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História da

Arquitetura Brasileira
Material Teórico
A Arquitetura no Brasil Colônia

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Franklin Roberto Ferreira de Paula

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Natalia Conti
A Arquitetura no Brasil Colônia

• Introdução;
• As Obras Públicas: dos Fortes e
Fortificações à Casa de Câmara e Cadeia;
• Formas de Habitar: da Casa Rural à Casa Urbana;
• A Importância da Arquitetura Religiosa.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Compreender como a colonização introduziu novas tipologias arqui-
tetônicas em território brasileiro tendo em vista um painel histórico-
-social desse período.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
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Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE A Arquitetura no Brasil Colônia

Introdução
Ao estudar a história da arquitetura brasileira, nota-se que ela se confunde
com a história da formação do Brasil. Com a chegada dos portugueses guiados
por Pedro Álvares Cabral, numa terra povoada por nativos, de fauna e flora
ricas e diversificadas, o início do processo de colonização efetiva se dá no ano
de 1530. Os anos seguintes à chegada são marcados, portanto, por uma tenta-
tiva de fusão dos dois continentes – europeu e sul americano -, tendo em vista
a forma como as terras brasileiras foram ocupadas.

Para se aprofundar um pouco mais sobre a história do país através do cinema, segue link
Explor

com a indicação de alguns filmes:


• 21 filmes de história do Brasil colonial: https://goo.gl/xQ37fN;
• O descobrimento do Brasil, Humberto Mauro (1936): https://youtu.be/2kyvcA4pjCg.

A formação das primeiras vilas e cidades surge pela urgência de ocupar e


explorar o novo continente a fim de alcançar os objetivos do mercantilismo e do
desejo de lucros de uma burguesia em ascensão. A implantação dos primeiros
núcleos urbanos, das vilas e, posteriormente, das cidades traz consigo traços de
uma herança muçulmana herdada por Portugal. Esse lastro não é apenas visto
em seu traçado urbano, como também pode ser notado nas novas tipologias
arquitetônicas que surgem ao longo do processo de colonização que se estende
por três séculos e que se adequa aos diversos ciclos econômicos nele implícitos.
Não obstante, a Igreja também tem um papel fundamental nessa fase, posto que
a arquitetura religiosa será amplamente difundida nesse novo território, à medi-
da que a colônia se desenvolve social e economicamente.

Portanto, essa unidade pretende explorar as formas de habitar ao destacar a


casa-grande como centro social, familiar, de decisões políticas e de atividades eco-
nômicas; a casa urbana, além das obras públicas como fortes, a casa de câmara e
cadeia e o engenho, além da importância da arquitetura religiosa na formatação
do Brasil Colonial.

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As Obras Públicas: dos Fortes e Fortificações
à Casa de Câmara e Cadeia
Os fortes, bem como a Casa de Câmara e Cadeia, denotam o domínio e a im-
plantação do poder na Colônia. Como forma de se proteger de outros povos vindos
da Europa, os portugueses determinam locais específicos, como embocaduras de
rios e baias, para erguer os seus fortes na defesa de seu novo território, além de
fornecer portos seguros para o envio de carga e recebimento de frotas enviadas pela
Coroa. Construções como o Forte dos Reis Magos possibilitam que núcleos urbanos
como Natal surjam e estejam protegidos para a sua futura expansão.

Figura 1 – Vista do Forte dos Reis Magos, Natal, Rio Grande do Norte, 1598.
A construção possibilita a formação da cidade de Natal fundada no ano de 1599
Fonte: Wikimedia Commons

A Casa de Câmara e Cadeia, equipamento que abriga as funções administrativas,


judiciárias e penitenciárias, representa a extensão do poder real sobre a Colônia e tem
por objetivo estabelecer a ordem e a administração de uma determinada localidade.

Normalmente encontra-se implantada na praça principal do povoado de


frente ao pelourinho em alguns casos e também próxima a outros equipamen-
tos públicos como a igreja. Em função da importância da Casa de Câmara e
Cadeia, tratados eram elaborados e enviados aos seus construtores indicando
algumas especificações como medidas dos ambientes, materiais e elementos
de segurança para evitar a fuga dos detentos.

