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Manifestações

Culturais e Esportivas:
Esportes Individuais
Fundamentos do Esporte Individual

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Igor Roberto Dias

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Fundamentos do Esporte Individual

• Introdução;
• Entendendo o Esporte;
• Regras Básicas;
• História e Evolução;
• Esporte na Sociedade Contemporânea.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Entender o esporte individual como um todo, classificando os esportes individuais e reconhe-
cendo sua ocorrência na sociedade contemporânea e como sua história e evolução ocorreram;
• Entender os esportes individuais e regras básicas para prática e de que forma ocorrem essas
modalidades em caráter competitivo, não competitivo, em escolas e clubes.
UNIDADE Fundamentos do Esporte Individual

Introdução
Quando falamos de esporte, precisamos considerá-lo muito mais do que uma centena
de modalidades esportivas que envolvem uma combinação de gestos técnicos levando a
um resultado, uma vitória, uma quantidade de pontos ou a um título. O esporte faz parte
da cultura corporal do movimento e, justamente por isso, faz parte da nossa história. E
veja que engraçado: o esporte pode, ao mesmo tempo, ser influenciado pela história,
como também pode influenciá-la.

Figura 1 – Modelos de Diferentes Modalidades


Fonte: Getty Images

Michael Jordan, talvez seja visto ainda hoje como um dos maiores jogadores de bas-
quete de todos os tempos, mas o impacto que sua imagem gerou ao esporte foi muito
maior do que suas ações dentro de quadra. É impressionante o alcance que sua imagem
teve no mundo, muito antes das redes sociais existirem. Pessoas no mundo todo conhe-
ciam Michael Jordan, assim como se conhecia a Coca-Cola em quase todo o mundo.
Hoje, você pode julgar isso como algo sem valor, visto que as redes sociais tornam um
desconhecido em conhecido em questão de minutos. Mas, na época, esse era um feito
notável. E o que isso tem a ver com nossa profissão, ou mesmo com os esportes indivi-
duais? Tudo a ver, visto que o esporte tem uma força muito grande na nossa sociedade.
Esse é apenas um exemplo do alcance que o esporte pode ter de um modo geral. Veja,
você provavelmente conhece nomes de alguns atletas que jogam em algumas modalida-
des que provavelmente você não acompanha. Seja pela fama alcançada, ou pela expo-
sição de seus resultados que aparecem na mídia esportiva. E mesmo que você não co-
nheça, não é anormal dizer que muitos desportistas se destacam e se tornam famosos,
muito mais do que a modalidade que praticam. Veja como exemplo o Guga (Gustavo
Kuerten). Você provavelmente conhece esse jogador de tênis, brasileiro, que se destacou
ao ganhar Roland Garros, um dos torneios de tênis mais consagrados e famosos. Guga
se tornou conhecido a uma população que sequer sabia direito como o Tênis funcionava
e, de certo modo, trouxe o conhecimento da modalidade a brasileiros que não tinham

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noção da existência da modalidade. Hoje, mesmo o Guga não sendo tão famoso quanto
foi em sua época, a modalidade Tênis é muito mais conhecida do que antes.

E como não dizer que o esporte não pode influenciar a história, ou as pessoas, você
toma a decisão de comprar de um material esportivo, muitas vezes, por causa da propa-
ganda gerada em cima desse produto por um atleta. O esporte pode ditar tendências,
desde gosto musical, vestimenta, atitudes, a atos e orientações políticas. Portanto, é im-
portante entender como essa força, chamada esporte, funciona. Não podemos nos ater
apenas ao gesto motor, à ação de treinamento, ou a resultados esportivos, precisamos
entender o contexto, a história e a importância do esporte como um todo para entender
o reflexo dele em “quadra”.

Entendendo o Esporte
Antes de falarmos de classificação dos esportes, precisamos entender melhor esse
termo esporte. Você já parou para pensar exatamente o que é esporte e como esse ter-
mo é usado para tudo o que envolve uma atividade física? Perceba que é importante que
nós, professores de educação física, saibamos usar e classificar corretamente os termos
da nossa profissão. Não porque devemos complicar as coisas, mas porque termos cor-
retos correspondem a entender cientificamente nossa área e aprimorar a nossa atuação.

