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Educação Museal II: histórico

e práticas

Gestão da Informação e do Conhecimento


Fundação Escola Nacional de Administração Pública

Diretoria de Desenvolvimento Profissional

Conteudista/s
Aparecida Rangel (Conteudista, 2023).
Fernanda Castro (Conteudista, 2023).
Magaly Cabral (Conteudista, 2023).
Marielle Gonçalves (Conteudista, 2023).

Curso desenvolvido no âmbito da Diretoria de Desenvolvimento Profissional – DDPRO

Enap, 2023
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Sumário
Módulo 1 – História da Educação Museal
Unidade 1 – Museus e educação pelo mundo........................................................ 5

Unidade 2 – Influências e referências internacionais e nacionais na constituição


da Educação Museal............................................................................................... 11

Unidade 3 – Educação Museal no Brasil............................................................... 16

Unidade 4 – Educação Museal e políticas públicas de Museus.......................... 35


4.1 – A Política Nacional de Educação Museal ............................................................ 48
4.2 – Desafios à implementação da PNEM .................................................................. 55

Módulo 2 – Experiências e práticas na Educação Museal


Unidade 1 – Modalidades educativas................................................................... 58
1.1 – Exemplos da prática educativa museal .............................................................. 62

Unidade 2 – Parcerias e ações integradas............................................................ 95


2.1 – A relação museu-escola ........................................................................................ 95
2.2 – A relação museu, comunidades e movimentos sociais .................................... 98

Unidade 3 – O âmbito da prática......................................................................... 105


3.1 – Elaboração de materiais e recursos educativos e pedagógicos .................... 105
3.2 – Como elaborar um projeto ou uma ação educativa? ...................................... 115
3.3 – Ação educativa acessível ..................................................................................... 122

Referências............................................................................................................ 128

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Olá!
O curso Educação Museal II: histórico e práticas foi desenvolvido pela Enap, em
parceria com o Instituto Brasileiro de Museus – Ibram em 2023.

O objetivo deste curso é o de habilitar os usuários para identificar os processos


históricos, marcos e agentes políticos que contribuem para a configuração da educação
museal no Brasil e para realizar as etapas necessárias ao bom desenvolvimento de
programas, projetos e ações educativas em museus e instituições culturais..

Antes de alcançar o objetivo geral, habilidades anteriores precisam ser adquiridas


gradativamente. Por esse motivo, os objetivos específicos descritos abaixo também
devem ser atingidos ao longo do curso!

Ao final deste curso, espera-se que você seja capaz de:

• Conhecer o processo histórico que configurou a educação museal como


um campo de conhecimento e atuação.

• Conhecer as principais referências e pesquisadores da educação museal


pelo mundo.

• Conhecer a trajetória da educação museal no Brasil.

• Conhecer os marcos da configuração da educação museal como campo


político.

• Conhecer diferentes exemplos de práticas de educação museal.

• Identificar possibilidades de parceria e ações integradas

• Conhecer os elementos necessários à construção do programa educativo


cultural e ao planejamento, desenvolvimento e avaliação de ações
educativas.

Desejamos um excelente estudo!

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Módulo

1 História da Educação Museal


Unidade 1 – Museus e educação pelo mundo

Conhecer o processo histórico que configurou a Educação Museal


como um campo de conhecimento e atuação.

Muitos pesquisadores já trataram da história dos museus e de suas ações educativas


pelo mundo. Luciana Conrado Martins, educadora museal e pesquisadora paulista,
em sua tese de doutorado, destaca a importância dessa história, afirmando as ações
educativas de um museu como reveladoras do seu desenvolvimento. Segundo a
autora, para pensar a história dos museus do ponto de vista da educação, deve-
se observar a relação dessa instituição com os seus públicos ao longo do tempo:
uma relação dinâmica em que o museu muda segundo o que cada época e cada
sociedade entende como educação, como museu e como público. Para ela, é possível
afirmar “que os museus sempre tiveram uma interface educacional na medida
em que são instituições intrinsecamente ligadas à coleta, ao estudo e à divulgação
de coleções”.

As primeiras ações que podemos relacionar com educação registradas em museus


remetem ao estudo de coleções e à formação de cientistas e de profissionais que
neles atuavam, o que podemos dizer que ocorrem já há alguns séculos. A respeito
disso, Martins também nos fala sobre o contexto que marca o começo da relação
entre museus e público, determinante para seu caráter educativo, que ocorre no
momento em que começaram a se tornar instituições públicas. Nesse sentido, é
comum que seja citada a criação do primeiro museu público do mundo, em 1683, o
Ashmole Museum, na Inglaterra, ou do Musée du Louvre, na França, em 1793, sendo
esta a primeira instituição que permitia o acesso da população em geral às obras de
arte colecionadas pela nobreza deposta pela Revolução Francesa de 1789.

Há autores que consideram que podemos falar em ação educativa a partir da


abertura dos museus ao público (fenômeno que ocorre na virada do século XVIII
para o XIX). Outros consideram que apenas quando essas ações passam a ter um
caráter pedagógico mais definido e consciente é que podemos tratá-las como ações
de educação, o que teria se iniciado apenas no século XIX.

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Na Inglaterra, foi nesse período que começaram a circular kits didáticos entre
museus e escolas. Também foi nesse momento que se começaram a realizar visitas
escolares a museus. No Brasil, chamadas de palestras ambulantes, as visitas com
grupos escolares começaram antes mesmo da instituição de setores educativos dos
museus e há registros dessas e de outras atividades educativas que aconteceram
ainda nas primeiras décadas do século XX.

Fica a dica!

Quer conhecer experiências recentes de projetos educativos que


envolvam o empréstimo de kits didáticos?

Indicamos aqui alguns exemplos:

Coleção didática da Seção de Assistência ao Ensino do Museu


Nacional, acesse pelo endereço: https://sae.museunacional.ufrj.
br/material-de-emprestimo/

Empréstimo didático no Museu de Zoologia da UNICAMP:

https://www.ib.unicamp.br/museu_zoologia/emprestimo_
didatico

Coleção didática do Museu Emílio Goeldi:

https://www.museu-goeldi.br/assuntos/educacao/atividades/
colecao-didatica

Não são só museus de ciências e história natural que fazem


empréstimos de coleções didáticas. Veja só:

Projeto Viajando na História, do Museu Histórico Nacional:

https://mhn.museus.gov.br/index.php/viajando-na-historia/

Projeto Pina Dentro & Fora:

http://museu.pinacoteca.org.br/programas-desenvolvidos/

Projetos Itinerantes do Museu do Folclore:

http://www.cnfcp.gov.br/interna.php?ID_Secao=125

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Palestra ambulante: visita realizada por Florisvaldo Trigueiros ao Museu do
Banco do Brasil, Rio de Janeiro/RJ, 1958

Fonte: Arquivo NUMMUS – Escola de Museologia/UNIRIO

A troca de informações e a circulação de objetos entre metrópoles e colônias foi um


processo que construiu conhecimentos sobre artefatos colecionados, prática que
se fortaleceu com as viagens dos europeus para o chamado Novo Mundo, a partir
do século XV. Nesse período, fica mais evidente o estreitamento da relação entre
formação de coleções para fins de exposição e ações educativas, como o estudo
e a pesquisa sobre esses objetos. Além disso, um outro aspecto de destaque é a
publicização desses objetos expostos com a visita de estudiosos, que muitas vezes
viajavam de locais distantes com o interesse em conhecer as coleções privadas.

A prática da coleta, do colecionismo e do estudo de objetos considerados exóticos e


representativos da diversidade natural e da produção humana nos remete à origem
dos museus, ainda na antiguidade. Mas é com a proposta de desenvolvimento da
ciência, que ganha novo impulso na modernidade, que o caráter educativo dos
museus começa a ser desenhado.

As educadoras e pesquisadoras Maria Esther Valente, Sibele Cazelli e Fátima Alves,


no artigo “Museus, ciência e educação: novos desafios”, afirmam que os primeiros
museus do Brasil foram dedicados à história natural, em decorrência da exuberância
da natureza brasileira. Citam como exemplos o Museu Real (atual Museu Nacional
da Universidade Federal do Rio de Janeiro), criado em 1818, no Rio de Janeiro; o
Museu Emílio Goeldi, criado em 1866, em Belém do Pará; e o Museu do Ipiranga
(também conhecido como Museu Paulista), criado em 1894, em São Paulo. As autoras
nos dizem que “a trajetória dessas instituições foi marcada por compromissos
estabelecidos a partir de diferentes perspectivas de educação e difusão da ciência,
consonantes com os momentos em que surgiram esses museus”.

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Litogravura ilustrando o primeiro prédio ocupado pelo Museu Nacional, Rio de
Janeiro/RJ, 1870

Fonte: O Museu Nacional. São Paulo: Banco Safra, 2007. p. 14.

Caixa d´água cenográfica construída em 1901, junto ao lago das vitórias-régias


no Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém/PA

Fonte: Fidanza (1902)

Essa trajetória aponta para o entendimento do museu como um lugar


intrinsecamente educativo. Mesmo que inicialmente contendo um caráter público
restrito a determinados grupos sociais, além de ser espaço de estudo e de pesquisa
principalmente voltado para cientistas, sua dimensão educativa, ou seja, seu
potencial educativo, já se manifestava como elemento de formação para quem o
frequentava. A função de espaço onde se pesquisa, estuda e aprende foi inerente à
criação dos museus, desde os primeiros Gabinetes de Curiosidades, e desenvolve-
se até hoje, de diferentes maneiras, nos museus do Brasil e do mundo.

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Já na primeira metade do século XX, os museus passaram a estar abertos para um
número cada vez maior de pessoas e para públicos mais diversos. A frequência de
novos sujeitos aos museus tem dinamizado a transformação desses espaços e as
formas de educação neles desenvolvidas.

O Gabinete de Curiosidades de Ole Worm (1588-1654), Copenhagen/Dinamarca

Fonte: Wikimedia Commons

Para os curiosos

Gabinetes de curiosidades: são considerados os primeiros


exemplos de museus da modernidade. Reis, cientistas e
pesquisadores coletavam e armazenavam objetos considerados
exóticos e curiosos, obtidos em viagens e expedições ao redor do
mundo. Eram objetos, animais e espécimes botânicas, extraídos
da natureza e obtidos por meio do contato com diferentes povos
e sociedades e reunidos em coleções particulares, eventualmente
abertas para visita e consulta, de acordo com a vontade de seus
proprietários.

Palestras ambulantes: assim eram chamadas as visitas realizadas


no início do século XX nos museus do Brasil, que eram preparadas
e guiadas por cientistas, conservadores e gestores de museus.

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As palestras ambulantes são, em nosso país, os embriões das
chamadas visitas guiadas, que com o tempo desenvolveram-se
em diferentes formas de mediação e ação educativa nos museus.

Além da pluralidade cada vez maior de públicos, a estrita relação do museu com
a escola também influenciou as transformações da Educação Museal ao longo
da história. Movimentos educacionais, teorias da educação e suas metodologias,
geralmente voltadas para a educação escolar, sempre foram base também para
a elaboração e realização de ações educativas em museus. Podemos dizer que a
história da Educação Museal acompanha o desenvolvimento do museu, da educação
e as próprias transformações da sociedade.

Você também encontra informações sobre a trajetória dos


museus no Brasil na publicação do IPHAN sobre a Política Nacional
de Museus.

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Unidade 2 – Influências e referências
internacionais e nacionais na constituição da
Educação Museal

Conhecer as principais referências e pesquisadores da Educação


Museal pelo mundo.

A Educação Museal teve suas ações iniciadas há alguns séculos, e tendo como
referências as ações desenvolvidas antes mesmo da institucionalização de um
setor específico nos museus, o que, no Brasil, ocorreu em 1927. Não são poucos os
exemplos de documentos, eventos e de produção prática em Educação Museal.

O Brasil tem uma atuação destacada nesse cenário, ora tendo influenciado
o desenvolvimento das suas reflexões e da sua produção prática, ora tendo
referenciado o trabalho de organizações, instituições e da produção teórica e prática
internacional.

Nesse âmbito, alguns marcos são importantes de serem ressaltados. A Organização


das Nações Unidades para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) realizou, no
século XX, uma série de seminários que trataram de temas relacionados ao universo
museal, entre os quais destacamos três, por tratarem especificamente da temática
educativa e por terem produzido documentos que viraram referências no campo.
São eles:

• O Seminário Internacional sobre o papel dos museus na educação, em


Nova Iorque, em 1952;

• O Seminário Internacional sobre o papel dos museus na educação, em


Atenas, em 1954;

• E o Seminário Regional sobre a função educativa dos museus, no Rio de


Janeiro, em 1958.

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Os relatórios dos encontros da UNESCO estão disponíveis, em
idioma original, nos links:

Seminário de 1952:

http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001274/127439mo.pdf

Seminário de 1954:

http://unesdoc.unesco.org/images/0001/000105/010561mo.pdf

Seminário de 1958:

http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001338/133841Fo.pdf

Visita dos participantes do Seminário da UNESCO sobre a função educativa dos


museus ao Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro/RJ, 1958

Fonte: Arquivo NUMMUS – Escola de Museologia/UNIRIO

No Seminário de 1958, Georges Henri Rivière, então presidente do Conselho


Internacional de Museus (ICOM), criado em 1946, apresentou um relatório final, que
representa um marco para o campo museal. O documento apresenta definições,

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conceitos, proposições e reflexões sobre a relação entre museus e educação, seus
profissionais e seus públicos.

Aponta, ainda, o museu como tendo uma função educativa específica, diferente da
escola e não mais apenas complementar, como era entendida e praticada até então.

Em 2018, foi realizado, pelo Museu da República, no Rio de Janeiro,


em comemoração aos 60 anos de realização do Seminário Regional
da UNESCO, o Seminário “A Função Educacional dos Museus – 60
anos do Seminário Regional da UNESCO”.

A partir desse evento, foi publicado um livro que contém a


tradução inédita para o português do relatório de Georges
Henri Rivière, além de textos sobre o Seminário da UNESCO e
sobre a atualidade da Educação Museal. Disponível em: http://
museudarepublica.museus.gov.br/wp-content/uploads/2019/05/
Livro_seminario_WEB.pdf.

No Brasil, a preparação para o Seminário de 1958 gerou uma série de iniciativas


de organização de eventos e publicações na área, por parte do poder público, das
instituições e dos profissionais de museus.

Na perspectiva dos marcos que alteram as reflexões sobre o campo museal,


inserimos a Mesa Redonda de Santiago. Ocorrida em 1972, no Chile, dela resultou
o documento final, intitulado Declaração de Santiago, que aponta o museu como
um espaço de conscientização e mudança, com compromisso voltado para a
transformação da sociedade. As ideias de Santiago demoraram a serem levadas
a cabo na prática dos museus e são até hoje a base de importantes desafios do
universo museal. Sua afinidade com as propostas educativas, de ação cultural e
de transformação social apresentadas por Paulo Freire é tema de investigação no
campo da Educação Museal.

Freire foi convidado por Hugues de Varine, então presidente do ICOM, para coordenar
a realização da Mesa Redonda de Santiago. O educador brasileiro trabalhou no Chile
na década de 1960, quando exilado do Brasil, no governo do socialista Salvador
Allende. Suas ideias, disseminadas por toda a América Latina, na ocasião, já eram
bem conhecidas no Chile.

O governo brasileiro, na época, recusou-se a autorizar que a UNESCO fizesse o convite


para Paulo Freire participar da Mesa Redonda. Apesar disso, as ideias de Freire e sua
concepção de educação não só influenciaram e influenciam até hoje a Educação

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Museal, como estão presentes na própria concepção por trás da museologia social.
De acordo com as professoras Vania Maria Siqueira Alves e Maria Amélia Gomes de
Souza Reis, em texto de 2012, para o educador chileno Contreras, que trabalhou
com Paulo Freire, é possível ver a influência do autor em cinco pontos principais:

1. A concepção de homem como sujeito histórico e


inacabado.

2. A concepção de educação como ação transformadora.

3. O desenvolvimento da consciência crítica como


possibilidade ontológica do oprimido.

4. O conhecimento crítico como ação de troca


transformadora do mundo.

5. Por último, nada do anterior é possível sem o


diálogo como possibilidade pedagógica de construção
intersubjetiva.

Acesse a Declaração de Santiago no endereço: http://www.


ibermuseos.org/pt/recursos/publicacoes/mesa-redonda-de-
santiago-de-chile-1972-vol-1/

Acesse o fac-símile da Revista Museum de 1973 (volume XXV,


número 3), dedicada à Mesa Redonda de Santiago do Chile e à
museologia latino-americana:

http://www.ibermuseos.org/wp-content/uploads/2018/10/
publicacion-mesa-redonda-vol-ii-pt-es-en.pdf.

Vídeo 1 – Paulo Freire e a Mesa de Santiago

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Na década seguinte, na mesma linha de mudanças e propostas para potencializar
o campo, assistimos, no ano de 1984, em Portugal, ao surgimento do Movimento
Internacional para uma Nova Museologia (MINOM). Esse movimento, hoje afiliado
ao Conselho Internacional de Museus, baseia-se na preocupação com a mudança
social e cultural, reunindo indivíduos dedicados à Museologia ativa e interativa. É
aberto a todas as abordagens que tornam o museu um instrumento comunitário. O
MINOM proporciona a cooperação entre públicos de museus e seus profissionais.

A década de 1990 representou um novo quadro para a cultura em âmbito mundial.


Políticas neoliberais reconfiguraram em muitos países as formas de financiamento
e do entendimento do que é cultura, apresentando-se um quadro de aumento da
visão de cultura como produto e mercado.

No século XXI, essa concepção desenvolveu-se, incorporando elementos do discurso


popular e da própria condição da produção cultural, e tornou-se comum pensar a
cultura, os museus e a memória como parte de uma Indústria Cultural ou Economia
Criativa.

As alterações no campo da economia, dos direitos sociais e da própria produção


e reprodução da vida mudaram também as relações de trabalho, de reflexão e de
prática da Educação Museal.

No Brasil, todo o contexto internacional exerceu muita influência no desenvolvimento


do campo da Educação Museal, mas também a Educação Museal praticada em nosso
país tem sido referência para o mundo em muitos aspectos. Algumas circunstâncias
e experiências particulares da trajetória dos museus e da Museologia nacionais
são importantes de serem estudadas, para uma melhor compreensão de como
chegamos até aqui sendo um país de referência no desenvolvimento de políticas
públicas, de reflexão teórica e de práticas no universo dos museus e da Museologia.

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Unidade 3 – Educação Museal no Brasil

Conhecer a trajetória da Educação Museal no Brasil.

Somos uma nação muito jovem em termos de museus, embora hoje já tenhamos
mais de 3.000 instituições museológicas, conforme dados da Plataforma Museusbr.
Por outro lado, apenas cerca de 26% dos 5.560 municípios brasileiros possuem
museus, segundo dados de 2018 do IBGE, o que comprova que a instituição museu
ainda não é uma realidade para todo o território nacional.

A primeira referência a um museu no Brasil data do século XVII, por ocasião da


presença do holandês Maurício de Nassau na região do atual Recife, entre 1637 e
1644. Suas coleções foram levadas, em seguida, para a Holanda, quando da expulsão
dos holandeses. A Casa de História Natural, também conhecida como Casa dos
Pássaros, criada em 1784, é a segunda referência de museu no país. Ela expunha
ao público exemplares de pássaros e demais animais vivos ou taxidermizados, que
seriam regularmente enviados para a Corte, em Portugal. Somente no século XIX,
com a presença da família real portuguesa no Rio de Janeiro e com a elevação do
Brasil à categoria de Reino Unido, é que vamos ter o primeiro museu criado por
decreto. Isso aconteceu em 1818, com a criação do Museu Real, depois denominado
Museu Imperial, no período do Império, e, na República, intitulado Museu Nacional.

Como já citamos, no século XIX, ainda no período imperial, foram criados, em 1855,
o Museu Paulista, de História do Brasil, em São Paulo; e, em 1866, o Museu Goeldi,
de História Natural, em Belém do Pará.

Sobre os dados estatísticos do setor de museus, consulte


a publicação Museus em Números, disponível em: https://
www.museus.gov.br/wp-content/uploads/2011/11/museus_
em_numeros_volume1.pdf e https://www.museus.gov.br/wp-
content/uploads/2011/11/Museus_em_Numeros_Volume_2A.pdf,
e, para ter dados atualizados, consulte a plataforma Museusbr,
no endereço: museus.cultura.gov.br.

