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PESQUISAS E PRÁTICA
PAULETTE MACMANUS
ORGANIZADORES:
MARTHA MARANDINO E LUCIANA MONACO
Educação em Museus: pesquisas e prática
Organizadores: Martha Marandino e Luciana Monaco
Organizadores
Martha Marandino
Luciana Magalhães Monaco
Produção
GEENF - Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Não Formal e Divulgação em
Ciências - Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo - USP
INCTTOX - Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia em Toxinas/CNPq/FAPESP
Faculdade de Educação da USP
Projeto Gráfico
Antonio Quixadá
Revisão de texto
Jorge Alves de Lima
Catalogação na Publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
McManus, Paulette
C837p Educação em museus: pesquisas e prática / Paulette McManus;
organizadoras Martha Marandino e Luciana Monaco.
São Paulo: FEUSP, 2013.
97 p.
ISBN: 978-85-60944-50-7
1. Educação 2. Museus 3. Educação em museus 4. Pesquisa em museus
I. McManus, Paulette II. Marandino, Martha III. Monaco, Luciana. IV. Título
CDD 22ª ED. 371.384
Índice
História dos Museus de Ciência e sua relação com a educação...............8
Educação Formal, Não Formal e Informal e Museus de Ciências...........21
A Função Educativa dos Museus...............................................................26
Aprendizagem em Museus........................................................................33
O Educador e o Museu...............................................................................53
A Comunicação nos Museus......................................................................63
Avaliação e Pesquisa em Educação e Comunicação nos Museus...........77
Oficinas.......................................................................................................90
História dos Museus de
Ciência e sua relação com
a educação
A história da formação dos museus está
ligada prioritariamente a dois fatores: o primeiro é satisfazer a curiosidade ine-
rente ao ser humano, a importância de denominar tudo – o que ainda ocorre
hoje em dia e é muito importante. Em segundo lugar, o objetivo de ter o museu
como algo para o desenvolvimento acadêmico, acompanhado de um sentimento
de orgulho nacional.
Todos nós temos uma necessida- uma criança pequena para que ela os
de inerente de nomear tudo o que está separe. O que a criança fará com isso?
a nossa volta. Você pode observar isso Ela poderá catalogar isso em cores di-
em uma criança: quando ela aponta versas e de maneiras diferentes. Trata-
para um objeto, você logo pergunta o -se de um comportamento fundamen-
nome para que ela possa fazer essa as- tal do ser humano e inerente a todos.
sociação. E a conversa é praticamente Após várias experiências e via-
inexistente quando a nomenclatura de gens pelo mundo todo, as pessoas co-
objetos não está presente e, portanto, meçaram a coletar objetos e, a partir
não se consegue definir as coisas ao daí, alguns museus começam a ser fun-
redor. Para confirmar isso é só pensar: dados. Um exemplo dessa saga, oriun-
após nomear os objetos, temos a ten- da das expedições às colônias e ao
dência de catalogar e categorizar tudo Novo Mundo, é o Fifty River Museum,
isso. em Cambridge, na Inglaterra, onde
Um exemplo: uma mãe, quando está guardada uma coleção de objetos
oferece um pote de botões coloridos a do mundo inteiro.
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Na realidade, o que havia ali era O Oxford University Museum of Na-
um museu que mostrava e simples- tural History foi fundado há 120 anos
mente denominava um determinado para cuidar e expor objetos de zoolo-
objeto e não existia uma categorização gia. Neste museu, apesar do catálogo
dos objetos do mundo inteiro, mas a de algumas coisas e do uso das ideias
ideia disso. Vamos tomar como exem- de Darwin como diretriz para fazer um
plo o bumerangue exposto naquele determinado tipo de categorização,
museu: você o olha, o toca e ali está a coexistiam alguns textos na exposição
denominação daquele objeto. fazendo referência a Deus. Nesse perí-
E há muitos outros exemplos de odo histórico (em referência ao século
museus criados a partir de coleções XIX), ainda nota-se certa confusão para
nacionais ou pessoais. Dentre eles, se categorizar todo o material coleta-
está um museu fundado há 150 anos, do mundo afora. É quando a taxonomia
por uma mulher que pintava aquarelas começa a frutificar, passando a existir
de representações botânicas que fo- uma denominação um pouco mais es-
ram observadas em suas viagens pelos pecífica para os objetos coletados na
continentes. Porém, não existia ainda natureza.
uma preocupação em organizar essas Podemos notar que há uma rela-
coleções de pinturas, talvez apenas al- ção direta entre a formação dos mu-
guma denominação bem simples sobre seus e a exploração do mundo natural
aquilo que ela havia trazido de suas através das expedições e das coloniza-
viagens. ções europeias. Os museus de ciências
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História dos Museus de Ciência e sua relação com a educação
havia alguns objetos (como plantas e até um museu do que ter laboratórios
fósseis, por exemplo), que eram usa- dentro das próprias escolas.
dos para se ensinar a partir deles. E A partir de 1980, o museu se tor-
esse era o máximo de conteúdo em ci- na algo mais convidativo às pessoas,
ências tratado na escola. que passam a ficar mais tempo no mu-
Os educadores começam então seu e, a partir daí, surge a necessida-
a utilizar os museus de ciência para de desses locais possuírem bancos e
ensinar ciência. Porém, mais uma vez, restaurantes, para que essas pessoas
é importante lembrar que o curador possam relaxar. O museu passa a ser
acreditava que aquelas pessoas que uma fonte muito importante para in-
ensinavam essas crianças dentro dos vestimentos ingleses, porque, a partir
museus eram como babás, como seus daí, ele começa a fazer parte da indús-
empregados. tria global de turismo, movimentando
Por exemplo, em Paris, há um e trazendo muitas divisas ao país.
museu de ciências, o Palais de la Cerca de 50 a 60% do público vi-
découverte, construído em 1937. Nele sitante nos museus europeus são tu-
havia, desde sua criação, um teatro e ristas estrangeiros em viagem. Alguns
uma área com laboratórios. Os educa- museus têm adotado como estraté-
dores começaram a levar as crianças gia mostrar os objetos em exposição
para dentro desse museu para aulas de como em uma vitrine de loja. Dentre
ciência. Esses educadores passaram a esses museus, pode-se citar o Picasso
entender que era muito mais barato ir Museum. Essa prática os tornou mu-
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seus muito convidativos às pessoas em fazer avaliações antes de montar as
geral e, especialmente, aos turistas. exposições, um planejamento para que
Aí vem a grande mudança, por- possam observar junto ao público o
que não é mais: “Estamos aqui, venha que eles querem ver, o que eles já sa-
se você quiser”, mas sim: “Venha, en- bem sobre aquilo, o que eles esperam
tre, estamos convidando você a en- de uma exposição em relação àquele
trar no museu!”. Com esse argumento, tema. E, aos educadores, é atribuído
aumenta a influência dos pedagogos esse papel: de realizar o ajuste entre
e educadores, porque agora eles po- o desejo e a expectativa do público e a
dem ter muito mais liberdade para fa- exposição pensada pelo museu.
lar e explicar mais os conteúdos – já Os educadores não são mais sim-
que os curadores não conseguiam ter plesmente babás e a guerra com os
a mesma linguagem e nem se aproxi- curadores começa, pois os curadores
mar do grande público. Os educado- são muito acadêmicos e as pessoas
res sabem como montar a exposição, em geral não conseguem entendê-los.
falam que não é necessário escrever Além disso, os educadores conseguem
uma monografia para falar sobre a ex- mostrar aos curadores a necessidade e
posição e que apenas 50 palavras são a importância de mudar e começam a
suficientes para que o público entenda participar também de decisões gover-
o conteúdo. namentais, de currículos escolares e da
Na Inglaterra e nos Estados Uni- legislação, para que as pessoas possam
dos, eles, os educadores, começam a fazer parte e falar o que é necessário.
