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METODOLOGIA DO

ESPORTE I - VÔLEI E
BASQUETE

Patrick da Silveira
Gonçalves
Metodologia de
ensino do basquete
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as possibilidades pedagógicas do esporte no contexto da


educação física.
 Listar as diferenças entre o ensino do esporte no ambiente escolar
e no clube.
 Construir um plano de ensino do basquetebol para uma turma de
educação física.

Introdução
O basquete é um esporte que envolve, além das habilidades e compe-
tências físicas e motoras, uma série de outros elementos, necessitando da
integralidade cognitiva, afetiva e social de cada um de seus participantes.
A partir dessa perspectiva, podemos pensar que, em cada espaço social,
esse esporte se apresenta com especificidades e objetivos diferentes. Ou
seja, o basquete que se ensina e pratica na escola tem objetivos diferentes
daquele que se desenvolve em clubes.
Neste capítulo, você estudará algumas das principais possibilidades
pedagógicas de desenvolvimento do basquete, assim como as diferenças
e semelhanças no seu desenvolvimento em escolas e clubes. Além disso,
verá um plano de ensino para essa modalidade que pode servir de base
e de orientação para o início de uma proposta pedagógica.

Possibilidades pedagógicas do basquete


O basquete é um dos esportes coletivos mais praticados no mundo. A forma
como esse esporte se popularizou, espalhando-se por diversos países e com
grande apoio da mídia e de grandes instituições, fez com ele fosse cada vez
2 Metodologia de ensino do basquete

mais praticado por sujeitos de diferentes culturas e de várias idades. Atu-


almente, o basquete encontra espaço em diversos locais, seja nos parques,
nos clubes, nas instituições filantrópicas ou nas instituições educacionais.
De maneira recorrente, é possível perceber a presença de um profissional de
Educação Física em cada um desses espaços, buscando transmitir os saberes
que possui, conduzindo os indivíduos praticantes do basquete para propósitos
específicos, como, por exemplo, seguir uma carreira esportiva profissional,
aderir a uma prática esportiva em seus momentos de lazer ou aperfeiçoar os
vínculos sociais existentes em determinadas comunidades.
A intencionalidade de um profissional em conduzir um sujeito por meio do
seu trabalho, pautado por planos, estratégias e fins específicos caracteriza uma
prática pedagógica. É importante destacar que o conceito de prática pedagógica
e da própria pedagogia é bastante amplo, encontrando sentidos e significados
para diferentes teóricos. No entanto, podemos conceituar a prática pedagógica,
a partir das palavras de Fernandes (2007, p. 159), da seguinte forma:

A prática intencional de ensino e aprendizagem não pode ser reduzida à


questão didática ou às metodologias de estudar e de aprender, mas articulada
à educação como prática social e ao conhecimento como produção histórica e
social, datada e situada, numa relação dialética entre prática-teoria, conteúdo-
-forma e perspectivas interdisciplinares.

O conceito dado pela autora nos permite ensaiar que as possibilidades


pedagógicas do basquete não se limitam apenas à construção de movimentos
biomecânicos que são necessários para o êxito de um atleta ou de uma equipe.
Para além disso, o basquete permite criar, reproduzir e recriar uma cultura
constituída historicamente por determinados sujeitos, além de proporcionar os
clássicos benefícios do esporte, com os quais já estamos acostumados, como
a saúde, o bem-estar e o convívio social saudável.

As possibilidades pedagógicas no basquete são variadas, podendo ser exercidas sobre


crianças, adolescentes e adultos. Do mesmo modo, os objetivos são diversos, variando
desde a promoção de apenas uma atividade física até o incentivo ao fortalecimento
de vínculos sociais e culturais.
Metodologia de ensino do basquete 3

Evolução do ensino do basquete


Frequentemente, as possibilidades de desenvolver as práticas pedagógi-
cas no basquete se dão com maior incidência em crianças e adolescentes.
Os motivos são claros: nessas fases, as dimensões cognitivas, afetivas,
sociais e físicas estão em desenvolvimento e o esporte encontra maior
probabilidade de auxiliar no desenvolvimento humano desses sujeitos em
formação. Destacamos que, embora a sua iniciação esteja mais relacionada
ao desenvolvimento de crianças e adolescentes, o basquete também encontra
adeptos na fase adulta na mesma perspectiva, seja por procura de uma
atividade prazerosa, pela busca de um melhor condicionamento físico ou
pelos outros inúmeros motivos que podem levar alguém a querer iniciar-se
em uma prática esportiva.
James Naismith desenvolveu o esporte em 1891, pautando suas regras e
equipamentos para atender a algumas intencionalidades pedagógicas. Assim,
Naismith propôs a iniciação esportiva de seus alunos, os jovens senhores da
Associação Cristã de Moços de Springfield, que buscavam uma atividade que
os mantivesse engajados e fisicamente ativos também nos rigorosos inversos,
que impossibilitavam a prática em ambientes externos (NAISMITH, 1941).
Seus princípios também encontravam no esporte uma forma de manter os
alunos atentos à importância do esporte e do exercício físico e da negação do
contato corporal violento para o desenvolvimento moral.
No Brasil, tal qual a Educação Física, a iniciação esportiva atravessou
diversas fases. Realizando um estudo retrospectivo, Paes e Balbino (2005)
apontam que a prática pedagógica de professores na iniciação esportiva,
sobretudo do basquete, ocorria de forma a atender alguns objetivos:

 Movimentos básicos do esporte: até a década de 1970, os objetivos


do professor visavam o desenvolvimento dos movimentos básicos da
modalidade em seus alunos. Ou seja, eles deveriam ser capazes de
executar gestos motores, como o passe, o drible, a manipulação da
bola, o arremesso, o controle do corpo e o rebote. Geralmente, a forma
como o trabalho era conduzido consistia na repetição das tarefas, de
modo a automatizá-las.
 Aquisição das habilidades básicas: após a década de 1970, a iniciação
esportiva sofreu bastante influência da tendência desenvolvimentista.
Com isso, antes de os alunos aprenderem as especificidades da moda-
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lidade, deveriam aprender os movimentos e habilidades básicas, como


correr, saltar, pular, arremessar, entre outros.
 Compreensão do gesto técnico: as tendências construtivistas trouxeram
uma nova abordagem de trabalho do professor junto a seus alunos. Nessa
perspectiva, a construção dos gestos motores pelos sujeitos iniciantes
era o foco principal do trabalho.

