional consistem?
● A quem as ações do meu exercício profissional se destinam?
● Para que as ações do meu exercício profissional de destinam?

Tais questionamentos devem ser feitos antes da minha ação. Toda essa preparação
se inicia no processo de formação profissional, como estamos fazendo agora!
As leis de cada profissão são elaboradas com o objetivo de proteger os pro-
fissionais, as pessoas que dependem deles. Há, porém muitos aspectos não
previstos especificamente e que fazem parte do compromisso do profissional
com a ética, aquele que, independentemente de receber elogios, faz a coisa
certa (OLIVEIRA, 2012, p. 53).

Esse momento que estamos vivendo faz parte da sua formação profissional, e,
com certeza, as perguntas apresentadas fizeram parte do momento em que você estava
optando pelo curso de graduação e algo lhe chamou a atenção no momento da escolha.
O momento de escolha por uma profissão é optativo, ninguém é obrigado a escolher
esta ou aquela profissão. Contudo a partir do momento em que decido a profissão que
desejo seguir, o conjunto de deveres profissionais se torna obrigatório. A decisão pela
profissão é optativa, seu conjunto de deveres é obrigatório!

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 85


Pouquíssimas pessoas se interessam em saber no que consiste o conjunto de
deveres da profissão que lhe interessa, geralmente se têm contato com ele na disciplina de
Ética, ministrada ao longo do curso.
Por que falamos em ética ligada às profissões?
A ética é indispensável ao profissional, porque na ação humana “o fazer” e “o
agir” estão interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que
todo profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir se
refere à conduta do profissional, ao conjunto de atitudes que deve assumir no
desempenho de sua profissão (OLIVEIRA, 2012, p. 51).

E você, já teve contato com o Código de Ética do Assistente Social?


Quais características compõem a Ética Profissional? De acordo com Glock e
Gildin (2003), a ética profissional é composta pelas seguintes características: competência
técnica, aprimoramento constante, respeito às pessoas, confiabilidade, privacidade, tolerân-
cia, confiança, fidelidade, envolvimento, afetividade, correção da conduta, boas maneiras,
relações genuínas, responsabilidade e flexibilidade.
Ainda se valendo das palavras de Glock e Gildin (2003), vendo além das caracte-
rísticas da ética profissional, para que servem as leis de cada profissão? As leis de cada
profissão são elaboradas com o objetivo de proteger os profissionais, a categoria como
um todo e as pessoas que dependem daquele profissional. Mas há muitos aspectos não
previstos especificamente e que fazem parte do comprometimento do profissional em ser
eticamente correto, aquele que, independente de receber elogios, faz A COISA CERTA.
Quando começo a seguir o código de ética da minha profissão? Já no
processo de formação, quando vou estudando, conhecendo e tendo contato com a história
da profissão. O estágio é muito oportuno, pois é vivência, experiência e momento de pro-
blematizações, que permite conhecer o cotidiano profissional de maneira supervisionada e
orientada.
Geralmente, quando se é jovem, escolhe-se a carreira sem conhecer o conjunto
de deveres que está prestes a assumir ao tornar-se parte daquela categoria. Todo perío-
do de formação profissional, o aprendizado das competências e habilidades referentes à
prática específica numa determinada área, deve incluir a reflexão, desde antes do início dos
estágios práticos.
Você sabe por que, ao encerrar o processo de graduação (nível superior), o for-
mando faz um juramento?
O juramento geralmente é realizado durante a cerimônia de colação de grau,
significa que a pessoa adere e se compromete com aquela categoria profissional que, a

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 86


partir daquele instante, está apta a desempenhar, ela aceita que o conjunto de deveres e
obrigações daquela profissão é adequado, e está de acordo a respeitá-las.
O juramento caracteriza o aspecto moral da Ética Profissional. Veja a seguir o
juramento do Assistente Social:
Comprometo-me a exercer, com dignidade e respeito, a profissão de Assistente
Social, buscando ser criativo, humano, sensível e atento às questões sociais, fazendo
da escuta, da observação e da intervenção, hábeis instrumentos de trabalho. Compro-
meto-me a ter como parâmetro de minhas ações os valores da democracia, liberdade e
cidadania, fundamentos no direito de cada cidadão. Comprometo-me a trabalhar conforme
os princípios éticos da profissão, defendendo os direitos e a emancipação da população.
Comprometo-me a contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e
menos excludente.
E então, parou para pensar na relevância de se assumir uma profissão? Consegue
perceber o arcabouço de responsabilidades que nossa profissão carrega? Não somente
o Serviço Social, mas todas as profissões. Está disposto(a) a continuar? Espero que sim!
Então, vamos adiante.
Depois de toda essa explanação acerca de ética, moral, ética profissional, deveres,
direitos etc., você pode estar até se perguntando: mas eu vou aprender tudo sobre ética
nesta disciplina? É aqui que irão ensinar me a ser um(a) profissional ético(a)? Todas
as referências que necessito irei aprender agora?
Primeiramente gostaria de salientar que nenhum de nós é uma folha em branco,
isso significa que você já traz consigo uma história de vida que influenciará no seu exercício
profissional, traz consigo princípios e valores próprios e, de acordo com Barroco (2009, p.
177),
A formação profissional, onde se adquire um dado conhecimento capaz de
fundamentar as escolhas éticas, não é o único referencial profissional.
Somam-se a ela – ou a ela se contrapõe – às visões de mundo incorporadas
socialmente pela educação formal e informal, pelos meios de comunicação,
pelas religiões, pelo senso comum. É o conjunto de tais manifestações cul-
turais e conhecimentos que forma os hábitos e costumes que a educação
formal pode consolidar ou não.

Ainda em consonância com a reflexão, contamos com a contribuição de Maria Lucia


Silva Barroco (1996, p. 216-217), que diz:
A ética profissional recebe determinações que antecedem a escolha pela pro-
fissão e inclusive a influenciam, uma vez que fazem parte de uma socialização
primária que tende a reproduzir determinadas configurações éticas dominan-
tes e se repõem cotidianamente através de relações sociais mais amplas. A
objetivação da sociabilidade através da participação cívica, pode reforçar ou
se contrapor a valores adquiridos na socialização primária; o mesmo ocorre

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 87


com a inserção profissional que coloca escolhas e compromissos éticos: a
necessidade de se posicionar em face do significado e das implicações da
ação profissional e responsabilidade diante das escolhas. Assim, a adesão a
um determinado projeto profissional implica em decisões de valor inseridas
na totalidade dos papéis e atividades que legitima a relação entre o indivíduo
e a sociedade; eles podem ou não estar em concordância. Se não estão,
instituem conflitos éticos, onde as normas e princípios podem ser reavalia-
dos, negados ou reafirmados, o que revela as escolhas, o compromisso e a
responsabilidade como categorias éticas inelimináveis da profissão, mesmo
que, em determinadas circunstâncias, passam a não ser conscientes para
parte dos agentes.

O caráter ético do Serviço Social é dado de forma concreta pela atitude profissio-
nal que entendemos como predisposição para pensar, sentir e atuar junto ao usuário.
O Serviço Social é uma profissão que, inserida na divisão social e técnica do tra-
balho, regulamentada em Lei e fundamentada em seu Código de Ética (1993), defende a
equidade e a justiça social.
Cada profissional, ao longo do seu exercício profissional, vai construindo a sua
identidade profissional. Assim também acontece com a categoria profissional, com o passar
dos anos e o seu amadurecimento o Serviço Social também foi construindo a sua identi-
dade, e isso se reflete no seu Código de Ética. A categoria profissional se configura num
grupo, que passa a existir a partir das relações estabelecidas entre aqueles que o compõe.
O processo de graduação, pelo qual você está passando agora, lhe possibilita a
assimilação de um processo interno da construção da representatividade dessa identidade
profissional, que vai ganhando mais força com o início do estágio.
Esta identidade pressupõe o fazer, as práticas de serviço social que realiza,
mas é a aceitação da identidade que força comportamentos, ações compatí-
veis com a profissão. É a aceitação que leva o assumir a postura ética exigida
pela profissão.
Por isto a identidade precisa ser continuamente resposta, que significa “agir
como”. Comparecer perante o outro como portador de um papel, mas como
representante de si e de um grupo profissional (FRANKE, 2007, p. 9).

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 88


4 CÓDIGO DE ÉTICA DE 1993

A construção do Código de Ética Profissional de 1993 é resultado do processo


de revisão do Código de Ética Profissional de 1986 que é considerado um marco para a
categoria profissional no que tange ao posicionamento da categoria profissional frente às
contradições da relação entre capital/trabalho aliando-se à classe trabalhadora na constru-
ção de um novo projeto societário e, consequentemente, de um novo projeto ético político.
Foi necessário realizar a revisão do código de 1986, tendo em vista que o contexto
social, político e econômico, bem como do desenvolvimento teórico crítico da categoria
profissional estavam em constante efervescência, exigindo que algumas fragilidades sejam
corrigidas para garantir que o código alcançasse o dever ser do fazer profissional. Segundo
Paiva e Salles (2001, p. 176-177), as principais limitações do código de ética de 1986 que
precisaram ser revisadas no Código de Ética de 1993 envolvem:
[...] No código de ética de 1986, havia, pois, um privilégio das instruções teó-
rico metodológicas de como conduzir a prática profissional: dever-se-ia,
por exemplo priorizar o trabalho com grupos, em equipes, de forma coletiva.
Tinha – se quase um como fazer, e não do que se deve ou não se deve fazer
frente aos compromissos assumidos
[...] Tratava – se de um documento muito datado, na medida em que
possuía um forte traço conjuntural. Este dado significa que, ao descolar,
de certa forma, a atenção da totalidade da prática profissional – em razão
daquele contexto de profundas esperanças democráticas, esse Código
acabou perdendo em eficácia, porque não considerou a singularidade
da intervenção profissional
[...] Ele vai apresentar uma leitura marcadamente idealista e voluntarista
no que tange ao potencial político da profissão. Isto quer dizer que, se foi uma
conquista descobrir e atentar para dimensão política na prática, por outro
houve um excesso de ênfase no aspecto político e também de ideologi-
zação no Código de Ética.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 89


Neste sentido, o Código de Ética de 1993 buscou corrigir essas questões, garan-
tindo mais eficácia e legitimidade ao código de ética frente aos desafios colocados pela
realidade social. É importante salientar que o Código de 1986 foi uma importante conquista
para a categoria profissional, uma vez que impulsionou a denúncia e a crítica ao processo
de exploração capitalista. Contudo, as questões teórico-práticas e ético-políticas necessi-
tavam de bases mais sólidas para que pudessem ser exercidas pelos assistentes sociais.
O Código de 1993 aprimora, assim, a dimensão normativa e punitiva, preservando
sua condição indiscutível. De instrumento político e educativo, na medida em que os coman-
dos imperativos, ali inscritos, são dotados de capacidade de orientar a ação profissional, de
impedir que violações ocorram por mero desconhecimento ou pela dificuldade interpretativa
de normas em questão (CFESS, 2005).

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 90


4.1 Os 11 Princípios Fundamentais do Código de Ética Profissional do Assistente
Social de 1993

A construção dos 11 princípios fundamentais, apresentam os valores éticos e a


necessidade de alinhar o Projeto Profissional e o Projeto Ético Político do Serviço Social
com as demandas emergentes da classe trabalhadora, na luta pela democracia e direitos
sociais, os quais exigem a defesa da liberdade, equidade, justiça social e defesa intransi-
gente dos direitos humanos e sociais.
Os valores éticos expressam o desejo pela emancipação dos sujeitos sociais na sua
complexidade. É por essas questões que temos um projeto ético político e que devemos
materializá-lo na prática profissional através de uma intervenção consciente e pautada na
análise crítica ancorada numa teoria que dê conta de explicar o movimento do real. Pode
parecer utópico alcançar uma sociedade para além do capital, mas a história nos dá provas
constantes de que a classe que luta é a classe que tem o futuro nas mãos.
A partir dos eixos estruturadores: Projetos Societários, Projetos Profissionais e
Projeto Ético-Político podemos compreender os aspectos históricos, teórico-metodológi-
cos e práticos que levaram a categoria profissional a construir o seu projeto ético-político
articulado com os interesses da classe trabalhadora. Nesse contexto, os 11 princípios são,
de maneira metafórica, a medula cervical que sustenta a estrutura jurídica legal do Código
de Ética Profissional, sem eles o Código de Ética seria apenas um código de conduta

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 91


direcionado para a ação técnica desconectada do movimento da realidade, o que eliminaria
a dimensão política e transformadora das ações profissionais do assistente social.
Agora que retomamos aos eixos estruturadores, podemos discutir os 11 princípios
fundamentais.
Caro(a) aluno(a), vamos iniciar a análise dos 11 princípios fundamentais do Código
de Ética Profissional do Assistente Social de 1993. Para fins didáticos, vamos apresentá-los
separadamente, mas é preciso ter consciência e clareza de que a reflexão ética que en-
volve os princípios não deve ser realizada de maneira isolada e fragmentada. Ao contrário,
deve considerar que os princípios são unidades que se articulam e se relacionam numa
totalidade.
Veremos a partir daqui, com mais profundidade, os 11 princípios fundamentais do
Código de Ética Profissional do Assistente Social:

1 Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a


ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais:
Como o próprio princípio afirma, a liberdade de ser compreendida como valor ético
central, isso quer dizer que o assistente social deve tomar a liberdade como princípio fun-
dante do exercício profissional e dos desafios que são colocados no cotidiano de trabalho.
Por isso, é preciso que o conceito de liberdade proposto nesse princípio esteja
fundamentado na perspectiva teórico-metodológica materialista histórica que coloca a
liberdade como defesa da liberdade de todos em detrimento do conceito individualista de
liberdade defendido pelo projeto societário capitalista. A ideia liberal de liberdade tem sido
aprofundada pelo movimento neoliberal que prega a liberdade individual, o individualismo,
a concorrência e a fragmentação da consciência coletiva.
O conceito de liberdade que deve ser reafirmado no exercício profissional ético,
competente e crítico é apresentado por Paiva e Salles (2001, p.182):
O conceito de liberdade que faz referência o Código de Ética dos Assistentes
Sociais exige a sua própria redefinição, apontando para uma nova direção
social, que tenha o indivíduo como fonte de valor, mas dentro da perspectiva
de que a plena realização da liberdade de cada um, requer a plena realização
de todos.

Quando tomamos a direção social da liberdade defendida pelo Código de Ética


como referência para o exercício profissional, verificamos que os valores socialmente es-
tabelecidos pela ordem social capitalista impõem ao assistente social o desafio de romper
com a alienação e o senso comum, que reproduzem o discurso de que todos são livres para
alcançar seus objetivos.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 92


Numa sociedade desigual e excludente, como é a realidade brasileira, esse ideal
de liberdade defendido pelo capital é barrado quando crianças não têm acesso à educação,
saúde, lazer e segurança; quando o desemprego e a pobreza impedem que as famílias
tenham uma vida digna, quando a concorrência, a competição e a escassez garantem a
liberdade de fazer escolhas apenas para alguns. Podemos exemplificar a diferença entre a
liberdade individual e a defesa pela liberdade enquanto construção coletiva com uma fala
muito conhecida de todos, a saber:
A liberdade individual afirma que o direito de um indivíduo termina quando começa
o do outro. A liberdade coletiva rompe com essa perspectiva ao defender que o direito de
um sujeito termina quando termina o direito do outro. Ou seja, como ser livre para comer,
viver e escolher, se o outro, que é sujeito e igual a mim não tem as mesmas possibilidades?
Por isso, a liberdade deve ser tomada como valor ético central na medida que
preconiza a defesa da liberdade coletiva dos sujeitos, para isso é preciso que a autonomia,
emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais também sejam atendidas. Não é
possível garantir liberdade sem contemplar a autonomia, que, por sua vez, leva à emanci-
pação e ao pleno desenvolvimento dos sujeitos na sua complexidade.
A dimensão ética e política que envolve os valores de liberdade, autonomia e
emancipação dos sujeitos é repleta de contradições e desafios e, muitas vezes, podem
parecer impossíveis de serem alcançados numa realidade excludente, de políticas sociais
precarizadas, fragmentadas e paliativas.
Mas é de suma importância que esses desafios sejam percebidos como meios para
construir possibilidades de enfrentamento. A pobreza, o desemprego, a falta de recursos
públicos e de políticas sociais efetivas, ao mesmo tempo que se colocam como obstáculos
para a garantia da liberdade dos sujeitos, torna-se o fundamento para que os sujeitos re-
sistam e enfrentem esses problemas coletivamente. É por isso que a defesa da liberdade
pressupõe a autonomia, pois mesmo que os sujeitos sejam explorados e tenham seus
direitos violados, o assistente social pode colocar-se como instrumento de conscientização
dos sujeitos a partir de suas próprias experiências.
Em outras palavras, a liberdade não é alcançada apenas como a conquista de
questões materiais e objetivas, do mesmo modo que autonomia não se reduz a possibili-
dade do sujeito ter renda suficiente para não depender de benefícios e programas sociais.
Liberdade e autonomia pressupõem a construção da consciência coletiva dos sujeitos a
fim de garantir que estes façam escolhas conscientes sobre si e transformem suas vidas.
Segundo CFESS (2005, p. 48),

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 93


A liberdade como capacidade humana é, portanto, o fundamento da ética.
Assim, agir eticamente, em seu sentido mais profundo é agir como liberdade,
é poder escolher conscientemente entre alternativas, é ter condições objeti-
vas para criar alternativas e escolhas. Por sua importância na vida humana, a
liberdade é também um valor, algo que valoramos positivamente, de acordo
com as possibilidades de cada momento histórico. Por tudo isso, podemos
perceber que a liberdade é também uma questão ética das mais importantes,
pois nem todos os indivíduos têm condições de escolher e de criar novas
alternativas de escolha.

Ter liberdade é fazer escolhas conscientes, é deixar de ser mero receptor de políti-
cas e serviços para se tornar sujeito do processo. Desse modo, os sujeitos passam a agir
eticamente e tem a possibilidade de questionar questões que até então eram tidas como
naturais e definitivas. Pobreza, violência, fome e desemprego passam a ser objetos de
análise crítica e reflexiva dos sujeitos que sofrem cotidianamente com essas mazelas.
Deste modo, a liberdade é central para a superação dos desafios cotidianos e deve
ser exercida através do respeito pelos usuários, suas angústias, necessidades e potencia-
lidades; do posicionamento crítico e munido de referencial teórico prático, para impedir que
o exercício profissional se frustre com a falta de recursos públicos, descaso dos agentes
públicos, falta de estrutura de trabalho e de equipe técnica que acabam limitando o assis-
tente social e tornando a prática profissional pontual e imediatista. Conforme Paiva e Salles
(2001, p. 183),
O assistente social comprometido com a construção e a difusão da liberdade
não sucumbe, porém a este “vão combate”, mas faz da necessidade o campo
de criação e do sonho da liberdade como realidade. Isto significa que o pro-
fissional aposta e é capaz de empreender sua ação como uma unidade entre
a autonomia e direção.

A liberdade como construção coletiva pode, então, ser considerada um desafio para
o alcance do exercício profissional, mas também é uma possibilidade e deve ser reconheci-
da como valor ético central do assistente social ético, político e competente no atendimento
às demandas da classe trabalhadora e de questionamento da ordem social vigente.
E para finalizar este tópico trago a reflexão a seguir:
[...] A emancipação humana refere-se a plena expansão dos indivíduos so-
ciais, o que requer autonomia e liberdade. Isto é, a emancipação humana
está relacionada à total superação da propriedade privada e de processos de
alienação e de dominação exploração a que estão submetidos os indivíduos
da sociedade burguesa [...] a emancipação humana só se realiza plenamente
com a liquidação do capitalismo. Entretanto, a antecipação e a projeção da
realização da emancipação humana devem se constituir no norte a balizar as
lutas sociais no presente (VINAGRE, 2011, p.111)

Vamos partir para o segundo ponto?