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História dos Museus de Ciência e sua relação com a educação
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O sistema formal de educação acabou divul-
gando os museus durante o período entre guerras, num momento em que os de-
safios financeiros para ensinar ciências às crianças eram grandes. Em seguida, o
museu se torna uma ponte ao incentivo à pesquisa e torna-se parte da indústria
do turismo, gerando renda para a população europeia. O museu passa a ser visto
como um ambiente educacional não formal.
A educação formal está consoli- escolha do indivíduo, que chegou até lá
dada hoje e é uma necessidade do ser porque quis; pode até ter havido uma
humano. Você não escolhe nada quan- necessidade, além do interesse, mas
do começa a estudar, quem escolhe é a essa é uma das poucas oportunidades
escola e isso é muito importante para que possuímos hoje: a de trazer o nos-
que se possa ter um conhecimento so próprio conhecimento e aprender a
compartilhado. Mas, antes disso, havia partir daquilo que se encontra no mu-
um aprendizado não formal no qual a seu. Isso é o que o ser humano sempre
pessoa ficava ao lado do mestre, obser- aprendeu antes do sistema educacio-
vando e aprendendo. nal formal em vigência.
Em uma visita ao Museu de Zoo- Vamos falar um pouco sobre
logia da USP, pude observar isso: um a terminologia informal e não for-
pai, uma mãe, suas duas criancinhas mal; na Inglaterra, eles usam o termo
e eles conversando, explicando aos fi- “informal” e aqui usamos o termo
lhos, e isso é muito importante. O que “não formal”. Quando vocês ouvi-
está em jogo nesse momento é a livre rem ou lerem em algum lugar sobre
22
Educação Formal, Não Formal e Informal e Museus de Ciências
aprendizagem informal, isso não faz tudo isso pode ser observado quando
sentido; na realidade, o que existe é se visitam alguns desses sítios. Então,
um ambiente informal de educação – e lembre-se: o museu não é o único am-
todos nós sabemos que não será num biente educacional informal; portanto,
ambiente formal, como a escola, que não fique somente dentro dos próprios
aprenderemos a maioria das coisas museus.
durante a nossa vida: isso realmente Em resumo, os educadores e os
ocorrerá em ambientes informais. profissionais de museus têm que en-
Entre alguns exemplos de am- tender que esses espaços são utiliza-
bientes educacionais informais está o dos como acessórios para o processo
caso da cidade de Valência, na Espa- formal educativo, mas que eles não
nha, onde existem muitas escavações têm este papel fundamental, embo-
no meio das ruas, com pôsteres ex- ra muitas vezes o museu precise dis-
plicativos para que os pedestres pos- so para ganhar mais dinheiro para
sam ler e entender o que aconteceu e se estruturar melhor. É importante
conhecer um pouco mais sobre a his- entender que o museu deve ser per-
tória da sua cidade. Outro exemplo é cebido como um lugar onde é possí-
um porto antigo em Roma, com seus vel se ter a livre opção de se chegar
ambientes e estruturas herdadas do lá e aprender. A partir desse movi-
passado, da época medieval, quando mento, há um tipo de aprendizagem
os indivíduos se organizavam em fun- para aquela pessoa que teve a atitude
ção das suas necessidades, sendo que de ir até o museu.
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O ser humano tem a tendência em rá abordar de modo informal porque
categorizar tudo e não o faz simples- ninguém faz opção do que se estudar
mente através de meras categorias, quando frequenta o ensino formal.
mas inclui uma gama de especificida- Quando os alunos vão ao mu-
des ao fazê-lo. Ao pensar em educação seu, dentro do ônibus o professor já
formal ou educação fora das escolas fala: “Vocês vão fazer essas atividades,
não importa muito a maneira como dessa e desta maneira”. Os alunos, ao
isso vai ser classificado. O importante chegarem lá, estão loucos para termi-
é entender o museu como local onde nar a atividade, pois eles sabem que te-
o curador coleta os objetos, o conser- rão um tempinho livre e aí sim eles vão
vador conserva aqueles objetos e tudo circular pelo museu e olhar o que eles
isso será exposto e, portanto, o museu querem.
e a exposição têm que ser visto como A educação informal é funda-
uma mídia. Como a televisão é uma mí- mental, pois essa formação ajuda as
dia, a exposição e o museu também o pessoas a pensar, traz autonomia e faz
são. com que tenham uma compreensão
Como definir a educação infor- do todo, traz uma conscientização, ou
mal e a não formal? A educação infor- seja, permite que as pessoas consigam
mal pode ser entendida como um tipo entender que não há só “preto e bran-
de mídia da educação, uma maneira de co”, mas há áreas acinzentadas e nem
destrinchar determinados conteúdos e tudo é tão claro assim. Há também va-
abordagens que a escola jamais pode- lores intrínsecos, ou seja, as pessoas
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Educação Formal, Não Formal e Informal e Museus de Ciências
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Aprendizagem
em Museus
Nesse momento, é importante pensar no aprendizado e res-
ponder a uma pergunta: o aprendizado, o processo de aprendizagem, é um pro-
cesso dinâmico ou simplesmente um produto que ocorre ao final? É vital pensar
na aprendizagem – e durante esse exercício é necessário refletir como ela ocorre
processualmente.
Quando o conhecimento é es- que seja. Então, eles sabem que há
tranho, até mesmo nosso corpo rea- muito para aprender na cultura huma-
ge e pode tornar difícil o processo de na, mas a pergunta é: “Seria possível
aprendizagem. Isso pode ser aplicado compartilhar o que esses teóricos es-
aos museus. Quando se está em um pecialistas dizem e não se tornar um
grupo e se quer aprender alguma coi- especialista você mesmo?”.
sa difícil, essa dificuldade nos põe em Os especialistas estão sem-
contato com outras pessoas dentro do pre tentando passar tudo o que eles
grupo. Por exemplo, quando a opinião sabem, toda a experiência de desco-
do outro é diferente da minha pode ha- bertas, mas é essencial que se pas-
ver uma troca de ideias que me desafia se a ter uma visão geral dos aspectos
a aprender. importantes. Por exemplo, um cien-
Outra coisa a se lembrar é que tista é um observador, o historiador
muitos especialistas acabaram se tor- analisa documentos e assim há uma
nando pessoas que sabem muito a res- tendência a tipos de comportamento
peito de um assunto específico, como que são importantes em cada especia-
biologia e astronomia ou o que quer lidade.
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Aprendizagem em Museus
da exposição. Ainda durante o proces- fala: “Olha, que legal! Isso é muito ba-
so de planejamento, deve ser feita uma cana, gostei disso!”. Porém, entender
avaliação para que se possa entender o esses aspectos ligados à aprendizagem
que as pessoas entendem sobre aquela é muito mais complexo, não é simples-
ideia que será exposta, o que elas já sa- mente como a pessoa se sente em rela-
bem, o que elas querem aprender sobre ção a algo, mas o sistema de valores em
aquela ideia, além de fazer a avaliação jogo e como ela lida com esse sistema.
da linguagem. Entender que tudo isso Como no exemplo de treinar um
servirá como apoio à atividade que as médico e perguntar a ele: “Se um pa-
pessoas usufruirão dentro do museu. ciente chegar aqui bem machucado e
Tudo isso é papel do departamento de ele não tiver dinheiro, você iria cuidar
educação e aprendizagem contínua. desse paciente?”. Nisso, se está testan-
Quanto às pesquisas de público, do o sistema de valores de um médico.