No século XX, já na República, foi criado o Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro,
no bojo das comemorações do centenário da Independência do Brasil, em 1922.
Dois anos depois, após a morte do jornalista, jurista, político e ministro da República

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Rui Barbosa, o Governo Federal decidiu incorporar ao Patrimônio Público a casa por
ele habitada nos seus últimos 28 anos de vida, criando assim o primeiro museu-casa
público no país: o Museu Casa de Rui Barbosa, aberto em 1930, e, a partir de 1966,
integrado à estrutura da recém-criada Fundação Casa de Rui Barbosa.

O primeiro setor educativo institucionalizado a surgir no Brasil foi inaugurado em


1927, por Roquette Pinto, no Museu Nacional (atualmente vinculado à Universidade
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ). Denominado 5ª Seção: Serviço de Assistência ao
Ensino de História Natural, esse setor tinha por objetivo trabalhar com escolas na
difusão da ciência, contribuindo com a abertura à experimentação e vivência de
estudantes a partir do acervo de ciências naturais e etnologia do Museu Nacional.
Ele continua atuante, sendo hoje conhecido pela sigla SAE, que significa Seção de
Assistência ao Ensino.

Na virada do século XIX para o XX, os museus já recebiam grupos para visitas e
para ações de complemento à rotina de aprendizagem escolar. Há documentos e
pesquisas que demonstram a realização de visitas dos alunos do colégio Pedro II ao
Museu Nacional e ao Museu Histórico Nacional.

“O Colégio Pedro II foi fundado em 2 de dezembro de 1837


e oficializado, por Decreto Imperial, em 20 de dezembro do
mesmo ano, como decorrência da reorganização do Seminário
de São Joaquim, apresentada ao Império pelo Ministro Bernardo
Pereira de Vasconcelos, sendo assim batizado em homenagem ao
Imperador-menino, no dia de seu aniversário.”

Informações disponíveis em: http://www.cp2.g12.br/ocolegio/


historico.htm#:~:text=O%20Col%C3%A9gio%20Pedro%20II%20
foi,ao%20Imperador%2Dmenino%2C%20no%20dia.

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Estudantes do Ensino Fundamental em frente ao monumento a dom Pedro II,
em visita ao Museu Nacional, Rio de Janeiro/RJ, cerca de 1925-1926

Fonte: Arquivo NUMMUS – Escola de Museologia/UNIRIO

Na década de 1930, sob a influência do movimento escolanovista, foram criados


os primeiros museus escolares. O movimento da Escola Nova influenciou grandes
transformações no campo da Educação no Brasil. Promovendo a criticidade, a reflexão
e a liberdade criativa na pedagogia, o referido movimento, também chamado de
Escola Ativa, surgiu no final do século XIX, na Europa, fundado por Adolphe Ferrière.
Expandiu-se pelo mundo, influenciando autores como John Dewey, nos EUA, e
tornou-se uma corrente com muitos adeptos no Brasil.

Entre os autores que produziram no campo da Pedagogia no Brasil, estão Anísio


Teixeira, Fernando de Azevedo e Lourenço Filho. O movimento escolanovista
promoveu os debates que culminaram no Manifesto dos Pioneiros da Educação,
lançado em 1932, que defendia a universalização da escola pública, laica e gratuita.
Alguns dos seus principais pensadores atuaram também nas reflexões sobre o
campo museal, e seus textos são referências para a Educação Museal, como no caso
de Anísio Teixeira – sobre museus escolares – e de Paschoal Lemme – que atuou
diretamente no setor educativo do Museu Nacional.

A relação entre museu e escola, tida como uma relação complementar, em que os
ensinamentos escolares recebiam especial ilustração em visitas aos museus, foi a
tônica da Educação Museal por muitas décadas no Brasil. Nesse contexto da relação
museu-escola, um decreto de 1956 fez surgir, em São Paulo, os museus histórico-
pedagógicos, compreendidos como instrumentos de cultura e educação do povo e
como recurso pedagógico a serviço da escola.

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Visita de estudantes ao Museu Histórico e Pedagógico Dr. Washington Luiz,
Batatais/SP, 2012

Foto: Eveline Bergamini Rodrigues. Fonte: Acervo MHPDWL

Para os curiosos

Entre os anos 1956 e 1973, o governo de São Paulo criou e


implantou uma rede de museus histórico-pedagógicos (MHP) até
as regiões mais remotas do Estado. O número de museus histórico-
pedagógicos, com autorização para instalação ou criação,
chegou a 79, mas somente 57 foram efetivamente implantados.
Esses museus eram também um meio de preservar a história de
personalidades e da cidade. Para cada MHP criado, era nomeado
um patrono como método de consagração. Os patronos eram
figuras de destaque no cenário político brasileiro e do estado de
São Paulo.

Depois da instituição da SAE do Museu Nacional, novos setores educativos


institucionalizados demoraram a surgir no Brasil. Mesmo museus que já
desenvolviam ações educativas – como o Museu Histórico Nacional, que teve função
educativa desenvolvida desde a sua fundação, em 1922, ou o Museu Paulista, que,
ainda na década de 1910, recebia milhares de visitantes e já realizava ações de cunho
educativo – só tiveram seus setores educativos institucionalizados após a primeira
metade do século XX. No final da década de 1950, foi a vez do Museu Casa de Rui
Barbosa e da Pinacoteca do Estado de São Paulo; na década de 1970, Museus Castro

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Maya, Museu Lasar Segall; e, na década de 1980, Museu de Arte Contemporânea
de São Paulo (MAC-SP). Esse movimento de criação de setores educativos não é
linear. Por vezes eles surgem e depois deixam de existir nos museus, seja por falta
de ferramentas de gestão, como regimentos e planos museológicos, seja pela falta
mesmo de educadores.

Visita escolar ao Museu Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro/RJ, cerca de 1940

Fonte: Fundação Casa de Rui Barbosa

É interessante observar que o Comitê Internacional para Educação e Ação Cultural


do Conselho Internacional de Museus (CECA/ICOM), embora criado em 1948,
juntamente com outros comitês internacionais, durante a primeira Conferência
Geral do ICOM, somente tomou a forma que tem hoje a partir de 1963, que incluía
entre seus membros pedagogos e sociólogos, trabalhando com um conjunto mais
vasto de questões do que no passado, a partir de uma visão moderna do papel
educacional de um museu.

Em 1995, atendendo a uma proposta da direção do CECA, os membros brasileiros


desse Comitê organizaram o CECA-Brasil, que tem contribuído com o campo da
Educação Museal, em especial na construção de textos coletivos que são apresentados
em suas conferências anuais. Um apanhado desses artigos foi publicado no Dossiê
CECA da Revista Brasileira de Museus e Museologia – Musas nº 1, em 2004, e apresenta
uma série de experiências educativas que se traduzem em um exemplo da trajetória
histórica da Educação Museal nacional.

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Acesse a Revista Musas nº 1 no endereço:

https://www.museus.gov.br/wp-content/uploads/2011/04/
Musas1.pdf.

Nesse longo caminho da Educação Museal no Brasil, alguns desafios já foram


identificados por educadores e pesquisadores do tema. Ainda nas primeiras décadas
do século XX, a importância de dinamizar a relação do museu com o público era
tema discutido entre especialistas da área em todo o mundo.

Regina Real, no folheto O museu ideal, publicado em 1958 pelo Ministério da Educação
e Cultura, apresenta exemplos, citados pelo americano Duffus, de ações então
consideradas inovadoras: segundo o autor, o museu estava “saindo das prateleiras”,
convidando professores e alunos para realizarem visitas em pequenos grupos,
emprestando coleção de slides, realizando palestras para vendedores, exibições de
arte industrial, produzindo filmes educativos etc., tudo isso ainda antes de 1910.

No Brasil, conservadores de museus e cientistas, que realizavam trabalhos nos


museus, espelhavam-se no exemplo americano, buscando ideias de inovação e
desenvolvimento, em especial na ação educativa.

Bertha Lutz realizou em 1932 uma viagem de 60 dias aos EUA, em que visitou 58
instituições, conhecendo suas propostas educativas, que derivou na obra A função
Educativa dos Museus, publicada somente em 2008. Cientista, educadora e militante
feminista, Lutz retornou com propostas de incluir novos públicos, novas ações e
instituir novas relações entre o museu e a sociedade.

Livro: A Função Educativa dos Museus

Fonte: Editora Muiraquitã

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Lutz não foi a única a fazer visitas em outros países, nem a escrever sobre o tema
da educação a partir dos museus. As primeiras décadas do século XX foram muito
produtivas nessa temática, no Brasil.

Leontina Silva Busch publicou, em 1936, o livro Organização de museus escolares, em


que dizia que o museu escolar servia para alimentar a dimensão prática, intuitiva e
experimental do aprendizado.

Livro: Organização de museus escolares

Fonte: Cadernos de Sociomuseologia, 2019. v. 58, n. 14

Em 1939, Francisco Venâncio Filho editou, para a Revista do Instituto de Estudos


Brasileiros, o debate realizado em uma conferência que ocorreu em Petrópolis, no
Museu Imperial, em que defendeu que o museu possuía características educativas
próprias e que atividades relacionadas ao museu, como rádio e cinema, eram
oficialmente consideradas como “extraclasse”.

Em 1946, Edgar Sussekind de Mendonça elaborou um texto para ser admitido no


Museu Nacional, que se tornou também uma referência na área. Em A extensão
cultural nos museus, o autor levanta o questionamento sobre se a escola, até então
longe de atingir uma universalidade, era realmente o pilar da educação, ou se não
seria ela supletiva, enquanto que outras formas de educação, inclusive aquelas
desenvolvidas por museus, não seriam, na verdade, o espaço comum “do organismo
inteiro que é a educação da população toda do país”.

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Livro: A extensão cultural nos museus

Fonte: Museu Nacional

No mesmo ano em que Mendonça apresentou seu texto, José Valladares publicou
Museus para o povo, em que se propõe a chamar a atenção para a necessidade de
democratização da cultura por meio dos museus. Como Lutz, Valladares também
visitou museus estadunidenses e inspirou-se nas suas práticas. A partir dessa
experiência, o autor propõe que os museus estejam a serviço do povo e diz ainda
que o museu não pode se limitar a uma apresentação técnica do acervo que possui,
devendo, antes de tudo, criar mecanismos de atração dos visitantes. Ressalta que o
museu deve servir a especialistas e ao povo.

Livro: Museus para o povo

Fonte: Imprensa Da Universidade de Coimbra

A mesma opinião aparece em Introdução à Técnica de Museus, uma obra de referência


para a formação dos primeiros museólogos brasileiros, que foi publicada por Gustavo
Barroso, em 1947, para uso no Curso de Museus do Museu Histórico Nacional.
O autor foi o fundador e primeiro diretor desse museu e era um personagem

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controverso devido a uma orientação política associada ao movimento integralista
brasileiro. Afirma que, entre as funções técnicas do museu, está a realização de
cursos, palestras, conferências, concertos e visitas de caráter educativo, como
vemos, nas páginas 26 e 27:

essa é uma das partes mais importantes do museu,


sua parte dinâmica, sua vida, sua linguagem, sua
forma de projeção na cultura de um país: cadeiras,
programas de ensino, matrículas, horários das aulas,
provas, exames, notas, taxas, diplomas; designações
de professores e suas obrigações e direitos; disciplina
dos alunos; cursos regulamentares, especiais e de
extensão; bolsas e excursões; conferências em séries
e avulsas; comunicações de caráter técnico etc. Um
museu não deve ser unicamente um necrotério
de relíquias históricas, etnográficas, artísticas,
folclóricas ou arqueológicas; mas um organismo vivo
que se imponha pelo valor educativo, ressuscitando
o passado nele acumulado. O conservador tem de
ser, antes de tudo, um evocador. Um museu conserva
justamente para evocar.

Livros: Introdução à Técnica de Museus – v. I

Rio de Janeiro: Gráfica Olimpica, 1951

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Recorte da Matéria “Inaugura-se à tarde o curso universitário do Museu Histórico”,
do jornal A Noite, Rio de Janeiro/RJ, de 3 de maio de 1932

Fonte: Arquivo NUMMUS – Escola de Museologia/UNIRIO

Em 1932, foi criado, no Museu Histórico Nacional, o Curso de


Museus, primeiro espaço de formação de profissionais da área
no Brasil.

A partir de 1979, o curso foi integrado à Federação das Escolas


Federais Isoladas do Estado do Rio de Janeiro (FEFIERJ),
posteriormente Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(UNIRIO), recebendo a denominação de Curso de Museologia.

Para saber mais sobre a trajetória do Curso de Museus, veja a


edição dos Anais do MHN, em comemoração aos 90 anos do Museu
Histórico Nacional e dos 80 anos do Curso de Museus.

No Museu Histórico Nacional, a publicação dos anais também levantou importantes


debates sobre a Educação Museal, realizados a partir da produção de conservadoras
de museus como: Papel educativo do Museu Histórico Nacional, produzido por Nair
Moraes de Carvalho, publicado em 1947; O museu e a criança, publicado em 1948,
escrito por Sigrid Porto de Barros; Nova diretriz dos museus, de Dulce Cardozo Ludolf,
publicado em 1952; e A mensagem cultural do museu, de Sigrid Porto de Barros, do
mesmo ano.

Finalmente, a partir da construção do Seminário Regional sobre a função educativa


dos museus, em 1958, no Rio de Janeiro, foram produzidas outras obras importantes
para o campo. No ano do evento, foi reeditado o livro de 1956, de Florêncio dos

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Santos Trigueiros, Museu e educação, sob o título Museus: sua importância para a
educação do povo. Já na primeira edição, o autor coloca, na página 38, que:

“Poderíamos sintetizar que a finalidade do museu é informar educando. Todos os


objetos que se encontram à disposição dos estudiosos falam a linguagem positiva
das coisas frias e silenciosas, revelando os fatos com a eloquência da verdade.

Hoje, ele é o complemento da escola, é o lugar onde os professores levam seus


alunos, para ilustrar com o real o que lhes foi explicado em aula. O museu é escola
viva, exercendo papel preponderante na educação do povo”.

Livro: Museus: sua importância para a educação do povo

Fonte: Editora Pongetti, 1956

No mesmo ano da primeira edição do livro de Trigueiros, em 1956, o I Congresso


Nacional de Museus foi realizado na cidade de Ouro Preto/Minas Gerais, sob a
regência de Rodrigo Melo Franco de Andrade e influência do pensamento de outro
intelectual paulista, Mário de Andrade. Já em 1930, ele dizia que “defender o nosso
patrimônio histórico e artístico é alfabetização”. Rodrigo Melo Franco de Andrade, por
sua vez, em 1960, iria declarar que “em verdade, só há um meio eficaz de assegurar
a defesa do patrimônio de arte e de história do país: é a educação popular”.

Curiosidades

Mário de Andrade foi poeta, escritor, crítico literário, musicólogo,


folclorista, ensaísta e fotógrafo brasileiro, em 1936 apresentou
um anteprojeto para criar o Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (SPHAN), que deu origem ao atual Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O documento
tornou-se uma importante referência na área do patrimônio.

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Rodrigo Melo Franco de Andrade foi advogado, jornalista,
escritor e o diretor do SPHAN durante 30 anos, atuando na
área de legislação e tombamento do patrimônio, na fundação e
monitoramento de museus e na preservação de bens culturais.
Desde 1987, o IPHAN realiza edições de um prêmio em seu nome,
que reconhece ações de preservação do patrimônio cultural
brasileiro, inclusive ações educativas.

Em 1958, foi publicado o livro Recursos educativos dos museus brasileiros, de Guy
de Hollanda, que apresenta dados de um levantamento proposto pelo Governo
Federal e realizado com 145 museus brasileiros, a partir de uma preparação para o
Seminário Regional da Unesco sobre a Função Educativa dos Museus, de 1958.

Derivando dos debates do seminário, destacamos também as publicações


da museóloga Regina Real, O museu ideal, já mencionado, e Binômio: museu e
educação, ambos de 1958. Neste trabalho a autora defende a relação museu-escola
apresentando propostas de políticas públicas para sua efetivação.

Livro: Binômio: Museu e Educação

Fonte: Museu Nacional de Belas Artes

Livro: O museu ideal

Fonte: Arquivo IBRAM

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Em termos práticos, o que acontecia nos museus até meados do século XX eram
visitas guiadas, palestras ambulantes, aulas em exposições e empréstimos de
coleções didáticas. Essas ações eram alvo da reflexão teórica dos seus atores, como
vimos, mas também era assunto tratado em diversos eventos da área museológica.

Mas a Educação Museal não era ainda entendida e implementada na maioria


das instituições como uma prática tão essencial quanto as demais funções dos
museus. Suas condições eram ainda muito precárias e instáveis, e não havia um
direcionamento nacional para sua realização.

O período da ditadura civil-militar (1964-1985), ao mesmo tempo que inaugurou


a criação de um planejamento específico das políticas públicas de cultura, criou
obstáculos para o desenrolar de processos democráticos de construção da ação
educativa com a sociedade. Mas a sociedade civil e o universo museal não pararam
suas ações.

Em 1970, o projeto intitulado Domingos da Criação, organizado e coordenado pelo


crítico e curador Frederico Morais, foi uma experiência significativa de educação,
produção artística e resistência ao regime no período.

Diário de Notícias, Rio de Janeiro/RJ, 28 de março de 1971

Fonte: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional – FNBN

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Domingos da Criação, Rio de Janeiro/RJ, 1971

Fotografia: Acervo MAM Rio

Um domingo de papel, Rio de Janeiro/RJ, 1971

Fotografia: Acervo MAM Rio


Para outras informações, acesse: https://mam.rio/historia/50-anos-dos-domingos-da-criacao/.

De acordo com o historiador Paulo Knauss, em texto de 2011, somente no início dos
anos 1980, a Educação Museal ganha nova conceituação, e a relação dos museus
com as escolas é transformada, num cenário em que foi decisivo o novo contexto da

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Museologia na América Latina, a partir da afirmação do conceito de museu integral,
sob influência da Declaração de Santiago.

A partir daí, as diferentes tipologias de museus ganham autonomia, seus campos


são explorados e desenvolvidos. Assistimos, na década de 1980, à criação e
disseminação de centros de ciências e de centros culturais no Brasil. Aparatos
tecnológicos e interativos começam a ocupar terreno nos museus de ciências, e
a ideia de popularização e divulgação científica começa a influenciar as ações
educativas de museus e no ensino de ciências nas escolas.

Na seara dos museus de arte, surge a proposta da Abordagem Triangular,


apresentada por Ana Mae Barbosa, a partir de experiências da educadora com
museus e escolas dos EUA e do México. O trabalho de Ana Mae causou um grande
impacto no que passou a ser chamada de arte-educação, tanto no âmbito dos
museus quanto no ensino escolar. A educadora liderou cursos de especialização
oferecidos pela Universidade de São Paulo (USP) e fundamentou seus experimentos
num conceito de arte-educação como proposta de epistemologia da arte ou como
um intermediário entre arte e público, com o objetivo de preparar os seres humanos
para desenvolver sensibilidade e criatividade por meio da compreensão da arte.

Também na década de 1980 e na seguinte, há importantes movimentações no campo


da Museologia e do Patrimônio, no que diz respeito à educação. Em 1987, Maria
Célia Teixeira Moura dos Santos, museóloga formada pela Universidade Federal
da Bahia (UFBA) e professora do curso de Museologia, que desenvolve trabalhos
sobre a educação nesse campo, publicou o livro Museu, escola, comunidade – uma
integração necessária, pelo IPHAN.

A autora inaugura uma nova referência para a Museologia quanto à educação,


destacando a importância de os museus se fazerem presentes nos processos
educacionais, não como complemento à escola, mas na ação direta com as
comunidades em que se inserem, numa clara consequência da Declaração de
Santiago de 1972.

Também Maria Margaret Lopes, professora da Universidade Estadual de Campinas


(Unicamp), defendeu, no artigo “A favor da desescolarização dos museus”, de 1991,
a ideia de que estes possuem caráter educativo próprio e que pedagogias escolares
não devem ser transpostas a esses espaços.

Em 1983, Maria Lourdes de Parreiras Horta, então educadora no Museu Imperial,


após participar de um evento na Inglaterra, importou a metodologia da Educação
Patrimonial (Heritage Education) para o Brasil. Sua proposta era a de trabalhar o
patrimônio sob uma perspectiva educativa, visando à sua preservação e apropriação.

A metodologia da Educação Patrimonial foi descrita por Horta e Evelina Grumberg


no Guia Básico de Educação Patrimonial, publicado pelo IPHAN em 1999, envolvendo
quatro etapas progressivas de apreensão concreta de objetos e fenômenos culturais:

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1. observação;

2. registro;

3. exploração;

4. apropriação.