A iniciação esportiva ganhou ênfase no território brasileiro a partir da assunção do


governo militar. Nessa época, o esporte era bastante utilizado como forma de de-
monstrar a prosperidade e o desenvolvimento de um país. O ensino dos esportes,
então, passou a pautar as aulas de educação física escolar.

Certamente, essas tendências marcaram as possibilidades de desenvolver


o trabalho pedagógico por professores que atuam em diversos espaços
sociais. Compreender esse percurso histórico, ainda que apresentado de
forma bastante sintética, é importante no sentido de esclarecer os percursos
que a Educação Física e o ensino dos esportes tiveram ao longo da história
e de compreender que o ensino do esporte, que um dia foi fundamentado
apenas na aprendizagem de gestos motores, é entendido com possibilidades
mais amplas de desenvolvimento atualmente. Nesse sentido, chamamos a
atenção para o entendimento de que o ensino do esporte não se trata apenas
da compreensão e execução de gestos motores, mas, em uma perspectiva
de cultura corporal de movimento (BETTI, 2007), dos valores, sentidos,
significados que estruturam e reestruturam os indivíduos e, consequente-
mente, a sociedade, em cada uma de suas dimensões. Atualmente, o esporte
se desenvolve em três perspectivas fundamentais: o esporte-educação, o
esporte-participação e o esporte-performance (ou esporte-rendimento)
(TUBINO, 2000).
O esporte-educação visa democratizar o acesso ao esporte a todas as
crianças inseridas na escola. Também é uma opção de expressão, por meio
do movimento, e de gerar cultura, contribuindo para o aprendizado crítico da
cidadania. O esporte-participação é aquele que ocorre em espaços voltados
para o tempo livre da vida cotidiana, como parques e praças, por exemplo. Seu
objetivo principal é a prática como forma de lazer e de prazer, assim como a
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integração social. O esporte-performance traz a perspectiva de competitividade


e superação do adversário. Nesse modelo, os jogos são desenvolvidos sob regras
oficiais, e os praticantes, geralmente, possuem um treinamento técnico-tático,
tendo em vista o êxito em competições.

Princípios do ensino de esportes coletivos


Os esportes coletivos, e mais particularmente o seu ensino, não se susten-
tam apenas pelo fato de que os seres humanos devem movimentar-se para
o desenvolvimento físico saudável; tampouco como objetivo principal de
aprendizagem de gestos técnicos, para que seja possível o desenvolvimento
de um esporte na vida adulta, seja em níveis de alto rendimento ou apenas
como prática recreativa. De fato, esses objetivos também são de extrema
importância e devem pautar o trabalho pedagógico dos professores que atuam
com a iniciação esportiva. No entanto, abordar apenas esses aspectos pode
reduzir a iniciação esportiva à reprodução de gestos motores ou à prática de
atividades físicas extenuantes, repetindo metodologias já superadas no âmbito
da Educação Física brasileira. Assim, outras características também devem
ser consideradas. Paes e Balbino (2005) entendem que o planejamento e o
desenvolvimento pedagógico de propostas de iniciação esportiva devem estar
baseados em quatro aspectos fundamentais:

 Diversidade: muitas propostas pedagógicas pautam-se pela especiali-


zação precoce de crianças em determinados esportes e gestos motores.
A prática rígida e repetida de movimentos pode levar aos malefícios
físicos e psicológicos, como o desenvolvimento de lesões musculares
ou de desordens psíquicas, como a depressão. Em contraponto à espe-
cialização, o professor deve propor a diversificação de movimentos e
situações-problema a serem desenvolvidas pelos alunos. Além disso,
as propostas não devem pautar-se apenas nos aspectos físicos e biodi-
nâmicos, mas têm que buscar o desenvolvimento de dimensões sociais,
cognitivas, afetivas e psicológicas.
 Inclusão: antigamente, os alunos considerados ideais e valorizados
pelos professores para a prática do basquete eram aqueles vistos como
altos. No entanto, o exercício físico e a prática da iniciação esportiva
devem ser assegurados para todas as crianças.
 Cooperação: os alunos sempre devem ser incentivados ao desenvolvi-
mento da importância das experiências coletivas e do reconhecimento
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e fruição das especificidades de cada um, de forma a serem preparados


para viver em sociedade.
 Autonomia: como princípio pedagógico, o professor não pode estar focado
na identificação e no desenvolvimento do talento esportivo. Para além
disso, o professor deve propor o desenvolvimento dos alunos para que pra-
tiquem o esporte de forma autônoma, sejam quais forem as circunstâncias.

Inteligências múltiplas no esporte


A partir de alguns dos princípios gerais que devem pautar as propostas pedagógicas
no ensino do basquete, as quais se fazem sempre necessárias, é possível discutir
um pouco das possibilidades que esse esporte oferece e as possíveis contribuições
que ele pode apresentar à sociedade. Como viemos discutindo, o basquete não se
apresenta apenas como uma possibilidade de aprendizagem e desenvolvimento de
gestos técnicos específicos. A partir do enfoque que damos, podemos reconhecer
diversas possibilidades pedagógicas com as quais o basquete pode contribuir.
Para fazer a análise das contribuições que o basquete pode oferecer, toma-
remos por base a teoria das inteligências múltiplas, desenvolvida no início da
década de 1980 por Howard Gardner e sua equipe na Universidade de Harvard
(GARDNER, 1993). Em síntese, Gardner buscou conceituar a inteligência
humana, rompendo com a perspectiva que se apresentava até então e que
limitava a inteligência a algumas abordagens restritas de raciocínio. Consta-
tando que pessoas diferentes possuem habilidades diversas, reconheceu que
as habilidades cognitivas se manifestam em diferentes campos de expressão
humana, que são: cinestésica-corporal, espacial, musical, lógico-matemática,
verbal-linguística, interpessoal, intrapessoal e naturalista. A seguir, explica-
remos como essas diferentes inteligências se manifestam:

