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LUTAS E DAS
ARTES MARCIAIS
Fábio Rodrigo Ferreira Gomes
E-book 3
Neste E-Book:
INTRODUÇÃO���������������������������������������������� 3
CONTRIBUIÇÃO DA PRÁTICA DE
LUTAS E ARTES MARCIAIS NA
FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO������������������� 4
AGRESSIVIDADE E AS ARTES
MARCIAIS������������������������������������������������������ 5
JOGOS DE OPOSIÇÃO E
MODALIDADES DE LUTAS E ARTES
MARCIAIS������������������������������������������������������ 8
TIPOS DE JOGOS DE OPOSIÇÃO���������13
Exemplos de lutas e jogos de oposição no
ambiente escolar�������������������������������������������������� 14
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INTRODUÇÃO
Na atualidade, muitos profissionais da Educação
Física têm feito críticas à forma como se usa ou se
pratica as expressões da cultura corporal na escola.
Assim, o esporte futebol deve ter características
adequadas e diferentes daquelas feitas nos campe-
onatos estaduais e brasileiro de futebol, nos quais a
competição e a vitória são a finalidade última desses
eventos. Dessa forma, a violência, a deslealdade, o
suborno e o doping muitas vezes estão presentes
e são até admitidos.
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CONTRIBUIÇÃO DA
PRÁTICA DE LUTAS
E ARTES MARCIAIS
NA FORMAÇÃO DO
INDIVÍDUO
Este texto tem como referência a Educação Física
promotora de educação por meio do movimento
consciente dos estudantes. Embora isso para nós
seja a finalidade principal da Educação Física, ou-
tros objetivos poderão compor nossas aulas. Assim,
particularmente com o uso de lutas na escola, que-
remos, fundamentalmente, promover a dimensão
atitudinal de nosso estudante, aqueles valores his-
tóricos requeridos pelo antigo guerreiro feudal ja-
ponês (o samurai) chamado de Bushido ou Budo.
Por conta disso, essas artes são “meios” ou disci-
plinas de desenvolvimento moral idealizados para
se aprofundar a formação de uma personalidade
madura, equilibrada e integrada de um homem em
paz consigo mesmo e em harmonia com seu am-
biente social e natural.
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AGRESSIVIDADE E AS
ARTES MARCIAIS
Outro ponto normalmente associado à prática de
lutas na escola está na associação desse conteúdo à
agressividade. Infelizmente, essa associação, ainda
que antiga e errada, é muito presente.
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foi detectada, sendo que em espécies cujos indiví-
duos formam colônias o reconhecimento individual
é um fator importante no controle da agressividade
(BRANDEBURGO, 1987).
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sive a saúde física da pessoa. Se não for descarre-
gada, supostamente se acumula até explodir ou até
que um estímulo apropriado a “libere”.
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JOGOS DE OPOSIÇÃO E
MODALIDADES DE LUTAS
E ARTES MARCIAIS
No que se refere ao universo de formas de lutas, a
primeira ideia que se tem é que todas se referem às
artes marciais orientais. Porém, observando-se com
mais crítica, percebe-se que nem todas as formas
de luta são de fato Artes Marciais e nem todas são
orientais. Assim, para uma compreensão didática
deste universo da cultura corporal – segundo Reid
e Croucher (1983, p. 21) em torno de 350 formas –,
para este texto usaremos a classificação de Oliveira
et al (2015) em pequenas e grandes lutas. As pe-
quenas lutas são também conhecidas como jogos
de oposição.
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praticados desde o início das civilizações. Alguns
desses jogos continuaram ao longo do tempo sendo
utilizados de forma simples e com características
da cultura local, já outros adquiriram uma forma
institucionalizada, tornando-se esportes e lutas os
quais hoje conhecemos. Ainda para eles, o objetivo
educacional deve ser coerente com a realidade do
estudante, onde este é levado a vivenciar as mais
diversas manifestações da cultura corporal de ma-
neira crítica e consciente, estabelecendo relações
com a sociedade em que vive. Desse modo, o papel
do educador é levar o estudante a um conhecimen-
to de si mesmo e do mundo através da prática de
várias atividades. Partindo-se desse pressuposto,
Souza Junior e Santos (2010) concluem que as lu-
tas devem ser inseridas no contexto escolar, pois
propiciam, além do trabalho corporal, a aquisição
de valores e princípios essenciais para a formação
do ser humano em um aspecto mais ampliado.
