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MAYSA DIAS
SANTOS, 2020
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
CAMPUS BAIXADA SANTISTA
CURSO DE PSICOLOGIA
_____________________________________________________________________________
Maysa Dias
SANTOS, 2020
SUMÁRIO
Resumo 3
Introdução 4
1.1.Questão Norteadora 10
1.2.Hipótese 10
1.3.Objetivo 11
2.Metodologia 11
2.1. Participantes 11
2.2. Instrumento 11
2.3. Procedimento 12
3. Resultados e discussão 12
4. Núcleos temáticos 14
4.2 Competição 16
4.4 Machismo 20
4.5 Disciplina 23
4.6 Corpo 24
4.7 Feminilidade 26
4.8 Saúde 27
4.9 Igualdade 29
4.10 Sacrifício 31
5. Discussão 33
6. Considerações Finais 37
Referências 40
Apêndice 44
Anexos 45
RESUMO
As mulheres apresentam uma difícil jornada de ascensão ao esporte, marcada por uma série de
obstáculos, como os estereótipos de gênero que mantiveram as mulheres afastadas dos esportes,
principalmente no que se refere às modalidades de luta. Os esportes de luta têm sido
historicamente considerados um esporte do gênero masculino, o que explica o número reduzido
de estudos que tem como participantes mulheres. O objetivo do presente estudo foi
compreender a escolha dos esportes de luta entre mulheres. Neste processo de investigação,
buscou-se levantar as influências sociais e culturais e principais impactos de sua prática na
qualidade de vida das praticantes. Trata-se de um estudo transversal de natureza qualitativa. O
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP (CAAE-
07939219.9.0000.5505). Participaram do estudo 10 mulheres, acima de 18 anos de idade,
praticantes de esporte de luta. A assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
formalizou a participação no estudo. A coleta de dados se deu a partir da aplicação de um roteiro
de entrevista semiestruturado que teve como questões norteadoras: O que levam mulheres a
escolherem esportes de luta? Qual o significado da referida prática para elas? Quais as
principais mudanças observadas após o início da prática? As entrevistas foram realizadas
individualmente, gravadas e transcritas. A análise dos dados foi realizada a partir da análise do
conteúdo emergidos a partir das categorias apriorísticas elencadas nas questões norteadoras do
roteiro de entrevista. Os relatos das mulheres trouxeram dez núcleos temáticos: “Significados,
Competição, Influências, Machismo, Disciplina, Corpo, Feminilidade, Saúde, Igualdade e
Sacrifício”, os quais foram discutidos, e indicaram que os significados dados aos esportes
possuem grande carga afetiva pelas participantes, com um sentido amplo fazendo com que o
esporte tenha um grande impacto na formação pessoal e mental além da formação física. O
apoio de familiares e amigos tem grande influência na aderência e permanência no esporte de
luta, sendo que todas as participantes receberam algum tipo de incentivo no início e no presente
de suas carreiras. Entre as 10 participantes 6 delas relataram diretamente sofrer algum tipo de
estigma/preconceito de gênero, entretanto todas as mulheres trouxeram em seu discurso o
enfrentamento do machismo afirmando suas feminilidades plurais que existem e resistem no
ambiente do esporte de luta. A maioria das participantes não percebeu grandes mudanças ao
aderir ao esporte por ter começado muito jovem, e as que perceberam relataram uma melhor
qualidade de vida, sendo as que se identificam como atletas afirmaram que a carreira trouxe
como ônus lesões e machucados no corpo. Esse estudo concluiu seus objetivos, ressaltando
que a área do esporte de luta está em ascensão por conta do crescimento do MMA, e pesquisas
sobre mulheres em esportes principalmente de luta ainda são escassas, havendo assim a
necessidade de mais estudos sobre a temática. Acredita-se que os resultados provenientes deste
estudo possam dar início a investigações que tenham mulheres e esportes de luta como questão
central, e que traga representatividade das mulheres no esporte de luta, evidenciando sua
existência e resistência.
3
1. Introdução
As mulheres apresentam uma difícil jornada de ascensão ao esporte, marcada por uma
série de obstáculos, como os estereótipos de gênero que mantiveram as mulheres afastadas dos
por Azevedo e Silva (2017) como “ideia ou expressão que veicula ideia preconcebida” e essa
ideia se generaliza sem uma comprovação empírica que circula na sociedade e torna-se uma
que “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de
sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias
A mulher no século XIX no Brasil era vista como um ser que tinha como objetivo único
a procriação, e o esporte era visto como uma agressão a essa representação feminina, entretanto
se fosse bem dosado poderia trazer benefícios para a função reprodutora (Di Pierro, 2007).
Pfister (2000) descreve, na história das mulheres nos jogos olímpicos, a resistência do Comitê
ocorrido em 1979 possa ter sido decisivo na legalização do judô feminino, que se trata da
formação da primeira equipe de judô feminina do Brasil por Joaquim Mamede de Carvalho e
Silva composta por quatro judocas que foram incentivadas pelos pais. O Brasil sendo o único
país da América do Sul que não permitia a prática competitiva do judô feminino, nesse cenário
4
Joaquim Mamede levou as atletas para competir o Campeonato Sul-americano em Montevidéu
usando nomes masculinos, cujo desfecho foi a vitória do Brasil pelos pontos das mulheres, caso
os pontos das mulheres não contassem o Brasil perderia o campeonato, somente os homens não
ganhariam. Essa história reflete a importância do incentivo na carreira esportiva das mulheres
nas lutas, e que a menos de 40 anos atrás foi necessário que atletas mulheres usassem nomes
masculinos para conseguir competir pelo Brasil, o que se trata de um imenso atraso esportivo
a ser mais aceitos pela sociedade, porém os esportes de contato ainda eram associados a
Vasconcelos e Del Vecchio (2017) em uma pesquisa sobre Sanda (boxe chinês), um
esporte de combate derivado do Wushu Kung Fu, afirmam que o cenário competitivo é desigual
entre os gêneros, com menos modalidades olímpicas para mulheres, entretanto, atletas
femininas estão ganhando espaço no esporte de combate e que estudos sobre esse público
Segundo o Comitê Olímpico Brasileiro em todas as edições das olimpíadas houve apenas
ano de 2016 de nove atletas que competiram, apenas duas eram mulheres (Comitê Olímpico
Brasileiro, 2018).