 Corporal-cinestésica: capacidade de usar e controlar o corpo para


resolver problemas, expressar-se ou manipular objetos. Pode expressar-
-se nos movimentos corporais e gestos motores que se apresentam no
basquete, como o passe, a corrida, as fintas, o controle de corpo, entre
outros fundamentos técnicos.
 Cerbal-linguística: capacidade de utilização do idioma e da linguagem
como forma de comunicação. Materializa-se na compreensão e na
comunicação das demais pessoas em quadra. Também envolve a leitura
do jogo como um todo.
 Cógico-matemática: capacidade de analisar e resolver problemas por
meio do pensamento lógico e de operações matemáticas. Materializa-se
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no reconhecimento das vantagens e desvantagens em tomadas de decisão


que se apresentam durante o jogo. Além disso, o reconhecimento tático
e de formas geométricas da quadra também são formas de expressão
dessa inteligência.
 Espacial: capacidade de se orientar de maneira adequada em determinados
espaços, assim como de movimentar objetos a partir de processos cognitivos.
Durante o jogo, expressa-se na compreensão dos tempos de deslocamento
de bola e de pessoas em quadra. Manifesta-se em todos os movimentos
corporais, com ou sem a bola, que possuem uma intencionalidade.
 Musical: capacidade de reconhecer e expressar a sensibilidade, a com-
posição e a apreciação de elementos e padrões musicais. Manifesta-se
na percepção e no reconhecimento dos sons e ruídos que integram o
jogo de basquete e, além disso, por meio dos movimentos ritmados,
como quicar a bola ou realizar a passada para a bandeja, por exemplo.
 Intrapessoal: capacidade de se conhecer e reconhecer os próprios
modelos individuais. Expressa-se a partir do reconhecimento de seus
próprios limites físicos e nas formas de agir durante as situações de
um jogo, como a pressão dos adversários e da torcida.
 Interpessoal: capacidade de reconhecimento de outras pessoas, suas
intenções e motivações. Demonstra-se por meio do relacionamento
com jogadores, técnicos, do próprio time e adversários, seguindo os
princípios do espírito esportivo.
 Naturalista: capacidade de entender e reconhecer o mundo vivo. Ocorre
a partir do interesse em saber quais alterações fisiológicas o esporte
promove no corpo humano e, também, por meio do zelo pelos locais
de práticas esportivas, especialmente em praças e parques.

A partir do conceito de inteligências múltiplas desenvolvido por Gardner


(1993) e suas expressões no jogo de basquete, podemos verificar que esse
esporte tem muitas possibilidades. A ênfase dada pelo professor em determi-
nados aspectos pode direcionar a prática para uma intencionalidade pedagógica
específica. Por exemplo, em instituições que atendem crianças em vulnerabi-
lidade social, o basquete pode ser um grande promotor das ideias de trabalho
coletivo, fortalecendo os vínculos em determinadas comunidades; na escola,
como forma de transmitir um conhecimento construído historicamente, além de
estimular a linguagem e o raciocínio lógico matemático, ganhando um caráter
transdisciplinar. Nos clubes, o basquete pode pautar-se no reconhecimento
do exercício físico e em determinados padrões de comportamento motor para
que uma equipe obtenha êxito durante um jogo.
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Principais abordagens metodológicas no ensino


do basquete
É possível pensar que existem múltiplas formas de se abordar e ensinar o
esporte, assim como diversas prioridades e ênfases em determinados conteú-
dos e formas de abordar o objeto de conhecimento. Esses métodos de ensino,
geralmente, ocupam grande parte do tempo de professores na sua reflexão
acerca da escolha de qual modelo seguir. Evidentemente, não há um modelo
único e perfeito, tampouco algum que seja deplorável — nossa intenção não é
a de atribuir um olhar maniqueísta sobre as perspectivas que são construídas.
No entanto, necessitamos conhecer as diversas opções possíveis de modo a
refletir sobre suas implicações (SANTINI; VOSER, 2008).
A literatura aponta inúmeras possibilidades de ensino dos esportes cole-
tivos, entre os quais se encontra o basquete. O Quadro 1 apresenta algumas
das diversas possibilidades de abordar o ensino do esporte coletivo propostas
por diferentes autores.

Quadro 1. Abordagens metodológicas dos esportes coletivos

Denominação
da abordagem Autor Características principais

Métodos Claude Bayer Consistem na decomposição dos ele-


tradicionais mentos do jogo. Por exemplo, os alunos
aprendem arremessos, dribles e passes
Centrada na Júlio
de forma individualizada, sem uma
técnica Garganta
aplicação prática no jogo. Essa metodo-
Analítico-sintética Pablo Greco logia está ancorada na repetição e na
memorização de movimentos, facilitando
a “modelagem” dos movimentos corpo-
rais dos alunos ao desejo do professor.
Buscam fazer evoluir os fundamentos
técnicos de forma hierárquica (do menos
complexo em habilidades motoras ao
mais complexo), assim como a evolução
da própria execução do movimento em
si. Essa forma de trabalho é a predomi-
nante em escolas e clubes de iniciação
esportiva e possibilita uma execução
técnica aprimorada.

(Continua)
Metodologia de ensino do basquete 9

(Continuação)

Quadro 1. Abordagens metodológicas dos esportes coletivos

Denominação
da abordagem Autor Características principais

Centrada no jogo Claude Diferentemente das abordagens que partem


Bayer do ensino fragmentado da técnica, buscam
criar situações de imprevisibilidade de situ-
Métodos ativos Júlio
ações já vividas, de modo que o aluno bus-
Garganta
que possibilidades de resolver problemas a
Global-funcional Pablo Greco partir de iniciativa, reflexão e criatividade. As
(situacional) atividades não se ancoram apenas nos movi-
mentos repetitivos planejados pelo profes-
sor, mas partem do interesse dos alunos. É a
forma menos comum de trabalho, uma vez
que o professor tem menor domínio sobre
as imprevisibilidades. Oportuniza um melhor
aprendizado tático.