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UNIDADE A Arquitetura no Brasil Colônia

Figura 2 – Vista do Rossio, atual Praça Tiradentes no Rio de Janeiro,


com o pelourinho. Pintura de Jean-Baptiste Debret, 1834
Fonte: Wikimedia Commons

Ainda que apresentem um partido arquitetônico variável, os exemplares dessa


tipologia arquitetônica são edificações imponentes, possuem pórticos no térreo abri-
gando comércio, sobretudo açougue, sinaleira e têm o programa de necessidades
organizado em apenas dois pavimentos.

No térreo, cadeias e enxovias. Em situações mais complexas, isto é, dependen-


do das necessidades administrativas locais e também da extensão territorial do po-
voado, o térreo poderia abrigar também sala do corpo da guarda, solitárias e salas
de tortura, oratórios e simulacros de enfermarias.

No pavimento superior, as dependências dos responsáveis pela administração


municipal, juízes e vereadores, além dos funcionários da vila como meirinhos, arru-
adores, almotacés e aferidores, conjunto conhecido como máquina burocrática co-
lonial. Em determinadas situações, o programa arquitetônico torna-se mais extenso
ao incluir sala de audiência, sala de juiz, plenário, gabinete, arquivos, secretarias e
arsenal da milícia.

O que se verifica é que, de maneira contrastante, o corpo nobre da Câmara


ocupa salas e salões suntuosos com balcões de frente à praça para a promulga-
ção oral de leis, tomada de posse ou substituição de juízes e decisões feitas pelos
“cavaleiros vilões”, os homens bons da vila, sem a participação das castas mais
baixas da sociedade.

Por outro lado, as cadeias, simbolicamente abaixo da Câmara, dependem da


caridade pública para se manter. O perfil do detento é característico das camadas
pobres ou escravos, sendo que os demais detêm a chance de barganha por penas
pecuniárias ou doações generosas de poder.

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Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, 1947. Ver os capítulos I,
Explor

II, III, IV, V, VI, XI e XIII sobre as Casas de Câmara e Cadeia. Disponível em:
https://goo.gl/DzwgMM.

Entre os exemplares, destaca-se a Casa de Câmara e Cadeia de Vila Rica (Ouro


Preto), claramente inspirada no Capitólio de Michelangelo (Roma, 1537). Ainda
que não tenha sido concluída para servir os seus objetivos iniciais, a construção é
adaptada para receber o atual Museu da Inconfidência que abriga importante acer-
vo da arte colonial.

Figura 3 – À esquerda, vista da fachada principal do Palácio Senatorial localizado no Capitólio,


Michelangelo (Roma, 1537). À direita, Museu da Inconfidência, antiga Casa de Câmara
e Cadeia de Vila Rica, José Fernandes Pinto Alpoim (Ouro Preto, séc. XVIII)
Fonte: Wikimedia Commons

Formas de Habitar: da Casa Rural


à Casa Urbana
As casas coloniais brasileiras podem ser organizadas em dois tipos: as rurais e as
urbanas. De toda a sorte, a moradia colonial, bem como a família brasileira, é resul-
tado de uma mistura de povos de diferentes origens e costumes.
A família brasileira, contingente básico da célula de morar, é um produto
da miscigenação branca, índia e africana, responsável por sentimentos
perceptíveis e outros sequer imagináveis, geradores de seu próprio espa-
ço de permanência, local de realização de toda sorte de atividades [...].
(MENDES et al, 2011, p. 117)

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UNIDADE A Arquitetura no Brasil Colônia

Essa amálgama origina um tipo de arquitetura que carrega em si algumas caracte-


rísticas europeias, porém adequadas a um clima tipicamente brasileiro, ao explorar,
por exemplo, a varanda. Elemento presente, sobretudo nas tipologias rurais, a varan-
da surge como forma de vigília, controle e amenização climática.

