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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ

CAMPUS CURITIBA I - EMBAP

MARIA ELIZABETH EASTWOOD VAINE

A TRAJETÓRIA DE UM MUSEU DE GEOCIÊNCIAS


Da Casa da Ciência e Tecnologia ao Parque da Ciência Newton Freire Maia

CURITIBA
2022
2

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ


CAMPUS CURITIBA I - EMBAP

MARIA ELIZABETH EASTWOOD VAINE

A TRAJETÓRIA DE UM MUSEU DE GEOCIÊNCIAS


Da Casa da Ciência e Tecnologia ao Parque da Ciência Newton Freire Maia

Trabalho de conclusão do curso superior de


Bacharelado em Museologia da Universidade
Estadual do Paraná - Campus I Curitiba - Escola de
Música e Belas Artes do Paraná.

Professora orientadora: Drª Ana Paula Peters

CURITIBA
2022
3

TERMO DE APROVAÇÃO

Maria Elizabeth Eastwood Vaine

A TRAJETÓRIA DE UM MUSEU DE GEOCIÊNCIAS


Da Casa da Ciência e Tecnologia ao Parque da Ciência Newton Freire Maia

Trabalho de conclusão apresentado ao Curso Superior de Bacharelado em


Museologia da Universidade Estadual do Paraná - Campus I Curitiba - Escola de
Música e Belas Artes do Paraná, pela seguinte banca examinadora.

______________________________ ______________________________
Professora: Drª Ana Paula Peters
Universidade Estadual do Paraná - Campus I Curitiba
Escola de Música e Belas Artes do Paraná

______________________________ ______________________________
Professora: Drª Karine Lima da Costa
Universidade Estadual do Paraná - Campus I Curitiba
Escola de Música e Belas Artes do Paraná

______________________________ ______________________________
Professor: Dr. Antonio Liccardo

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Curitiba, 05 de novembro de 2022


4

Ao Arturo e à Thais, filhos queridos e ao Papo que está sempre junto.


5

AGRADECIMENTOS

Quero aqui agradecer a todas as pessoas que fizeram parte dessa importante
fase de minha vida na busca de um sonho antigo.
Reverencio a Professora Drª Ana Paula Peters pela sua dedicação e
orientação neste trabalho. Nossos caminhos se cruzaram no primeiro dia da sua
aula de História do Paraná quando projetou na tela, um mapa geológico do estado,
de minha execução. Quando exclamei: fui eu que fiz!!! Me convidou a fazer parte da
explanação e muito me orgulhei de ver o meu trabalho contribuindo com a
educação. Me reporto a todos os meus professores da Universidade Estadual do
Paraná – Campus Curitiba I - Embap, pelo apoio incondicional e ensinamentos
recebidos.
Pelo apoio, colaboração e solicitude quando exerci minha profissão de
geóloga e “fazedora de museus” na MINEROPAR, agradeço ao professor Dr.
Eduardo Salamuni, aos geólogos Donaldo Cordeiro da Silva, Rogério da Silva
Felipe, Oscar Salazar Junior e Gil Francisco Piekarz, aos então acadêmicos das
diversas áreas do conhecimento Rafael Resende de Loyola, Carlos Guilherme
Pokes, Gabriela Salazar, Katrine Brinieli, e tantos outros que agora não me recordo
mas que foram peças fundamentais na execução do espaço expositivo, chamado
museu da MINEROPAR.
Agradeço ao professor Dr. Antonio Liccardo pelo empenho e dedicação na
montagem da exposição de rochas e minerais “Orville Derby” e por aceitar fazer
parte da minha banca.
Agradeço à professora Drª Karine Lima da Costa pelos ensinamentos em
Gestão de Museus que muito me auxiliaram na visão dos espaços tratados neste
trabalho.
Agradeço ao professor Rafael da Silva Tangerina pelo atendimento, apoio e
informações cedidas durante a visita ao Parque da Ciência e me reporto ao
professor, Anísio Lasievicz, diretor do Parque pelas iniciativas em acolher o acervo
da MINEROPAR, pela sua receptividade, colaboração e informações cedidas, mas
principalmente pelo trabalho desenvolvido na área da educação científica.
Agradeço ao geólogo Marcell Leonard Besser e ao artista e ceramista
Gilberto Narciso por fazerem parte dessa trajetória.
6

À Thais Eastwood Vaine, filha querida, pelo apoio, ideias e colaboração sem
limites na execução do Espaço Terra: Origem e Transformação da MINEROPAR.
Agradeço aos meus colegas por esses anos de convivência tão profícua e em
especial à Edenise, Lúcia, Felipe e Ronaldo (in memoriam), amigos que dividiram
bons momentos, trocas de experiências e informações, discussões, convivências e
cafezinhos.
Agradeço aos meus filhos pela paCiência, pelo incentivo e carinho, por se
embrenharem junto comigo em grutas, parques, usinas, museus e toda ordem de
lugares, por me ensinarem valores e pelo apoio incondicional durante toda a vida.
7

Vai passar, tudo passa.


8

“Felicidade é a ausência da dor”.


Arthur Schopenhauer
9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 12

1 A MINEROPAR E O INÍCIO DE UMA COLEÇÃO 15

2 A CASA DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA 29

3 OS ESPAÇOS MUSEAIS DA MINEROPAR 37

4 PARQUE DA CIÊNCIA NEWTON FREIRE MAIA 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS 72

REFERÊNCIAS 73
10

RESUMO

Esta monografia tem como objetivo apresentar a trajetória da coleção da


MINEROPAR, importante acervo museal e a sua contribuição na alfabetização
científica ao ensino não formal que tem continuidade com o Parque da Ciência
Newton Freire Maia. A MINEROPAR foi extinta em 2017 após 40 anos de atividades
e garantir que a sua coleção tivesse novos usos foi uma forma eficaz de assegurar
a sua conservação. O reuso do acervo adaptado às salas de exposições do Parque
da Ciência, não só preserva os materiais, como dá continuidade aos programas de
educação não formal que eram abordados na MINEROPAR. No intuito de
engrandecer as contribuições da MINEROPAR com a educação não formal em
geociências, este trabalho tem por objetivo promover uma reflexão quanto à
adequação de acervos em novos espaços expositivos após a extinção dos espaços
originários e da importância de se institucionalizar esses espaços evitando dessa
forma o seu esfacelamento e minimizar os efeitos negativos causados por
intervenções externas.

Palavras-chave: coleções; educação; geociências; museologia.


11

SUMMARY

This monograph aims to present the trajectory of the Mineropar collection, an


important museum collection and its contribution to scientific literacy in non-formal
education that continues with the Newton Freire Maia Science Park. Mineropar was
extinguished in 2017 after 40 years of activities and ensuring that its collection had
new uses was an effective way of ensuring its conservation. The reuse of the
collection adapted to the Science Park exhibition halls, not only preserves the
materials, but also continues the non-formal education programs that were
addressed at Mineropar. In order to enhance Mineropar's contributions to non-formal
education in geosciences, this work aims to promote a reflection on the adequacy of
collections in new exhibition spaces after the extinction of the original spaces and the
importance of institutionalizing these spaces, thus avoiding its breakdown and
minimize the negative effects caused by external interventions.

Keywords: collections; education; geosciences; museology.


12

INTRODUÇÃO

A escolha do tema e a delimitação do objeto deste trabalho de pesquisa


estão conectados às trajetórias pessoais e profissionais da autora.
Essa trajetória que começou em 1994 foi marcada por contingências,
entrelaçamentos, oportunidades e percalços que se estenderam até o ano de 2018 e
percorreu diversos caminhos desde os primeiros contatos com coleções
museológicas, às práticas de implantação de espaços museais destinados
principalmente a atividades educativas na área de geociências.
Museus de Geociências são espaços não formais de educação, que contribuem
para o desenvolvimento do processo educativo. Estes espaços são importantes,
também, no desenvolvimento científico, no lazer e na cultura para a totalidade da
população, sendo hoje, no Brasil e no mundo, cada vez mais utilizados como objetos
de estudo.
De acordo com o Conselho Internacional de Museus - ICOM, a definição de
museu incorpora termos e conceitos relacionados a desafios contemporâneos, tais
como sustentabilidade, diversidade, comunidade e inclusão.

Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, ao serviço da


sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o
patrimônio material e imaterial. Os museus, abertos ao público, acessíveis e
inclusivos, fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Os museus
funcionam e comunicam ética, profissionalmente e, com a participação das
comunidades, proporcionam experiências diversas para educação, fruição,
reflexão e partilha de conhecimento. (ICOM, 2022).