Tais considerações deixam evidente que ainda nos dias de hoje se mantém a ideia de
que esportes de luta são categorizados como esportes masculinos. Segundo Sousa e Altmann
(1999), os esportes violentos, com maior competitividade e contato físico são vistos
virilidade e masculinidade. Sendo a socialização da mulher proposta de uma forma em que ela
precisa apresentar delicadeza, elegância e obediência será difícil para que a mulher consiga
aderir aos valores característicos do comportamento esportivo (Ferretti & Knijnik, 2017).
5
Thomazini, Moraes e Almeida (2009) apresentam relatos de atletas homens sobre as
mulheres que praticam Mixed Marcial Arts. Um dos participantes do estudo afirma achar
ridículo e que mulheres não são eficazes na prática do MMA, carregando a ideia de que as
mulheres não servem para esse esporte e que o preconceito de gênero dentro do esporte de
combate é presente dentre os próprios atletas. Outro relato menciona que as mulheres gostam
do lutador, do porte físico e é por esses motivos que as mulheres se atraem pelo MMA e essa
ideia remete aos Jogos Olímpicos da Antiguidade na qual somente as mulheres jovens e
solteiras tinham permissão para assistir aos jogos com o objetivo de escolher um marido e
informar seu pai e irmãos sobre a escolha (Miragaya, 2002 apud Ferretti & Knijnik, 2017).
Thomazini, Moraes e Almeida (2009) apontam que as mulheres nas artes marciais ainda são
subestimadas e o quanto a presença feminina causa uma afronta a ordem simbólica do universo
de lutas de combate.
Cavichiolli, e Capraro (2015) constaram que a sua prática estava relacionada principalmente
pelo alto gasto calórico (finalidades estéticas), o dinamismo e o controle do estresse o qual
demonstra que o estereótipo da necessidade da mulher ser bela ainda é um dos maiores motivos
da prática do esporte, que corrobora com a cultura da beleza feminina em nossa sociedade, que
possui grande ênfase ao fitness e na demanda de um corpo firme e magro (Di Pierro, 2007),
Silva (2012) faz uma comparação entre a atual cultura fitness que representa a beleza na forma
de uma mulher alta, magra, bronzeada, sarada, jovem e ativa com a eugenia de Kehl a qual
construía a beleza eugênica como uma beleza totalitária e discriminatória que desumaniza todos
ambiente, o que contrapõe a ideia que tem sido discutida de que lutas são esportes masculinos
6
Fernandes, Mourão, Goellner e Grespan (2015) discorrem sobre a representação de
masculinidade e feminilidade que são construídas perante uma relação de poder legitimada por
comportamento baseado na anatomia dos corpos, para indicar o que mais apropriado para cada
sujeito. Por meio de entrevistas com lutadoras de boxe e de MMA foi feita uma análise sobre
performance de feminilidade, e a pluralidade dessas lutadoras e a maneira como cada uma delas
enxerga o que é ser mulher e como o esporte de combate se relaciona com seus corpos e sua
conclui que as lutadoras no ringue ou octógono performam virilidade, força, coragem e raiva,
contrapondo o sistema binário que determina de forma inflexível o comportamento dos gêneros.
“marcas corporais expressas em seus músculos volumosos e força elevada, que tensionam a
Mourão e Monteiro, 2017, p.258). Esse estudo corrobora com Di Pierro, C (2007) o qual afirma
utilizar o corpo como instrumento de poder para superar limites e não treinar apenas por uma
finalidade estética. As atletas entrevistadas trazem relatos sobre o apoio recebido pela família,
uma das entrevistadas apresenta a preocupação da mãe sobre o que as pessoas vão falar da
atleta, e afirma também que o fato de sua treinadora ser uma mulher diminui a preocupação da
presentes no treinamento dos homens em relação às mulheres, na qual não permitem ficar atrás
7
das mulheres na quantidade de peso erguido. Essa temática já foi apontada por Thomazini,
Moraes e Almeida (2009) que mostram como as mulheres interferem na ordem simbólica do
masculinidades a partir da lente do futebol e do MMA, por meio de entrevistas feitas as jovens
atletas do clube Europa e uma lutadora de MMA. Foi trazido como um ponto importante e
inclusão, sendo que no caso dos meninos, há maior apoio e reforço do esforço que demandam
as pretensões competitivas. Pode-se discutir a partir desse apontamento que as mulheres são
mulheres nestes esportes, estas representações não são determinantes para o abandono da
prática, e a partir disso pode-se concluir que as mulheres que permanecem nos esportes
trazendo um recorte de classe, raça e gênero apresentando relatos e reflexões de mulheres atletas
do vôlei e do hipismo (sendo as atletas do vôlei de origem social humilde, e algumas negras, já
como metas a serem cumpridas, e de forma dissonante as amazonas (hipismo) que questionam
8
a assimetria de gênero que as colocam em uma posição de escolha entre carreira esportiva e
família. E para a maior parte das jogadoras entrevistadas era muito importante que o seu esporte
então, que podem ser deslocadas para as práticas de esporte de lutas por serem esportes
subjetividade dessas atletas do esporte de luta, por possuírem contingências diferentes das
das mulheres atletas de luta que a as características mais significativas foram atitude, ousadia e
coragem. Destacou também que família tende a reproduzir os discursos sobre a masculinização
que o esporte de luta pode acarretar, porém quando as atletas possuem uma visibilidade devido
as vitórias conquistadas tendem a ter esses preconceitos diluídos. Sinaliza ainda a importância
Melo et al. (2018) analisam a opinião de estudantes de educação física (170 homens e
271 mulheres) sobre como consideram algumas modalidades esportivas baseados em gênero.