Então a primeira ação é diferenciar o uso da palavra esporte para classificar uma sim-
ples atividade física. Você como professor de educação física não pode se dar ao luxo de
usar o termo esporte para descrever uma atividade física. Importante sairmos do senso
comum, uma pessoa que não é da nossa área pode usar o termo esporte para qualquer
atividade física, mas nós não podemos.

Muito bem, agora já sabemos que tudo bem a sua avó dizer que as crianças brincando
na rua estão fazendo esporte. Mas e agora? Afinal o que é esporte mesmo?

E aí que está a questão, não existe uma resposta pronta para isso. Existem algumas
regras básicas para definir o que é esporte e o que não é, e algumas você pode inclusive
não concordar, mas é importante conhecer para estruturar melhor sua atuação, tanto na
questão de atendimento, como na questão científica dos termos corretos.

Esporte possui uma característica de ser institucionalizado, ou seja, possui regras que re-
gem o seu funcionamento, federações, confederações e por aí vai. A questão é: o futebol que
você prática de final de semana é esporte? Em teoria não. Ele não deixa de ser uma prática
saudável e ao mesmo tempo um exercício físico. Porém, para estudiosos da sociologia do
esporte, não é esporte, visto que não atende a todas as definições do que é esporte.

Para as definições básicas, esporte é aquilo que acontece de uma maneira formal,
ou seja, seguindo estritamente as regras da modalidade. Barbanti (2012), em seu artigo,
relata que esporte é aquilo que acontece quando ocorre uma atividade física competitiva
e institucionalizada.

Vale trazer aqui alguns conceitos importantes para diferenciar uma ação de outra. Lem-
bra quando você era criança e saía para brincar no colégio, na rua ou em outros lugares?

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Esse brincar era descompromissado, ou seja, você e seus amigos não marcavam o
horário para início e fim da brincadeira. No máximo, era um adulto que impunha um
horário para terminar, mas não isso não mudava o fato de a atividade ser descompromis-
sada. Tudo isso se caracteriza por algo espontâneo, por isso não pode ser considerado
esporte. Lembra-se das características do esporte? Então, o esporte, o brincar, o lazer
e até mesmo os jogos e brincadeiras, todos eles podem ser relacionados ao esporte, às
atividades físicas e aos exercícios físicos. Mas cada um deles possui suas características
de acordo com sua estrutura e seu funcionamento.

O lazer, por exemplo, envolve algo descompromissado, que você faz nos seus momen-
tos livres. E durante o lazer, você pode, por exemplo, brincar, jogar e até mesmo praticar
uma modalidade esportiva. Mas, por mais que você considere aquele futebol de domingo
com seus amigos sagrado, em que você inclusive é cobrado se não participar, não pode-
mos dizer que ele é lazer, justamente porque passou a ser um compromisso, porém, não é
esporte, pois isso demandaria seguir as regras e ser algo institucionalizado. Mas digamos
que seu time passe a disputar campeonatos, o famoso time de várzea, passou a ser espor-
te? Se as regras forem seguidas e ocorrer a organização por uma instituição, por exemplo,
uma federação, sim, passou a ser esporte. Complicado, não é mesmo? Mas fique tranqui-
lo, o entendimento desses conceitos são importantes, mas, na prática, pouco usamos, ou
pouco precisamos sair por aí classificando o que é ou não é esporte.

É importante entender que classificar a estrutura por trás do nosso trabalho nos traz
a luz daquilo que estamos fazendo, e como podemos melhorar a eficiência do trabalho
realizado perante os nossos alunos.