Projeto Dom Ratão, Museu Imperial, Petrópolis/RJ

Fonte: Site do Museu Imperial

As autoras reivindicam a natureza processual das ações educativas, não se limitando


a atividades pontuais, isoladas e descontínuas. De acordo com elas, a Educação
Patrimonial consiste em um “processo permanente e sistemático”, centrado no
“Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento
individual e coletivo”.

Desde sua concepção inicial, a metodologia da Educação


Patrimonial passou por transformações. De acordo com Sônia
Rampim Florêncio, educadora do IPHAN, em artigo de 2015, a
Educação Patrimonial, depois de três décadas de existência no
Brasil, deixou de focar em acervos e construções isoladas para
compreender os espaços territoriais como um documento vivo e
deve ser entendida como eficaz em articular saberes diferenciados
e diversificados. Para essa educadora, é fundamental também
reconhecer a Educação Patrimonial como ação política, uma vez
que tanto a memória como o esquecimento são produtos sociais
e nem sempre as pessoas se identificam ou se veem no conjunto
do que é chamado de patrimônio cultural nacional.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 31


Nesse sentido, de acordo com Sônia, a educação patrimonial
tem hoje um papel decisivo para promover a valorização e
preservação do patrimônio cultural, sendo essencialmente
voltada para a possibilidade de construções de relações efetivas
com as comunidades, que são as verdadeiras detentoras do
patrimônio cultural.

“Educação patrimonial: algumas diretrizes conceituais”, de


Sônia Florêncio, é o texto no qual essas informações podem ser
localizadas. Ele está na publicação organizada por Adson Rodrigo
Pinheiro: Cadernos do patrimônio cultural: educação patrimonial.

Para melhor compreensão do debate atual sobre a Educação


Patrimonial, veja a seção sobre o tema, disponível no site do IPHAN,
no endereço: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/343.

Vídeo 2 – Educação museal x educação patrimonial

A partir da popularização do termo e da metodologia da Educação Patrimonial,


críticas, apropriações e derivações foram surgindo na prática e na pesquisa sobre
Educação Museal no Brasil.

Denise Grinspum, que foi educadora e diretora do Museu Lasar Segall, em São Paulo,
forjou em sua tese de doutorado o termo Educação para o patrimônio, buscando
dar conta de especificidades da educação em museus de artes, que considerou não
serem contempladas pela metodologia proposta por Horta.

No final do século XX, as ações educativas passaram por grandes transformações.


Havia mais museus, de tipologias mais diversas. A pedagogia escolar deixava de
ser uma referência exclusiva e finalmente se começou a concretizar as ideias das
décadas de 1950 e 1970, com relação à inserção de novos públicos, à especialização
da ação educativa museal e à democratização do museu por meio da educação.
Essas transformações tomaram corpo e iniciaram um processo de consolidação
quando políticas públicas de museus foram desenvolvidas de forma continuada.

O momento vivido pela educação em museus no Brasil nas décadas de 1990 e de


2000 é bastante paradoxal. Ao mesmo tempo que diversos profissionais da área se
atualizavam profissionalmente, concluíam estudos de pós-graduação e participavam
de conferências nacionais e internacionais, como as do CECA/ICOM, os quadros de

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 32


profissionais nos serviços educativos de instituições públicas tornavam-se escassos
por motivos como aposentadoria e não renovação dos quadros por meio da
realização de concursos públicos, que só voltariam a acontecer a partir de 2005.

Em nosso país, a primeira aparição da terminologia deu-se no texto “Museus de


Ciência: assim é, se lhe parece”, do poeta e museólogo Mário de Sousa Chagas, em
2001, no Caderno do Museu da Vida: o formal e o não-formal na dimensão educativa do
museu, e dois anos depois, a partir da implementação da Política Nacional de Museus
(PNM), o termo Educação Museal passa a designar as ações educativas realizadas
por museus.

Vale ressaltar que o termo Educação em Museus também tem sido utilizado para
designar, de maneira geral, processos educativos que ocorrem em museus, tanto
aqueles realizados pelos próprios museus, quanto os processos de ensino, muitas
vezes ligados às escolas. Uma experiência baseada nesse termo pode ser vista
no livro de Paulette MacManus, Educação em Museus, concebido a partir de uma
participação da autora em uma ação oferecida pela Faculdade de Educação da USP.

O século XXI representa para o campo museal no Brasil uma verdadeira


transformação no âmbito das políticas públicas, bem como nos campos conceitual,
teórico e metodológico.

A construção da Política Nacional de Educação Museal (PNEM), caracterizada por


um processo participativo, realizado entre 2010 e 2017, é uma grande conquista do
campo, sobretudo por contribuir para o levantamento, fortalecimento e produção
teórica que, inclusive, aponta para a constituição de um conceito de Educação
Museal, de caráter histórico e nacional.

O processo da PNEM apontou ainda alguns desafios contemporâneos e, nesse


quesito, o destaque está na ausência de formação específica em Educação Museal,
não sendo sequer uma disciplina obrigatória em todos os cursos de Museologia
existentes no país. Esse fato tem reflexos na atuação e nas condições de trabalho.

Para dar conta de debates e reflexões urgentes e para contribuir com a formação e
a luta política dos educadores, surgiu em 2003, no Rio de Janeiro, a primeira Rede de
Educadores em Museus e Centros Culturais do Brasil, que chegou a organizar, em
2007 e 2009, dois Encontros Nacionais. Essa experiência inspirou o surgimento de
outras Redes de Educadores em Museus (REM’s), em diferentes estados brasileiros,
contabilizando, atualmente, dezenas de grupos que vêm atuando com o poder
público, cobrando e colaborando com as demandas do campo. A ampliação das
Redes, dada a sua capilaridade, foi de grande importância para alavancar o processo
de construção da PNEM, desenvolvida sob a liderança do IBRAM.

O cenário que hoje se apresenta nos coloca muitos desafios. É preciso pensar as
particularidades de cada instituição, relativas ao seu tamanho, à sua disponibilidade

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de recursos e de profissionais, à sua estrutura e ao seu acervo. A dimensão
continental do país, e a imensa disparidade da proporção de museus existentes na
região Sudeste em detrimento das demais, é um desafio significativo.

Vídeo 3 – As Redes de Educadores em Museus

Fica a dica!

Para saber como criar uma Rede de Educadores, acesse, no


Caderno da PNEM, o texto “A PNEM e as redes de educadores em
museus”, no endereço:

https://www.museus.gov.br/wp-content/uploads/2018/06/
Caderno-da-PNEM.pdf

ou acesse o Espaço REM, no site da Política Nacional de Educação


Museal: https://www.gov.br/museus/pt-br/assuntos/politicas-
do-setor-museal/politica-nacional-de-educacao-museal-pnem/
espaco-rem-pnem

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 34


Unidade 4 – Educação Museal e políticas públicas
de Museus

Conhecer os marcos da configuração da Educação Museal como


campo político.

Por que estudar políticas públicas para pensar o desenvolvimento


da Educação Museal no Brasil?
Em primeiro lugar, é preciso definir a ideia de política pública com a qual vamos
trabalhar. O que podemos considerar uma política pública? Ela depende da ação de
governos ou há espaço para atuação social?

A participação social, em especial de profissionais dos museus, na elaboração,


implementação e avaliação das políticas públicas de museus pode ser percebida, no
Brasil, pelo desenvolvimento da própria história do campo, em que se relacionam
o poder público, movimentos sociais e culturais, instituições, organizações, público
etc.

Vamos então considerar políticas públicas, no âmbito da Educação Museal,


como toda ação consciente de atores sociais que têm por objetivo desenvolver
esse campo, entendendo a Educação Museal em seu desenvolvimento histórico,
independentemente dos termos e das expressões que designavam no passado as
ações educativas de museus.

Podemos afirmar que a trajetória da Educação Museal em nosso país deu-se em


três aspectos fundamentais, que se complementam ao longo do tempo: o aspecto
prático, o teórico-conceitual e o político.

Não são poucos os casos em que um aspecto alimenta o outro. O exemplo da Política
Nacional de Educação Museal é uma demonstração de como esse entrecruzamento
funciona: foi um processo participativo em que os educadores, baseados em suas
práticas, construíram as diretrizes e conceituaram Educação Museal.

Ao definirmos Educação Museal como um processo de múltiplas dimensões de


ordem teórica, prática e de planejamento, em permanente diálogo com o museu
e a sociedade, estamos reafirmando que esta é uma parte do funcionamento da
educação geral dos indivíduos na sociedade. O foco passa, então, a ser a interação dos
sujeitos não apenas com os bens musealizados, mas também com os profissionais
dos museus, seu território e a experiência da visita. A ideia posta em curso, a partir
desses elementos, é contribuir para a formação crítica desses sujeitos, estimulando

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 35


a apropriação e criação da memória, do patrimônio musealizado, bem como sua
atuação consciente na sociedade, visando transformá-la.

Mas a PNEM não foi a primeira política pública desenvolvida na história da Educação
Museal no Brasil. As políticas públicas de museus, no Brasil, são um objeto de
pesquisa que ainda precisa ser amplamente desenvolvido. O próprio campo de
pesquisa em políticas públicas de cultura é tido como recente, contando com seus
primeiros trabalhos realizados entre as décadas de 1970 e 1980.

No caso das políticas públicas específicas de museus, podemos constatar que elas
têm se desenvolvido durante todo o século XX, desde antes do seu principal marco
fundador, que foi a criação, em 1937, do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, órgão público então responsável pelos museus públicos, e da legislação e
política patrimonial com ele instituída.

No âmbito dos museus, vemos também tentativas de consolidação e de uma


organização nacional, como no caso da proposição do Programa Nacional de
Museus, na época elaborado pela Fundação Pró-Memória, entre 1980 e 1985. Mas
foi a partir do século XXI que pudemos acompanhar um maior alcance e intensidade
de elaboração, implementação e consolidação das políticas públicas de museus, já
a partir da sua primeira década.

Alguns obstáculos foram enfrentados nesse longo período. Destacamos as mudanças


estruturais pelas quais passaram as instituições e os órgãos administrativos
responsáveis pela elaboração e implementação das políticas públicas da área
museal nos séculos XX e XXI.

Como podemos ver no quadro a seguir, em menos de um século foram mais de


uma dezena de mudanças que atingiram diretamente a forma de organização e
a continuidade das políticas públicas de museus no Brasil. Esse quadro mostra os
órgãos públicos e as instituições diretamente responsáveis pela administração de
museus federais e pela elaboração, implementação e avaliação de políticas públicas
de museus no Brasil.

Principais mudanças estruturais determinadas às instituições e aos órgãos


administrativos responsáveis pela elaboração e implementação das políticas
públicas para os museus brasileiros

ANO ÓRGÃO INSTITUIÇÃO

1930 Ministério dos Departamento Nacional de Ensino


Negócios da Educação
e Saúde Pública

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 36


ANO ÓRGÃO INSTITUIÇÃO

1937 Ministério da Serviço do Patrimônio Histórico


Educação e Saúde e Artístico Nacional

1946 Ministério da Departamento do Patrimônio


Educação e Saúde Histórico e Artístico Nacional

1953 Ministério da Departamento do Patrimônio


Educação e Cultura Histórico e Artístico Nacional

1970 Ministério da Instituto do Patrimônio


Educação e Cultura Histórico e Artístico Nacional

1979 Ministério da Fundação Pró-Memória


Educação e Cultura

1985 Ministério da Cultura Instituto do Patrimônio


Histórico e Artístico Nacional

1990 Secretaria da Cultura/ Instituto Brasileiro do


Presidência Patrimônio Cultural

1992 Ministério da Cultura Instituto Brasileiro do


Patrimônio Cultural

1994 Ministério da Cultura Instituto do Patrimônio


Histórico e Artístico Nacional

2004 Ministério da Cultura Criado no Departamento de


Museus (DEMU) no âmbito
do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional

2009 Ministério da Cultura Instituto Brasileiro de Museus

13/05/2016 Secretaria de Instituto Brasileiro de Museus


Cultura/ MEC

23/05/2016 Ministério da Cultura Instituto Brasileiro de Museus

2018 Ministério da Cultura Instituto Brasileiro de Museus (houve


nesse ano uma proposta de extinção
do IBRAM e de criação da Agência
Brasileira de Museus, privada,
pela Medida Provisória nº 850)

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 37


ANO ÓRGÃO INSTITUIÇÃO

2019 Ministério da Instituto Brasileiro de Museus


Cidadania

2019 Ministério do Turismo Instituto Brasileiro de Museus

Fonte: CASTRO, Fernanda. Construindo o campo da Educação Museal: um passeio pelas


políticas públivas de museus no Brasil. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de
Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2018

Curiosidades

Para entender melhor a tabela: ao ser criado o Ministério da


Cultura, este fica com a sigla MinC, e o então Ministério da
Educação mantém a sigla MEC. No período da presidência de
Fernando Collor de Mello (1990-1992), o governo extingue o
Ministério da Cultura e transforma-o em uma Secretaria ligada
à Presidência da República. Em 1992, a Secretaria volta a ser
Ministério da Cultura e a partir daí se mantém com a sigla MinC.

Em 2018, com o governo do presidente Michel Temer, há uma


tentativa de extinção do MinC, que é muito criticada no meio
cultural, promovendo uma desistência do governo. Nesse mesmo
período foi publicada a Medida Provisória nº 850, que autorizava
a extinção do Instituto Brasileiro de Museus, uma autarquia
pública federal, para ser substituído por uma agência privada. A
MP foi extinta sem ser concretizada em fevereiro de 2019.

Com a entrada do presidente Jair Bolsonaro, em 2019, o MinC foi


extinto e transformado em Secretaria Especial da Cultura, ligada
ao Ministério da Cidadania. No final do mesmo ano, houve uma
transferência parcial da Secult para o Ministério do Turismo e,
em 2020, essa transferência concretizou-se integralmente.

Apesar da instabilidade no âmbito das políticas públicas nacionais, que afeta todos
os setores, o campo museal conseguiu avançar graças aos esforços e à pressão dos
atores da área, à participação da sociedade civil e à parceria com o poder público,
ora um aliado e, em outros momentos, nem tanto. O breve panorama, a seguir, nos

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 38


permite perceber o papel ativo dessas categorias na tessitura da complexa rede que
constroem as políticas públicas, fundamentais à efetiva consolidação do campo.

Um exemplo significativo foi a criação do Curso de Museus, no Museu Histórico


Nacional, em 1932. Ele iniciou a história da profissionalização do campo no país.
Outro curso só foi criado anos mais tarde, em 1970, na Universidade Federal da
Bahia. Hoje existem 13 cursos de Museologia, distribuídos em todas as regiões do
Brasil.

Em 1939, foi realizado o primeiro concurso público para conservadores de museus do


Brasil. Foram os conservadores formados no Curso de Museus do Museu Histórico
Nacional que primeiro atuaram como educadores museais a partir da década de
1940.

Candidatos e banca examinadora do primeiro concurso para conservador de


museus, Rio de Janeiro/RJ (1939-1940)

Fonte: Arquivo NUMMUS – Escola de Museologia/UNIRIO.

Como fruto das políticas públicas nacionais para o desenvolvimento da função


educativa dos museus, em 1968 foi criado o Grupo de Trabalho Ação Educativa
dos Museus, pela Divisão de Planejamento da Secretaria Geral do Ministério da
Educação e Cultura, que elaborou relatório sobre a situação do trabalho educativo
nos museus brasileiros.

Em 1973, no âmbito do Plano Nacional de Educação, Cultura e Desporto, do


Ministério da Educação e Cultura, foi criado o Programa de Ação Cultural (PAC), que
previa ações de parceria entre escolas e museus. Dois anos mais tarde, aconteceu
o 1º Encontro de Dirigentes de Museus, realizado pelo Instituto Joaquim Nabuco

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 39


de Pesquisas Sociais (IJNPS), em Recife, em parceria com o Museu Imperial e com
patrocínio do PAC do MEC, e a partir do qual originou o livro Subsídios para a
implantação de uma política museológica brasileira, publicado em 1976. O documento
apresentou recomendações técnicas e administrativas para as diversas áreas dos
museus, inclusive a educação, o que envolvia também propostas de formação
dos profissionais da área. Nesse documento, foi apontada, como nos cita Chagas,
na Revista Museália, de 1996, “a necessidade de chamar a atenção, da parte dos
responsáveis por atividades educacionais nos museus, para o fato de que a educação
é um processo contínuo e ininterrupto que, além de instrumentar o indivíduo para
uma função na sociedade, constitui também processo de socialização (que não é
aceitação de valores estáticos e definitivos, mas desenvolvimento e recriação de um
patrimônio de valores recebidos)”. Além disso, destacou-se que “entre os objetivos
fundamentais dos museus a educação precede a todos os demais”.

Livro: Subsídios para implantação de uma política museológica brasileira

Fonte: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais,1976

As décadas de 1970 e de 1980 foram um momento renovador na área do patrimônio


e, consequentemente, na área dos museus. Aloísio Magalhães, que desde 1975 dirigia
o Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC), assumiu o Instituto do Patrimônio
em 1979 e, com ele, a noção de patrimônio histórico foi ampliada pela ideia de “bem
cultural”. Segundo Campello, em texto escrito para o livro O patrimônio em processo,
de Cecília Fonseca, introduziram-se conceitos novos, justapondo-se, à visão clássica
da história e da arte, a noção mais abrangente de memória social, e buscou-se a
participação da comunidade no processo de identificação e proteção do patrimônio
cultural.

Entre 1980 e 1985, foi desenvolvida a primeira proposta mais organizada de


política pública específica para museus. Aloísio criou a Fundação Nacional Pró-
Memória (FNPM), que abrigou, durante aproximadamente uma década, um

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 40


conjunto expressivo de museus não atendidos pela política cultural da Secretaria
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Foi no âmbito da FNPM que,
em 1983, instalou-se o Programa Nacional de Museus, que desenvolveu projetos
especiais visando à revitalização dos museus brasileiros. O programa contribuiu para
a criação, em 1986, do Sistema Nacional de Museus e transformou-se, no mesmo
ano, na Coordenadoria de Acervos Museológicos do então recém-criado Ministério
da Cultura. Nesse contexto, ocorreu, entre 1980 e 1985, o Projeto Interação, que
realizou ações educativas na parceria entre museus e escolas, e o Programa de Ação
Cultural, que propôs ferramentas e diretrizes para o desenvolvimento de ações
educativas nos museus, com um acentuado caráter escolarizado, o que foi alvo de
críticas e reflexões na área, na passagem da década de 1980 à de 1990.

Cartaz do Seminário em homenagem aos 33 anos da criação do Projeto


Interação, realizado pelo IPHAN, em Brasília/DF, 2014

Fonte: IPHAN

Em 1992, em meio à realização, no Rio de Janeiro, da Conferência das Nações Unidas


sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Rio Eco 92,
ocorreu o I Encontro Internacional de Ecomuseus, em que se discutiu o próprio
conceito de Ecomuseu, como um derivado dos debates da Sociomuseologia e da
Nova Museologia. Nesse evento, o poeta e museólogo Mário Chagas destacou a
forte relação entre a proposta de museu ao ar livre, museu de comunidade e sua
relação com a educação, que tem a ver com a própria função social e educativa do
museu.

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Em 1995 foi criado o Programa Monumenta, o qual, com duração de 17 anos, foi
talvez a política mais duradoura do campo. O Programa foi uma parceria entre o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e o Banco Interamericano de
Desenvolvimento, que visava à preservação do patrimônio cultural do país com
ênfase nos sítios e conjuntos urbanos. O Monumenta promoveu a restauração e
valorização de importantes conjuntos arquitetônicos e arqueológicos, além de ter
realizado, ao longo dos anos, ações e publicações sobre educação patrimonial.

No cenário das políticas públicas de museus, temos pela primeira vez uma política
elaborada de forma participativa, debatida, sistematizada e continuada, que
ultrapassou os limites de uma gestão presidencial com a criação da Política Nacional
de Museus, que data de 2003. Entre os princípios que orientaram a elaboração
participativa da PNM, publicada em 2007, destaca-se o “desenvolvimento de práticas
e políticas educacionais orientadas para o respeito à diferença e à diversidade
cultural do povo brasileiro”.

A PNM foi desenvolvida a partir de sete eixos temáticos, e é no terceiro que a


educação aparece ao tratar-se dos cursos de formação profissional, da criação de
estágios de formação e “da inclusão de conteúdos e disciplinas referentes ao uso
educacional dos museus e dos patrimônios culturais nos currículos dos ensinos
fundamental e médio”. As orientações e os eixos da PNM geram o conjunto mais
sólido e continuado de políticas públicas de museus no Brasil.