Além da varanda como elemento constitutivo essencial dessa arquitetura, a mora-


dia brasileira guarda algumas outras características. Podem ser citados os telhados e
beirais alongados como solução para o escoamento das grandes chuvas, tão recorren-
tes em países de clima tropical. A disposição dos ambientes internos reflete a estru-
tura familiar colonial, segregadora, de modo que os escravos são colocados em uma
situação precária; as mulheres são limitadas a algumas zonas; e os senhores possuem
acesso irrestrito a todos os ambientes.

De modo geral, as moradias possuem os setores de trabalho e social à frente, jun-


to à fachada principal; na área intermediária, o setor íntimo e aos fundos, junto aos
pátios ou quintais, o setor de serviço.

Em função da economia baseada na monocultura da cana-de-açúcar, a casa-


-grande do engenho torna-se a primeira forma consolidada de moradia do coloni-
zador, o português, que ao atuar como “coordenador, orientador e homogeneiza-
dor dessa moradia” (MENDES et al, 2011, p. 120) é capaz de sugerir uma síntese
arquitetônica, que salvo os diferentes partidos em função da época e da geografia,
perdurou por mais de três séculos.

Localizada no meio rural, o engenho monocultor canavieiro estabelece uma rela-


ção direta entre as funções de morar e trabalhar. Ainda que a palavra engenho se re-
fira a uma edificação, também está associada ao complexo composto por edificações
de atividades específicas, sendo que três se destacam tanto pela importância eco-
nômica quanto pela função: casa-grande, senzala e engenho. Todas as edificações
são conectadas por uma praça que sugere diferentes funções como lazer, trabalho,
punições, oração e vigília.

Figura 4 – Um engenho de cana-de-açúcar em Pernambuco


colonial, pelo pintor neerlandês Frans Post (século XVII)
Fonte: Wikimedia Commons

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Por uma questão estratégica em função do escoamento da produção, os enge-
nhos são implantados nas margens dos rios. Do complexo, a carga é transferida
para os núcleos urbanos mais próximos com destino à Europa. Além disso, os
cursos de água proporcionam força hidráulica necessária para girar as moendas
e substituem, por sua vez, a força motriz escrava ou de animais de tração.
Em contrapartida, no ponto mais alto do terreno estão localizadas a casa-grande
e a capela. O que se verifica é que o partido arquitetônico da casa-grande resulta
em uma planta quadrangular no século XVII, sendo que no século XVIII, a partir de
quando a capela se unifica ao corpo da casa-grande, esta admite uma planta em
formato de U ou retangular com pátios internos na parte posterior da edificação.
A casa-grande, tida como sede de um complexo agroindustrial no Brasil Co-
lonial rural, tem como ambientes varandas, salas, alcovas, quarto de hóspedes,
capela e cozinhas de grandes proporções. Ainda que a sua função inicial seja de
habitação, a casa-grande também serve como fortaleza, cofre, harém do senhor
de engenho, escola, hospital, depósito e abrigo para escravos domésticos (no
nível inferior) e pousada para viajantes ou comerciantes.
A varanda, como já mencionada anteriormente, constitui uma das principais par-
tes da casa. Além do fator climático, a varanda das fachadas principais, também
conhecida como alpendre, torna-se um elemento intermediário do ambiente interno
para as dependências internas da casa. É um espaço de lazer e vigilância que também
serve como filtro em relação àqueles que podem receber permissão para ingressar
na intimidade da família do senhor-de-engenho. Normalmente constituída por várias
portas, o alpendre dava acesso, além do interior da casa, à capela e também a alguns
quartos para hóspedes. Quando não, a varanda também serve de extensão da nave
quando a capela excede a sua lotação.
Adentrando à residência, a sala é o espaço de convivência familiar entre outras
funções como de costurar, tecer, cuidar da educação dos filhos do senhor-de-enge-
nho, fazer as refeições e sala de visitas para aqueles que tinham autorização para
acessar a casa. As demais dependências são compostas, basicamente, por alcovas,
quartos sem janelas.
Aos fundos da casa, encontra-se o setor de serviço, composto por cozinhas de
grandes dimensões para receber não somente a família patriarcal, mas também via-
jantes, agregados, empregados, padres e inclusive alguns escravos. No mesmo espa-
ço, há os setores de limpeza, abate e antepreparo.
Ainda dentro da casa-de-engenho, mas ao rés do chão, há a senzala doméstica
que, basicamente, “serve de abrigo para escravos responsáveis pelas tarefas da casa,
como cozinhar, arrumar, limpar, cuidar das crianças, além de prestar favores sexuais
ao senhor” (MENDES et al, 2011, p. 130). Por outro lado, compondo outra edifica-
ção, há a senzala de eito, ou de trabalho, localizada próxima à casa-grande. Diferente-
mente da senzala doméstica que abriga escravos de traços finos, bela dentição e dotes
físicos, a senzala de eito abriga uma mão de obra mais robusta, capaz de suportar
as dificuldades do dia-a-dia, bem como punições. Essa moradia determinada para os
escravos é feita de taipa com cobertura vegetal composta por uma série de ambientes
de dimensões reduzidas, justapostos e voltados para a praça do complexo, também
conhecida como terreiro.