Marandino (2000) diferencia museus e centros de Ciências, afirmando que os


primeiros têm o compromisso com a educação informal e os últimos são
comprometidos fundamentalmente com a produção de material didático e a
formação de professores no âmbito do ensino formal. Já para Gaspar (1993),
museus de Ciências ou centro de Ciências são denominações utilizadas para
instituições de todo o mundo que não as caracterizam de forma clara ou definida,
principalmente quando tratamos de zoológicos, museus de arte e jardins botânicos,
por exemplo. Sob esses dois pontos de vista, o espaço museal da Mineropar
encaixa-se melhor como um centro de Ciências conforme proposto por Marandino
(2000).
13

A origem do acervo desta coleção teve início no ano de 1977 quando foi
criada a MINEROPAR, empresa de governo do estado do Paraná dedicada ao
mapeamento geológico e pesquisas minerais. Esse acervo que iniciou seu percurso
museal na Casa da Ciência e Tecnologia encontra-se atualmente em posse do
Parque da Ciência Newton Freire Maia.
A importância em abordar a história da construção de um espaço museal
multidisciplinar, a Casa da Ciência e Tecnologia, que contou com a participação da
Mineropar, mostra que os desdobramentos após a sua extinção foram importantes
na formação de dois centros de Ciências com parcela significativa para a educação
em museus. A educação não formal no ensino de Ciências é uma nova realidade
que vem mudando o papel das escolas no processo ensino aprendizagem das
pessoas e acarretando em outras modalidades de educação complementares ao
aprendizado sistemático que ali ocorre. Assim, hoje existem três modalidades de
educação: formal, informal e não formal conforme VIEIRA et al., 2005; GOHN, 2006;
COLLEY et al., 2002 (apud VAINE, 2013, p.18).

Quando se trata do ensino de Ciências, existem diferenças quanto às


concepções da literatura inglesa e portuguesa no que se refere às diferentes
modalidades de ensino. Segundo Cazelli (2000), os autores de língua inglesa
usam o termo “educação informal” (informal Science education, informal
Science learning) para a educação em Ciências que acontece em locais
como museus, centros de ciências, zoológicos, jardins botânicos, no trabalho,
em casa e outros locais. Os países de língua portuguesa, por sua vez,
dividem a educação que ocorre fora da escola em dois grupos, “não-formal” e
“informal”. A educação informal refere-se a ambientes cotidianos familiares,
de trabalho, clubes e mídia, ou seja, decorre de processos naturais e
espontâneos. Já a educação não-formal ocorre em museus, centros de
Ciências e qualquer outro local onde exista, entre outros objetivos e
atividades, a intenção de determinados sujeitos em criar ou buscar objetivos
educacionais fora da escola. (Vaine, 2013, p.19)

Nesta pesquisa, abordaremos a trajetória dessa coleção, bem como das


ações de divulgação (popularização) do ensino de geociências realizadas pelo
museu ou que faziam parte das atividades do museu, a partir da análise dos
diferentes espaços utilizados pelo acervo desde a sua fundação, em 1977 até os
dias atuais, que resultados essas mudanças trouxeram no decorrer dos anos e como
é o processo de educação não formal de Geociências a partir desse acervo hoje
alocado no Parque da Ciência Newton Freire Maia.
Este trabalho apresenta a trajetória dos espaços museais da MINEROPAR,
suas coleções, projetos e montagem das exposições e as ações de divulgação e
14

educação não formal de Geociências vinculadas a esses espaços, os públicos


atingidos, os materiais que foram produzidos a partir do acervo, até a sua extinção e
a incorporação das coleções pelo Parque da Ciência Newton Freire Maia e colaborar
como embasamento técnico para uma utilização consciente do acervo, valorizando
seu potencial seja no âmbito científico, histórico, didático ou estético.
Nesse contexto, considerando a importância desses espaços no processo
ensino-aprendizagem, este trabalho tem como objetivo conhecer o atual estado
desse acervo e corroborar a importância da aprendizagem nesses locais e a sua
relação com a escola.
15

1 A MINEROPAR E O INÍCIO DE UMA COLEÇÃO

A MINEROPAR – Minerais do Paraná S.A. foi criada pela Lei 6938 de 21 de


Outubro de 1977, como uma empresa de economia mista, vinculada à Secretaria de
Indústria e Comércio. Tinha como função, sugerir e conduzir a política mineral do
estado, visando o aproveitamento adequado das potencialidades geológicas do
Paraná. Para tanto, efetuou o cadastramento de todas as atividades minerais no
território paranaense e requereu dezenas de áreas para pesquisa mineral. As
pesquisas nessas áreas levaram à coleta de milhares de amostras de rochas,
minerais, lâminas para estudos petrográficos e testemunhos de sondagens que
foram sendo armazenados e catalogados pela empresa, iniciando assim um acervo
petrológico, petrográfico e mineralógico de grande valor científico para a Geologia do
estado do Paraná. Foi o início de uma coleção, do Ter e Manter (Blom, 2003) “onde
tudo que a natureza forjou de coisas sem vida que podem ser guardadas; podem ser
selecionadas e incluídas num teatro de memórias”.

Eram todos instrumentos de conhecimento, cobrindo não apenas […] a


natureza, livre e solta – como a dos corpos celestes, meteoros, a terra e o
mar, minerais, plantas, animais – mas muito mais a natureza coagida e
atormentada [….] quando pela mão do homem ela é tirada do seu estado
natural. (BLOM, 2003, p.211).

Nesse contexto, acabaram surgindo os museus de história natural ou museus


de primeira geração. Com suas coleções catalogadas, eram vistos como santuários
de objetos em uma reserva aberta, mostradas em sua totalidade e de maneira
repetitiva (Marandino 2000; Rocha, 2007). Cazelli et al. (1999) relatam que, de início,
“esses locais tinham estreita ligação com a academia e a educação voltada para o
público não era a sua principal meta, mas sim contribuir para o crescimento do
conhecimento científico por meio da pesquisa”. Contudo, como defende Gaspar
(1993), “os avanços científicos trouxeram a necessidade do uso de laboratórios,
reduzindo a importância desses espaços como centros de pesquisa em favor da
finalidade educativa e da divulgação científica”.
Na década de 1980 com a crise do petróleo e o aumento de notícias sobre
exploração de carvão como alternativa energética, começaram as demandas da
área educacional junto à empresa. Essas demandas eram atendidas na forma de
palestras ou pequenos cursos aos professores em escolas, principalmente no
16

interior do estado e com participações em feiras de Ciências e montagem de stands


em feiras agropecuárias, como podemos observar nas figuras 1 e 2.

Figura 1 - MINEROPAR em Feira de Ciências no Município de Paranavaí –


Paraná -1985.

Fonte: Acervo da Mineropar

Figura 2 - Stand da MINEROPAR na Feira Agropecuária do município de


Francisco Beltrão - 1986.

Fonte: Acervo da Mineropar


17

Em 1982 foi produzido o primeiro material de divulgação que era uma


caixinha com amostras de rochas e minerais do Paraná acompanhada por um
folheto com a descrição do conteúdo, conforme as figuras abaixo. Foram produzidas
20 mil unidades para distribuição em feiras de ciências e agropecuária.

Figura 3 - Primeiro mostruário de rochas e minerais do Paraná – 1984.

Fonte: Acervo da Mineropar

Figura 4 - Folheto do mostruário de rochas e minerais do Paraná -1984.

Fonte: Arquivo pessoal.

No ano de 1986 foram produzidos dois mapas em escala 1:1.400.000, o


primeiro da Geologia do Paraná e o segundo, mostrando a ocorrência dos depósitos
minerais no estado, para distribuição às escolas, conforme imagens abaixo.
18

Figura 5 - Mapa Geológico do Estado do Paraná -1986.

Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 6 - Mapa de Depósitos Minerais do Estado do Paraná - 1986.

Fonte: Arquivo pessoal.

Em 1990 foram produzidas duas publicações didáticas que davam um


formato padrão às palestras e aos cursos para os professores: Primeiros Passos
19

Sobre Geologia e Mineração no Estado do Paraná e o Caderno de Geologia e


Mineração no Estado do Paraná, como mostram as figuras 7 e 8, respectivamente.

Figura 7 - Primeiros Passos Geologia e Mineração no Estado do Paraná - 1990.

Fonte: Arquivo pessoal.