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 94


2 Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo:
A defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo
segue o mesmo direcionamento ético político e teórico metodológico do princípio da liber-
dade, ou seja, para que o respeito às liberdades individuais seja garantido é preciso que a
liberdade coletiva seja uma realidade a ser alcançada. Neste sentido, todos os cidadãos,
independente de raça, etnia, gênero, orientação sexual e classe social, têm dignidade e
deve ser respeitada em todas as suas circunstâncias.
Do ponto de vista do direito, os direitos humanos seguem documentos históricos
internacionais, como a Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado, de 1918,
e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Essas declarações precisam
ser analisadas a partir do contexto histórico que foram criadas, que envolvem o desenvol-
vimento do modo de produção capitalista, do processo de exploração e agravamento da
desigualdade e de desumanização da dignidade da pessoa humana, da violência brutal da
segunda guerra mundial e dos interesses econômicos da guerra fria.
Mas, de modo geral, essas declarações representam a defesa jurídica de que todos
os cidadãos têm direitos sociais, civis, políticos, econômicos e culturais. Porém é de suma
importância destacar que o assistente social ancorado numa teoria social crítica precisa
considerar mais uma vez o contexto histórico e o conflito de interesses e contradições que
envolvem as declarações para compreender qual é sua real finalidade. Deste modo, a
finalidade dessas declarações prioriza a garantia de direitos a partir da perspectiva liberal,
a qual, segundo Mészáros (2003 , apud VINAGRE, 2011, p. 115),
Trata os direitos humanos nos postulados legalistas – formais. Esta visão
ancorada na teoria liberal, leva à ficção legal da igualdade, ao nível de direi-
tos concebidos abstratamente, em que um contexto que contraditoriamente
inviabiliza os direitos humanos que defende estabelecer.

Em outras palavras, a visão liberal de direitos humanos preconizada nessas de-


clarações cria a ilusão de que todos são iguais perante a lei, possuidores de direitos e
deveres. Mas quando transferimos essa concepção para a prática social verificamos que as
contradições e desigualdades sociais e econômicos tornam inviáveis a efetiva defesa dos
direitos humanos para todos os cidadãos. De acordo com Vinagre (2011, p. 115),
Para Marx, a possibilidade de superação dessa ‘contradição insolúvel’ se
coloca no interior da prática social, na luta pela extinção do direito burguês
à perspectiva exclusiva. Fora deste horizonte, os direitos de liberdade e
todos os demais direitos humanos se tornam irrealizáveis plenamente. Por
isso nada se resolve apenas pela proclamação dos direitos... a conquista de
direitos proclamados legalmente só ganha significado estratégico na medida
em que se consegue introduzir profundamente a luta por direitos no corpo da
sociedade civil.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 95


Diante da afirmação de Vinagre (2011), podemos fazer duas considerações im-
portantes para compreender de que forma podemos situar a atuação ética e política do
assistente social conforme esse princípio.
A primeira é que na sociedade capitalista os direitos são acessados por aqueles
chamados “cidadãos de bem”, que, por sua vez, estão diretamente relacionados ao direito
de propriedade privada. Consideramos também que a ideologia neoliberal ao construir
uma nova sociabilidade pautada na defesa do individualismo, concorrência e competição
fragmenta a consciência coletiva e desumaniza os sujeitos transformando-os em mercado-
ria. Na prática essa consciência pode ser visualizada no preconceito entre ricos e pobres,
entre nordestinos e sulistas, entre campo e cidade, entre periferia e centro. Cada vez mais
estamos nos isolando nos limites da nossa consciência burguesa e nos esquecendo de que
todos somos merecedores de ter direitos e de ter uma vida digna.
A segunda questão exige lutar e questionar o autoritarismo em todas as suas
formas, pois não é possível construir uma sociedade livre, autônoma e emancipada com
a prática coercitiva e violenta do Estado e do Capital, com a tortura e a opressão, com a
consciência preconceituosa e ignorante que não respeita a individualidade dos sujeitos.
Essa individualidade deve mostrar que pessoas são diferentes e carregam histórias, famí-
lias, conhecimento e são seres humanos.
Diante dessas duas questões é que o assistente social deve lutar na defesa dos
direitos humanos e na recusa do arbítrio e do autoritarismo, principalmente aliando às
minorias, que sofrem de maneira mais violenta e brutal essa realidade. Negros, mulheres,
crianças, deficientes, adolescentes em conflito com a lei e homossexuais. Defender e res-
peitar esses sujeitos significa construir uma sociedade que respeita a individualidade dos
sujeitos e, ao mesmo tempo, luta para romper com a visão liberal de igualdade que protege
apenas aqueles que são valorizados e respeitados pelo que tem e não pelo que são.
Com a citação a seguir encerramos nosso segundo tópico de estudo:
Os valores e princípios ético-políticos radicalmente humanos, que iluminaram
as trilhas percorridas pelos assistentes sociais nas últimas décadas, sofrem
hoje um forte embate com a idolatria da moeda, o fetiche do mercado e do
consumo, o individualismo possessivo, a lógica contábil e financeira que se
impõe e sobrepõe às necessidades e direitos humanos e sociais (IAMAMO-
TO, 1999, apud CFESS, 2005, p. 60).

Vamos agora para nosso terceiro ponto?

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 96


3 Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda
sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes
trabalhadoras:
Precisamos retomar que todos os princípios são articulados entre si e que juntos
representam os pilares que são legitimidade ética e política para o código de ética profissio-
nal de 1993. Por isso, o princípio da cidadania corresponde ao princípio da liberdade e da
defesa dos direitos humanos. Isso quer dizer que não é possível garantir um princípio sem
levar em consideração a finalidade e o direcionamento teórico metodológico que construí-
ram os outros princípios já analisados.
Vamos iniciar a análise desse princípio realizando a seguinte pergunta: o que é ser
Cidadão?
Se você fosse responder essa pergunta será que teria a resposta na ponta da
língua? Talvez responderia que ser cidadão é ter direitos e deveres, ter certidão de nasci-
mento, RG e CPF, pagar seus impostos, não cometer crimes, não dever nada a ninguém,
participar das eleições a cada quatro anos, cumprir suas obrigações de filho, filha, pai, mãe,
tio ou avó, trabalhar... Pode ser que sejam essas as primeiras impressões que tomam sua
consciência para responder essa pergunta.
O que não é errado, porque sempre partimos da aparência, daquilo que vivemos
e aprendemos na nossa relação com os sujeitos para responder aos questionamentos de
forma imediata. Mas como futuro(a) assistente social, que tem clareza de que a concepção
ético-política e teórico-metodológica explica que vivemos numa realidade excludente e
desigual e que para alcançar a liberdade, autonomia e emancipação é necessário questio-
narmos a realidade vigente, será que ser cidadão continuaria a ser respondido com essas
primeiras impressões? Acreditamos que não.
O princípio da cidadania, como todos os outros, carrega em si interesses de classe
e disputa entre projetos societários antagônicos. Deste modo, a defesa da cidadania numa
realidade capitalista não é a mesma cidadania defendida pela classe trabalhadora. Sabe-
mos que do ponto de vista jurídico formal a cidadania envolve os direitos civis, políticos e
sociais, e todo sujeito é considerado cidadão – perante a lei, porque tem direito a esses
direitos.
Mas o projeto societário burguês reconhece esses direitos na medida que os ci-
dadãos têm capacidade e liberdade para reivindicá-los, o que não oferece a possibilidade
real e efetiva de torná-los plenos. Esses direitos só serão plenos quando todos os cidadãos
tiverem a possibilidade de praticá-los plenamente. De acordo com Paiva e Salles (2001, p.
187),

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 97


Comprometermo-nos com a cidadania implica aprendê-la na sua real sig-
nificação, o que seguramente exige a ultrapassagem da orientação civil e
política imposta pelo pensamento liberal, e, como tal, a superação dos
limites engendrados pela reprodução das relações sociais no capitalismo. A
cidadania, de acordo com a nova acepção ético-política proposta, consiste
na universalização dos direitos sociais, civis e políticos, pré-requisitos estes
fundamentais a sua realização.

A defesa pela ampliação da cidadania se coloca na prática profissional como um


desafio a ser alcançado, principalmente pelo processo de precarização das políticas sociais,
pela alienação e fragmentação das políticas e serviços públicos em todas as suas áreas.
Contudo, esse desafio encontra possibilidades na medida que o profissional se apropria do
seu espaço de trabalho, dos recursos e equipamentos públicos e os coloca a serviço dos in-
teresses e necessidades REAIS dos sujeitos que os demandam. Isso significa romper com
as respostas imediatas que são dadas a problemas emergenciais e construir alternativas de
enfrentamento à violação dos direitos civis, sociais e políticos a partir da própria população.
Desse modo, a concepção de cidadania ultrapassa a visão do senso comum, que
o coloca como um indivíduo que tem direitos e deveres, mas como sujeito coletivo, que
precisa participar ativamente do desenvolvimento de políticas públicas, participa dos espa-
ços de deliberação e participação coletiva, tornando-se protagonista da sua família, bairro,
comunidade e município.
É importante salientar que participação não deve ser confundida com
responsabilização. Muitas vezes ouvimos que a população tem culpa pela corrupção
porque não sabe votar ou porque não conhece os seus direitos; que se corrompe pela troca
de favores e com o jeitinho brasileiro para conseguir agilizar uma consulta ou por conseguir
uma vaga na creche do bairro. Essa perspectiva é comumente defendida por aqueles que
querem manter a sociedade da forma como está, o que além de não resolver o problema
desconsidera as múltiplas determinações que envolvem a alienação dos sujeitos.
A plena realização da cidadania se identifica, pois, com o projeto societário
com o qual estamos comprometidos. Daí, por que não podemos nos restringir
à referência de cidadania posta pelos parâmetros de ordem civil e política
liberal, que é aquela que se contenta com um limite mínimo (precaríssimo)
para a satisfação das necessidades básicas dos indivíduos, principalmente no
que tange aos trabalhadores. Os assistentes sociais não têm que se orientar
por esse limite, e, sim, lutar para que o nível de possibilidade de atendimento
das necessidades dos trabalhadores e dos usuários do serviço social seja
amplo, ambicionado a contemplação integral dos direitos sociais, e não
aquela cidadania que se esgota nas cestas básicas, na entrega de leite, ou
simplesmente não vale. Não que esses benefícios não sejam considerados
importantes. Temos, inclusive, como categoria profissional, protagonizado
toda uma luta e defesa pela assistência social como política pública, porém
não a pleiteamos descontextualizada das demais políticas sociais (PAIVA;
SALLES, 2001, p. 187).

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 98


A concepção de cidadania deve partir de uma perspectiva ampliada, que exige
que o assistente social compreenda os interesses e contradições em disputa e pratique a
cidadania através do exercício ético e político no cotidiano de trabalho, tornando os sujeitos
participantes e protagonistas de suas vidas para exigir do Estado que seus direitos sejam
garantidos de maneira plena pela articulação entre os direitos sociais, civis e políticos.

4 Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação


política e da riqueza socialmente produzida:
Como o próprio princípio já afirma, a democracia defendida pelo projeto ético polí-
tico do Serviço Social vai além do conceito democrático de participação e de liberdade de
expressão e de participação política, mas requer a divisão da riqueza socialmente produzi-
da. Contudo, o que devemos entender por socialização da riqueza? Bom, vamos lá!
Sabemos que o modo de produção capitalista se desenvolve pelo processo de
exploração de uma classe sobre a outra, dos que detêm os meios de produção e dos
sujeitos que vendem a sua mercadoria – a força de trabalho. Assim, o capitalista acumula
riqueza e expropria do trabalhador a sua força de trabalho. Entretanto nesse processo não
é apenas a força de trabalho dos trabalhadores que é explorada, mas tudo que é construído
na relação do sujeito com o seu trabalho, pois o trabalho é coletivo e, portanto, social.
Na medida que os possuidores dos meios de produção – os capitalistas – expropriam
do trabalhador a sua força de trabalho e a mais valia, promovendo o processo de alienação
e de exploração, o capitalismo toma posse privada de uma riqueza social que foi produzida
através do trabalho coletivo (social). Isso quer dizer que, no modo de produção capitalista,
a riqueza socialmente produzida por intermédio do trabalho não é dividida igualmente, mas
é apropriada por uma determinada classe social – a burguesia.
Nesse processo de apropriação privada da riqueza socialmente produzida não
temos apenas a desigualdade econômica, mas a apropriação da educação, da cultura,
da arte, da política, do lazer... temos, de modo geral, a apropriação de bens que deveriam
ser de todos. Por isso, o princípio da democracia que está presente no Serviço Social se
relaciona diretamente com a defesa da participação e do acesso dos cidadãos aos bens
produzidos socialmente.
Assim, uma sociedade democrática não é apenas a que respeita a livre expressão,
o voto e as decisões coletivas, mas é aquela que socializa o conhecimento, a cultura, a arte,
a literatura, a informação, a transparência, a saúde e o trabalho. De acordo com Paiva e
Salles (2001, p. 188),

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 99


Para além da democracia política, consentida e tolerada pela ordem liberal
burguesa, a democracia que queremos reclama igualdade de acesso e
oportunidades para que todos os indivíduos tenham direito a um trabalho e
existência dignos, a condições de moradia, saúde, educação, lazer e cultura.
Esse tipo de democracia, todavia, não cabe dentro dos objetivos e limites
da sociedade burguesa, porque tal conteúdo social contraria o núcleo de
relações fundantes da acumulação capitalista, a qual se estrutura a partir da
exploração de uma classe sobre a outra.

Vivemos numa sociedade que tem priorizado a concentração de bens e riquezas,


sujeitando os trabalhadores a condições precárias de vida, de educação e saúde; que
enxerga os pobres como sujeitos inferiores, que não tem conhecimento, instrução e, por
isso, incapazes de decidir por si sós. Dessa forma, devem ser submetidos aos ditames
neoliberais e governamentais, de políticas sociais decididas de cima para baixo, pois as
classes “menos favorecidas” não têm condições de saber o que é melhor para suas vidas.
Por isso são tutelados e controlados pelo Estado e pelo Capital como massa de manobra
política em tempos de eleição.
Devemos ter clareza que o princípio da democracia não corrobora com os ideais de
democracia difundidos pelo Estado neoliberal com o forte apoio dos veículos de mídia. Em
detrimento desse conceito liberal, a democracia está diretamente articulada com os princí-
pios de cidadania e de liberdade, devendo ultrapassar a ideia de que todos são cidadãos
nessa realidade neoliberal. São cidadãos apenas quando convém ao Estado ouvi-los para
criar alternativas de controle e manutenção de suas necessidades nos limites do capital.
Por isso, o assistente social que age democraticamente respeita a identidade dos
sujeitos, aceita ouvi-los e trabalha em unidade, em colaboração com as suas reais neces-
sidades, não decide nada sozinho, mas prioriza as decisões coletivas. Segundo Paiva e
Salles (2001, p. 190),
Com apoio de recursos críticos e criativos, o Serviço Social pode investir
numa tendência de autodesenvolvimento dos indivíduos sociais, capaz de
conferir nova direção social às suas atividades – de planejamento, formu-
lação e implementação das políticas sociais – incluindo aquelas partilhadas
com outros atores.

Segundo Paiva e Salles (2001), o assistente social torna-se instrumento de mobi-


lização e de organização coletiva desses sujeitos, atuando nos mais variados campos de
trabalho – educação, saúde, assistência social e previdência –, buscando agir de maneira
transparente e coerente com os interesses dos usuários. Deste modo, supera os desafios
profissionais e busca alcançar o princípio democrático na prática cotidiana.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 100


5 Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalida-
de de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem
como sua gestão democrática:
Sobre esse princípio, devemos chamar a atenção para o conceito de equidade e
justiça social. A equidade entende que para se garantir a igualdade de direitos é preciso
garantir o acesso conforme as necessidades dos sujeitos. Por exemplo, para garantir igual-
dade no acesso a um determinado prédio, precisa haver escadas e rampas para atender
às necessidades de pessoas com e sem deficiência. No caso das políticas sociais, esse
princípio deve respeitar as peculiaridades dos sujeitos para garantir o acesso igualitário aos
programas e políticas.
A igualdade, portanto, deve ultrapassar a ideia liberal de que todos são iguais
perante a lei, mas desiguais econômica e socialmente, e torná-los iguais no acesso aos
direitos sociais, civis e políticos. Isso exige o desenvolvimento de programas e políticas
sociais que trabalhem de maneira integrada e busquem superar as desigualdades histo-
ricamente construídas pelo modo de produção capitalista. Neste sentido, as políticas não
podem confundir equidade com privilégios, mas deve priorizar a população e os sujeitos
que sofrem mais violentamente com o processo de exploração capitalista. Essa questão
levanta debates quanto as cotas raciais, os programas de transferência de renda e as
vagas destinadas às pessoas com deficiência e os programas de inclusão social.
Esses temas que sempre geram debate no interior da categoria e da sociedade
como um todo expressam a visão individualista e neoliberal de quem acredita que todos
devem ter o mesmo direito à igualdade, mas desconsidera a desigualdade criada pelo pró-
prio processo de acumulação, que, por sua vez, impulsiona visões preconceituosas perante
problemas sociais, que são coletivos.
Por outro lado, a perspectiva que está articulada com o projeto ético político, que
entende a equidade e a igualdade enquanto eixos estruturantes de práticas que buscam
superar a dívida histórica com essas populações, a fim de garantir a igualdade de oportu-
nidades. Essa perspectiva não secundariza as necessidades de todos os cidadãos, uma
vez que todos sofremos com a desigualdade, todos pagamos altos impostos e recebemos
péssimos serviços públicos.
É necessário insistir na questão da universalidade, porque os assistentes
sociais precisam fortalecer cada vez mais, junto aos usuários, o entendimento
de que eles têm direito ao franco trânsito e alcance em termos dos programas
e das lutas políticas enquanto primeira forma de viabilizar a distribuição de
riquezas produzidas no seio da sociedade (PAIVA; SALLES, 2001, p. 191).

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 101


A equidade e a igualdade pressupõem a superação de todas as condições de
exploração e a garantia do acesso de todos os cidadãos a seus direitos, respeitando as
peculiaridades e necessidades de todos. Por isso o assistente social deve compreender
quem são os sujeitos, como vivem, o que sentem, que necessidades passam, quais suas
angústias e problemas, a fim de garantir a cada cidadão o seu direito, sem excluir a dimen-
são coletiva e universal da igualdade.
Aliada à equidade, temos a defesa da justiça social que pressupõe o acesso dos
cidadãos ao direito que é deles por direito. Pode parecer redundante, mas a conquista
por direitos sociais foi um processo árduo e moroso. No caso brasileiro, tivemos o reco-
nhecimento oficial de que é dever do Estado e direito de todos a saúde, educação, as-
sistência social, previdência, habitação e outros na Constituição Federal de 1988. A partir
daí travamos a luta constante em busca de justiça social, reivindicando que tenhamos, de
fato, saúde pública e universal de qualidade, acesso e permanência na educação pública,
assistência social, trabalho e previdência. Lutar por justiça social faz parte do cotidiano do
assistente social e deve ser imperativo para que o projeto ético político caminhe a cada dia
rumo a sua concretização.

SAIBA MAIS
Democracia e Serviço Social

A entrevista coletiva sobre Democracia e Serviço Social foi realizada com profissionais
da área, protagonistas do movimento mudancista da profissão, no âmbito da organiza-
ção política, da formação profissional e do exercício profissional, nas décadas de 1970
e 1980. Os eixos abordados centraram-se na contribuição dos assistentes sociais nas
lutas pela redemocratização da sociedade civil e, em especial, sobre os marcos e resul-
tados das mudanças efetivas desse movimento no Serviço Social. Entre esses produtos
destacam-se o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, em 1979, que redirecio-
nou o compromisso político da profissão; a criação da Associação Nacional de Assisten-
tes Sociais (ANAS), em 1983, a entidade sindical autônoma da categoria; a aprovação
do currículo mínimo pelo MEC, em 1982; o Novo Código de Ética Profissional, em 1986,
e a sua reformulação, em 1993, que incorporou o compromisso profissional da categoria
com a democracia, a liberdade e a justiça social; e a mudança, em 1993, da Lei de Re-
gulamentação da profissão de 1957, que garantiu competências e atribuições privativas
do assistente social.
Palavras-Chave: Organização Política; Categoria Profissional; Lutas Sociais; Redemo-
cratização da sociedade civil
Para ler o artigo sobre Democracia e o Serviço Social e como se relacionam ao longo da história da profis-
são, você pode acessá-lo na íntegra pelo link: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaempauta/
article/view/192/215

Fonte: Serra (2007).