Uma leitura que complementa o uso de termo esporte falado por Barbati é o artigo de Azevedo
que também trata sobre o que é esporte e o seu conceito, “Competitividade e inclusão social
por meio do esporte”. Disponível em: https://bit.ly/3qvhZQv

Esporte Não Competitivo e Competitivo


Com relação ao esporte competitivo, revendo o que aprendemos até agora sobre o
que é esporte, até mesmo o que você pratica em final de semana não é esporte. Ou seja,
se você não compete, você não é um esportista, certo? Contudo, mesmo que você não
seja um atleta que vive da competição, você pode, sim, ser considerado um competidor
mediante algumas características. Algumas características diferenciam um competidor e
um praticante de modalidade esportiva.

O atleta competidor tem um objetivo final, a vitória, um troféu, um prêmio, e isso são
os fatores que o caracterizam como um atleta competidor, mas não apenas isso.

Lembre-se de que até mesmo as crianças ou jovens competem na escola, nos jogos
interclasses, por exemplo, mas o que diferencia de um profissional, é o fato de que, mui-
tas vezes, as regras não seguem rigidamente as normas da modalidade, sempre existe
uma flexibilidade, ou até mesmo normas definidas para aquele campeonato.

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Basicamente, um competidor profissional deve se submeter a todas as regras daquela
modalidade, de acordo com as confederações ou federações que regem a modalidade.
E vale ressaltar que, em algumas modalidades, elas se diferenciam se são disputadas em
nível nacional ou internacional. Por exemplo, até pouco tempo atrás, a NBA tinha regras
próprias com muita diferença em relação às regras da FIBA (Federação Internacional de
Basquetebol). Hoje, as duas entidades estão mais próximas, mas ainda existem algumas
diferenças de regras que devem ser consideradas. Portanto, o que queremos dizer é que
um atleta é competidor quando ele se submete às regras oficiais, que, por sinal, não se
alteram, ou seja, não só o atleta não pode modificar as regras a seu gosto, como as pró-
prias federações e confederações não podem mudá-las sem um estudo e um aviso prévio.

Outra característica que caracteriza um atleta como um competidor é o fato dele com-
petir por algo (resultado, pontos, troféu, dinheiro), ou seja, aquilo para qual ele compete.

Mas e quando você não é atleta, diante de todos esses parâmetros que falamos?
Você não é um competidor? Claro que é, mas o princípio é mais ou menos igual ao
conceito do que é ou não esporte. Mesmo competindo como amador, por exemplo, em
uma corrida de rua, muito comum hoje em dia, você se torna um competidor, porém,
seu aspecto competitivo fica em segundo plano, visto que ganhar será bom, mas nem
sempre será o seu único objetivo.

Mesmo campeonatos amadores de diversas modalidades podem ser de alto nível e


muito disputados. Mas vale atentar para uma característica importante, a competição
não precisa ser sempre o foco. É muito comum, nas idades iniciais, o uso do termo fes-
tival, onde todos participam e todos ganham medalhas. O conceito do competitivo fica
a critério do participante, que muitas vezes quer a vitória, mas o conceito do evento é
outro, sendo importante entender suas diferenças e tomar cuidados com o excesso de
competitividade. É difícil existir uma modalidade que não seja competitiva e, frequen-
temente, o foco de algumas modalidades é apenas isso, porém, é importante entender
onde é necessário e onde não é necessário haver competitividade.

O esporte competitivo pode ser muito exigente fisicamente e psicologicamente. E


aqui vale quebrar outro paradigma. Esporte, em muitos casos, não é sinônimo de saú-
de, visto que muitos atletas possuem uma vida extenuante de treinamentos que, se não
trazem leões no decorrer da carreira, em geral, trazem consigo uma aposentadoria com
diversos tipos de lesões que serão levadas para toda vida. Claro que isso não é regra,
mas é bastante comum.

Portanto, esporte pode não ser sinônimo de saúde para um atleta, mas a prática re-
gular de modalidades esportivas pode ser, sim, saudável e benéfica à saúde.

