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Manifestações

Culturais
e Esportivas:
Esportes Individuais
Esportes Individuais de Combate

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Igor Roberto Dias

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Esportes Individuais de Combate

• Intodução;
• Caracterização dos Esportes de Luta e Combate;
• Implementação de Possibilidades Didático-Pedagógicas;
• Planos de Trabalho;
• Por que e como Treinar Jogos Situacionais?


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Mapear os esportes individuais de combate e sua história;
• Traçar planos de trabalho, jogos de esportes de combate e implementação de possibilidades
didático-pedagógicas.
UNIDADE Esportes Individuais de Combate

Intodução
Há relatos sobre o uso de lutas corporais desde a pré-história. As lutas corporais
foram usadas como método de sobrevivência e principalmente como supremacia mili-
tar. Dominar técnicas de enfrentamento corporal era uma forma importante de poder.
Entretanto, com a chegada da pólvora na Europa no século XVI e, assim, com o avanço
das tecnologias de guerra, a luta corporal passou a ser secundária. Atualmente, a luta
corporal é utilizada como forma lazer (exercício físico), formação educacional (imersão
da cultura corporal) e esporte de alto rendimento, perdendo assim muitas das suas ca-
racterísticas de origem, como as técnicas fatais. No entanto, ainda tem serventia militar,
pois ainda é utilizada para treinamento policial e defesa pessoal.

As lutas corporais geralmente são classificadas em artes marciais, lutas e modalidades


de combate, como resumido no quadro abaixo. Essa divisão é uma forma didática de clas-
sificação, mas perceba que, em geral, as práticas de lutas corporais permeiam por ambas
as definições do quadro. Por exemplo, a capoeira pode ser uma arte marcial, pois pode
não envolver lutas corporais e representa a cultura do seu povo de origem, mas pode se
tornar luta quando há o confronto entre duas pessoas (por exemplo, em aulas de educação
física). Entretanto, em eventos esportivos com fim de competição, a capoeira é classificada
como esporte de combate, o que entra na classificação de esporte, definida anteriormente.
Toda arte marcial pode ser uma luta, mas nem toda luta pode ser uma arte marcial e, a
partir do momento em que a luta ou arte marcial é institucionalizada para competições,
passa a ser caracterizada como esporte – se tiver enfrentamento, é esporte de combate.

Quadro 1 – Definições de lutas corporais

Jogos regidos pela lógica da oposição entre duas ou mais pessoas.


Embora o objetivo seja variável, tem como características específicas
Lutas o ataque a qualquer momento, ataque e defesa de alvo/oponente (fu-
são, ataque/defesa) e a possibilidade de ataque simultâneo ou mútuo.
Exemplos: capoeira, luta senegalesa e a huka-huka.

Atividades de combate fortemente relacionadas ao regionalismo.


O objetivo de defesa de uma comunicade pode estar implícito ou
Artes marciais explícito. São influenciados por aspectos culturais/éticos e são
práticas que podem atuar nas esferas: física, espiritual e social.
Exemplos: kung fu, karatê e muay thai.

São formas “esportivizadas” das lutas e artes marciais e seu obje-


tivo principal é simular em parte os combates corpo a corpo “ver-
Modalidades esportivas dadeiros” (originais/não esportivizados). Obrigatoriamente devem
ser regidas por entidades ou instituições reguladoras (federações,
de combate confederações, comissões atléticas, etc). São constituídas por com-
peonatos/eventos com regras, classificações e pódios. Exemplos:
jiu-jitsu brasileiro, luta livre esportiva, sambo, judô e esgrima.

Fonte: Adaptado de OLIVEIRA JUNIOR, 2019

As artes marciais são de diferentes origens geográficas, geralmente divididas em origens


ocidental, chinesa ou japonesa – artes marciais –, e representam as formas de expressão de
seu povo – cada movimento ou postura é cheio de simbolismo da cultura que a pertence –,
ou seja, a luta tem sua origem na cultura de movimento do seu povo. Em algumas culturas,
como a chinesa, as lutas fazem parte do estilo de vida das pessoas (assim como o futebol no

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Brasil). Essa informação é importante para os professores de educação física, ou seja, o en-
sino de lutas aqui no Brasil pode sofrer algumas resistências nas aulas de educação física em
que os alunos irão preferir a prática do futebol. Em inúmeras academias de lutas corporais
e em aulas de educação física escolar, geralmente ensinam a arte marcial de uma única mo-
dalidade (ou seja, especialização em uma modalidade, e isso em crianças que não conhecem
a cultura relacionada à arte marcial), o levará a uma alta taxa de abandono da modalidade e
pouca aderência à prática. Isso não diz respeito somente ao ensino de artes marciais, mas a
qualquer esporte em que a criança não esteja submersa na cultura. O que vemos na prática é
que as artes marciais e lutas ensinadas são específicas, por exemplo, só soco (boxe), técnicas
de chute (taekwondo) ou técnica de luta no chão (jiu-jitsu), ou somente lutas de curta distân-
cia (jiu-jitsu e judô), média distância (boxe, kick boxe), ou longa distância (esgrima e kendô).
Atualmente, a literatura do esporte com bola (esporte individual ou coletivo) tem proposto
que a iniciação esportiva deve ser generalista, ou seja, é necessário que o iniciante entenda o
mecanismo do esporte (com bola ou de lutas) no qual está sendo inserido, por exemplo, das
demandas de coordenação motora e de habilidade e táticas (isso é importante, porque, para
ser uma especialista em resolver problemas dentro da modalidade, só é possível com uma
vivência generalista na iniciação esportiva). Como abordado anteriormente, essa conduta do
ensino de lutas é uma estratégia para formar um atleta habilidoso, autônomo e motivado
para a prática na qual está sendo inserido.