Ainda em 2003, foi criado o Departamento de Museus no IPHAN, responsável pela


aplicação e desenvolvimento da Política Nacional de Museus. Em seguida surgiram
novos cursos de Museologia pelo país e, em 2009, foi criado o Instituto Brasileiro
de Museus (IBRAM), autarquia federal responsável pela implementação da PNM. Na
estrutura do IBRAM, a Educação Museal tem espaço garantido no Departamento de
Processos Museais, na Coordenação de Museologia Social e Educação.

A partir da PNM, muitos outros instrumentos foram desenvolvidos, como a criação


de leis, planos, destacando-se o Estatuto de Museus, sua legislação e normas
complementares. No ano seguinte, o Instituto organizou a elaboração do Plano
Nacional Setorial de Museus. Com vigência entre 2010 e 2020, nesse documento
constam diretrizes, estratégias e ações que apresentam reflexos no campo da
Educação Museal, de forma transversal, sem nenhum eixo específico para o tema.
A educadora museal Fernanda Castro, ao analisar o PNSM, identifica alguns temas
relacionados à Educação Museal, apresentados no quadro a seguir.

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Aspectos relacionados à Educação Museal contemplados no PNSM

PLANO NACIONAL
DIRETRIZES ESTRATÉGIAS AÇÕES
SETORIAL DE MUSEUS

Capacitação: professores
0 3 1
e agentes culturais

Criação de Setores Educativos 2 1 0

Divulgação e Acesso 1 3 8

Economia da Cultura 0 0 2

Editais 1 0 3

Fomento a Políticas Públicas 1 0 0

Formação de Educadores 1 4 8

Museu com Espaço Educativo 2 3 0

Papel Social do Museu 3 5 5

Parcerias: Escola e
0 4 4
Educação Básica

Parcerias: Esferas
0 3 3
Pública – Privada

Pesquisa 1 0 2

Valorização da Educação Museal 1 3 1

Total 13 29 37

Fonte: CASTRO, Fernanda. O que museu tem a ver com educação? Educação, cultura e
formação integral: possibilidades e desafios de políticas públicas de Educação Museal na
atualidade. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em
Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. p. 73

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A partir da PNM foram também criados editais e prêmios visando ao fomento dos
museus brasileiros, com destaque para o edital Darcy Ribeiro, voltado para projetos
em Educação Museal que, por meio de práticas diversas dos museus brasileiros,
convidem seus públicos e não públicos à apropriação e valorização do patrimônio
cultural, a fim de fortalecer a função educativa de museus e instituições culturais,
em consonância com os conceitos e princípios expressos na Política Nacional de
Educação Museal – PNEM (Portaria IBRAM nº 422, de 30 de novembro de 2017,
revisada e revogada pela Portaria IBRAM nº 605, de 10 de agosto de 2021).

Você sabia que os projetos premiados pelos editais Darcy Ribeiro


estão registrados em publicações organizadas pela Coordenação
de Museologia Social e Educação do IBRAM?

Veja a série de publicações Educação Museal: experiências e


narrativas – Prêmios em: https://www.gov.br/museus/pt-br/
centrais-de-conteudo/publicacoes/livros/educacao-museal-
experiencias-e-narrativas_premio-darcy-ribeiro-2010.pdf/view

Ressalta-se ainda nesse contexto a criação do Programa Pontos de Memória; o


Programa Nacional de Educação Museal, que deu origem à Política Nacional de
Educação Museal; o Programa de Gestão de Risco ao Patrimônio Musealizado, para
a definição de estratégias de ação do IBRAM e orientação do conjunto dos museus
brasileiros no que diz respeito ao planejamento de ações que visam minimizar
perdas diante dos riscos e das ameaças mais comuns ao patrimônio musealizado;
a plataforma Museubr, que reúne informações do Cadastro Nacional de Museus;
e o Programa Saber Museu, que consiste na integração e evolução de diferentes
esforços já empreendidos pelo IBRAM para a capacitação e a qualificação dirigidas
à área museológica.

Merecem destaque a criação do Sistema Brasileiro de Museus, o Cadastro Nacional


de Museus e o Registro Nacional de Museus, importantes ferramentas do registro
e estruturação do campo e das suas políticas públicas, e a criação de suas versões
estaduais e municipais.

A realização dos Fóruns Nacionais de Museus, dos eventos da Semana e da Primavera


de Museus e dos Fóruns Estaduais tem garantido a discussão e troca de experiências
entre educadores e demais profissionais de museus de todo o país.

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Os Fóruns Nacionais de Museus são espaços que garantem as
discussões sobre questões relativas ao campo museológico e as
políticas públicas para a área. O vídeo a seguir aborda a relação
com as políticas para o campo e traz a fala de pessoas notáveis:

Play-circle

Cartaz do 6º Fórum Nacional de Museus – Museus Criativos – realizado em


Belém/PA, 2014

Fonte: IBRAM

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Cartaz da 14ª Semana de Museus – Museus e Paisagens Culturais, 2016

Fonte: IBRAM

Cartaz da 15ª Semana de Museus – Museus e histórias controversas, 2017

Fonte: IBRAM

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Cartaz da 2ª Primavera dos Museus – Museus e o Diálogo Intercultural, 2008

Fonte: IBRAM

Cartaz da 11ª Primavera dos Museus – Museus e suas memórias, 2017

Fonte: IBRAM

Importantes iniciativas na área de produção e análise de informação e de publicações


também ocorrem a partir do desenvolvimento da PNM: o Observatório de Museus e
Centros Culturais, que realizou uma primeira pesquisa de público no Brasil; Museus
em Números; Pesquisa Anual de Museus; e a aplicação do Formulário Anual de
Visitação. A realização de pesquisas, estudos e da produção de dados e informação
na área dos museus e a reflexão sobre a presença e ausências da Educação Museal
nessa produção têm originado importantes debates e ações no campo.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 47


4.1 – A Política Nacional de Educação Museal

O processo de desenvolvimento da Política Nacional de Educação Museal (PNEM),


seu histórico, seus dados e suas possibilidades estão muito bem descritos no
Caderno da PNEM, publicação que traz registros relativos à construção coletiva dessa
política, liderada pelo IBRAM e impulsionada pelas Redes de Educadores em Museus
do Brasil em conjunto com a sociedade civil.

Capa do Caderno da Política Nacional de Educação Museal

Fonte: IBRAM

Resumidamente, podemos dizer que a construção da PNEM deu-se a partir


do lançamento da Carta de Petrópolis, documento elaborado no I Encontro de
Educadores do IBRAM, que ocorreu em 2010. Tomando como referência a Política
Nacional de Museus e o Estatuto de Museus – instituído pela Lei nº 11.904/2009 –,
essa carta apresentou propostas sobre temas importantes, tais como programas
educacionais e plano museológico, missão da área educacional dos museus, bases
conceituais que orientam os museus, entre outros.

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I Encontro de Educadores do IBRAM: participantes nas escadarias do Museu
Imperial, Petrópolis/RJ, 2010.

Fonte: IBRAM

Dois anos depois, durante o 5º Fórum Nacional de Museus, também realizado em


Petrópolis, o IBRAM lançou o Programa Nacional de Educação Museal. Na ocasião,
foi apresentado o Blog PNEM, um fórum virtual composto por Eixos Temáticos –
também denominados Grupos de Trabalho – com o objetivo de reunir reflexões,
discussões e o envio de propostas diretamente do campo. Inicialmente, os debates no
Blog PNEM aconteceram em torno dos seguintes assuntos: perspectivas conceituais,
gestão, profissionais de Educação Museal, formação, capacitação e qualificação,
redes e parcerias, estudos e pesquisas, acessibilidade, sustentabilidade, museus e
comunidade. Em 2019, o Blog PNEM deu lugar ao site da PNEM.

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Lançamento do Blog PNEM durante o 5º FNM, 2012

Fonte: IBRAM

Lançamento do Blog PNEM durante o 5º FNM, 2012

Fonte: IBRAM

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Cartaz do 5º Fórum Nacional de Museus – 40 anos da mesa de Santiago do Chile
– realizado em Petrópolis/RJ, 2012

Fonte: IBRAM

A primeira sistematização de propostas gerou o chamado “Documento Preliminar do


PNEM”. Nesse momento, observou-se que a temática “comunicação” havia aparecido
em vários grupos de trabalho e, assim, criou-se mais um eixo temático para o debate,
sendo definido, ainda, que o Programa teria como objetivo o lançamento de uma
Política Nacional de Educação Museal, a PNEM.

Acessando a página da PNEM no site do Ibram, é possível visualizar


as discussões nos grupos de trabalho que marcaram o processo
participativo de construção da Política Nacional de Educação
Museal.

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Em 2014, no 6º Fórum Nacional de Museus, em Belém (PA), foi realizado o I Encontro
Nacional do Programa Nacional de Educação Museal. Nesse momento, foram
aprovados os princípios da PNEM, expressos no documento final do evento, a Carta
de Belém-PA.

Plenária do I Encontro Nacional da PNEM, 6º FNM, Belém/PA, 2014

Fonte: IBRAM

Já em 2017, quando da realização do 7º Fórum Nacional de Museus, em Porto Alegre


(RS), aconteceu o II Encontro Nacional do Programa Nacional de Educação Museal.
Nesse evento, foram aprovados o texto final da PNEM – contendo 19 diretrizes,
distribuídas em três eixos: Gestão; Profissionais, formação e pesquisa; Museus e
sociedade – e a Carta de Porto Alegre.

Plenária do II Encontro Nacional da PNEM, 7º FNM, Porto Alegre/RS, 2017

Fonte: IBRAM

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Plenária do II Encontro Nacional da PNEM, 7º FNM, Porto Alegre/RS, 2017

Fonte: IBRAM

Grupos de trabalho divididos pelos três eixos da PNEM durante o II Encontro


Nacional do Programa Nacional de Educação Museal, 7º FNM, Porto Alegre/RS,
2017

Fonte: IBRAM

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Participantes do II Encontro Nacional do PNEM, 7º FNM, Porto Alegre/RS, 2017

Fonte: IBRAM

Finalmente, a PNEM foi oficializada por meio da Portaria nº 422, de 30 de novembro


de 2017, que incorporou aos princípios e às diretrizes do Documento Final da
PNEM as demandas da Carta de Porto Alegre, que, assim como as demais cartas
que compõem a documentação relativa à construção da política, foi elaborada e
apresentada pelas REM’s do Brasil.

Em 2021, em atendimento ao Decreto nº 10.139, de 2019, que estabelece a revisão


e consolidação de atos normativos inferiores a decreto, foi realizada a revisão e
revogação da Portaria nº 422, de 30 de novembro de 2017. Houve modificações
de cunho essencialmente formal para adequação às recomendações de redação
estabelecidas pelo Governo Federal. Em termos de conteúdo, foram acrescidos os
artigos 8º e 9º, que tratam da previsão de recursos para a realização de ações de
implementação da Política. O novo texto integra a Portaria nº 605, de 10 de agosto
de 2021, publicada no Diário Oficial da União em 13 de agosto de 2021, disponível
em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-ibram-n-605-de-10-de-agosto-
de-2021-338090192.

Um dos importantes resultados desse processo foi o Caderno da Política Nacional


de Educação Museal, publicado em 2018 para atender a algumas demandas da área,
notadamente: a necessidade de se conhecer a história do campo, de se produzirem
memórias sobre seus processos, de se basear a política em referenciais teóricos,
por um lado, e em boas práticas, por outro, apresentando as possibilidades de sua
aplicabilidade.

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Disponível nas versões impressa e online, o Caderno da PNEM traz uma coletânea
de textos que tem como objetivo colaborar com profissionais e gestores das mais
diversas instituições e realidades, subsidiando sua reflexão, orientando estudos e
inspirando boas práticas.

Veja!

Aqui o processo de elaboração da Política Nacional de Educação


Museal está apresentado de forma sintética

Play-circle
Política Nacional de Educação Museal – PNEM

4.2 – Desafios à implementação da PNEM

A PNEM representa uma grande conquista para os profissionais de Educação Museal


do Brasil, sendo também um referencial importante no cenário internacional.
Porém, mais do que reunir um conjunto de princípios e diretrizes, é necessário que
de fato a política nacional oriente a prática educativa, subsidie oportunidades de
desenvolvimento da área e ofereça condições de identificar e solucionar problemas
e desafios.

A implementação da política hoje se dá de maneira heterogênea, sobretudo levando


em conta o pouco conhecimento que se tem de sua existência nas regiões Centro-
Oeste, Norte e Nordeste. É um reflexo, entre outras coisas, da maior concentração
de instituições museais nas regiões Sul e Sudeste, assim como da maior eficácia
da comunicação do IBRAM nessas mesmas regiões pela concentração de suas
unidades museológicas na região Sudeste, sobretudo em Minas Gerais e no Rio

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 55


de Janeiro, o que se relaciona com o processo histórico de implantação dos seus
museus decorrente, por sua vez, da trajetória das políticas de patrimônio cultural
desenvolvidas no Brasil. Essa concentração também impacta a atuação das Redes
de Educadores em Museus, organizações tão fundamentais para a implementação
da PNEM quanto o foram para a sua elaboração.

Além disso, há os outros aspectos da diversidade do campo museal brasileiro:


os âmbitos público e privado, as dimensões federal, estadual e municipal, as
variadas proporções das instituições museais, que reverberam em sua estrutura e
constituição.

Pensar a implementação da PNEM passa por reconhecer que, fora dos grandes
centros urbanos, muitos dos profissionais que atuam com Educação Museal não têm
disponíveis recursos, estrutura básica, equipes, formação específica, apoio do poder
público, de gestores ou de outros setores dos museus para realizar suas atividades.
Mesmo nas grandes instituições persistem conflitos e necessidades, estruturais ou
relacionais, que fazem das diretrizes e dos princípios da PNEM um esteio precioso.

Essa diversidade é uma força, mas também estabelece desafios, já que a


implementação de uma política nacional pressupõe a participação de agentes em
âmbitos também diversos: as esferas federal, estadual e municipal de governo, os
gestores de instituições museológicas, sejam públicas ou privadas, os educadores
e demais profissionais que atuam para o desenvolvimento da função educativa dos
museus brasileiros, as redes de educadores em museus, os pesquisadores do campo,
entre outros. Os princípios e as diretrizes da PNEM são direcionados, em termos
práticos, a todos os agentes que participam do universo dos museus, de acordo com
suas especificidades. As orientações que a política promove competem a diferentes
atores no que diz respeito à sua responsabilidade específica de implementação.
Ainda mais numerosas do que os atores da implementação da PNEM são as suas
possibilidades de aplicabilidade.

É preciso conhecer essa realidade diversa amplamente, para que a criação de


programas, projetos e ações responda às necessidades que pautaram a construção
da PNEM. Pesquisas como as desenvolvidas pela COMUSE/DPMUS/IBRAM (“Pesquisa
Nacional sobre Práticas em Educação Museal nos Museus IBRAM”) e pelo Programa
de Pesquisa e Criação em Educação Museal (PPCEM), do Núcleo de Educação do
Museu Histórico Nacional – MHN/IBRAM (“Estrutura e Organização da Educação
Museal”), investigam a Educação Museal no Brasil e são instrumentos preciosos
para o desenho de ciclos de implementação.

A portaria da PNEM também estabelece compromissos do Instituto Brasileiro de


Museus, que, embora não dependam da sua existência, podem ter sua realização
qualificada por ela.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 56


Em 2022, o IBRAM promoveu a “Pesquisa Nacional de Práticas Educativas dos
Museus Brasileiros: um panorama a partir da Política Nacional de Educação Museal
– PEMBrasil”, executada pelo Observatório da Economia Criativa da Bahia (OBEC-
BA) através de um convênio com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
e a Universidade Federal da Bahia. A PEMBrasil possibilitará execução de análises
relacionando as informações obtidas com os princípios e as diretrizes estabelecidas
pela Política Nacional de Educação Museal, além de prover o setor museal brasileiro
com informações sobre métodos e práticas para a realização de ações educativas
no âmbito das instituições museológicas.

Vídeo 4 – Levantamento de dados em Educação Museal

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 57


Módulo

2 Experiências e práticas na
Educação Museal
Unidade 1 – Modalidades educativas

Conhecer diferentes exemplos de práticas de Educação Museal.

Faremos aqui uma reflexão sobre o desenvolvimento da prática educativa museal,


e serão apresentadas ferramentas para sua consolidação e para a construção
de sua memória. Serão tratadas importantes tarefas do trabalho educativo:
planejamento, sistematização, registro e avaliação, voltadas para uma constante
melhoria da qualidade das ações educativas e para a produção de memórias e
legados institucionais. Vamos partir para a exploração de alguns exemplos práticos,
assim como de algumas referências teóricas e metodológicas que podem embasar
o trabalho educativo em museus.

Ao pensar no âmbito da prática, devemos levar em consideração toda a diversidade


de museus e recursos que existem no país. Há museus de grande e pequeno porte,
com equipes profissionais e/ou voluntárias, com fartos ou exíguos recursos. Alguns
possuem planos museológicos estruturados e programas. Outros ainda estão com
esses documentos em fase de elaboração, ou precisam iniciar o processo de pensar
seus processos museológicos de forma sistemática.

Todos esses fatores, além de muitos outros, como território em que se inserem,
públicos frequentadores, perfis de gestão ou grau de participação social, influenciam
museus e processos museais no que diz respeito à sua prática educativa.

Algumas das experiências da área estão registradas na forma de pesquisa, registro


de ações premiadas e em bancos de projetos. O âmbito da prática educativa museal
é um dos que mais têm produzido trabalhos de investigação, tanto no universo
acadêmico quanto no institucional. Uma rápida pesquisa em ferramentas de busca
ou em bancos de teses online nos mostra que a proporção de trabalhos que narram
ou refletem sobre as práticas educativas museais ocupa espaço de destaque.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 58


Fica a dica!

Para conhecer esses trabalhos, você pode utilizar plataformas de


busca como Google ou Google Acadêmico, ou fazer pesquisas no
Banco de Teses da CAPES.

Nos campos de busca, insira termos (entre aspas ou não) como


“museu” + “educação”, ou “museu” + “ação educativa”, ou
“educação museal”.

Quantos resultados você encontra para pesquisas que tratam


sobre ações, projetos e programas educativos? E sobre outros
temas?

Procure também publicações de museus e outros órgãos e


instituições. O Instituto Brasileiro de Museus, por exemplo,
publicou experiências ganhadoras do Prêmio Darcy Ribeiro, que
têm alguns exemplos de práticas educativas.

Capa do Caderno Educação Museal: experiências e narrativas – Prêmio Darcy


Ribeiro 2008.

Capa do Caderno Educação Museal: experiências e narrativas – Prêmio Darcy


Ribeiro 2009.

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Capa do Caderno Educação Museal: experiências e narrativas – Prêmio Darcy
Ribeiro 2010.

Outro exemplo:

• O Programa Educativo “Estou aqui, sempre estive”, do


Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São
Paulo – MAE/USP, recebeu o título internacional de Boas
Práticas do International Committee for Education and
Cultural Action – CECA/ICOM, em 2021. Disponível em:

Prêmio ICOM – CECA Boas Práticas.

• Mesa Redonda “Estou aqui, sempre estive” referente


ao Programa Educativo da Exposição “Resistência Já!
Fortalecimento e união das culturas indígenas. Kaingang,
Guarani Nhandewa e Terena”. Disponível em:

Mesa Redonda “Estou aqui, sempre estive” sobre o Programa


Educativo da Exposição “Resistência Já!

• Sobre as parcerias estabelecidas entre museus e escolas,


trazemos um exemplo de boa prática, realizada no Instituto
Tomie Ohtake. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=ogLCbHnz0CA.

Existem investigações sobre parcerias realizadas com escolas, sobre avaliação de


ações educativas museais, sobre trabalhos feitos com comunidades, com públicos
de pessoas com deficiência, sobre ações itinerantes, sobre curadorias educativas,
enfim, uma infinidade de temas.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 60


Alguns trabalhos, no entanto, têm maior destaque na área, por terem sido os
primeiros a investir nessa temática, por serem citados com frequência, tornando-se
referências importantes, ou por apresentarem de forma inédita alguns temas ou
abordagens. Veja alguns a seguir.

Deixamos aqui alguns exemplos de trabalhos no perfil mencionado


acima:

• Museu-educação: se faz caminho ao andar... Vera Maria


Abreu de Alencar. Dissertação (Mestrado em Educação)
– Departamento de Educação, Pontifícia Universidade
Católica, Rio de Janeiro, 1987.

• Museu: uma perspectiva de educação em geologia. Maria


Margaret Lopes, 1988.

• Processo Museológico e Educação: construindo um museu


didático-comunitário. Maria Célia Teixeira Moura Santos,
1996.