Uma leitura muito boa que também trata sobre o que é esporte e complementa o artigo
sugerido anteriormente é o artigo de Azevedo et. al (2011), e no mesmo artigo o autor trata
da competição, “Competitividade e inclusão social por meio do esporte”.
Disponível em: https://bit.ly/2JHAaRX

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Classificação dos Esportes Individuais


Ao falarmos dos esportes individuais, nós nos deparamos com uma característica
interessante sobre como esse esporte acontece. Primeiro, pela característica de ocor-
rer ou não interação. Ou seja, esportes individuais em que ocorre interação, o atleta
depende das ações do seu adversário diretamente – por exemplo, num jogo de Tênis,
independente de quem está dominando o ponto, todas as suas ações dependem do seu
adversário, e as dele dependem de você, portanto, podemos classificá-lo como um es-
porte com interação.

Já nos esportes sem interação, não significa propriamente que suas ações não depen-
dem do seu adversário, mas que simplesmente suas ações não diretamente são influen-
ciadas pelo seu oponente. Por exemplo, numa corrida de 400 metros, o quanto você
corre depende apenas de você. O seu adversário pode influenciar na sua estratégia de
acelerar ou desacelerar, mas as ações diretas dele não influenciam em suas ações direta-
mente, portanto, é esporte individual sem interação.

Então, basicamente, podemos classificar os esportes individuais como modalidades


em que um atleta compete em oposição a outro(s), além de competir individualmente e,
dentro desse conceito, podemos dizer que existem duas subdivisões, esporte individual
com interação e esporte individual sem interação.

Dentre alguns exemplos de esportes individuais com interação, para que fique mais
claro, temos: esportes com raquete e lutas.

E dentre alguns exemplos de esportes individuais sem interação, temos: atletismo,


natação, ginástica.

Regras Básicas
Quando falamos de regras básicas, é claro que não vamos trazer aqui um livro de re-
gras de como as modalidades funcionam, até porque existe uma centena de modalidades
esportivas individuais, cada uma com suas características, regras, normas, e possibili-
dades. Significa que as modalidades individuais, em geral, respeitam uma característica
comum, a qual já tratamos, de que as modalidades podem ser com e sem interação.

Mas o interessante é que muitas modalidades podem derivar ou virar um esporte coleti-
vo, quando disputados em equipes. Usando o mesmo exemplo do atletismo, existem corri-
das individuais de 400m, mas também o revezamento 4x400 onde uma equipe corre cada
um 400m. Ou seja, uma modalidade individual também é disputada de forma coletiva.

Isso é bastante comum, quando falamos de esportes com raquete, por exemplo, onde
é comum as disputas simples (1 jogador) ou em duplas. Em geral, essa mudança traz
consigo algumas pequenas variações nas regras que, dependendo do esporte, pode ser
na dimensão da quadra, na adição de regras específicas ou até mesmo na retirada de al-
gumas delas. Em todas as modalidades que forem apresentadas nas próximas unidades,
entraremos em detalhes sobre as diferenças.

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Figura 2 – Tênis de Mesa
Fonte: Getty Images

Para entender melhor e não deixar você pensando sobre que tipo de mudanças são
essas, vamos exemplificar melhor. Por exemplo, no tênis de mesa, aquela linha central
que existe na mesa, pasme, não serve para nada no jogo simples (1 contra 1), isso mes-
mo, não serve para nada. Aquela linha que erroneamente o seu primo, superentendido
de “ping pong”, diz que serve para cruzar o saque, na verdade, não serve para cruzar o
saque. No saque do jogo simples, o jogador pode jogar em qualquer direção. Na verda-
de, a linha central é uma referência para quando o jogo é disputado em duplas e, aí sim,
existe a obrigatoriedade de que o saque seja realizado cruzado, pois, pela regra, passa
existir uma ordem de recebedores e sacadores. Esse é um dos vários exemplos que ocor-
rem de mudança nos esportes individuais quando passam a ser disputados em equipe.
Em outras situações, como no tênis de campo, as dimensões da quadra aumentam.