Trocando Ideias
Atualmente, estamos na febre do MMA e o que a prática tem mostrado é que o atleta
mais completo (com conhecimento generalizado em lutas) é o que sobressai nessa mo-
dalidade. Não é objetivo desta unidade preparar atletas para o MMA, o objetivo desta
unidade é demonstrar como podemos iniciar crianças e adultos na modalidade de lutas
sem necessariamente ficarmos presos somente em uma modalidade (ou seja, limitando
o aluno). Entretanto, o fato do atleta de MMA estar inserido em diferente modalidade
(que exige diferentes técnicas e táticas) lhe oferece uma maior capacidade de solucionar
problemas dentro desse esporte de combate.

Atualmente, como o esporte de luta faz parte do currículo escolar (para formação social
(ou seja, formação a nível físico, psicomotor, social, ético). De fato, o que é proposto a ser
ensinado são as artes marciais modernas que são em geral artes marciais orientais com in-
fluência ocidental. Essa prática envolve o desenvolvimento da saúde moral e física dos seus
praticantes em detrimento da preparação para o combate, objetivando a performance fí-
sica, espiritual, psicológico, técnico e estratégico para o combate. A arte marcial moderna
também prega a vitória. Como discutimos anteriormente, existe um grande problema em
trabalhar num contexto de supervalorização da vitória: você, como professor de educação
física, é responsável por escolher em passar essa cultura da competição.

Não temos que transformar crianças em competidores. Na verdade, isso pode afastá-la da prá-
tica de atividade física como lazer ou como meio de adquirir saúde e qualidade de vida – por
que você acha que as meninas e até meninos menos habilidosos em modalidades esportivas
em geral tentam fugir das aulas de educação física? Não seria por causa da cultura competitiva?

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UNIDADE Esportes Individuais de Combate

Ainda há um preconceito que, para ensinar lutas, é necessário ser um “mestre”.


Nesta unidade, iremos abordar o mecanismo de lutas e as possibilidades pedagógicas e
didáticas de como fazer a iniciação esportiva em esportes de lutas sem ser um “mestre”.
Como já mencionamos anteriormente, o conhecimento prático é importante, mas o co-
nhecimento teórico é ainda mais importante quando é pensado além do desenvolvimen-
to de um lutador autônomo e habilidoso (desenvolvimento cognitivo e motor), e como
não tornar a sua aula num “triturador” de autoestima (saúde mental) e talentos, ou seja,
fazendo com que muitos de seus alunos abandonem e evite esse tipo de modalidade.

Ainda estamos presos em um grande dogma nas lutas, pelo fato de muitas delas te-
rem idades milenares, ou seja, serem anteriores à era do conhecimento em que estamos.
Ainda hoje em lutas, há um método de ensinamento deficiente: as aulas são treinamen-
tos em que o aluno reproduz ação do professor tanto para crianças quanto para adultos,
sem um planejamento sistemático e pensado em como manter o atleta engajado e torná-
-lo autônomo e competente. Como disse, estamos na era do conhecimento (temos um
profundo conhecimento em práticas didática, pedagógica e de condicionamento físico)
para ensinar o aluno a aprender a aprender, mantê-lo engajado e torná-lo extremamente
competente (cognitivamente e motoramente) na sua prática e não ser apenas um repro-
dutor de ações motoras em uma determinada situação (aquele lutador que só sabe lutar
no chão ou em pé; ou aquele lutador que só sabe lutar agarrado ou de longe). Esses
lutadores são frutos de uma abordagem pobre, que não foi capaz de formar um lutador
relativamente autônomo (que sabe corrigir suas próprias deficiências) e pouco habilidoso
(que não teve uma vivência motora planejada como condicionar e conciliar as ações
motoras aos esquemas táticos para solucionar problemas em lutas – situação: agarrado
ou de “trocação”). Segundo Cirino, Pereira e Scaglia (2013), isso ocorre pelo fato de
os treinadores não terem uma formação acadêmica (como conhecimento de estratégias
pedagógicas e didáticas voltadas a crianças ou adultos).

Perceba que esta unidade é a continuação de unidades anteriores. Portanto, para esta
unidade ser significativa, é importante que você tenha em mente que, anteriormente,
foram dadas diretrizes de como ensinar o aluno a ser autônomo e a desenvolver com-
petências (saber executar, saber aprender a aprender e saber para que servem as ativi-
dades) e como inserir isso em um plano de aula e num programa. Nesta unidade, não
serão ensinadas lutas como judô, karatê, boxe etc., mas daremos diretrizes relacionadas
ao processo de ensino-aprendizagem, ou seja, iremos abordar e integrar os elementos
comuns que caracterizam os esportes de combate (iniciação em lutas, que é a base para
desenvolver um atleta de alto nível). Também não será dado o passo a passo de técnicas
(por exemplo, projeções, comandos, golpes de perna ou punho). As sugestões de livros
com execução de tais técnicas são dadas na seção Material Complementar, onde tam-
bém há sugestão de como realizar preparação física e composição corporal para espor-
tes de combate. Portanto, o objetivo aqui é que você saiba passar para os seus alunos de
forma segura e efetiva (por meio de estratégia pedagógica e didática), como desenvolver
as habilidades técnicas, táticas associadas ao desenvolvimento das capacidades motoras
exigidas nas modalidades de lutas.