Fonte: Adaptado de Bayer (1994), Garganta (1998) e Greco (2001; 2005).

É possível considerar que existem dois grupos distintos. Um pauta-se pelo


ensino da técnica, de forma isolada ao jogo, e o outro é pautado por situações
imprevisíveis. Geralmente, os professores optam pelo primeiro grupo, uma vez
que é mais evidente os objetivos que estão sendo trabalhados e o controle sobre
o grupo de alunos/atletas é maior. No entanto, esse modelo apresenta como
implicações a falta de vivência em situações de jogo, o que pode comprometer
a criatividade e a competência dos praticantes em executar uma técnica durante
uma situação imprevista. Por outro lado, os modelos que privilegiam as aprendi-
zagens a partir de situações de jogo podem apresentar um comprometimento na
aquisição das habilidades técnicas, uma vez que os arremessos, os dribles e os
passes podem ser oportunizados em menores quantidades de situações. Xavier
(1986) aponta a necessidade de desenvolvimento de um modelo misto, em que os
fundamentos técnicos, de forma isolada, devem acompanhar os exercícios voltados
à situação prática dos jogos. Nesse aspecto, teríamos um modelo que privilegia
as duas formas de aprendizagem do basquete; no entanto, a divisão do tempo
nessas tarefas pode ocasionar um aprofundamento raso nas duas possibilidades.
De fato, as abordagens pedagógicas devem ser essencialmente educativas,
possibilitando o desenvolvimento de todos os campos de manifestação das
inteligências. No entanto, cabe destacar que o basquete, ainda que possa se
10 Metodologia de ensino do basquete

constituir como promotor de todas as inteligências, pode-se apresentar com


objetivos específicos em cada um dos espaços sociais. De modo geral, o basquete
é praticado e orientado por professores com maior recorrência em dois locais
específicos, na escola, como componente curricular e nos clubes/escolinhas
esportivas, como objeto recreativo ou competitivo. Na próxima seção, você verá
algumas das peculiaridades que o esporte apresenta em cada um desses espaços.

As diferenças do basquete da escola e do clube


Os esportes coletivos são objeto de prática em diversos locais. Mais frequente-
mente, são encontrados em praças, parques, clubes e escolas. Em todos esses
espaços sociais, a figura do professor é fundamental para fornecer o apoio
necessário à prática saudável e manter os sujeitos engajados em atividades
físicas por toda a sua vida. Contudo, podemos notar que a presença dos pro-
fissionais de Educação Física encontra-se com maior frequência nas escolas e
nos clubes esportivos. Desde já, é importante destacar que a iniciação esportiva
que geralmente ocorre na infância e na adolescência deve ser pautada por
princípios pedagógicos que busquem o pleno desenvolvimento — de forma
saudável — dos praticantes, seja qual for o espaço que frequentam.
Ainda que seja possível definir alguns princípios gerais da iniciação esportiva,
devemos estar atentos ao fato de que o esporte, por apresentar inúmeras possibilida-
des, pode estar pautado em objetivos específicos que atendam ao interesse de seus
praticantes. Nesse sentido, podemos reconhecer algumas notáveis diferenças em
relação ao local de prática esportiva. Para iniciar essa discussão, apresentaremos
o esporte como elemento constitutivo na educação física escolar.

O basquete na escola
Na escola, a educação física se manifesta como uma possibilidade de enriquecer
as experiências de estudantes, tornando possível o seu acesso ao universo
cultural que constitui as sociedades. Em termos gerais, os conteúdos abordados
na aula de educação física devem tornar os alunos aptos ao convívio social,
atendendo, também, a 10 competências específicas:

Compreender a origem da cultura corporal de movimento e seus vínculos


com a organização da vida coletiva e individual.
Planejar e empregar estratégias para resolver desafios e aumentar as pos-
sibilidades de aprendizagem das práticas corporais, além de se envolver
no processo de ampliação do acervo cultural nesse campo.
Metodologia de ensino do basquete 11

Refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização das práticas corporais


e os processos de saúde/doença, inclusive no contexto das atividades laborais.
Identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde, beleza e
estética corporal, analisando, criticamente, os modelos disseminados na
mídia, e discutir posturas consumistas e preconceituosas.
Identificar as formas de produção dos preconceitos, compreender seus
efeitos e combater posicionamentos discriminatórios em relação às práticas
corporais e aos seus participantes.
Interpretar e recriar os valores, os sentidos e os significados atribuídos
às diferentes práticas corporais, bem como aos sujeitos que delas participam.
Reconhecer as práticas corporais como elementos constitutivos da iden-
tidade cultural dos povos e grupos.
Usufruir das práticas corporais de forma autônoma para potencializar o
envolvimento em contextos de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e a
promoção da saúde.
Reconhecer o acesso às práticas corporais como direito do cidadão, pro-
pondo e produzindo alternativas para sua realização no contexto comunitário.
Experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes brincadeiras, jogos, danças,
ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura, valorizando o
trabalho coletivo e o protagonismo. (BRASIL, 2017, p. 221).