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UNIDADE A Arquitetura no Brasil Colônia

Por fim, o equipamento responsável pela produção da economia colonial, o enge-


nho. Como já mencionado, está localizado na cota mais baixa de todo o complexo, na
margem do rio. Dependendo da grande produtividade, o engenho pode ser subdividi-
do por edificações específicas, cada uma recebendo uma função para cada etapa do
processo: armazém, picadeiro, moenda, reservatório, caldeiras com fornalhas, casa de
purgar, seleção de pães de açúcar e encaixotamento.
Longe do campo, as moradias urbanas obedecem a uma padronização dada pela
definição dos lotes urbanos que resultam em construções de testada estreita e grande
profundidade, alinhadas no terreno, sem recuos laterais, de modo que as casas térre-
as ou assobradadas sejam geminadas.
Tanto as casas térreas quanto os sobrados mantêm os partidos adotados por
aproximadamente três séculos. As primeiras possuem, alinhada à via pública,
uma grande sala com o melhor mobiliário e utensílios mais ostentoso para rece-
ber visitas. Único local onde se admite o estranho, a grande sala pode conter um
oratório. Dessa forma, as mulheres, além de realizarem atividades de costura,
também podiam praticar a oração.
Na sequência a esse primeiro ambiente, encontram-se as alcovas, locais de repouso
diurno, convívio entre moças e prática de atividades libidinosas. Normalmente esses
ambientes não possuem qualquer tipo de aberturas para ventilação nem para insolação
naturais. Limitada a um retângulo, a alcova possui mobiliário de extrema simplicidade,
sendo que, num primeiro momento, redes eram usadas no lugar das camas.
Nos fundos, a área destinada tanto ao preparo do alimento quanto às refeições é
composta por uma sala de viver (equivalente à atual copa), onde as mulheres podem
assistir ao trabalho das escravas ou então ter algum momento de descontração; ao
lado, a cozinha que se encontra do lado de fora da casa por conta do excesso de
calor e fumaça produzidos pelo fogão ou lareira; conectado a esses espaços, um
quintal onde se criam galinhas, patos e leitões.
Por outro lado, os sobrados possuem o grande salão no térreo, muitas vezes
voltado ao comércio. Logo, a sala para receber estranhos localiza-se voltada à via
pública, porém, no piso superior, cujo acesso se dá por uma estreita escada de en-
trada independente. Ainda no térreo, atrás do salão, depósitos, sala de engomar
e, por fim, um quintal. Já no piso superior, justaposto à sala, um oratório também
voltado para a via pública, alcovas, sala de viver conjugada com a cozinha e com
um depósito.
Em ambas tipologias o espaço destinado ao banheiro é inexistente. Há pouca
preocupação para o banho, ritual que costuma acontecer em ocasiões especiais,
enquanto que as necessidades são feitas em urinóis ou em retretas, recipientes in-
seridos em cadeiras. O conteúdo é despejado em barris que são armazenados no
fundo do lote e, posteriormente, carregados por escravos denominados tigres até
vazadouros, lagoas, rios, mares ou brejos.
Explor

Conheça mais sobre a casa paulista colonial. Disponível em: https://youtu.be/I5fflFOGmjE.