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Caracterização dos
Esportes de Luta e Combate
Saber lutar é a habilidade dos atletas de resolver diversas situações que ocorrem
durante o combate, isso é independente dos modelos de execução das técnicas que
caracterizam as diferentes modalidades de lutas. Para que o atleta de luta seja hábil em
resolver problemas (habilidoso), deve entender quais ações motoras são necessárias em
determinadas situação. Portanto, o atleta deve entender o mecanismo que envolve os
esportes de luta e combate.

As lutas têm uma estrutura lógica em comum (que também pode ser aplicada no
esporte de combate). Entender essa estrutura é importante para ensinar qualquer mo-
dalidade de luta de forma efetiva. Por exemplo, entender quais são as ações motoras
exigida na modalidade relacionada a diferentes tipos de enfrentamento (veja a Tabela 1).

Tabela 1 – Ações motoras relacionadas a distâncias de enfrentamento em lutas


Longa distância Média distância Curta distância Misto
Aproximar, golpear, golpes
Golpes com implementos. Golpes com extremidades. Golpear, agarrar e aproximar.
com extremidades, e agarrar.
Aproximar, posicionar, puxar,
Aproximar, puxar, empurrar, empurrar, imobilizar, lançar/
imobilizar, projetar/derrubar, derrubar, rolar, cair, imobili-
Empunhar, bater, tocar, esquivar, neutralizar, defender.
rolar, cair, imobilizar, excluir da zar, excluir da área, controlar,
área, controlar, tocar, golpear. tocar, golpear, defender, neu-
tralizar, esquivar.
Fonte: Adaptado de AVELAR; FIGUEIREDO, 2009. RUFINO; DARIDO 2015

O primeiro aspecto comum em lutas são as distâncias entre os oponentes. Perceba


que, na Tabela 1 acima, as distâncias entre os oponentes estão relacionadas à finalidade
das lutas, ou seja, dependendo do tipo de interação entre os oponentes, o espaço será
diferente, assim como o tipo de espaço em que ocorrem as práticas (área de combate do
judô, MMA, esgrima etc.). Portanto, a distância estabelece o tipo de ação motora (o tipo
de confronto) a ser realizada por ambos os praticantes da modalidade (ou seja, as ações
em lutas de curta distância serão diferentes de lutas de longas distâncias).

A Tabela 1 acima apresenta as “unidades motoras básicas” (que iremos chamar de ha-
bilidades) das modalidades de lutas (que devem ser consideradas numa iniciação esportivas
em lutas). Essas “unidades motoras básicas” ainda podem ser divididas em unidade moto-
ras primárias (que são as ações de agarrar e empurrar) e unidades motoras secundárias:
que são a base para os esportes de combate (puxar, empurrar, imobilizar, jogar/derrubar,
rolar, cair, tocar, empunhar, defender e esquivar). É importante perceber que as unidades
motoras mencionadas aqui não são os fundamentos específicos (técnicas) das modalida-
des, porém, elas serão elementos necessários para a construção das técnicas dos esportes
de combate (golpes/toques, jogar/derrubar, imobilizações, luxações e estrangula-
mentos: essas técnicas de lutas de combate buscam a finalização).

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UNIDADE Esportes Individuais de Combate

A distância irá determinar, por exemplo, se o tipo de confronto é de agarrar ou


golpear, e consequentemente o tipo de ação motora a ser realizada. Nesse sentido, é
importante ensinar o aluno (criando situações lúdicas) a desenvolver as táticas corretas
de acordo com a percepção de distância.

Importante!
Com crianças: criar brincadeiras (jogos com ludicidade) para ensinamento das técnicas
é de extrema importância para tornar as aulas atrativas e mantê-las na prática. Usar
estratégias tecnicistas (como reprodução de movimento) não é proibido, mas o excesso
dessa estratégia deixa a aula extremamente maçante.

Outro aspecto do mecanismo de luta é o papel a ser assumido na luta (ser ofensivo
ou defensivo). A Tabela 2 abaixo descreve as ações estratégicas/táticas a serem seguidas
dependendo do papel assumido na luta.

Tabela 2 – Princípios táticos em diferentes esportes de combate


Esporte de combate Tática de ataque Tática de defesa
Evitar ser projetado ou controlado
...de agarrar Projetar e controlar o adversário
pelo adversário.
...de golpear Achar o alvo no corpo do adversário Evitar ser golpeado pelo adversário.

...de armas Achar o alvo no corpo do adversário Evitar ser tocado pela arma do adversário.
Fonte: Adaptado de AVELAR; FIGUEIREDO, 2009

Em muitos casos, em lutas, a defesa pode ser entendida como uma condição de
passividade. Entretanto, é importante ensinar para o aluno (criar estratégias para isso,
como jogos de defesa e ataque, contra-ataque) que a situação de defesa em muitos casos
pode ser utilizada estrategicamente para realizar ações de contra-ataque (defesa ativa).
Por outro lado, a ação de ataque requer abandono da guarda e cria um desequilíbrio
após o deslocamento o que pode levar à falha (abertura para o contra-ataque do adver-
sário), por isso é importante treinar com o atleta o melhor momento para a atividade de
golpear ou tocar o adversário. Isso é treinamento de tática e requer um direcionamento
teórico para esse conteúdo (discutiremos no item a seguir: “Implementação de possibi-
lidades didático-pedagógicas”).