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 102


6 Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o res-
peito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à dis-
cussão das diferenças:
O preconceito pode ser considerado o posicionamento pré-concebido sobre algo
ou alguém, uma primeira impressão, um posicionamento pessoal subsidiado por valores
e costumes construídos na relação com a família e com a sociedade, porém a prática
preconceituosa é uma questão moral e, como tal, precisa ser analisada.
Os valores morais são criados pelos sujeitos na sua relação com os outros sujeitos,
com o trabalho e com a sociedade de modo geral. São criados para estabelecer normas e
padrões de conduta e estão diretamente relacionados com os interesses de classe. Essas
questões influenciam como as famílias vão educar seus filhos, como os sujeitos vão se
comportar diante de relacionamentos pessoais e profissionais e como vão conviver em
sociedade. Ocorre que os valores morais não são iguais para todos os sujeitos, ocorrendo
o confronto de ideias, posicionamentos e opiniões sobre os mais variados temas.
Diante da realidade social que é extremamente desigual e excludente, a questão
do preconceito tem sido utilizada nas relações de poder para garantir que o processo de
exploração continue conduzindo ao lucro, ao desenvolvimento econômico e social, dividido
em partes desiguais; em que ricos são brancos, e pobres são negros, sujeitos de bem são
cidadãos e os pobres são criminalizados e excluídos, mulheres são exploradas por homens
e idosos são desnecessários para a sociedade produtiva e competitiva. A questão principal
é que o preconceito não está subsidiado por uma reflexão ética sobre a vida social e, por
isso, aceita qualquer posicionamento como sendo o real, verdadeiro e impossível de ser
modificado.
Deste modo, a reflexão ética deve ser priorizada na prática social do assistente
social, o que exige que o assistente social reflita sobre suas questões morais, religiosas e
pessoais em detrimento de valores que estejam alinhados com a preocupação em garantir
a liberdade, igualdade, emancipação e autonomia dos sujeitos sociais livres. Essa preo-
cupação não aceita que posicionamentos pessoais em relação à cor, raça, etnia, gênero,
opção sexual e religião impeçam a garantia de direitos e o respeito integral aos sujeitos. De
acordo com Paiva e Salles (2001, p.194),
Não ceder aos argumentos ‘fáceis’ e preconcebidos é uma das primeiras ati-
tudes do sujeito consciente no embate contra os preconceitos. Um anteparo
nessa luta é a construção de uma confiança em ideias e convicções que
ultrapassem a nossa particularidade individual e, consequentemente, nossos
interesses egoísticos. É preciso ainda que se acredite na capacidade de
conhecimento e da experiência em refutar ideias que outrora acalentamos.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 103


Uma sociedade preconceituosa não respeita os sujeitos, impõe a força e a violência
em detrimento do diálogo e do respeito à dignidade da pessoa humana. Todos são dignos
de viver numa sociedade livre e igual, que garanta a cada indivíduo o direito de trabalhar,
ter saúde, educação, cultura, lazer, habitação, ir e vir, independente da sua condição so-
cial, cor ou opção religiosa. É por isso que o assistente social tem seu código de ética
fundamentado em valores que defendam a liberdade coletiva dos cidadãos e, por isso, não
aceita práticas preconceituosas que impõem a lei do mais forte sobre o mais fraco, ou que
estabelecem respostas a problemas sociais a partir de ideias preconcebidas, sem antes
refletir eticamente sobre os dilemas presentes. De acordo com Paiva e Salles (2001, p.
192), “só poderemos nos libertar dos preconceitos se assumirmos corajosamente o contí-
nuo processo de desalienação, o que equivale na formulação de Gramsci à superação do
senso comum”.
Para eliminar todas as formas de preconceito, é de suma importância que o assis-
tente social reflita se os valores que tem praticado são pautados em concepções abstratas
e imediatas do senso comum, ou são feitos a partir de uma reflexão ética, crítica e que
responda efetivamente a questões sociais e coletivas na garantia do respeito e do direito
de todos.

7 Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais democráti-


cas existentes e suas expressões teóricas e compromisso com o constante apri-
moramento intelectual:
Este princípio está relacionado ao debate construído no interior da categoria pro-
fissional a partir do movimento de reconceituação e da construção do projeto ético político
profissional nos anos 1980. O pluralismo está relacionado ao respeito a diferentes ideias
relacionadas a questões políticas, teórico-metodológicas, éticas e práticas interventivas no
âmbito profissional.
É importante salientar que o projeto ético político é hegemônico, ou seja, construído
e respeitado por toda a categoria profissional, porém isso não significa que o debate de ideias
divergentes não esteja presente. Ao contrário, a maturidade profissional e o enfrentamento
às demandas cotidianas só serão efetivadas a partir da construção coletiva subsidiada pelo
debate, pelo confronto de ideias buscando alcançar um denominador comum em prol do
fortalecimento da categoria e da prática profissional. Segundo Paiva e Salles (2001, p. 197),
“Defendemos, pois, uma concepção de pluralismo com hegemonia, o que é diferente de
supremacia: quando a predominância de determinada posição teórico-prática não admite
controvérsias nem o fluxo da polêmica, enfim, não admite o debate”.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 104


Por isso, o respeito ao pluralismo está relacionado ao exercício democrático e à
liberdade para se expressar e argumentar. Assim, a defesa do pluralismo tem a finalidade
de garantir a plena transformação do Serviço Social diante das mudanças ocorridas na
sociedade através do debate, do diálogo e do respeito à posicionamentos diversos. Deste
modo, a intolerância, a coerção, a imposição e a violência são eliminadas pela defesa do
pluralismo.

8 Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma


nova ordem societária, sem dominação exploração de classe, etnia e gênero:
Sabemos que a construção do projeto ético político profissional está centrada no
marco do embate entre projetos societários antagônicos, ao mesmo tempo que assume o
posicionamento em favor do projeto societário da classe trabalhadora. Ou seja, está arti-
culado com as demandas da classe trabalhadora e age no sentido de superar o processo
de exploração e alienação dos sujeitos no modo de produção capitalista, com vistas a uma
sociedade sem exploração de uma classe sobre a outra.
Pode parecer impossível de alcançar uma sociedade excludente, desigual e que
supere a ordem social capitalista, mas a teoria social crítica e o próprio desenvolvimento da
história nos apresentam que a realidade se movimenta por forças contraditórias, que agem
por incorporação e substituição das forças produtivas. Ou seja, o capitalismo incorporou as
forças produtivas do feudalismo e substituiu a ordem monárquica e religiosa pela relação
entre capital X trabalho. Do mesmo modo como o desenvolvimento cíclico de crises no
capital, devido ao incontrolável processo de acumulação pode chegar a um determinado
estágio de desenvolvimento que será necessário substituí-lo por outro modo de produção
que não o capitalista.
Estamos afirmando que não será apenas o Serviço Social o responsável por levan-
tar fronts de batalha contra o capitalismo em busca de uma nova sociedade, mas o próprio
movimento da história e suas múltiplas determinações vão, em algum momento histórico,
transformar a realidade social, seja ela para uma forma socialista ou para a barbárie real e
radical.
Porém, a compreensão efetiva de que estamos articulados com as demandas da
classe trabalhadora nos leva a desenvolver práticas que não corroboram com o processo
de alienação, exploração e fragmentação da consciência coletiva. Assim, buscamos no
desenvolvimento de políticas sociais, de programas e projetos valorizar as demandas dos
sujeitos da nossa ação e torná-las meios de garantir direitos e de desenvolvimento pleno
dos cidadãos. Deste modo, buscamos no dia a dia caminhar rumo a uma sociedade ao

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 105


menos mais justa e igualitária e, assim, não corremos o risco de sofrer frustrações ou de
desenvolver práticas imediatistas e institucionalizadas.

9 Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem


dos princípios deste Código e com a luta geral dos trabalhadores:
O nono princípio busca fortalecer os mecanismos de alcance para os princípios an-
teriores, ou seja, para que os princípios de liberdade, autonomia, democracia, justiça social,
eliminação do preconceito, defesa dos direitos humanos possam ser prática no cotidiano,
é preciso trabalhar de maneira articulada com movimentos e categorias que partilhem dos
mesmos princípios do código de ética profissional.
Neste sentido, elementos como: trabalho em rede, interdisciplinar, multidisciplinar,
organização e assessoria à movimentos sociais, associações e sindicatos de trabalhadores
devem fazer parte dos mecanismos de trabalho do assistente social, rumo a eliminação de
práticas individualistas e fragmentadoras que reproduzem a competição e a exploração de
uma classe sobre a outra.

10 Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o apri-


moramento intelectual, na perspectiva da competência profissional:
O décimo princípio reafirma a preocupação levantada pela categoria profissional
no desenvolvimento do projeto ético político profissional: articular a relação entre teoria e
prática. Para que a qualidade dos serviços seja respeitada, é obrigatório que o assistente
social exerça uma prática profissional articulada com o processo de pesquisa e reflexão
teórico-crítica acerca dos problemas do cotidiano.
Não é a teoria que responde aos problemas da prática, mas é a partir da prática e
do cotidiano que o assistente social tem a possibilidade de construir teoricamente respostas
para enfrentar os problemas. É a realidade que suscita a teoria, é a partir dela que as
questões se apresentam, por isso precisamos de métodos para analisá-las e transformá-las
em respostas.
A teoria marxista permite compreender os problemas da realidade a partir de sua
essência, partindo das categorias analíticas totalidade, mediação e contradição é que o
assistente social pode investigá-los e oferecer respostas competentes e de qualidade para
as demandas dos usuários.
A qualidade e a competência se relacionam com o constante aprimoramento técnico
e intelectual do assistente social, colocando a tarefa de continuar estudando, pesquisando,
participando de seminários, congressos e fóruns da categoria, de ingressar em cursos de

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 106


Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, de priorizar, no cotidiano de trabalho, um tempo
para refletir e analisar as ações e atendimentos que realizou.
Deste modo, superamos os valores produtivistas difundidos pelo intenso processo
de produção neoliberal, que vive na busca constante por resultados; desconsiderando a
qualidade dos atendimentos, intensificando a prática profissional em detrimento de uma
equipe de trabalho reduzida e com inúmeras atribuições para cumprir em um único dia de
trabalho. Para superar esses desafios, é obrigatório que a qualidade nos serviços prestados
esteja diretamente relacionada com o constante processo de aperfeiçoamento intelectual
e técnico.

11 Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por questões
de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção sexual,
idade e condição física:
Este princípio reitera o princípio de eliminação de todas as formas de preconceito.
A diferença é que também exige que isso se faça no interior da categoria profissional.
Respeitar os sujeitos não pode ser só uma prática de dentro do serviço social para com os
usuários, mas também deve ser realizada no respeito aos colegas de trabalho.
A retomada da crítica ao preconceito deve garantir, pela substantivação da
dimensão do direito, o exercício do Serviço Social e a relação com os que
integram a vida profissional cotidiana a partir do que são, isto é: famílias
de fazendeiros, camponeses, homem ou mulher, negro, índio ou branco,
petista ou pefelista, evangélico ou umbandista, brasileiro ou estrangeiro,
homo ou hetero, jovem ou idoso, portador de deficiência ou não, enfim, um
indivíduo como outro qualquer com manias, atributos, características que
particularizam exclusivamente, mas que em nada justificam qualquer tipo
de exclusão ou privilégio, que extrapolem o âmbito estrito da competência
profissional (PAIVA; SALLES, 2001, p. 206).

Além das questões relacionadas à eliminação das formas de preconceito no inte-


rior da categoria, é preciso salientar outra questão relevante para discutir este princípio: o
desemprego e a competição entre colegas de trabalho.
O processo de reestruturação produtiva e de ordenamento neoliberal tem ampliado
o desemprego e a competitividade, no caso do mercado de trabalho do assistente social,
essas questões podem se tornar obstáculos para a garantia de empregos de qualidade e
bem remunerados ocasionando o risco de ampliar a competição entre os próprios colegas
em busca de uma vaga ou de uma posição no interior das instituições. Diante dessas
questões, o código de ética estabelece regras de conduta quanto a relação dos assistentes
sociais com seus pares, para que essas práticas não sejam permitidas no interior da cate-
goria profissional.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 107


Por isso os assistentes sociais devem se respeitar como colegas e parceiros de
trabalho, independente de processos que incentivem a competição e o mérito. Mas, acima
de tudo, devem buscar a colaboração, a humildade e a eliminação de qualquer forma de
preconceito contra raça, etnia e gênero, os quais são imperativos para garantir o fortaleci-
mento da categoria profissional diante dos inúmeros problemas que a realidade social nos
impõe.
Desejamos que você seja um(a) profissional ético(a), crítico(a), competente e
transformador(a) da realidade social.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 108


4 A TRAJETÓRIA DE LUTAS E CONQUISTAS DO CONJUNTO CFESS/CRESS

Este nosso tópico tratará de dois importantes conselhos da nossa profissão. Pri-
meiramente você conhecerá o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e em seguida
será apresentado o Conselho Regional de Serviço Social (CRESS).
Vamos lá? Mãos à obra!
Em linhas gerais e de forma breve, o que é o CFESS?
O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) é uma autarquia pública
federal que tem a atribuição de orientar, disciplinar, normatizar, fiscalizar e
defender o exercício profissional do/a assistente social no Brasil, em conjunto
com os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS). Para além de suas
atribuições, contidas na Lei 8.662/1993, a entidade vem promovendo, nos
últimos 30 anos ações, políticas para a construção de um projeto de socieda-
de radicalmente democrático, anticapitalista e em defesa dos interesses da
classe trabalhadora (CFESS, 1996, on-line).

A primeira lei que regulamentou a profissão de Serviço Social no Brasil foi a Lei
3.252, de 27 de agosto de 1957. Quanto ao surgimento do CFESS e dos CRESS surgem
a partir do Decreto 994, de 15 de maio de 1962. Em seu artigo 6º determina, porém, com
outra nomenclatura, CFAS e CRASS, respectivamente: “Art. 6º A disciplina e fiscalização
do exercício da profissão de Assistente Social caberão ao Conselho Federal de Assistentes
Sociais (C.F.A.S.) e aos Conselhos Regionais de Assistentes Sociais (C.R.A.S.), criados
por este Regulamento” (BRASIL, 1962).
A alteração da nomenclatura veio com a revogação da primeira Lei e a regulamen-
tação da Lei 8.662, de 07 de junho de 1993, em que o artigo 6º foi reformulado:

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 109


Art. 6º São alteradas as denominações do atual Conselho Federal de As-
sistentes Sociais (CFAS) e dos Conselhos Regionais de Assistentes Sociais
(CRAS), para, respectivamente, Conselho Federal de Serviço Social (CFESS)
e Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS).
Art. 7º O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e os Conselhos Regio-
nais de Serviço Social (CRESS) constituem, em seu conjunto, uma entidade
com personalidade jurídica e forma federativa, com o objetivo básico de
disciplinar e defender o exercício da profissão de Assistente Social em todo o
território nacional (BRASIL, 1993).

Nessa mesma lei (8.662/93) são explicitadas as atribuições de ambos os conselhos,


a saber:

Quadro 1 - Atribuições CFESS / CRESS

CRESS (art. 10º) CFESS (art. 8º)


Atende suas respectivas áreas de jurisdi- Órgão normativo de grau superior
ção, na qualidade de órgão executivo e de
primeira instância
I - organizar e manter o registro profissional I - orientar, disciplinar, normatizar, fiscalizar
dos Assistentes Sociais e o cadastro das e defender o exercício da profissão de As-
instituições e obras sociais públicas e priva- sistente Social, em conjunto com o CRESS.
das ou de fins filantrópicos.
II - fiscalizar e disciplinar o exercício da pro- II - assessorar os CRESS sempre que se
fissão de Assistente Social na respectiva re- fizer necessário.
gião.
III - expedir carteiras profissionais de Assis- III - aprovar os Regimentos Internos dos
tentes Sociais, fixando a respectiva taxa. CRESS 49, Lei n º 8.662, no fórum máximo
de deliberação do conjunto CFESS/CRESS.
IV - zelar pela observância do Código de IV - aprovar o Código de Ética Profissional
Ética Profissional, funcionando como Tribu- dos Assistentes Sociais, juntamente com os
nais Regionais de Ética Profissional. CRESS, no fórum máximo de deliberação
do conjunto CFESS/CRESS.
V - aplicar as sanções previstas no Código V - funcionar como Tribunal Superior de Éti-
de Ética Profissional. ca Profissional.
VI - fixar, em assembleia da categoria, as VI - julgar, em última instância, os recursos
anuidades que devem ser pagas pelos As- contra as sanções impostas pelos CRESS.
sistentes Sociais.
VII - elaborar o respectivo Regimento Inter- VII - estabelecer os sistemas de registro dos
no e submetê-lo a exame e aprovação do profissionais habilitados.
fórum máximo de deliberação do conjunto
CFESS/ CRESS.
VIII - prestar assessoria técnico-consultiva
aos organismos públicos ou privados, em
matéria de Serviço Social.
Fonte: adaptado de Brasil (1993).

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 110


Ainda observando a Lei que regulamenta a profissão, consta a forma de organiza-
ção e distribuição dos conselhos:
Art. 11. O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) terá sede e foro no
Distrito Federal.
Art. 12. Em cada capital de Estado, de Território e no Distrito Federal, haverá
um Conselho Regional de Serviço 51 Lei n º 8.662 Social (CRESS) deno-
minado segundo a sua jurisdição, a qual alcançará, respectivamente, a do
Estado, a do Território e a do Distrito Federal.
1º Nos Estados ou Territórios em que os profissionais que neles atuam não
tenham possibilidade de instalar um Conselho Regional, deverá ser constituí-
da uma delegacia subordinada ao Conselho Regional que oferecer melhores
condições de comunicação, fiscalização e orientação, ouvido o órgão regional
e com homologação do Conselho Federal.
2º Os Conselhos Regionais poderão constituir, dentro de sua própria área
de jurisdição, delegacias seccionais para desempenho de suas atribuições
executivas e de primeira instância nas regiões em que forem instalados,
desde que a arrecadação proveniente dos profissionais nelas atuantes seja
suficiente para sua própria manutenção (BRASIL, 1993).

Quanto às atribuições do CFESS, consta no Art. 1º do Código de Ética do Assistente


Social de 1993:
Art.1º Compete ao Conselho Federal de Serviço Social:
a. zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, fisca-
lizando as ações dos Conselhos Regionais e a prática exercida pelos
profissionais, instituições e organizações na área do Serviço Social;
b. introduzir alteração neste Código, através de uma ampla participação da
categoria, num processo desenvolvido em ação conjunta com os Conse-
lhos Regionais;
c. c- como Tribunal Superior de Ética Profissional, firmar jurisprudência na
observância deste Código e nos casos omissos.

Já aos Conselhos Regionais de Serviço Social, está previsto no mesmo Código de


Ética: “Art.1º [...] Parágrafo único: Compete aos Conselhos Regionais, nas áreas de suas
respectivas jurisdições, zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, e
funcionar como órgão julgador de primeira instância”.
Nós vimos anteriormente a apresentação do Projeto Ético Político da profissão,
nesse processo de construção nós podemos ver a participação ativa do conjunto CFESS/
CRESS, na articulação das discussões, bem como no amadurecimento das causas, ideo-
logias e posicionamento do Serviço Social perante a sociedade.
Ora, se o nosso caso não é, decerto, aquele que circunscreve os interesses
especificamente sindicais, cabe-nos articular os compromissos e as exigên-
cias postas aos assistentes sociais no seu cotidiano profissional com as exi-
gências ético-políticas da sociedade brasileira em geral. São necessidades
profissionais, assim, que dizem respeito ao acesso às condições de trabalho
condignas e à garantia da qualidade dos serviços prestados à população. É
sabido ainda que a ação profissional do assistente social possui seu lócus
prioritário, posto pela divisão sociotécnica do trabalho, no planejamento e na
execução das políticas sociais, e que a dimensão política da profissão ganha
aí relevância e reconhecimento inquestionáveis. Neste sentido nossa contri-
buição ao debate e militância pelas políticas públicas mostram-se fecundas
porque especializadas, embora o volume das demandas de trabalho político
ao CFESS, por vezes, seja maior do que a nossa capacidade física (NETTO,
1999, p. 179).