Portanto, quando falamos de regras, nesta unidade, é apenas para lembrar que al-
gumas modalidades podem ter essa característica, que em muitos casos pode mudar
bastante a dinâmica do jogo, além de mudar as regras para que sejam disputadas. Outra
coisa a se considerar é que, por mais que nossa temática seja sobre os esportes indivi-
duais, inevitavelmente, teremos que discutir alguns assuntos que conversam com moda-
lidades coletivas, mas nada que nos faça fugir do tema.

História e Evolução
A história do esporte nos traz grandes informações sobre a nossa sociedade, pois o
esporte ajudou bastante a compor a história da humanidade. Ao falarmos de esporte
individual, um marco para esse tipo de esporte são os Jogos Olímpicos, justamente
porque, em geral, a modalidade que representa o espírito olímpico é o atletismo, por ser
uma das modalidades que iniciaram os jogos na antiguidade.

O atletismo possui uma forte ligação com os esportes individuais. Você já reparou que
a maioria das provas que acontecem nas olimpíadas são individuais? Pois é, isso nos traz
muito sobre a característica do esporte individual, pois tem uma relação com superação

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individual. É claro que nos esportes coletivos isso também acontece – em muitos casos,
mesmo em uma equipe, temos atletas que se destacam e, muitas vezes, “levam o time nas
costas”, mas sempre terá aquele tom de esporte em equipe em que todos participaram da-
quela vitória ou derrota. Veja bem, não estamos dizendo que o esporte individual é melhor,
ou mais nobre, ou superior ao esporte coletivo, longe disso. Na verdade, os dois possuem
seu valor e são importantíssimos para nossa sociedade, seja pelo aspecto social, comercial
ou da prática em si. Queremos destacar que o esporte individual tem a individualidade do
atleta para destaque, onde apenas ele é responsável pelo seu sucesso ou pela sua derro-
ta. Mas você deve estar pensando: “mesmo um atleta individual possui uma equipe toda
por trás, veja o caso da Fórmula 1”. É uma modalidade individual realizada em equipe,
engraçado, não é? Isso nos demostra duas coisas: primeiro, que não existe um único jeito
de classificar algumas modalidades e, segundo, que cada um tem características próprias.

Atletas sempre possuem uma equipe de apoio, com nutricionista, fisiologista, treina-
dor, técnico, preparador, e todos, como equipe, são responsáveis pelos resultados do
atleta indiretamente. Mesmo atletas que não possuem toda essa estrutura a seu dispor
contam com o mínimo de orientação, para que isso possa refletir em seus resultados.

Mas isso nem sempre foi assim. Na história dos esportes, cada modalidade no seu
tempo foi descobrindo maneiras de evoluir, pelas suas características, como normas,
regras, competições, ou por seus atletas, que passaram de amadores, para profissionais
com apoio logístico, nutricional, financeiro etc.

Cada modalidade foi evoluindo em seu passo. Muitas delas, apenas recentemente,
começaram a contar com cientistas de diversas áreas, que passaram a estudar a moda-
lidade tentando trazer sempre o melhor desempenho possível.

Na atualidade, os investimentos científicos são bem grandes em algumas modalidades


e acabam vindo de diversos setores, e são destinados a diferentes conceitos, seja para
desenvolvimento dos atletas, para desenvolvimento do espetáculo, ou para crescimento
da modalidade. Um exemplo de como isso acontece é o caso da NBA, que tem investido
em análise dos jogos. Dessa maneira, ela consegue saber como o jogo tem evoluído nos
últimos anos – assim descobriu que, na última década, os jogos se tornaram muito mais
rápidos do que na década passada. Isso influencia em como os times podem melhorar
seus treinamentos, ou mesmo que tipo de atleta poderá contratar para atender às novas
demandas que a modalidade possui.

Vale lembrar que muitas modalidades individuais podem se tornar coletiva se disputa-
das em equipe ou em duplas, mas o fato de a maioria ser individual demostra algo histórico
que tem muita relação com os primórdios do atletismo. Além disso, o atletismo costuma
ser chamado de esporte-base, o que significa que ele traz o essencial do que nossos ances-
trais precisavam para sobreviver, como caçar, pescar, correr. E para isso era necessário
minimamente estar apto para essa atividade e dispor de vigor físico para tal.