A fase de ataque e defesa tem interação com a fase de guarda (momento em que o
lutador teoricamente está em espera para a ação de ataque ou defesa). A fase de guarda,
em prática, é o momento em que não há ataque ou defesa, mas o lutador deve estar
atento para assumir um dos papéis dependendo da demanda do combate (Figura 1).
Posições de guarda devem ser ensinadas de acordo com a necessidade da modalidade e
do momento do combate. Por exemplo, as fases de transição da guarda para as ações
ofensivas ou defensivas (momentos de transição – contra-ataque) precisam ser treinadas.
Essas ações são caracterizadas como intenções táticas (ou seja, tentativa de atingir o
objetivo do combate) e precisam ser treinadas com atividades de coordenação motora e
habilidade (no item a seguir, iremos dar direção de como treinar técnica, tática e coorde-
nação motora, simultaneamente).

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Lutador em Lutador em
ação ofensiva ação defensiva

Lutador
em guarda

Figura 1 – Estrutura dinâmica dos papéis assumidos na luta


Fonte: Adaptado de AVELAR; FIGUEIREDO, 2009

A ação de guarda não necessariamente precisa ficar entre a ação defensiva e ofensiva,
em muitos casos, o lutador passa da defensiva para ofensiva e vice-versa.

Implementação de Possibilidades
Didático-Pedagógicas
No processo de ensino-aprendizagem, como professor, temos que criar situações de
aprendizagem idênticas, se não comparáveis, às lutas ou esportes de combate.

Do ponto de vista didático, as “unidades motoras básicas” devem ser usadas como in-
trodução aos esportes de lutas com crianças (ou até mesmo na iniciação esportivas com
adultos). O ensino de atividades primárias (ações motoras que não têm um componente
técnico-esportivo específico, mas servem como base para o início dos esportes de lutas)
deve ser utilizado para o desenvolvimento motor e cognição tática (entender os mecanismos
das lutas). Portanto, devemos abordar atividades com base nas estruturas abordadas acima
(habilidades básicas da Tabela 1 e tático da Tabela 2) para iniciação em lutas e não numa
modalidade específica. Quando você limita a possibilidade de somente uma modalidade, o
aluno fica impedido de entender o mecanismo do esporte de combate e isso irá prejudicar
até mesmo o entendimento e desenvolvimento do mecanismo da própria modalidade.

O processo de ensino aprendizagem deve ser baseado “na progressão da dificuldade


dos conteúdos abordados (grau de oposição) e da complexidade (hierarquia das sequências
técnico-táticas)”:
• Das atividades em grande grupo às atividades em pares;
• Do contato em cooperação ao contato de oposição (controlado);
• De habilidades de luta genéricas a habilidades de luta específicas;
• Da luta por espaços e objetos à luta para alcançar/controlar o corpo ou qualquer
uma das suas partes;
• De grandes espaços a pequenos espaços.

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UNIDADE Esportes Individuais de Combate

A metodologia de ensino em esportes de combate deve ser baseada na criação de


jogos de ensino para entender a lógica do combate e o uso apropriado das ações mo-
toras. Para isso, é importante que todas as atividades sejam feitas abordando as
dimensões do conteúdo, discutido anteriormente. Além disso, o principal foco das
aulas deve ser em atividades de soluções de problemas. Criar jogos situacionais que de-
mandem raciocínio tático para solucionar os problemas e gestos motores apropriados
para as situações de combate.

Os jogos de soluções de problemas com tarefas abertas devem ser o foco no proces-
so de ensino aprendizagem, ao invés do foco na execução de técnicas e ações motoras
dos movimentos, ou seja, tarefas fechadas. Nesse sentido, com jogos situacionais que
envolvam atividades com diferentes distâncias (como mencionada na Tabela 1), de toque,
de desequilíbrio, imobilização etc. Claro, que a execução correta dos movimentos deve
ser corrigida usando, em alguns momentos, tarefas fechadas (método tecnicista), porém,
isso se aplica em casos em que o aluno não faz a execução correta em tarefas abertas.

Exemplo de tarefas abertas e fechadas


Em ginástica artística, em musculação e até a aula de zumba são modalidades de tarefas
fechadas (devido ao seu caráter estável, ou seja, o começo e fim das ações são conhecidos).
Lutas como o judô, futebol, brincar de pega-pega são tarefas abertas (com imprevisibilida-
de das ações e alta instabilidade das ações causadas pelos atletas em oposição). No judô, por
exemplo, quando o professor passa uma atividade de agarrar o colega e projetá-lo, sem que
ele reaja a essa ação, essa atividade é uma tarefa fechada. No entanto, quando na mesma
atividade (de agarrar e projetar), o colega se defende (evitando ser agarrado e projetado),
é uma tarefa aberta (em que o colega está causando instabilidade para o adversário e o
fim da atividade é imprevisível – pois você poderá ou não agarrar e projetar o colega). Em
tarefas abertas, o uso das técnicas e coordenação motora é condicionado às tomadas de de-
cisões (cognição tática) dos atletas e é a melhor estratégia para criar um lutador habilidoso.