Em 1993, com outras instituições de governo, a MINEROPAR fez parte do


projeto de criação da Casa da Ciência e Tecnologia, conforme citado no Artigo 39 do
Decreto nº 2543, de 14 de setembro de 1993:

Este projeto contará com a participação institucional do Instituto de


Tecnologia do Paraná – TECPAR, responsável pela implantação do projeto,
Minerais do Paraná – MINEROPAR, Secretaria de Estado do Planejamento
e Coordenação Geral e Secretaria de Estado da Indústria e do Comércio,
Ensino Superior, Ciência e Tecnologia, cujos dirigentes titulares passam a
compor a comissão de acompanhamento do Projeto Casa da Ciência e
Tecnologia. (PARANÁ, 1993).
20

Figura 8 - Caderno de Geologia e Mineração no Estado do Paraná - 1990.

Fonte: Arquivo pessoal.

Em 1993, com outras instituições de governo, a MINEROPAR fez parte do


projeto de criação da Casa da Ciência e Tecnologia, conforme citado no Artigo 39 do
Decreto nº 2543, de 14 de setembro de 1993:

Este projeto contará com a participação institucional do Instituto de


Tecnologia do Paraná – TECPAR, responsável pela implantação do projeto,
Minerais do Paraná – MINEROPAR, Secretaria de Estado do Planejamento
e Coordenação Geral e Secretaria de Estado da Indústria e do Comércio,
Ensino Superior, Ciência e Tecnologia, cujos dirigentes titulares passam a
compor a comissão de acompanhamento do Projeto Casa da Ciência e
Tecnologia. (PARANÁ, 1993).

O Projeto Casa da Ciência e Tecnologia, incluía os acervos do Instituto de


Biologia e Pesquisas Tecnológicas - IBPT, atual TECPAR – Instituto de Tecnologia do
Paraná, da Minerais do Paraná S.A. - MINEROPAR, e da Companhia Paranaense
de Energia – COPEL. Para a montagem da sala expositiva que cabia à MINEROPAR
neste espaço, os técnicos da empresa coletaram em campo, perfis de solos de três
21

tipos de rochas predominantes no Paraná. Representando as rochas ígneas,


metamórficas e sedimentares, foram expostos perfis de solos oriundos de basaltos
do Terceiro Planalto, migmatitos¹ do embasamento cristalino e arenitos da Bacia do
Paraná, mostrados na Figura 9.
1
Figura 9 - Perfis de solos coletados em campo por técnicos da MINEROPAR.

Fonte: Foto da autora


No início de 1996, com a finalidade de alocar a Faculdade de Artes do Paraná
– FAP, a Casa da Ciência foi desativada. Em 1997, para dispor as coleções da
MINEROPAR e dar continuidade aos programas e atividades junto às escolas, foi

1
Migmatitos são uma mistura de fácies de rochas metamórficas na qual, pelo menos, um componente é
representado por material granítico ou granitóide derivado de fusão parcial (anatéxico) e/ou de
metassomatismo com significativo aporte de elementos granitófilos. Winge,M. et. al. 2001.
22

inaugurado o espaço Reinhard Maack, em uma minúscula área de 50 m² e criado


um Centro de Informações Minerais do Paraná. Reinhard Maack (Figura 10), um
cientista alemão que ao longo da sua vida atuou nas áreas de Geologia,
Paleontologia, Geografia, Cartografia e Biologia, após ter desenvolvido vários
estudos sobre a Geologia no sul do Continente Africano, mudou-se para o Brasil,
fixando-se em Curitiba como pesquisador do IBPT no ano de 1943. A partir das suas
pesquisas geológicas formou a maior coleção, com mais de cinco mil exemplares de
rochas e minerais, do território paranaense. Reinhard Maack também elaborou o
primeiro mapa geológico do estado no ano de 1953, em comemoração ao
Centenário da Emancipação Política do Paraná, mostrado na Figura 11.

Figura 10 - Painel em homenagem a Reinhard Maack - 1996.

Fonte: Foto da autora


23

Figura 11 - Mapa Geológico do Estado do Paraná - Reinhard Maack- 1953.

Fonte: Acervo TECPAR.

O espaço museal da MINEROPAR, além de mostrar a Geologia do Paraná a


partir do seu acervo, prestava homenagem ao cientista Reinhard Maack e agregava
não só a sua coleção de rochas e minerais, como objetos pessoais, publicações e
comendas recebidos durante a sua vida e cedidos em comodato pelo TECPAR e
pelos seus familiares. O acervo de rochas e minerais do cientista estava disposto em
mobiliário formado por dez armários, alguns com vitrines, conforme observado na
Figura 12, totalizando duzentas gavetas sendo que cada uma continha de 20 a 25
exemplares de rochas e minerais coletados na sua trajetória de vida. Cada amostra
tinha uma ficha manuscrita ou datilografada pelo cientista, contendo dados da coleta
como, nome da rocha ou mineral, localização geográfica, formação geológica, data
da coleta e nome do coletor. O acervo foi higienizado por técnicos da MINEROPAR e
colocado em exposição.
No ano de 2002 a MINEROPAR mudou-se para o antigo Centro
Administrativo do Banco do Estado do Paraná no bairro Santa Cândida. Na nova
sede da MINEROPAR, um novo museu foi implantado em uma área de 141 m². Essa
ampliação demandou um projeto museográfico e a elaboração de maquetes e
experimentos interativos que se somaram ao acervo já existente. Em 2010 o espaço
foi remodelado e a empresa adquiriu uma nova coleção de minerais pertencente ao
geólogo Darcy Pedro Svizzero, de minerais e rochas, incluindo meteoritos, ouro,
diamante, pedras preciosas, de grande valor museológico e que devidamente
catalogada, foi colocada em mobiliário projetado para a exposição.
24

Figura 12 - Mobiliário da coleção de rochas e


minerais do Reinhard Maack – 1997.

Fonte: Foto da autora.

Nesta nova adequação do espaço museal, foram adquiridos diversas réplicas


de fósseis, confeccionadas novas maquetes, dioramas, experimentos e painéis
informativos, ampliando a participação da MINEROPAR como espaço não formal de
ensino e com este papel educacional intensificado, como exemplificado por
Marandino (apud VAINE, 2013, p.46), este espaço tinha objetivos de ensino mais
explícitos que os anteriores pois passou a ser local de pesquisa e investigação e
com uma melhor organização temática das exposições.

Como o papel educacional dos museus se intensificou, explica Marandino


(2000), essa geração tinha objetivos de utilidade pública e ensino mais
explícitos que os de primeira geração, pois de galerias para admiração e
curiosidade passaram a locais de investigação. Assim, começaram a expor
ao lado do acervo histórico alguns aparatos que poderiam ser acionados
pelos visitantes, representando, segundo a autora, uma tentativa de diálogo
e interatividade. Marandino et al. (2009) afirmam que as exposições
tornaram-se mais didáticas, havendo uma separação entre a coleção de
pesquisa e a de exposição. Conforme as autoras, também é estabelecida
uma organização temática das exibições, demonstrando uma maior
preocupação com os visitantes. É nesse contexto que surgiram os dioramas
e as réplicas. (VAINE, 2013, p.46).

As réplicas mostram-se úteis em termos didáticos e ilustrativos,


possibilitando aos visitantes um aprendizado construtivista de diversos conceitos
paleontológicos, tais como Evolução da vida, Paleoecologia e Paleogeografia.
25

A grande demanda por material didático relacionado às Ciências da Terra, levou


a MINEROPAR a iniciar em 2003 o Programa Geologia na Escola – o caminho das
rochas – que concluído em 2006, produziu seis cadernos didáticos, dez pôsteres e
um mostruário de rochas, minerais e materiais para experimentos, conforme
demonstrados nas Figura 13 e Figura 14.
Esse material foi distribuído a 2164 escolas da rede pública estadual no ano de
2007, proporcionando conhecimentos mais aprofundados das Geociências através
de novos meios de aprendizagem para os últimos anos do ensino fundamental e
todas as séries do ensino médio.

Figura 13 - Programa Geologia na Escola. Adesivo da tampa da caixa


distribuída às escolas mostrando o conteúdo do kit: 6 cadernos, 10 pôsteres e
um mostruário de rochas, minerais e materiais de experimento - 2007.

Fonte: Arquivo pessoal.

O Programa Geologia na Escola teve como parceiro a Secretaria de Estado da


Educação - SEED e não contemplou os anos iniciais do ensino fundamental, de 1ª a
5ª séries, que são de competência dos municípios. Também havia um consenso, que
o conteúdo didático-pedagógico não era adequado aos níveis iniciais do ensino,
merecedores, portanto, de projeto específico que chegou a ser proposto, mas não se
concretizou.
26

Figura 14 - Mostruário de rochas e minerais distribuído as escolas - 2007.