é importante entender que elas serão Outra pergunta a ser feita quan-
utilizadas em longo prazo. E, quando do se pensa em dimensão afetiva é:
essas pesquisas forem feitas, não se “Como você priorizaria tudo isso? Qual
pode prescindir de explorar as três di- a importância da exposição em rela-
mensões: a cognitiva, a afetiva e a ati- ção a sua vida?”. Portanto, essa dimen-
tudinal. são é muito mais complexa e, muitas
Cognitiva é justamente perguntar vezes, a literatura mostra algo muito
às pessoas: “O que você entendeu dessa superficial e simples para descrever
exposição?” A afetiva é quando alguém essa dimensão. A dimensão afetiva é,
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na realidade, como cada indivíduo dá Portanto, nesse momento, pode-
valor para aquilo que já sabe. -se observar que o sistema de valores
Quando fui chamada para fazer está presente e que a pessoa demons-
uma pesquisa de público numa expo- tra estar preocupada em se defender
sição de energia atômica, claro que a e não se expor a energia nuclear, mes-
primeira pergunta foi: “O que vocês mo porque essa pesquisa foi feita logo
entenderam sobre essa exposição?”. após o acidente de Chernobyl.
“Qual o assunto dessa exposição?”. E O sistema de valores da pes-
todos sabiam: essa era a dimensão soa fica representado no momento
cognitiva – quanto a isso não havia dú- em que diz: “Será que o preço baixo
vida nenhuma. vale a pena para esse tipo energia nas
Mas quando a pergunta mudou nossas casas?”. A dimensão cogniti-
para: “O que vocês sentem a respei- va é tudo o que público não entendia
to de energia atômica?”. As pessoas ao visitar a exposição e que se tornou
responderam: “Eu sei que é mais muito claro ao passar por ela. Porém,
barato, mas será que vale a pena, as dúvidas acerca de conteúdo podem
será que essa alternativa é boa?”. ser expressas como parte da dimen-
“Na realidade, eu quero saber são afetiva: “Será que tudo isso vale a
onde estão esses reatores atômicos, pena?” – fica evidente que o indivíduo
porque eu quero morar bem longe quer se proteger dessa possibilidade. E
desse lugar, não quero nem vestígio a resposta que se pretende obter não
disso”. é simplesmente um “Ah! foi legal” ou
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Aprendizagem em Museus
“Eu não gostei”. Mas realmente com- No início do século XX, o teste
preender qual a atitude das pessoas de inteligência3 ganhou destaque, por
perante aquele novo aprendizado. meio das ideias de Alfred Binet, psi-
Na verdade, não havia nada na cólogo francês que teve como tarefa
exposição falando sobre os perigos indicar ao governo francês as crian-
da energia nuclear; mas, como aque- ças que valiam mais a pena investir
las pessoas haviam vivenciado recen- financeiramente, ou seja, aquelas que
temente o episódio do acidente nu- apresentassem QI mais elevado, e, com
clear e o problema das chuvas tóxicas isso, economizar dinheiro. A partir de
que infectaram parte da Inglaterra, testes de lógica e da área verbal, esse
então, o próprio impacto da informa- critério artificial, que dividiu as crian-
ção que a pessoa tem de dentro da ças em mais ou menos inteligentes,
cultura acabou sendo evidenciado, durou 50 anos.
3 Durante o século XX, superdotado foi
bem como os valores ficaram claros na
sinônimo de ser capaz de decorar conteúdos
avaliação. enciclopédicos ou resolver enunciados
complexos. Os esforços para avaliar a
Porém, nem sempre a avaliação inteligência a partir de testes ganharam
destaque com as ideias de Alfred Binet nos
da aprendizagem se apoiou nesses pa-
anos 1900, quando as autoridades francesas
râmetros: durante muito tempo, em pediram que ele criasse um instrumento
capaz de prever quais crianças teriam sucesso
toda a Europa, os testes foram con- nos liceus parisienses. Foi então que a escala
de inteligência, com 30 tarefas mentais
cebidos para medir inteligência ba-
graduadas em função da idade, mostrou que o
seados exclusivamente em critérios desenvolvimento da criança poderia ser igual
ao das colegas, atrasado ou adiantado. Essa
quantitativos. escala métrica deu origem ao conhecido teste
Quociente de Inteligência, o QI. 43
E mesmo na Inglaterra havia es- quando estudava educação em artes,
colas com currículos completamente recebeu apoio financeiro de patroci-
diferentes para crianças mais inteli- nadores que queriam estudar habili-
gentes e para as menos inteligentes. dades e como mensurá-las. A partir
Quando a criança alcançava 11 anos dessa pesquisa, ele criou, em 1983, a
de idade, ela fazia um teste para que ideia das inteligências múltiplas. Con-
pudesse ser encaminhada a um tipo tudo, o trabalho dele não se baseia em
de escola mais adequada ao resultado nenhum estudo empírico. E, por isso,
da sua avaliação. atualmente, muitos psicólogos e pes-
Todo esse processo foi mui- quisadores estão começando a criticar
to dolorido para várias pessoas que e a discordar dessa teoria.
viviam na Inglaterra durante esse pe- Para Gardner, a inteligência não
ríodo: elas não tinham sucesso por- está baseada num QI específico, como
que se dizia que foram muito ruins anteriormente se acreditava, mas que
na escola, pois eram menos inteligen- haveria vários potenciais de motivação
tes. Isso acorreu em vários países de para que a pessoa pudesse desenvol-
língua oficial inglesa. verbal, inteligência lógica/matemática,
inteligência interpessoal, inteligência
Já, em 1980, Howard Gardner4, intrapessoal e inteligência corporal/
4 Howard Gardner: psicólogo cognitivista cinestética). Após a publicação de Estruturas da
e educacional, nascido nos Estados Unidos. Mente, Gardner propôs duas novas dimensões
Sua principal publicação é o livro Estruturas de inteligência: a inteligência naturalista
da Mente, de 1983, no qual descreve sete e a inteligência existencialista. Os testes
dimensões da inteligência (inteligência visual/ tradicionais de inteligência consideram apenas
espacial, inteligência musical, inteligência as inteligências verbal e a lógica/matemática.
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Aprendizagem em Museus
ver sua inteligência. A teoria se baseia e cada vez mais compreender sobre
no intelecto da pessoa. Ele acreditava essa inteligência musical.
que a inteligência da pessoa se relacio- A quarta é a espacial, que pode
na muito com o tipo de cultura em que ser observada, por exemplo, num
ela vive. Sua teoria foi influenciada por grande velejador, alguém que joga xa-
filósofos que estavam em voga na épo- drez, um arquiteto, um cirurgião – e
ca e a aprendizagem era vista como um espera-se que ele tenha uma boa noção
objeto e não como um processo. de espaço! A quinta é a corporal ou si-
Em seu trabalho, Gardner desen- nestésica e pode ser reconhecida num
volve sete inteligências e isso pode ser atleta, aquela pessoa que tem total no-
algo muito útil quando se quer estu- ção do seu corpo e do que pode fazer
dar a diversidade humana. A primeira com ele, bem como as suas dimensões.
é a linguística ou a verbal. A segunda A sexta inteligência é a interpes-
inteligência é a lógica ou inteligência soal e pode ser notada num professor e
matemática. Um exemplo desse tipo até mesmo num vendedor: nas pesso-
seria um cientista que teria uma inte- as que sabem lidar bem com as outras.
ligência muito maior em relação à in- A sétima é a inteligência intrapessoal,
formação matemática. A terceira é a que se encerra numa pessoa que con-
inteligência musical, que pode ser vis- segue entender bem a si mesma, enten-
ta em maestros e compositores ou até der seu comportamento. Na sociedade
mesmo num colecionador, pessoas que individualista na qual vivemos, isso é
passam algum tempo tentando refinar eficaz porque precisamos ser autôno-
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mos, críticos, independentes. Então, pode focar em uma exposição específi-
essa necessidade de refletir e entender ca, pensando naqueles que têm inteli-
quem somos é muito bem-vinda. gência musical, corporal, espacial, por-
Gardner foi chamado para parti- que se acaba segregando essas pessoas
cipar em várias conferências pelo mun- e se precisa partir do princípio de que
do para falar sobre essa teoria. E, mais todos têm certo nível de inteligência
tarde ele inventou mais duas – a oitava em todas essas áreas.