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 111


A participação no processo de revisão do Código de Ética do Assistente Social de
1986 teve ampla contribuição do conjunto CFESS/CRESS. O país passava por grandes
discussões políticas, pois assumia-se a democracia, a conquista de uma nova Constituição
Federal (1988), a eleição e, logo em seguida, a luta pelo impeachment do então presidente
Fernando Collor de Mello. Esse cenário fica explícito no texto de introdução no novo Código
de Ética do Assistente Social no ano de 1993:
De fato, construía-se um projeto profissional que, vinculado a um projeto so-
cial radicalmente democrático, redimensionava a inserção do Serviço Social
na vida brasileira, compromissando-o com os interesses históricos da massa
da população trabalhadora. O amadurecimento desse projeto profissional,
mais as alterações ocorrentes na sociedade brasileira (com destaque para
a ordenação jurídica consagrada na Constituição de 1988), passou a exigir
uma melhor explicitação do sentido imanente do Código de 1986. Tratava-se
de objetivar com mais rigor as implicações dos princípios conquistados e
plasmados naquele documento, tanto para fundar mais adequadamente os
seus parâmetros éticos quanto para permitir uma melhor instrumentalização
deles a prática cotidiana do exercício profissional (CONSELHO FEDERAL
DE SERVIÇO SOCIAL, 1993, p. 9).

O momento pedia um pensionamento ético, superando o voluntarismo, buscando o


pluralismo, a qualificação profissional, para que se alcançasse uma intervenção profissional
de qualidade e competência, focado na pesquisa, formulação e implementação de políticas
sociais, previstas na nova Constituição Federal.
Buscar uma formação ética dos profissionais que, além de tudo, estivesse embasa-
da no projeto ético político, com compromisso com
a inserção crítico-histórica do Serviço Social na totalidade concreta – com
seus antagonismos fundamentais (classe, de etnia, de gênero) – bem como
os movimentos da sociedade brasileira pela consolidação da democracia, da
liberdade e da equidade (NETTO, 1996, p. 98).

Nesse sentido, articula-se uma mobilização do conjunto CFESS/CRESS, somando


no processo outras entidades, tais como ABESS, CEDEPSS e ENESSO. Não deixando de
fora as instituições de ensino superior, a articulação consistiu na divulgação de eventos e
debates sobre as novas prerrogativas e fundamentação do Código de Ética profissional.
Em uma conjuntura assim, o Conjunto CFESS-CRESS reafirma e fortalece,
em sua programática, o debate e ações estratégicas em torno da valorização
da ética, da socialização da riqueza e da defesa dos direitos, na perspectiva
de reconhecer, analisar e se contrapor às formas de mercantilização de todas
as dimensões da vida social. Nosso compromisso com o projeto ético-político
profissional, expressos nos valores e princípios estabelecidos no Código de
Ética dos/as assistentes sociais, nos mobiliza para a luta em defesa de uma
cultura política com direção emancipatória e respeito à diversidade, além
de nos sensibilizar, em nosso cotidiano profissional, para conhecer as reais
condições de vida da população e buscar formas de intervir contra todos os
processos de degradação da vida humana (CFESS, 1996, on-line).

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 112


O conjunto CFESS/CRESS superou sua tipificação inicial corporativista e burocráti-
ca de suas atividades, devido, às mudanças de cenários políticos e econômicos conjunturais
em que exigiu do profissional mudanças consubstanciais quanto ao seu posicionamento e
interlocução política, em defesa de políticas públicas e da qualidade dos serviços prestados
na perspectiva de direitos sociais. Assim partiu para militância em defesa da democracia e
da participação social, ou seja, dos interesses da classe trabalhadora.
Atualmente o CFESS é operacionalizado por Comissões de Trabalhos específicas
que permite ao referido conselho a realização das suas atribuições, são elas:

Quadro 2 - Comissões de Trabalho Específicas - CFESS

Comissão Atribuições
Comissão Admi- Acompanha as receitas devidas aos Conselhos pelas pessoas físicas e ju-
nistrativo-Finan- rídicas, propondo a adoção de medidas administrativas legais e estratégias
ceira políticas para que mantenham a sua capacidade de arrecadação. Por meio
de um trabalho articulado com o Conselho Fiscal, o controle fiscal interno,
vem conduzindo uma política de qualificação gerencial e aprimoramento dos
mecanismos de gestão e controle democráticos, com resultados significativos
expressos no equilíbrio fiscal do CFESS. Essa ação tem como referência fun-
damental os princípios de transparência, gestão democrática, competência
técnica, compromisso político, responsabilidade, postura ética, direção social
da política e participação de todos os conselheiros nas discussões e viabili-
zação das ações.
Comissão de Éti- Pauta‐se na análise crítica e estratégica dos direitos humanos como mediação
ca e Direitos Hu- para a defesa de uma cultura política com direção emancipatória e respeito
manos à diversidade, com a perspectiva de conhecer as reais condições de vida da
população e buscar formas de intervir na defesa de direitos e contra todos os
processos de degradação da vida humana. Atua como instância recursal nos
julgamentos éticos e na capacitação de agentes multiplicadores, por meio
do curso Ética em Movimento, oferecido anualmente aos representantes de
todos os CRESS e Seccionais. Atua também na divulgação do código de
ética e na defesa dos princípios contidos no projeto ético‐político profissional,
articulando‐se com movimentos em defesa dos direitos humanos.
Comissão de Enfatiza e normatiza ações de orientação e fiscalização do exercício profis-
Orientação e Fis- sional, na perspectiva de valorizar, defender, garantir e ampliar os espaços de
calização Profis- atuação profissional, e propiciar condições adequadas de trabalho e qualida-
sional (COFI) de de atendimento e defesa dos direitos da população. Acompanha e formula
estratégias para desenvolvimento e implementação da Política Nacional de
Fiscalização do Conjunto CFESS-CRESS, atuando como instância de orien-
tação e apoio aos CRESS e Seccionais, de modo a unificar procedimentos
relativos à fiscalização profissional. Para tanto, observa as deliberações apro-
vadas no Encontro Nacional CFESS-CRESS.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 113


Comissão de Co- Busca criar mecanismos para engajar o CFESS na luta pela democratização
municação da comunicação no Brasil, em diálogo com outros movimentos sociais, enti-
dades e demais instâncias de trabalhadores(as) organizados(as), buscando
assegurar o direito humano à comunicação como um direito da categoria e
da sociedade. Elabora e coordena estratégias comunicativas que viabilizem
e ampliem o acesso à informação qualificada sobre as causas, pautas e lutas
da categoria, tais como campanhas e veiculação de notícias em rádios, jor-
nais, informativos, cartilhas, entre outros. Viabiliza edição de livros, divulga-
ção de eventos e assessoria de imprensa. Tem a responsabilidade de colocar
a voz dos assistentes sociais nos diversos espaços públicos democráticos
disponíveis (rádio, televisão, jornais, revistas entre outros).
Comissão de Atua na perspectiva de fortalecer a articulação entre a formação e o exer-
Formação Profis- cício profissional, estimulando a criação de mecanismos para qualificação
sional e Relações profissional como requisito para valorização da profissão. Defende o projeto
Internacionais de formação profissional, referenciado nas diretrizes curriculares aprovadas
pela ABEPSS e estabelece articulação com ABEPSS e ENESSO para defesa
da formação profissional com qualidade. Objetiva fortalecer o Serviço Social
para além das fronteiras nacionais e dar visibilidade ao projeto Ético‐Político
e à direção social da profissão. Articula o Serviço Social na América Latina e
Caribe e se dedica a debater e formular parâmetros éticos comuns no âmbito
dos países do Mercosul, por meio da participação no Comitê Mercosul de
Trabalhadores Sociais. Veicula os princípios e valores do Projeto Ético‐Políti-
co Profissional no mundo por meio de participação na direção da Federação
Internacional de Trabalhadores Sociais (FITS).
Comissão de Se- Defende a intervenção qualificada e crítica dos(as) assistentes sociais como
guridade Social trabalhadores(as) que atuam em todas as políticas sociais e em diversos
campos sócio‐ocupacionais, formulando respostas às múltiplas expressões
da questão social que constituem objeto de trabalho profissional. Reafirma
a postura contundente de defesa dos direitos e de políticas sociais públicas
universais, com ênfase na concepção de um amplo padrão de seguridade
social, universal, redistributivo e de responsabilidade estatal e fortalecimento
das políticas de trabalho e emprego, habitação e educação, na perspectiva
de estabelecimento de um padrão universal de direitos e políticas públicas.
Por meio da representação de conselheiros(as) em Fóruns, Conselhos de
Direitos e de Políticas defende a socialização da política e participação demo-
crática dos assistentes sociais nos espaços de controle social democrático.
Grupos de Traba- Além dessas Comissões e das Representações, o CFESS também compõe
lho diversos Grupos de Trabalho, formados para o aprofundamento de temas e
questões relativas ao serviço social. Os Grupos de Trabalho fornecem dados
e fundamentos para o debate atual.
Fonte: CFESS (1996).

A partir da leitura das comissões apresentadas no quadro anterior, vemos a grande


mobilização do conselho em busca da garantia e do reconhecimento do profissional do
Serviço Social no Brasil

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 114


Em uma conjuntura assim, o Conjunto CFESS-CRESS reafirma e fortalece,
em sua programática, o debate e ações estratégicas em torno da valorização
da ética, da socialização da riqueza e da defesa dos direitos, na perspectiva
de reconhecer, analisar e se contrapor às formas de mercantilização de todas
as dimensões da vida social. Nosso compromisso com o projeto ético-político
profissional, expressos nos valores e princípios estabelecidos no Código de
Ética dos/as assistentes sociais, nos mobiliza para a luta em defesa de uma
cultura política com direção emancipatória e respeito à diversidade, além
de nos sensibilizar, em nosso cotidiano profissional, para conhecer as reais
condições de vida da população e buscar formas de intervir contra todos os
processos de degradação da vida humana.
Parametrados pela Política Nacional de Fiscalização (PNF), as frentes de
atuação do CFESS se estruturaram em dois grandes eixos: um que busca
defender e valorizar a profissão, dando visibilidade e qualificando a interven-
ção profissional e outro que se conecta com as lutas da classe trabalhadora
em defesa da ampliação e universalização dos direitos e das políticas públi-
cas, da socialização da política, do fortalecimento dos movimentos sociais e
da participação em espaços estratégicos de democracia participativa. Essas
frentes de atuação se estruturam em Comissões de Trabalho constituídas por
conselheiros/as que articulam e desenvolvem atividades pautadas pelos prin-
cípios e valores do Projeto Ético Político Profissional (CFESS, 1996, on-line)

O CFESS, conta com sua sede em Brasília (DF) e o Conselho Regional de Serviço
Social (CRESS) é dividido por regiões/estados do Brasil.
Para finalizar deixamos uma dica: desde já é importante que você acesse com
frequência o site do Conselho Federal de Serviço Social (www.cfess.org.br) e também do
Conselho Estadual de Serviço Social da sua região, para sempre saber as notícias, eventos,
publicações e demais materiais pertinentes à profissão.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 115


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) aluno(a), estamos encerrando esta unidade de Estudo, por isso esperamos
que você tenha extraído o máximo de conteúdo possível. As ideias e discussões apresenta-
das nesta unidade são apenas portas de entrada para que você possa investigar e buscar
mais informação e conhecimento a respeito do tema.
Esperamos que tenha compreendido a importância do projeto ético político do
Serviço Social para o desenvolvimento de uma prática profissional que esteja articulada
com as necessidades da classe trabalhadora e que, para isso, é preciso garantir o cons-
tante processo de reflexão crítica e ética. Os princípios fundamentais são fundamentais
para alcançar essa tarefa, pois colocam para o assistente social valores e princípios éticos
construídos por toda a categoria profissional, buscando garantir o exercício ético, crítico e
consciente.
A reflexão acerca dos princípios fundamentais é de suma importância para que
vocês compreendam o que é o Código de Ética Profissional, pois vai muito além de um
código de conduta profissional, ele deve ser compreendido como eixo orientador para o
enfrentamento dos problemas cotidianos do assistente social. Se os princípios estiverem
bem fixados na consciência e no exercício profissional, automaticamente o código de ética
será respeitado e praticado.
Esperamos que faça as leituras complementares, leia os livros sugeridos e use esta
unidade como referência para compreender o Código de Ética Profissional do Assistente
Social.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 116


LEITURA COMPLEMENTAR

Contribuições para a Compreensão do Princípio da Liberdade Posto no Código de


Ética de 1993

[...] O princípio da Liberdade no Projeto-Ético político dos assistentes sociais.


A perspectiva de liberdade posta no código de ética de 1993 e que pretende ser
uma das mediações para a consolidação do projeto ético-político do Serviço Social, pau-
tada nesta perspectiva de liberdade que se associa à consciência do humano-genérico,
está vinculada à crítica da sociedade burguesa, porque esta,   para perpetuar-se como
sociedade de classes, suprime a possibilidade dessa consciência e, portanto,  da efetiva
liberdade. Assim, a liberdade a que se refere o mencionado princípio não está associada
à mera autonomia de escolha entre alternativas postas pelo movimento da realidade de
exclusão social na qual se encontram os que, em sua grande maioria, são usuários dos
serviços sociais.  A liberdade posta neste princípio não é, portanto, a reposição do princípio
de autodeterminação que orientava o exercício profissional no Serviço Social Tradicional,
em que caberia ao “cliente” decidir se acolheria ou não o encaminhamento ou o processo
de “tratamento” proposto pelo assistente social.
O princípio da liberdade, em concomitância com outros princípios postos no código
de ética profissional dos assistentes sociais associam o projeto profissional dos assistentes
sociais a um projeto ético-político. A este respeito, cabe reportar à análise de Netto (2001).
O autor, fundado na teoria social de Marx, considera que o sistema capitalista instaura a
sociedade de classes antagônicas; desta forma, os projetos societários que nascem em
seu bojo são também projetos de classe. Afirma também que o projeto que representa a
classe burguesa se impõe como hegemônico, mas isto não significa a impossibilidade de
projetos contrários aos interesses dessa classe.   No que tange aos projetos profissionais, o
autor afirma que estes acompanham as transformações sociais e da categoria profissional,
portanto, estão sempre em movimento. São projetos que:
[...] apresentam a auto-imagem de uma profissão, elegem os valores que a
legitimam socialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos e funções,
formulam os requisitos (teóricos institucionais, e práticos) para seu exercício,
prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem
as balizes de sua relação com os usuários de seus serviços, com outras
profissões e com as organizações e instituições sociais, privadas e públicas.
(NETTO, 2001, p.14).

O projeto profissional de acordo com Netto (2001), deve ser construído por toda a
categoria profissional: assistentes sociais em seus respectivos campos de exercício pro-
fissional, pesquisadores, docentes, estudantes, organismos corporativos e sindicais. Além
de seus aspectos normativos, traduzidos, sobretudo como direitos e deveres, este projeto
carrega também as escolhas teóricas, ideológicas e políticas da categoria profissional.
Após esta diferenciação entre projetos societários e projetos profissionais, Netto

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 117


(2001) defende que uma indicação ética só adquire efetividade histórico-concreta quando
se combina com uma direção político-profissional, uma sociedade a ser construída. Nesta
perspectiva, a direção ética proposta pelo Serviço Social, está centrada, sobretudo, num
projeto político em que a consciência do humano-genérico se sobreponha à liberdade in-
dividual que orienta valores e escolhas alienadas na sociedade burguesa. É nesta pers-
pectiva que a categoria profissional dos assistentes, na contemporaneidade, se propõe a
orientar as ações profissionais sob o princípio da liberdade como valor ético central, o que
impõe necessariamente a criticidade com relação aos valores burgueses que coíbem a ex-
plicitação da consciência humano-genérica.
Posta esta perspectiva, nos estudos de Pio (2006) e Lacerda (2005); observa - se
pouco domínio e compreensão do que, efetivamente, significa princípio da liberdade bem
como as demandas políticas que ele traz prospectivamente para o exercício profissional do
assistente social. Pio (2006), após aplicar questionários a um grupo de assistentes sociais
inseridos nos espaços sócio ocupacionais denominados CRAS (Centro de Referência a
Assistência Social), no município de Londrina, observou que a maioria dos profissionais
que foram sujeitos da pesquisa interpretam a realidade social vinculando-a ao modo de
produção capitalista, fazem referências às mazelas sociais geradas por esse modo de pro-
dução, mas,  ao comentarem sobre a relação entre o exercício profissional e o princípio da
liberdade posto do código de ética, apresentam uma visão reducionista sobre ele. Entre
outros aspectos que demarcam tal redução está a tendência em associar a liberdade à
possibilidade ir e vir e à liberdade de expressão e de agir dentro de possibilidades.
Lacerda (2005) entrevista assistentes sociais de áreas diversificadas a fim de verifi-
car como estes profissionais realizavam a leitura do projeto profissional do Serviço Social.
A autora atenta que não pretende classificar os profissionais em categorias como “con-
servadores” ou “revolucionários”, mas sim absorver a compreensão que estes têm de ele-
mentos fundamentais e centrais do projeto ético-político. Uma das questões presentes nas
entrevistas realizadas por Lacerda (2005) referia-se à liberdade.   Esta autora procurou
questionar o que era liberdade para o profissional. Como já evidenciado, as reflexões sobre
a liberdade, na sociedade burguesa contemporânea não ultrapassam o marco individualista
do Estado burguês. Ao contrário, neste marco a reflexão sobre liberdade está associada
apenas a alguns dos direitos de cidadania como ir e vir e liberdade de expressão. É esta
concepção predominante sobre liberdade entre os profissionais que foram sujeitos de pes-
quisa de Lacerda. Assim, dentre estes profissionais, como se constata em Lacerda (2005,
p. 66- 67), compreende-se que a liberdade:
[...] está vinculada com o respeito que você tem com o próximo dos limites da
vida [dele], da sua ação, porque você ter limite é você ter respeito pelo outro.
Então, se eu quero que você respeite o meu espaço, tenho que respeitar o
seu também. Então, a liberdade é até mesmo onde começa a do outro. Eu
não posso invadir o seu espaço.
[...] Respeitar o limite do outro, respeitar o desejo dele, se ele quer se expor
ou não. Concordo. Tenho que ter liberdade até no limite de não estar prejudi-
cando o espaço do outro.

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 118


Pela ilustração das falas dos profissionais verifica-se a dificuldade de compreensão
do valor ético central posto para orientar as ações profissionais e também dificuldades ou
má compreensão do significado da liberdade posto do projeto ético ético-político da cate-
goria. Cumpre lembrar que o Serviço Social tem a sua peculiaridade interventiva, em última
instância, no bojo das relações sociais. É uma profissão cujas ações têm uma dimensão
política e, portanto, deve pautar suas ações na conjuntura existente real; isto é, deve con-
siderar as condições econômicas, sociais, culturais e principalmente as ideológicas-políti-
cas. De fato, frente a toda a complexidade social que envolve o exercício profissional dos
assistentes sociais, é necessário que estes possuam um projeto profissional sólido para
efetivar suas ações na realidade dinâmica da sociedade capitalista. O primeiro pressuposto
para a consolidação do projeto profissional é ter total domínio e compreensão sobre seus
princípios e fundamentos centrais. Ou seja, especificamente, no projeto ético-político dos
assistentes sociais, compreender o princípio da liberdade. [...]

