Você está na página 1de 5

-

DEDALUS Acervo MAE -

23.
&3%;g
.
h&
Conselho Editoria
>&
p9'"

ilson Avansi de Abreu


ília França Lourenço
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Jacques Marcovitch - Reitor
Adolpho José Melfi - Vice-Reitor

PRÓ-REITORIA DE CULTURA E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA


Adilson Avansi de Abreu - Pró-Reitor

MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA


José Teixeira Coelho Netto - Diretor

MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA


Paula Montero - Diretora

MUSEU PAULISTA
José Sebastião Witter - Diretor

MUSEU DE ZOOLOGIA
Miguel Trefaut Urbano Rodrigues - Diretor

GRUPO DE TRABALHO DA I SEMANA DOS MUSEUS


Maria Cecilia França Lourenço (CPC)
Maria Cristina Oliveira Bruno (MAE)/
Carmen S.G. Aranha (MAC)
Dilma de Me10 Silva (MAC)
Miyoko Makino (MP)
Gustavo Augusto Schmidt de Me10 (MZ)
Cláudia D'Arco (Secretária)

MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA


da Universidade de São Paulo
Av. Prof. Almeida Prado, 1466 - Cid. Universitária
CEP 05508-900 São Paulo SP
Tel: 8 18.5096 e 2 12.400 1

MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA


da Universidade de São Paulo
Rua da Reitoria, 160 - Cid. Universitária
CEP 05508-900 São Paulo SP
Tel: 818.3039

MUSEU PAULISTA
da Universidade de São Paulo
Parque da Independência, sln - Ipiranga
CEP 04299-970 São Paulo SP
Tel: 215.4588
T e m : 273.9165

MUSEU DE ZOOLOGIA
da Universidade de São Paulo
Av. Nazaré, 481 - Ipiranga
CEP 04263-000 São Paulo SP
Tel: 274.3455
Fax:274.3690
f i ~ d &$,
/o30843 CURADORIA SEM CURADORES?

--

Museu de Arqueologia e EtnologidSP

"(The Curaror-professors)musr balance rheir rime benruen acadernic research, reaching. publishing. andpanicipation in
museum public programs and activiries" (Robert H. Dyson. JK. Director of The University Museiim ar rhe Universin of
Pennsylvania in Philadelphia. Cf:Solinger: 1990)

-
Introdução Apresentação do Problema

As reflexões que aqui exponho inserem-se numa investigação mais ampla, em andamento, relativa ao
desempenho de Museus Universitários, sua vocação no contexto acadêmico, sua identidade. Logicamente.
como profissional de um museu da Universidade de São Paulo, muito tenho que aproveitar da experiência
adquirida em minha unidade, o Museu de Arqueologia e Etnologia. num cotejo contínuocom outras institui-
ções congêneres da USP e fora dela, no Brasil e também no exterior. Assim sendo, meu ponto de vista pode
diferir de propostas sobejamente apresentadas em nosso meio e perceptíveis aqui e ali nos artigos desta
coletânea, os quais me parecem destacar conteúdos individualmente incompletos no tocante ao tema central
em questão: Processo curatorial: a pesquisa, a docência e a extroversão a partir da evidência material da
cultura e do meio ambiente (em Museus Universitários).

Diria mais, estas propostas se completam: não são excludentes, mas solidárias e muito se poderia obter
através do diálogo, da troca de idéias, de experiências. São uma evidência de que o debate em tomo delas é
da mais alta relevância. E, na mesma medida, o que aqui apresento deve ser visto como um pouco mais de
fermento a alimentar esta discussão.