é a inteligência inventiva ou naturalis- Em se tratando de teorias de
ta. Ele abordava esse tema falando da aprendizagem, a primeira a ser desta-
habilidade que as pessoas têm de re- cada é o behaviorismo ou o compor-
solver um problema, valorizando aqui- tamentalismo. Ela teve início no meio
lo na cultura na qual se está submer- do século XX e foi caracterizada como
so. Todos têm essa habilidade, de uma resposta a determinados estímulos.
maneira ou de outra. Por exemplo, tome-se uma criança, ao
Talvez se tenha mais de uma ha- atravessar a rua. O sinal está aberto, os
bilidade, porque fomos mais expostos carros estão passando e ela atravessa.
aquilo e tudo depende da nossa heran- A mãe puxa a criança e a repreende fi-
ça cultural e genética; mas, para o mu- sicamente. Isso é uma resposta a um
seu, o que é importante observar são estímulo.
os indivíduos – a individualidade de Nos museus norte-americanos,
cada um deve ser levada em conta. os avaliadores, em meados do século
A partir dessa perspectiva, se XX, eram behavioristas; então, se pode
46
Aprendizagem em Museus
ta uma concepção dualista: uma pes- muito difícil o psicólogo aplicar esse
soa introvertida ou extrovertida, neu- tipo de teste, levava muito tempo e, ao
rótica ou estável. Isso sempre foi muito final, definiram-se 4 personalidades:
atraente para todos, porque sempre o • A pessoa é introvertida ou extro-
ser humano está tentando fazer uma vertida, ou seja, ela está olhando para
relação entre as coisas. o seu interior ou exterior
Jung apresentou suas ideias em • A pessoa é insensível ou intuiti-
1920, mas, em 1962, uma mulher, len- va
do os seus livros, ficou fascinada com • A pessoa é pensante ou mais
as suas teorias e, junto com uma aluna, emocional
criou os 16 tipos de personalidade. E, • A pessoa julga ou percebe o seu
a partir disso, vieram os testes de meio em relação ao seu estilo de vida
personalidade. Eles se transforma- Isso foi muito interessante
ram numa grande indústria de fazer para as pessoas, pois puderam com-
dinheiro: não têm nenhum emba- preender melhor a ação das demais
samento teórico. Hoje em dia, para pessoas, o comportamento delas a par-
aplicar qualquer teste de personali- tir de suas personalidades.
dade é preciso pagar royalties para Outra abordagem foi trazida por
essa Fundação, dona desse tipo de David Kolb, um psicólogo norte-ame-
teste. ricano que falou um pouco mais sobre
As 16 personalidades não eram essas teorias de aprendizagem. Ele
algo muito fácil de comercializar. Era observou outro aspecto, ainda pouco
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explorado, que diz respeito à maneira tenta vários tipos de comunicação até
como as pessoas dentro de um museu resolver o problema.
passam por várias etapas durante a O segundo é o aprendiz imagi-
visita, ou seja, elas absorvem ideias, nativo, aquele que pede para alguém
refletem e divergem sobre aquelas explicar como resolver o problema e
ideias. E, a partir daí, ele elaborou al- observa o que aquela pessoa está fa-
guns testes de aprendizagem que são zendo. O terceiro é o aprendiz ana-
muito utilizados em museus nos EUA. lítico, que analisa o problema e tenta
Houve uma tentativa de se incluir desenvolver uma teoria para depois
esse método também nas escolas, mas resolver o problema em si. O terceiro é
os educadores logo perceberam que o aprendiz de sentido comum, que vai
não era muito interessante definir as atrás de um manual no computador,
pessoas dessa maneira, porque acaba o consulta em sua tela, obtém informa-
sendo algo incômodo falar sobre os re- ções instrutivas e, assim, desenvolve
sultados. Kolb define os vários tipos de o problema e o resolve.
aprendizes em 4 tipos de aprendiza- Um modelo deste teste poderia
gem. Essas aprendizagens foram base- conter as seguintes frases: “Eu gosto
adas em como as pessoas resolveriam de lidar com meus sentimentos”, “Eu
alguns tipos de problemas no compu- prefiro aprender, aprender quando
tador. O primeiro é o aprendiz expe- posso ser intuitivo”, “Eu tenho um sen-
rimental, aquele que, quando tem um timento muito forte, uma reação muito
problema, fica tentando ali no teclado, forte em relação a algo específico”. E
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Aprendizagem em Museus
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O Educador e o Museu
O objetivo de um educador é disseminar os valores
culturais também; e a atividade do educador envolve muito mais do que sim-
plesmente interpretar. Já o curador tem o dever de pesquisar e disseminar infor-
mação. Antigamente, o curador era como um rei, o que, de certa forma, explica
a postura do curador frente às demandas educativas atuais e, nessas relações, o
conservador faz o mínimo do trabalho e o educador vai muito mais além da sim-
ples interpretação. É importante problematizar essas questões, porque hoje os
museus precisam de pessoas do marketing, diretores educativos e, mais uma vez,
onde fica o papel do curador nesse museu moderno? Talvez um curador tenha
que ser multifuncional, para poder se adequar a esse novo museu.
“Eu deveria saber qual público até o museu e isso não faça parte do
está entrando no meu museu?”. Se, pela currículo escolar delas – não importa;
manhã, são alunos, então provavel- se tem alunos chegando, você tem que
mente você está falando de educação oferecer a eles algum tipo de educação
formal. Se, mais tarde, outras pessoas informal.
vão ver as mesmas coleções, mas são A informalidade e a formalidade
senhoras, então você não está falando estão nos públicos e não na forma
mais sobre educação formal, mas sim como esses públicos são abordados.
informal. Então, o importante nessa Numa sala de aula em que há um tra-
questão é se você está se perguntando balho a ser feito, todos estão em um
qual tipo de pessoa você vai receber? ambiente formal; já nos museus, o pú-
Mesmo que essas pessoas estejam indo blico espontâneo está ali simplesmente
54
O Educador e o Museu
professores. Garantir que eles andem e se formando nas escolas sem solucio-
pelo museu com esses grupinhos é um nar esse problema.
facilitador na aprendizagem. Alguns projetos científicos têm
Outro ponto refere-se à boa dis- dado muito dinheiro para universi-
tribuição do tempo disponível entre dades, com o objetivo de entender
as atividades que o educador está pro- como se dá o aprendizado dentro dos
pondo e a visita livre: o tempo deve ser museus. Isso parece ser uma desculpa
o mesmo para que possam andar livre- para que haja certas “oportunidades
mente, tendo uma experiência educa- para os doutorandos” nas quais se inje-
cional formal, e, depois, ter a sua ex- tam muito dinheiro para suas pesqui-
periência educacional informal. sas. Mas, a verdade é que os educa-
Os profissionais ingleses que dores dentro dos museus ainda não ti-
trabalham com educação formal ten- veram tempo para entender como isso
tam aproveitar ao máximo o que as realmente ocorre.
crianças estão aprendendo dentro do Esses museus de interatividade
museu, pois as escolas na Inglaterra podem até ser um caminho para que
não estão sendo muito bem sucedi- os educadores nas escolas possam en-
das em sua função primordial. De to- tender como crianças aprendem. Mas
dos os alunos formados, 20% não são isso jamais será levado até as escolas;
realmente alfabetizados, pois não con- então, isso acaba sendo utópico. Talvez
seguem ler nem escrever. Assim, eles a diferença entre os dois ambientes
acabam concluindo os anos de estudos seja a motivação dentro do ambiente
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informal quando as pessoas estão ali car nisso pra desenvolver algo que
aprendendo. o público em geral vai conseguir
O que se observa é que essa área absorver. O papel primordial dos edu-
de conhecimento ainda não está muito cadores de museus está em entender
clara, muito definida. Em uma reunião que o que eles fazem é comunicar a
com outros avaliadores de museu e edu- importância de sua cultura. Uma per-
cadores, no final houve a pergunta: “O gunta que todos devem fazer-se é:
que devemos fazer?”. Esses profissionais “Qual é a motivação?”. Para que se pos-
começaram a falar o que os museus sa planejar bem as atividades, deve-se
deveriam fazer e que, a partir de ago- considerá-las como aquelas que comu-
ra, eles deveriam tomar determinado nicam e ajudam aos outros a descobrir
rumo em relação à escola. E nós disse- partes de sua cultura, já que todos vêm
mos: “Nós não vamos fazer isso porque de áreas completamente diferentes,
não somos o ‘band-aid’ dessas escolas, mas estão todos lidando com suas
que não estão conseguindo fazer o que próprias culturas.
devem; não vamos resolver o problema
de vocês, não vamos suprir algo que
vocês não estão conseguindo fazer”.