No link a seguir, você terá acesso à Base Nacional Comum Curricular, o documento
que orienta o currículo de todas as instituições de educação básica brasileiras. Nela,
você poderá ler, na íntegra, as propostas da Educação Física para a educação infantil
e o ensino fundamental.

https://goo.gl/mmRFdx

Dentro das perspectivas da educação física escolar, podemos reconhecer que


as práticas corporais devem voltar-se para o entendimento das diversas formas
de experimentar, fruir e expressar as diferentes culturas. Os esportes coletivos
fazem parte da Base Nacional Comum Curricular. Da mesma forma, os esportes
de invasão devem estar presentes no currículo escolar a partir do terceiro ano
do ensino fundamental. É importante salientar que a Base não estabelece quais
esportes devem estar presentes na escola. O currículo de cada unidade de ensino
deve basear-se nas competências gerais, nas unidades temáticas (brincadeiras e
jogos, esportes, ginásticas, danças, lutas e práticas corporais de aventura), estabele-
cendo relações entre a cultura na qual a instituição está inserida e esses elementos.
Ainda que o basquete não seja um conteúdo legalmente obrigatório em
todas as instituições escolares, devemos destacar que ele se encontra presente
12 Metodologia de ensino do basquete

na cultura brasileira, principalmente nos espaços urbanizados que sofreram


influência do hip-hop na década de 1970 (BUZO, 2010). Com isso, o basquete se
apresenta no universo escolar como uma oportunidade de reconhecer e apreciar
uma cultura específica. Isto é, defende-se a inserção do basquete no currículo
escolar uma vez que ele apresenta possibilidades de ampliar os conhecimentos
dos estudantes e, além disso, torna possível uma maior compreensão desse
esporte como fenômeno cultural e que esteve presente e relacionado a diferentes
eventos sociais que ocorreram no decorrer do século XX.
Em relação às possibilidades de ensino desse esporte, destacamos que os gestos
motores, os fundamentos técnicos e táticos que caracterizam o esporte devem
fundamentar as abordagens metodológicas dos professores de educação física. Ou
seja, os alunos devem experimentar os gestos motores e os jogos como forma de
vivenciar o esporte. No mesmo sentido, elementos competitivos que constituem o
jogo como esporte também devem ser pautados no universo escolar. No entanto,
o professor deve estar atento para que a participação em jogos não ocorra apenas
com o objetivo de ganhar uma medalha ou troféu, mas, sim, de vivenciar momentos
de integração e de respeito aos adversários, que trazem consigo outra cultura.
A ênfase do professor, portanto, passa a ser a abordagem metodológica que
permita a todos os alunos experimentar o jogo de basquete e seus elementos,
respeitando as formas de desenvolvimento e performance individual e valo-
rizando os aspectos coletivos que o esporte pode proporcionar. Além disso,
deve guiar suas aulas contextualizando o conhecimento a ser ensinado com
as expectativas que os alunos trazem consigo e que foram constituídas histo-
ricamente. De forma mais prática, podemos considerar que as metodologias
pautadas na vivência nas situações práticas do esporte sejam preferencialmente
adotadas. Como o basquete, nesses espaços, não visa a competição ou a con-
dução dos alunos ao profissionalismo, mas a proposta de uma nova forma de
cultura e expressão, que ocorre predominantemente no jogo, o professor deve
pautar o ensino do basquete a partir desses modelos, de modo que os alunos
alcancem a emancipação na modalidade, mesmo que não executem todas as
técnicas com alto grau de perícia.
Cabe destacar, ainda, que o currículo escolar deve ser desenvolvido com
todos os alunos. Frequentemente, nas escolas, alguns estudantes não têm inte-
resse em desenvolver determinados conteúdos. Por exemplo, nas instituições
públicas brasileiras, é bastante comum encontrarmos estudantes mais engajados
em práticas como o futebol, haja vista sua presença na mídia ao longo dos
anos e o contato com esse esporte desde o início da escolarização. O papel
do professor passa a ser tematizar tais relações, problematizando a influência
de determinados esportes na cultura que os alunos partilham, e motivar os
Metodologia de ensino do basquete 13

estudantes a se engajar em uma prática que possa ser ainda desconhecida,


permitindo que experienciem e recriem essa atividade corporal.

O basquete no clube
Podemos destacar como grande diferença entre a prática do basquete em um
clube e em uma escola a motivação pela qual os iniciantes no basquete se
dirigem a esses locais. Na escola, existem sujeitos diversos, com interesses
distintos e que nem sempre convergem para o engajamento na prática do bas-
quete. Muitos alunos, nas instituições escolares, demonstram maior interesse
por outras práticas, como a geografia, a história, a matemática e o português,
por exemplo, e não demonstram um engajamento mais evidente em práticas
esportivas. Nos clubes, os indivíduos que buscam tal modalidade, grosso
modo, têm um interesse em praticá-la. Além disso, esses sujeitos já conhecem
o basquete e alguns elementos básicos do jogo.
De modo geral, é possível pensar que os clubes, associações e escolinhas
esportivas que oferecem a prática do basquete tendem a oferecer uma prática
competitiva. Isto é, o treinamento técnico, tático e físico visa uma melhoria
das competências dos jovens atletas para que eles possam desfrutar do êxito
durante algum jogo ou competição. Seguindo esses preceitos, muitos profes-
sores acabam de maneira exacerbada enfatizando a competição para além
de níveis adequados ao desenvolvimento de crianças e adolescentes. Nesse
sentido, Ramos e Neves (2008, p. 5) apontam alguns erros comuns praticados
por profissionais de Educação Física que atuam com a iniciação esportiva:

a) investem no desenvolvimento das capacidades físicas e no controle destas


e das variáveis antropométricas;
b) investem no aprimoramento, em geral precoce, das habilidades técnicas e táticas;
c) elegem um modelo de atleta ideal a ser perseguido;
d) investem na seleção de crianças que atendam às exigências de um modelo
de atleta ideal e que componham as equipes menores de competição;
e) participam de campeonatos nos quais se reproduzem estruturas de com-
petição do esporte profissional;
f) elegem a competição como o principal referencial para avaliar as crianças.