Fonte: Daros e Guedes (2008, p. 1-2).

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 119


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Projeto Ético Político do Serviço Social: Contribuições à
sua crítica
Autor: Valéria Forti
Editora: Lumen Juris
Sinopse: A coletânea expressa o compromisso histórico e político
na trajetória de uma profissão e em prol da defesa de uma socie-
dade emancipada. Em tempos de desmonte dos direitos sociais
conquistados, de financeirização e mercantilização da vida, de
criminalização dos movimentos sociais, em particular, de ataque à
educação e à formação crítica do Serviço Social, temos em mãos
uma publicação que nos fortalece, nos encoraja e reanima o ca-
minhar ético e político de nosso projeto profissional. A inquietação,
os desafios e os nossos princípios fundamentais dirigem os artigos
aqui presentes. É disso que precisamos, é assim que se faz ciên-
cia, política e História.

LIVRO 2
Título: Código de Ética Do/a Assistente Social Comentado
Autor: Lúcia Silvia Barroco e Sylvia Helena Terra
Editora: Cortez
Sinopse: Este livro preenche uma lacuna. Não havia até agora um
texto acadêmico destinado a comentar o Código de Ética em vigor,
de 1993, na sua totalidade. As autoras comentam o Código em
seus fundamentos sócio-históricos e ontológicos, bem como em
suas reais possibilidades de materialização, no contexto de uma
sociabilidade fundada na acumulação e na propriedade privada.

FILME/VÍDEO
Título: O Sorriso de Monalisa
Ano: 2003
Duração: 117 min
Direção: Mike Newell
Gênero: Romance, Drama, Obra de Época
Elenco: Julia Roberts, Kirsten Dunst, Julia Stiles, Magggie Gylle-
nhaal, Ginniger Goodwin, Topher Grace, Dominic West
Sinopse: Recria a atmosfera e os costumes do início da década de
1950. Conta a história de uma professora de arte que, educada na
liberal Universidade de Berkeley, na Califórnia, enfrenta uma esco-
la feminina, tradicionalista – Wellesley College, onde as melhores
e mais brilhantes jovens mulheres dos Estados Unidos recebem
uma dispendiosa educação para se transformarem em cultas
esposas e responsáveis mães. No filme, a professora tenta abrir
a mente de suas alunas para um pensamento liberal, enfrentando

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 120


a administração da escola e as próprias garotas. O maior desafio
para essa professora será fazer com que suas alunas assumam
sua identidade cultural como ser social e histórico. Esse filme traz
a visão mais ampla de novos conhecimentos.
Comentário: Mostra os desafios enfrentados por um profissional
novo no mercado de trabalho e a perseverança em enfrentá-los

FILME 2
Título: O Senhor das Armas
Ano: 2005
Sinopse: Nicolas Cage interpreta um traficante de armas (Yuri
Orlov) que vive em constante embate com um agente da Interpol,
Jack Valentine (Ethan Hawke), querendo estar sempre a dianteira
de seu rival, de seus concorrentes e também de seus clientes,
lidando com alguns ditadores mais famosos do planeta.

WEB
Acesse as Resoluções e Portarias CFESS. Neste site você encon-
tra as resoluções e portarias do CFESS que orientam e normatizam
o exercício profissional de assistentes sociais.
Link do site: http://www.cfess.org.br/visualizar/menu/local/resolu-
coes-e-portarias-cfess

WEB 2
Em uma de suas palestras, o Filósofo e Professor Mario Sergio
Cortella discorreu sobre a questão da ética nos dias atuais, numa
linguagem interessante. Então resolvi compartilhar com você para
que possamos entender a Ética. Acesse em: https://www.youtube.
com/watch?v=XNpfJwuh0Es

UNIDADE III O Projeto Ético-Político do Serviço Social 121


UNIDADE IV
Legislações Sociais
Professora Daniela Sikorski

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar ao conhecimento dos direitos sociais,
cidadania e legislações sociais.
• Compreender os tipos de legislações e conceitos identificando o papel do
Estado frente à garantia de direitos para a poluição e conhecer algumas
legislações fundamentais para o exercício profissional.
• Estabelecer a importância da participação popular na garantia de direitos sociais,
apontando espaços para a intervenção do profissional e do cidadão.

Plano de Estudo:
● A Origem das Políticas Sociais e a Legislação Social
● LOAS: Lei Orgânica de Assistência Social
● LDB: Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9.394/1996)
● CLT: Consolidação das Leis Trabalhistas.
● ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente.
● Estatuto de Idoso
● LOS: Lei Orgânica da Saúde
● Lei Maria da Penha
● Estatuto da Igualdade Racial
● Lei da Previdência Social
● A Legislação frente à Política Social.

122
INTRODUÇÃO

Nesta unidade, vamos demonstrar de forma breve para você, a importância das
políticas públicas e sociais e como as mesmas estão ligadas diretamente não somente em
nosso contexto profissional, como na sociedade em qual fazemos parte. Portanto, vamos
necessitar entender que estamos em uma sociedade capitalista, onde o Estado é desigual e
consequentemente contribui para a divisão de classes e assim, vamos perceber que apesar
de termos uma Constituição Cidadã (1988), muitos brasileiros diariamente não possuem
acesso aos seus direitos fundamentais.
Brevemente vamos apresentar algumas legislações específicas para que possamos
discutir aprender e fazer valer os direitos estabelecidos nas mesmas, visto que o assistente
social é um dos profissionais que em sua formação recebe conhecimentos não somente
para atuar, mas também administrar as políticas públicas.
Assim, esperamos que esta temática possa despertar e fazer com que você possa
perceber o vasto campo de possibilidades de nossa intervenção frente ao Estado e na
luta pela garantia de direito, que este mesmo Estado se omite, e que assim, você possa
ampliar sua visão frente a nossa Constituição e demais legislações, bem como acrescentar
conhecimentos não somente frente a esta discussão, mais possibilitando que você possa
fazer a relação com as demais disciplinas estudadas em nosso curso e ampliar ainda mais
sua visão. Desejamos uma boa leitura e pedimos que acesse os conteúdos indicados por
nós. Ficamos a disposição.
Tenha um ótimo estudo!

UNIDADE IV Legislações Sociais 123


1 A ORIGEM DAS POLÍTICAS SOCIAIS E A LEGISLAÇÃO SOCIAL

A formulação das políticas públicas no Brasil passou por diversas etapas, desde o
estabelecimento de uma agenda, elaboração, implementação e execução, não podendo
ser descartado o seu processo de avaliação e monitoramento.
As políticas públicas são compostas por um conjunto de decisões públicas desti-
nadas a determinados grupos ou como um todo, visando modificações da realidade que
causam impactos diretos na sociedade e na economia.
Políticas Públicas tratam do conteúdo concreto e do conteúdo simbólico de
decisões políticas, e do processo de construção e atuação nas decisões. [...]
uma política pública é uma orientação à atividade ou à passividade de al-
guém; as atividades ou passividades decorrentes dessa orientação também
fazem parte da política pública; uma política pública possui dois elementos
fundamentais: intencionalidade pública e resposta a um problema público;
em outras palavras, a razão para o estabelecimento de um política pública é
o tratamento ou a resolução de um problema entendido como coletivamente
relevante (SECCHI, 2012, p. 1-2).

Ao discutirmos políticas públicas, estamos tratando também de um jogo de interes-


ses, uma vez que todo o processo da Política Pública perpassa por divergências constan-
tes, dada a diversidade de grupos e visões incluídas no mesmo, ou seja, tratar de decisões
públicas inclui conflitos e negociações permanentes das partes envolvidas.
Com uma perspectiva mais operacional, pode-se dizer que a política pública
é um sistema de decisões públicas que visa ações ou omissões, preventivas
ou corretivas, destinadas a manter ou modificar a realidade de um ou vários
setores da vida social, por meio da definição de objetivos e estratégias de
atuação e da alocação dos recursos necessários para atingir os objetivos
estabelecidos (SARAVIA e FERRAREZI, 2006, p. 29).

UNIDADE IV Legislações Sociais 124


O conceito de Política Pública, perpassa pelo estudo e apresentação de vários au-
tores que discutem a grande complexidade em se definir o termo, assim como se apresenta
a seguir:
[...] não existe uma única, nem melhor definição sobre o que seja Política Pú-
blica [...] Apesar de optar por abordagens diferentes, as definições de políticas
públicas assumem, em geral, uma visão holística do tema, uma perspectiva
de que o todo é mais importante do que a soma das partes e que indivíduos,
instituições, interações, ideologia e interesses contam, mesmo que existam
diferenças sobre a importância relativa destes fatores (SOUZA, 2006, p. 24).

As políticas públicas influenciam direta ou diretamente a vida das pessoas como um


todo, tanto o fato de “fazer” política pública como também o de “não fazer” política pública.
A todo momento surgem ideias e interesses a respeito da elaboração de políticas
e o poder de decisão influencia diretamente nesse processo, ou seja, determinado grupo
responsável por sua elaboração e execução pode ou não vir a pôr as ideias pensadas
em prática. Theodor Lowi (1972 apud SECCHI, 2012) destaca que temos quatro tipos de
políticas públicas a serem elaboradas, cada uma com objetivos específicos e envolvendo
logicamente a arena de interesses de diversos grupos de representações, conforme você
poderá observar no quadro esquemático a seguir:

Quadro 1: Quatro tipologias construídas para classificação de políticas públicas (Tipologia de Lowi)

Tipo Conceito Exemplo

Políticas Regula- Estabelecem padrões de compor- 1 – Exemplos desse tipo de políticas são as re-
tórias tamento, serviço ou produto para gras de tráfego aéreo, códigos de trânsitos, leis
atores públicos ou privados [...] se e códigos de ética em assuntos como aborto e
desenvolvem predominantemente eutanásia, ou ainda, proibição de fumo em locais
dentro de uma dinâmica pluralista, fechados e regras para publicidade de certos pro-
em que a capacidade de aprova- dutos.
ção ou não de uma política desse 2 – Uma lei que obrigue os motoristas a usar capa-
gênero é proporcional à relação de cetes e roupa adequada, a partir de um problema:
força dos atores e interesses pre- altos níveis de acidentes com motociclistas em
sentes na sociedade. centros urbanos e a gravidade desses acidentes.
Políticas Distri- Geram benefícios concentrados 1- Exemplos desse tipo de política pública, são
butivas para alguns grupos de atores e subsídios, gratuidade de taxas para certos usuá-
custos difusos para toda coletivi- rios de serviços públicos, incentivos ou renúncias
dade/contribuintes [...] esse tipo fiscais, etc.
de política se desenvolve em uma 2 - Ementas parlamentares ao orçamento da
arena menos conflituosa, conside- União, para realização de obras públicas regio-
rando que quem paga o “preço” é a nalizadas, [onde] congressistas e grupos políticos
coletividade. condicionam apoios a certezas emendas orça-
A grande dificuldade no desenho mentárias, caso recebam em troca apoio nas suas
de políticas distributivas é a delimi- emendas.
tação do grupo beneficiário (quem 3- Um programa público de crédito a baixo custo
é e quem não é beneficiário). oferecido a pequenos empreendedores que quei-
ram montar seu negócio, a partir de um problema:
necessidade de geração de renda.

UNIDADE IV Legislações Sociais 125


Políticas Redis- Concedem benefícios concentra- 1 – Exemplo clássico são as cotas raciais para
tributivas dos a algumas categorias de atores Universidades, políticas de benefícios sociais ao
e implicam custos concentrados trabalhador e os programas de reforma agrária.
sobre outras categorias de atores. 2 – A instituição de um novo imposto sobre gran-
É um tipo de política que provoca des fortunas, que transfira renda de classes abas-
muitos conflitos, pois representa tadas para programa de distribuição de renda
um jogo de soma zero [...] as po- para famílias carentes, a partir de um problema:
líticas redistributivas não recebem concentração de renda.
esse rótulo pelo resultado redistri-
butivo efetivo (renda, propriedade,
etc.), mas sim pela expectativa de
contraposição de interesses clara-
mente antagônicos. O tipo de di-
nâmica predominante em arenas
políticas redistributivas é o elitis-
mo, no qual se formam duas elites,
uma demandando que a política se
efetive e a outra lutando para que a
política seja descartada.
Políticas Consti- ‘são regras sobre os poderes e re- 1 – Exemplos são as regras do sistema políticos-
tutivas gras sobre as regras’ (LOWI, 1985, -eleitoral, a distribuição de competências entre
p. 74)., ou seja, são aquelas polí- poderes e esferas, regras das relações intergo-
ticas que definem as competên- vernamentais, regras de participação da socieda-
cias, jurisdições, regras da disputa de civil em decisões públicas.
política. São chamadas meta-poli- 2 – Uma lei que obrigue partidos políticos a es-
cies, porque se encontram acima colher seus candidatos em processos internos de
dos outros três tipos de políticas seleção e posteriormente apresentar listas fecha-
e comumente moldam a dinâmica das aos eleitores. Política criada a partir de um
política nessas outras arenas. [...] problema: debilidade dos partidos políticos brasi-
Políticas constitutivas provocam leiros, infidelidade partidária por parte dos políti-
conflitos entre os entes e os ato- cos.
res diretamente interessados (por
exemplo, partidos, os três poderes,
os níveis de governo), pois têm a
capacidade de alterar o equilíbrio
de poder existente (quem man-
da e quem faz). Os eleitores, os
usuários das políticas públicas e o
cidadão comum raramente se inte-
ressam por esse tipo de política, já
que não se tratam de prestação de
serviços ou de ações concretas de
governo.
Fonte: SECCHI, 2012, p. 8, 17-18, adaptado.

No que tange às políticas sociais, não há com precisão um período de surgimento


das primeiras iniciativas reconhecíveis, conforme afirmam Behring e Boschetti (2008).
Porém há um consenso de que sua generalização está presente no período de transição
entre o capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista, mais precisamente após
a Segunda Guerra Mundial (1945).
Com a grande crise do sistema capitalista de 1929, e olhando especificamente para
o Brasil, tem-se um período de grande expansão do Estado. Aliado às tendências mundiais,

UNIDADE IV Legislações Sociais 126


esse contexto envolveu grande expressão da área social, com intuito de enfrentamento das
expressões/manifestações da questão social (BEHRING e BOSCHETTI, 2008).
Já Faleiros (2000) destaca que a Política Social é uma importante estratégia do modo
de produção capitalista monopolista, onde o Estado tem o exercício de proteger, financiar
e suportar esse sistema de produção, seja em países de capitalistas centrais como nos
países chamados dependentes, ou de capitalismo periférico, assim também denominados.
Sendo assim, é possível compreender que a Política Social nada é se não produto
do modo de produção capitalista. Para compreendermos melhor a definição de Políticas
Sociais, é importante sempre nos situarmos no contexto de produção capitalista, de explo-
ração social e das múltiplas expressões/manifestações da questão social, aqui discutidas
especialmente pelo Serviço Social, ou seja, as Políticas Sociais são respostas às diversas
expressões/manifestações da questão social postas constantemente na sociedade.
Dessa forma, assim como a Política Pública, devemos compreender que a Política
Social também está diretamente intrínseca às relações de interesses contraditórios, com
suas etapas e atores envolvidos em sua elaboração, implementação, avaliação e monito-
ramento.
Logo, a Política Social tem sua expansão devido à luta pela conquista de direitos
sociais, mais precisamente com o advento e posterior ao enfraquecimento do período de
ditadura militar no Brasil, a partir da segunda metade da década de 70.
Mas antes disso, como se inicia no Brasil esse movimento para a discussão e ca-
racterização da Política Social? Behring e Boschetti (2008) realizam importante apanhado
histórico e crítico sobre esse processo e afirmam que:
A primeira constatação é a de que seu surgimento (da política social) no Brasil
não acompanha o mesmo tempo histórico dos países de capitalismo central.
Não houve no Brasil escravista do século XIX uma radicalização das lutas
operárias, sua constituição em classe para si, com partidos e organizações
fortes. A questão social já existente num país de natureza capitalista, com
manifestações objetivas de pauperismo e iniquidade, em especial após o
fim da escravidão e com a imensa dificuldade de incorporação dos escravos
libertos no mundo do trabalho, só se colocou como questão política a partir da
primeira década do século XX, com as primeiras lutas de trabalhadores e as
primeiras iniciativas de legislação voltadas ao mundo do trabalho (BEHRING
e BOSCHETTI, 2008, p. 78).

As exigências por maior intervenção e responsabilidade do Estado na formulação e


execução de políticas públicas e sociais ganham ênfase com o enfraquecimento do período
ditatorial no qual o país vive na década de 80.
Logo, podemos refletir que a Política Social em suma é uma junção entre reivin-
dicações sociais para obtenção de direitos, frente às mazelas e diversas expressões da
questão social e os interesses do capital e do Estado em sua própria manutenção, tendo

UNIDADE IV Legislações Sociais 127


em vista a geração de pleno emprego e crescimento econômico num mercado capitalista
liberal, “[...] ampliação do mercado de consumo e amplo acordo capital e trabalho (PIER-
SON, 1991 e MISHRA, 1995 apud BEHRING e BOSCHETTI, 2008, p. 92) - as chamadas
políticas Keynesianas.
Diante disso, vale neste momento a discussão sobre o Estado de Bem-Estar Social,
ou Welfare State, e sua proposta frente a esse “consenso” visto anteriormente. Isso serve
para materializar tal modelo de Estado, com a expansão de políticas sociais e a ampliação
do papel do Estado frente às expressões da questão social. Mais uma vez contraditório, o
Welfare State, idealizado pelo britânico John Maynard Keynes (1883-1946), tem por obje-
tivo a contribuição para a superação da crise do capitalismo de 1929, que deve ser vista
também como uma conquista da classe trabalhadora por direitos sociais.
Esse Estado como por uma de suas bases a influência do Plano Beveridge, propos-
ta inglesa da década de 40 do século XX, como alternativa crítica aos modelos de seguros
sociais alemães Bismarsckianos, amplos de seguridade social. Em geral, as propostas
estruturantes do Welfare State seriam “a ampliação da responsabilidade do Estado na
manutenção das condições de vida dos cidadãos [...], universalidade dos serviços sociais
[...] e a implantação de uma rede de segurança de serviços de assistência social”, conforme
apontam Behring e Boschetti (2008, p. 94).
Voltando ao processo histórico de implementação de políticas sociais brasileiras, é
interessante destacarmos alguns dos acontecimentos constitutivos até a Constituição Fe-
deral de 1988, lembrando que não devemos confundir políticas sociais com Welfare State.
Podemos observar que a Política Social apresenta grande caráter contraditório, em
especial no Brasil, visto que, com o advento da crise do sistema de 1929, o Estado passa
a expandir suas ações sociais frente às expressões da questão social com vistas à recupe-
ração do modo de produção capitalista e resposta também às manifestações trabalhistas.
Passamos ainda por um forte período de repressão e diminuição dos direitos até
então adquiridos e outros que nunca chegaram a se concretizar, com o momento no qual o
país vivia, um regime militar que durou cerca de 20 anos da história do Brasil. Fato é que a
população ganha amplo poder de participação nas tomadas de decisões políticas no país
a partir da Constituição Federal de 1988, com a chamada Constituição Cidadã, sendo a
primeira vez que esse termo começa a realmente ser trabalhado no Brasil. Além disso, com
a Constituição de 88 temos a conquista de um sistema de Seguridade Social e a definição
de Saúde, Previdência e Assistência Social enquanto políticas públicas e direito de todos
os cidadãos.

UNIDADE IV Legislações Sociais 128


Ao conhecermos nosso processo histórico de Políticas Públicas e Sociais, confir-
mamos a tese de diversos autores ao afirmarem que, de fato, o Estado de Bem-Estar Social
no Brasil nunca chegou a ser consolidado, visto que apenas no final da década de 80 do
XX passamos a discutir o conceito de seguridade social, universalização e integralidade na
saúde, definição da assistência social como política pública e direito de todo cidadão, e a
participação social como instrumento legítimo de formulação de políticas públicas. Veja a
seguir um breve apanhado histórico e no decorrer desta unidade de estudo você poderá
expandir ainda mais o seu conhecimento:

Quadro 2: Breve histórico acerca das Políticas Públicas no Brasil.