Foi nesse espírito que surgiram os jogos olímpicos, o de utilizar essas capacidades do
ser humano e provar o quão melhor se pode ser. Obviamente, as modalidades foram
evoluindo com o passar o tempo, mas o importante é entender que as competições fa-
zem parte da história humana e os esportes também.

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No site da Confederação Brasileira de Atletismo CBAT, você tem diversas informações sobre a
história da modalidade. Vale a pena a leitura. Disponível em: https://bit.ly/3lEcfjz

Assim como o atletismo faz parte da história dos esportes, outras diversas modalida-
des influenciaram o crescimento das modalidades esportivas, mas algo muito semelhante
entre elas é o seu surgimento em escolas e universidades. Isso já demostra que o esporte
é um fenômeno sociocultural, visto que o esporte moderno surgiu num período em que
o acesso ao estudo era bastante restrito. Importante lembrar que, quando falamos de
esporte moderno, estamos falando do século XIX, na transição para o século XX.

Esse período se caracterizou pelo surgimento de diversas modalidades hoje conhecidas,


assim como a criação de padrões, regras e organizações para regimento das modalidades.

Claro que nem todas as modalidades surgiram assim, como veremos nas próximas
unidades, algumas nasceram de formas bem interessantes e diferentes, outras inspiradas
em jogos da antiguidade inclusive.

Contudo, o esporte também possui uma forte influência na política. Você pode even-
tualmente não atentar aos bastidores de tudo o que ocorre nos esporte, mas a política
tem forte relação.

Lembre-se: em relações institucionais, sempre existe algum tipo de política, porém,


nesse caso, estou chamando sua atenção para a política que envolve os países e suas
relações internacionais. Os esportes já foram usados politicamente para enfrentamen-
to entre nações e para tentativas de demostrar superioridade de um país sobre outro.
Veja, isso é muito maior do que uma rivalidade Brasil e Argentina, a rivalidade faz parte
de competição e, de certo modo é saudável, visto que é uma das forças que movem o
esporte. Contudo, em momentos políticos delicados da história mundial, os esportes
foram protagonistas.

Em vários momentos, inclusive, vários governos exploraram o esporte como maneira não
só e demostrar superioridade, mas também de tirar o foco de ações políticas importantes.

Mas fique tranquilo, pois a ideia aqui não é começar a falar de política, da esquerda,
ou da direita, mas informar de que isso tem muito da relação do esporte moderno, que
vai desde o que já foi citado há pouco até políticas públicas, políticas de ensino, incentivo
ao esporte, entre outros.

Também é importante dizer que, com os anos, o esporte passou de uma transição en-
tre o amadorismo que não gerava renda quase nenhuma aos seus praticantes, para uma
profissão altamente rentável aos atletas (claro, não de todas as modalidades). Não só isso
se tornou grande de tal forma que passou a ter diversos tipos de eventos mundiais, mas
também a própria Olimpíada, ou mesmo outros diversos campeonatos com alcance em
todas as partes do mundo.

O esporte moderno movimenta cifras gigantescas, como altos salários, premiações,


divulgação, televisão, publicidade etc. E tudo isso vem de uma evolução, falando do

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esporte como um todo, porém, cada modalidade tem o seu próprio destaque, maior ou
menor de acordo com o público que atinge, e isso faz muita diferença.

Quando falamos do atletismo, por exemplo, é uma modalidade chamada de esporte-


-base, mas que remunera muito pouco seus atletas, comparado, ao tênis, por exemplo.
É muito comum que tenhamos uma admiração pelos atletas de um modo geral no atle-
tismo, muitos conseguem viver disso, mas, efetivamente, poucos enriquecem na moda-
lidade, mesmo na modalidade mais tradicional, dos 100m, que é muito conhecida por
nomear o homem e mulher mais rápidos do mundo.