Fonte: Arquivo pessoal.

Mesmo com tantos percalços, fosse por falta de recursos ou apoio das esferas
superiores, no mês de agosto de 2009, para comemorar o Ano Internacional do
Planeta Terra, organizamos uma oficina de ensino de geociências para mais de 500
professores da rede pública estadual. Um dos materiais distribuídos foi o Almanaque
Geotônico (Figura 15), uma publicação com efemérides relacionadas às ciências da
Terra e as caixinhas de rochas e minerais do Paraná (Figura 16).
É o ensino da Ciência que desenvolve competências permitindo a cada
indivíduo tornar-se membro de uma comunidade científica específica. O
conhecimento científico não se adquire simplesmente pela vivência de situações
quotidianas pelos alunos. Há a necessidade de uma intervenção planejada do
professor, a quem cabe a responsabilidade de sistematizar o conhecimento de
acordo com o nível e contexto escolares.
27

Figura 15 - Almanaque Geotônico – MINEROPAR - 2009.

Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 16 - Mostruário de Rochas e Minerais do Paraná- 2009.

Fonte: Arquivo pessoal.

No Brasil, praticamente inexiste cultura geológica nos alunos que completam


a educação básica. Para Nigro e Campos (1997), “o programa de Ciências do
ensino fundamental é fragmentário e superficial. Dividido segundo os tópicos de ar,
água e solo, não permite que o professor descreva aos seus alunos o mundo em
que vivemos, sua origem, evolução e destino”. Barbosa (2003), assinala a
insuficiente disponibilidade de material didático no ensino fundamental... “Ainda que
o livro didático busque sanar algumas deficiências, persiste a falta de uma visão
integrada da Terra e das interações entre seus sistemas”.
Nesse contexto de que para melhorar a educação brasileira é necessário o
empenho de todos, e de que o conhecimento é um empreendimento laborioso
envolvendo diferentes pessoas e instituições, é que a MINEROPAR se inseriu,
28

através do Programa Geologia na Escola, na formação de professores e na


implantação de espaços museais de educação não formal em Geociências.
29

2 A CASA DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Como mencionado no capítulo anterior, a Casa da Ciência e Tecnologia foi


criada a partir do Decreto nº 2543, de 14 de setembro de 1993, e o artigo 2º
compunha a comissão de técnicos, responsável pela implantação da mesma:

“O GOVERNADOR DO ESTADO DO PARANÁ, no uso das atribuições que


lhe são conferidas pelo art. 87, item V, da Constituição Estadual e sob
proposta da Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral,
DECRETA: Art. 1º O Instituto de Tecnologia do Paraná, no prazo de 90
(noventa) dias, definirá a programação de implantação do Projeto CASA DA
CIÊNCIA E TECNOLOGIA a ser instalado em suas dependências
localizadas no Bairro Juvevê, em imóveis situados na Rua dos Funcionários,
em Curitiba. Art. 2º Para definir a programação prevista no artigo 1º, fica
instituída Comissão Técnica que terá prazo de 60 (sessenta) dias para
efetuar o detalhamento técnico e a definição da estratégia de implantação
da CASA DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA, composta por: MARIA ELIZABETH
LUNARDI - RG nº 2.070.532, na qualidade de Coordenadora (SEPL), KATIA
SIEDLECK - RG nº 1.265.491 (MINEROPAR), MARIA DA GRAÇA
ALVAREZ - RG nº 1.854.337 (SETI), MARIA ELIZABETH EASTWOOD
VAINE - RG nº 879.555 (MINEROPAR) e SONIA ALBUQUERQUE - RG nº
1.523.896-8 (TECPAR). ” (PARANÁ, 1993).

A CASA DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA foi instalada em um dos prédios do


TECPAR (Figura 17), no bairro Juvevê, em Curitiba, com área construída de
aproximadamente 500 m². Com a transferência das atividades de pesquisa e
produção do TECPAR para a Cidade Industrial de Curitiba, o objetivo era ocupar
todos os edifícios (Figura 18), aproximadamente 10.000 m², para as instalações
desse museu. Além de estarem estrategicamente situados, formariam um centro
cultural importante para o Estado; um espaço onde a comunidade poderia conhecer
a história e os avanços da ciência e tecnologia.
A partir de um projeto museológico elaborado pela especialista Elisabeth
Zolcsak, oriunda da extinta Estação Ciência da cidade de São Paulo, a primeira
etapa foi concluída e no dia 23 de março de 1994 inaugurou-se em Curitiba a CASA
DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA, um centro de difusão técnico-científica, formado por
um consórcio de empresas públicas paranaenses, com acervos museológicos
catalogados e restaurados. Entre seus objetivos principais, estavam descritos:

● Ampliar a cultura técnico-científica da população, através de exposições


interativas e experimentos dinâmicos;
30

● Dotar o Paraná de ambiente apropriado para a difusão de conhecimentos


técnico-científicos de forma simples, didática e contextualizada, e para o
resgate da história da ciência e tecnologia no Estado;

● Colaborar com o ensino de 1º, 2º e 3º Graus, através de visitas programadas,


estimulando vocações e intensificando o intercâmbio na área da educação
científica, mediante o objeto, o livro, a palavra e a experiência;

● Constituir um núcleo de pesquisa e desenvolvimento de aparelhos e


instrumentos pedagógicos, visando a experimentação científica e tecnológica,
para uso da própria CASA e de estabelecimentos escolares;

● Tornar acessíveis a pesquisadores e interessados os recursos informacionais


e histórico-científicos disponíveis—documentação gráfica, iconografia plástica
e dinâmica;

● Criar um espaço para discussão da temática ciência e tecnologia no Estado


do Paraná.

Figura 17 - Prédio onde foi instalada a Casa da Ciência e Tecnologia - 1993.

Fonte: Acervo TECPAR.

Além da organização temporária de espaços destinados a mostrar o


desenvolvimento da ciência e tecnologia contemporâneas, de forma interativa e
dinâmica, a Casa contava com três acervos históricos permanentes:
31

Figura 18 - Sede do Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas - IBPT,


1955. No primeiro prédio à esquerda foi instalada a Casa da Ciência e
Tecnologia no ano de 1993.

Fonte: Acervo TECPAR.

● História da Ciência e Tecnologia no Paraná – será representada,


principalmente, pelo acervo museológico do Instituto de Tecnologia do Paraná
TECPAR, composto por cerca de 300 peças (máquinas, equipamentos e
materiais de pesquisa), material bibliográfico (10.000 itens), fotografias e
maquetes (Figura 19). O TECPAR, criado em 1940, formou a primeira
geração local de pesquisadores nas áreas de agronomia veterinária, química,
geologia e bioquímica.
32

Figura 19 - Maquete da Usina de aproveitamento do xisto pirobetuminoso,


montada por Ludwing Johann Weber, em 1947. Em 1950 iniciaram os estudos
sistemáticos referente ao xisto pirobetuminoso e o carvão mineral no Paraná.

Fonte: Acervo TECPAR.

● Coleção de Rochas e Minerais Professor Reinhard Maack - essa coleção


recuperada e conservada pela MINEROPAR consistia em aproximadamente
5.000 amostras de rochas e minerais paranaenses, coletadas por Maack e
sua equipe durante o período de 1930-60. Maack, além de pesquisador do
TECPAR, foi precursor na implantação das atividades de ensino e pesquisa
na área das geociências no Estado (Figura 20).

● História da Energia no Paraná - representada, inicialmente pelo acervo do


Museu da Energia da COPEL, constituído de 1.500 peças, dentre
maquinários, equipamentos e documentos oficiais resgatando a gênese e a
evolução do setor elétrico no Estado, desde o início do século passado,
época em que se fundamentaram as primeiras concessionárias de energia
elétrica no Paraná.
33

Figura 20 - Reinhard Maack (02/10/1892 - 26/08/1969).

Fonte: Acervo TECPAR.