1942 Legião da Boa Vontade (LBA) - com ações de cunho assistencialista e voltadas ao primeiro
damismo, fundado pela Primeira-dama Darcy Vargas.
1964-1985 Período da Ditadura Militar no Brasil, momento de grande repressão e supressão de direitos
constitucionais, perseguição política a diversos grupos que se apresentam contrários ao
regime.
Década de Crise do modelo de produção taylorista-fordista, a qual culmina em uma redução dos traba-
70 lhadores industriais, fabris, além da diminuição de postos de trabalhos estáveis e especiali-
zados, aumentando a massa de trabalho precarizado.
1974 Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) - Atendimento
médico prestado apenas aos trabalhadores com carteira assinada.
1988 Constituição Cidadã de 1988 - Definição de um Sistema de Seguridade Social, formado pelo
Tripé Assistência Social, Previdência Social e Saúde. Nesse momento, de fato, a saúde
torna-se direito de todo cidadão, integral e universal.
1990 Lei Orgânica Saúde nº 8.080/1990 e Lei nº 8.142/1990, que dispõem sobre a participação
da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências
intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde, além de darem outras pro-
vidências.
1993 Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS).
2004 Aprovação da Política Nacional da Assistência Social (PNAS) - Resolução nº 78, de 22 de
junho de 2004.
2005 Implementação do Sistema Único da Assistência Social (SUAS). Norma Operacional Básica
do SUAS - Resolução CNAS nº 130, de 15 de julho de 2015.
Fonte: Elaborado pela autora.

No entanto, mesmo com todas essas conquistas, não podemos deixar de nos
situar frente ao sistema, ou seja, o Brasil inserido num sistema hegemônico neoliberal,
em especial durante a década de 90 do século XX, sistema este que visa a diminuição
das funções executivas do Estado, reestruturação das políticas públicas, em especial das
sociais, conforme vemos a seguir:
As tendências de construção de um Estado de proteção social de cunho
universalista entram em declínio e, em seu lugar, surgem as iniciativas de
alteração do consenso construído e contido na carta constitucional, tendo
como escopo a busca da igualdade social. O ideário do Estado Mínimo
predominou sobre o Estado de Bem-Estar, sendo os programas sociais

UNIDADE IV Legislações Sociais 129


concebidos com foco central na pobreza, de acordo com as diretrizes das
agências multilaterais. A redução das desigualdades sociais deixa de ser o
objetivo a ser perseguido, e assiste-se à desobrigação do poder público com
a cidadania social, conforme evidenciam não só os processos de privatização
de ações tradicionalmente sob a responsabilidade pública, como a persistente
redução de direitos conquistados, especialmente os relacionados à proteção
ao trabalhador (NOGUEIRA e TUMULERO, 2015, p. 207).

Essas reflexões contextuais e históricas, vistas até então, são necessárias para si-
tuarmos o Serviço Social inserido nessa arena conflituosa e contraditória da Política Pública
e num contexto de Estado Neoliberal.
A partir disso, cabe a nós o embasamento crítico para pensarmos e repensarmos
no cotidiano, nossa função e compromisso frente a esse cenário antagônico e complexo de
desigualdades sociais.
Na busca da garantia de segurança social e ampliação da capacidade dos sujeitos,
é fundamental termos em mente que não estamos atuando apenas com as questões da
pobreza econômica, mas sim, também, com dimensões não econômicas e multidetermina-
das. O combate à pobreza e às desigualdades não implica, exclusivamente, na melhoria de
renda, mas também no enfrentamento das vulnerabilidades e dos riscos sociais, no acesso
a bens e serviços, fornecidos e garantidos pelo Estado, de forma equânime e, acima de
tudo, com qualidade.
Com isso, conheça um pouco mais sobre as legislações sociais, como se consti-
tuem e se organizam.

UNIDADE IV Legislações Sociais 130


1.1 Legislação Social

Antes de adentrarmos nas legislações sociais, precisamos refletir sobre a história


dos direitos em nosso país, pois até 1930, não existia em nossa nação a garantia de direi-
tos, sendo até então a Igreja Católica e a própria sociedade atendiam a quem precisa-se
de qualquer tipo de auxílio, ou seja, de forma assistencial. E somente as pessoas de “alta
classe”, se beneficiam de seus direitos civis e políticos.
É importante retomar que os direitos sociais (os últimos a serem reconhecidos como
direitos) da forma como conhecemos na atualidade percorreu uma longa jornada histórica
na sociedade, aliás os direitos sociais continuam em constante em construção.
As conquistas dos direitos civis, políticos e sociais, teve sempre forte ligação com os
movimentos sociais e populares, que buscavam a democracia, o estabelecimento e acesso
aos seus direitos, sobretudo no final da década de 1970. Quando ao fortalecerem as reivin-
dicações adentram a década de 1980, que fica marcada pela promulgação da Constituição
Federal de 1988, também chamada de Constituição Cidadã, fruto da participação popular.
Foi esta Constituição a responsável em estabelecer as diretrizes da sociedade bra-
sileira, pois a mesma determina a legalidade os princípios das ações de toda a população.
Isso fica evidenciado já em seu artigo 1º, quando observamos os fundamentos da República
Federativa do Brasil, podemos ver a estrutura estabelecida para a nossa nação:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrá-
tico de Direito e tem como fundamentos:

UNIDADE IV Legislações Sociais 131


I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta (BRASIL, 1988)

Importante destacarmos que a Constituição de 1988, é a que apresenta ao Brasil o


conceito de cidadania, que são direitos políticos, sociais, civis, coletivos e individuais. Com
a Constituição de 1988, surge também a garantia dos direitos sociais. Foi somente com esta
Constituição que, todo brasileiro, passou a ser igual perante a lei, ou seja, tivemos reconhe-
cido o princípio da isonomia, o que impede assim, qualquer forma de discriminação, porém
a constituição evidencia ainda que é justa diferenciação entre pessoas em situação distinta,
ou seja, entre um inocente e um criminoso. A Constituição Federal de 1988 evidencia os
direitos sociais do 6º ao 11º artigos:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição. (BRASIL, 1988).

Já a partir do artigo 7º, podemos ver que se trata de um item específico aos tra-
balhadores e até o artigo 11º, vamos observar que tratam à liberdade dos trabalhadores
sindicalizar-se, expressar-se e até mesmo o direito à greve.
Sabemos que infelizmente em nossa sociedade existe uma grande desigualdade
social, você mesmo pode conhecer pessoas sem condições dignas de moradia, desempre-
gadas, subempregadas, vítimas de violências domésticas, sem acesso a medicação de alto
custo ou tratamento de saúde adequado, entre tantas outra condições que refletem a falta
de acesso aos direitos previstos na Constituição.
A partir do exposto e das desigualdades por você conhecida em sua cidade é pos-
sível constatar que muitos brasileiros não gozam desses direitos, portanto, precisamos ter
clareza de que há uma garantia constitucional e, portanto, cabe ao poder público (em todas
suas esferas), buscar forma de garantir e implantar os direitos sociais, lembrando também
que é direito da população se organizar e cobrar para que seus direitos sejam respeitados.
Segundo Marshall (1967, p.70), “a educação e os serviços sociais estão diretamente ligados
aos direitos sociais”.
A partir dos direitos sociais contidos na Constituição Federal de 1988, nascem todas
as Políticas e Legislações Sociais que você poderá conhecer a partir de agora, vamos lá?

UNIDADE IV Legislações Sociais 132


SAIBA MAIS

Todo município brasileiro tem conselhos de direitos, alguns exemplos são o conselho
da criança e adolescente, conselhos da assistência social, conselho da habitação e
conselho da saúde. Todos estes conselhos são paritários, ou seja, devem ser formados
pela sociedade civil organizada e pelo poder público local. Todo cidadão tem direito a
voz, e quanto conselheiro, direito a voz e voto. Os conselhos são espaços democráticos
de participação e controle social. Sendo que para receber alguns recursos financeiros
do governo federal, os municípios devem ter efetivado alguns destes conselhos citados
Outro espaço que todo cidadão brasileiro pode e deve participar, são as reuniões da
câmara de vereadores, pois as mesmas devem ser abertas à população.

Fonte: Orientações para conselhos da área de assistência social / Tribunal de Contas da União. – 3. ed.
– Brasília: TCU, Secretaria Geral de Controle Externo, 2012.   NARCISO, Gerusa Ster V. S. O Controle
Social no Conselho do Idoso. COMID Vitória, ES, 2011.

UNIDADE IV Legislações Sociais 133


2 LOAS: LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

A Lei Orgânica de Assistência Social ou, LOAS, como ficou conhecida, foi promul-
gada durante o governo do Presidente Itamar Franco, e nos afirma:
Art. 1°A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de
Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada
através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da socieda-
de, para garantir o atendimento às necessidades básicas (LEI Nº 8.742/93)

Importante evidenciar que desde que a LOAS foi criada, houve o reconhecimento
da assistência social como política pública, uma vez que a Assistência Social já havia sido
prevista como direito pela Constituição Federal. Sendo ainda que esta legislação entre
outros avanços para a política de assistência social, apresenta o Benefício de Prestação
Continuada (BPC), que até então estava previsto no artigo 203 da Constituição Federal de
1988:
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora
de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a
lei. (Brasil, 1988).

A LOAS, não deve ser compreendida somente como sendo a garantia deste benefí-
cio, a mesma deve ser vista em sua totalidade, pois é esta legislação que garante que toda
a população tenha suprido suas necessidades básicas.
Ao analisarmos a LOAS, observamos que a mesma visa à proteção e a garantia à
vida à família, à maternidade, à infância, à adolescência e juventude, à velhice, as pessoas

UNIDADE IV Legislações Sociais 134


com deficiência e promoção da integração à vida comunitária. Busca ainda a redução de
danos e a prevenção da incidência de riscos.
Evidenciamos a seguir alguns pontos fundamentais da lei, primeiramente vamos
observar o processo e contexto histórico de sua criação, onde está exposto suas definições
e objetivos.
Pois bem, você já compreendeu que a assistência social é política pública, e con-
forme previsto na Constituição Federal de 88, em seu art. 194, ela é não contributiva e
garantida a quem dela precisar e que o conjunto integrado de ações.
No Artigo 1º da LOAS, pode ser realizado com outras políticas setoriais:
Parágrafo único. Para o enfrentamento da pobreza, a assistência social reali-
za-se de forma integrada às políticas setoriais, garantindo mínimos sociais e
provimento de condições para atender contingências sociais e promovendo a
universalização dos direitos sociais (LEI Nº 8.742/93).

A LOAS ainda estabelece os princípios da Política Nacional de Assistência Social:


Art. 4º A assistência social rege-se pelos seguintes princípios: I - supremacia
do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabili-
dade econômica; II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o
destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas;
III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a
benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e
comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade;
IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de
qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e
rurais; V - divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos
assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos
critérios para sua concessão. (LEI Nº 8.742/93).

A LOAS, segue o princípio da descentralização, da participação popular e foi pela


criação do SUAS, pois foi a mesma que viabilizou o sistema descentralizado e participativo
em todo o território nacional, conforme podemos observar a estrutura da atual política
Art. 6o - A. A assistência social organiza-se pelos seguintes tipos de proteção
I - proteção social básica: conjunto de serviços, programas, projetos e bene-
fícios da assistência social que visa a prevenir situações de vulnerabilidade
e risco social por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições
e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. II - proteção social
especial: conjunto de serviços, programas e projetos que tem por objetivo
contribuir para a reconstrução de vínculos familiares e comunitários, a defesa
de direito, o fortalecimento das potencialidades e aquisições e a proteção
de famílias e indivíduos para o enfrentamento das situações de violação de
direitos.

Parágrafo único. A vigilância socioassistencial é um dos instrumentos das


proteções da assistência social que identifica e previne as situações de risco
e vulnerabilidade social e seus agravos no território.

Art. 6o- B. As proteções sociais básica e especial serão ofertadas pela rede
socioassistencial, de forma integrada, diretamente pelos entes públicos e/ou
pelas entidades e organizações de assistência social vinculadas ao SUAS,
respeitadas as especificidades de cada ação. (LEI Nº 8.742/93).

UNIDADE IV Legislações Sociais 135


A referida Lei ainda apresenta a garantia de benefícios eventuais, que devem ser
oferecidos às pessoas/famílias que não possuem condições de solucionar por conta própria
uma situação específica de adversidade ou mesmo que esteja fragilizando a manutenção
deste cidadão/família. Estes benefícios devem ser oferecidos pelos municípios e pelo Dis-
trito Federal, e nenhuma pessoa precisa deve ter qualquer custo para solicitá-lo, bastando
realizar a solicitação no CRAS, porta de entrada. Os benefícios eventuais são oferecidos
nas seguintes situações:
Art. 22. Nascimento: para atender as necessidades do bebê que vai nascer;
apoiar a mãe nos casos em que o bebê nasce morto ou morre logo após o
nascimento; e apoiar a família em caso de morte da mãe. Morte: para atender
as necessidades urgentes da família após a morte de um de seus provedores
ou membros; atender as despesas de urna funerária, velório e sepultamento,
desde que não haja no município outro benefício que garanta o atendimento
a estas despesas. Vulnerabilidade Temporária: para o enfrentamento de
situações de riscos, perdas e danos à integridade da pessoa e/ou de sua
família e outras situações sociais que comprometam a sobrevivência. Calami-
dade Pública: para garantir os meios necessários à sobrevivência da família
e do indivíduo, com o objetivo de assegurar a dignidade e a reconstrução da
autonomia das pessoas e famílias atingidas (LEI Nº 8.742/93).

A política social continuou avançando, no período de 1997 a 2012 onde observam-


-se concepções diversas e em 2004, foi aprovada a Política Nacional de Assistencial Social
(PNAS) e no ano seguinte, foi instituído o SUAS (Sistema Único de Assistência Social) que
passa a realizar a gestão da política social brasileira em sua totalidade. Com o SUAS, foi
implantado os seguintes aspectos de proteção: Proteção Social Básica (PSB) e Proteção
Social Especial (PSE), que ainda é divida em média e alta complexidade.
Por fim é importante que você compreenda bem os itens nesta unidade apresentada,
uma vez que durante a sua intervenção profissional lançará mão de muitas das legislações,
bem como os benefícios aqui apresentados, por exemplo, segundo Oliveira (2020) algumas
pessoas confundem o BPC (Benefício de Prestação Continuada), com a LOAS (Lei Orgâ-
nica da Assistência Social), em si. Lembre-se de dois aspectos neste sentido: Primeiro o
BPC é garantido pela LOAS. Segundo, nenhum brasileiro, precisa pagar um profissional ou
outra pessoa para acessar o BPC, pois o mesmo estabelece critérios claros, basta ir até o
CRAS mais próximo para realizar a solicitação.
Neste momento cabe à você aproximar-se da PNAS e seus desdobramentos, ao
longo do curso você terá diferentes disciplinas que possibilitarão que você se aproprie com
profundidade desta importante política, tão presente no cotidiano profissional. Aproveite
para explorar e conhecer muito mais sobre esta política consultando os sites do governo,
procure conversar com profissionais de serviço social do seu município, e também conhecer
os diferentes serviços ofertados na área de assistência social na sua cidade.

UNIDADE IV Legislações Sociais 136


REFLITA

“No avanço da democracia, fundada na participação e do controle popular; na univer-


salização dos direitos e, em consequência, da cobertura e do atendimento das políticas
sociais; na garantia da gratuidade no acesso aos serviços; na integralidade das ações
voltadas à defesa da cidadania de todos na perspectiva da igualdade.”

Fonte: IAMAMOTO. Marilda. O Serviço Social na cena Contemporânea. CFESS, ABEPSS. Serviço
Social: direitos sociais e competências profissionais. CEAD/UnB. Brasília. 2009.

UNIDADE IV Legislações Sociais 137


3 LDB - LEI DE DIRETRIZES E BASES - LEI 9.394/1996

A LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação, (conhecida por alguns estúdios


como a Lei Darcy Ribeiro) deve ser percebida como a legislação de maior importância no
que diz respeito à educação brasileira, foi aprovada em dezembro de 1996 (Lei nº 9394/96),
sendo criada para garantir, planejar e viabilizar a toda população brasileira o direito a ter
acesso a educação, via de regra de forma gratuita e com qualidade.
A Lei busca a valorização dos profissionais da educação, respeitando as particulari-
dades das regiões brasileiras, dividindo a obrigatoriedade e responsabilidades entre União,
Distrito Federal, Estados e Municípios. Reafirma o direito constitucional à educação a todo
brasileiro e estabelece que os princípios e diretrizes da política de educação, tanto na rede
pública quanto na rede privada.
Ao analisarmos esta lei, observamos que a educação brasileira é dividida em dois
níveis: educação básica e o ensino superior.
A educação básica se divide em: Educação Infantil – centros de educação infantil
(de 0 a 3 anos) e pré-escolas (de 4 e 5 anos) – gratuita, mas obrigatória a partir dos cinco
anos, de competência dos municípios. Ensino Fundamental I – anos iniciais (do 1º ao 5º
ano) e Ensino Fundamental II - anos finais (do 6º ao 9º ano), é obrigatório e gratuito. A LDB
deixa claro que gradativamente os municípios serão os responsáveis por todo o ensino
fundamental. Na prática os municípios estão atendendo aos anos iniciais e os Estados
os anos finais. E por último o Ensino Médio (do 1º ao 3º ano). É de responsabilidade dos

UNIDADE IV Legislações Sociais 138


Estados, podendo ser técnico profissionalizante, ou não. Quanto ao Ensino Superior, é de
responsabilidade da União e neste nível, não há garantido a gratuidade para todos.
O Brasil ainda conta com algumas particularidades, que são: Educação Especial –
Atende aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de
ensino. Educação à distância – Atende aos estudantes em tempos e espaços diversos, com
a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação. Educação Profissional
e Tecnológica – Visa preparar os estudantes a exercerem atividades produtivas, atualizar
e aperfeiçoar conhecimentos tecnológicos e científicos. Educação de Jovens e Adultos –
Atende as pessoas que não tiveram acesso a educação na idade apropriada. Educação In-
dígena – Atende as comunidades indígenas, de forma a respeitar a cultura e língua materna
de cada tribo e educação quilombola, que atende as comunidades específicas. A LDB ainda
realiza a previsão para o estágio e o ensino militar. Esta legislação ainda aborda a formação
dos profissionais de educação, e estabelece as diretrizes para a política de educação em
todo território nacional, sendo a mesma pública ou privada.
A LDB foi um avanço a sociedade brasileira é também fruto de lutas e movimentos
sociais que buscavam uma educação de qualidade, igualitária e com acesso a todos. Já em
seu artigo primeiro podemos perceber que a educação é compreendida como um processo
de formação humana e de preparação para o mundo do trabalho, de acordo com a LDB,
Leiº 9394/96
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem
na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de
ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil
e nas manifestações culturais. § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar,
que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições
próprias. § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e
à prática social. (BRASIL, 1996).

Destacamos também o artigo 2º, que seguindo o previsto da Constituição Federal,


evidencia que a política de educação deve ser construída por todos, sendo que a mesma
garante a participação da comunidade escolar na construção do projeto ético político de
cada estabelecimento de ensino. Assim a LDB, permite que cada estabelecimento de ensi-
no mantenha as características de sua comunidade.
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho. (LEI Nº 9394/96).

Quanto aos princípios da LDB, os mesmos também são coerentes com a Constitui-
ção Federal, em especial o artigo 206, são eles:

UNIDADE IV Legislações Sociais 139


I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - li-
berdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento,
a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições
públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabele-
cimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII -
gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos
sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da
experiência extraescolar; XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho
e as práticas sociais. XII - consideração com a diversidade étnico-racial. (LEI
Nº 9394/96).