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A Importância da Arquitetura Religiosa
A expansão das fronteiras do Império português coincide com a fase de reestru-
turação da Igreja Católica e, consequentemente, com a difusão de seus princípios.
Conhecida como Contrarreforma, o século XVI é marcado pela ascensão do cato-
licismo após ter perdido rapidamente um prestígio consolidado por séculos com o
surgimento da Reforma Protestante liderada por Martinho Lutero.
A equação dada pela necessidade de enriquecimento da coroa portuguesa as-
sociada à retomada da hegemonia da Igreja Católica possibilita a ocupação mais
efetiva do vasto território brasileiro. Dessa forma, os responsáveis por desbravar
o Novo Mundo junto a Tomé de Sousa são os jesuítas liderados pelo padre Ma-
noel da Nóbrega.
Embora não seja a única ordem que se estabelece no Brasil, a Companhia de Je-
sus marca a primeira de três fases um tanto distintas caracterizadas tanto pelas tipo-
logias adotadas em função do partido arquitetônico das construções religiosas quanto
pela cronologia com que as demais ordens são fundadas. Ainda sobre essa primeira
fase, é marcada pela chegada dos jesuítas em 1549 com a fundação da cidade de
São Salvador e a construção do primeiro Colégio da referida ordem. Como sugerido
acima, a ocupação pelos exploradores com o suporte dado pelos jesuítas se dá em
toda a extensão litorânea do território.
Nota-se, portanto, que em função das dificuldades para ocupar o Brasil, além da
vasta extensão territorial, havendo também poucos recursos financeiros e materiais
e contingente limitado para colonização e evangelização dos nativos, a Ordem Je-
suíta dá a sua contribuição ao edificar conjuntos compostos por Igreja e respectivo
Colégio ao lado. Em diversas ocasiões, os núcleos urbanos surgem a partir des-
ses complexos religiosos. Inúmeros conventos jesuíticos foram implantados sem a
presença da Coroa portuguesa ao longo dessa primeira fase, do Nordeste (desde
Natal, 1598) ao Sul (Laguna, 1553/1576).

Figura 5 – Fachada principal do Pátio do Colégio. A construção estabelece o primeiro núcleo para
fins de catequização fundado pelos padres jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta
no ano de 1554. Após o primeiro projeto realizado em taipa de pilão por Afonso Brás,
já propondo um colégio ao lado da igreja, a construção sofre uma série de
alterações e atualmente encontra-se completamente descaracterizada
Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE A Arquitetura no Brasil Colônia