foram classificados como masculinos. E dentre esses esportes, cinco foram classificados como
mais masculinos, sendo dois deles boxe e luta olímpica, o que reforça a presença marcante das
De Oliveira Camilo e Pereira (2018) ao refletirem sobre o lugar das mulheres no Mixed
Martial Artis (MMA) apontam que algumas ring girls as quais são modelos jovens, que
desfilam entre os rounds e chegam a ter uma remuneração maior do que as próprias lutadoras,
e isso fortalece a ideia do papel social que as mulheres normativamente devem corresponder,
esporte. As autoras discorrem a respeito de como uma mulher pesquisadora causa um grande
9
estranhamento como integrante em uma equipe de MMA, e que a todo tempo sofreu
insinuando que fosse uma prostituta, uma amante, uma namorada, ou ainda uma fã tentando se
feito por Pires, Lima e Penna (2019), com 10 atletas (9 homens e 1 mulher) elencou algumas
fontes de estresse desses atletas, sendo os estressores de ordem pessoal os menos observados
nas entrevistas, entretanto, houve um destaque para a atleta do sexo feminino que mencionou
ter recebido comentários pejorativos por parte de homens. Pode-se evidenciar a partir desse
ocorrido, que mulheres atletas de MMA além dos estressores recorrentes do esporte, precisam
lidar com um estressor adicional, pelo fato de serem mulheres e estarem transgredindo o
aprofundar as diferentes questões relacionadas a trajetória das mulheres nos esportes de luta e
escolherem esportes de luta que tem sido historicamente associado a uma prática masculina?
Qual o significado da referida prática para elas? Quais as principais mudanças observadas após
o início da prática?
1.2. Hipótese
10
1.3. Objetivo
2. Metodologia
2.1. Participantes
(n=1), caratê (n=1), jiu-jitsu (n=1), judô (n=1), kickboxing (n=1), kickboxing e muay thai (n=1),
mma - mixed martial arts (n=2), muay thai (n=1), taekwondo (n=1). O critério de inclusão foi
praticar a modalidade no mínimo 12 meses. A idade mínima foi 19 anos de idade e a idade máxima
foi de 46 anos de idade. Oito potenciais participantes foram convidadas a participar da entrevista,
mas não compareceram. Nenhuma afirmou que não tinha disponibilidade de tempo para
participar do estudo e uma foi excluída do estudo (por não preencher os critérios de inclusão),
uma não pode comparecer devido a imprevistos e outras seis não responderam à tentativa de
agendar a entrevista.
2.2. Instrumento
11
permanência, história, questões de gênero e de feminilidade, aspectos psicológicos,
2.3. Procedimento
(TCLE). A coleta de dados foi realizada individualmente, com duração média de 30 minutos
primeira etapa a leitura flutuante para apropriação do material coletado. Na segunda etapa, foi
terceira etapa, foram definidos as categorias temáticas e análise do conteúdo de cada categoria
3. Resultados e discussão
12
Participante idade escolaridade Estado Esporte atual Anos de Apoio Motivo de Lesão Estigma Patrocínio
civil prática familiar aderência
P1 33 Ensino superior Solteira Taekwondo 21 anos Sim Família Sim Não Apoio
anos completo (dentista)
P2 29 Ensino superior Solteira Jiu-Jitsu 11 anos Pai não Família Sim Sim Não
anos incompleto apoiava,
Mãe apoiava
P3 20 Ensino superior Solteira Kickboxing 3 anos Sim Família Sim Sim Não
anos incompleto
P4 20 Ensino superior Solteira Muay Thai 4 anos Sim Família Não Sim Apoios
anos incompleto (fotos,
calção,
suplemento
s)
P5 31 Ensino superior Solteira Kickboxing e Muay 6 anos Sim Estética Sim Não Não
anos completo Thai
P6 46 Ensino superior Casada Caratê 37 anos Sim Família Sim Não Não
anos completo
P7 19 Ensino superior Solteira Judô 12 anos Sim Família Sim Não Não
anos incompleto
P8 28 Ensino Médio completo Solteira MMA (Muay Thai, 13 anos Sim Família Sim Sim Sim
anos Wrestling e Jiu-Jitsu) Muay
Thai; 1
ano e meio
Jiu-Jitsu
P9 30 Ensino superior Solteira Boxe 17 anos Sim Técnico Não Sim Não (mas
anos completo (professor de já recebeu
boxe) bolsa atleta
e patrocínio
de marca
no passado)
P10 26 Ensino superior Solteira Boxe chinês e 13 anos No início Família Não Sim Não
anos incompleto atualmente MMA não, depois (apenas
(Boxe profissional, de vitórias apoios:
Muay Thai , Jiu- sim protetor
Jitsu) bucal,
ajuda de
custos)
13
3.2 Descrição da tabela
A idade das participantes se encontra entre 19 e 46 anos de idade. Uma das participantes
possui ensino médio completo, seis possuem ensino superior incompleto e três possuem
superior completo. Todas as participantes tiveram algum apoio familiar, e a média em anos de
prática foi de 13,7 (DP 9,41). Apenas uma das participantes era casada (P6), sendo as demais
solteiras, mas três mencionaram estarem namorando. Quase metade das participantes (P7, P8,
P9 e P10) começaram a competir aos 14 anos, apenas uma começou a competir na infância (aos
sete anos) e apenas duas começaram a competir já sendo adultas (18 e 27 anos) sendo esses
dados não encontrados na tabela, porém apontados nas entrevistas. Quase todas as participantes
aderiram ao esporte de luta por influência da família (P1, P2, P3, P4, P6, P7, P8, P10). A maioria
das participantes sofreu lesões esportivas com afastamento (P1, P2, P3, P5, P6, P7, P8). Mais
da metade das participantes relataram ter sofrido algum tipo de estigma ou preconceito por
serem mulheres que praticam esportes de luta (P2, P3, P4, P8, P9 e P10). No momento da
entrevista apenas uma das entrevistadas possui um patrocínio assinado, visto que no relato 6
dessas mulheres apontaram a falta de apoio financeiro como algo bastante recorrente, existindo
4. Núcleos temáticos
Os resultados das dez entrevistas realizadas com as mulheres são apresentados a partir
da definição de dez núcleos temáticos que buscam responder ao objetivo proposto, a saber:
Igualdade e Sacrifício.