Existe muita energia, muita mo-
tivação entre os educadores de mu-
seus; eles devem se empenhar em
captar todos os seus recursos e fo-
62
A Comunicação
nos Museus
Nos jornais, ao abri-los, primeiro aparecem os títulos para intro-
duzir o tema. Analogamente, quando alguém chega a uma exposição, ele sabe
o tema em geral, mas não sabe de que maneira aquilo vai ser abordado. Assim,
deve haver algum tipo de título que possa introduzir o assunto à pessoa, para
que ela possa ter uma comunicação com a exposição.
Um dos modelos de comunicação meus estudos e pesquisas, me baseio
que os psicólogos usam foi tirado do muito nesse ponto. Ambos os sujeitos
modelo de Alexander Graham Bell, in- estão trabalhando na mesma direção
ventor do telefone, e era o mesmo que para que possam compreender a men-
o telégrafo utilizava – e que não deve sagem.
ser copiado, pois, em situações reais, No primeiro modelo de comuni-
não funciona. Segundo esse modelo, a cação, o emissor é dono da mensagem
mensagem simplesmente é um objeto, e ele precisa se perguntar o que quer
o emissor pensa naquilo, envia a men- falar antes de passar essa mensagem
sagem para o receptor e o receptor tem adiante. Em um museu, as pessoas têm
que entender aquilo e pronto, acabou. um conhecimento muito grande sobre
Em outro modelo, já é um pouco vários assuntos, elas são especialistas
diferente, porque há o objetivo comum, em determinados temas, e, por conse-
tanto do emissor, de que a pessoa en- guinte, não conseguem direcionar bem
tenda aquilo que ele está pensando, a mensagem que irão transmitir.
como do receptor em entender aquilo Por exemplo, em um museu no
que a outra pessoa está pensando. Em qual o foco são os dinossauros, há uma
64
A Comunicação nos Museus
área para explicar os hábitos alimen- “Ah, vamos falar então agora sobre
tares daqueles animais, aí o curador isso”, para que tudo seja bem discipli-
diz “Bom, então vamos falar um pouco nado e direcionado.
sobre os dentes desses dinossauros” e Outro ponto a ser destacado é
explica sobre dentes, mandíbulas e os- que os textos e as etiquetas estejam
sos e, na verdade, não há um direcio- ali para ajudar; por exemplo, os pais
namento, de modo que a pessoa que que estão ali com seus filhos – e que
está ali, vendo isso tudo, não entende às vezes não sabem sobre determina-
muito bem o que o museu realmente dos assuntos – e o filho fala: “Mas, pai
está querendo comunicar. Portanto, o que é isso?”. Aquela etiqueta estará
as pessoas que trabalham no museu, ajudando ao pai a entender e explicar
os educadores, são muito importantes ao filho. Por isso é importante saber se
e devem saber disciplinar a maneira disciplinar quando estiver informando
como pensar a comunicação, entender algo a uma pessoa.
o que está sendo comunicado e saber Assim sendo, para comunicar, de-
o que elas querem transmitir para os vemos pensar:
visitantes. O que eu quero dizer?
Isso deve estar muito claro tam- Com quem eu estou falando?
bém no briefing, antes de iniciar o pro- Eu estou alcançando a pessoa?
jeto da exposição, para que, quando A pessoa está me compreendendo?
ele estiver em andamento, ninguém Quem está falando comigo? Estão
chegue sempre com uma nova ideia: falando a respeito do quê?
65
O que estou abordando a respeito de optar em acreditar nisso como um
daquele tema? todo, por completo ou não. Por exem-
A motivação que levou a pessoa plo, em uma atividade de pesquisa no
até o museu não deve ser direcionada Victoria and Albert Museum, na qual
para que, ao entrar, ela pense: “Ah eu é pedido às pessoas que descrevam
vou sair daqui sabendo muito sobre como imaginam ser os profissionais
esse tema, eu quero aprender muito”. que formulam as etiquetas do museu;
Na realidade, ela está ali com seus ami- esses profissionais sempre são descri-
gos, seus familiares, para aprender um tos como grandes conhecedoras, mas
pouco, talvez saber algumas palavras não como pessoas muito interessan-
a respeito daquele tema. A pessoa vai tes. Daí a importância de produzir uma
ficar lá durante uma hora, uma hora e mensagem que faça sentido para as
meia, e o objetivo realmente é o prazer pessoas.
daquele passeio e o tempo que estará Quando o visitante chega para
dentro do museu. Ela terá uma impres- ver uma exposição, ele sofre influên-
são específica sobre aquele espaço; cia da expectativa que teve anterior-
então, é importante que isso seja abor- mente à visita. Em algumas pesquisas,
dado. em Londres, observaram que, quando
As pessoas sempre têm uma im- eles perguntam à pessoa “O que lhe
pressão – ou dão uma autoridade ao trouxe aqui? O que levou você a vir
museu. Por isso, é muito importan- a este museu?”, muitos respondem:
te que a pessoa tenha a possibilidade “Bom, isso aqui na realidade é só um
66
A Comunicação nos Museus
passeio com a família, algo legal de fa- maneira: “Eu só estou museando”. E,
zer com a família, com filhos, estamos muitas vezes, como esse museu fica
aqui simplesmente por essa razão”. Ou- junto a outros dois museus, a pessoa
tros dizem “por lazer” ou mesmo “Bom, não sabe, dentro do V&A, em qual
eu vim aqui porque eu ouvi dizer que museu está; ela fica confusa. Cerca
esse museu é muito famoso, então eu de 6 milhões de pessoas visitam o
vim visitar o museu” ou, ainda, “E é V&A por ano.
bom para as crianças também porque O resultado de uma pesquisa
culturalmente a gente precisa visitar sobre a razão pela qual as pessoas
museus, então estamos aqui”. vão ao museu indicou que somen-
Não devemos escrever coisas te 20% vão lá com interesse em
muito técnicas, porque somente 17% realmente aprender sobre aquilo
dos visitantes têm algum tipo de inte- que está sendo exposto; 22%, para
resse científico nesses museus de ciên- curtir o passeio; outros 20%, sim-
cias. As pessoas não vão ter esse tipo plesmente vão por interesse não es-
de interesse como os especialistas. pecífico, mas para conhecer a expo-
Cerca de 20% das pessoas que sição. Cerca de 18% vão por algum
visitam o Victoria and Albert Museum aspecto específico daquele museu,
(V&A), ao serem perguntadas “Por que mas não necessariamente da exposi-
vocês estão aqui?”, elas usam um ter- ção. E, ainda uma porcentagem que
mo em inglês, um jargão que eles aca- vai até lá sem nenhuma pretensão
baram criando, que se diz da seguinte explícita.
