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Rio de Janeiro
2020
Após a tentativa de utilizar como objeto de pesquisa uma das coleções especiais presentes
na Biblioteca Histórica do Colégio Pedro II ter sido fragilizada por conta da pandemia de
Covid-19, que obrigou a instituição a realizar o lockdown1 c omo forma de prevenção de
saúde e de minimizar a contaminação, novas possibilidades de pesquisa surgiram e me
levaram a refletir sobre a temática de preservação e as condições de conservação em que a
Biblioteca Histórica se apresenta atualmente. Surgiram então os seguintes
questionamentos: Existe uma política de preservação para todo este acervo e o espaço que
o abriga? A Biblioteca possui repositório institucional como forma de garantir a memória, a
democratização do acesso à informação e para preservar o patrimônio histórico
institucional? Quais são os riscos mais inquietantes para serem tratados nesta Biblioteca?
Quais motivos impossibilitaram a criação de um plano de emergência até o presente
período? Tais questionamentos podem ser respondidas por meio da produção da referida
pesquisa para dissertação e da apresentação de um plano de emergência, inclusive
mobilizando outros setores da instituição a considerar relevante a necessidade de ‘zelar’ por
essa documentação significativa para a pesquisa e a educação brasileira e buscar a
contribuição dos profissionais, as ferramentas e a devida atenção para tratar esses riscos.
Apesar de saber que todas as organizações estão sujeitas a riscos variados e que em
algum momento estas ocorrências podem acontecer, é importante salientar que as
organizações que priorizam a gestão de riscos e a conservação preventiva poderão passar
por essas ocorrências com impactos menos comprometedores em sua estrutura e/ou
qualidade de trabalho.
O Colégio Pedro II apresenta uma Comissão para Gestão de Riscos, mas justamente a
Biblioteca Histórica - que salvaguarda o patrimônio documental: o acervo geral desde sua
criação, as obras raras, os arquivos pessoais e coleções de professores eméritos e ex-
alunos - ainda não apresenta nenhum plano de emergência, plano de conservação
preventiva ou de preservação digital2. Tal condição traz à tona a relevância dos objetivos de
pesquisa desta dissertação como ferramenta para incentivar a preservação e a segurança
tanto da estrutura da Biblioteca e dos profissionais envolvidos nas atividades exercidas
neste espaço quanto para este acervo tão valioso para o ensino, a pesquisa e a Educação
na nossa sociedade brasileira.
1
De acordo com o site Dasa.com, lockdown é a versão mais rígida do distanciamento social e
quando a recomendação se torna obrigatória. É uma imposição do Estado que significa bloqueio
total. No cenário pandêmico, essa medida é a mais rigorosa a ser tomada e serve para desacelerar a
propagação do novo Coronavírus, quando as medidas de isolamento social e de quarentena não são
suficientes e os casos aumentam diariamente.
2
O Laboratório de Digitalização do Acervo Histórico (LADAH) segue fechado (mesmo antes do
período da pandemia de COVID-19 - coronavírus) após as duas funcionárias que integravam o
Laboratório terem sido conduzidas para outro setor.
Tendo como missão, o ideal de promover a educação de excelência, pública, gratuita e
laica, por meio da indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão, com intuito de
formar pessoas capazes de intervir de forma responsável na sociedade, o Colégio Pedro II
produziu, ao longo dos anos, documentos históricos gerados a partir das suas próprias
atividades de ensino e, mantém acervo com obras gerais destinadas à comunidade docente
e discente. Seu patrimônio histórico-cultural é composto por acervo arquivístico,
bibliográfico e iconográfico. No intuito de salvaguardar seu patrimônio histórico-cultural às
gerações futuras, o Colégio criou espaços de “guarda de memória”. Destacam-se: a
Biblioteca Histórica e o Núcleo de Documentação e Memória.
Vale mencionar que o Núcleo de Documentação e Memória, conhecido por NUDOM, foi
criado em 22 de agosto de 1995 para tratar, preservar e divulgar a produção intelectual da
Instituição desde sua fundação, constituindo-se como um guardião da memória coletiva
petrossecundense, tanto pelos documentos únicos referentes à história do Colégio, como
pelas memórias de seus antigos alunos e professores, registradas em livros, depoimentos
escritos e orais e imagens que retratam as marcas muito características dessa formação
educacional e desse modo, sendo evidenciado como um laboratório de pesquisa.
3
A Balaiada foi uma luta popular que sucedeu na província do Maranhão durante os anos de 1838 e 1841. A
revolta surgiu como um levante social por melhores condições de vida e contou com a participação de
vaqueiros, escravos e outros desfavorecidos.
Esta ótica é esclarecida no argumento de Le Goff (1992) em Documento/Monumento, no
cerne de que compreender que o Colégio Pedro II apresenta papel polissêmico desde a
estrutura de seu edifício até seu papel social, ampliando a necessidade de sua
conservação.
Além do acervo antigo, a Biblioteca Histórica também é formada pelas Coleções Especiais.
Estas são constituídas por acervos pessoais doados ao Colégio Pedro II por professores e
alunos eminentes. Caracterizam-se por serem obras que não são facilmente adquiridas e
que a instituição atribuiu importância na sua manutenção e preservação. Destacam-se estas
coleções e os seus temas:
Halbwachs (1990) explica que o lugar recebe a marca do grupo e o grupo recebe a marca
do lugar, que ambos se influenciam. Sendo assim, de acordo com o pensamento do
4
Até o momento, o Colégio Pedro II oferece cursos de especialização em Ciências Sociais e Educação Básica,
Educação das Relações Etnico-Raciais no Ensino Básico, História da África, Ensino de Química, além de
Programa de Mestrado Profissional em Práticas de Educação Básica e Programa de Residência Docente.
mesmo, cada aspecto e detalhe deste lugar tem um sentido inteligível apenas para os
membros do grupo. Como meio de zelar por todo este acervo e a estrutura no qual está
inserido, as políticas de conservação, a educação patrimonial, o apoio técnico e do Poder
público são fundamentais para que os grupos envolvidos reconheçam a relevância da
instituição e possam mostrar a qualidade das orientações e o potencial da estrutura
pedagógica proposta pelo Colégio ao longo do tempo. Londres (2007) pondera muito bem
essa situação:
Para Desvallées e Mairesse (2013), preservar significa proteger uma coisa ou um conjunto
de coisas de diferentes perigos, tais como a destruição, a degradação, a dissociação ou
mesmo o roubo; essa proteção é assegurada especialmente pela reunião, o inventário, o
acondicionamento, a segurança e a reparação. Riscos físicos como radiações solares e
umidades, químicos como poeira, biológicos que aplicam-se aos insetos e fungos,
ergonômico como levantamento de pesos e esforço repetitivo, além de riscos acidentais e
de dissociação podem ocorrer a qualquer tempo. Dessa forma, Ferreira (2017) salienta que
um plano de emergência é um documento que deverá descrever todas as possíveis
situações de emergência que requerem uma atuação imediata e organizada de um grupo
de pessoas com formação e informação específica para o efeito. O maior desejo na
elaboração desse plano de emergência é que o mesmo seja aplicado e revisto sempre que
houver alterações significativas nas condições operacionais, institucionais e no
ordenamento das bibliografias básicas e complementares dos pesquisadores e outros
interessados.