Na Casa, além do espaço expositivo, havia uma biblioteca com mais de 5000
títulos, um auditório polivalente, e estavam previstos no projeto, uma oficina de
desenvolvimento, restauração e conservação, área para reserva técnica, área para
alimentação e quiosques para venda de kits científicos e souvenires.
A exposição inaugural com o tema: “CIÊNCIA E TECNOLOGIA: Alimento da
Vida” apresentava diversas formas de participação da ciência e tecnologia na
produção de alimentos, utilizando especialmente estudos e dados do Estado do
Paraná.
O tratamento desse tema vinha de encontro aos objetivos da Casa, dentre os
quais estavam a difusão do conhecimento técnico-científico, o resgate da história em
seus pontos de interseção com a ciência e tecnologia e a discussão dessas
atividades especialmente no Paraná. O Estado, por suas características de solo e
clima, traçou uma de suas trajetórias de desenvolvimento na produção e
processamento de alimentos, trazendo a diversificação de atividades econômicas.
34

O desenvolvimento do tema baseou-se em dados científicos e contou com a


participação da comunidade de pesquisadores, docentes e tecnólogos de várias
áreas do conhecimento.
A estrutura da exposição estava distribuída conforme abaixo:

● O Homem e os Alimentos: da Coleta à Produção;


● Produção de Alimentos: Paraná;
● Produção de Alimentos: aspectos lógicos;
● A importância dos Alimentos para o Homem: que gosto tem?
● Como crescem as plantas e os animais? Fatores de aumento da produção;
● A Ciência aumentando a produção de Alimentos;
● A Terra: Solo e Subsolo;
● A Industrialização: produzir e guardar;
● A Energia da Água;
● O Alimento da Água;
● Modernização Tecnológica: a força do homem e a força da máquina. Críticas
e reflexões;
● Novos problemas e soluções;
● A Ciência e o Homem.

Para complementar a exposição, a Casa contava com um sistema em


multimídia, uma das mais avançadas tecnologias desenvolvidas pela informática
naqueles idos dos anos 1990. O sistema multimídia possibilita a junção de três
linguagens: o som, a imagem e o texto, tornando a informação instantânea e mais
atrativa. O sistema multimídia propiciava ao usuário a seleção do roteiro que lhe
parecia mais interessante, dentro dos três módulos propostos: Ciência e Tecnologia
de Alimentos, Nutrição e Produção Agropecuária Paranaense.
Ao se apropriar dessa linguagem, a Casa da Ciência e Tecnologia enfrentava
o desafio da dinamicidade e propunha ao visitante uma leitura ágil que
complementava o tema da Exposição.
A partir da sua inauguração em março de 1994 por diversas autoridades,
como mostra a Figura 21, a autora ficou responsável pela administração e
divulgação do espaço, bem como pela contratação e treinamento de mediadores e
estagiários conforme anexo A.
35

Figura 21 - Inauguração da Casa da Ciência e Tecnologia em 21 de março de


1994 no TECPAR, unidade Juvevê.

Fonte: Acervo TECPAR.

Após 2 anos de atividades, em março de 1996 a Casa foi desativada para dar
lugar à Faculdade de Arte do Paraná – FAP, com a promessa do então governador
Jaime Lerner, que um novo espaço, maior e mais apropriado, seria destinado ao
projeto.

Na concepção da equipe liderada pelo ex-governador, o novo espaço seria o


nosso “la Villete” caboclo, citando o modelo do parque francês nos arredores de
Paris. As instalações seriam no antigo Parque Castelo Branco, palco de feiras
agropecuárias no município de Pinhais e que estava desativado há dois anos. De
acordo com as declarações do ex-governador na época, o Parque da Ciência
possibilitaria aos seus visitantes “trilhar uma viagem lúdica pelos caminhos da
ciência e da tecnologia”. O parque La Villete também foi instalado num espaço
abandonado, uma área industrial de 55 hectares, no sul da França. Mas as ideias da
equipe de Lerner que levaram à extinção da Casa da Ciência e à projeção do nosso
La Villete caboclo, serão expostas mais à frente.
36

Anexo A - Ofício solicitando a designação da autora para a coordenação das


atividades da CASA DA CIÊNCIA.

Fonte: Arquivo pessoal.


37

3 OS ESPAÇOS MUSEAIS DA MINEROPAR

Os museus de ciências voltam cada vez mais sua atenção à promoção de


atividades que visam auxiliar o processo de educação formal e seus resultados
enquanto contribuintes para o processo ensino-aprendizagem. A experiência da
MINEROPAR com a Casa da Ciência e Tecnologia, apesar do encerramento das
atividades, continuava viva através das suas coleções e na contextualização de
possuir diversas linhas de ação e se tornar receptiva a todos os tipos de público,
principalmente professores que poderiam trazer seus estudantes, e se tornar um
recurso para as práticas pedagógicas. Encerrada essa etapa em 1996, no ano de
1997, para comemorar os 20 anos de fundação da MINEROPAR, foi criado o CIM –
Centro de Informações Minerais e designado um espaço de 50 m² para a montagem
de uma exposição das suas memórias e coleções e assim continuar viva como num
teatro do Ter e Manter de Blum (2002). O CIM foi então inaugurado no dia 21 de
outubro de 1997 pelo governador Jaime Lerner. (Figura 23).

Continua viva em outras formas também, em coleções que obviamente


encerram lembranças ou uma concepção do passado, em museus locais
destinados à vida de pessoas […] salas mobiliadas para lembrar aquilo que,
de outra forma, estaria irremediavelmente perdido. (BLOM, 2002, P.219).

Figura 23 - Solenidade de inauguração do CIM - 1997.

Fonte: Arquivo pessoal.


38

Esse espaço museal dentro do CIM recebeu o nome de “Espaço Reinhard


Maack” (Figura 24). Além da coleção de rochas e minerais, diplomas e objetos
pessoais do cientista, contava com painéis temáticos do sistema solar, do Tempo
geológico mostrado na Figura 25, mapas históricos, coleção de rochas e minerais da
empresa e objetos de uso na profissão de geólogo.

Figura 24 - “Espaço Reinhard Maack” – MINEROPAR - 1997.

Fonte: Arquivo pessoal.

Com a implantação desse espaço, a MINEROPAR foi se inserindo como


espaço não formal de ensino de Geociências. De uma maneira geral, Cazelli et al
(1998) citada por Marandino (2001, p.89) elenca “três motivos principais que levam o
professor a buscar o museu de ciências: entendem o museu como ambiente de
aprendizagem, a abordagem interdisciplinar ou relacionada com o cotidiano e a
ampliação da cultura de seus estudantes.”
39

Figura 25 - Painel do Tempo Geológico do “Espaço Reinhard Maack” – 1997.

Fonte: Arquivo pessoal e elaborado pela autora.

Entretanto, é necessário ressaltar que escola e museu dialoguem, na


perspectiva de preparar o educador, fazendo com que ele conheça os recursos
disponíveis no museu, preparar os estudantes, para que reconheçam a visita
enquanto uma proposta pedagógica com objetivo claro. Finalmente, mas não menos
importante, é necessário preparar o mediador da atividade, a fim de que, além do
domínio do conteúdo técnico-científico, ele consiga estabelecer um canal de
comunicação eficaz entre o acervo e o público, respeitando os limites de cada um,
instigando, provocando, apresentando outros olhares, outras possibilidades.

O “Espaço Reinhard Maack” apesar da sua área muito reduzida funcionou até
o ano de 2001. Recebia mil alunos por ano e a mediação era feita pelos geólogos da
empresa (Figura 26). Não havia uma limitação por grau de ensino. Todas as séries
eram contempladas e houve uma tentativa de parceria com as Linhas do
Conhecimento, um projeto da Prefeitura municipal de Curitiba, e com estudantes da
40

Faculdade de Artes do Paraná na produção de um espetáculo abordando grandes


eventos geológicos brasileiros e que não se concretizou por falta de recursos
financeiros.

Figura 26 - Mediação com estudantes no “Espaço Reinhard Maack” - 1998.

Fonte: Arquivo pessoal.

Segundo Lozada, Araújo e Guzzo (2006), “os espaços não-formais de ensino


de Ciências, quando adequadamente explorados, permitem o desenvolvimento de
valores, competências e habilidades, além de promover a aproximação do público
com os saberes científicos, capazes de auxiliá-los na compreensão do mundo que
os cerca.”
No ano de 2002, a MINEROPAR mudou de sede e o CIM ganhou uma área
maior onde implantaria um espaço museal mais adequado às demandas que
surgiam das instituições de ensino. Com o falecimento recente do professor e
cientista Riad Salamuni, o novo espaço foi assim denominado e ganhou um novo
projeto, inspirado no Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade
Católica, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O Professor Riad Salamuni foi
diretor da MINEROPAR no período de 1983-1985 e Reitor da Universidade Federal
do Paraná no quadriênio 1986-1990.
41

O então denominado “Centro de Informações Minerais Riad Salamuni”


mostrado nas figuras 27 e 28, inaugurado em 2003, contava com uma área de 141
m² de exposição e recebia em torno de 2500 visitantes por ano.