Ao relatarem sobre o significado dado ao esporte de luta, foram feitos alguns relatos
com uma grande carga afetiva. Os relatos abaixo ilustram essa observação:
“[…] Amo conseguir trabalhar com o que eu posso que é o Taekwondo, então ele me trouxe
tudo na minha vida, tudo. Eu não tenho… o que eu faço ou o que eu devo é o Taekwondo.”
(P1).
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“É quase que a… o sentido da vida assim (risos) quase que o motivo de acordar da cama e ah,
vou viver pra conseguir ir pro Jiu-Jitsu sabe? É quase que o sentido da vida assim.” (P2).
“Ah para mim é como se fosse um estilo de vida. Porque eu levo a filosofia para fora da
“Eu sou uma menina muito tímida. E quando eu to no ringue eu não sei eu sinto que as coisas
não têm limites tipo, eu me sinto bem, fazendo o que eu gosto. É… sinto que as coisas fazem
sentido, representa… eu não vou falar que tudo mas é onde as coisas fazem sentido sabe? É…
é muito importante pra mim, é onde eu me encontro, é a minha paz é o meu refúgio. É isso que
representa.” (P4).
“O que me identifica… acho que é mais assim… segurança, acho que é… felicidade! De fazer
“Pra mim eu gosto mais do Judô por causa da filosofia dele também, o que ele representa
entendeu?” (P7).
“A minha vida né? Falo que o esporte ele não… é o que eu sou. Eu sou atleta eu vivo disso, eu
amo o que eu faço, e apesar de todas as dificuldades, é minha grande bateria da vida né. Eu
acordo todo dia motivada, e afim de crescer e desenvolver e buscar mais, pra conquistar as
“Então foi, eu escolhi na verdade não… eu escolhi a técnica. Me apaixonei por essa ideia do
boxe pra mim foi muito novo assim, muito desafiador sabe? Tudo. […]O combate em si pra
mim foi segundo plano, mas aí como na terceira na quarta luta eu já me apaixonei [...]” (P9).
“Eu acho assim, pra mim, hm… vai além do que o socar e bater sabe tipo socar é… socos e
chutes. É… vai… te ajuda a desenvolver como eu posso falar… ah… mentalmente né, é…
molda o seu caráter, é… faz você ser uma pessoa melhor, assim na sociedade, né. Então vai
muito além do que você fazer um esporte pra emagrecimento, pra defesa pessoal. É isso.” (P10).
Os relatos mostram que as participantes percebem o esporte de luta como sendo algo
além do objetivo principal ser o enfrentamento físico direto com um adversário (Rufino &
15
Darido, 2012), sendo que em diversos desses significados foram atrelados a formação de
4.2 Competição
crescimento pessoal.
“o Taekwondo ele tem dois lados, dois aspectos né? Ele tem o lado da formação de caráter
como, é… ser humano todo em si, a filosofia da arte marcial. E tem o lado da competição, né?
Que é o que mais me fascina, então é um pouco disso que me traz.” (P1)
“[…] Eu achava que eu já teria me aposentado que nunca mais eu ia voltar a lutar e aí agora tô
de volta na atividade (risos) então eu me sinto meio orgulhosa assim de ter uma superação [...]”
(P2)
“É... experiências novas eu acredito, e porque como eu pretendo dar aulas eu acho que é bom
eu ter a vivência dentro da competição se eu tiver algum aluno que queira competir um dia eu
vou ter uma base de falar olha eu já passei por isso, e vai lá que é normal.” (P3)
“[…] quando chega no ringue tipo parece que eu tô dentro de uma bolha assim, parece que eu
to inalcançável que ninguém tá me vendo, porque sou só eu e a menina e tipo eu não consigo
pensar em… eu não ligo pro público. Eu não me sinto tímida, eu consigo tirar onda no ringue,
tipo me sinto em casa é muito estranho. Eu acho que pra mim, a questão principal foi essa.