• Lição das coisas (ou canteiro de obras) através de uma


metodologia baseada na educação patrimonial. Magaly
de Oliveira Cabral Santos. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Departamento de Educação, Pontifícia
Universidade Católica, Rio de Janeiro, 1997.

• Padrões de interação e aprendizagem em museus de ciências.


Douglas Falcão, 1999.

• Educação para o Patrimônio: Museu de Arte e Escola. Denise


Grinspum, 2000.

• Museus e Educação em Museus – História, Metodologias e


Projetos, com análises de caso: Museus de Arte Contemporânea
de São Paulo, Niterói e Rio Grande do Sul. Alice Bemvenuti,
2004.

• Ciência, cultura, museus, jovens e escolas: quais as relações?.


Sibele Cazelli, 2005.

• A relação museu/escola: teoria e prática educacionais nas


visitas escolares ao Museu de Zoologia da USP. Luciana
Conrado Martins, 2006.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 61


• O papel do setor educativo nos museus: análise da literatura
(1987 a 2006) e a experiência do Museu da Vida. ​Maria Iloni
Seibel, 2009.

• Educação Museal. Entre dimensões e funções educativas:


análise da 5ª Seção de Assistência ao Ensino de História
Natural do Museu Nacional. Marcelle Regina Nogueira
Pereira, 2010.

• A constituição da educação em museus: o funcionamento


do dispositivo pedagógico museal por meio de um estudo
comparativo entre museus de artes plásticas, ciências
humanas e ciência e tecnologia. Luciana Conrado Martins,
2011.

• Por uma didática museal: propondo bases sociológicas para


análise da educação em museu. Martha Marandino, 2011.

• Casa de ciência, casa de educação: Ações educativas do Museu


Nacional (1818-1935). Paulo Sily, 2012.

• “O que o museu tem a ver com educação?” Educação, cultura


e formação integral: possibilidades e desafios de políticas
públicas de Educação Museal na atualidade. Fernanda
Santana Rabello de Castro, 2013.

• Educar no museu: o Museu Histórico Nacional e a educação no


campo dos museus (1932-1958). Ana Carolina Gelimini Faria,
2017.

1.1 – Exemplos da prática educativa museal

São diversas as práticas educativas que podem ser desenvolvidas num museu.
Algumas são, na verdade, formas de mediação, que possibilitam a interpretação dos
bens culturais. A proposta aqui é somente destacar alguns exemplos, lembrando
sempre que a diversidade e as possibilidades que existem nos museus são muito
amplas e não devem ser entendidas como limitadas aos exemplos que seguem.

a) Visitas “orientadas”/“guiadas”/“monitoradas”
/“dialógicas”/“mediadas”
O educador museal e pesquisador canadense Michel Allard, em um livro de 1998,
intitulado Educar no museu: um modelo teórico de pedagogia museal, diz que a visita

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 62


orientada é a “natureza de uma atividade pedagógica museal”. De fato, essa é a
primeira e mais comum atividade pedagógica realizada pelos museus, mas, nem
por isso, menos importante. Muitas vezes, por meio dessa prática educativa, se dará
o primeiro contato do visitante com o museu. Se bem-feita, convidará o visitante a
retornar mais vezes.

Mediação da exposição “Pandorgueando”, realizada no Museu Antropológico


Diretor Pestana, Ijuí/RS, 2019

Fonte: MADP
Falk e Dierking, na pesquisa realizada em 1995, sobre lembranças da experiência
museal, reportaram que esse estudo “reforçou que as visitas de escolas elementares
iniciais foram experiências importantes nas vidas das crianças”. Eles notaram
que determinados assuntos, quando perguntados para visitantes, prontamente
fizeram-nos lembrar suas visitas escolares e que essas memórias permaneceram
persistentes.

Essas visitas são chamadas “orientadas”, “guiadas”, “monitoradas” ou mesmo


“mediadas”, por vezes de forma indistinta. Porém diferem em termos de objetivos,
metodologias e resultados.

Geralmente podemos chamar de visitas orientadas aquelas que são planejadas de


acordo com orientações definidas entre educadores museais e público demandante,
ou que cumprem uma agenda pedagógica específica.

Visitas guiadas geralmente não são dialógicas e não necessariamente têm objetivos
pedagógicos, sendo oferecidas por diversos tipos de profissionais, como guias
turísticos, ou mesmo por voluntários e agentes comunitários.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 63


As visitas monitoradas geralmente são associadas à figura de “monitores”.
Confundidos com educadores (profissionais com formação e objetivos pedagógicos),
os monitores aparecem nos museus como guardas de sala ou orientadores de
público, cumprindo um papel institucional mais organizativo do que educativo.

Por fim, podemos considerar que as visitas mediadas se propõem a ser dialógicas e
com fim pedagógico específico, variando de temática e conteúdo, podendo cumprir
um currículo museal ou objetivos pedagógicos predefinidos, mas que respeitam a
diversidade, os conhecimentos e objetivos do público envolvido.

Mas o que importa para o trabalho educativo museal é a forma com que seja
conduzida uma visita: que seja compreendida como uma forma de comunicação,
que permita uma interpretação através de experiência compartilhada, modificação
ou desenvolvimento da mensagem à luz das respostas no momento, sem que o
profissional do museu seja o dono da verdade absoluta, mas alguém que ouve e
dá voz ao visitante. Ou seja, um profissional comprometido com uma educação
dialógica. Daí podermos falar em “visita dialógica”.

Escolares em visita ao Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro/RJ

Créditos: Divulgação/MHN

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 64


Visita mediada à exposição de longa duração do Museu do Diamante/IBRAM,
Diamantina/MG, 2018

Foto: Rafael Hordones. Fonte: Site do MD/IBRAM

Entre as visitas mediadas, existem várias opções oferecidas


pelos museus. Visitas teatralizadas e visitas técnicas são alguns
exemplos.

Outra modalidade de visita mediada é a musicada, que pode ser


acompanhada no episódio da série Conhecendo Museus que fala
sobre o Museu Casa do Pontal.

Tem até museu que convida os visitantes para passarem uma


noite no museu, como já fizeram o Museu Imperial e o Museu
Nacional.

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Aqui temos também um exemplo de visita mediada realizada no
museu da UFRJ. Muito bacana! Vídeo disponível em:

Play-circle

b) Encontros com professores

Sendo a realização de visitas de grupos escolares ao museu uma das práticas mais
comuns, consequentemente, o trabalho dos professores, realizando encontros, é
muito importante e fundamental. Pesquisas acadêmicas, como as das educadoras
Sibele Cazeli e Denise Grinspum, indicam que a maioria das visitas de um estudante
de escola ao museu se dá através de ações da escola.

Entretanto, deve-se ressaltar que o que se propõe não é um encontro com professores
para ensinar sobre o museu. É muito mais do que isso. É a oportunidade que se tem
de trocar, com os professores, reflexões sobre educação, sobre a instituição museu e,
é claro, sobre o museu onde acontece o encontro. Na verdade, é uma oportunidade
para que o professor amplie sua visão sobre as possibilidades de um museu.

Mas é também a oportunidade de ouvir dos professores o que pensam sobre as


ações do museu, o que pode ser melhorado da parte dos educadores museais.
Há museus que só recebem em visitas aqueles professores que participam dos
encontros oferecidos. Há, ainda, os que oferecem opções de percursos a serem
desenvolvidos, cabendo a escolha ao professor. Essa é uma proposta muito
utilizada principalmente em museus grandes, no entanto, pode ser empreendida
por qualquer museu, pois o mais importante é trabalhar um conjunto de acervo,
ou uma exposição específica. Uma visita bem realizada desperta o desejo da volta.
Acredita-se que o museu não deva estar preocupado com a massificação de visitas,
mas sim com a qualidade delas.

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Atualmente, muitos museus preparam e oferecem materiais específicos para os
professores, para que possam conhecê-los melhor e, assim, colaborar na preparação
que farão para suas visitas.

Encontro com professores no Museu Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro/RJ,


2005

Acervo: Fundação Casa de Rui Barbosa

Ação educativa com professores na exposição temporária “Rosana Paulino: a


costura da memória”, Pinacoteca de São Paulo, São Paulo/SP, 2018/2019

Créditos: Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca

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Sugestão de vídeo: A Costura da Memória – Rosana Paulino.

Material para professores do Museu de Arqueologia e Etnologia/USP, São


Paulo/SP

Foto: Magaly Cabral

Material para professores do Museu Lasar Segall/IBRAM, São Paulo/SP

Material de apoio ao professor da Pinacoteca de São Paulo: Acervo – Alex


Flemming e Jaider Esbell, São Paulo/SP

Créditos: Levi Fanan

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Fica a dica!

Projetos específicos

Dos encontros com professores, pode resultar essa prática:


o desenvolvimento de projetos específicos que atendam aos
alunos a partir dos interesses do professor e do museu. Pode
haver também projetos voltados a outros grupos, como os idosos
ou grupos excluídos socioculturalmente, por exemplo. Esse tipo
de ação pode gerar excelentes resultados, uma vez que o grupo
retornará muitas vezes ao museu e será possível fazer uma
avaliação mais concreta dos objetivos propostos, pois esse tipo
de prática educativa permite a realização de avaliações mais
substantivas sobre o comportamento dos visitantes.

Sobre projetos que realizam encontros com professores,


indicamos também as experiências a seguir:

• Convite a experimentar: formação online com professores


– Museu de Arte do Rio

• Encontro de Professores – Museu da Vida

• Encontro com Professores – palestra do Museu Catavento

• Projeto Viajando na História – Museu Histórico Nacional

• Visita preparatória ao Museu do Folclore Edison Carneiro

c) Programas para famílias


Os museus brasileiros, com raras exceções, ainda não perceberam a importância
de oferecer programas para esse segmento de público espontâneo que os visita.
Algumas experiências com visitas de escolares demonstram que muitos deles
comentam que voltarão com seus pais (e muitos o fazem).

Trata-se de uma prática educativa que oferece à família a possibilidade de desfrutar


de uma experiência cultural em seus momentos de lazer. Alguns estudos de público
apontam para o interesse desse segmento em utilizar os museus como espaço de
socialização, diversão e aprendizagem.

Uma programação voltada para crianças, nos finais de semana, deve também levar
em consideração os pais e responsáveis que as levam ao museu. Por isso, a opção

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 69


de serem ações voltadas para famílias ou grupos de diferentes faixas etárias pode
ser uma solução para não deixar nenhum visitante de fora.

Um domingo na Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro/RJ

Créditos: Acervo FCRB

Quer conhecer algumas experiências de projetos e materiais


utilizados com famílias em museus? Veja os exemplos a seguir:

Projeto Museu em Família, da Fundação Ema Klabin

Yoga em família, no Museu do Amanhã

Guiãos de visita autônoma, do Museu Nacional de Soares dos


Reis, em Portugal, e o Guia da Família, no Museu Nacional de
Belas Artes.

d) Oficinas de férias

Diversos museus desenvolvem essa prática com muito sucesso. Novamente, oferece
a oportunidade de o grupo participante estabelecer um contato mais permanente
com o museu. Entretanto, o importante é que, além de jogos, brincadeiras, atividades
artísticas, contação de histórias etc., a temática do museu esteja presente durante
a oficina de férias: um objeto, uma exposição temporária, um recorte da exposição
de longa duração.

Esse é o cerne da Educação Museal: a conexão com a instituição em que se


desenvolve, pois, caso contrário, ofereceremos ao público uma atividade recreativa
que poderia acontecer em qualquer outro espaço. A Educação Museal atua para
estreitar os laços do museu com os seus públicos, explorando as potencialidades dos

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 70


acervos por meio de diferentes linguagens e valorizando as experiências e a vivência
dos visitantes, tendo ainda potencial para permitir a extrapolação da dimensão
conceitual, que se faz presente algumas vezes no ambiente escolar. A construção de
conhecimento atravessa e reivindica as dimensões sensorial, emocional e cognitiva
e inclui o deleite como dimensão do processo educativo. Um exemplo da relação
entre museu e seus públicos pode ser lido na publicação do Comitê para Educação
e Ação Cultural do Conselho Internacional de Museus: a revista ICOM Education,
nº 26, traz o artigo de Magaly Cabral intitulado “Does a summer camp favour the
relationship in the museum?”.

Colônia de férias no Museu da República/IBRAM, Rio de Janeiro/RJ, 2016

Fonte: Museu da República/Ibram

“Férias na Casa do Poeta”, atividades voltadas para crianças de 2 a 4 anos no


Museu Casa do Poeta Lindolf Bell, Timbó/SC, 2012

Fonte: Acervo MCPLB

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 71


Fica a dica!

Quer conhecer alguns exemplos de projetos de férias em museus?


Veja as dicas:

• Museu da República

• Museu de Arte da UFC

• Museu Goeldi

• Projeto 150 anos do Timbó – Museu da Música, Museu do


Imigrante e Casa do Poeta.

e) Folhas de atividades e materiais didáticos


Há educadores que não gostam das folhas de atividades, argumentando que elas
resultam em experiências limitadas que focam em apenas preencher a folha em
vez de alguma atividade mais proveitosa. Concordamos plenamente com esse
argumento se a folha de atividades for preparada com esse sentido (acaba por
reproduzir a atividade “copiar etiquetas”, muitas vezes presenciada em museus).

As folhas de atividades podem ser um bom material para estimular o interesse


e permitir descobertas no museu, desde que apropriadas à faixa etária a que se
destinam e, acima de tudo, se não forem utilizadas para testar conhecimento de
quem as utiliza.

Elas também podem ser pensadas como um elemento para a preparação da visita
ou para o seu desdobramento, apresentando o museu ou propondo ações de
extensão.

Outros materiais também cumprem um papel didático e formativo, podendo ser


voltados para diferentes públicos, como professores, guias de turismo, famílias etc.,
e assumindo diversos formatos, como revistas, catálogos, roteiros, entre outros.
Alguns museus disponibilizam esses materiais online, em uma seção específica de
seus sites ou redes sociais, permitindo um conhecimento prévio do visitante sobre
as possibilidades educativas do museu, ou mesmo preparando-o para a visita.

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Materiais Educativos do Museu Câmara Cascudo – UFRN, Natal/RN

Fonte: Site do MCC

Paleontologia em quadrinhos para crianças, Museu Câmara Cascudo – UFRN,


Natal/RN

Fonte: Site do MCC

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Materiais educativos da Fundação Vera Chaves Barcellos, Porto Alegre/RS

Créditos: Yuri Alexander Figueiredo Flores Machado

Quer saber como fazer um material educativo para seu museu?

Veja a publicação A Educação em Museus e os Materiais


Educativos, organizada pelo Grupo de Estudos em Educação Não
Formal da USP.

Ou veja alguns exemplos de materiais disponibilizados por


diferentes museus:

• Museu da Imigração

• Museu da Língua Portuguesa

• Museu de Arte Sacra de São Paulo

• Museu do Amanhã

• Museu Inimá de Paula

• Quadrinhos no MIS-SP

f) Ateliês e oficinas artísticas


Museus de arte se utilizam com frequência dessa prática educativa, após a visita,
oferecendo aos participantes a oportunidade de se expressarem plasticamente
sobre as obras com que tomaram contato.

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A prática, entretanto, não está restrita a essa tipologia de museu, podendo fazer
parte de ações de socialização, valorização de memórias, inventários culturais, entre
muitas opções, podendo também ser realizada online. Os formatos são múltiplos e
os públicos-alvo também.

Sugestão de vídeo: Pinafamília Digital | Vídeo-oficina de Outubro – 07

A oficina de desenho faz parte do projeto Zona Aberta, que propõe práticas
artístico-pedagógicas nos jardins e demais áreas no entorno do MAM Rio

Foto: Domi Valanci. Fonte: Site do MAM Rio

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Fica a dica!

Quer ver exemplos de ateliês e oficinas em museus?

• No Museu do Ingá, o ateliê de gravuras é tão tradicional


que ganhou uma exposição quando completou 40 anos de
existência.

• Às vezes é possível combinar dois ou mais tipos de


propostas educativas, como no caso do Museu da Cidade
do Recife, que criou uma oficina de férias!

• E já pensou num museu que é uma oficina? O Museo


Taller, em Santiago do Chile, tem uma proposta interativa
baseada na realização de oficinas.

• No Museu Lasar Segall e no Museu de Arte do Rio, algumas


oficinas e cursos são oferecidos para diferentes públicos.

g) Visita-conferência

É possível estabelecer, por exemplo, num dia na semana, ou no mês, em determinado


horário, a realização de uma visita orientada por um especialista do museu a uma
obra ou a um recorte da exposição de longa duração (o especialista pode ou não
ser um educador museal). Trata-se de uma prática comumente mais dirigida ao
visitante adulto, mas pode também ter foco em jovens ou crianças.

Uma oportunidade interessante pode ser aproveitar horários de almoço ou fim de


expediente, que criem um público fidelizado, que faz visitas curtas, porém frequentes
ao museu e que vai aos poucos descobrindo suas múltiplas oportunidades de
conhecimento e entretenimento. Alguns museus já aproveitaram até para incluir o
almoço na programação, como o Museu de Arte Antiga, em Lisboa.

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Peça de divulgação do Diálogos no Acervo, 2020

Fonte: Acervo do Centro de Pesquisa do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP)

Live disponível em: Diálogos no Acervo – Rosa e Azul

h) Espaços ou dispositivos para demonstrações, espaços educativos


e salas de descoberta
São espaços que permitem ao visitante a realização de atividades e ações interativas,
um descanso ou, ao mesmo tempo, uma forma de ter contato com materiais
referentes à exposição. Pode contar com profissionais fazendo demonstrações ou
ser um espaço que contém jogos, computadores, livros para consulta, dispositivos
de interação etc. Esse tipo de espaço pode também ser montado no percurso da
exposição.

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Em instituições que ficam distantes de opções de alimentação e que são de difícil
acesso, esses espaços podem oferecer locais para refeições ou lanches rápidos, ter
bebedouros, carregadores de celulares, ou ficarem próximos a banheiros, o que
pode dar mais conforto e ampliar o tempo de permanência dos visitantes.

Algumas instituições já demarcam esses espaços em seus mapas e roteiros para


visitantes, como o Museo del Traje, da Espanha, ou o Museu Oscar Niemeyer. Essa
é uma ótima opção para museus de território ou de percurso, como no caso do
Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG.

Sala para atividades educativas e de descobertas no Museu Imperial/IBRAM,


Petrópolis/RJ

Fonte: Site do Museu Imperial/IBRAM

i) Visita teatralizada ou musicada


Como vimos nos exemplos de visitas mediadas, as visitas teatralizadas ou musicadas
são recursos bastante atraentes, desde que o grupo que os realiza também se
proponha a ouvir os visitantes. Não estamos falando aqui de uma prática em que
os visitantes se vestem com roupas antigas e fingem vivenciar uma situação do
passado, sem problematizá-lo.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 78


A ligação com o acervo ou com temáticas da atualidade também contribui para dar
um caráter pedagógico à ação, tornando-a uma opção de Educação Museal e não
apenas de entretenimento. Esta, apesar de poder ser uma função dos museus, não
é obrigatoriamente uma atribuição dos profissionais e setores de educação.

Grupo Maré de Histórias: Marli Damascena, 2010. Grupo de contadores de


histórias do Museu da Maré em apresentação no barraco sobre palafitas, no
interior da exposição de longa duração “Os tempos da Maré”

Fonte: Acervo Museu da Maré

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 79


Capa do Livro de Contos e lendas da Maré, Museu da Maré/CEASM, 2003. Capa
do livro produzido pelo Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM),
ONG gestora do museu e que reúne algumas lendas e “causos” locais

Fonte: https://issuu.com/museudamare/docs/livro_contoselendasdamare

Visita dramatizada baseada no livro Assombração na Casa de Rui Barbosa, de


autoria de Domingo Gonzalez Cruz e Eni Valentim Torres. Museu Casa de Rui
Barbosa, Rio de Janeiro/RJ, Acervo FCRB

Foto: Murillo Ribeiro

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 80


Visita teatralizada com o personagem Washington Luís, no Museu Histórico e
Pedagógico Dr. Washington Luís, Batatais/SP

Créditos: Eveline Bergamini Rodrigues. Fonte: MHPDWL

Alguns museus realizam visitas teatralizadas de forma esporádica;


outros, pontualmente; e há aqueles que têm projetos de longa
data. Podem acontecer presencialmente ou online. Veja alguns
exemplos:

• Casa da Roda

• Museu Casa de Benjamin Constant

• Museu Goeldi

j) Jogos
Todos nós, adultos ou crianças, gostamos de jogar. Produzir jogos relacionados à
temática do museu é uma forma de o visitante se relacionar de forma lúdica ao
acervo. São exemplos: jogos da memória, quebra-cabeças, jogos dos sete erros,
álbum de figurinhas etc.