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luta livre. Essas últimas derivadas do antigo pancrá-
cio grego, luta que era realizada nos Jogos Olímpicos
da antiguidade e que ainda é praticada na Grécia.
SAIBA MAIS
Você conhece a tradicional luta grega chamada
pancrácio? Não? Então acesse o link a seguir e
conheça essa modalidade praticada desde a An-
tiguidade: http://www.pangration.org/.
SAIBA MAIS
Para conhecer mais sobre lutas competitivas,
acesse o link a seguir:
http://wako.sport/en/page/introduction/5/.
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As lutas folclóricas e/ou culturais são aquelas reali-
zadas em festas populares, de característica lúdica,
pertencente à tradição de determinado país. Temos
diversos exemplos deste tipo de luta, podemos des-
tacar, entre outros: o many, de Cuba; chausson ou
savate, francês; escrima ou arnis, das Filipinas; kra-
bi-krabong e muay thai, da Tailândia, e o uka uka,
de indígenas do Alto Xingu.
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Lutas folcló-
Esporte Lutas de ataque Artes Mar-
ricas e/ou
e Combate e defesa ciais
culturais
Judô (Japão); Krav maga (Israel); Borreh (Gâmbia); Aikido (Japão);
Taekwondo Hapkido (Coreia) Chausson ou Iaido (Japão);
(Coreia); Savate (França);
Kobudo (Japão);
Gouren (Grã
Bretanha);
Guresh (Turquia);
Krabi-krabong
e Muay thai
(Tailândia);
Laamb (Senegal);
Many (Cuba);
Sumo (Japão);
Tinku (Bolívia);
Uka (indígenas do
Alto Xingu, Brasil)
Alguns exemplos de lutas e sua classificação. Vale dizer que algumas lu-
tas, dada sua origem e contexto atual, segundo os critérios apresentados,
classificam- se em mais do que uma forma. Exemplo: o Judô surge como
Arte Marcial e hoje também é uma forma de Esporte de combate.
Podcast 1
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TIPOS DE JOGOS DE
OPOSIÇÃO
Jogos de oposição: são atividades motoras de lutas
sob o aspecto lúdico com preparação para moda-
lidades específicas como judô, capoeira e caratê,
entre outros. São vários os fundamentos de lutas
transformados em jogos ou brincadeiras:
• Empurrar o parceiro para fora de um círculo adap-
tado (sumô);
• Empurrar e puxar seu parceiro em linha reta
(trator);
• Em duplas tentando pisar nos pés do parceiro e/
ou bexiga sem perder o contato das mãos (esgrima
com os pés);
• Em duplas tentando tocar os joelhos do
companheiro;
• Briga de galo;
• Jogo de imobilização;
• Soco e chutes na bexiga;
• Chutes e socos em jornais;
• Quedas e rolamentos;
• Katas adaptados;
• Pegar o “rabo” no chão e/ou em pé;
• Tentar “roubar a bola” no chão;
• Luta ajoelhada.
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Exemplos de lutas e jogos de
oposição no ambiente escolar
Pregador é meu
Material necessário: pregadores de roupa presos
na camisa.
Execução: dois a dois de frente um para o outro,
aguardando o sinal do professor.
Objetivo: ao sinal, tenta-se pegar o pregador do co-
lega ao mesmo tempo que se bloqueia as mãos do
colega ao tentar retirar o seu. Não se deve correr,
permitindo-se somente um pequeno deslocamento
para os lados.
Variação: Em pé, sentado, de joelhos.
Tratorzinho
Material necessário: nenhum específico, apenas es-
paço suficiente para todos.
Execução: dois a dois de frente um para o outro com
as mãos apoiadas no peito do colega.
Objetivo: ao sinal do professor, deve-se empurrar o
colega em linha reta até dois passos. Retoma-se a
posição inicial a cada vitória.
Pé contra pé
Material necessário: nenhum específico, apenas es-
paço suficiente para todos.
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Execução: dois a dois, de frente um para o outro,
com as mãos apoiadas nos ombros do colega com
o pé direito à frente.
Objetivo: ao sinal do professor, deve-se tentar tocar o
pé direito do colega com o seu esquerdo ao mesmo
tempo que se defende tirando o direito para não ser
tocado. Deve-se manter sempre o pé direito à frente
do esquerdo.