67
Portanto, é muito importante sagem e acreditar que essa mensagem
saber como atrair essas pessoas e sa- vai chegar a alguém. Por isso, a impor-
ber abordar a exposição, para que elas tância de pesquisas preliminares, de
possam então conseguir aprender perguntar para as pessoas o que elas
bastante naquela exposição, de uma entendem, o quanto elas querem en-
maneira que não sejam estudantes, tender a respeito daquilo, e perguntar
porque elas não estão ali para serem se você está comunicando aquilo que
alunos, para aprender. aquela pessoa demonstrou estar inte-
Para comunicar, é necessário ressada. E quando a pessoa está rece-
considerar que existe um relaciona- bendo uma mensagem, nesse relacio-
mento no qual não há um emissor es- namento, a pessoa está se questionan-
pecífico e nem uma unidade isolada, do: “Será que eu quero absorver essa
mas há uma interatividade e, com isso, mensagem?”. E o que ela responder vai
a importância de compreender como depender do histórico de suas experi-
essa mensagem é enviada. Sim, exis- ências e do conhecimento dela.
te o autor, o emissor se relacionando O momento no qual a mensagem
com a mensagem e, depois, o receptor é passada e que uma pessoa a absor-
se relacionando com a mensagem e, a ve é um processo que pode durar cin-
partir daí, ambos estão tentando com- co minutos; mas, às vezes, no museu,
preender e entender. demoram-se anos para que outra pes-
A pessoa não pode simplesmen- soa chegue até lá e tenha contato com
te pensar na mensagem, enviar a men- essa mensagem que já foi enviada.
68
A Comunicação nos Museus
conversas. Este fato foi observado nos difícil à leitura, os pais acabam inven-
Estados Unidos, na Alemanha, no Ca- tando. Por isso, é tão necessário ajudar
nadá e na França; portanto, as palavras os visitantes a ter uma leitura rápida,
têm vida. As palavras acabam sendo para que possam selecionar aquilo que
inseridas dentro da mente dessas pes- está sendo mostrado. Portanto, antes
soas, para que elas possam, mais tar- de começar a escrever as etiquetas ou
de, utilizá-las, que também ocorre com os painéis, é importante, de novo, res-
adultos que acabam lendo essas eti- ponder aquelas perguntas do proces-
quetas para as crianças. so de comunicação e, se isso for feito,
Por esta razão, é tão importante tudo correrá bem, com certeza.
propiciar aos visitantes o acesso a esse Primeiro, é preciso saber tudo so-
texto; eles nunca vão ler tudo, pois é bre o tema em questão, utilizar títulos
certo que umas pessoas vão ler uma específicos para exposição; por exem-
parte e algumas lerão outra parte. As- plo, se for falar sobre pulgas e se de-
sim, os textos precisam ser organiza- cide que vão falar sobre como as pul-
dos de tal maneira que facilitem a leitu- gas pulam, um título como: “Como as
ra e que possam ser lidos rapidamente, pulgas pulam?” já seria bem específico.
utilizando tipografias diferentes. Não se devem utilizar jargões!
Muitas vezes, as crianças questio- Outro ponto: o título preci-
nam os pais sobre os diversos assun- sa atrair a atenção das pessoas para
tos de uma exposição. Se as etiquetas que entendam o que será apresen-
estiverem preparadas de uma maneira tado na exposição. E, depois, há a
71
necessidade de se ter um painel de dentro do contexto da exposição.
introdução, entre 20 e 300 palavras, Em relação ao tamanho e à tipolo-
localizado adequadamente, para que gia da letra, é sempre interessante tes-
todos possam ler. tar em pessoas que tenham certa difi-
Por exemplo, quando uma pessoa culdade de visão, não necessariamente
está entrando em um local, muitas ve- um deficiente visual, mas uma pessoa
zes o painel de introdução é colocado que tenha dificuldade visual, para ob-
muito próximo à entrada e, por isso, servar algum painel. Se eles consegui-
ninguém o observa, ninguém lê nada e rem ler aquilo, com aquele tamanho de
simplesmente todos passam reto. letra, então o tamanho está adequado.
É mais interessante utilizar pou- O preto no branco e o preto no
cas palavras, conseguir simplesmente, creme sempre têm que ser usados.
em poucas palavras, passar, de ime- Há, em várias exposições, a tentativa
diato, a ideia ao leitor. Nos Estados de usar o transparente; parece que
Unidos, há estudos que dizem espe- se quer que o painel fique invisível!
cificamente que há a necessidade de A pessoa acaba fazendo sombra e fica
se utilizar 10 palavras aqui, 20 pala- muito difícil ler esse tipo de painel. É
vras aqui, etc. Cada um deve se sentir interessante também o museu ter o
à vontade para utilizar 20 palavras e estilo da casa, uma tipologia sempre
acreditar que essa é a melhor manei- usada pelo museu, um mesmo tama-
ra; o importante é entender que se está nho de letra, a introdução daquele
passando uma ideia nessa introdução, painel sempre no mesmo lugar etc.;
72
A Comunicação nos Museus
as pessoas vão entrar e vão saber onde com cerca de 20 a 150 palavras, e, de-
aquele painel (de introdução) está. pois, a descrição do objeto que está
Em relação à avaliação da lin- sendo exposto. Os museus que captam
guagem, não faz muito sentido contar esse arranjo tornam-se muito interes-
a linguagem como algo numérico, isso santes.
realmente é algo do sistema norte- As datas são também um fator
-americano, só eles fazem isso, isso é relevante num texto expositivo, já que,
algo experimental, eles tentam proces- muitas vezes, as pessoas procuram por
sar a linguagem dentro do computador, elas quando estão lendo sobre uma
eles tentam dar notas para cada frase, peça específica. Algumas pesquisas
isso realmente não deve ser feito. Eles indicam que as pessoas, quando estão
utilizam essa maneira para avaliar se num museu de história, estão sempre
uma pessoa de quinze anos ou doze buscando datas. Parecem que estão or-
anos de idade conseguiria ver aquilo. ganizando, em suas próprias mentes,
Alguns resumos de pesquisas de cien- essas informações obtidas em relação
tistas poderiam passar nesse teste, por às datas, para organizar também as
terem palavras pequenas, bem curtas, suas ideias, as informações e os conhe-
e poucas palavras por frases. E isso cimentos prévios.
não faria sentido nenhum. É importante notar que, ao expor
Primeiro deve vir o título da ex- essa data, deve-se considerar como o
posição, seguido pelo painel, que pode público irá absorvê-la. Pode ser que a
ser de uma seção ou de uma vitrine, data tenha algum tipo de associação
73
específica como o Sete de Setembro ou não é o assunto central. Focar naquele
a qualquer outro evento significativo assunto exposto, logo no começo com o
para as pessoas. painel de introdução, deve ser a regra.
Um conselho: quando estiver es- Por exemplo, uma placa de mu-
crevendo etiquetas, faça-o como se seu que diz: “Bom, aqui você não pode
estivesse falando para alguém. Faça fazer isso, não pode fazer aquilo, não
esse exercício com o pai, com a mãe, pode tirar foto, não pode fazer nada!”.
com o amigo, explicando aquilo que Na verdade, ele está falando: “Vá em-
vai ser exposto e gravando, porque, bora para casa, a gente não quer que
depois, poderá ouvir aquilo que foi fa- você venha até o museu, estou aqui e
lado e buscar algumas palavras-chave estou muito bem”. Não é convidativo.
que possam ser utilizadas em alguns Num outro museu, no qual é mos-
textos. trado o local aonde Napoleão chegou,
Não se pode utilizar todo o espa- no sul da Inglaterra, há muitas placas
ço do museu com linguagens, porque e informações que deixam o visitan-
as pessoas vão querer conversar du- te extremamente confuso. Já aqui em
rante essa visita. Então, coloque so- São Paulo, observei que em alguns ca-
mente aquilo que as pessoas querem! sos não há nenhuma informação na
Podem-se utilizar títulos, subtítulos entrada dos museus sobre o que há lá
e nunca sair pela tangente com outro dentro.