Figura 27 - Painel em homenagem ao Professor Riad Salamuni – 2002.

Fonte: Arquivo pessoal.


No CIM foram implantados vários dioramas, exposições multimídias,
equipamentos, minerais e sistemas interativos. A exibição de processos geológicos
ou interplanetários de maneira interativa, despertava um fascínio entre os visitantes,
em sua maioria estudantes dos ensinos fundamental, médio e superior. O contato
físico com o acervo de rochas do Paraná ao alcance das mãos, revelou-se como
importante ferramenta na divulgação do saber científico. O uso de dioramas como
descreve Marandino (2020) não é consenso dentro dos museus. “Há quem os
considere obsoletos, entretanto vem sendo largamente empregados por ter um
relevante papel educativo, com uma riqueza de dados, causando impressões,
sensações e indagações ao observar esses objetos.”

[...]uma série de objetos que remetem a cenários representativos de


ambientes, situações, indivíduos ou elementos, buscando caracterizá-los de
uma forma real. No contexto dos museus, os dioramas possuem uma
trajetória longa e rica, além de um relevante papel educativo […] O trabalho
com dioramas pode promover, além da aprendizagem de conceitos
científicos, o conhecimento sobre aspectos da natureza da ciência.
(MARANDINO, 2020, p.13)
42

Figura 28 - Espaço expositivo do CIM – Maquete do ciclo das rochas - 2003.

Fonte: Arquivo pessoal.

No CIM, os visitantes eram recepcionados no auditório com uma breve


apresentação institucional e a exibição de um vídeo sobre geociências. O tema era
previamente selecionado pela escola ou grupo interessado. Após essa etapa se
dirigiam ao espaço museal. As visitas eram mediadas por acadêmicos de Geologia e
Geografia. Essa exposição perdurou até o ano de 2010 e apesar de todos os
esforços, recebia poucos interessados, em torno de 2500 visitantes por ano. Havia
poucos mediadores para a demanda e pouca disponibilidade de horários de
visitação.
Em 2010 o espaço foi fechado à visitação e ao longo de todo o ano passou
por uma remodelagem, com um novo projeto museológico, uma nova expografia
(Figura 29) e agregando mais uma área de 74 m² para acomodar a recém-adquirida
coleção de rochas, minerais, metais preciosos, gemas e meteoritos (Figura 30). Com
esse acréscimo e mais os espaços da exposição, auditório, administração e
sanitários, o CIM atingiu uma área de 341 m². Eram dois grandes desafios:
remodelar totalmente um espaço que após sete anos de atividades se encontrava
totalmente descaracterizado pois havia uma multiplicidade de objetos espalhados
que distraiam e confundiam o entendimento, estando mais para um gabinete de
curiosidades do que um museu interativo de ciências e, expor de forma adequada, a
43

rica coleção de minerais adquirida do professor Svizzero da Universidade de São


Paulo. Cabe aqui citar Walter Benjamin, em Rampim (2018) “que o objeto da ciência
se constitui em uma trama dialética entre passado e presente, a qual se atrela […]
de maneira não evidente à atualidade e remete a uma tarefa a ser resolvida:”

[…] uma ciência da história, cujo objeto não é formado por um novelo de
facticidades puras, mas pelo grupo contado de fios que expõem a trama de
um passado na textura do presente. […] e durante séculos, fios podem ter
sido perdidos, que o decorrer atual da história pode retomar por saltos e de
modo inconspícuo. O objeto histórico que é destacado da pura facticidade
não necessita de nenhuma “apreciação”. Pois ele não oferece vagas
analogias com a atualidade, mas constitui-se na precisa tarefa dialética que
a essa atualidade cabe resolver. (RAMPIM, 2018, p.150).

Figura 29 - Planta baixa do CIM - MINEROPAR -2010.

Fonte: elaborada pela autora.

Primeiro era preciso ser um curador na grandeza daquele espaço, cujas


atividades são bem descritas por Sir William Henry Flower, curador do Museu
Britânico no planejamento do museu em 1898, em Blom (2003).
44

Primeiro é preciso ser um curador. Ele deve examinar cuidadosamente o


objetivo do museu, a classe e a capacidade das pessoas para cuja instrução
está sendo criado, e o espaço disponível para conseguir esse objetivo.
Dividirá então o assunto, a ser ilustrado em grupos, e levará em conta suas
proporções relativas, e de acordo com ela planejará o espaço [...]. Certas
proporções a serem ilustradas, tanto em estrutura, classificação, distribuição
geográfica, posição geológica […] serão apresentadas em linguagem clara e
concisa. Por último virão os espécimes ilustrativos, cada um ocupando o
lugar para o qual foi preparado (BLOM, 2003, p.145).

Figura 30 - Planta baixa da exposição de rochas e minerais – -2010.

Fonte: Arquivo pessoal.

A coleção era muito rica, um microcosmo do que era a MINEROPAR, e a


ideia era ambiciosa na implantação do novo espaço em abrigar esse patrimônio e
em miniaturizar o Universo, a Terra e seus eventos, fossem eles geológicos ou por
ação antrópica. Miniaturizar o mundo é mais fácil de dizer do que fazer como citado
por Bachelart (1993), “permite mundificar sem se arriscar muito, faz a imaginação
permanecer vigilante […] Na verdade, a imaginação miniaturizante é uma
imaginação natural que aparece em qualquer idade nos devaneios dos sonhadores.”
45

A remodelagem do espaço tinha um desafio maior a ser enfrentado, a falta


de recursos financeiros. Isso fez com que se aproveitasse todo o material da
exposição preexistente e a utilização dos próprios técnicos e estagiários da empresa
na elaboração do projeto e implantação do mesmo e transformasse o CIM num
canteiro de obras durante todo o ano de 2010 conforme a figura 31 abaixo.

Figura 31 - Oficina para montagem da nova exposição - 2010.

Fonte: Arquivo pessoal.

Além da miniaturização dos eventos geológicos, como vulcanismo, tectônica


de placas, a Terra e sua camadas internas, o seu contexto no Sistema Solar, a
Tabela periódica com os 118 elementos químicos, havia a necessidade de algumas
réplicas, principalmente de fósseis e esqueletos para contar a história geológica da
vida na Terra e que não existiam mais.
O novo espaço foi projetado pela autora deste trabalho, bem como os
projetos das maquetes, dioramas, painéis e toda a expografia que foi denominada
“Espaço Terra: Origem e Transformação”. O projeto contemplou a expografia em 18
nichos ou paredes. A autora também participou ativamente na confecção das
maquetes e dioramas conforme mostram as figuras 32 e 33. As exceções foram a
sala de rochas e minerais com projeto executado por arquiteto, a maquete da
geologia do Paraná com projeto e execução do geólogo Marcell Leonard Besser e o
ciclo da indústria de calcário pelo artista ceramista Gilberto Narciso.
46

Figura 32 - Trabalhando na montagem da nova exposição - 2010.

Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 33 - Trabalhando na montagem da nova exposição - 2010.

Fonte: Arquivo pessoal.


47

A nova exposição, além de um espaço reservado à memória dos cientistas


Reinhard Maack e Riad Salamuni, teria uma sequência cronológica dos eventos
geológicos (Figura 34), terminando na sala da exposição de Minerais e Rochas em
homenagem ao geólogo e geógrafo americano radicado no Brasil na época do
Império, Orville Derby, considerado um dos precursores da Geologia no Paraná e um
dos responsáveis pelas primeiras pesquisas nesta área no Estado.
A abordagem da exposição iniciava pelo big bang, e na sequência os
elementos químicos, a formação do sistema solar, a Terra, a tectônica de placas, o
ciclo de formação das rochas, a história geológica da vida na Terra, a fossilização, a
Geologia e os recursos minerais do Paraná, os principais tipos de solos, aquíferos,
acidentes geológicos, aterros sanitários e a importância dos recursos minerais na
nossa vida.
A leitura seguia uma sequência cronológica dos eventos mostrados em
painéis, maquetes e dioramas que despertavam a indagação, a curiosidade, a
descoberta e a criação.
48

Figura 34 - Projeto da nova exposição – 2010. 3 e 4 Sistema Solar. 5 e 6 Interior


da Terra. 7.Correntes de convecção e atmosfera terrestre. 8. Dança dos
continentes. 9. Tectônica de Placas. 10. História geológica da vida.

Fonte: elaborado pela autora.


49

No dia 15 de dezembro de 2010, o novo centro de exposições da


MINEROPAR foi inaugurado (Figura 35 e Figura 36) e conseguiu contemplar toda a
proposta do projeto expográfico inicial.