Ensino da técnica e tática são dois extremos nos processos de ensino-aprendizagem.


Aprender por meio da tática, pode levar a um maior estado de consciência de melho-
ria motora ou execução técnica para solucionar problemas em combate. Entretanto, é
necessário desenvolver uma boa base das habilidades motoras básicas e secundárias
(Tabela 1). Portanto, o desenvolvimento técnico deve ser desenvolvido junto do conhe-
cimento da capacidade tática. A seguir, é sugerida uma estratégia para introdução de
forma progressiva de fundamentos técnicos e táticos na iniciação esportiva.

Modelo para ensino de técnica e tática na iniciação esportiva:


1. Domínio das habilidades e coordenação básicas;
2. Atividades de táticas com envolvimento de poucos elementos técnicos;
3. Criar jogos situacionais semelhantes ao esporte de combate específico com
aplicação dos elementos técnicos e táticos aprendidos anteriormente;

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4. Atividade de táticas esportivas com envolvimento de novos elementos de ha-
bilidades básicas;
5. Atividade de habilidades básicas com envolvimento de novos elementos táticos;
6. Criar jogos situacionais semelhantes ao esporte de combate específico com
aplicação dos elementos de habilidade básica e táticos aprendidos.
Fonte: CIRINO; PEREIRA; SCAGLIA, 2013

Ao seguir, a progressão anterior, é possível desenvolver as unidades motoras básicas


e secundárias nas situações de combate (para desenvolvimento da inteligência tática).

Planos de Trabalho
Para desenvolver competência e autonomia no aluno, é necessário aplicar os conte-
údos abordando as dimensões do conteúdo (Tabela 3) e as teorias da autodeterminação
apresentadas anteriormente.

Cirino, Pereira e Scaglia, (2013) propõem um plano de ensino de lutas dos 6 aos 14
anos (para alunos do ensino fundamental) que também pode ser aplicada em escolinhas
de esporte, quando pensada numa formação em longo prazo. Esses autores sugerem que
os esportes de lutas de contato contínuo (ou seja, de distância curta) devem ser ensinados
primeiro. Em seguida, os de média distância (que ele chama de contato intermitente),
seguidos do de longa distância (que eles chamam de lutas de contato com mediação).
Os autores propõem uma formação básica até os 10 anos. Nesse período, o foco maior
deve ser no desenvolvimento das ações básicas e secundárias e coordenação motora.
As ações motoras devem ser abordadas em tarefas fechadas num primeiro momento e
em tarefas abertas (ou seja, criar jogos situacionais para desenvolver a inteligência tática
relacionada aos fundamentos e sua aplicação ao tipo de contexto de luta: curta, média
ou longa distância). A especialização em modalidade pode ocorrer a partir dos 11 anos
de idade (nesse ponto, o aluno deve ter uma boa base motora, momento em que se deve
focar no desenvolvimento tático). Veja o esquema na Tabela 3.

Por que devemos focar em atividades motoras em crianças na iniciação esportiva e


não na parte tática?
A Figura a seguir mostra que há um maior crescimento percentual do rendimento das ca-
pacidades coordenativas nas idades de 7-9 anos. Nesse sentido, nessa idade o foco deve ser
o trabalho em atividades motoras e não táticas. O foco em atividades táticas deve ser num
estágio de maior amadurecimento intelectual, por exemplo, a partir dos 11 anos.

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UNIDADE Esportes Individuais de Combate

Figura 2 – Ganho percentual em coordenação motora nas idades entre 5 e 17 anos


Fonte: Adaptado de KRÖGER; ROTH; MEMMERT, 2002

Tabela 3 – Programação do conteúdo de lutas na iniciação esportiva e especialização


Conteúdos Conteúdo Conteúdo
Conteúdos
Anos Padrão de luta procedimentais procedimentais conceituais de
atitudinais
principais secundários caracterização
1ª ANO Atividades de coordena- Respeito às regras, res-
Distância curta Jogos de contato Judô; sumô
(6 anos) ção motora, habilidades e peito ao adversário.
(Lutas de contínuos e
2ª ANO tática relacionada a lutas Greco-romana; Benefícios mútuos,
Contato Contínuo) suas variações
(7 anos) de curta distância. jiu-jitsu. organização.
Consciência crítica,
3ª ANO Jogos de contato Karatê, respeito à história
(8 anos) Lutas de média Atividades de coordena- taekwondo. das lutas e seus prin-
intermitente e
distância (lutas ção motora, habilidades cípios filosóficos.
combinações de
de Contato e tática relacionada lutas
jogos com Respeito às tradições
4ª ANO Intermitente) de média distância.
contato contínuo. Boxe; sambô. das lutas, humildade
(9 anos)
e autoestima.
Reflexão dos
Lutas de longa Atividades de coordena- princípios filosóficos
Jogos de contato
5ª ANO distância (lutas ção motora, habilidades e valores sociais. (Ex.:
mediado e combi- Esgrima; kendô.
(10 anos) de contato e tática relacionada lutas associação da prática
nação de contatos
com mediação) de longa distância. de lutas com aumento
da violência social).