assunto, que até pode estar associa- Muitas vezes, os patrocinado-
do com o tema em questão, mas que res querem ficar logo ali na frente, no
74
A Comunicação nos Museus
existia, quando se chegava lá, era “Ga- a maneira como foi pensada não garan-
leria 33”. Não tinha nada mais escrito, tiu a expressão do visitante.
nem mesmo algo como: “Agora, vamos Algumas pesquisas foram feitas
falar sobre cultura, diversas maneiras para se saber como as pessoas reagiam
de abordar um mesmo tema”. após nove meses de uma visita a um
Nesse caso, a forma de se pensar museu. Isso pode indicar como a me-
a exposição e aplicar a avaliação pa- mória e o aprendizado estão entrela-
recem ter causado impacto no enten- çados. Cerca de 50% das pessoas fala-
dimento do público após a visita, pois ram mais sobre os objetos que viram;
não foi dado nenhum estímulo aos vi- claro, as pessoas lembram-se daquele
sitantes para que se recordassem do objeto porque elas leram coisinhas so-
que viveram, apenas receberam uma bre aquele objeto. Mas, somente isso.
ficha de avaliação com a seguinte per- Outros 25% lembram sobre algum epi-
gunta: “O que vocês lembram daquela sódio em específico, como ter passado
exposição que vocês visitaram?”. E as numa ponte até chegar ao museu, tal-
pessoas escreviam sobre isso. Por- vez uma briga dentro do museu, lem-
tanto, os organizadores não deveriam bram-se da mãe ou do namorado.
se sentir tão pessimistas em relação Aproximadamente 15% das pes-
ao resultado dessa pesquisa1, pois soas falaram um pouco mais sobre o
1 McManus, P. (1993) ‘A Survey of Visitors’ sentimento, por exemplo: “Eu me senti
Reactions to the Interactive Video Programme
museum and society, 2(1) 46 “Collectors in the 33: A Visitor Study, Birmingham: Birmingham
South Pacific”’, in J. Peirson Jones (Ed.) Gallery Museums and Art Gallery, 74-114.
79
orgulhoso, porque eu trouxe pessoas pouco tempo no museu; não se tem
de fora da nossa cidade para visitar o toda a atenção daquela pessoa, porque
museu e o museu é muito interessante; ela está ali em companhia de outras
então. Eu me senti orgulhoso da nos- pessoas e, além disso, pertencem a um
sa cidade”. Ou, por exemplo, o irmão- determinado nível social, ou seja, têm
zinho que falou: “Ah! minha mãe ficou culturas diferentes e foram subme-
carregando meu irmãozinho de colo tidas a estímulos diferentes em suas
toda hora durante toda a visita ao vidas. E, em segundo lugar, as pesso-
museu”. Então, eles estão falando de as esperam – possuem a expectativa –
sentimentos. de uma experiência educacional den-
E somente 10% falam realmente tro do museu e isso está a favor dos
sobre o tema da exposição. Quando as educadores do museu.
pessoas saíam da exposição e lhes pe- Retomando à pesquisa sobre o
diam que explicasse um pouco sobre o comportamento dos visitantes, foi pe-
tema da exposição, elas falavam uma dido para que os visitantes priorizas-
frase para explicar o tema daquela sem as quatro principais tarefas dos
exposição. Após nove meses, elas não profissionais de museu em ordem de
conseguiam falar a mesma frase, expli- importância, sendo a quarta a mais
car da mesma maneira e não lembra- importante e a primeira a menos im-
vam-se tanto assim da visita. portante. O primeiro que eles prioriza-
Portanto, não se deve esquecer, ram foi o seguinte: o museu tem como
em primeiro lugar: as pessoas ficam tarefa principal a responsabilidade de
80
Avaliação e Pesquisa em Educação e Comunicação nos Museus
to utilizado, pois elas podem substituir tinham contato com aquele ambiente
o uso de palavras. totalmente informal. E, nesse momen-
O que se entende por interpreta- to, se propõe também o conceito de in-
ção é um processo de comunicação que terpretação, quando o mediador atua,
tem como objetivo ajudar as pessoas a promovendo a interpretação daquilo
descobrirem o significado das coisas, que está exposto. Pessoalmente, não
dos lugares, de outras pessoas, dos gosto muito da palavra intérprete, por-
eventos e, assim, ajudá-las a mudar a que parece que se está interpretando
maneira como percebem as coisas – ou algo para alguém que não está compre-
se percebem – e também como enxer- endendo. Prefiro ver como transforma-
gam o mundo ao seu redor; e, dessa dor, porque, assim, não há desequilí-
maneira, ter maior entendimento do brio de ideias entre uma pessoa que
mundo e de si mesmas. O educador se sabe mais do que a outra. Na realidade,
torna o mediador que traz uma nova o transformador se torna um condutor
cultura para aquela pessoa. A visão do para uma passagem ao conhecimento.
trabalho do mediador é diferente da Sempre houve essa exigência
visão de um pedagogo, a visão de al- dentro dos museus, de tentar provar
guém que está interpretando algo para que as pessoas estão aprendendo, hou-
os visitantes. ve sempre essa necessidade de se ava-
A história do conceito de me- liar. Comumente, se faz uma pesquisa
diação vem do sistema canadense, no de avaliação em aprendizagem num
qual as pessoas iam aos parques e não período de dois a nove meses e não
83
existe exatamente uma razão pela qual periências diferentes, conhecimen-
se optou pelos nove meses; mas, o que tos diferentes; e, frente a isso, não há
é interessante, é que após nove me- como se avaliar da mesma maneira de
ses as pessoas realmente conseguem um ambiente escolar.
se lembrar dessa visita como algo É preferível focar e escrever so-
memorável. bre como as pessoas aprendem e não o
Você é capaz de lembrar-se do quanto elas aprenderam. Afinal de con-
que fez há nove meses? Realmente, tas, sempre está se aprendendo e nun-
você só se lembra de coisas memorá- ca vamos conseguir avaliar realmente
veis, como uma entrevista para o pri- o quanto as pessoas aprenderam den-
meiro emprego ou coisas assim. Por- tro do museu, mas sim o quanto o mu-
tanto, as pessoas conseguirem lem- seu pode ter impacto em suas vidas. A
brar é algo espetacular e isto mostra o memória é algo que demonstra o que
impacto que o museu tem na vida das as pessoas conseguem integrar, da vi-
pessoas; qual é este impacto é o que sita, às suas vidas. A partir dessas co-
nós buscamos entender. locações, faz todo o sentido entender
Os avaliadores já estão cansa- o “Departamento de Educação” com a
dos de tentar demonstrar às pesso- nova nomenclatura de “Interpretação
as dos museus a necessidade em se e Aprendizado Contínuo”.
avaliar sistematicamente. Quando É muito mais importante descre-
as pessoas chegam ao museu, elas ver e não mensurar durante uma ava-
vêm com históricos diferentes, ex- liação; nem sempre o emocional é algo
84
Avaliação e Pesquisa em Educação e Comunicação nos Museus
89
Oficinas
Oficina 1 São 9:40 h numa manhã fria em
Uma manhã no museu ou Comu- uma cidade de 80.000 habitantes. Um
nicação infeliz corrompe as boas ma- ônibus lotado com 2 classes de cri-
neiras anças de 10 anos de idade chega para
levá-las para passar Uma Manhã no
Objetivos Museu. As crianças saem se acotove-
• Analisar o comportamento e a lando do ônibus, sob os olhares dis-
atitude dos profissionais envolvidos na persos de Ruth Green e John Brown,
ação educativa os dois professores designados como
• Analisar como o ambiente do responsáveis pelo passeio. Green lide-
museu afeta a experiência do visitante ra o grupo até a entrada do museu que
fica mais próxima do estacionamento.