Para os curiosos

Alguns museus disponibilizam jogos para serem utilizados pelo


público. Outros propõem jogos online. Aqui você encontra alguns
exemplos:

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• Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo

• Museu do Brincar

• Museu Light

• Museu Vale

A incorporação de jogos e brincadeiras às ações educativas pode ser realizada de


diversas formas: podem ser produzidos de forma artesanal para que se relacionem
a alguma temática específica, com alguma finalidade, ou podem resultar de oficinas
educativas, assim como pode-se recorrer aos jogos e às brincadeiras tradicionais,
vivências intergeracionais que têm na memória o seu eixo e se ajustam aos mais
diversos contextos, épocas e espaços.

Jogos Educativos – Brincando e Aprendendo com o MCC, Museu Câmara Cascudo


– UFRN, Natal/RN

Fonte: Site do MCC

Os museus também podem ser o tabuleiro de um jogo superparticipativo. É o caso


do Museu Histórico Nacional, que já foi palco de uma maratona de RPG, como se vê
num episódio do programa Conhecendo Museus.

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Almanaque contendo diversos jogos. Museu Histórico Abílio Barreto, Belo
Horizonte/MG

Créditos: Magaly Cabral

Folheto da exposição “Do móvel ao automóvel”, Museu Histórico Nacional

Fonte: Biblioteca do Museu Histórico Nacional

Folheto da exposição “Do móvel ao automóvel”, Museu Histórico Nacional

Fonte: Biblioteca do Museu Histórico Nacional

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 83


Álbum de figurinhas do Museu Histórico Abílio Barreto, Belo Horizonte/MG

Créditos: Magaly Cabral

l) Kits pedagógicos, exposições itinerantes e coleções didáticas


Oferecer kits pedagógicos, realizar exposições itinerantes a escolas, comunidades
e até cidades que não possuem museus e outros espaços culturais, e emprestar
coleções didáticas é uma forma eficaz de divulgar o museu e despertar o interesse
para uma visita, além de oferecer meios de se produzir conhecimento.

Apresentação do kit didático do projeto “Viajando na História”, do Museu


Histórico Nacional

Créditos: Nueduc/MHN

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“Olhando em Volta”, projeto itinerante do CNFCP de exposição para ser
elaborada e montada na escola. A proposta é levar um pouco do Centro a
outras instituições, por meio de uma exposição temática em torno da cultura
popular

Fonte: Site do CNFCP

“De Mala e Cuia”, biblioteca itinerante que reúne pequena coleção de parte da
Biblioteca Amadeu Amaral. São livros, discos, folhetos, fotografias e recortes
de jornal que podem sair do CNFCP e ficar um tempo com a escola, servindo de
apoio e suporte para os estudos de folclore

Fonte: Site do CNFCP

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 85


Fica a dica!

Quer conhecer projetos de kits pedagógicos, museus itinerantes e


coleções didáticas? Veja alguns exemplos:

• Ciência Móvel – Museu da Vida

• Coleção Didática do Museu Emílio Goeldi

• Coleção Didática do Museu Nacional

• “De Mala e Cuia” – Museu do Folclore Edison Carneiro

• Viajando na História – Museu Histórico Nacional

Esse vídeo mostra de forma rápida e didática as ações


desenvolvidas pelo Museu Itinerante de Ciências Naturais:

Play-circle

m) Audioguias e videoguias
Trata-se de um recurso bastante caro, pois ainda é produzido de forma limitada no
Brasil, mas de grande utilidade para o visitante individual no museu, podendo ainda
ser editado em várias línguas.

Os audioguias podem ter diferentes programações, com textos e locução voltados


para públicos diversos: de diferentes faixas etárias, com audiodescrição para
pessoas cegas ou com baixa visão, que apresentem diferentes circuitos possíveis

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 86


ou ainda que contenham jogos e propostas de análise de objetos, ultrapassando a
simples oferta de informações técnicas ou descritivas.

Há também a versão em vídeo, disponível para tablets e celulares, com tradução em


Libras dos textos dos audioguias. Para esse caso, sugere-se também a legendagem
para permitir uma acessibilidade mais ampla, visando às pessoas surdas não
fluentes em Libras.

Visitante usando audioguia no Museu Victor Meirelles, Florianópolis/SC

Fonte: Site do MVM/IBRAM

Para os curiosos

Você sabia que agora também é possível fazer visitas online, com
uso do recurso de audioguia?

Veja o exemplo do Museu Lasar Segall e do Museu Paranaense.

n) Filmes/vídeos
A utilização de filmes e vídeos no museu, seja como introdução ou complemento a
uma visita, seja como conteúdo, no circuito da exposição, é muito pertinente. Mas
é preciso estar atento à escolha desses materiais, vídeos muito longos podem ser
cansativos.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 87


Alguns museus realizam projetos de cineclubes, com a exibição periódica de filmes,
seguidas de debates ou comentários de convidados, relacionados ao acervo ou às
temáticas contemporâneas.

O projeto CINE MUF consiste na exibição gratuita de filmes com abordagem de


questões sociais, a céu aberto, no meio do território

Foto: Acervo Museu de Favela – MUF, 2009. Disponível em: https://


www.museudefavela.org/producao-cultural/

A produção de filmes e vídeos, que podem ser de entrevistas, documentários, ou


mesmo de temas de interesse do público, em conjunto ou feita pelos visitantes,
também é uma ação possível, que pode até se transformar em mostras e exposições
construídas de forma participativa.

o) Material multimídia e tecnologias digitais em rede


A utilização de novas tecnologias no museu é de grande auxílio. Quando usadas
como recurso expográfico, acessível ou de mediação digital, não devemos dar-lhes
a centralidade nas ações, para que não virem um fim em si mesmos, mas também
não podem ser ignorados.

Da mesma forma que devemos planejar as demais práticas educativas, devemos


lidar com esses instrumentos com um grande cuidado, entendendo que são
ferramentas, independentemente do grande apelo que têm em diversos públicos,
mas considerando também que podem ser elas mesmas fruto de descobertas e
conhecimentos relacionados ao acervo.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 88


Programas e aplicativos multimídias na recepção do museu, ou mesmo no circuito da
exposição, e disponibilizados online também podem contribuir para a obtenção de
informações. Da mesma forma, a produção de materiais multimídia e multiformato,
disponibilizados em rede, pode ser relevante tanto na divulgação do museu quanto
como material de apoio ao professor ou de promoção da acessibilidade.

Convite da exposição “Canudos: Memória do Mundo”, realizada pelo Museu


da República/IBRAM, Rio de Janeiro/RJ, em 2012, e que contou com materiais
multimídia elaborados em parceria com os cursos técnicos de Comunicação
Visual e Tecnologia da Informação do SENAI Maracanã

Fonte: Arquivo Histórico do Museu da República/IBRAM

Fotografia e QR Code na exposição “Canudos: Memória do Mundo”, realizada


pelo Museu da República, em 2012. Também foram instalados totens com
tablets multimídia nos quais os visitantes podiam manipular, virtualmente,
as fotos originais da mostra, além de acessar comentários explicativos sobre
cada fotografia. Foto da montagem da exposição

Créditos: Joana Regattieri. Fonte: Arquivo Histórico do Museu da República

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 89


Atualmente, há instituições inteiras dedicadas às novas tecnologias, a seus usos e
funcionalidades e à sua integração ao cotidiano. Podemos citar como exemplos o
Museu da Pessoa, entre os museus virtuais existentes, ou museus interativos ou que
oferecem experiências imersivas, como o Museu das Comunicações e Humanidades.

Material multimídia e tecnologias digitais no Museu da Língua Portuguesa

Créditos: Ciete Silvério. Fonte: Acervo Museu da Língua Portuguesa

p) Site institucional e redes sociais

Essas são ferramentas cada vez mais utilizadas nas instituições e representam um
importante espaço de divulgação do trabalho que está sendo desenvolvido, além de
proporcionarem a possibilidade de realização de ações educativas museais online.
É fundamental que os setores educativos possuam seu espaço dentro do portal
institucional e nele devem constar os objetivos do setor, os projetos em andamento
e as demais informações.

Mas essa não é a única forma de o trabalho educativo dos museus aparecer na rede.
Algumas instituições possuem sites, blogs ou perfis específicos dos seus setores
educativos, como é o caso da Seção de Assistência ao Ensino (SAE) do Museu Nacional,
que, além de um blog, tem perfis no Facebook e no Instagram, e do Museo Thyssen
Bornemisza, que tem um site próprio para o setor educativo. Nesses espaços, além
de ações de divulgação e disponibilização de conteúdos pedagógicos, são realizadas
propostas interativas, em diferentes formatos.

Vale, ainda, dedicar um espaço com caráter lúdico e didático ao público infantojuvenil,
visando aproximar esse segmento, de laços tão estreitos com o mundo virtual, das

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 90


questões relacionadas à preservação do patrimônio. Em geral, podem constar jogos
e passatempos, textos de apoio ao professor e ao aluno, agenda, imagens e outras
informações, sempre com uma linguagem adequada à faixa etária à qual se destina.

Fundação Casa de Rui Barbosa para crianças – Jogos e Passatempos – Troca


Roupas

Fonte: Arquivo Institucional da Fundação Casa de Rui Barbosa

As redes sociais são um espaço em que a dialogicidade é facilitada. Produzir


conteúdos interativos fica mais fácil com plataformas que tenham recursos como
espaços para comentários, compartilhamento de arquivos, links, vídeos, imagens
etc. Além de serem espaços bastante frequentados por públicos diversos que
estão ao mesmo tempo realizando suas atividades cotidianas sem nunca estarem
desligados das telas.

Com o fenômeno da pandemia de covid-19 no mundo, diversos museus adaptaram-


se a um cotidiano de realização de ações online. São exemplos webinários, cursos,
oficinas, campanhas em hashtag, entre outras ações. É preciso estar atento para
que, sempre que possível, as ações online respeitem as premissas da acessibilidade,
contendo interpretação em Libras, audiodescrição, legendas, linguagem simples etc.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 91


Atividades online do Museu educativo – Museu Nacional da República, Brasília

Fonte: https://museueducativo.com.br/?landing_page=true

Criação de aplicativo para atividades online durante o período da pandemia de


covid-19 pelo Ecomuseu de Maranguape/CE

Fonte: Acervo Ecomuseu de Maranguape

Para os curiosos
Faça uma busca na internet por hashtags e ações educativas online
e veja que os museus já usam esse recurso há algum tempo e que
não ficaram parados na pandemia de covid-19:
• #museuemcasa
• #pessoasessenciaisdosmuseus
• #museunacionalvive
• #museumday/#diainternacionaldosmuseus
• #museuparatodos

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 92


Mesmo assim, sabemos que nenhum recurso educativo é capaz de atender a toda
a diversidade de públicos possíveis dos museus de uma só vez. Por isso, também é
bom, quando viável, produzir ações variadas ou anunciar quais os públicos-alvo, ou
prioritários, que se objetiva atingir com cada ação educativa.

Cabe ressaltar que, no Brasil, o acesso à internet não é ainda universal; portanto,
é possível que alguns públicos, de pessoas de baixa renda, em situação de
vulnerabilidade social ou privação de liberdade, não estejam entre as possibilidades
de públicos potenciais desses espaços.

Você sabe o que é uma atividade online assíncrona? É quando quem


fala (emissor) envia uma mensagem (atividade educativa) sem
que o educando (receptor) receba, responda ou interaja com ela
de forma imediata. Nessa situação é possível que haja interação,
mas ela se dá em momentos diversos, sem simultaneidade na
troca.

Quer ver um exemplo? No mês de outubro, o Museu Histórico


Nacional propôs uma brincadeira online: o Bondinho da História:
“o mestre mandou”. Já o Museu Felícia Leiner propôs uma oficina
de Bonecas Abayomi. Olha só esses exemplos de contação de
história: Mitologia: a origem dos museus e Nós do Axé.

Os exemplos são muitos, e é possível encontrá-los com uma


rápida busca temática, em ferramentas de busca ou nos sites e
redes de cada instituição. E também é possível usar as redes,
com informações sobre as ações educativas, que são ao mesmo
tempo educativas e informativas, visando à divulgação de ações,
como fez o Museu da Imaginação.

As redes permitem também atividades síncronas, ou seja, em que


as pessoas interagem ao vivo. Nesse contexto foram realizadas
muitas atividades durante a pandemia de covid-19: quem não
assistiu a uma live nesse período, não é mesmo? As formas de
interação são diversas: você pode estar num mesmo ambiente
virtual com os educandos, conversando por voz, por mensagens
escritas, por gestos, em Libras, compartilhando documentos
e plataformas de criação em rede. E o conteúdo ainda pode
ficar disponível online, para ser consultado depois. Quer ver?
Separamos alguns exemplos cujos conteúdos também podem
ajudar a pensar as ações online de museus e Educação Museal.

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• Como divulgar acervos de museus na internet?
Webinar para profissionais de museu

• Museu de ciências: uma janela para o futuro

• Planejamento, registro e avaliação de ações educativas


museais

• 18ª Semana Nacional de Museus da Pina – Museus


para igualdade, diversidade e inclusão

• Minicurso museus, acessibilidade e inclusão, do


Museu das Bandeiras

• A memória da escola no museu e nas coleções


museológicas

E, se você pensa que as ações educativas online se resumem a


webinários e cursos, enganou-se! A Seção de Assistência ao Ensino
do Museu Nacional foi pioneira no Brasil em fazer mediações
online, como a visita sobre Sambaquis ou sobre o Projeto Palpos de
Aranha. Muitas vezes os temas dessas atividades eram escolhidos
pelo próprio público, em enquetes e interações assíncronas nas
redes sociais. Isso tudo antes da pandemia de covid-19!

Outra forma de fazer uma visita online, dessa vez num contexto
totalmente online, é utilizar, quando existem, as visitas virtuais,
como da plataforma Google Arte e Cultura. Olha esse Bonde da
História – Religiosidades no Brasil, do Museu Histórico Nacional.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 94


Unidade 2 – Parcerias e ações integradas

Identificar possibilidades de parceria e ações integradas

O museu é uma instituição que deve ter em sua missão a previsão da relação com
a sociedade em vários níveis: a relação com o público, com a comunidade em que
se insere, com outras instituições culturais e de pesquisa, com escolas, com órgãos
públicos etc.

Uma forma de realizar ações educativas é a busca por parceiros que permitam o
desenvolvimento da missão educativa do museu.

As possibilidades são muitas: realizar visitas de forma continuada com uma


mesma escola, fazer encontros com professores, promover ações de formação de
estudantes universitários, oficinas para a comunidade em conjunto com associações
de moradores, realizar exposições em conjunto com outras instituições etc.

As parcerias podem envolver recursos financeiros ou não. As contrapartidas


institucionais podem ser, por exemplo, a troca de experiência entre profissionais ou
a cessão de recursos físicos e de estrutura.

Patrocínios também são uma forma de parceria e não precisam acontecer somente
em grandes projetos. Às vezes o comércio local, um visitante ou mesmo uma empresa
de pequeno porte podem ter interesse em se envolver com as ações de um museu.

2.1 – A relação museu-escola

A relação museu-escola é tema de muitos trabalhos acadêmicos e profissionais no


campo da Educação Museal.

Apesar do grande aumento de ações voltadas para a diversidade de públicos dos


museus, o público escolar é considerado como o principal alvo das ações educativas
museais. Isso acontece por alguns motivos: é um público frequente; as visitas
realizadas por escolas, geralmente, têm objetivos pedagógicos a serem cumpridos
nos museus e, apesar de não haver no Brasil dados formais consolidados e
atualizados sobre o percentual do público escolar em relação aos demais públicos
dos museus, há na literatura do campo trabalhos que mencionam que este é ainda
o maior público recebido nas ações educativas museais.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 95


Para além disso, a própria Política Nacional de Educação Museal tem na formação
integral suas bases teóricas. Isso significa pensar uma proposta de formação humana
para a sociedade que integre diferentes espaços de educação, de forma a promover
um amplo desenvolvimento do indivíduo e, nesse sentido, pensar a relação museu-
escola de forma integral e integrada, de maneira a contribuir para a melhoria da
qualidade da educação em suas diferentes faces.

Vale a pena investir no estudo dessa relação e na elaboração de atividades voltadas


para esse público específico.

Museu Histórico de São Vicente/RN desenvolve forte parceria com as escolas


do município

Fonte: Acervo do Museu Histórico de São Vicente

A professora Adriana Mortara de Almeida, em seu artigo “Desafios da relação museu-


escola”, ressalta que, para além de se poder trabalhar com o currículo escolar dentro
do museu, este cumpre uma função educativa relacionada ao próprio processo
de aprendizagem, em que a experiência e o contato direto com objetos podem
promover motivação, curiosidade, questionamento e gerar entusiasmo e interesse.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 96


O educador e pesquisador do Museu da Vida, Ozias Soares, no artigo “Reflexões
sobre a relação museu escola: na direção de um museu permeável”, nos apresenta
um cenário comum no contato entre museu e escola: a realidade das visitas únicas,
que, a despeito de apresentarem um quadro de desafios, são, geralmente, o primeiro
contato dos visitantes com um museu (nas visitas escolares, em especial com escolas
públicas, boa parte dos estudantes nunca visitaram museus, os educadores museais
não conhecem o público a fundo, o tempo é escasso, tudo tem que ser apresentado
desde o início). O autor comenta ainda sobre a possibilidade de estabelecimento
de parcerias entre museus e escolas que promovam projetos ou ações de visitas
continuadas, contribuindo para a formação integral dos estudantes e para a criação
de um hábito cultural.

Algumas ações podem contribuir para a relação entre museu e escola e para
estabelecer laços mais estreitos ou permanentes. Deve-se pensar que, apesar de
serem estudantes, os públicos de visitantes escolares representam uma grande
diversidade e podem ser pensadas ações para cada recorte desses públicos, que
podem ser: da Educação Infantil, do Ensino Básico (Ensino Fundamental I, II e Ensino
Médio), do Ensino Profissional ou Técnico (geralmente jovens em busca de uma
formação profissional e inserção no mercado de trabalho), do Ensino de Jovens e
Adultos (estes com grandes dificuldades de frequentar o museu, pois durante o dia
geralmente trabalham e durante a noite, quando os museus em sua maioria estão
fechados, estudam), do Ensino Superior, sendo que, nesse segmento de ensino,
deve-se pensar com especial atenção na formação de professores.

Em termos práticos, algumas ações podem contribuir para uma boa relação museu-
escola. O trabalho começa, antes mesmo da visita, no estabelecimento de parcerias,
na realização de um processo de agendamento atencioso, que busque traçar um
perfil e identificar os anseios do público.

É interessante propor ações que estimulem a visita prévia dos professores ao museu,
sempre que possível, ou mesmo uma visita de educadores à escola, de maneira a
estimular o público antes da visita.

Propor aos professores um retorno para o museu, com a realização de atividades de


desdobramento da visita em sala de aula, traz efeitos produtivos tanto para a escola
quanto para os museus.

A oferta de materiais educativos, como roteiros e guias de circuito expositivo,


materiais didáticos, objetos mediadores, cadernos de atividades, é uma possibilidade
frutífera de mostrar as possibilidades pedagógicas a partir da visão do museu.

E é claro que recursos são muito bem-vindos, mas com criatividade é possível também
elaborar materiais que colaboram bastante para a visita: reproduções de obras de
arte, jogos de tabuleiro (pode-se propor que os próprios visitantes os elaborem),
gincanas e caças ao tesouro, roteiros e diários de viagem, bonecos que funcionem

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 97


como personagens que mediam as visitas, todos são exemplos das possibilidades
de elaboração criativa de materiais.

A produção de ferramentas de avaliação e estudos de satisfação com a visita fecham


o processo educativo, permitindo a melhoria do acolhimento e da elaboração das
atividades.

Num cenário mais amadurecido da relação museu-escola, é possível propor ao


poder público a constituição de parcerias entre escolas e museus, por meio das
secretarias de educação e/ou cultura, pensando desde a formação de professores
quanto à realização de projetos e ações, pontuais ou contínuas.

Os museus também podem oferecer espaços e realizar atividades de formação


voltadas para esses profissionais, de maneira a afinar o discurso entre educadores,
ou mesmo estabelecer pontes. Na relação museu-escola, vale a criatividade, a
parceria e a busca pela consolidação de uma relação estreita e duradoura.