“[...]Eu gosto muito de lutar é pra sentir aquela adrenalina né, é… você nunca sabe é… como
que o seu adversário vem, então você sempre tem que ta se… é… se preparando bem, pra
qualquer tipo de situação né? Então essa questão assim… do… meio que do desconhecido do
que você vai encontrar lá, eu acho gostoso sentir assim…” (P5)
“[…] só treinar pra saúde eu acho que não tem graça, eu tenho que ter um… uma motivação,
alguma… algum motivo pra eu continuar treinando, e conseguir poder desafiar, eu acho que eu
gosto disso sabe? Então… é… desafio, pra mim é bastante importante.” (P6)
16
“Satisfação, felicidade. Você tipo ter treinado, e chegar ali e você sair e falar, por mais que não
“Ah eu sou viciada né, sou extremamente viciada em competição eu amo aquela adrenalina,
aquela emoção. […] essa sensação de o que será que vai acontecer? […] Você fica com raiva,
você fica brava, você fica tensa?”, eu fico com vontade de chorar, normalmente eu entro no
ringue já com umas lágrimas escorrendo porque o negócio me deixa muito emocionada. Eu eu
“Eu acho assim… a adrenalina que a gente sente na luta, pode ser mais pessoal né… É um
medo, só que é o que você faz com esse medo. […]. Se você consegue, é… transformar isso
em motivação, em alegria em ta superando esse medo, vira um vício, muito grande.” (P9)
“Um sonho. É… como eu falei é de você… é como qualquer um tem um sonho de ter uma
profissão né? Uns tem sonhos de serem médicos né, e ajudar vidas… uns policiais, o nosso
né… de atleta, lutadora é estar entre as melhores. […] Sentimento… ah… não sei dizer. De
superação, de… estar entre as melhores acho que é isso né?” (P10)
pessoas próximas que faziam o esporte, familiares e até mesmo inspiração em atletas. O
manterem praticando:
“[…] meu mestre também me incentivou, e eu to até hoje. […] E a minha família sempre me
apoiou, claro. Você ta praticando um esporte você perde um pouco de tempo ocioso. Né, então,
sempre me apoiaram até hoje! […] E, mas já tive assim, de ser campeã brasileira, e você
representar sua cidade até hoje são fatores que te levam sempre a tarem te motivando. (P1)
“[…] influência assim do meu primo que fazia. [...], mas em compensação a minha mãe ela me
acompanhava, assim nos campeonatos. Porque eu era de menor, e ela tinha, alguém tinha que
viajar comigo. E aí minha mãe sempre ia, então minha mãe sempre fãzona assim. […]” (P2)
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“Eu sempre me identifiquei bastante, porque talvez pelo fato de eu ter vivido bastante tempo
com meninos, e sem falar das brincadeiras e tal, piadas, sei lá acabava aquelas brincadeiras
besta com eles, e por causa do meu pai, eu via muito ele fazer lutas com ninchaku [...]” (P3)
“O meu treinador viu que eu tava me identificando bastante, que eu tava me dedicando, não
faltava. Ele viu um diferencial em mim e sugeriu pra eu fazer um trabalho diferenciado pra
abaixo:
“Então quando eu era criança meu pai, meu pai ele é lutador, ele era né. […] então quando eu
era criancinha eu lutava Caratê. […] então eu sempre meio que gostei assim, por conta da minha
família, meu irmão ele também, […]. A minha prima ela é também capoeirista, na verdade acho
que todas as minhas primas tipo assim por parte da família do meu pai é, fizeram capoeira ou
uma arte marcial. Então meio que tipo, é de família, ta na família, ta no sangue […] minha mãe
me inspira muito eu sei que é clichê, mas, puta mulher batalhadora. (P4)
“ É… meu pai já sempre que dá ele vai, né, vai acompanhar. E meus irmãos também quando
dá eles vão. E nas últimas lutas minha mãe acabou indo também, então ela… ela meio que já…
já aceitou né. […] Olha da minha academia, eu sempre me inspirei bastante… é… numa outra
menina que treina, né… que é a [nome atleta], que ela… sempre achei ela muito técnica, é…
sempre que ela luta ela luta super bem sabe?” (P5)
“Foi através do meu pai mesmo, que no começo a gente começou meio que forçado né, mas aí
depois a gente começou a ter mais amor, ao esporte sabe? Então desde os 7 anos eu comecei, e
“Meu pai sempre gostou muito de jiu-jitsu, antes no início eu fazia balé, porque eu tenho um
problema na coluna aí falam que é bom né. Aí depois de um tempo fazendo, aí eu lá toda ogra
no meio das delicadinhas, aí minha mãe falou ‘não, eu vou colocar essa menina no judô’ porque
minha mãe é professora de educação física. Aí então ela sempre teve também bastante contato,
fez dois Iron mans, é… outros triatlos, maratonas aquáticas… e meu pai fazia Caratê. Então ele
sempre me incentivou a praticar, e eu já tinha tentado outras coisas […] Mas… acho que eu
desdobrei eles mesmo, foi com… 17 anos, eu dei o meu primeiro seminário feminino, e eu
convidei minha mãe pra ir, é… parte teórica converso um pouquinho conto um pouquinho da
minha história e depois é mesmo a parte prática. Ela foi só pra conhecer porque a minha mãe
não faz Muay Thai. E aí aquele dia ela falou assim… ela ficou muito emocionada e ela disse
que ela tinha muito orgulho de quem eu tinha me tornado. Que ela tava muito feliz, que ela não
imaginava a mulher gigante que eu tinha me tornado, então lutar é apenas um detalhe, eu ganhei
na transformação de ser humano mesmo, e esse dia eu nunca mais me esqueci.” (P8)