Queremos destacar, nesse momento, que, mesmo que o basquete seja de-
senvolvido em um clube, onde a metodologia volta-se para as especificidades
dessa prática, não podemos deixar de considerar que o contato dos sujeitos
com o esporte deve ocorrer de tal modo que o seu desenvolvimento físico,
social, cognitivo, afetivo e motor sejam preservados e estimulados.
14 Metodologia de ensino do basquete

Para tanto, os professores devem tomar alguns cuidados no processo de


ensino: promover aulas nas quais o convívio social seja favorável, estimulando
o senso de grupo e o respeito às diferenças e ao desempenho; respeitar a idade
cronológica e biológica dos praticantes, não exigindo esforços extenuantes,
principalmente às crianças, para as quais o esporte deve se pautar por vivên-
cias lúdicas; respeitar as individualidades e tratar todos os alunos de forma
igualitária, sem estabelecer preferências pelos mais desenvolvidos fisicamente
ou mais habilidosos; propor formas de jogos e campeonatos que respeitem o
nível de desenvolvimento de seus atletas, modificando regras e adaptando a
quadra; e focar sempre na aprendizagem dos fundamentos e princípios dos
esportes coletivos, pensando sempre no bem-estar de seus alunos e fugindo ao
egoísmo de querer vencer as competições como forma de se promover profis-
sionalmente. Nesse sentido, podemos reconhecer que existem aproximações
entre o esporte do clube e aquele que é desenvolvido na escola: ambos lidam
com indivíduos em formação e os profissionais desses espaços devem estar
atentos para as possibilidades e implicações das abordagens pedagógicas.
O profissional de Educação Física, portanto, deve pautar seu trabalho
superando uma visão reducionista do esporte que o considere apenas como um
elemento de superação individual e/ou sobre os adversários. Além dos processos
de inteligências múltiplas elaborados na primeira seção deste capítulo, podemos
evidenciar que o basquete nos clubes é sustentado por outros quatro pilares de
desenvolvimento, quais sejam: o movimento humano, os aspectos psicológicos,
os princípios filosóficos e a aprendizagem social (PAES; BALBINO, 2005).
No basquete praticado em clubes, o movimento humano ganha destaque.
Frente a isso, uma das grandes preocupações da iniciação esportiva é a obten-
ção de desenvolvimento das capacidades físicas e motoras. O profissional de
Educação Física, portanto, deve oportunizar aos seus alunos vivências motoras
diversas que possibilitem o desenvolvimento das capacidades físicas, como a
agilidade, a força, a coordenação e a resistência.
O aspecto psicológico faz referência ao estabelecimento de um ambiente
que possa contribuir para o reconhecimento da identidade e para o estímulo
do mundo interno de cada indivíduo. A autoestima e a liderança se tornam
mais evidentes nesses processos, uma vez que o jogo deve proporcionar o
reconhecimento de suas próprias habilidades e o estímulo mútuo. O professor
sempre deve valorizar o empenho dos indivíduos na tentativa de realizar as
atividades propostas. No clube, são recorrentes as situações de insucesso du-
rante os jogos e torneios. O professor deve enfatizar, com seus alunos, que os
resultados negativos também fazem parte do processo de formação esportiva.
Metodologia de ensino do basquete 15

O professor também deve buscar a construção de princípios filosóficos


com seus alunos. Em qualquer espaço formativo, o basquete deve buscar o
desenvolvimento integral dos sujeitos que o praticam. Nesse sentido, é ne-
cessário que os alunos compreendam que, nesse esporte, é preciso jogar para
aprender; a presença de outra pessoa é essencial para que o jogo aconteça,
devendo ser valorizada e respeitada; e pode haver diferenças significativas
de desempenho entre praticantes ou equipes, as quais devem ser respeitadas.
Em relação à aprendizagem social, cabe destacar que ela se constitui como
uma articulação entre os outros elementos citados. Ela desenvolve-se durante os
jogos, por meio das relações que se constituem entre praticantes de um mesmo
time e adversários. O esporte é uma representação da vida em que os valores,
os costumes e o comportamento se demonstram com maior evidência. Nesse
sentido, os jogos promovem momentos de expressão e convivência diversas, as
quais devem ser ensinadas e mediadas pelo profissional de Educação Física.
Por fim, destacamos que o basquete praticado em clubes e o ensinado em
escolas têm características em comum. Ambas as propostas visam o desenvol-
vimento integral do ser humano. No entanto, a escola enfatiza o basquete como
uma manifestação cultural que ocorre a partir da prática corporal. Nos clubes,
a ênfase ocorre na prática do esporte e nos aspectos que são produzidos nas
relações entre o sucesso e o insucesso que o basquete proporciona. Ambas as
propostas devem procurar não somente a prática em si, mas o desenvolvimento
de valores e comportamentos que formarão a bagagem necessária para a vida
em sociedade. De maneira prática, podemos destacar que a aprendizagem dos
fundamentos técnicos é essencial para o jogo. Além disso, as aprendizagens
táticas devem pautar o ensino. Assim, a abordagem selecionada deve visar o
desempenho e o aprofundamento dos praticantes nesse esporte. Tomam forma,
portanto, os métodos mistos, que buscam propor uma aprendizagem global
dos fundamentos técnicos e movimentos táticos do basquete, estabelecendo
graus hierárquicos na aprendizagem e na abordagem desses, de modo que as
formas mais complexas vão tomando lugar das mais simples de execução do
jogo, conduzindo os atletas ao profissionalismo, se assim o desejarem.
Ressaltamos, também, que, na escola, o basquete se apresenta como parte
de um currículo, ou seja, ocorre em um tempo limitado pelos programas
escolares, que também devem dividir-se nas outras práticas corporais, como
as danças, os jogos e brincadeiras, as ginásticas e as práticas corporais de
aventura. No clube, o tempo de prática se estende, muitas vezes, ultrapassando
uma sequência de anos. Essa característica apresenta uma possibilidade de
aprofundamento nas características táticas e técnicas que serão necessárias
16 Metodologia de ensino do basquete

caso o praticante decida profissionalizar-se no esporte. Na próxima seção, você


verá os elementos básicos que devem compor um plano de ensino do basquete.