Para os curiosos

Os Museus Castro Maya-Chácara do Céu, do Rio de Janeiro,


realizaram entre 2012 e 2014 o Projeto Letrarte, que recebeu,
para ações semanais e quinzenais, turmas de uma escola vizinha,
que no final do ano letivo exibiam, em exposições elaboradas e
montadas pelos alunos, as produções que faziam ao longo do
ano. Os relatórios desse projeto estão também disponíveis.

2.2 – A relação museu, comunidades e movimentos


sociais

Ao refletir sobre museu, comunidades e movimentos sociais, pode-se pensar em


dois movimentos: o de trazer comunidades e movimentos sociais ao museu e o de
apoiá-los na preservação de suas memórias.

No primeiro movimento, deve-se partir do princípio de que o museu é cercado


por diversas comunidades, desde a sua primeira vizinhança até as mais distantes.
Mesmo na vizinhança mais próxima, há diversas comunidades a serem procuradas
pelo museu para, com elas, desenvolver atividades que as estimulem a fazer uso
dele. Comunidades, inclusive, que muitas vezes são excluídas socioculturalmente da
sociedade e nem se sentem autorizadas a visitar museus.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 98


Inauguração de uma exposição comemorativa dos 60 anos da Escola de Samba
Mangueira, na Sala Memória de São Cristóvão, no Museu do Primeiro Reinado,
Rio de Janeiro, em 1988:

Nininha, pastora da Escola de Samba (no hall de entrada do Museu):

— Magaly, como isso aqui é bonito!

Magaly:

— Você nunca tinha vindo aqui?

Nininha:

— Não, nunca vim. E pode visitar o resto?

Magaly pede a uma colega que mostre o museu à Nininha.

Nininha, encantada, ao voltar da visita:

— Puxa, como é lindo! O pessoal da Mangueira que vier ver a exposição da


Mangueira vai poder ver o resto também?

Com relação a comunidades que vivem em situações de vulnerabilidade ou de


exclusão social, o museu normalmente desconsidera esses grupos como possíveis
visitantes. Da parte dos grupos, eles geralmente desconhecem o museu e não o
percebem como lugar de seu interesse, pois não se sentem representados por
ele, pois percebem o museu como espaço do outro, das elites culturais. E, para
completar, não devem perceber o que o museu pode acrescentar ao seu cotidiano,
que é marcado por diversas premências.

Fica a Dica!

Recomenda-se aos interessados em iniciar trabalhos com essas


comunidades que conheçam o Programa de Inclusão Sociocultural
(PISC) desenvolvido pela Pinacoteca do Estado de São Paulo,
coordenado por Gabriela Aidar e na qual esse item está baseado.

Por outro lado, também as organizações que já trabalham com esses grupos –
associações, cooperativas, ONGs etc. – não percebem o museu como uma instituição
com potenciais contribuições a oferecer, consideram o museu como uma instituição

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 99


muito mais relacionada à educação e ao lazer. Assim, não estão convencidas do
valor transformador de programas executados dentro de museus.

Aidar recomenda que, para trabalhar com esses grupos, é preciso primeiro sensibilizar
os profissionais responsáveis pelas organizações que trabalham com eles. A partir
daí, estabelecer parcerias com essas organizações, buscando primeiramente o
conhecimento das especificidades, das necessidades e dos interesses dos grupos
e, em seguida, desenvolvendo ações que criem sentido e utilidade para os grupos
atendidos, ao mesmo tempo que dá visibilidade e relevância ao museu.

Diz a educadora:

Em nossa prática profissional junto ao Programa de


Inclusão Sociocultural, da Área de Ação Educativa
da Pinacoteca do Estado de São Paulo, voltado
ao desenvolvimento de ações educativas junto a
grupos socialmente marginalizados, percebemos
claramente que experiências educativas significativas
dependem do desenvolvimento de conhecimentos e
competências cognitivas, emocionais e vivenciais.

As atividades desenvolvidas pelo Programa estão


voltadas para a participação ativa do visitante, no
sentido de possibilitar a atribuição de sentidos pessoais
e coletivos aos objetos analisados. Assim, ultrapassam
os conteúdos artísticos linguísticos, formais, técnicos
e contextuais, na busca da valorização da experiência
interpretativa, simbólica e subjetiva do indivíduo no
contato com as obras analisadas no espaço do museu.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 100


Participantes do Centro de Acolhida Portal do Futuro. Pinacoteca do Estado de
São Paulo/SP

Créditos: Christina Rufatto

O projeto “Entre Museus”, desenvolvido pelo Museu do Amanhã, Rio de Janeiro/


RJ, trabalhou com jovens em situação de vulnerabilidade social e moradores
do Morro da Providência, localizado próximo ao museu

Fonte: Museu do Amanhã

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 101


No segundo movimento, o de apoiar comunidades e movimentos sociais na
preservação de suas memórias, é necessário termos a consciência de que, como diz
o museólogo Mário Chagas, no texto Linguagens, tecnologias e processos museológicos,
“não basta querer democratizar o acesso ao patrimônio cultural consagrado
como portador dos valores simbólicos da nacionalidade, é preciso ir mais longe”.
E, tomando o autor J. R. Gonçalves, Chagas diz que é preciso compreender junto
com ele a retórica dos discursos sobre o processo de construção do patrimônio
cultural e, por esse caminho, favorecer a construção de novos patrimônios, de novas
possibilidades de apropriação cultural.

Grupo de participantes do projeto “AfroGrafiteiras” da Rede NAMI, em 2019,


durante visita mediada ao Museu da República/IBRAM com a educadora Ana
Paula Zaquieu

Créditos: Acervo NAMI. Fonte: Setor de Educação do Museu da República

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 102


Grupo de participantes do projeto “AfroGrafiteiras” da Rede NAMI, em 2019,
durante oficina aberta pela educadora Ana Paula Zaquieu, do Museu da
República/IBRAM

Créditos: Acervo NAMI. Fonte: Setor de Educação do Museu da República

Trata-se, consequentemente, de se ter uma proposta pedagógica consoante com o


objetivo de se trabalhar com a memória social das comunidades e dos movimentos
sociais organizados, que tenham por objetivos um trabalho de intervenção na
realidade local em que vivem, a partir de projetos relacionados à educação e à
cultura.

Um exemplo de que se pode lembrar foi o apoio do DEMU/IPHAN/


MinC à criação do Museu da Maré, no Rio de Janeiro, em 2006,
um movimento social organizado que teve suas origens num
projeto de TV Comunitária (TV Maré) iniciado, em 1989, por um
grupo de jovens moradores do Complexo da Maré e que consistia
em gravar, por meio de vídeo, imagens do cotidiano, eventos,
festas e outros fatos que pudessem despertar o interesse da
comunidade. Da TV Maré à criação do Museu da Maré – com apoio
de Mário Chagas em diversos momentos e, inclusive, quando de
sua passagem pelo Museu da República, em 2003, montando
uma exposição sobre o tema –, houve um longo percurso. Outros
museus comunitários foram fundados mais adiante, também
com a ajuda de Mário Chagas.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 103


O Complexo da Maré é formado por 16 comunidades onde moram
cerca de 132 mil pessoas e fica situado entre importantes vias
de acesso à cidade do Rio de Janeiro – a Avenida Brasil, a Linha
Vermelha e a Linha Amarela.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 104


Unidade 3 – O âmbito da prática

Conhecer os elementos necessários à construção do programa


educativo cultural e ao planejamento, desenvolvimento e
avaliação de ações educativas.

3.1 – Elaboração de materiais e recursos educativos


e pedagógicos

A elaboração de materiais voltados para projetos e ações educativas é também uma


função do profissional de Educação Museal já estudada na literatura do campo. Essa
elaboração pode ser feita em colaboração com outros profissionais dos museus,
como designers, curadores, museólogos etc.

Existem muitas possibilidades: materiais para serem utilizados durante as visitas


mediadas, para serem entregues após as visitas, ou antes delas; podem ser propostas
virtuais ou físicas, estar no museu ou em espaços na internet e nas redes sociais;
podem ser objetos mediadores, guias e roteiros, livros e demais publicações, jogos
e folhas de atividades, brinquedos, ou seja, tudo que a criatividade profissional e os
recursos disponíveis nos permitirem elaborar.

Como qualquer outro projeto ou ação educativa, você pode pensar na elaboração de
materiais a partir da formulação de um projeto, nos moldes do que já apresentamos,
e algumas etapas são indispensáveis, como a pesquisa, a produção e a avaliação. Você
pode criar um formulário, inserindo os elementos necessários para a elaboração de
projetos e as ações etc.

Livros, guias, folhetos, relatórios


Alguns museus disponibilizam publicações em seus sites e em suas páginas na
internet, inclusive guias que visam orientar visitas.

Esses materiais podem ter vários objetivos. Podem ser fruto da realização de
atividades como seminários e oficinas, podem ser um conjunto de orientações
para estudo que guiam a visita autônoma, podem ser a base para a realização de
atividades, ou servirem de modelo e referência para pesquisa. Eles podem estar
ligados a projetos, exposições (de longa duração ou temporárias), podem ser
voltados para públicos específicos ou amplos, ter tiragem limitada ou permanente.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 105


O importante é que sejam elaborados a partir do entendimento de que são
instrumentos que visam à melhor relação entre públicos e acervos, educadores
e espaços, e que, assim como se planeja um projeto ou uma ação, não podem
prescindir também de um planejamento que especifique seus objetivos, públicos-
alvo, linguagem, aplicação, suporte etc.

Abaixo indicamos alguns exemplos que são disponibilizados por museus de diversas
tipologias:

O Museu Nacional de Belas Artes, que fica na cidade do Rio de Janeiro, possui
algumas publicações que estão disponibilizadas na internet e que são distribuídas
para grupos de visitantes em ações educativas. São guias e livros temáticos, que
abordam possibilidades de visita e experimentação no espaço do museu.

O Museu Nacional de Soares dos Reis, que fica na cidade do Porto, em Portugal,
disponibiliza na internet e na sua recepção Guiões, que propõem roteiros e
experimentações para visitantes de diferentes faixas etárias.

O Museu da República, na cidade do Rio de Janeiro, criou um jogo que apresenta um


passeio pelos seus jardins.

O Museu Virtual da Infância, a extensão virtual do Museu da Infância da UNESC, em


Santa Catarina, apresenta a possibilidade de interação online com o jogo Caixa de
Brinquedos.

O Museu da Vida, no Rio de Janeiro, tem algumas opções disponíveis no mundo


virtual. O site INVIVO, por exemplo, oferece opções de publicações e jogos.

Exposições educativas
Exposições educativas podem ser tanto parte de um projeto maior que se desenvolve
e termina produzindo uma exposição, ou podem ser uma exposição que não deriva
de um projeto educativo, mas centra-se em uma proposta pedagógica.

O Museo Thyssen-Bornemisza, que fica em Madri, Espanha, por exemplo, inaugurou


em 2017 uma exposição proposta pelos seus educadores. Lección de Arte foi uma
exposição pensada como recurso educativo. O museu disponibiliza uma publicação
sobre a exposição, seu conteúdo e suas metodologias.

O Museu de Arte Moderna de São Paulo realizou a exposição “Educação como


matéria prima”, em 2016. A ideia central era reconhecer o museu como espaço
educativo, e as ações artísticas como também sendo pedagógicas.

O Museu Histórico Abílio Barreto desenvolveu um projeto chamado “Onde mora a


minha história”, em que professores e estudantes de escolas participaram de todas

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 106


as etapas do processo de elaboração de uma exposição, da pesquisa à curadoria.
Esse é um dos projetos ganhadores do Prêmio Darcy Ribeiro, cujos vencedores são
apresentados em três publicações do Instituto Brasileiro de Museus.

O Museu da República, no desenvolvimento de ações com a ONG Ser Cidadão,


que atuava num espaço do museu, e de projetos específicos com os alunos do EJA
do CIEP Tancredo Neves, vizinho do museu, montou sempre exposições, também
elaboradas e montadas pelos alunos, com as produções realizadas.

Alunos do EJA no Projeto “Educação e Trabalho, Uma Ação de Cidadania” do


Museu da República/IBRAM, em visita noturna mediada ao Palácio do Catete
em 2015, com educadores do museu. Projeto premiado pelo Ibermuseus e pelo
CECA/ICOM (Best Practice)

Créditos: Ana Paula Zaquieu. Fonte: Setor de Educação do Museu da República/IBRAM

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 107


Fotos que integram a memória do projeto “Educação e trabalho: uma ação de
cidadania”, realizado pelo Setor de Educação do Museu da República/IBRAM,
durante o primeiro semestre de 2015, em parceria com os professores do Ciep
Tancreto Neves

Créditos: Ana Paula Zaquieu. Fonte: Setor de Educação do Museu da República/IBRAM

Projeto educativo do Museu da República/IBRAM com estudantes da Educação


de Jovens e Adultos, no CIEP Tancredo Neves, Rio de Janeiro, 2015

Créditos: Ana Paula Zaquieu. Fonte: Setor de Educação do Museu da República/IBRAM

Outros recursos
O Museu Paulista, na cidade de São Paulo, por meio do seu Serviço de Atividades
Educativas, tem realizado um projeto que visa à elaboração de materiais educativos
acessíveis e, para isso, criou um formulário online a ser respondido pelo seu público,
de maneira a construir essa ação de forma participativa.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 108


Outros museus também usam ferramentas online para realizar ações de avaliação
das visitas e de projetos e ações educativas.

Tem crescido também o número de empresas e profissionais que realizam consultoria


para ações, como as de elaboração de materiais e recursos educativos, formação de
profissionais, elaboração de exposições, programas e projetos. Para quem trabalha
em uma instituição que não tem condições de arcar com uma despesa como essa,
buscar apoio em profissionais qualificados para a tarefa é também uma opção.

O Caderno da PNEM traz alguns exemplos de como é possível


aplicar os princípios e as diretrizes da política, a partir da breve
apresentação de projetos já realizados ou em andamento e de
sua relação com os princípios e as diretrizes da PNEM.

Os setores ou departamentos que integram uma instituição museológica precisam


ser gerenciados e ter suas funções claramente definidas. A estrutura macro,
representada pela instituição propriamente dita, deve dar os subsídios necessários
para que as suas partes (setores, departamentos, divisões) se desenvolvam
plenamente com autonomia, mas sem perder de vista a importância do diálogo e
da integração entre os setores.

Isso também vale para instituições menores, que não possuem em seu organograma
a estrutura de setores, ou equipes grandes e variadas. A questão central é fazer com
que as diversas funções museais sejam cumpridas de forma orgânica e transversal.
A produção do conhecimento e o atendimento ao público com qualidade devem
sempre ser as metas finais da instituição.

A sistematização do trabalho educativo consiste em organizar a estrutura, a


equipe, as ações de planejamento, execução, registro e avaliação, de maneira
que as ações pedagógicas ocorram de forma profissional e de acordo com missão
e objetivos preestabelecidos. Esse trabalho envolve diversas camadas, da gestão,
passando pela definição de concepções educacionais e pedagógicas, até a dimensão
prática.

A Lei nº 11.904/2009, o Estatuto de Museus, define que toda instituição deve ter
um Plano Museológico – um documento voltado para a gestão institucional –, que
contenha 11 programas:

a) Institucional;

b) de Gestão de Pessoas;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 109


c) de Acervos;

d) de Exposições;

e) Educativo e Cultural;

f) de Pesquisa;

g) Arquitetônico-urbanístico;

h) de Segurança;

i) de Financiamento e Fomento;

j) de Comunicação;

k) de Acessibilidade a todas as pessoas.

Os programas do Plano Museológico são na verdade temas pertinentes para o


desenvolvimento de ações e podem também apresentar-se de forma integrada, ou
transversal.

A elaboração de um Programa Educativo e Cultural (PEC) é fundamental na


organização do trabalho de um setor educativo ou equipe educativa, permitindo
maior eficácia no seu gerenciamento e na sua orientação. Trata-se de uma
ferramenta de planejamento que dará subsídios para todas as ações a serem
desenvolvidas, norteando os projetos, as linhas de pesquisa, os programas de
trabalho e as atividades.

Pelo seu alcance, é importante que na elaboração haja a participação de todos


os profissionais envolvidos com o trabalho educativo, independentemente do seu
status profissional. O Programa Educativo Cultural deve receber a mesma atenção
que os outros programas que possibilitam o desenvolvimento das ações de um
museu. Por isso deve constar no Plano Museológico de forma detalhada, conforme
proposto na publicação do IBRAM, Subsídios para elaboração de Planos Museológicos.

Fica a dica!

Algumas razões para não planejar são identificadas em museus


e instituições culturais e podem ser traduzidas em frases como:

• “Não vim trabalhar em museu para gastar meu tempo


planejando”;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 110


• “Estamos ocupados demais lidando com nossos problemas
do dia a dia”;

• “Somos somente um museu pequeno”;

• “Tenho tudo isso na minha cabeça”;

• “Não sabemos como fazê-lo”;

• “Não temos dinheiro algum, não vale a pena”;

• “Ninguém nos pediu para fazê-lo”.

Pensar nas barreiras para elaboração de documentos


institucionais é uma etapa importante para buscar soluções!
(Seleção feita a partir de lista cedida por Michel Day para a
Museums & Galleries Commission).

Num primeiro momento, a elaboração desse documento pode gerar inquietação


e insegurança na equipe, mas, durante o processo de criação, esses sentimentos
serão superados pela possibilidade de reflexão, construção coletiva do conhecimento
e gerenciamento participativo.

Algumas perguntas podem orientar as reflexões e contribuir para a sua concretização:


para que existimos? (missão); em que acreditamos? (valores); o que queremos
alcançar? (metas); o que fazemos? (função); para quem o fazemos? (público); como
faremos? (estratégias de ação). Sabemos que o problema não está em responder a
essas questões, mas, acima de tudo, em conseguir, empiricamente, desenvolver um
trabalho que contemple toda a teoria elaborada.

Por outro lado, é importante ressaltar que um setor/uma equipe que não conhece
suas atribuições ou não possui suas metas claramente definidas corre o risco de
tornar-se exclusivamente técnico, atrapalhando o processo de reflexão e avaliação
das atividades. Estabelecer diretrizes ou eixos de ação colabora com a organização
do trabalho e a definição das atribuições do setor.

É para esse fim que o Programa Educativo e Cultural se traduz num documento
estratégico, dotando o setor/a equipe de uma política de atuação que possibilitará
o seu desenvolvimento, evitando, inclusive, o seu engessamento quando estiver
passando, por exemplo, por uma troca de chefia, ou uma crise de grandes proporções,
como a vivida com a pandemia de covid-19. O planejamento nos dá mais segurança
para serem feitas as alterações e as adaptações necessárias ao enfrentamento de
situações inesperadas.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 111


É importante ter clareza sobre o conceito de educação que fundamenta o trabalho:
é um passo importante na estruturação do PEC e, ainda, na sua implementação.
O PEC deverá conter um Plano de Trabalho (também chamado de Plano de Ação)
que especifique metas, cronograma e recursos necessários (humanos e financeiros)
para os programas, os projetos e as ações educativas a serem realizados a curto,
médio e longo prazos. Ao planejá-los é fundamental que estes estejam de acordo
com as possibilidades de ação da instituição, bem como que seja prevista uma
avaliação permanente da sua qualidade, que deve estar sempre em consonância
com as teorias e os conceitos sobre educação adotados.

De acordo com o estabelecido na PNEM, a elaboração do PEC é uma atribuição


dos profissionais responsáveis pelo desenvolvimento da função educativa do
museu por meio da realização de pesquisas, diagnósticos, da implementação de
programas, projetos e ações educativas e da sua sistematização, seu planejamento,
seu registro e sua avaliação.

Fica a dica!

Os órgãos e as entidades responsáveis pela formulação de


políticas e diretrizes para o campo reforçam a necessidade de
o planejamento e, sobretudo, de sua elaboração serem feitos
por profissionais da área de Educação Museal. Além da PNEM,
encontramos tais orientações no documento elaborado pelo
CECA, intitulado “Melhores práticas em educação em museu e
programas culturais”.

Disponível em: http://ceca.mini.icom.museum/wp-content/


uploads/sites/5/2020/01/PORTUGES_BP_tool.pdf.

Vale ressaltar que não existe uma fórmula mágica ou uma receita de bolo para a
elaboração de um PEC – assim como dos demais programas sugeridos para os Planos
Museológicos –, pois os modelos possíveis serão específicos em cada instituição,
respondendo à realidade na qual está inserida.