Figura 35 - Inauguração do museu da MINEROPAR - 2010.

Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 36 - Inauguração do museu da MINEROPAR - 2010.

Fonte: Arquivo pessoal.


50

Monitorada por acadêmicos de Geologia e Geografia, o espaço era


frequentado por estudantes de todos os níveis do ensino, através de visitas
pré-agendadas. Anualmente ocorriam cursos de capacitação de professores de
Ciências da rede municipal de ensino.
A demanda por agendamentos era muito maior do que o espaço comportava.
Por ano, eram recepcionados em torno de 15 mil visitantes, entre estudantes e
professores, que ao final do turno eram contemplados com kits de rochas e minerais
paranaenses, conforme a figura 37². O trabalho de divulgação desenvolvido pelo
CIM, incluiu mailing conforme a figura 38, reportagens nas redes televisivas locais
(link na Figura 39) no decorrer de todo o ano de 2011 e isso colocou a MINEROPAR
como um importante espaço não formal de ensino nos roteiros de interesse da
comunidade escolar do nosso estado.

Figura 37 - Linha de produção de kits de rochas e minerais -2014.

Fonte: Arquivo pessoal.


2

2
Este Kit inspirou muitos estudantes na produção de mais materiais de ações educativas como
mostra o link https://www.youtube.com/watch?v=yu70ARH106Q
51

Figura 38 - Mailing enviado às escolas - MINEROPAR - 2011.

Fonte: Arquivo pessoal.


52

Figura 39 - Reportagem do Museu da MINEROPAR - 2011.

https://www.youtube.com/watch?v=10i4fmhCdEs

Turbinado não apenas pela MINEROPAR, mas pelas mídias, professores e


estudantes das escolas que frequentavam o espaço, o MUSEU era um sucesso de
público. De 300 visitantes atendidos em média nos anos 1980, em 2014 recebeu
12.000 alunos em 280 visitas e em 2015 teve 324 visitas agendadas e recepcionou
15.597 estudantes desde o 1º ano do ensino fundamental até universitários de
cursos relacionados à Geociências. Este número apesar de limitado às instalações e
ao horário de atendimento chegou a 25.000 visitantes no ano de 2016 (Figuras 40,
41, 42, 43 e 44).
53

Figura 40 - Chegada de estudantes ao Museu - 2015.

Fonte: Arquivo pessoal elaborado pela autora.

Figura 41 - Recepção de estudantes no auditório da MINEROPAR - 2011.

Fonte: Arquivo pessoal.


54

Figura 42 - Mediação no museu da MINEROPAR - 2011.

Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 43 - Visitação de estudantes - MINEROPAR - 2011.

Fonte: Arquivo pessoal.


55

Figura 44 - Mediação no museu da MINEROPAR - 2011.

Fonte: Arquivo pessoal.

No dia 20 de dezembro de 2016, pela Lei nº 18929 sancionada pelo Governo


do Estado, a MINEROPAR é extinta e passa a fazer parte do Instituto de Terras,
Cartografia e Geologia do Paraná – ITCG. Durante 40 anos, as demandas dos
municípios foram atendidas por meio da MINEROPAR, colocando o conhecimento a
serviço do planejamento urbano e alertando sobre os riscos geológicos associados.
Na área da educação contribuiu com publicações diversas sobre o tema, materiais
estes que até hoje são utilizados por instituições de ensino no Brasil e implantou na
sua sede, o primeiro museu de geociências do Paraná.

Apesar de exercer as atividades de um museu, não houve uma gestão


museológica, nem a implementação de parâmetros museológicos, como por
exemplo, a elaboração de documentos e o gerenciamento dessas coleções a fim de
preservar e fortalecer a instituição. Sem um espaço físico que pudesse ser utilizado
56

para a transferência dessas coleções (Figura 45), o CIM encerrou suas atividades
em julho de 2017 e doou o acervo ao Parque da Ciência Newton Freire Maia.

Figura 45 Exposição Terra: Origem e Transformação - MINEROPAR - 2016.

Fonte: Arquivo pessoal.


57

4 PARQUE DA CIÊNCIA NEWTON FREIRE MAIA – a nova casa do


acervo da extinta MINEROPAR

O acervo do museu da MINEROPAR doado ao Parque da Ciência Newton


Freire Maia, em Pinhais, levou praticamente dois anos para ser transferido. Mapas,
globos e maquetes com atividades de mineração eram instrumentos didáticos para
crianças e serviam de iniciação à importância do conhecimento sobre as
geociências. Houve um descaso com o patrimônio público, com a herança cultural
para as próximas gerações. Museus e acervos têm finalidades educacionais e a
educação estava sendo deixada de lado.
O Parque da Ciência Newton Freire Maia teve gênese na ressignificação do
Parque de Exposições Agropecuárias Marechal Humberto Castelo Branco, o qual
abrigou, desde sua criação em 1964 até meados de 1998, uma das principais feiras
do setor agropecuário paranaense. As mudanças impetradas pelo processo de
urbanização de Curitiba e seu entorno, aliadas a política de preservação de
mananciais e construção de barragens para captação de água para o abastecimento
da população foram alguns dos fatores determinantes para o encerramento das
exposições agropecuárias em 1998 e, consequentemente, sua desativação.

Em meados do ano 2000, o Governo do Estado acena com a proposta de


transformar o Parque Castelo Branco em um espaço de divulgação e popularização
de Ciência e Tecnologia, o qual foi implementado a partir de 2001 através da
mobilização de diversas empresas e órgãos públicos e instituições de ensino
superior. Este empreendimento culminou com a inauguração do Parque da Ciência
em 20 de dezembro de 2002 (Figura 46), que a partir de maio de 2003 passa a se
chamar Parque da Ciência Newton Freire Maia, face à morte do Professor Dr.
Newton Freire Maia, um dos expoentes da genética paranaense.

No projeto original, o Parque da Ciência estaria espalhado em 80 hectares e


seria dividido em sete espaços: Exploratório, Mundo do Campo, Palco Paraná, Circo
da Ciência, Centro de Referência e Documentação e Centro de Arte Equestre. Um
centro de conhecimento, arte, cultura e lazer. A ideia era atrair para o local cerca de
quinhentos mil visitantes por ano, entre estudantes e comunidade em geral. O
projeto foi elaborado por um comitê científico, que teve a participação de professores
58

das universidades Federal do Paraná e estaduais de Londrina, Ponta Grossa e


Maringá.

Figura 46 -Vista aérea do Parque da Ciência Newton Freire Maia - 2022.

Fonte: Internet – Site do Parque da Ciência.

A escolha do Parque da Ciência para acolher o acervo museal da


MINEROPAR obedeceu a uma linha de raciocínio como explicitada por Bachelard
(1993) em fazer com que “uma nova ideia se integre em um corpo de ideias já
aceitas, ainda que a nova ideia obrigue esse corpo a um remanejamento profundo”.
O Parque apresenta diversas exposições com potencialidades para a promoção da
educação não formal em Museus de Ciências.

O Parque da Ciência conta no Exploratório, como é denominado o espaço


expositivo de 8000 m², com um acervo pautado por 4 grandes temas: Universo,
Cidade, Energia e Biodiversidade, alocado em 5 pavilhões temáticos:

● Cidade: A cidade como espaço de produção da Ciência, de transformação, de


lutas e de convívio. Sua exposição enfoca as transformações da paisagem, a
diversidade cultural, o planejamento e a gestão do espaço urbano. Abriga a
Sala 3D Milton Santos, espaço que homenageia um dos ícones da Geografia
brasileira e mundial;

● Energia: As formas da energia, os processos de transformação e os impactos


do desenvolvimento científico-tecnológico integram a espinha dorsal deste
pavilhão, o qual também encerra o Planetário Indígena, um dos pioneiros na
divulgação da Etno astronomia Indígena brasileira;
59

● Água: A água como fonte da vida, biodiversidade e impactos ambientais


constituem os principais elementos deste pavilhão. Merece destaque também,
o Laboratório de Química, espaço para a realização de experiências e
demonstrações;

● Terra: Recursos renováveis e não-renováveis, mineração e o micromundo


são os tópicos mais presentes, bem como os relacionados à Botânica, fruto
da presença do Herbário Iraí.