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Conteúdos Conteúdo Conteúdo
Conteúdos
Anos Padrão de luta procedimentais procedimentais conceituais de
atitudinais
principais secundários caracterização
Ações defensivas como
bloqueios, posicionamen-
to, pegadas, movimenta-
ção da luta em pé. Ações
Origem e caracteri- Relação dos valores
6ª ANO ofensivas como projeções
zação de lutas tais filosóficos com
(11 anos) induzidas por regras
como: judô; sumô. a realidade.
Jogos situacionais específicas das modalida-
Conteúdo Específicos de curta distância des, disputa de pegadas e
das lutas de curta (contato contínuos) utilização do peso corporal
distância (lutas de e suas variações como ação estratégica.
contato contínuo) ecombinações Ações defensivas como
de contatos. neutralização, retomada
de posições ofensivas. Lutas orientais Consciência crítica do
7ª ANO Ações ofensivas como e ocidentais tais benefício das lutas
(12 anos) imobilizações e movimen- como: greco-ro- no combate
tação da luta de solo por mana; jiu-jitsu. a violência.
meio de regras específicas
das modalidades.
Compreensão da
Jogos situacionais Ações defensivas como história das lutas em
Conteúdo Especí- de contato média esquiva, posicionamento, Lutas orientais relação aos aspectos
ficos das lutas de distância (contato movimentação, neutrali- e ocidentais tais filosóficos e influên-
8ª ANO
média distância intermitente) e zação. Ações ofensivas como: karatê, ta- cia de valores ociden-
(13 anos)
(lutas de contato combinações de aproximação, ante- ekwondo; capoeira tais sobrepondo os
intermitente) de jogos com cipação, sequência de boxe; sambô. orientais, gerando a
contato contínuo. golpes, contragolpes. esportivização
das lutas.
Jogos situacionais Ações defensivas como Relação da história das
Conteúdo Específi- de contato longa esquiva, posicionamento, lutas com a sociedade
9ª ANO cos das lutas longa distância (contato movimentação, neutrali- Esgrima; kendô. atual, no que tange
(14 anos) distância (contato mediado) e com- zação. Ações ofensivas de Lutas indígenas. valores e significados,
com mediação) binações de jogos aproximação, antecipa- que geram o apareci-
de contato. ção, sequência de golpes. mento do MMA.
Fonte: CIRINO; PEREIRA; SCAGLIA, 2013

As habilidades mencionadas no quadro acima (Tabela 3) são as habilidades mencio-


nadas na Tabela 1. Já as ações ofensivas e defensivas do quadro acima (Tabela 3) são as
ações táticas mencionadas na Tabela 2. Entretanto, perceba que, na Tabela 4, menciona
ações táticas de aproximação (isso é a combinação, por exemplo, de um esporte de luta
como o MMA que possui atividades de média e curta distância). Esses autores, apesar
apresentarem um plano de ensino coerente, não deixam claro o que estão ensinando.
A seguir, iremos apresentar o caminho para ensinar habilidade, tática e coordenação
motora (os três pilares do esporte).

Na Tabela 4, a seguir, são apresentadas proposta para sanar deficiência em habilida-


des, inteligência táticas e de coordenação motora dos esportes de luta, ou seja, é apre-
sentada a estrutura de elementos comuns a serem treinados nas modalidades de lutas.

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UNIDADE Esportes Individuais de Combate

Tabela 4– Pilares (inteligência tática, técnica e de coordenação


motora) para condicionar na modalidade de luta
Forma de abordagem Objetivos Conteúdos e métodos
Somente jogos em forma de elemen-
Jogo para situação. Aprender a lutar.
tos táticos (apresentado na Tabela 2).
Melhoria da coordenação e dos jo-
Orientado para as Melhora a coordenação gos em elementos para construir a
capacidades motoras. dos movimentos. melhoria das informações motoras
necessárias ao esporte.
Exercitar as habilidades básicas (Ta-
Melhora as unidades bela 1) necessárias aos elementos
Orientado para habilidades.
motoras básicas. que permitirão desenvolver-se com
mais possibilidades técnicas.
Adaptado de KRÖGER; ROTH; MEMMERT, 2002

A estrutura do quadro acima ensina o aluno a lutar, a desenvolver habilidades e capa-


cidades motoras gerais para iniciar a especialização em lutas. A seguir, iremos discutir
esses três pilares e como aplicá-los na prática.

Por que e como Treinar Jogos Situacionais?


Os jogos situacionais desenvolvem uma capacidade geral do jogo e competência táti-
ca (citadas no Quadro 2) de forma sistemática.

Jogos situacionais são formas de construir de maneira efetiva a antecipação e condu-


ção de comportamentos (jogar para adquirir experiência). Em outras palavras, o aluno
deve conseguir perceber as consequências das suas ações e também das ações dos
adversários. Com isso, há um aumento da confiança, sentimento de segurança e do
domínio da situação. Se a consequência dos seus atos não é clara, isso leva a dúvidas,
sentimento de medo e angústia (ou seja, um sentimento de estar jogado naquela situa-
ção). Por isso, os jogos em lutas não devem ser escolhidos sem um objetivo por trás ou
para passar o tempo.
• Os elementos táticos ofensivos em lutas da Tabela 2 são relacionados ao objetivo
ou ao adversário:

Relacionado
Acertar o alvo
ao objetivo

• Reconhecer a distância Relacionado


• Superar o adversário ao adversário
(ações ofensivas)
• Evitar ser superado pelo
adversário (ações defensivas)

Figura 3

Acertar o alvo é um intensão tática relacionada ao objetivo ou adversário. Por exem-


plo, a esgrima e o taekwondo são considerados esportes de combate de intenção indi-
reta, cujo objetivo é acertar o alvo (o adversário é um meio para o objetivo). Já esporte

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de combate como o boxe, muay thai, kickboxing etc., o objetivo é o próprio adversário
(portanto, é uma modalidade de intenção direta), cujo alvo é o próprio adversário.