“Então no começo foi um susto pra todo mundo, ninguém queria. Aí depois, olha que legal,
nessa luta que eu perdi uma das coisas que meu pai falou foi assim: ‘[nome da participante 9],
é… eu não queria que você lutasse, mas agora que você lutou você vai… e você perdeu, você
vai treinar, e só vai parar quando você ganhar.’ ele é bem assim sabe, e… minha mãe, minha
mãe assim, minha mãe era aquela pessoa que tipo me apoiava em tudo sabe? Ela não queria,
mas ela tava lá, torcia e tal. E aí depois disso, minha mãe acabou sendo presidente da… do boxe
“[…] meu pai começou a assistir luta de boxe, e aí eu comecei a acompanhar ele, e aí toda
vez… aí eu comecei a me apaixonar pela luta, e aí eu falei ‘não, quero ser boxeadora’, isso eu
tinha uns 12 anos, 13 anos. Não, quero lutar, quero lutar, então eu sempre fui acompanhando e
fui me apaixonando pela… pela luta né. Só que aí eu conheci um amigo que fazia kung fu, e
ele falava muito assim: “ah hoje o professor passou isso”, aí eu falei não, eu quero conhecer a
sua arte né, me leva lá pra conhecer a academia, e ele me levou. […] Tenho o meu mestre, que
ele é… ele começou lá de baixo, e hoje ele tá entre os melhores e a cada dia que passa ele… ele
tem conquistado mais coisas assim, patrocinadores. […] E o que eu vejo, o pouco… assim o
pouco tempo que eu to lá, eu vejo que ele cuida muito dos atletas, como se fosse filhos. Então
ele ajuda muito, ele vê assim como uma família né, então além dele cuidar é… da carreira dele
19
ele também busca cuidar dos atletas dele né, proporcionar o melhor. Então ele é uma inspiração
pra mim, fora da academia a [nome atleta], que é a lutadora de Muay Thai né, é bicampeã
4.4 Machismo
ter ocorrido, mas em meio a outras perguntas mencionaram um pouco da vivência do machismo
“meu próprio pai sempre foi meio machista assim, nesse ponto. E ele sempre falava que ah por
eu ser mulher eu tinha que fazer alguma modalidade mais feminina, e logo esportes de combate
não. Que ele sempre falava que eu ia ficar com o corpo de homem. […] Ah sim. É… pelo meu
próprio pai né, desde criança quando eu, assim que eu fui escolher. Até por ser subestimada por
aluno, de às vezes não me conhecer e chegar e, ‘ah, mas, a professora é uma mulher?!’ sabe?
(risos) [...] ‘ah eu não posso perder pra uma mulher porque vai ficar feio’ aí fica feio pra ele
porque aí eles fazem toda a força do mundo, perde a técnica, perde a linha e perde para uma
mulher. (risos) […] é complicado porque eu sempre escutei assim, e: ‘ah, cê luta, cê luta igual
homem’ sabe? E aí eu falei, eu sempre falei tá legal, luto igual homem, mas... o que é lutar igual
homem? Sabe? Por que que uma mulher não pode lutar igual homem sabe? E o que é lutar igual
homem? Fim né (risos). […] E aí… por que uma mulher não pode lutar bem né? Ou então,
quando alguém ta dando “migué”: “ah tá lutando igual menininha!” Sabe? E aí… eu fico… aí
por conta de escutar isso muito, eu, às vezes eu negava sabe? Aí às vezes eu falava: “Não sou
“[…] ‘ah, você é mulher você vai sair primeiro’, ‘você não vai aguentar’, ou essas coisas, vão
olhar pra sua corda, você pode ser corda azul que na capoeira na corda azul você já é graduado,
mais ou menos você tem que ter 6 anos de capoeira dentro da mesma academia, mas lá vai ter
20
essa diferenciação porque você é mulher e já vão te olhar torto. […] aquelas brincadeirinhas
‘ah você faz luta então não vou mexer com você’, as pessoas brincam mas eu acho que não é
porque eu sou mulher e que eu luto que as pessoas não deveriam mexer comigo, as pessoas não
deveriam mexer comigo de nenhuma maneira. [...] ‘ah ela é mulher e é pequena, e é magra
então não sabe lutar, ou não aguenta’. [...]é algo que incomoda bastante porque a gente tem que
ter força para enfrentar o machismo que a gente encontra, porque o machismo não vai vir só
dos homens, vai vir das mulheres também, porque às vezes elas falam ‘ah mas é coisa de
homem’ e já te olham meio torto assim, então acho que isso é algo que incomoda e que não é
porque incomoda que a gente tem que deixar de lado, acho que a gente tem que buscar batalhar
e mostrar de frente […] eu acho que eu posso ser mulher dentro de um tatame, dentro de um
ringue”.” (P3)
“Eu acho que, eu acho difícil, é… por conta do… tipo por exemplo, é... eu treinava numa equipe
onde tinham 10 caras e só eu de mulher, aí pensa, aí tu vai correr na praia com os caras, aí um
monte de mulher de biquíni, aí tu tem que ficar ouvindo os caras comentando das mulheres. Aí
porque, sei lá, muito assunto de homem e que… de homem escroto, de homem babaca e a gente
tem que ignorar, abstrair e fingir demência porque num num dá, pra você se estressar todos os
dias. Tipo brigar, os caras tipo tentavam me respeitar e tal, tipo é… sempre tinha um ‘ó a menina
aí, ó tu vai ficar falando essas babaquices aí’ e não sei o que lá, mas tipo direto tu ouve
comentário machista, “ah porque tu vai ficar treinando que nem uma menininha, tu vai não sei
o que lá” sabe essas coisas assim tipo? Incomoda, incomoda de verdade e… e é difícil você
ouve muita gracinha assim, por mais que tipo você crie um afeto com a galera, se torna a sua
família mas mesmo assim tipo, por ta em maioria homens, os homens tipo você acaba tendo
“[…] na época que eu comecei nenhuma mulher tinha ido pra Tailândia ainda, e eu fui uma das