Variação: esquerdo à frente, qualquer pé toca qual-
quer pé.
Luta do saci
Material necessário: nenhum específico, apenas es-
paço suficiente para todos.
Execução: dois a dois, de lado um para o outro, com
apenas um dos pés apoiados no chão e a outra per-
na de joelho flexionado. Os braços devem estar cru-
zados nas costas.
Objetivo: ao sinal do professor, deve-se tentar dese-
quilibrar o colega batendo com seu ombro no ombro
dele. Perde quem puser os dois pés no chão.
Variação: de frente, com as mãos espalmadas na
altura do peito, batendo-se nas mãos do colega.
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cotovelos flexionados e pés totalmente paralelos e
afastados na largura dos ombros.
Objetivo: ao sinal do professor, deve-se fazer com
que o colega saia da posição de pés paralelos, dese-
quilibrando-se para frente ou para trás, batendo-se
somente em suas mãos.
Mini caratê
Material necessário: nenhum específico, apenas es-
paço suficiente para todos.
Execução: dois a dois de frente um para o outro com
as mãos à altura do peito e de cotovelos flexionados.
Objetivo: ao sinal do professor, deve-se tocar o om-
bro do colega e não se deixar tocar, bloqueando-se
a mão do colega sem segurar suas mãos.
Cabo de guerra
Material necessário: corda grossa de sisal.
Execução: pode ser realizado individualmente ou
em grupos, de preferência com o mesmo número de
participantes, deve-se segurar nas pontas da corda
puxando para si.
Objetivo: fazer com que o adversário, ou equipe ad-
versária, chegue até um limite demarcado ou esta-
belecido pelo professor.
Observação: nessa brincadeira, especificamente,
valem alguns cuidados e regras, por exemplo, não
soltar a corda e pedir para parar evitando possíveis
acidentes.
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A POSSIBILIDADE DAS
LUTAS E ARTES MARCIAIS
COMO OBJETO DE
INCLUSÃO
Mocarzel (2016) afirma que as atividades físicas e
práticas esportivas começaram a sinalizar a neces-
sidade de uma transformação didático‐pedagógica
do esporte, como é enfatizado por Kunz (1994) e
Beltrame e Sampaio (2015). Pode‐se dizer, ainda
segundo Mocarzel (2016), que um dos pontos mais
necessitados junto ao desenvolvimento educacional
é a abrangência cada vez maior dos aspectos peda-
gógicos e socioculturais inclusivos, atendendo, as-
sim, de forma mais adequada, às crianças, idosos e
pessoas com deficiência (PcD). Traz‐se a discussão
de que possivelmente o público de PcD seja histo-
ricamente o mais excluído nesse universo cultural
de forma macrossociológica. Mais de um bilhão de
pessoas sofrem com alguma deficiência no mundo
todo (OMS, 2016). No Brasil, há quase trinta milhões
de PcD. Pontua‐se que atividades físicas e práticas
esportivas não só podem mas devem ser utilizadas
na colaboração da inserção sociocultural de todos
e para todos. Tais princípios são embasados e sus-
tentados por atuais e importantes documentos de
abrangência internacional, como a Carta Europeia do
Desporto (DA EUROPA, 1992) e o Manifesto Mundial
da Educação (MOCARZEL, 2016).
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Ao se apresentar as práticas corporais das lutas e
artes marciais na perspectiva da inclusão, Rufino
(2016) afirma que ao menos quatro considerações
se fazem fundamentais:
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Com o intuito de aprimorar os olhares e as práticas
de inclusão nas lutas, Rufino (2016) diz que é fun-
damental que os professores possam ter forma-
ção adequada que contemple o olhar de inclusão
na perspectiva do respeito e da consideração da
diversidade educativa contemporânea.