O Programa Educativo e Cultural que integra o Plano Museológico de um museu pode


ser entendido como a sua Política Educacional. Daí a importância de esse documento
levar em consideração as características institucionais e dos seus diferentes
públicos, bem como explicitar os conceitos e referenciais teóricos e metodológicos
que embasam o desenvolvimento de suas ações educativas, tal como previsto nos
princípios da PNEM. Outra possibilidade é a Política Educacional da instituição figurar
como um documento à parte. Nesse caso, ela deve, necessariamente, manter-se em

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 112


consonância com o Plano Museológico e seu Programa Educativo e Cultural, zelando,
ambos os documentos, pela convergência em relação à proposta pedagógica da
instituição, à sua concepção de educação, aos seus objetivos pedagógicos, aos
conceitos e teorias orientadoras e aos programas, projetos e ações.

Além do PEC, convém sistematizar também cada projeto e ação educativa, por meio
da utilização de instrumentos de planejamento, registro e avaliação, que devem ser
apresentados e definidos na política educacional institucional.

Fica a dica!

O Documento Preliminar da PNEM e o Caderno da PNEM contêm


glossários que apresentam a diferença entre programa, projeto e
política. Converse com os demais trabalhadores do museu e com
seus públicos para definir os objetivos do trabalho educativo e
como melhor estruturar os documentos que organizarão a gestão
e a prática educativa museal.

Roteiro sugerido para viabilizar a elaboração de Programas


Educativos e Culturais e de Políticas Educacionais
A seguir apresentamos alguns itens que podem ser desenvolvidos tendo em vista a
sistematização do trabalho educativo em um documento institucional. Os itens não
são obrigatórios e podem ser pensados de forma transversal, de acordo com cada
realidade.

+ Diagnóstico
Esta é uma etapa importante no processo, pois permitirá uma análise
da situação vigente. Uma observação crítica pode ser um bom caminho;
apontar os projetos que não deram certo e suas possíveis falhas; aqueles
que alcançaram os objetivos esperados; quais são os recursos financeiros
e humanos disponíveis.

+ Autoavaliação
Conhecer os profissionais que fazem parte da equipe, o quantitativo,
a diversidade de formações, a variedade de atividades que exercem, o
tempo em que estão trabalhando na instituição, o acúmulo de experiências

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 113


internas e externas na área de Educação Museal; se há sobretrabalho por
falta de pessoal, ou se há sombreamento de funções; suas angústias,
insatisfações, pontos fortes e fracos. Isso ajudará muito no momento da
construção do documento e na “distribuição dos papéis” de cada um. É
possível, por exemplo, elaborar um questionário para que os membros
da equipe exponham suas opiniões.

+ Reuniões de planejamento
Os encontros de equipe compõem todo o processo de elaboração do
documento; é preciso que o grupo entenda a importância desse momento,
busque o entrosamento para a reflexão e coloque os objetivos coletivos
acima dos individuais.

+ Definição da estrutura
Roteirizar a construção do programa ajudará a organizá-lo mentalmente,
facilitando a sua materialização. É importante contemplar ações viáveis
para que os objetivos não se percam ao longo do caminho. Assim, é
pertinente definir a missão do setor, os objetivos, as linhas de pesquisa,
os programas de ação. Outro caminho é propor eixos de ação capazes de
contemplar as várias possibilidades de atuação do setor.

+ Avaliação
Um documento orientador não é (e não pode ser) uma ferramenta estática
e rígida. São necessárias uma avaliação constante e a sua adequação a
novas demandas. É interessante estabelecer “prazo de validade”, quando,
então, ele será analisado e, se necessário, reformulado.

O Caderno da PNEM, publicação do IBRAM, indica os seguintes


itens a comporem um programa educativo e cultural:

• Diagnóstico;

• Referências teóricas e conceituais;

• Sujeitos/públicos;

• Missão educativa;

• Objetivos educacionais;

• Ação educativa;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 114


• Sustentabilidade e financiamento;

• Profissionais;

• Registro, sistematização e avaliação.

3.2 – Como elaborar um projeto ou uma ação


educativa?

A elaboração de projetos e ações educativas museais é como qualquer processo


pedagógico: precisa de etapas de planejamento, avaliação, levantamento de
recursos etc.

Existem muitas formas de se pensar a elaboração de uma ação educativa. Vamos


propor a seguir um modelo que pode ajudar a pensar e a criar ferramentas de
planejamento, registro e avaliação, a partir de algumas questões:

+ Em que é fundamental pensar quando falamos de planejamento?


Os itens listados a seguir podem ser parte da estrutura de um projeto e
da elaboração de uma ação. Você decide quando e como lançar mão de
cada uma das sugestões.
Você pode criar um formulário e nele colocar as etapas de elaboração de
um projeto ou ação:

+ Qual é o título do projeto?


Dar nome aos projetos e às ações ajuda na divulgação e na criação de
referência e laços de afeto com o público.

+ Qual é a equipe responsável pela elaboração e execução do projeto?


É importante especificar todos os profissionais envolvidos no projeto
ou na ação: coordenadores pedagógicos, educadores, programadores
visuais, assessoria de imprensa, equipe de apoio e logística etc.

+ Pesquisa
Além da concepção, das primeiras ideias para se criar um projeto
ou ação, a pesquisa é uma das primeiras etapas da sua elaboração.
São muitas as temáticas pertinentes à pesquisa: pesquisa de público
para definir públicos-alvo e seus interesses, pesquisas no acervo,
pesquisas biográficas, pesquisas para escolha de referenciais teóricos

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 115


e metodológicos que sustentem os objetivos do projeto/da ação etc.
Ela serve ao diagnóstico, ao planejamento, para realizar o registro e a
avaliação das ações educativas.

+ Apresentação
Discorrer brevemente sobre o que é o projeto ou a ação, seu
desenvolvimento, e o público a que se destina.

+ Públicos-alvo
A quem se destina o projeto ou a ação? Quais são as audiências esperadas?
Lembre-se de que o público é muito diverso e não existe um “público em
geral”. A ação pode ser destinada a públicos amplos, diversos e/ou ter
foco ou prioridade em alguns públicos específicos.

Jovem do projeto educativo “Grupo de Contadores de Estórias Miguilim”


narrando trechos da obra de João Guimarães Rosa ao final da visita guiada ao
Museu Casa de Guimarães Rosa, Cordisburgo/MG, 2015

Créditos: Joana Regattieri. Fonte: Acervo pessoal

Existe uma diferença conceitual entre público e audiência.

Podemos dizer que o público, de maneira geral, consiste em um


universo maior, são as pessoas que vão ao museu por vontade
própria. O público é diverso e por isso falamos sempre no plural,

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 116


eles podem ser consolidados ou não, podem até ser ausentes,
ou serem um não público. Falamos assim dos públicos que não
frequentam o museu. Sobre esses públicos, uma boa pesquisa
nos mostra como entender sua ausência e as demandas para
saná-la. Sempre lembrando, é claro, que nenhum museu dá conta
da totalidade de públicos que existem.

Vale lembrar que não existe um “público em geral”, dadas a


diversidade e as especificidades de cada público que existe.

Já as audiências são públicos estimulados pelas próprias ações do


museu, que não chegam de forma espontânea, mas sim por meio
de uma interação com o trabalho educativo e seus profissionais.

Sobre esse assunto, você pode ler:

CAZELLI, Sibele et al. Inclusão social e a audiência estimulada em


um museu de ciência. Museologia & Interdisciplinaridade, v. 4, n. 7,
p. 203-223, 2018. Disponível em: http://periodicos.unb.br/index.
php/museologia/article/view/16780/15062.

MARTINS, Luciana Conrado (org.). Que público é esse? São Paulo:


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com.br/files/uploads/downloads/download_4.pdf.

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o público dos museus no Brasil. Revista do Patrimônio Histórico e
Nacional, Rio de Janeiro, n. 31, p. 184-205, 2005. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/RevPat31_m.pdf.

+ Objetivos
O que você quer com esse projeto ou essa ação? Estabelecer os objetivos
é fundamental para realizar posteriormente a avaliação do projeto ou da
ação. É a partir deles que criamos os indicadores de avaliação. Usamos
verbos no infinitivo e devemos elaborar o objetivo geral e os específicos.

+ Justificativa
Tanto para buscar parceiros quanto para defender institucionalmente
a ideia de um projeto ou uma ação, bem como para fazer o registro
histórico das necessidades ou possibilidades que o projeto ou a ação
apresentam, a justificativa é uma importante etapa da elaboração. Nela
você apresenta a pertinência do projeto ou da ação, dizendo por que ele
precisa ser realizado.

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+ Desenvolvimento
Esse é o momento de discorrer sobre o projeto ou a ação. É uma
ação isolada ou parte de um conjunto? Prevê parcerias ou reuniões?
Desenvolverá produtos ou materiais didáticos? E qual o seu uso? Com
quanto tempo de antecedência precisam ser feitos? Exemplo: roteiros de
visitação, atividades educativas prévias ou posteriores à ação educativa,
guias, livros ou formulários, jogos, objetos mediadores etc. Qual é o
público-alvo? Como será feita a divulgação? É necessário agendamento?

+ Divulgação
Todo projeto ou ação precisa de divulgação para atingir os seus públicos-
alvo. É importante ressaltar que o setor educativo, a equipe ou a
pessoa responsável pelas ações educativas do museu devem procurar,
preferencialmente, dentro ou fora da instituição, os profissionais
adequados para cada função demandante do projeto. Um plano de
divulgação feito por um profissional de comunicação ou com experiência
na área fará toda a diferença para o projeto, além de aliviar as funções
da equipe do educativo, sobrando mais tempo para que esta se dedique
à execução do projeto em si.

+ Cronograma
Pensar cada etapa do projeto, desde a pesquisa até a avaliação, com prazos
e duração das atividades. São exemplos de etapas de um cronograma:
o lançamento de roteiros de visitação temáticos com materiais diversos
que orientem a visitação, produção de folhetos, concepção de oficinas,
pesquisa e elaboração de contação de histórias etc. Algumas dessas
atividades podem se sobrepor na programação de um projeto/uma ação.
Uma boa dica sobre como montar um cronograma é pensá-lo de trás
para frente: pense em quando quer que o evento aconteça e vá incluindo
no cronograma tudo o que é necessário para que ele aconteça, jogando
para trás as datas de início de cada fase de produção e pré-produção.

+ Produtos gerados
Resumo em lista de tudo o que o projeto ou a ação gerará: uma
exposição, uma publicação, um evento etc., conforme apresentado no
desenvolvimento.

+ Registro
Como o projeto será registrado? Com fotos? Relatórios? Entrevistas? Liste
ferramentas e diga onde serão depositados os registros.
Em 2018 foi lançado o Tainacan, uma ferramenta do Wordpress voltada
para a publicação e gestão de coleções digitais, que permite a criação
de bancos de dados e referências. Pode ser utilizado como repositório

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profissional, com a vantagem de ser simples como um blog. Os museus
IBRAM estão paulatinamente disponibilizando seus acervos no Tainacan,
e o Instituto desenvolve o projeto Museologia Digital, que constrói uma
memória da museologia no Brasil, com material multireferencial digital.

Fica a dica!

Para maiores informações acesse o site https://tainacan.org/


e o canal Tainacan no Youtube, https://www.youtube.com/c/
Tainacan/videos. O canal Saber Museu disponibiliza uma playlist
para a criação de acervos digitais.

+ Avaliação
Para cumprir seus objetivos e realizar um trabalho educativo com
qualidade, a etapa da avaliação é imprescindível. Há muitas formas de se
avaliar um projeto ou uma ação.
A avaliação pode ser participativa, utilizando ferramentas como
questionários (impressos ou virtuais), preenchidos logo após as atividades,
ou posteriormente pela internet.
Um profissional da equipe pode ser responsável por fazer um relatório de
avaliação. Produtos como desenhos, vídeos e textos podem ser avaliados
posteriormente à realização da atividade educativa.
O importante é que se criem, anteriormente à execução da atividade
educativa, indicadores de avaliação, como já apresentamos, ligados
aos objetivos do projeto ou da ação. Eles nos dizem se alcançamos
nossos objetivos, quais os pontos positivos e negativos da aplicação das
atividades previstas etc.
Liste as ferramentas de avaliação e não se esqueça de arquivá-las.

Você quer um exemplo?

Se em uma ação seu objetivo é atingir públicos que não participam


das ações educativas com frequência, você pode realizar inscrições
prévias, solicitando informações que verifiquem o perfil de
público dos participantes do projeto ou da ação. Essa informação
pode ser comparada com a do público que efetivamente participa
do projeto ou da ação. Seu indicador de avaliação, nesse caso,
seria a identificação de novos perfis de público participante para
seu projeto.

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Os objetivos mais subjetivos são mais difíceis de serem avaliados.
É fácil verificar se você teve mais participantes em uma ação do
que em outras. Mas é mais difícil, por exemplo, identificar se
uma criança se apropriou de conceitos abordados numa visita
mediada, ou se foram criados laços de afetividade entre visitantes
e o acervo ou os educadores.

Nesses casos é imprescindível que a avaliação seja feita por um


profissional, cuja formação permita realizar análises da produção
ou do discurso dos visitantes, ou mesmo do impacto a longo prazo
que atividades educativas podem ter.

Uma dica importante é: sempre pensar em indicadores de


avaliação que estejam em conformidade com os objetivos
apresentados.

Metodologias de avaliação
Para avaliar a aprendizagem em sentido mais amplo, há uma abordagem proposta
pela professora e pesquisadora Eilean Hooper-Greenhill, pelo Conselho de Museus,
Bibliotecas e Arquivos do Reino Unido, intitulada GLO (Generic Learning Outcomes),
ou, traduzido para o português, Resultados Genéricos de Aprendizado, que vem
sendo muito adotada e sofrendo avaliações e revisões. Trata-se de uma avaliação
que propõe a verificação dos seguintes aprendizados:

1. Conhecimento e compreensão;

2. Habilidades;

3. Valores, atitudes, sentimentos;

4. Criatividade, inspiração, prazer;

5. Comportamento.

Na publicação já citada, Subsídios para elaboração de Planos Museológicos, há um


roteiro para elaboração de indicadores de avaliação (páginas 69 a 71).

Eles são úteis principalmente quando lidamos com questões menos tangíveis, mais
difíceis de mensurar. Nesse caso, estabelecemos alguns conceitos que consideramos
importantes, como relacionamento interpessoal (desejamos que ele melhore), ou
autoestima (desejamos que ela seja reforçada), e começamos a listar quais os sinais
que indicam esses conceitos. Assim como sabemos que 38 graus indicam febre,
sabemos que, se a pessoa está mais feliz, mais participativa, com apresentação

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caprichada, é possível que ela esteja com sua autoestima em “alta”.

Adriana Mortara, no artigo “Estudos de Público: a avaliação de exposição como


instrumento para compreender um processo de comunicação”, apresenta os
indicadores:

• são sinalizadores de processos e resultados relativos a uma dada ação


planejada;

• funcionam como “termômetro” criado para orientar e aferir a observação,


o registro e a avaliação de planos, programas e ações pretendidas;

• são concebidos a partir de parâmetros, padrões e concepções expostas


no plano de ação;

• são definidos com base nos objetivos, nos resultados e nas estratégias
de condução do plano de ação;

• devem ser claros e consensuais, entre todos os participantes/envolvidos.

A autora chama a atenção para o fato de que, em todas as avaliações, são necessários
testes para verificar se os enunciados das questões são adequados, se os resultados
obtidos são satisfatórios, assim como para rever constantemente os indicadores
propostos.

Para refletir

Apresentamos a seguir uma formulação proposta pela educadora


e museóloga Maria Célia de Moura Teixeira Santos, no artigo
Museus e educação: conceitos e métodos, sobre as ideias de
projeto e ação educativa:

O que é um projeto?

Ação ou conjunto de ações educativas com metodologia, conteúdo,


objetivos, justificativas e duração determinados, elaborados por
educadores/setores educativos de museus e demais instituições
que realizam processos museais.

O que é uma ação educativa?

Ação que produz interfaces entre os diferentes processos


museais, tais como a pesquisa, a conservação, a preservação e

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a comunicação, prevenindo a dissociação entre meios e fins nas
ações museais e contribuindo para a integração entre museu e
sociedade.

3.3 – Ação educativa acessível

Planejar e executar projetos, programas e ações que possam contemplar os públicos


em suas demandas e especificidades não é apenas um princípio da Educação Museal.
No que se refere aos públicos com deficiência, trata-se também de uma exigência
legal.

Os dados do censo realizado em 2010, disponíveis na página do Instituto Brasileiro


de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que “quase 46 milhões de brasileiros,
cerca de 24% da população, têm algum grau de dificuldade em pelo menos uma das
habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus), ou possui
deficiência mental/intelectual”. O quadro a seguir nos fornece um panorama dessa
situação.

Porcentagem da população, por tipo e grau de dificuldade e deficiência (Brasil


– 2010)

Fonte: Site do IBGE. Disponível em https://educa.ibge.gov.br/jovens/


conheca-o-brasil/populacao/20551-pessoas-com-deficiencia.html.

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A Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (LBI) e dedicou o capítulo IX ao “Direito à cultura, ao esporte, ao
turismo e ao lazer” afirmando no Art. 42 que a pessoa com deficiência tem direito a
essas instâncias em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, sendo-lhe
garantido o acesso aos bens culturais em formato acessível.

Entretanto, sabemos que nossas instituições culturais ainda encontram muitas


dificuldades em implementar projetos acessíveis, seja pelo desconhecimento, seja
pela falta de recursos ou de profissionais especializados.

Mas essas barreiras precisam ser rompidas, e, assim, recomenda-se a busca de


cursos, consultorias, trabalho em rede, parcerias com associações e ONGs voltadas
ao tema e outras estratégias que possibilitem a adoção de programas educativos
acessíveis.

Peça de divulgação da Live “A pessoa com deficiência intelectual em museus e


equipamentos culturais” da Semana de Formação no Campo da Acessibilidade,
realizado pelo Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, no âmbito do Projeto
Acesso do Museu da Cultura Cearense, em dezembro de 2020

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Sugestão de vídeo: Projeto Acesso | Museu da Cultura Cearense

Capa do e-book Um museu para todos: manual para programas de acessibilidade,


desenvolvido em parceria com a Rede de Museus da Universidade Federal de
Pelotas (UFPel)

Autora: Desirée Nobre Salasar – Editora UFPel

“Sala Experiências do Olhar”, projeto de acessibilidade do Museu do Ingá,


Niterói/RJ, premiado no 10º Prêmio Ibermuseus de Educação. Programa
Ibermuseos

Créditos: Museu do Ingá. Projeto “Sala Experiências do Olhar”

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Obra tátil na exposição “Portinari para todos”, no Museu da Imagem e do Som
– MIS Experience, São Paulo/SP, 2022

Créditos: Dalva de Paula. Fonte: Acervo Pessoal

Esculturas táteis no Museu Lasar Segall/IBRAM, São Paulo, 2019

Créditos: Dalva de Paula. Fonte: Acervo Pessoal

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Fica a dica!

Quer saber mais sobre o assunto e se preparar para realizar


ações educativas acessíveis? Busque informações e formação
nas seguintes instituições:

• INES: Instituto Nacional de Educação de Surdos – http://


portal.mec.gov.br/ines

• IBC: Instituto Benjamin Constant – http://www.ibc.gov.br/

• Fundação Dorina Nowill para cegos – https://www.


fundacaodorina.org.br/

• ABRA: Associação Brasileira de Autismo – http://www.


autismo.org.br/site/

• IBDD: Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com


Deficiência – http://www.ibdd.org.br/

• FBASD: Federação Brasileira das Associações de Síndrome


de Down – http://federacaodown.org.br/

• Vídeos da plataforma Saber Museu que tratam do tema:

• Acessibilidade em Museus: https://youtu.be/j69QcUcFcDI

• Acessibilidade Atitudinal: https://youtu.be/cxbTjUBl2Ls

• Projetos Educativos Inclusivos: https://youtu.be/C6QS1-


uXDgI

• Acessibilidade: https://youtu.be/32N-W2of4R0

Para os curiosos

Quer ter um exemplo de ação educativa acessível?

Faça uma pesquisa com a hashtag #MHNemLibras. Em 2020, o


Museu Histórico Nacional lançou uma campanha online com
um concurso para criação do seu sinal em Língua Brasileira de
Sinais. A campanha contou com vídeos de divulgação acessíveis,
debates no Espaço Educativo Virtual do MHN, edital em Libras
e selecionou, entre propostas de cinco participantes surdos, o
sinal que batizou o museu.

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A plataforma Saber Museu também oferece o curso Acessibilidade
em Museus, você já o fez?

Agora que você já conhece alguns exemplos de ações educativas e possibilidades


para planejamento, registro, avaliação, bem como para a estruturação de equipes
e setores educativos, convidamos você que já atua em um museu a aplicar essas
propostas na prática!

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Referências

Artigos
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Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 128


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