primeiras eu ouvia comentários de outros atletas até já renomados no esporte, falando: ‘ah vai
levar mulher pra que? Pra Tailândia mulher não dá dinheiro, mulher não dá nada’ e…, mas
21
nunca foi algo que eu questionei. Eu trabalhei e mostrei, então nem até pra minha própria
família eu entendo que é difícil pras pessoas entenderem as vezes né, ainda mais naquela época
13 anos atrás era bem diferente. […] Apesar de eu ser uma pessoa muito respeitada, eu sei que,
por exemplo, quando eu vou dar um seminário na cidade, numa academia que ninguém me
conhece. Um seminário misto, eu sei que eu… as pessoas estão lá porque elas me admiram,
mas… elas tão ‘Puts será que vai valer a pena mesmo? Puts investi tanto será que… porra…
uma mulher’... então eu vou e mostro, eu sei que eu tenho que mostrar. Sei que eu tenho que
ser, é… convincente porque as pessoas sempre indiretamente é algo já embutido ‘será que é
tudo isso? É uma mulher’. Mas eu acho incrível desbravar, eu acho incrível conquistar o
respeito das pessoas e eu mesma não tenho problema. Acho que eu sou… interajo tão bem com
os meninos, que a maioria deles são meninos que eu treino que… hoje em dia eu não tenho
“Justamente porque é sofrido, sabe? E nos próprios parceiros de treino, não é só fora. Fora
existe bastante ‘Ah então você é…’ Sabe todo mundo fala assim ah você luta? Não é? Você
deve passar por isso, ‘Você luta? Ai que medo’, ai como se você fosse né… É engraçado mas
tem uma coisa por trás disso que não é tão legal. Tipo coloca como se você fosse um bichinho,
fora do… da caixinha assim. Sofri, sofri bastante preconceito, até porque no começo eu usava
bastante os uniformes dos meninos, a gente não tinha uniforme. […] Então… foi difícil, pra
caramba, foi uma luta. No começo, é… a gente sofre bastante… todo mundo acha que a gente
entra no esporte pra… por conta dos… dos homens que tão lá dentro, ou porque você é
masculina. Você tem duas opções: ‘ah ela ta aqui porque ela quer pegar todo mundo’ ou ‘ela ta
aqui porque ela é um homem’, entendeu? Então mudar essa… essa visão foi bem difícil assim
“O MMA você tem muito menos mulheres, e mais homens então você vê que às vezes você tá
treinando aí tem caras que… que tem… que discriminam porque ‘ah, não quero fazer’, aí corre
de você no treino, sabe? E tem outros não, tem outros ‘vou fazer, pra ajudar tal’ então às vezes
22
acaba a gente… a gente acaba sofrendo isso, por ser mulher eles nos enxergar como sexo frágil,
ah a gente não vai conseguir chegar ao nível deles, né. Então acho que é um pouco, é… dentro
da do tatame, dentro da sala de aula a gente sofre um pouco com isso. É então acho que um
pouco de preconceito, é… por a gente ser mulher, então sofre um pouco sim.” (P10)
4.5 Disciplina
competição, como em relação ao respeito entre colegas de treino. Seguem os relatos em que a
“A gente a hora que tá treinando, competindo tem que se desligar, é outro mundo, e isso é muito
“Eu acho que o sentimento maior assim, parece que é de superação assim. É uma coisa que é…
parece que você, passa um filminho na sua cabeça assim e cê lembra tudo que você fez pra se
preparar pra tá naquele momento e aí… é… e aí você olha e fala: puxa, é isso é, fiz tudo que eu
podia e agora… agora eu só vou fazer, vou dar o meu melhor de mim aqui e agora.” (P2)
“Porque eu acho que a disciplina, dentro da luta é o principal. Acho que qualquer luta que você
encontrar, ela te passa uma disciplina bem diferente. […] Porque apesar da gente ser criado,
‘criado’ dentro do esporte você tem uma disciplina maior, acho que você aprende a ter um
respeito maior com o próximo, dentro da luta. […] você aprende que você tem que respeitar
todo mundo igual, apesar de ser faixa maior ou faixa menor você tem essa disciplina de como
agir.” (P3)
“No começo assim era um lazer, mas depois que eu comecei a competir, aquilo se transformou
num ofício. […] Tipo não é lazer, é ofício mesmo, se eu to num esporte se eu to naquilo é
porque eu quero dar o meu melhor eu quero o topo. […] o objetivo é o topo, sempre, sempre,
“é… você nunca sabe é… como que o seu adversário vem, então você sempre tem que ta se…
23
“Porque a gente fala esporte de combate, mas dentro tem toda uma filosofia. Que é a disciplina
graduados, respeitar os… os adversários não os… como é que chama, os inferiores também né,
então é um respeito que tem dentro de uma academia sabe? Então acho que isso, acho que isso
é importante. […] Então a gente… quando uma pessoa pergunta… ou numa entrevista de
trabalho, quando a gente fala que a gente faz uma arte marcial, então automaticamente o
entrevistador já pensa: ‘Ah... acho que ela deve ser uma pessoa mais centrada, mais
disciplinada’, e aí às vezes a gente tem chance dentro de vaga de trabalho também né.” (P6)
“é um esporte que eu gosto, ele impõe muito… é respeito que você tem uma hierar… uma
“A disciplina no treino né, você… olha que engraçado eu dou aula aqui pra médicas, advogadas,
mães… e tal né. Então assim você pensa em mulheres de 40 pra cima. E que não tão muito
acostumadas, ah… porque… é mãe né? Ta acostumada a mandar né? A criar disciplina pro
filho, então… não que não tenha essa disciplina, mas não ta acostumada mais com isso né?.