Também, para situar o problema, é preciso apontar para a especificidade dos Museus da USP, cada um
deles com origens e trajetórias diferentes, seja em seus objetivos e atividades, seja na formaião & seu
pessoal científico, educacional, curatorial, tkcnico e administrativo. incluindo seus diretores. Persiste
uma ambigüidade, nem sempre percebida: Museus que não são Museus ou, quando o são, pouco
transparecem no que respeita à Universidade. E há mais, muito mais! Os (des)caminhose (des)encontros
dos nossos Museus têm demonstrado que a USP ainda não Ihes deu foros de cidadania, nivelando-os d?
ponto de vista estrutural e gerencial às suas outras unidades; ora, os Museus têm a sua identidade e
requerem uma política diferente para que haja a real visibilidade naquilo que s6 eles, unidades especiais
no mundo acadêmico, podem oferecer: vale dizer, a interface entre a ciência e o público (King, 1984,
p.298) através de seus acervos, principal fonte para o exercício da função tripartite da universidade -
pesquisa, ensino e extensão de serviços à colnunidade. O conjunto harmonioso destas três funções, em
Museus Universitários, constitui, a meu ver, a verdadeira Curadoria, que se afigura como um processo
inerente à programação geral de cada um desses Museus.
" ~.
Finalmente, nesta linha de idéias, há que distinguir: Museus na Universidade; Museus da Universidade;
Museus Universitários? Desta definição decorrerá o que se poderia entender por processo curatorial nos
Museus da USP, que eu almejaria identificar como Museus Universitários respeitando os seus dois estatutos:
o de um Museu e o de uma Universidade, dicotomia que deveremos sempre privilegiar.

Das Colqões

Seria um uuísmo dizer que Museus se identificam pelas suas coleções. evidências materiais da cultura e do
meio ambiente e. conseqüentemente, que suas atividades devem centralizar-se nelas e orientar-se por elas.
Truísmo, porém nem sempre, uma vez que existem Museus cujos projetos mais importantes referem-se
marginalmente às suas coleções ou à cultura material como um todo; ou, então, que ignoram totalmente seus
acervos. Partirei do princípio de que todas as atividades em questão, por estarem vinculadas a um Museu.
serão da natureza da cultura material e do meio ambiente, obedecendo aos objetivos básicos sobejamente
aclamados entre proiissionais de Museus e pela bibliografia especializada (veja-se. p. ex., King, 1981;
1984): coletar: presentar: pesquisar e divulgar:
Museu de Arqueologia e Etaologia
Universtdade de S8o Paulo
BIBLIOTECA
Tal programa merece que consideremos todos os problemas pertinentes: um deles é a sua combinação
com os objetivos da Universidade. Ora, se os Museus se definem como unidades centralizadas em acervos,
os Museus Universitários deverão se articular no sentido de harmonizar o exercício de seus objetivos
básicos com o das três funções precípuas instituídas pela Universidade, isto é,pesquisa, ensino e e-rtensão
serão solidárias às coleções. que apontam para coleta. preservação, pesquisa e divulgação. Para o bom
cumprimento destes objetivos, os Museus dispõem de códigos de ética reconhecidos internacionalmente,
mas nem sempre observados em nosso meio, instrumentos legais que protegem Curadores e suas Instituições
diante de comportamentos considerados não - éticos (cf. algumas referências a estas normas na Biblio-
grafia).

Da Curadoria e do Processo Curatorial

Não há Universidade sern ~~r(di~çiiO e reproduqüo do saber, de modo que a pesquisa científica é o propulsor
de todas as suas atividades. Assim vemos também que, nos Museus Universitários, investigações conduzem
o especialista aos trabalhos de campo, de laboratório. de gabinete, alimentando a formação de coleções e
orientando-os à aquisição de coleções. Mas a pesquisa em Museus Universitários vai além, pois a par do
grande investimento técnico para a constituição das coleções, há a pesquisa rigorosa sobre estas coleções. E
não se trata apenas de estudar as coleções originárias de pesquisas de campo modernas e sistemáticas, mas
de dar um sentido científico a todas as coleções existentes nos Museus, para que se possa transformá-las em
agentes de informação.

Todo pesquisador deveria ter a resporisabilidade pelo estudo das coleções e seus contextos. No Brasil,
programas sistemáticos neste sentido sáo raros e. mesmo. excepcionais. O alcance destes estudos é
ilimitado. inúmeros são os autores que apontam para esta necessidade primordial nos Museus (p. ex.
Ripley. 1969: Deetz, 1983). Uma única coletânea, publicada em 1981, nos Estados Unidos e reunindo
vários artigos sobre o potencial científico de coleções em Museus Antropológicos, dá a justa medida
da relevância deste coiiipromisso curatoriai (Ciintwell, A.-M. et alii, eds.. 198 1). É de se notar que esta
prática eni nosso meio ti)i mais desencolvida no passado do que atualmente: alguns dos grandes Museus
brasileiros. notadamciite voltados para as Ciências Naturais. em suas origens no séc. XIX, atuaram
sobremaneira náo só na constituição de co1ec;óes. como também na realização de pesquisas científicas
e na política de piiblicaçòes (Lopes. 1997). isto S. exerceram na sua plenitude a produção do saber
particular a Museus.