Método Há bastante movimentação na
Os participantes deverão ler o entrada do museu: a recepcionista está
cenário descrito e, em seguida, discutir falando ao telefone, um guarda está
em grupo as questões propostas. trocando umas lâmpadas em cima de
uma escada, uma mulher está usan-
Cenário do uma copiadora barulhenta, duas
Uma visita ao Museu de Arte da pessoas estão tendo uma conversa
Cidade (MAC) bastante acalorada. Tanto os profes-
sores como os 48 alunos atraem pouca
atenção. O professor Green pergunta
90
à funcionária que está usando a copia- museu abrirá suas portas. “Por favor,
dora como encontrar os monitores do mantenha as crianças perto da porta
MAC. A mulher observa as crianças e até o horário de abertura”. Smith fecha
responde: “Ah, os grupos escolares de- a porta e desaparece de vista.
vem se dirigir à entrada da frente. Eles Como as crianças já começam a
estão aguardando por vocês lá”. Após reclamar do frio, Green e Brown as le-
receber as informações, Green, Brown vam para dar mais uma volta ao redor
e as crianças saem do prédio. do prédio, com o objetivo de distraí-las
Conforme o grupo se aproxima da durante os 8 minutos restantes de es-
entrada, grande parte das crianças ob- pera. Às 10 horas, um guarda abre a
serva um parque de esculturas ao lado porta da frente. As crianças entram no
do prédio e correm até lá. Brown sai saguão do museu. O guarda já está a
correndo atrás delas, enquanto Green postos na galeria: não há sinal da recep-
tenta abrir as portas. Elas estão tran- cionista e nem dos monitores do MAC.
cadas e dentro parece não haver nin- Green confabula com Brown enquanto
guém. Green bate à porta – uma pes- as crianças correm pelo saguão obser-
soa surge das escadas e caminha até vando os vários quadros e esculturas.
o saguão. É Mary Smith, monitora do Um grupo de meninos se reúne em vol-
MAC. Por trás de uma pequena fresta ta de um nu de bronze, especulando
da porta, ela informa Green de que as em alto e bom som sobre as possíveis
visitas monitoradas somente terão causas da magreza extrema da estátua.
início às 10 horas, horário em que o Outras perambulam em uma galeria
91
adjacente. Quando Green decide des- da manhã. Mary Smith expõe o que irá
cer para buscar ajuda, Mary Smith e acontecer, já que um terceiro monitor
um outro monitor do MAC surgem do MAC faltou ao trabalho e, conse-
da galeria, liderando o grupo das cri- quentemente, a visitação pelos basti-
anças que lá estavam. “Estamos aguar- dores foi cancelada e as crianças serão
dando vocês no salão de palestras. divididas em somente dois grupos,
Por favor, desçam com as crianças e em vez dos 3 previamente planeja-
me sigam para darmos início à intro- dos. Cada grupo será guiado por um
dução”. Enquanto Smith se encaminha monitor do MAC e ainda acompanhado
ao andar de baixo, outras pessoas por um professor da escola. O grupo
reúnem as crianças e as orientam. de Mary e Green irá explorar as peças
Durante o percurso até o andar de de arte, enquanto que o grupo de Pat
baixo, as crianças não param de per- Jones e Brown irá para a ala escolar
guntar para onde estão indo, o que irão até o estúdio de projetos de arte.
fazer e quando é que realmente irão ver Há 4 galerias no museu. Mostras
a exposição de arte. atuais incluem trabalhos recentes
As crianças agora encontram-se elaborados por artistas locais em
sentadas, quando pedem que todas várias mídias e uma seleção de tra-
retirem seus casacos. Mary Smith se balhos da coleção permanente do
apresenta e, em seguida, apresen- MAC. A primeira parada para o grupo
ta sua colega, Pat Jones. A conversa da Mary é a mostra dos artistas locais.
consiste na explanação das atividades Smith comunica às crianças que ela
92
Oficinas
deseja que o grupo reflita sobre os Como muito tempo foi gasto na
diferentes materiais que os artistas mostra dos artistas locais, não há mais
utilizam ao desenvolverem trabalhos tempo para falar sobre a exposição
artísticos. Ela entrega a cada aluno permanente. Smith passa rapidamente
um lápis junto com uma lista de ma- pela galeria com o grupo, enfatizando
teriais que podem ser encontrados na que o MAC possui 11 das peças ali ex-
exposição e os instrui a achar cada um postas. Chega então a hora de se diri-
dos materiais listados. O exercício se girem para a ala escolar até o estúdio
transforma em uma competição, com de projetos de arte.
crianças correndo de um objeto para O grupo de Mary Smith chega
o outro, cada um tentando completar na mesma hora em que o grupo de
a lista antes dos outros. Muitas pala- Pat Jones deixa a sala de aula. Alunos
vras são desconhecidas pelos alunos e das duas classes se misturam por
tanto Smith como Green se man- alguns minutos e tecem comentári-
têm bastante ocupados explicando os entre si sobre suas experiências.
termos como “alabastro” e “artefa- Uma aluna do grupo de Jones, ao
to de barro”. A busca por toda a ga- ouvir que a exposição “não foi
leria se segue de uma revisão dos tão legal”, decide ficar com um
termos aprendidos, com as crianças amigo e refazer o projeto de arte no-
mencionando onde encontraram, vamente. A troca passa despercebida
dentro da exposição, os materiais tanto pelos monitores como pelos
contidos na lista. professores.
93
Na sala de aula, Ann Marie, res- finalmente consegue que se concen-
ponsável pelo estúdio de projetos de trem em alguma coisa; um pequeno
arte, ainda encontra-se limpando as número ainda se irrita ao perceber
mesas usadas pelo grupo anterior. Ela que não consegue pensar em nenhuma
pede que os alunos se sentem às mesas ideia interessante e se acalma somente
enquanto ela termina a limpeza e dis- quando Ann Marie sugere que elas
tribui os materiais. A aluna a mais que façam objetos de decoração natalina.
está presente no grupo é finalmente A aula termina com os trabalhos indi-
descoberta quando todos percebem viduais em diferentes estágios, mas as
que está faltando um banquinho. crianças podem levar para casa o que
Green sai em busca do grupo de Jones desenvolveram como uma lembrança
para que a aluna possa se juntar a eles da visita delas ao MAC.
novamente. Ao meio-dia os dois grupos es-
O projeto de arte do dia se re- tão de volta ao salão de palestras – e a
sume a um exercício de colagem. As manhã de atividades no museu já aca-
crianças recebem pedaços coloridos bou. Enquanto os alunos vestem seus
de papel, tecido e outros materiais, casacos, Pat e Mary entregam aos pro-
além de tesoura e cola. Ann pede que fessores formulários de avaliação que
elas recriem algo que tenham visto devem ser preenchidos. Então Pat diz:
no museu naquela manhã. Algumas “Essas avaliações são importantes para
começam imediatamente; outras es- nós. Queremos fazer o possível para
peram alguns momentos, até que Ann tornar Uma manhã no Museu uma
94
Oficinas
Cenário
Avaliação da satisfação de alunos
em uma instituição de ensino
95
Uma faculdade pretende auxiliar Para obter as informações deseja-
os alunos de pós-graduação a se adap- das pelos avaliadores, seria necessário
tarem, de forma rápida e agradável, aos propor outros objetivos para além
cursos de mestrado em que se matri- daqueles citados anteriormente? Em
cularam. Imagina-se que, caso obtives- caso positivo, quais seriam?
sem mais informações sobre como os Quais perguntas devem ser feitas
alunos se sentem e sobre a experiência aos alunos? Sugira um questionário
adquirida durante as primeiras duas com aproximadamente 10 questões
semanas após o início do curso, eles para alcançar os objetivos propostos.
conseguiriam:
1. Desenvolver uma postura
solidária e motivadora.
2. Fornecer aconselhamento ou
assistência.
3. Alterar processos quando
necessário.
96
Oficinas
97