Plano de ensino para o basquete


Ao iniciar um plano de ensino para o basquete, devemos levar em consideração
as especificidades do público atendido, como a idade, o ambiente em que será
desenvolvida tal proposta e o nível de aptidão física e motora desses sujeitos.
Por exemplo, em crianças pequenas, a introdução ao basquete deve ocorrer
de forma lúdica, com a qual as brincadeiras possibilitem a aquisição de habi-
lidades motoras fundamentais e o entendimento das regras básicas do jogo.
Iniciar um trabalho com indivíduos iniciantes no esporte a partir de mo-
vimentos repetitivos ou com a utilização das complexas regras do basquete
pode ser bastante frustrante para as crianças, levando à desmotivação em
dar continuidade a essa prática. Em adolescentes, espera-se que já possuam
o domínio motor dos movimentos básicos, como o drible, os arremessos,
os saltos e os passes, e que já conheçam alguns elementos básicos do jogo,
trazidos da escola ou por influência midiática. Nesse sentido, os minijogos
podem ser grandes oportunidades de manter o engajamento desses sujeitos.

Grande parte da literatura sugere que os esportes sejam ensinados a partir dos 9 anos
de idade, quando as habilidades motoras e cognitivas já estão bastante desenvolvidas,
possibilitando a prática esportiva. No entanto, os elementos que constituem o esporte
podem ser inseridos antes na vida de crianças e ir avançando gradualmente. A estrutura
de desenvolvimento a seguir mostra um exemplo que pode orientar o profissional
de Educação Física:
 6 a 8 anos — nessa fase, deve ser abordada a aprendizagem esportiva global,
como arremessar, lançar, correr, pular, saltar, andar.
 9 a 11 anos — essa fase é considerada de desenvolvimento e fixação dos aspectos
técnicos e situações de jogo do basquete. O professor deve buscar melhorar a perfor-
mance de gestos motores elementares no basquete, como o arremesso, os passes e os
dribles. Também é possível iniciar algumas situações de jogo, como 1x1, o 2x2 e o 3x3.
 após os 11 anos de idade — nessa fase, os gestos técnicos são exigidos com maior
intensidade e as situações de jogos podem ser enfatizadas com elementos mais
complexos, reestruturando os processos cognitivos, como o corta-luz, as fintas e
as jogadas combinadas em um jogo sob as regras oficiais.
Metodologia de ensino do basquete 17

Do mesmo modo, é preciso identificar quais objetivos que o espaço em


que ocorrerá a prática do basquete deve promover. Como vimos, existem
diversas possibilidades para desenvolver propostas de basquete; em algumas,
como no caso de clubes e escolas, as abordagens e especificidades são um
pouco diferentes. Para alguns sujeitos, a prática se constitui em aprender
algo novo; para outros, um processo de realização do sonho em tornar-se
uma personalidade do esporte de alto rendimento. Conhecer os sujeitos antes
de iniciar o trabalho é fundamental para direcionar o desenvolvimento dos
planos de ensino.
Considerando as especificidades que devem ser levadas em consideração
no desenvolvimento de propostas de ensino do basquete, vamos destacar dois
planos de ensino básicos apresentados por Ferreira e De Rose Junior (2010)
que podem auxiliar o professor para dar início à sequência de planejamento
em escolas e clubes.

Planejamento para escolas


Como vimos, as aprendizagens do basquete em instituições educacionais
buscam a ampliação das possibilidades de práticas corporais em escolares e
a contextualização desse esporte como uma cultura corporal do movimento.
Como as vivências corporais no ambiente escolar devem possibilitar uma ampla
variedade de práticas e contextualizações, o professor não deve manter-se no
ensino de apenas um esporte. Assim, o basquete deve compor o currículo
escolar, mas não ser todo esse currículo. Nesse sentido, os planejamentos
que buscam contextualizar, problematizar e inserir o basquete no currículo
escolar, geralmente, ocorrem em um trimestre letivo dos anos finais do ensino
fundamental e durante o ensino médio. Logo, podemos compreender que o
período de duração de um plano de ensino nesse esporte deverá ter a duração
média de 12 aulas, nas quais o período de duração geralmente se encontra
próximo de 1h30min. O objetivo principal, portanto, é a vivência com os
elementos básicos do basquete e a compreensão do esporte como cultura
corporal de movimento. O Quadro 2, a seguir, demonstra a estrutura desse
planejamento, envolvendo um total de 12 aulas, com 5 a 6 exercícios sendo
desenvolvidos em cada uma delas e podendo ser aplicados em turmas. Note
que o planejamento perpassa uma contextualização e uma problematização
do esporte. Em seguida, ocorre a vivência dos elementos técnicos e táticos
que compõem o basquete, partindo dos mais simples de serem desenvolvidos
aos mais complexos.
18 Metodologia de ensino do basquete

Quadro 2. Exemplo de planejamento mensal

Quantidade
Atividade Exemplo de exercícios

Contextualiza- O professor pode iniciar seu trabalho pro- 10


ção e proble- pondo discussões sobre o conhecimento
matização do da turma sobre o esporte, sua presença
esporte na mídia, abordando o surgimento do
esporte e seu desenvolvimento no século
XX e relacionando-o ao hip-hop como um
elemento de expressão cultural.

Controle de Correndo livremente pela quadra, cada 8


corpo e ma- aluno deverá ter uma bola em suas mãos,
nejo de bola desviando dos colegas. Ao sinal do professor,
devem parar de movimentar-se bruscamente
e caminhar realizando dribles.

Drible Cada aluno, com uma bola, deve efetuar 8


dribles caminhando livremente pela qua-
dra. Ao sinal do professor, devem locomo-
ver-se em sentido contrário.

Passes Os alunos devem formar pequenos gru- 8


pos. Os sujeitos integrantes de cada grupo
devem trocar passes entre si.

Arremessos Em duplas, os alunos efetuam o arremesso 8


em direção ao colega, que deve segurar a
bola e realizar um arremesso ao praticante
que iniciou a ação.

Rebote Em duplas, os alunos lançam a bola para 6


o alto e a agarram no ponto mais alto que
conseguirem.

Situações 1x1 Em duplas, um dos alunos deve perma- 5


necer driblando a bola, impedindo que o
colega a recupere. Ao perder a bola, deverá
tentar recuperá-la.

Situações 2x2 Em duplas, seguindo as regras básicas 4


do basquete, cada dupla deverá realizar
passes e deslocamentos pela quadra,
impedindo que outra dupla roube a bola.
A primeira dupla que efetuar 30 passes
será a vencedora.