Havia no pavilhão Terra um espaço concreto para abrigar o mundo dos


objetos inertes da coleção da MINEROPAR. O espaço Terra seria o ninho que
acolheria o acervo. Citando Bachelard (1993, p 111) “a casa-ninho nunca é nova {…}
ela é o lugar natural da função de habitar”. Dessa forma, cabia ao Parque, aninhar e
integrar o acervo como se fosse a sua moradia natural e os valores de cada objeto
se multiplicariam. Foi acrescentado um novo olhar diante dos objetos herdados. A
coleção, que tinha o risco de se dispersar, dotou o espaço de múltiplas
interpretações e encontrou no Parque um refúgio de grande segurança. Nessa
mudança concreta, não se mudou o espaço, ele já estava ali, mudou-se a natureza
do imaginar e a forma de significar cada objeto.

As mudanças provocadas por diferentes governantes, como essas trocas


constantes de locais e enfoques, reverberam negativamente na continuidade desses
espaços destinados à alfabetização científica da comunidade em geral. Entretanto,
no caso da MINEROPAR que teve sua coleção retirada do seu contexto pela
extinção da empresa, ela foi inserida no Parque em uma nova ordenação,
oferecendo um novo modelo de aprendizagem científica ao público-alvo.
O primeiro acervo a ser readequado no Parque, foi a coleção de Rochas e
Minerais Orville Derby, conforme se observa na Figura 47, o início da montagem dos
expositores, comandada pelo Professor Anísio Lasievicz, Diretor do Parque e o
Geólogo Oscar Salazar Junior, da extinta MINEROPAR.
Os trabalhos de readequação tiveram início no final de 2019. Com o início da
pandemia em 2020 e as visitações suspensas, foi possível integrar toda a coleção
composta por maquetes, dioramas, fósseis, réplicas e amostras no pavilhão Terra,
interagindo com o acervo já existente.
60

Figura 47 - Montagem da coleção de rochas, minerais e meteoritos oriunda do


museu da MINEROPAR - Parque da Ciência Newton Freire Maia - 2019.

Fonte: Foto da Agência de Notícias do Governo do Paraná.

O Parque da Ciência, como uma instituição vinculada à Secretaria de Estado


da Educação, consegue muitas doações advindas das apreensões da Receita
Federal, dentre elas, monitores de LED para serem utilização em multimídias nas
exposições, como por exemplo, no diorama da Dança dos Continentes (Figura 48)
que na MINEROPAR era apenas informativo e no Parque atingiu o status de
interativo.
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Figura 48 - Diorama Dança dos Continentes com ferramenta multimídia -


Parque da Ciência Newton Freire Maia – 2022.

Fonte: Foto da autora.

Na Figura 49, podemos ver a miniaturização da Terra, integrada à expografia


do Parque da Ciência Newton Freire Maia. O painel explicativo que no museu da
MINEROPAR estava fixado numa parede acima do objeto, foi adaptado ao seu
totem.
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Figura 49 - Diorama do Planeta Terra e suas camadas internas. Parque da


Ciência Newton Freire Maia - 2022.

Fonte: Foto da autora.

As Figuras Figura 50 e Figura 51, miniaturizações da construção de uma casa


e das rochas e minerais que fazem parte da nossa vida, ganharam um amplo
espaço e novas amostras que podem ser contextualizadas no ensino aprendizagem
da importância dos recursos minerais.
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Figura 50 - Miniatura “A importância dos bens minerais”. Parque da Ciência


Newton Freire Maia - 2022.

Fonte: Foto da autora.

...
64

Figura 51 - Miniatura “Sua Casa vem da Mineração”. Parque da Ciência Newton


Freire Maia - 2022.

Fonte: Foto da autora.

A Maquete representativa dos acidentes geológicos (Figura 52) foi integrada


ao ambiente de formação de relevos, proporcionando um melhor aprendizado, pois a
partir da manipulação de uma ferramenta interativa é possível visualizar os diversos
tipos de acidentes geológicos que estão contidos no diorama.
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Figura 52 - Maquete de Acidentes Geológicos - Parque da Ciência - 2022.

Fonte: Foto da autora.


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A Geologia do Paraná representada com maestria pelo geólogo Marcell


Leonard Besser na execução dessa maquete de grandes dimensões, (Figura 53)
ganhou um espaço que não existia no antigo museu, bem como um sistema de
proteção, pela sua fragilidade, e correlação com exemplares de rochas das
formações geológicas do estado.

Figura 53 - Maquete da Geologia do Paraná - Parque da Ciência - 2022.

Fonte: Foto da autora.


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Os dioramas da História Geológica da Vida na Terra (Figura 54), foram


enriquecidos com novas réplicas e alguns exemplares de fósseis que faziam parte
do acervo do Parque.

Figura 54 - História Geológica da Vida na Terra - Parque da Ciência - 2022.

Fonte: Foto da autora.

A Tabela Periódica na Figura 55 abaixo, faz parte do diorama do Big Bang


que durante o processo de extinção da MINEROPAR foi muito danificada e precisou
ser repaginada. O resultado foi superior ao que se dispunha no museu originário. Os
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nichos dos elementos eram de MDF e sombreavam as informações. No Parque foi


remontada em acrílico que proporciona mais visibilidade, tanto das informações dos
elementos, como dos objetos miniaturizados.

Figura 55 - Tabela Periódica dos Elementos Químicos

Parque da Ciência - 2022.

Fonte: Foto da autora.


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A coleção de rochas e minerais “Orville Derby” e seus mobiliários mostrados


na Figura 56, foram remontados em uma ampla sala do Pavilhão Terra,
proporcionando aos visitantes um melhor deslocamento no espaço e uma boa
observação dos exemplares expostos nas vitrines.

Figura 56 - Coleção de rochas e minerais “Orville Derby” . Parque da Ciência


Newton Freire Maia - 2022.

Fonte: Foto da autora.

O mobiliário do auditório da MINEROPAR conforme a Figura 57, integrou um


novo espaço para projeções de mídias no Parque da Ciência.
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Figura 57 - Auditório - Parque da Ciência – 2022.

Fonte: Foto da autora.

O Parque da Ciência disponibiliza atividades e modalidades de atendimento


adaptadas às características e objetivos dos diferentes tipos de público que o
frequenta, todas ofertadas gratuitamente. O atendimento escolar consiste em
diversos tipos de visitas como o Percurso do Pensamento que é destinada aos
estudantes do 6º ano do ensino fundamental ao ensino médio e é efetuada de forma
a contemplar os 4 grandes temas do Parque da Ciência, visando incentivar o
interesse pela Ciência e motivá-los a seguir carreiras científicas e tecnológicas;
71

A visita temática, com aprofundamento em um determinado tema para


estudantes do 4º ano do ensino fundamental em diante, acadêmicos e
educadores, com roteiros e abordagens diferenciadas para cada faixa de público
está disponível às quintas e sextas-feiras e o Parque da Ciência abre seu espaço
durante as noites de terça, quarta e quinta para receber estudantes das diversas
modalidades.
O Parque proporciona também o atendimento à comunidade em geral, para
famílias e demais grupos não escolares e visitas técnicas de modalidade especial
destinada a educadores e pesquisadores das áreas de divulgação científica,
educação não formal e Museologia que desejam um aprofundamento nas questões
pedagógicas e técnicas do Parque da Ciência.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A MINEROPAR nos seus 40 anos de atividades de pesquisas geológicas e


prestação de serviços para a sociedade paranaense cumpriu brilhantemente o seu
papel. Geradora de conhecimento e formadora de técnicos que produziram materiais
de grande contribuição para a comunidade, infelizmente, por ingerências políticas
teve o seu destino fadado a cair no esquecimento. No que coube a nós, tentamos
preservar ao máximo um pedaço da empresa que dava visibilidade à instituição, o
Museu do Centro de Informações Minerais. Não foi possível conseguir um espaço,
apesar das dezenas ou centenas de espaços subutilizados ou abandonados sob a
batuta dos governos. Batemos em todas as portas possíveis e a negatividade
imperou. Gestionamos um espaço de 500 m² para remontar o acervo e como não foi
possível, no apagar das luzes da MINEROPAR, sugerimos a doação total ao Parque
da Ciência Newton Freire Maia no município de Pinhais.

O Parque com uma área expositiva de 8000 m², abraçou o acervo na sua
completude. A coleção da MINEROPAR passou por um processo de conservação e
restauro para depois ser aninhada à já existente com a maestria e conhecimento
que o corpo técnico da Parque possui e dessa forma continuar a sua contribuição na
construção do pensamento científico.

Vida longa ao Parque da Ciência Newton Freire Maia. Vida longa que
permitirá a preservação do Teatro de Memórias da MINEROPAR.
73

REFERÊNCIAS

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