De certa maneira, isso tudo ocorre por um motivo simples, o esporte que seja mais
vendável, ou seja, que consiga atrair público telespectador, acaba por tornar a modalida-
de atrativa e consequentemente enriquecendo a modalidade por uma procura cada vez
maior, ou seja, lei da oferta e da procura, quanto mais alguma coisa é procurada, mais
caro tende a se tornar.

Algumas modalidades souberam aproveitar isso com maestria, veja o caso da NBA,
uma modalidade extremamente rica e que consegue chamar a atenção de milhões de
espectadores em todo mundo, claro, que o mesmo acontece com futebol e outras diver-
sas modalidades, cada uma com seu atrativo. Contudo, os esportes individuais tendem
a sofrer um pouco mais com esse tipo de atrativo, em geral, porque ele demanda que
um atleta tenha sucesso, e chame a atenção do público, isso é muito mais fácil com um
time do que com um único indivíduo. Mas você deve estar pensando: “tem muitos times
de futebol com apenas um jogador famoso”. Claro, existe mesmo, mas, em geral, esse
jogador traz a atração para o time como um todo.

Independente dos diferentes casos de sucesso, tanto no esporte individual, quanto no


esporte coletivo, o importante é entender como o esporte se tornou algo mercantilizado,
de sucesso, vendável e que gera, além de muitos empregos, uma grande quantia de di-
nheiro em diversos setores. E como já foi dito, movimenta-se muito dinheiro, sem dúvida
também interfere na vida e na história.

Assim, a maneira como o esporte se relacionou com a história mundial é muito pró-
xima e mexe com o imaginário de diversas pessoas pelo mundo.

Para entender melhor a história, a cronologia, e como o esporte se relacionou com a política,
leia o artigo de Marques et. al. (2008), “A Transição do Esporte Moderno para o Esporte
Contemporâneo: Tendência da Mercantilização a Partir do Final da Guerra Fria”.
Disponível em: https://bit.ly/3orzPBM

Esporte na Sociedade Contemporânea


O esporte, na nossa sociedade, é visto como algo amplo e quase sempre relaciona-
do com qualquer tipo de atividade física. Faz parte da nossa função como educadores
desmistificar o entendimento do que é esporte, conforme já discutido antes, e o que é
atividade física ou exercício físico.

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Figura 3 – Treinamento Adulto
Fonte: Getty Images

Mesmo que a Figura 3 represente uma prática saudável de exercícios físico, é impor-
tante sempre entender os conceitos que diferenciam o exercício físico do esporte, para
não cair no senso comum de que qualquer coisa é esporte. É uma diferença simples, mas
que deve ser diferenciada. Nem todo exercício físico é esporte, certo?

Também é importante relembrar aquele conceito de que esporte é saúde. Lembre-se: na


educação física, muitas vezes, temos que desmitificar diversas falas controversas na nossa
área, aqueles conceitos próprios do curso de educação física, como “Quem faz educação
física joga bola o dia todo” ou “Educação física é uma faculdade fácil”, se queremos valorizar
nossa classe, temos que valorizar nossos conceitos e uso dos termos corretos. Não podemos
simplesmente adotar o senso comum e ficar satisfeitos, repetindo o que é dito por aí.

Portanto, esporte é saúde, mas por que exatamente? Nem todo desportista é real-
mente saudável do ponto de vista de preservação do corpo, o trabalho dele é obter o
melhor desempenho possível, e isso nem sempre é sinônimo de saúde. Para nós, meros
praticantes de exercícios físicos, pode ser sim, sinônimo de saúde.

Em geral, é bem aceito que, para manter uma pessoa por mais tempo na prática de
um exercício físico, é necessário que a prática seja algo prazeroso e do gosto do prati-
cante. Por isso é muito mais fácil manter um pessoa com longos anos de uma prática
esportiva, do que alguém que se mantenha muitos anos indo à academia por exemplo.
Veja bem, não estamos levantando polêmicas, é claro que muitas pessoas gostam de
ir à academia e fazer um programa de ginástica, mas, de um modo geral, as atividades
esportivas, por assimilarem as atividades recreativas, prendem os praticantes por mais
tempo na atividade.