Observamos que esses princípios em si, visam o ensino com qualidade e igualdade
a todos os brasileiros, a LDB, prevê além do acesso à educação, a permanência de seus
alunos na política de educação, o que é considerado um avanço frente a questão de direitos.
O Ministério da Educação é o responsável pelo Plano Nacional de Educação, que
como prevê a LDB, deve ser revisto a cada 10 anos. O PNE que está em vigor é 2014-2020
e o mesmo possui 20 metas e 253 estratégias que norteiam os dirigentes educacionais no
planejamento e execução da realidade brasileira, sendo sempre com equidade e gratuidade.
Importante ressaltar o Plano Plurianual, documento que tem vigência durante quatro
anos e feito em todas as esferas de governo, sempre à luz do que contempla a Constituição
Federal, cada ente federativo deve destinar de forma obrigatório parte de seu recurso para
a política de educação.
A União precisa alocar 18% de sua receita líquida para essa área, enquanto
estados e municípios devem destinar 25% da receita líquida e transferências
constitucionais. Esses recursos são investidos em projetos e ações voltadas
para o financiamento da educação básica. (BLUME, 2016, online).

Por fim apontamos a importância de compreendermos a LDB, bem como se opera-


cionaliza a política da educação, consideramos ainda que a educação (formal e não formal)
se configura em uma das diversas áreas em que o Assistente Social poderá atuar, mas
esse é um assunto que veremos em outra disciplina.

UNIDADE IV Legislações Sociais 140


4 CLT - CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS

A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), surgiu pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1


de maio de 1943. A mesma foi estabelecida e consequentemente promulgada no período
denominado como “Era Vargas”, e até a atualidade é reconhecida como um marco na
história dos trabalhadores, pois unificou todas as legislações trabalhistas e assim, regula-
mentados os direitos, até os dias atuais.
A CLT, ainda passou a dar segurança ao trabalhador, pois até então havia explora-
ção como jornadas excessivas e baixos salários, bem como exploração do trabalho de mu-
lheres e permissão do trabalho feito por crianças e adolescentes sem nenhuma segurança.
Os principais aspectos quanto aos avanços antes da CLT são: Salário mínimo;
Registro do trabalhador/Carteira de trabalho; Jornada de trabalho; Período de descanso/
Férias; Medicina do trabalho; categorias especiais de trabalhadores; Proteção do trabalho
da mulher e licença maternidade; Contratos individuais de trabalho; Organização sindical;
Convenções coletivas; Fiscalização; Justiça do trabalho e processo trabalhista, Fundo de
garantia por tempo trabalhado; Seguro desemprego Vale refeição e Adicional noturno; Fal-
tas justificadas e Trabalho com proteção ao adolescente na condição de aprendiz.
Importante pontuarmos que a CLT, também determina regras para que seja cum-
prido/ou indenizado o aviso prévio em caso de desligamento do funcionário, determina as
condições de trabalho insalubre e até mesmo estabelece o direito à greve. Ainda define
como devem ser realizadas as fiscalizações e até mesmo os valores de multas quando há

UNIDADE IV Legislações Sociais 141


necessidade. E esta lei ainda que explicita o funcionamento dos órgãos como Ministério
Público do Trabalho e a Justiça do Trabalho.
A mesma foi uma vitória importante a todos os trabalhadores, pois estabeleceu
direitos e deveres tanto para os empregados, como para os empregados, pois até a as-
sinatura da mesma, não havia qualquer tipo de fiscalização e em muitas regiões ainda
utilizavam os conceitos dos trabalhos escravos ou o trabalho por troca de comida ou outra
necessidade do trabalhador. Foi somente com o avanço das indústrias em território nacio-
nal, que aumentou a classe operária e consequentemente reivindicações que o governo
começou a discutir a criação da mesma. A CLT teve seu texto criado por diversos juristas,
que seguiram quatro fontes:
As conclusões do 1° Congresso Brasileiro de Direito Social, que aconteceu
em maio de 1941; As convenções internacionais de trabalho; O documen-
to Encíclica Rerum Novarum, ou “Das Coisas Novas” na tradução para o
português, redigido pelo Papa Leão XIII a 15 de Maio de 1891, abordando
questões relativas às classes trabalhadoras; A Carta del Lavoro, a “Carta do
Trabalho” italiana apresentada por Benito Mussolini. (CAMPANA, 2008).

Entende-se nesta legislação que há normas que regulamentam a relação entre


trabalhador e empregador, contemplando direitos e também deveres de ambos e esclare-
cendo as normas das relações de trabalhos. A CLT é válida para as relações individuais e
coletivas e protege o trabalhador tanto urbano quanto o rural. A CLT, foi a responsável pela
democratização nas relações de trabalho, e com o passar dos anos, a CLT, passou por
reformas sendo a última a Reforma Trabalhista em 2017, e a mesma deve passar por novas
atualizações, visto que as mudanças mundo do trabalho são dinâmicas e acompanham
as mudanças mundiais, porém a sociedade civil deve permanecer organizadas, visando
sempre a garantia e a manutenção de seus direitos.

SAIBA MAIS
Em 2020 a CLT, completou 77 anos de existência trazendo algumas curiosidades tais
como: Divisão de férias; Aviso de férias; Definição de férias pode ser definida pelo empre-
gador; Pisos salariais; Carga máxima de peso que empregados pode pegar; Carga horária
de 06 horas para músicas, telefonistas e outros profissionais; lactantes podem amamentar
seus filhos por até 06 meses; Estabeleceu regras de promoção de funções; e estabelece
segurança ao trabalhador após 10 anos de trabalho. A CLT é leitura fundamental para
todo trabalhador que possui sua Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS)

Fonte: ZANLUCA, Júlio César. A Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. Guia Trabalhista. s/d. Dis-
ponível em: < http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/clt.htm>. Acesso em 12. jul. 2020.

UNIDADE IV Legislações Sociais 142


5 ECA – ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

No ano de 1990, o Brasil, promulgou a legislação que visa a garantia totalitária e


absoluta da criança e do adolescente, pois até então havia o direcionamento do código de
menores.
Foi com o Código de Menores (Decreto nº 1734/A, de 12 de outubro de 1927)
que o Estado respondeu pela primeira vez com a internação, responsabili-
zando-se pela situação de abandono e propondo-se a aplicar os corretivos
necessários para reprimir o comportamento delinquência. Os abandonados
estavam na mira do Estado, porém buscava-se a preservação da ordem
social e assim, o Estado era o responsável por providenciar a assistência às
crianças e adolescentes abandonados, para “reeducá-los” ou “recuperá-los”.
Crianças e adolescentes abandonados eram chamados de “menores” Era
aceita a disciplina corporal de crianças e adolescentes, com a finalidade de
educá-los (PASSETTI, 1999, p. 355).

O Código de Menores surgiu durante a ditadura militar e como podemos perceber


com a citação acima as crianças e adolescentes em especial os advindos de famílias pobres
eram tratados como delinquentes, onde o Estado então opressor, justificativa as formas de
punição como medidas de correção e ajuste da conduta.
O ECA surge como uma forma de proteção, pois mesmo em 1990, reforçando
os princípios constitucionais de igualdade e liberdade, além de evidenciar que todos são
responsáveis pela formação das crianças e adolescentes:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à digni-
dade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.(BRASIL, 1988)

UNIDADE IV Legislações Sociais 143


O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), completa agora em 2020, 30 anos
de sua existência, sendo o mesmo o resultado de um longo processo de reivindicações de
diversos setores que buscavam à criança e ao adolescente. O ECA contempla, além dos
direitos das crianças e dos adolescentes, com caráter universal, traz também as diretrizes
para gestão dos órgãos, instâncias e instituições que tratam da proteção social deste seg-
mento.
O ECA pensou na criança e adolescente como um ser completo e de direitos desde
o seu nascimento, o estatuto conta com 267 artigos que abordam diferentes aspectos,
como por exemplo: acesso e prioridade no atendimento à saúde, acesso e permanência
na educação, proteção contra a violência e tipificação de crimes contra a criança, proteção
contra o trabalho infantil, regras da guarda, tutela e adoção, proibição do acesso a bebidas
alcóolicas, autorização para viajar, entre outras questões.
Crianças e Adolescentes estão em processo de desenvolvimento físico, psicológico
moral e social. Quando o adolescente comete algum ato infracional, também sofre puni-
ções, podendo ser apreendido, devendo passar por ressocialização frente a uma equipe
multidisciplinar durante o cumprimento de medida, que para o adulto seria a condenação. A
medida aplicada ao adolescente não pode ser superior a três anos e sempre deve priorizar
a sua ressocialização junto a sociedade. O ECA ainda estabelece a proibição total ao tra-
balho infantil, salvo na condição de aprendiz a partir dos 14 anos.
Outro avanço apresentado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, foi o estabe-
lecimento mínimo de um conselho tutelar em cada município, sendo permanente e autôno-
mo, não jurisdicional, escolhido pela sociedade civil, por meio de eleição e encarregado de
zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente.
O Conselho Tutelar é um órgão de proteção e também de fiscalização frente aos
direitos, segurança e proteção, os membros são remunerados e eleitos por um processo
de eleição convencional, ou seja um processo democrático, com validade de 04 anos. Tra-
ta-se de um grupo de pessoas que se dedicam exclusivamente para trabalhar em prol das
crianças e adolescentes, visando a garantia de direito dos mesmos.
Trata-se de serviço público de interesse local (segundo artigo. 227, pará-
grafo. 7º e 204 C.F.) a ser criado em obediência à norma geral federal (art.
204, I, C.F.) nos termos do parágrafo primeiro e do inciso XV do artigo 24 da
Constituição Federal, por lei municipal, conforme incisos V e II do artigo 30 da
mesma Constituição. Ou seja, cumprindo a norma geral federal (O Estatuto
da Criança e do Adolescente), a lei municipal suplementa a legislação federal,
organizando um serviço público local que tem caráter essencial no campo da
proteção à infância e à juventude (ZANLUCA, 2020, online).

UNIDADE IV Legislações Sociais 144


Desde 1993, o estatuto passou por alterações ao longo de sua existência como,
por exemplo, em 2009, quanto a questão da adoção de crianças e adolescentes. O ECA,
ainda é na atualidade, uma legislação que busca ver a criança e adolescente com um ser
em desenvolvimento respeitando a sua dignidade, vida, liberdade, saúde e demais direitos
constitucionais. Cabe ao Estado zelar pelas crianças e adolescentes brasileiros, porém a
responsabilidade é também da família e de toda a sociedade.
Ainda há muito a ser feito no que diz respeito aos direitos das crianças e adolescentes,
não desmerecendo os 30 anos de luta e esforço, é necessário um a soma conjunta de toda
sociedade, para que casos de violação de direitos continuem ocorrendo.
Mais do que lutar pela infância e juventude, é preciso lutar com a infância e a
juventude, rearticular forças, mobilizar, discutir o contexto no qual se encontra
o país e os rebatimentos da retração de direitos na vida concreta da popula-
ção. Os direitos não são lineares, nem fixos; são moldáveis às conjunturas e
à capacidade de organização da sociedade (CFESS, 2017, p. 2).

O Estatuto da Criança e do Adolescente (1993), apresenta o cidadão por faixa


etária, segundo o mesmo considera-se criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos
e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade. Pode se estender até aos 21 anos
em casos específicos, como por exemplo, filhos universitários que necessitam da pensão
dos pais. O mesmo ainda trouxe uma série de mudanças frente a proteção tais como:
Reconhecimento de direitos: Garantia que as crianças e adolescentes brasileiros, até então
reconhecidos como meros objetos de intervenção da família e do Estado, passem a ser
levados a sério e tratados como sujeitos autônomos.
Pense nisso!

UNIDADE IV Legislações Sociais 145


6 ESTATUTO DO IDOSO

O Estatuto do Idoso constitui um marco legal para a consciência idosa do país. A


partir dele os idosos poderão exigir a proteção aos seus direitos e demais membros da so-
ciedade podem se tornar mais sensibilizados para o amparo dessas pessoas Neri (2005).
Uma legislação de grande relevância e significado no que diz respeito ao atendi-
mento aos direitos do idoso, que deve contar com a devida atenção, controle social e fisca-
lização tanto por parte do Estado, quanto da sociedade civil em suas diferentes instâncias.
Em suas disposições preliminares, o Estatuto do Idoso salienta que os indivíduos
na terceira idade continuam a gozar de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana. Indica no que diz respeito aos idosos, a necessidade de espaço na sociedade civil
por meio dos Conselhos de Direitos dos Idosos, Fóruns de Debate e demais movimentos
sociais que oferecem suporte ao atendimento das suas necessidades.
Tornando necessário promover uma permanente articulação política no âmbito
da sociedade civil organizada para definir propostas e estratégias comuns ao campo de-
mocrático “[...] voltada ao fortalecimento dos sujeitos coletivos, dos direitos sociais e a
necessidade de organização para sua defesa, construindo alianças com os usuários dos
serviços na sua efetivação.” (IAMAMOTO, 2009, p.366).
Conforme Neri (2005) o Estatuto está dividido em sete títulos - disposições prelimi-
nares, direitos fundamentais, medidas de proteção - no artigo destaca-se que as medidas
de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta lei forem

UNIDADE IV Legislações Sociais 146


ameaçados: I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, omissão
ou abuso da família; III - em razão de sua condição de pessoa - política de atendimento,
acesso à justiça, crimes e disposições finais e transitórias - distribuídos em 118 artigos. .
Para refletir sobre a importância da força da organização da sociedade civil, acom-
panhe a citação abaixo:
O comprometimento com os mais velhos, mesmo que haja determinações
legais já instituídas para sua execução, depende da força dos movimentos
reivindicadores; ‘a organização dos agentes sociais e especialmente dos
mais velhos, com seus projetos convenientes, é o primeiro passo para a ges-
tão social promotora de regulamentações com novas imagens de identidade
tardia’. (BOTH, 2000, apud ALCÂNTARA, 2019, online)

Esta legislação surge para ampliação dos direitos dos idosos e apresenta vários
desafios da conquista de direitos já preconizados na Política Nacional do Idoso, (Lei nº
8.842), como por exemplo: gratuidade dos transportes e a redução da idade de 67 para 65
anos para obtenção do Benefício de Prestação Continuada (BPC). O Estatuto do Idoso é
composto por 118 artigos e apresenta uma série de direito aos brasileiros maiores de 60
anos, tais como:
Atendimento preferencial. Fornecimento gratuito de medicamentos pelo
Poder Público, especialmente os de uso contínuo, assim como próteses,
órteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação;
Proibição de discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de
valores diferenciados em razão da idade. Descontos de 50% em atividades
culturais, de lazer e esporte; Proibição de discriminação do idoso em qual-
quer trabalho ou emprego. Fixação da idade mais elevada como primeiro
critério de desempate em concurso público; Estímulo à contratação de idosos
por empresas privadas; Reajuste dos benefícios da aposentadoria na mesma
data do reajuste do salário mínimo; Prioridade na aquisição de imóvel para
moradia própria, em programas habitacionais. Gratuidade nos transportes
coletivos públicos aos maiores de 65 anos, com reserva de 10% dos assen-
tos para os idosos; Reserva de duas vagas no sistema de transporte coletivo
interestadual para idosos com renda mensal de até dois salários mínimos,
com desconto de 50%, no mínimo, no valor das passagens, para os idosos
que excederem as vagas gratuitas; Reserva de 5% das vagas nos estacio-
namentos públicos e privados. (OBSERVATÓRIO NACIONAL DO IDOSO,
2008, online).

O Estatuto do Idoso, ainda prevê punições em diversas citações, tais como:


Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações
bancárias ou aos meios de transporte, por motivo de idade. Deixar de prestar
assistência ao idoso, ou recusar, retardar ou dificultar que outros o façam.
Abandonar idosos em hospitais, casas de saúde, entidades de longa perma-
nência ou congêneres. Expor em perigo a integridade e a saúde, física ou
psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desumanas ou degradantes,
privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a
fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo e inadequado. Apropriar-se
ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro tipo de rendimento
do idoso. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar
procuração para fins de administração de bens ou deles dispor livremente.
Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procu-
ração. (OBSERVATÓRIO NACIONAL DO IDOSO, 2008).

UNIDADE IV Legislações Sociais 147


Não podemos deixar de evidenciar que o Estatuto do Idoso representa um grande
avanço frente à proteção jurídica aos brasileiros acima de 60 anos, porém, seguindo os
princípios da Constituição Federal esta legislação também evidencia que o dever da prote-
ção à pessoa idosa é de toda sociedade, e desta forma, a sociedade brasileira, deve exigir a
legislação frente à pessoa idosa seja efetivada evitando assim que retrocessos aconteçam.

UNIDADE IV Legislações Sociais 148


7 LOS – LEI ORGÂNICA DA SAÚDE

A Lei Orgânica da Saúde surgiu com o objetivo de promover a saúde de forma


gratuita em todo território nacional a todo cidadão brasileiro e estabelece os princípios e
as diretrizes fundamentais do SUS (Sistema Único de Saúde). Trata-se da Lei 8.080/1990,
promulgada em 19 de setembro de 1990.
A lei aborda as condições para que seja promovido em todo território nacional da prote-
ção e recuperação da saúde em totalidade, ou seja, é a lei que estabelece ações e serviços de
saúde em todo território nacional e ainda apresenta o contexto de organização do SUS.
A partir desta lei a saúde passa a ser um direito de todos e dever do Estado que
deve além de garantir assegurar o acesso à mesma, bem como reformular a execução de
políticas públicas, sociais e educativas que visem a redução de riscos de doenças e de
outros agravos que venham a sobrecarregar o sistema de saúde.
Ao observarmos o primeiro artigo da Lei Orgânica da Saúde, pode-se observar que
ele faz referência ao artigo 196 da Constituição Federal de 1988 que traz:
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988)

A Lei Orgânica da saúde ainda estabelece que a saúde é um direito fundamental do


ser humano e de dever do Estado, que deve garantir a todo brasileiro o acesso a esta política
de forma igualitária e universal, além de garantir a gratuidade, tanto no acesso e enquanto
houver a necessidade de tratamento. A lei evidencia que o SUS fundamenta-se no acesso

UNIDADE IV Legislações Sociais 149


universal, na assistência integral e igualitária em todo território nacional, o que permitiu que
milhões de brasileiros em áreas remotas tivessem a inclusão as ações de saúde.
Importante ressaltar que o SUS, é um grande conjunto de ações e serviços ligados
a política nacional de saúde, deve oferecer serviços saúde desde aos casos mais simples
até os mais complexos, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e
municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público.
São ações do SUS, ações como controle de qualidade, pesquisa e produção de
insumos, medicamentos inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para a
saúde, além de serviços como atendimento de traumas (em muitos municípios, conhecido
como SAMU).
Outro fator que necessita ser evidenciado frente a Lei 8880/90, refere-se aos prin-
cipais objetivos do SUS, em seu Capítulo I - Dos Objetivos e Atribuições:
Art. 5º São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS:
I - a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes
da saúde;
II - a formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos
econômico e social, a observância do disposto no § 1º do art. 2º desta lei;
III - a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção
e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais
e das atividades preventivas (BRASIL, 1990).

Ao SUS ainda cabe a execução de ações frente a vigilância sanitária; vigilância


epidemiológica; saúde do trabalhador; e assistência terapêutica integral, inclusive farma-
cêutica. Também a participação A participação na formulação da política e na execução
de ações de saneamento básico; a ordenação de pessoas para os recursos humanos na
política de saúde. A vigilância nutricional e orientação alimentar; A colaboração na proteção
do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho; Entre tantas outras ações.
Evidenciarmos os Princípios e Diretrizes do SUS, que é considerado um dos
melhores sistemas de saúde do mundo: (Universalidade); Integralidade; Preservação da
autonomia; Igualdade; Direito à informação; Utilização da epidemiologia, Participação da
comunidade; Equidade; Descentralização: Ênfase na descentralização dos serviços para os
municípios; e na Regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; Integração
e Conjugação dos recursos.
De acordo com a Constituição Federal, há recursos fixos que os governos devem
investir em políticas, sendo que tanto a nível Federal, como Estadual e Municipal, a política
de saúde e a política de educação, possuem este repasse garantido. O SUS, como dito,
é considerado modelo de programa de saúde, porém, por conta de fatores como a má
distribuição de renda e a corrupção o mesmo acaba por se tornar falho.