Atividades de acertar o alvo é uma tarefa bem clara nas modalidades de lutas de mé-
dia e longa distância. No entanto, acertar o alvo pode ser um objetivo anterior à tarefa
de superar o adversário (como tentar agarrar a gola do quimono para obter uma situa-
ção de submissão do adversário); ou agarrar as pernas do adversário para projetá-lo ao
solo. Essa exige é uma tarefa de aproximação que parte da situação de média distância
para curta distância. Perceba que acertar o alvo e superar o adversário são tarefas rela-
cionadas a reconhecer as distâncias (e saber se movimentar para a distância escolhida).
Nesse sentido, são aspectos que o aluno deve trabalhar para condicionar as tomadas de
decisões corretas para determinadas situações de lutas.
• Os elementos táticos defensivos basicamente são: evitar que o adversário acerte
o objetivo, dificultar o jogo do adversário, proteger as áreas vitais, que são objetivo do
adversário. Essas atividades são exercitadas paralelamente com os jogos de ataque.

Por que e como treinar a habilidades?

É importante lembrar que as habilidades mencionadas aqui não são os fundamentos


específicos das modalidades (são as mencionadas na Tabela 1), porém, essas habilidades
serão elementos necessários (alicerce) para a construção das técnicas relacionadas às
modalidades de lutas.

É importante salientar que habilidade se ganha praticando, ou seja, aprende-se lu-


tando. Também é importante treinar as habilidades sempre com um contexto tático.
Além disso, as habilidades devem ser passíveis de transferência para os esportes de luta.
Abaixo, é elaborado um quadro em que podemos associar o treino das habilidades com
elementos táticos, por exemplo.

Tabela 5 – Relação do treino de habilidades (ou técnicas) com a tática

Acertar Reconhecer Evitar ser superado pelo Superar o


Tática/Habilidade
o alvo a distância adversário (defesa) adversário (ataque)

Empunhar x x x

Bater x x x

Tocar x x x

Defender x x

Neutralizar x x

Esquivar x x

Puxar x x

Imobilizar x x

Lançar/derrubar x x

Rolar x x

Cair x x

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UNIDADE Esportes Individuais de Combate

Acertar Reconhecer Evitar ser superado pelo Superar o


Tática/Habilidade
o alvo a distância adversário (defesa) adversário (ataque)

Excluir da área x x x

Controlar x x x

Golpear x x x

Aproximação x x x

Movimentar-se x x x

Posicionamento x x
Antecipação x x x x
Sequência de golpes x x x
Contragolpes x x x x

Por que e como treinar a coordenação motora?

Trabalhar coordenação motora é importante para o aluno: 1) aprender rápido e certo;


2) controlar o movimento de forma precisa e dirigida para o objetivo; 3) variar de forma
múltipla e rica, sempre adaptado à situação. Nesse sentido, iremos mostrar como aumen-
tar a eficiência das habilidades mencionadas na Tabela 1 e Tabela 6 com condicionantes
motoras mencionadas na Figura 2.

As diretrizes teóricas sugeridas por Kröger, Roth e Memmert (2002) para treinar a
coordenação motora (esquema na Figura 4) têm se demonstrado efetivas para melhora da
coordenação motora. De fato, como apresentado na Figura 4, no contexto esportivo, as
ações motoras (grossas e finas) são executadas a partir de informações recebidas por vias
aferentes. Essa execução motora ocorre sob diferentes exigências coordenativas (pressão):

Exigências Coordenativas nas


Tarefas de Movimentos

Elaboração de informação
Eferente Aferente
Óptico, acústico, tátil,
Motricidade grossa e fina
cinestésico, vestibular

Pressão do tempo

Pressão da precisão

Pressão da complexidade

Pressão da organização

Pressão da variabilidade

Pressão da carga
Baixa Alta

Figura 4 – Exigências da coordenação motoras esportivas


Fonte: Adaptado de KRÖGER, ROTH; MEMMERT, 2002

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As atividades eferentes (atividade motoras) podem ser elaboradas a partir de estímulos
recebidos pelo meio aferente. Por exemplo, atividades com mudanças de planos (lutas
em pé para deitada ou vice-versa), giros, fintas são executadas a partir de informações
do vestibular. Nesse sentido, é necessário treinar os aspectos em que o aluno se mostra
deficiente na ação eferente.

Quadro 2 – Resumo das condicionantes de coordenação motora

Tarefas coordenativas nas quas é importante a minimização do


Pressão de tempo tempo ou maximização da velicidade.

Pressão de precisão Tarefas coordenativas nas quais é necessária a maior exatidão possível.

Pressão de sequência Tarefas coordenativas nas quais deve ser resolvida uma série de
(ordem de ações) exigências sucessivas, uma atrás da outra.

Tarefas coordenativas nas quais se apresenta uma necessidade de


Pressão de organização superação de muitas exigências simultâneas.

Pressão de Tarefas coordenativas nas quais há necessidade de se superar exi-


variabilidade gências em condições ambientais variáveis e situacionais diferentes.

Tarefas coordenativas nas quais a exigência é de tipo físico-con-


Pressão de carga dicional ou psíquica.