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Andrade e Almeida (2012), conforme Mocarzel
(2016), são categóricos quando afirmam que as polí-
ticas públicas brasileiras tratam do tema de maneira
superficial. Indo além, no caso brasileiro, Azevedo
e Barros (2004), conforme Rufino (2016), alertam
através de seu estudo:
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Dentro das escolas brasileiras, as PcD conseguiram
maior inserção e participação através das aulas de
Educação Física inclusiva que, paulatinamente, têm
obtido resultados significantes (FERREIRA, 2011
apud RUFINO, 2016). Dessa forma, cada vez mais
as PcD integram o público praticante de atividades
físicas e esportes, incluindo aqui as lutas e Artes
Marciais. Consequentemente, muitas dessas moda-
lidades têm buscado adaptações desportivas para a
inclusão das PcD em suas práticas e competições,
criando categorias exclusivas com regras adapta-
das para que todos tenham possibilidades iguais de
vitória, seguindo o princípio filosófico desportivo do
Agon, que prima pelo espírito competitivo desde que
os competidores estejam em igualdade (MOCARZEL,
2016). Tal princípio educacional é também um dos
pensamentos que norteiam o espírito olímpico (COI,
2001).
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(JO) (BOGUSZEWSKI; TORZEWSKA, 2011 apud
MOCARZEL, 2016).
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é a Federação Internacional de Esportes para Cegos,
fundada em Paris (França), em 1981. O Brasil é hoje
uma das maiores potências mundiais nessa práti-
ca adaptada. Seus resultados são extremamente
expressivos desde o início do judô nos JP de 1988
(MOCARZEL, 2016).
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identidade do Brasil e hoje difundida mundialmente
(MOCARZEL, 2016).
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AS LUTAS DA CULTURA
BRASILEIRA: CAPOEIRA
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Para Nascimento e Almeida (2007), a restrição do
conteúdo de lutas – entendendo também a capoeira
– nas aulas de Educação Física escolar passa por
dois argumentos recorrentes por parte de professo-
res atuantes: a falta de vivência pessoal em lutas,
tanto no cotidiano, como no âmbito acadêmico, e a
preocupação com o fator violência, que julgam ser
intrínseco às práticas de lutas, o que incompatibi-
liza a possibilidade de abordagem deste conteúdo
na escola.
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aulas de Educação Física escolar, viu-se aspectos
socioculturais e novas dimensões para as aulas.
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Esse aspecto, muitas vezes ignorado, foi sendo in-
fluenciado por imposições que nos levaram a um
esvaziamento cultural e a um domínio de outras ati-
vidades, nem sempre adequadas à nossa população,
por estarem ligadas a origens e costumes paralelos
aos nossos. Chega-se ao cúmulo do desconheci-
mento de nossa própria cultura, se não ao desprezo.
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de mudança social. A cultura corporal como conte-
údo das aulas de Educação Física deve ser utilizada
como instrumento de uma prática educativa efetiva
e transformadora.
Podcast 2
Tendo em vista que a capoeira, em si, não existe,
mas são pessoas – professores de capoeira e estu-
dantes praticantes de capoeira – que a constroem
enquanto cultura corporal, o objetivo de se usar a
capoeira como conteúdo das aulas de Educação
Física estará sempre permeado pelo conhecimento
particular deste conteúdo. Não há um método ou
caminho para se ensinar capoeira e educar a partir
dela. Esse método ou caminho se constrói cami-
nhando. Quanto mais o professor de Educação Física
se capacitar, mais e melhores resultados terá.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conteúdo apresentado teve o objetivo de apro-
fundar o entendimento sobre o uso da luta ou jogos
de aposição como ferramentas educativas, assim
apresentando argumentos que direcionam a luta
para um objeto de respeito ao próximo, seja pelo
bom uso das regras ou preservação do oponente,
por entendê-lo como um amigo ou parceiro.
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Síntese
PEDAGOGIA DAS LUTAS E
DAS ARTES MARCIAIS
• Boxe: luta que utiliza socos, em que o objetivo é o nocaute, mas o combate pode
ser vencido por pontos;
• Caratê: luta que utiliza chutes e socos e que tem como objetivo somar o maior
número de pontos. A pontuação também está relacionada à dificuldade do golpe
disferido;
• Jiu-jitsu: luta cujo objetivo é finalizar o oponente (gerando sua desistência) por
meio de estrangulamento e chaves articulares, mas a vitória também pode ser
conquistada por pontos.
Referências
Bibliográficas
& Consultadas
BELTRAME, A. L. N.; SAMPAIO, T. M. V.
Atendimento especializado em esporte adaptado:
discutindo a iniciação esportiva sob a ótica da
inclusão. Revista da Educação Física/UEM, v. 26,
n. 3, p. 377-388, 2015.