A constituiçáo de coleções acrescentar-se-áa sua preservação e documentação e esta prática. no meu entender,
nHo se confunde e nein se identifica coni c.~rrtrtkoritr:
parece-me que sáo meras operações técnicas que englobam
a atividade curatorial. elas são parte desta atividade, e, para que elas surtam seus reais benefícios. não
deverso estar dissociadas da pesquisa cientítica e do pesquisador.

O segundo aspecto da vocação universitária. a I - ~ ~ ) Y H ~ L Ido strher,


J'C ~O que tipifica as atividades de ensino e de
cxtensáo em todos os seus sentidos e modalidades. teiii também os seus correlatos em Museus Universitários:
mas nestas instituições. tratar-se-ia. do mesmo modo. de responsabilidades particularizadas e efetivamente
integradas à Universidade. e seus programas privilegiariam o que é a própria identidade de cada Museu:
suas coleçóes. com seus significados e contextos. suas potencialidades.

A projeção do conhecimento científico. ao lado de sua transmissão através do ensino e da divulgação,


situaria o protissional de Museus Uiiiversitários numa posição ímpar no meio acadêmico: estou cada vez
mais convicta de que ele t! o pesquisador que percorrerá o caminho pelo qual sua pesquisa será apresentada
ao público. proporcionando a principal fonte para todas as atividades museológicas e museográficas no seu
caiiipo de estudo.

Assim sendo, proti~rc~7o do srrber se expressariam nos Museus Universitários. por meio de
LI rc.l7ro~kir~.~io

responsabilidades inerentes à natureza de um Museu. de tal modo que os Professores destas instituições
fossem igualmente Cuia~tores- C ~ w ~ ~ t o r - P ~ ~ ~ ! f ~-,. spara
. s o rlembrar
~s a designação americana (Solinger. 1990,
p.64). r suas atividades deveriam respeitar os princípios básicos que particularizam um Museu e uma
Universidade. Estes princípios básicos são os que regem oprocesso curatorial. um ciclo de responsabilidades
solidrírias que. nestes Museus. só conseguiráo a sua plenitude em projetos institucionais e com profissionais
de dupla qualiticaçáo: a de Docente e de Curador.
Academy of Sciences, vol. 376).

CÓDIGO DE DEONTOLOGÍA PROFESIONAL DEL ICOM. Consejo Internacional de Museos. Paris:


Unesco, ICOM, 1997.

DAVIS, H. A. Approaches to Ethical problems by archaeological organizations. In: GREEN, E. L. (ed.).


Ethics and values in Archaeology. New York: MacMillan, 1984, p. 13-21.

DEETZ, J. The artifact and its context. Museum News, v.62, n.1, p.25-26, 1983. (Research in Museums).

KING, M. E. Curators: Ethics and Obligations. Curator, v.23, n. 1, p. 10- 18, 1980.

. Museums, archaeology and the public. Curator, v.27, n.4, p.298-307. 1984.

LESTER, J. A. A code of Ethics for curators. Museum News, v.61, n.3, p.36-40, 1983.

LOPES, M. M. O Brasil descobre a pesquisa cientIjCica. Os Museus e as Ciências Naturais no século X I X .


São Paulo: Hucitec, 1997.

MUSEUM Ethics. A Report. Museum Nrrvs. Washington, p.21-30, 1978.

REIMANN, I. G. The role of a University Museum in the education of students and the public. M~~selinz
Newls, v.46, n.3, p.36-39, 1967.

RIPLEY, S. D. The sacred grnve. Essays on Museurns. New York: Simon and Schuster. 1969.

SOLINGER, J. W. (ed.).Museumsand Uniijersiries.Newpaths forcontinuing e~i~iccrrion.


New York: Amencan
Council on Education, MacMillan Publishing Company, 1990.

SMITH, A. C. et alii. The role of research Museum in Science. Curator. v.3, n.4. p.3 10-360. 1970.

SMITH, R. H. Ethics in field archaeology. Journal of Field Archaeology, V.1. p.375-383, 1974.

THOMAS, C. H. Ethics in archaeology. Anriqitig, v.45. p.268-274, 197 1.

Você também pode gostar