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Centro Universitário Internacional UNINTER

Curso: Bacharelado em Serviço Social


Disciplina: Fundamentos Históricos e Teóricos Metodológicos do serviço
Social – Dimensão Histórica.

A Questão Social e o Capitalismo

A questão social no Brasil surge em resposta à evolução do sistema


capitalista, por volta de 1930, quando o processo de industrialização emergia, bem
como o êxodo rural, trazendo o inchamento desorganizado das cidades e como
consequência as desigualdades sociais, manifestadas no alcoolismo, prostituição,
pobreza extrema, proliferação de doenças, violência. Um período no qual o Brasil
passava por grandes transformações políticas, econômicas e sociais, deixando o
agronegócio, onde era grande exportador de café e açúcar, na busca por suprir as
importações. Fase então marcada pelo início da industrialização, tão importante por
quase todo século XX.
Segundo Oliveira, (2012, p. 84) “A eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-
1918) acelerou o processo de industrialização pela necessidade de substituir, com
base na produção local, as mercadorias que não mais podiam ser importadas”.
Se tornava imperativo um sistema de organização. Cresciam as lutas entre as
classes socias pelo controle. A burguesia temia perder seu status e privilégios. Era
degradante a condição de vida dos proletariados. Em meio a tudo isso, a classe
operária se uniu, formando as Ligas Operárias que vão dar origem as Sociedades de
Resistências, aos Sindicatos e até mesmo a Organizações como Congressos e
Confederações Operárias. Dessas conquistas, vieram também o Conselho Nacional
do Trabalho em 1925, e em 1926 são aprovadas as leis de proteção ao trabalho.
No entanto, só terão reconhecimento após muitas lutas, sendo preciso a
intervenção do Estado para mediar a situação, impondo dispositivos legais para
regular a relação entre o trabalho e o capital. Ainda que reconhecidos duramente no
período de Getúlio Vargas, tendo ainda conflitos, conseguiram a diminuição da
jornada de trabalho e direito às férias.
Na Era Vargas o Brasil conheceu a força de um cenário político que
apresentava uma posição diferenciada na questão social. A Igreja retomava seu
poder e o Estado passa a intervir diretamente nas relações de trabalho. O período
Pós-Revolucionário baseava-se no estado de compromisso, a ação pública no
campo social aumentou, o Governo criou o Ministério do Trabalho, Indústria e
Comércio e a Consolidação das Leis do Trabalho-CLT.
Em Pleno Estado Novo, foi criado o Conselho Nacional do Serviço Social -
CNSS, vinculado ao Ministério da Educação e Saúde, formado por pessoas ligadas
à filantropia. O amparo passou a ser dirigido a pessoas que não conseguiam garantir
sua sobrevivência. Foi nessa época que o governo criou a Legião Brasileira de
Assistência Social – LBA (1942), a qual se espalhou pelo País criando comissões
municipais e estimulando o voluntariado feminino. O modelo assistencial baseado na
caridade e a benemerência foi aprofundado e ampliado.

Quanto ao modus operandi da instituição, as famílias que deveriam ser


beneficiadas pela ação social eram convocadas pela LBA. A essa
convocação, atribuía-se um caráter intensamente promocional, de tal modo
que o benefício prestado era tratado como privilégio concedido. Cabe
destacar que havia um processo de seleção sem nenhum critério, que se
limitava a responder à queixa trazida pelo ‘cliente’. (ALBONETTE, 2017, p.
75).

Sob grande influência da Igreja Católica, o serviço social surgiu como


resposta ao descontrole da classe trabalhadora, com isso, a Questão Social, que
também decorria dos questionamentos e pressões da época, passou de um
problema individual, do “pobre”, para uma visão mais coletiva. A igreja católica
passou a ensinar moças de famílias tradicionais como deveriam se portar, com o
intuito de exercerem ações sociais, baseados nos bons costumes e moral do
catolicismo. Ficaram responsáveis por disciplinar os trabalhadores a Liga das
Senhoras Católicas em São Paulo e a Associação das Senhoras Brasileiras no Rio
de Janeiro. Tinham como missão católica a disseminação de valores cristãos,
frisando a obediência a Deus e ao Estado.
Surgiu em 1936 a primeira Escola de Serviço Social, em São Paulo, vinculado
a Igreja Católica, visando difundir atividades para formação técnica especializada.
Essa experiencia foi determinante para o surgimento de novas escolas pelo País.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai, ora tão capitalista e
conservador, agora abrindo espaço para uma visão mais humanista. Com a
demanda da indústria, o objetivo do Senai foi qualificar a força de trabalho,
assegurando o crescimento capitalizado. “Tratava-se de um processo destinado a
planificar a formação técnica, de modo a atender às demandas da indústria que,
nesse período, pulsava em meio à política desenvolvimentista” (Albonette, 2017, p.
77).
As correntes filosóficas influenciaram a profissionalização do serviço social,
destacamos três delas: tomismo, neotomismo e o positivismo, das décadas de 30,
40 e 50 respectivamente.
“O Tomismo é o pensamento do filósofo São Tomás de Aquino, considerado
um teólogo dominicano, que escreveu obra voltada à descrição da realidade, à luz
de uma filosofia caracterizada por uma perspectiva humanista do ser”. (Albonette,
2017, p. 120). Era estudioso do filósofo grego Aristóteles que se dedicou a
esclarecer relações entre a verdade e a filosofia, entre fé e razão, entre Deus e o
mundo. O pensamento tomista tinha o homem como ser inteligente, capaz de
desenvolvimento, escolha e vontade. Um ser social, perfeito, no aspecto físico e
espiritual, manifestado por meio da racionalidade.
O Neotomismo tinha a visão de homem e sociedade, fundamentado na Igreja
Católica que traçava um caminho para o enfrentamento da realidade contemporânea
tão problemática pelas condições de miséria decorrentes da industrialização e
capitalismo. “Os assistentes sociais foram chamados para atuar no
reestabelecimento da ordem social com base no Evangelho, ou melhor, na doutrina
social da Igreja”. (Albonette, 2017, p. 124). Ficando evidente a importância dos
ideais cristãos sob uma postura mais humanizada.
Positivismo, doutrina criada por Augusto Comte, onde observava a vida
social, por método científico, buscando estabelecer leis universais para o progresso
do indivíduo e da sociedade. Um marco importante foi a frase “ordem e progresso na
bandeira nacional”.
Desta forma, podemos ver que o serviço social foi uma ferramenta da classe
burguesa, nascida diretamente do modo capitalista de produção, ancorado na
desigualdade, na exploração, para controlar os trabalhadores. Estado e Igreja,
dotados de Poder, agiam em prol de seus interesses dando o mínimo de condições
para que os trabalhadores se mantivessem dentro de uma existência controlada.
Num constante processo de avanços e recuos, ainda hoje a questão social busca
diferenciar o assistencialismo do serviço social, enfrentando as desigualdades
geradas por um sistema capitalista fortemente impregnado na sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBONETTE, Eliana Aparecida Gonçalves. Serviço Social no Brasil:


panorama histórico e desafios. Curitiba: InterSaberes, 2017.

OLIVEIRA, Denninson. História do Brasil: política e economia. Curitiba:


InterSaberes, 2012.

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