Contudo, nos últimos anos, as pessoas têm procurado cada vez mais se manter ati-
vas, na tentativa de se manter saudáveis e a procura por modalidades esportivas tende a
ser positiva, seja por um histórico de prática durante a juventude, ou pela acessibilidade
que hoje diferentes públicos e idades tem a possibilidade de prática de um grande re-
pertório de modalidades.

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Além disso, os esportes, justamente pela mercantilização, possuem muito espaço na


mídia e sua fácil visualização é atrativo para sua prática ou mesmo interesse.

O esporte em si já faz parte da educação escolar há muitos anos, sendo, inclusive,


parte de campanhas de governo para educação escolar.

Portanto, a prática esportiva ou de exercícios físicos faz parte do nosso dia a dia, por
mais que nos últimos anos o sedentarismo tenha dominado a maioria da população, a maior
parte sabe dos benefícios de praticar exercício físico. Então nosso papel é instruir e informar
o melhor possível, usando as técnicas e estudos mais recentes para nossa atuação.

Uma boa leitura para entender como o esporte faz parte da nossa sociedade é o artigo de
Vaz e Bassani (2013). “Esporte, sociedade, educação: megaeventos esportivos e educa-
ção física escolar”. Disponível em: https://bit.ly/3g78Zfy

Em Síntese
Vimos, nesta unidade, um pouco sobre a formação das modalidades de um modo geral,
um pouco da história do esporte e pudemos entender melhor como o esporte individual
pode funcionar.
É importante entender que as leituras indicadas complementam as informações desta
unidade, visto que muito não pode ser abordado em detalhes, então a leitura é impor-
tante para a compreensão de alguns temas abordados aqui.
Nas próximas unidades, iremos abordar com mais detalhes algumas modalidades es-
portivas, entendendo sua história, funcionamento, particularidades e também alguns
métodos de treinamento.
Recomendamos fortemente que o entendimento das modalidades não seja apenas teórico
e que tentativas de conhecer a modalidade ajudarão bastante a entender algumas carac-
terísticas práticas. Um bom professor de educação física consegue se apropriar de conheci-
mentos que antes não dominava e aplicá-los usando alguns conceitos de metodologia de
ensino (que veremos nas próximas unidades), mas a prática também se torna importante
para entender as dificuldades e possibilidades que seu aluno pode ter de aprendizado.
Além de enriquecer o seu próprio repertório motor, você terá a chance de entender como
é estar do outro lado do aprendizado. O saber ensinar é muito importante, mas o saber
fazer também pode fazer toda a diferença na maneira que você ensina algo.
Sabemos que algumas modalidades apresentam diversas limitações, seja por uma ques-
tão regional, de valor, ou mesmo de seu próprio julgamento de não se sentir capaz, mas
lembre-se de que muitos dos seus alunos também se sentem assim e acredite: entender
esse lado do aluno será fundamental no seu momento de professor.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Educação Física no Brasil: a história que não se conta.
FILHO L. C. Educação Física no Brasil: a história que não se conta. 18. edição.
Campinas: 2010. (e-book)

Leitura
O Que é Esporte
BARBANTI, V. O Que é Esporte. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde,
v. 11, n. 1, p. 54–58, 2012.
https://bit.ly/3gcaCIT
Competitividade e inclusão social por meio do esporte
AZEVEDO, M. A. O. de; GOMES FILHO, A. Competitividade e inclusão social
por meio do esporte. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n. 3, p.
589–603, 2011.
https://bit.ly/2JHAaRX
Esporte, sociedade, educação: megaeventos esportivos e educação física escolar
VAZ, A. F.; BASSANI, J. J. Esporte, sociedade, educação: megaeventos
esportivos e educação física escolar. Impulso, v. 23, n. 56, p. 87–98, 2013.
https://bit.ly/3g78Zfy

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Referências
AZEVEDO, M. A. O. DE; GOMES FILHO, A. Competitividade e inclusão social por meio
do esporte. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, n. 3, p. 589–603, 2011.

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