(Continua)
Metodologia de ensino do basquete 19

(Continuação)

Quadro 2. Exemplo de planejamento mensal

Quantidade
Atividade Exemplo de exercícios

Situações 3x3 Em times formados por trios, serão realiza- 4


dos minijogos em apenas uma das tabelas.

Jogos pré- Os alunos passam a bola entre si e seus 4


-desportivos adversários tentam impedir. Cada passe
recebido equivale a 1 ponto. Ao perder a
bola, a contagem da equipe será zerada.
A primeira equipe que chegar a 30 pontos
será considerada a vencedora.

Campeonato O professor propõe um torneio integrativo, 4


de integração tendo como elemento fundamental a
vivência do jogo em si, mesmo que, para
isso, algumas regras devam ser adaptadas,
como a permissão de times mistos, cestas
e tabelas adaptadas, facilitando o êxito no
arremesso, entre outros.

Discussão e Em cada aula, os alunos devem ser estimu- 12


avaliação das lados a expressar o que sentiram e experi-
vivências mentaram durante as atividades propostas
em relação a si mesmos e ao grupo, elabo-
rando o processo de construção crítica da
cidadania.

Fonte: Adaptato de Ferreira e De Rose Junior (2010)

Como visto, as atividades devem partir de elementos mais simples, como o


controle de corpo, até as mais complexas, como as situações de ataque contra
defesa individual. Evidentemente, o início do plano de ensino abordará apenas
aquelas situações mais simples de serem executadas. O número de exercícios
é meramente ilustrativo, podendo ser aumentado ou diminuído conforme as
especificidades e as experiências de cada turma.

Planejamento para clubes


Além do planejamento para alunos em escolas, objetivando que experimentem
os elementos básicos do jogo, também existe a possibilidade de desenvolver
20 Metodologia de ensino do basquete

uma proposta de ensino que leve em consideração o avanço das habilidades


e competências relacionadas ao esporte ao longo do semestre. Nesse aspecto,
teremos as propostas a serem desenvolvidas em clubes. Considerando as di-
ferenças desses dois espaços, devemos relembrar que, nos clubes, a proposta
primordial é a condução dos atletas ao profissionalismo. Assim, os planeja-
mentos devem prever meses e anos de duração.
No Quadro 3, apresenta-se uma proposta de planejamento global, con-
siderando indivíduos de 11 a 15 anos de idade com diferentes níveis de
domínio dos fundamentos do esporte. Nos módulos I e II, as propostas
voltam-se para indivíduos entre 11 e 12 anos. Nos módulos treinamento
I e II, para indivíduos entre 13 e 15 anos de idade. A proposta, portanto,
trata da condução dos alunos ao profissionalismo, com a elevação gradual
da exigência técnica e tática. Evidentemente, as vivências do jogo devem
perpassar todo o planejamento. Utilizando os exemplos apresentados na
escola, buscamos elaborar um plano mais ampliado, de forma que você
possa vislumbrar todo o processo de iniciação e treinamento. Nos clubes,
como podemos esperar, a problematização do esporte e sua abordagem como
cultura corporal de movimento não são o ponto central, embora devam estar
presentes de forma transversal nas aulas. O Quadro 3, assim, exemplifica a
ênfase dos conteúdos que devem ser abordados em cada semestre e em cada
nível de desenvolvimento dos praticantes do esporte.

Quadro 3. Exemplo de semestral

Módulo Primeiro semestre Segundo semestre

Iniciação I  controle de corpo;  fundamentos individuais de


 controle de bola; defesa;
 exercícios de  fundamentos individuais de
coordenação motora; ataque;
 drible;  exercícios de coordenação
 passes; motora;
 arremessos (bandeja/  situações de 1x1, 2x2 e 3x3;
jump);  jogos adaptados (regras
 rebote (defesa/ataque). simplificadas).
 jogos adaptados (regras
simplificadas).

(Continua)
Metodologia de ensino do basquete 21

(Continuação)

Quadro 3. Exemplo de semestral

Módulo Primeiro semestre Segundo semestre

Iniciação II  exercícios de  fundamentos individuais e


fundamentos técnicos; coletivos de defesa;
 exercícios de  fundamentos individuais e
coordenação motora; coletivos de defesa;
 situações de 1x1, 2x2  contra-ataque;
e 3x3;  exercícios de coordenação
 jogos adaptados (regras motora;
simplificadas).  jogos adaptados (regras
simplificadas).

Treinamento  fundamentos individuais  sistemas de defesa;


I e coletivos de defesa;  sistemas de ataque;
 fundamentos individuais  contra-ataque;
e coletivos de defesa;  exercícios de coordenação
 contra-ataque; motora;
 exercícios de  jogo formal.
coordenação motora;
 jogo formal.

Treinamento  sistemas de defesa;  sistemas de defesa;


II  sistemas de ataque;  sistemas de ataque;
 contra-ataque;  contra-ataque;
 exercícios de  exercícios de coordenação
coordenação motora; motora;
 jogo formal.  jogo formal;
 torneio interno.

Fonte: Adaptado de Ferreira e De Rose Junior (2010, p. 105).

Certamente, em um plano mais amplo, muitos conteúdos serão repetidos.


No entanto, cabe ao professor conseguir avaliar os avanços obtidos por cada
aluno, a fim de repetir as mesmas atividades ou acrescentar elementos mais
complexos. Resgatando o que foi discutido neste capítulo, as propostas peda-
gógicas para o basquete não devem pautar-se apenas no ensino do jogo em si.
Muito praticantes, com o passar dos anos, acabam aderindo a outras atividades.
Assim, é imprescindível que o professor busque desenvolver integralmente os
alunos em cada um dos exercícios, fortalecendo e estimulando as múltiplas
inteligências e articulando os objetivos ao que é proposto em cada espaço social.
22 Metodologia de ensino do basquete

BAYER, C. O ensino dos deportos colectivos. Lisboa: Dinalivros, 1994.


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Conteúdo:

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