Por se tratar de um conjunto de edificações, o complexo jesuítico acaba assumin-


do funções que estão além do culto simplesmente. Também nas dependências do
Colégio, os jesuítas recebem tarefas como ministrar a catequese e alfabetizar leigos e
gentios, além de acumular outras funções como igreja matriz, escola, alojamentos dos
padres, residência do bispo e hospital quando necessário.
O partido arquitetônico adotado para lidar com essas funções fundamenta-se
na utilização de uma planta quadrangular com pátio descoberto ao centro ao lado
da nave da Igreja destinada ao culto. Em relação à composição volumétrica, os
Colégios têm a sua fachada principal composta basicamente pela nave, colégio e
torre sineira constituindo um mesmo plano. O acesso a esses três edifícios se dá
por uma única porta sobreposta por um óculo ou janela. Acima desse conjunto, a
igreja é coroada por um frontão triangular. Percebe-se a ausência de um ambien-
te de transição nessa tipologia de igreja de modo que o acesso às dependências
internas se dá subitamente.
Ainda que os modelos portugueses adotem capelas laterais, no Brasil essa
estratégia não é comum, existindo em casos como no Colégio de Olinda. Na
virada do século XVI para o XVII, algumas igrejas adotam a planta de três
naves, entre elas Nossa Senhora de Assunção, em Reritiba (Espírito Santo,
1597) e São Pedro de Aldeia (Rio de Janeiro, 1614), sendo que pela dificul-
dade de se instalar o púlpito na nave central, esse partido foi abandonado.
Mantendo a simplicidade das fachadas, a decoração das naves ocorria com
maior atenção nas talhas ou nas imagens dos santos-de-roca, enquanto que as
paredes eram simplesmente caiadas.
As demais ordens compostas por Franciscanos, Carmelitas e Beneditinos con-
tribuíram com poucos exemplares nessa primeira fase que se encerra em 1654
com a construção do Colégio da Bahia. Logo, a segunda fase é marcada por uma
ampla produção dos grandes conventos dessas três ordens que se estende até as
primeiras décadas do século XVIII. Embora pequenos grupos da Ordem Francis-
cana tenham estado presentes ao longo do primeiro século de colonização em
missões de evangelização, somente a partir do ano de 1585 é que os Francisca-
nos iniciam as atividades regulares com a fundação do primeiro convento, Nossa
Senhora das Neves de Olinda.
Os conventos Franciscanos seguem um partido tradicional constituído de nave
única alongada, sendo que a fachada principal possui pórticos ou nártex como ele-
mentos de transição entre o exterior e o interior, preparando o fiel para o ambiente
de oração. Ao fim do corpo alongado da nave, na outra extremidade, a capela mor
e a sacristia. Ao lado da nave, o convento, composto por aposentos organizados em
dois pavimentos ao redor de um pátio aberto.

Nártex: Pórtico em templos cristãos primitivos, ger.situado em átrio ou pátio externo,


Explor

destinado aos catecúmenos, para que assistissem aos rituais sem deles participar, por ainda
não serem batizados.
[F.: Do gr. nárthex, ekos.].

Fonte: https://goo.gl/cKqnTQ

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Outro elemento compositivo fundamental é a sineira que possui variações em rela-
ção à sua posição na fachada. Usualmente, as igrejas franciscanas adotam o partido
da torre única, recuada em relação ao frontispício; por outro lado, a torre é posicio-
nada no mesmo plano da fachada nas igrejas da região Sudeste. Em casos específicos
como o Convento de São Francisco de Salvador (Bahia, XVIII), há duas torres simétri-
cas no mesmo plano do frontispício.

Outra importante ordem é a das carmelitas. A Ordem do Carmo parte de Lisboa


em 1580 e chega em Olinda, litoral pernambucano, onde ergue o primeiro convento
no ano de 1583. Nos anos seguintes, os religiosos fundam um convento no Monte
Calvário (Salvador, 1586) e outro em Santos (1589) chegando a Sudeste do país.

Assim como as igrejas franciscanas e beneditinas, as carmelitas adotam par-


tidos similares em planta, como a incorporação de um claustro distribuído por
dois pavimentos com alas dispostas ao redor de um pátio. Essa edificação en-
contra-se ao lado de uma igreja de nave que pode conter, vez ou outra, capelas
laterais. O interior da igreja é simples, com ornamentação concentrada para os
retábulos do altar-mor e das capelas laterais. Posteriormente, o adornamento
passou a ser admitido nas paredes da nave abrindo frente para a assimilação
do Barroco no país.

Elementos barrocos também são notados na composição das fachadas, sobre-


tudo nos frontispícios, que antes mantinham uma linguagem clássica de repertório
toscano. Ainda de maneira similar aos exemplares da Ordem Franciscana, as fa-
chadas apresentam arcadas no pavimento térreo como visto no convento de San-
ta Teresa de Salvador ou no convento do Carmo de Cachoeira, ambos na Bahia.

Por fim, os monges da Ordem de São Bento chegam em 1581 e em poucos


anos se expandem por todo o território brasileiro com a construção de mosteiros
ao longo da costa do país.