UNIDADE IV Legislações Sociais 150


8 LEI MARIA DA PENHA

A Lei Maria da Penha (Lei nº.11.340) foi sancionada em 7 de agosto de 2006, (no
governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva), foi criada para combater a violência
doméstica e familiar, garantir a punição com maior rigor dos agressores e criar mecanismos
para prevenir a violência e a proteção à mulher agredida.
A proteção contra a mulher antes da criação desta lei estava presente somente na
Constituição Federal, (art. 226, § 8°), nos casos de violência até então eram tratados apenas
como atos infracionais, não tendo, portanto a característica de crime e consequentemente
a punição era branda.
A lei é composta por 46 artigos distribuídos em sete títulos, visando à proteção
de pessoas que identificam como sendo do sexo feminino, ou seja, heterossexuais e ho-
mossexuais e as mulheres transexuais também estão incluídas. A vítima em geral precisa
relatar que está em situação de desproteção em relação ao agressor, que não precisa ser
o cônjuge, podendo ser qualquer pessoa do convívio da mesma. Um fato relevante sobre
esta lei é que ela foi criada em um processo totalmente democrático, tendo a participação
de sociedade civil organizada de todas as regiões brasileiras, além de um forte apoio de
organizações internacionais.
A implantação da lei trouxe mudanças reais para as mulheres de todas das classes
sociais. Uma das maiores novidades trazidas pela Lei foi a criação dos Juizados de Violên-

UNIDADE IV Legislações Sociais 151


cia Doméstica e Familiar contra a Mulher, com competência cível e criminal, o que deu mais
agilidade aos processos.
A mulher não pode mais entregar qualquer intimação ou notificação ao agressor,
além de ser notificada, de todos os atos processuais praticados, especialmente quanto ao
ingresso e saída da prisão do agressor, e sempre estar acompanhada de um advogado,
tanto na fase policial quanto na judicial, e poder ter acesso aos serviços da Defensoria
Pública e da Assistência Judiciária Gratuita.
Outra inovação, refere-se a punição em si, pois antes da promulgação desta lei, era
possível a aplicação de penas alternativas e após a mesma ficou proibida o uso de pena
pecuniária, pagamento de multa ou prestação de serviço a comunidade. A pena mínima
também foi modificada, tendo sido reduzida para 3 meses e a máxima aumentada para
3 anos, acrescentando-se mais 1/3 no caso de portadoras de deficiência. Foi esta legis-
lação ainda que trouxe o fato de que o Juiz pode impor o comparecimento do agressor a
programas de recuperação e reeducação, o que faz com que o agressor seja reeducado
psicologicamente a cometer a violência.
Ressaltamos ainda que para a Lei Maria da Penha, o agressor pode ser consi-
derado, o padrasto ou a madrasta, o sogro ou a sogra, o cunhado ou a cunhada e até
mesmo outros agregados, que residam em um mesmo lar desde que a vítima seja mulher.
A Lei Maria da Penha é uma das legislações mais conhecida pela população brasileira, e a
mesma ainda foi responsável pela criação da Lei do Feminicídio (LEI Nº 13.104, DE 9 DE
MARÇO DE 2015), onde o assassinato de mulheres passou a ser considerado como crime
hediondo.
Após a criação desta lei, houve uma diminuição de cerca de 10% na taxa de ho-
micídios contra mulheres praticados dentro das residências das vítimas, segundo dados
do Observatório da Mulher Contra a Violência, porém sabe-se que a violência contra a
mulher no Brasil, ainda é alta sendo uma expressão questão social que deve ser debatida e
denúncia por toda a sociedade e assim, o Governo Federal, em 2015, no então governo de
Dilma Rousseff, através da Secretaria de Políticas para Mulheres, criou o disque 180, onde
qualquer pessoa pode ligar e denunciar a violência doméstica de forma gratuita, anônima
e durante 24hs.
Além do disque 180, existem ainda outros canais de denúncia: Disque 100, que é
um serviço criado para combater qualquer caso de violência. Todas as cidades brasileiras
ainda com o número direto da Polícia Militar (190), e nos grandes centros urbanos já há
delegacias especializadas na violência contra a mulher.

UNIDADE IV Legislações Sociais 152


9 ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL

Em pleno século XXI em uma sociedade evoluída, como a nossa, nos parece es-
tranho ter que ainda abordar a questão da igualdade racial, porém, e infelizmente, houve a
necessidade de criar-se uma legislação específica para combater o racismo e evidenciar a
toda a sociedade a questão da igualdade social.
Trata-se da Lei 12.888 de 20 de julho de 2010,no governo do então presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, a mesma tem como o enfoque central a garantia à população negra a
efetivação de seus direitos e o combate à discriminação de todas as formas discriminação.
A legislação apresenta 65 artigos que definem precisamente o que se quer combater com
o estabelecimento desta Lei:
Toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em cor, descen-
dência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir
o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos
humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social,
cultural ou em qualquer outro campo da vida privada (BRASIL, 2010, inciso I,
parágrafo único do art. 1º).

O Estatuto da Igualdade Racial ainda evidencia que o Estado deve garantir a igual-
dade de oportunidade a todo brasileiro e estabelece mecanismos específicos para que seja
garantida a efetivação da participação popular negra.
Outro avanço é a promoção da igualdade nas áreas de educação, saúde, emprego
e renda entre outras, estabelecendo a obrigatoriedade de políticas de inclusão a esta po-
pulação nos planos plurianuais e dos orçamentos anuais da União, Estados e Municípios.

UNIDADE IV Legislações Sociais 153


Também fica estabelecida a questão das cotas e da livre liberdade de consciência
e crença. A lei apresenta um avanço real frente à população negra que sofreu desde sua
chegada em solo brasileiro contra sua vontade, mesmo com todos os avanços ainda sofre
discriminação. O Estatuto da Igualdade Racial, segue os princípios constitucionais, frente a
descentralização e da participação popular, e assim todos devem atuar em espaços como
conselhos deliberativos para que a real efetivação aconteça.
Com a efetivação do Estatuto da Igualdade Racial, a sociedade tem como exigir
do Estado, ações concretas e efetivas para o combate à discriminação e desigualdades
raciais. Finalizamos lembrando que o mesmo adota como sua principal diretriz política a
inclusão das vítimas de desigualdade, a valorização da igualdade étnica e o fortalecimento
da identidade nacional brasileira para toda a sua população.

UNIDADE IV Legislações Sociais 154


10 LEI DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

Antes de iniciarmos a legislação frente a Previdência Social, necessitamos fazer


um breve resgate histórico, pois esta legislação ao longo da história brasileira, passou
diversas modificações. Já no Brasil Imperial, (1824), houve menção à assistência social e
direito à propriedade privada e a segurança individual.
Já em 1888, vemos que o decreto nº. 9.912/1888 regulamentou que os funcionários
dos correios teriam direito a se aposentar e depois os operários das estradas de ferros do
império tiveram o mesmo direito. Dando um salto histórico chegamos à Lei Elói Chaves
(nº. 4.682/1923), sendo esta considerada o primeiro marco previdenciário do Brasil, pois a
mesma instituiu caixas de aposentadorias. Já no ano de 1934, surge uma nova constituição
e com ela o Direito Previdenciário.
Foi nesta constituição também que pela primeira vez, da participação conjunta do
Estado, empregados e empregadores. Houve várias mudanças, até a efetivação da Cons-
tituição Federal de 1988, que em seu artigo 194 estabeleceu: “a seguridade social com-
preende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade,
destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”.
Nesta legislação fica evidenciado o tripé da seguridade social (saúde, assistência social e
a previdência), como podemos observar:
A Constituição Federal de 1988 instituiu o Sistema de Seguridade Social,
formado pelos subsistemas Saúde, Previdência Social e Assistência Social.
Estabelece que “a seguridade social compreende um conjunto integrado
de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a
assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social
(BRASIL, 1988).

UNIDADE IV Legislações Sociais 155


A partir desta legislação a previdência passou a ser vista como uma forma de pro-
teção social, porém, evidencia-se que a política de saúde no Brasil é gratuita, já a política
de assistência social é garantida a quem dela precisa, já no caso da previdência social a
mesma é contributiva, sendo dever da União assegura um regime geral de previdência
social, conforme estabelecido no artigo 201.
Previdência Social atenderá, nos termos da lei: a) cobertura dos eventos
de doença, invalidez, morte e idade avançada; b) proteção à maternidade,
especialmente à gestante; c) proteção ao trabalhador em situação de
desemprego involuntário; d) salário-família e auxílio-reclusão para os
dependentes dos segurados de baixa renda; e) pensão por morte do segurado,
homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes.(BRASIL, 1988).

A última mudança significativa foi governo de Jair Bolsonaro em 2019, com a Lei nº.
13.846 de junho de 2019 que altera em especial:
Fixação de idade mínima para se aposentar (65 anos para homens e 62
anos para mulheres);tempo mínimo de contribuição (15 anos para mulheres
e 20 para homens no setor privado; e 20 para homens e mulheres no caso
de servidores); regras de transição para o trabalhador ativo tanto do setor
privado quanto para servidores; o valor da aposentadoria do setor privado e
de servidores será calculado com base na média de todo o histórico de con-
tribuições do trabalhador (e não descartando as 20% mais baixas, como feito
atualmente); para servidores, a regra é semelhante à do INSS, mas valerá
apenas para quem ingressou após 2003; para aqueles que ingressaram até
31 de dezembro de 2003, a integralidade da aposentadoria (valor do último
salário) será mantida para quem se aposentar aos 65 anos (homens) ou 62
(mulheres); o valor descontado do salário de cada trabalhador (quem ganha
menos vai contribuir menos para o INSS; quem ganha mais vai contribuir
mais). (BRASIL, 2019).

O governo do então presidente Jair Messias Bolsonaro, alega um alto déficit da


previdência social e um aumento da população idosa brasileira, e assim, todos os traba-
lhadores brasileiros ativos, sendo homens com menos de 50 anos e mulheres com menos
de 45 anos passam a fazer parte do novo sistema. Não houve mudanças frente ao BPC,
que ainda é assegurado a idosos e pessoas com deficiências desde que comprovadas as
devidas exigências. Outros pontos frente às mudanças:
IDADE MÍNIMA: HOJE: não há idade mínima para a aposentadoria por tempo
de contribuição. A exceção é a aposentadoria por idade: 65 anos (homem) e
60 (mulher). COMO FICARÁ: Quem quiser se aposentar precisará atingir uma
idade mínima de 65 anos, tanto para homens quanto para mulheres. TRANSI-
ÇÃO: Para os homens hoje, com 50 anos ou mais e mulheres com 45 anos ou
mais se aposentará, pela regra atual será acrescentado 50% sobre o tempo
que restava para se aposentar. TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO: HOJE: Mínimo
de 15 anos para quem se aposenta por idade. Quem se aposenta por tempo
de contribuição, são 35 anos para homens e 30 anos para mulheres COMO
FICARÁ: Mínimo de 25 anos de contribuição para todos. (BRASIL, 2019).

A legislação frente à previdência deve ser vista em sua totalidade, e ser sempre
consultada, pois a mesma está ligada a vida de milhões de brasileiros e ligada diretamente
a economia de nosso país.

UNIDADE IV Legislações Sociais 156


11 A LEGISLAÇÃO FRENTE À POLÍTICA SOCIAL

A Política Social Brasileira é ampla e dinâmica, pois envolve diversas outras políti-
cas, (que muitas vezes são tratadas por nós como políticas transversais; como por exemplo,
a política de habitação, de segurança, educação, previdência e a própria política de saúde),
e assim, passa por atualizações para atender as necessidades da população. Este material
foi elaborado, pensando em lhe dar subsídios para que tenha entendimento frente alguns
aspectos desta política, porém, devemos saber que as políticas sociais no Brasil, surgem
como uma resposta do capitalismo, que traz à população a desigualdade social e assim,
o estado cria assim estas políticas visando atender aos mínimos sociais, ou visa-se o bem
estar da população.
Sabemos que houve avanços ao longo da história brasileira, tais como o SUAS,
SUS, a LOAS, os Estatutos, tais como da Criança e Adolescente, do Idoso, Racial, da
juventude, da Pessoa com Deficiência, entre outros, conquistados com lutas de diversos
segmentos e movimentos e garantindo assim, os direitos de diversos cidadãos.
É necessário que o Assistente Social esteja atento e atualizado ao contexto político
brasileiro, participar de espaços de discussões e garantia de direitos, tais como os conselhos
participativos de diversas áreas de proteção, lutando para que não haja retrocesso e
buscando novas conquistas, sendo que cabe ao assistente social a administração destas
políticas públicas. Não podemos deixar de seguir o projeto ético-político do serviço social
e sempre buscar alternativas que atendam o bem comum da população atendida, sem

UNIDADE IV Legislações Sociais 157


esquecer o contexto de nossa sociedade que ainda apresenta várias realidades dentro de
um mesmo país, ou seja, uma nação rica, que tem grande parte de sua população vivendo
na pobreza, com grande marca do capitalismo.
Por fim vale destacar que de acordo com Gomes (2006) o surgimento das políticas
sociais, aconteceram em diferentes momentos em diferentes países, tendo sua origem no
sistema capitalista. Em alguns países houve o que ficou conhecido como Welfare State,
ou Estado do Bem Estar Social, porém no Brasil, o que houve foram conquistas frente a
movimentos populares, o Estado do Bem Estar Social.

UNIDADE IV Legislações Sociais 158


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Devemos perceber que nosso país é uma nação relativamente “nova”, pois temos
um pouco de 500 (quinhentos) anos de história desde a nossa colonização, onde vários
acontecimentos de extrema relevância aconteceram, como por exemplo, fomos o último
país do mundo a abolir a escravidão, o que ainda reflete em nossas encostas e periferias,
quando olhamos para uma favela brasileira... Sabemos por vivência diária, que somos uma
sociedade machista, e que muito recentemente ganhamos uma legislação de proteção
à mulher. Portanto, tivemos avanços, como a própria Constituição Federal de 1988, que
evidencia de forma clara os direitos sociais para todo cidadão.
Não podemos ainda nos esquecer de que infelizmente nunca tivemos de fato um
“estado do bem estar social” e assim, o Estado capitalista continua oferecendo a sua popu-
lação seus direitos, porém, de forma reduzida, sem ausência de prioridades políticas e com
um Estado que visa o lucro, porém, não de sua população e sim de uma classe específica,
ou seja, vivemos nitidamente a classe opressora e a classe dominada, que precisa vender
a sua mão de obra para que possa lhe ser garantido o mínimo.
Portanto, a cada vez mais precisamos evidenciar que os direitos sociais são direitos
da população e que esta população deve ser organizada, como a própria Constituição Fe-
deral estabelece que deve entre outros fatores acompanhar as decisões governamentais,
participar de espaços de direitos e ter consciência de que todo ser humano, necessita de
dignidade.

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MATERIAL COMPLEMENTAR

FILME/VÍDEO
• Título: “A Classe Operária vai ao Paraíso”
• Ano.1971
• Sinopse. Este filme chegou ao Brasil, somente em 1980, quando
saímos da Ditadura Militar e alguns movimentos sociais começam
a emergir em nossa sociedade. O filme aborda as condições dos
trabalhadores frente à alienação ao mundo do trabalho. O persona-
gem principal é o trabalhador padrão que trabalha de forma exem-
plar, buscando atender todas as imposições, o mesmo é odiado
pelos demais trabalhadores, que decidem criar um movimento. O
personagem principal, não quer se envolver com este movimento,
porém sofre um grave acidente na fábrica em que trabalhava.
• Link do vídeo
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-6095/

LIVRO
Título: O Cidadão de Papel.
Autor. Gilberto Dimenstein
Editora: Ática
Ano: 1999. Páginas: 184
Sinopse: O livro aborda conceitos sociais que o Brasil vem viven-
do, ele aborda como fonte principal a base social que é a criança
trazendo uma forma de conscientização como essência para que
a cidadania venha a sair do papel e se torne realidade no mundo
em que vivemos.
Link: https://pt.slideshare.net/Suellenufrpe/gilberto-dimenstein-o-
-cidado-de-papel-52999202

LIVRO 2
Título: Parâmetros para a Atuação de Assistente Sociais na Política
de Assistência Social.
Autor: Conselho Federal de Serviço Social CFESS (org)
Editora: CFESS e ABEPSS.
Ano: 2011. Páginas: 38.
Sinopse: Elaborado pelo Conselho Federal do Serviço Social,
aborda como deve ser a intervenção deste profissional dentro
da política nacional de assistência, bem como o trabalho com o
profissional de psicologia nos espaços sócio ocupacionais.
Link: www.cfess.org.br › Cartilha_CFESS_Final_Grafica

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LIVRO 3
Título: Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissio-
nais.
Autor.: Conselho Federal de Serviço Social CFESS (org)
Editora: Editora: CFESS e ABEPSS.
Ano: 2009. Páginas: 873.
Sinopse: Um material elaborado por assistentes sociais e pelo
Conselho Federal do Serviço Social reúne textos que apresentam
uma visão geral da intervenção do assistente social no momento
atual de sociedade. O mesmo apresenta diversos artigos elabora-
do por mestre e doutores em serviço social e pode ser considerado
com uma importante ferramenta de intervenção.
Link:http://www.poteresocial.com.br/livro_para_download-servico-
-social-direitos-sociais-e-competencias-profissionais/

LIVRO 4
Título: O desmonte da Nação - Balanço do governo FHC
Autor. Ivo Lesbaupin (org)
Editora: Vozes. Ano 1999 Páginas: 200
Sinopse:. Trata-se de uma análise crítica, apoiada em dados ob-
jetivos, do que aconteceu com a Constituição, com as políticas
sociais, com a saúde, com a previdência, com a assistência, com
a distribuição de renda, com o emprego, com os trabalhadores
rurais. E de compreender como a política econômica de FHC foi
responsável pelo desastre social em que nos encontramos como
a mídia sustentou este governo e o pensamento único do qual se
nutre, como a democracia foi atingida em seus fundamentos pelo
comportamento autoritário deste governo. Trata-se, em suma, de
mostrar como FHC (quase) conseguiu desmontar nosso país
Link:https://teoriaedebate.org.br/estante/o-desmonte-da-nacao-
-balanco-do-governo-fhc/

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CONCLUSÃO

Prezado(a) aluno(a),

Foi um grande prazer preparar este material para você! Espero que tenha aprovei-
tado ao máximo essa etapa da sua formação profissional, pois temos um longo caminho
pela frente. Longo, porém sólido.
A minha sugestão é que você explore muito mais além do que é apresentado nos
livros. Ouse, cresça, empreenda, seja disruptivo.
Ao conhecer a história da profissão foi possível compreender como ela evoluiu
com os tempos, sempre conectada com as relações sociais estabelecidas na sociedade,
antenada a luta dos trabalhadores, combatendo a exclusão e a desigualdade.
Numa busca permanente pelos direitos dos cidadãos, assume um papel de grande
relevância com o passar dos tempos. Uma profissão que está sempre atenta ao seu código
de ética, à lei que regulamenta a profissão, às diretrizes curriculares e ainda a todas as
legislações e políticas que existem em nosso país.
Estamos num novo momento da nossa profissão, em que os fundamentos servem
como impulso para que o Serviço Social continue marcando com maestria o espaço na
divisão sócio-ocupacional no qual está inserido. Cada vez mais você precisará desenvolver
habilidades e competências que vão muito além daquilo que se aprende nos livros.
Logo, a partir dos estudos aqui realizados, procure olhar com muita atenção a his-
tória da nossa profissão, mas não perca o foco no futuro. Empreenda, crie, inove, renove e
continue dando vida nova a essa profissão maravilhosa.
Espero ter contribuindo com seu crescimento pessoal e profissional.
Sucesso sempre.

Muito obrigada e bom estudo!


Daniela Sikorski

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