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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

RESENHA
Resenhista: Mayara dos Anjos da Silva (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
Faculdade de Serviço Social. Seropédica – RJ, Brasil)
Matrícula:20220036394
Obra resenhada: ESTEVÃO, Ana Maria Ramos. O que é serviço social. São Paulo:
Brasiliense, 2006. (Coleção primeiros passos; 111). 71p.
ISBN: 85-11-01111-0

Apresentação da autora:
Ana Maria R. Estevão, é professora de Teoria do Serviço Social e Seminários da Prática, na
Faculdade de Serviço Social da PUC-SP e cursa mestrado em Ciência Política, na USP. De
nacionalidade brasileira, nasceu em Maceió, em 1948. Possui graduação em Serviço Social
pela Faculdade Paulista de Serviço Social, mestrado em Serviço Social pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, doutorado em Serviço Social pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo e pós-doutorado pela Universidade de Évora (Portugal).
Apresentação da obra:
A obra retrata no início o ato de se fazer caridade através da assistência prestada a pessoas
marginalizadas por meio de mulheres ricas, as quais eram conhecidas como “Damas de
caridade”. A autora retrata o Serviço Social tendo a cidade como sua mãe e a indústria como
seu pai, pois com embasamentos sociológicos ela mostrará como o capitalismo teve grande
influência no nascimento dessa profissão. Mostrar esses serviços de caridade; problemas
sociais; surgimento da profissão; até a visão que temos atualmente sobre o serviço social, são
as principais propostas dessa obra, que será dividida em sete capítulos de fácil entendimento,
devido possuir uma leitura mais informativa e didática.
Conteúdo da Obra:
Estevão, mostra como o Serviço social é definido inicialmente pelo senso comum; a moça
boazinha e o pobre. Essa definição se enraizou no dito popular pois há algumas décadas
mulheres ricas se responsabilizavam por dar assistência a pessoas de “classes despossuídas” e
nesse cenário a profissão nasceu. Com o avanço e estabilização do capitalismo — o qual foi o
maior responsável pelas desigualdades sociais — teve-se um receio que esses cidadãos
trouxessem problemas para a classe burguesa. O Estado e a igreja andam em conjunto em
prol das necessidades de sua sociedade por meio da “reforma de costumes”. O Estado fica
responsável por manter a paz política, mesmo que tenha que usar a violência para isso, e a
igreja por manter o papel de caridade das damas.
A partir da segunda metade do século XIX, em lugares como Inglaterra, França e Alemanha,
pessoas passam a praticar caridade de forma técnica e organizada. Eram ações feitas em
paróquias que foram se distribuindo pelas cidades por conta da grande necessidade de
resolver as questões sociais. Nesse período houve um grande marco para a organização da
Associação Social, que é a fundação da Sociedade de Organização da Caridade em Londres
(1869). Pelo fato de que essas ações prestadas ao coletivo necessitado eram de caráter
necessário e essencial para a sociedade, funda-se a primeira escola de Serviço Social do
mundo em Amsterdã (1899). As revoluções (Revolução Francesa (1789) e a Revolução
Industrial (1780 a 1860)) serviram de pano de fundo para o surgimento da sociologia, a qual
se tornou responsável por dar explicações não religiosas e sim científicas para o que
acontecia na sociedade. Mary Richmond, uma assistente social norte-americana, no início do
século XX, começou a pensar e a escrever a respeito do que é o Serviço Social e como ele
deveria ser exercido. É por meio de seu livro Caso Social Individual que surgem as primeiras
luzes para uma pratica profissional ainda não institucionalizada. Para Mary Richmond, o
Serviço Social não se tratava de só oferecer ajuda material para pessoas pobres e sim
trabalhar na personalidade da pessoa e o seu meio social, e esse é o grande mérito dela, dar
seriedade a profissão. Décadas após surge uma nova dinâmica de atuação — o serviço social
de grupo — que buscava resolver os casos por problemas em comum de cada grupo. E mais
algumas décadas a frente surge o Serviço Social de Comunidade, que consiste em “a arte e o
processo de desenvolver os recursos potenciais e os talentos de grupos de indivíduos e dos
indivíduos que compõem esses grupos”.
No ano de 1960, surgem as ideias e propostas desenvolvimentistas de dos governos de JK e
Jânio Quadros, essas ideias visavam tirar os latinos do atraso e colocar em prática a
modernização da sociedade e com isso o próprio Serviço Social se modernizará. Falava-se
muito do despertar o gigante adormecido, que uma vez acordado, traria a prosperidade e a
paz. Essa urgência em se desenvolver, influenciou práticas profissionais do Serviço Social,
que passa a fundamentar-se na neutralidade, frieza e distanciamento em relação aos
problemas que serão tratados e no aprimoramento dos métodos. O Serviço Social entrou em
profunda crise existencial, mesmo com uma concepção desenvolvimentista, a dinâmica do
processo social levou a situações que parecem negar essa possibilidade pois, era impossível
usar métodos iguais para todos os países e não se podia ser neutro e frio com problemas tão