Fonte: KRÖGER; ROTH; MEMMERT, 2002

Tarefas de contragolpes exigem pressão de sequência (sequência de habilidades), já


tarefas de contragolpes impõem pressão de variabilidade (sair da situação de defesa) em
que se exige uma habilidade específica (neutralizar, defender ou esquivar) para a situação
de ataque que exige outra demanda de habilidade (que exige outras habilidades).

Como mostrado na Figura 4, a complexidade das atividades pode variar de baixa


a alta, dependendo no nível motor do aluno. Abaixo, na Figura 5, é apresentado um
esquema de montagem de um hipotético exercício. A complexidade e a necessidade da
demanda aferente e eferente, assim como a situação de pressão, devem ser de acordo
com a demanda do aluno (nível de coordenação motora e deficiência específica). Se
for analisar, é possível fazer 60 combinações triplas (unidade motora + variabilidade +
situação de pressão) com diferentes demandas coordenativas. Como mencionado por
Kröger, Roth e Memmert (2002), p. 22: “O tempero determina o sabor da comida”.

Unidade motora
básica e secundária
+
Variabilidade (exigência
eferente e aferente)
Treinamento
+ =
de coordenação

Situação de pressão (do


tempo, da precisão, da
complexidade, da organização,
da variabilidade, da carga).

Figura 5 – Fórmula básica do treinamento de coordenação


Fonte: Adaptado de KRÖGER; ROTH; MEMMERT, 2002

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UNIDADE Esportes Individuais de Combate

A seguir, é apresentado um hipotético plano de aula, na qual a parte principal é


dividida em três tipos de atividade de coordenação motora (coordenar diferentes ações
motoras), habilidade (fundamentos da modalidade) e jogos de situação de jogo (para de-
senvolver a inteligência tática).

Tabela 6 – Plano de aula para esporte de combate


Aula xxx
Desenvolver as capacidades físicas e coordenativas e inteli-
Objetivos
gência de luta.
• Conceitual: conhecer os movimentos relacionados ao
combate de curta distância;
Conteúdo • Procedimental: aprender habilidades relacionadas ao
combate de curta distância;
• Atitudinal: respeito às regras; respeito ao adversário.

Exercícios/Atividades
Aquecimento Exercícios de alongamento e aquecimento articular.
• Coordenação motora (pressão de complexidade): com
um colega, o aluno deverá fazer um rolamento enquanto
projeta o adversário;
• Habilidade (agarrar): com um colega, treinar o agarrar.
O objetivo da atividade é agarrar o adversário pela gola
do kimono de forma a controlá-lo (relacionada à tática de
Parte principal
superar o adversário);
• Jogos situacionais (evitar ser superado pelo adversá-
rio e superar o adversário): a partir da posição defensiva
(sob constante ataque do adversário), o aluno deverá re-
alizar ações ofensivas de contra-ataque para acertar um
alvo desenhado (pelo professor) no adversário.
Voltar à calma Beber água; roda de conversa.
Observações da aula:
Avaliação:

Perceba, na parte de treino de habilidade, que o agarrar está associado à estratégia


de superar o adversário (ou seja, agarrar a gola do kimono em qualquer lugar não é o
objetivo, o objetivo é agarrar a gola de forma a colocar o adversário em desvantagem
biomecânica). Os jogos situacionais apresentam uma situação de defesa seguida de ata-
que, que também tem uma exigência de coordenação motora de pressão de sequência e
a habilidade de acertar o alvo. Nesse sentido, você, como professor, deve identificar os
aspectos a serem melhorados nos alunos (seja coordenação motora, habilidade, tática,
ou habilidade e tática (habilidade aplicada à situação correta).

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
O ensino das lutas na escola: possibilidades para a educação física
Livro com descrição de atividades e processos pedagógico e didático de comandos,
golpes de perna ou punho etc.
Strength and Conditioning for Combat Sports
Livro que demonstra como proceder no desenvolvimento de força, potência e
velocidade em lutas.
Combat sports medicine
Livro que apresenta as melhores condutas no esporte de combate (nutrição, controle
de peso, psicologia, doping, ética, lesões cerebrais, mulheres e crianças em esporte
de combate etc.

Leitura
Sistematização dos Conteúdos das Lutas para o Ensino Fundamental:
uma proposta de ensino pautada nos jogos
CIRINO, C.; PEREIRA, M. P. V. C.; SCAGLIA, A. J. Sistematização dos
Conteúdos das Lutas para o Ensino Fundamental: uma proposta de ensino
pautada nos jogos. Revista Mineira de Educação Física, esp.(9), p. 221-227, 2013.
https://bit.ly/36ZXcfU

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UNIDADE Esportes Individuais de Combate

Referências
AVELAR-ROSA, B.; FIGUEIREDO, A. La iniciación a los deportes de combate:
interpretación de la estructura del fenómeno lúdico luctatorio. Revista de Artes
Marciales Asiaticas, p. 44-57, 2009.

KRÖGER, C.; ROTH, K.; MEMMERT, D. Escola da bola: um ABC para iniciantes nos
jogos esportivos. São Paulo: Phorte, 2002.

OLIVEIRA JUNIOR, L. L. de. Metodologia das lutas. Porto Alegre: SAGAH, 2019.

RUFINO, L. G. B.; DARIDO, S. C. O ensino das lutas na escola: possibilidades para


a educação física. Porto Alegra: Penso, 2015.

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