Um dos mosteiros que se destaca de toda a produção nessa etapa é o de São


Bento no Rio de Janeiro (1633). Quando concebida, a igreja possuía uma única
nave e apenas um corredor lateral limítrofe às dependências do claustro. Ao co-
ordenar uma grande ampliação ao conjunto na segunda metade do século XVII,
Frei Bernardo de São Bento redefine a igreja em três naves, duas laterais mais
baixas cobertas por abóbodas de aresta e uma mais alta, coroada por abóboda
de berço. Dessa forma, em função das diferenças de altura das naves laterais
para a central, a iluminação se daria também pela lateral.

Além da reforma na igreja, o mosteiro também é ampliado ao se incorporar no-


vas celas e aposentos para as atividades religiosas. Para tal, foram inseridos arcos
botantes para a sustentação das paredes perimetrais.

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UNIDADE A Arquitetura no Brasil Colônia

Figura 6 – Interior do Mosteiro de São Bento, Rio de Janeiro, 1633


Fonte: Wikimedia Commons

Com a tomada do litoral brasileiro pelas quatro ordens religiosas, as mesmas


começam a se deslocar para o interior do país, marcando, portanto, a consoli-
dação de sua ocupação em terras mais distantes da beira-mar ao longo de todo
o século XVIII. Enquanto novas construções surgem terra adentro, as edificações
dos dois séculos anteriores, com o aumento do número de congregados, passa-
ram por ampliações necessárias.

Alguns fatores de âmbito econômico e também político impulsionam esse des-


locamento das ordens. Em 1763, a capital Salvador é transferida para o Rio de
Janeiro; e o Estado de Minas Gerais começa a ter a sua riqueza do ouro e do
diamante explorada. Em função dessas condições, a Colônia começa a entrar em
uma nova fase de crescimento econômico e as vilas estagnadas passam a receber
investimentos e a se tornar núcleos urbanos progressistas. O mesmo acontece com
os templos das ordens religiosas que deixam de ser modestas e se transformam em
igrejas requintadas construídas pelos melhores mestres de obras e ornamentadas
por artistas prestigiados.

Na segunda metade dos setecentos, os templos mineiros admitem a estética do


barroco e do rococó em construções que deixam de ser acompanhadas por conven-
tos ou mosteiros. Apenas igrejas e capelas isoladas passam a compor de maneira
exuberante a magnífica paisagem natural nas montanhas mineiras. Se antes dessa
fase, o Barroco, de maneira mais contida, lidava com uma composição sutil, o Ro-
cocó se torna símbolo de ostentação vislumbrado nas paredes e nos altares compon-
do cenários riquíssimos. Dois exemplos que podem ser mencionados são Nossa Se-
nhora do Rosário (Ouro Preto) e São Francisco de Assis (São João del Rey), ambas
em Minas Gerais. Essas duas igrejas, entre outras, são resultado do aprimoramento
da mão de obra responsável pela construção desses templos e que, num momento
de puro exercício formal, exploram composições espaciais com formas poligonais e
ondulantes ao produzir o partido da nave na volumetria das obras.

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Figura 7 – À esquerda, vista da Igreja da Nossa Senhora do Rosário, Ouro Preto, 1785; À direita,
fachada principal da Igreja de São Francisco de Assis, São João del Rey, Minas Gerais, 1774
Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE A Arquitetura no Brasil Colônia

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Coleção Brasilis
BUENO, E. Coleção Brasilis. Rio de Janeiro: Sextante, 2016.
Arquitetura e arte colonial brasileira
BURY, J. Arquitetura e arte colonial brasileira. Brasília: IPHAN/Monumenta, 2006.
https://goo.gl/kcsify

 Vídeos
CASAS BANDEIRISTAS - Arquitetura Colonial Paulista
https://youtu.be/I5fflFOGmjE

 Filmes
Anchieta, José do Brasil
Anchieta, José do Brasil. Paulo Cezar Sarraceni. Brasil. 1977.

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Referências
MENDES, C., VERÍSSIMO, C., BITTAR, W. Arquitetura no Brasil de Cabral a
Dom João VI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2011.

REIS FILHO, N. G. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2014.

WEIMER, G. Arquitetura popular brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

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