difíceis e humanos como essas questões sociais. Surgiu um grupo de assistente sociais que se
intitulou como a Geração 65, e assim eles descobriram a luta de classes. Essa Geração passou
a lutar por métodos e técnica mais de acordo com as realidades da sociedade. Por conta de
uma fase de ebulição do mundo, eles tiveram sua concepção de mundo questionada e viu-se
ruir pouco a pouco os alicerces de tudo que se acreditava na profissão. A autora traz uma
reflexão sobre a questão socialismo x capitalismo x Estado: “e se vier o socialismo, nós que
sempre trabalhamos de braços dados com o sistema capitalista, faremos o quê?” mas no
Brasil teve uma solução, que foi o arrocho e a repressão ao AI 5. Em outros países da
América do Sul houve o Movimento de Reconceituação, isto é, mudar todos os conceitos,
crenças, bases teóricas e criar outros espaços profissionais. Tudo que os assistentes sociais
faziam estava atrelado a ideais burgueses e trabalhar em instituições públicas significava
reproduzir a ideologia burguesa, capitalista e exploradora. Se fazia necessário mudar o nome
da profissão para Trabalho Social, o que deu lugar a uma concepção “conscientizadora-
revolucionária” e seu método de trabalho era pautado no “materialismo histórico e dialético”
e textos baseados em ideais marxistas.
O início do Serviço Social no Brasil se deu com a industrialização e a concentração urbana,
junto com a briga do proletariado por um lugar na política. Os problemas sociais tornam-se
mais aflorados e com isso é necessário atender os interesses do proletariado. A implantação
do Serviço Social dá-se nesse tempo histórico, a partir da iniciativa burguesa — classe que
mais irá contribuir para que essa profissão seja socialmente aceita —, que têm a igreja como
seu porta-voz. Isso ocorreu, pois, as situações de trabalho eram péssimas e as jornadas de
trabalho eram 16 horas por dia, de acordo com as necessidades da empresa, mulheres,
crianças — menores de 14 anos — estavam sujeitos a esse mesmo ritmo laboral. Não havia
auxílio doença, o dinheiro recebido pelo operário era apenas para alimentação e qualquer tipo
de educação(primária), cultura e saúde ficavam por conta das instituições de caridade e
filantropia. Surge movimentos sociais que tinham como princípio defender a vida dessa
população. Começa a surgir também sociedades de resistência e os sindicatos que lutarão
pelo poder aquisitivo (a princípio), e logo depois, por uma legislação trabalhista que
controlasse a exploração selvagem. O Estado viu-se obrigado a promulgar leis como a de
férias (de apenas 15 dias), e o código de menores que regulava o trabalho de crianças,
empresas passam a se “preocupar” com os dias de folga dos trabalhadores, pois eles não
tinham educação, sendo assim, estão sujeitos ao ócio, vícios e animalidade.
Com o desenvolvimento das Ligas das Senhoras Católicas e da Associação das Senhoras
Brasileiras, teve-se as bases materiais, organizacionais e humanas, para a expansão da ação
social e até o surgimento da primeira escola de Serviço Social, em São Paulo, a primeira do
gênero ligada a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1936). A criação do Conselho
Nacional de Serviço Social (1938) se preocupou com a assistência pública, mas não deu
nenhum resultado. A primeira instituição pública criada por decreto-lei, na área da assistência
social foi a Legião Brasileira de Assistência (1942) com o objetivo de trabalhar em favor do
progresso da profissão e procurava controlar e conseguir apoio político para o governo por
meio de ação assistencialista. Há um problema na estrutura do campo do Serviço Social que
permaneceu intocável — a questão dos seus princípios — estes são — a necessidade de
respeitar a pessoa humana e sua dignidade, e que está também tenha direito a encontrar na
sociedade condições para sua auto realização —. Quando a ONU elabora os direitos da
pessoa humana é quando o Serviço Social passa a se analisar.
Ana Maria R. Estevão, conclui que novos horizontes estão surgindo para o Serviço Social.
Lembra que dois desse momento de organização profissional foi em 1978, quando a
associação Profissional dos Assistentes Sociais de São Paulo, se rearticulou, e em 1979,
durante o III Congresso Brasileiro de Serviço Social, que foi uma reafirmação dos interesses
da categoria. A sociedade tem colocado a questão da democratização do Estado e dos
serviços públicos como ponto central de suas lutas e isso coloca o assistente social em
cenário ambíguo pois ele trabalha no Estado.
Análise Crítica:
O texto é muito bem apresentado, mostra os percalços e transformações que o Serviço Social
teve que enfrentar desde o início. Possui uma linguagem de fácil entendimento para quem
deseja entender um pouco do que se trata a profissão e como se consolidou. Pontos negativos
para o não aprofundamento de alguns conceitos importantes, tal qual, como se deu o processo
de surgimento no Brasil, mas percebe-se que é por conta da forma objetiva e simples em que
a autora decidiu escrever a obra. Contudo, pode-se afirmar que a profissão está ainda em
processos de transformação e há uma longa jornada pela frente.

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