Você tipo chegou cinco minutos atrasada você vai pagar flexão. […] O respeito ao esporte, o
respeito as atletas que tão aqui dentro. Então se você chegou numa academia normal, você
chegou pra treinar cinco minutinhos que é o tempo que deu, você ta única e exclusivamente
4.6 Corpo
“Depois que eu operei lógico, algumas mudanças, eu to bem acima do meu peso que eu luto
[…] e eu estivesse realmente assim, com tantas competições não estaria satisfeita com o meu
corpo, porque eu to acima do meu peso. Se você olhar você vai falar assim: ‘nossa não tá’ mas
eu to acima do meu peso pra luta. Então você sente joelho, você sente costas, mas esteticamente
eu tô ótima, não tenho do que reclamar. Mas pra competição pra voltar, eu estou bem longe do
que eu quero. […] Não. Não mudaria nada, assim mudaria a minha altura né? Isso pro
24
taekwondo é essencial, mas não mudaria nada, só tem que perder mesmo o peso para voltar a
“Esteticamente eu gosto, de como eu sou agora. Mas pro, pra nível competitivo, eu sei que eu
preciso perder ainda mais gordura e ficar só massa muscular assim. Então, é se fosse só a nível
“Assim, satisfeita satisfeita não mas, não tem nada que me desagrade. Às vezes me incomoda
no sentido de as pessoas falarem as vezes: ‘ah você é muito magra’ ou essas coisas porque eu
“Então, eu não to satisfeita com meu corpo porque eu gostaria de ser mais pesada, tipo uns 50,
“Olha é… pra mim foi super importante porque eu entrei pra perder peso né. É… o intuito foi
só de perca de peso mesmo e então trouxe assim… vários benefícios né, pra minha vida.
eu acabo abusando um pouquinho né, mas assim é… se comparar do que era antes… é… de eu
começar a treinar e agora, foi uma… uma transformação muito boa sim, mas ainda… ainda
preciso me empenhar um pouquinho mais pra ficar como eu quero. […] (P5)
“Ah, a gente tiraria uma gordurinha ali, uma gordurinha aqui002C mas nada que me incomode
“Ah… queria ter menos tendência pra engordar, comer a vontade e não engordar isso seria
incrível. Ah quando eu parar de lutar eu falo que eu vou colocar silicone, isso eu quero.” (P8)
“Eu me sinto satisfeita. Mas o boxe ele traz umas costas muito largas assim né. E é uma coisa
assim que talvez eu… não eu não sei se eu mudaria, mas assim… sei lá, não sei. Talvez me
“Eu não, não to satisfeita com meu corpo (risos). Acho que muito da minha personalidade, eu
sou muito perfeccionista, to sempre buscando melhorar, então acaba juntando tanto a parte do
esporte que a gente tem que ter uma categoria de peso, manter. […] Sim, eu colocaria silicone
25
(risos). Acho que seria uma parte assim que eu, que eu… que eu ajustaria em mim né. É isso.”
(P10)
4.7 Feminilidade
procuram fazer o que as faz se sentir bem, ao mesmo tempo que com frequência se encontram
“Ah é super importante né? […] vejo que tem muito preconceito com relação a esporte de luta
mulher. Todo mundo acha que faz luta, você é, acaba, não é tão feminina né, assim. E isso não
ocorre. […] Eu sou super vaidosa, assim eu sempre, unha bem feita, cabelo bem feito. É lógico
que a gente tem um roxo aqui, um roxo ali não tem o que fazer. Mas eu sou super bem
feminina”. (P1)
“[…] eu acho que a grande maioria das mulheres que estão na luta a gente não se encaixa muito
nessa coisa de ah ‘eu sou salto alto’ e o tempo todo maquiagem porque atrapalha bastante, você
não consegue lutar maquiada. Mas ao mesmo tempo a gente tem momento que quer estar
maquiada, a gente talvez queira usar salto, quem gosta, eu não gosto. Mas vestido e tal acho
que não é porque eu sou “masculina” igual muitos acham, dentro do tatame que eu não posso
ter minha parte feminina e querer vestir algo que supostamente é só para mulher muito feminina,
“ Eu acho que até por conta de eu ser lutadora, antes eu era mais vaidosa, mas tipo como eu o
tempo todo tipo “sai do treino toda suada descabelada, e tem que treinar clinch toda suada todo
mundo junto aquela coisa” aí sei lá eu perdi muito a vaidade por conta do esporte, não tem
como você ser tipo muito vaidosa fazendo arte marcial, não tem tipo, você não vai se preocupar
se seu cabelo tá bom, ou se você tá com sei lá com uma espinha, você vai treinar independente
de qualquer coisa, então eu acho que no esporte você não pode ter vaidade. Não pode.” (P4)
26
“Então mesmo eu praticando Caratê, eu gosto de manter… eu sou bem vaidosa. Então eu
“Então talvez alguém me olhe e não me ache tão feminina, alguém olhe e ache que eu sou
feminina, mas não… é algo que eu pense assim, eu só sou o que eu tenho vontade de ser, sem
me ligar muito em padrões. E aí o que as pessoas acham se eu sou ou se eu não sou eu já não
“Mas… a mulher que luta ela sempre tem aquele olhar assim, ah ela é um pouco masculina […]
A mulher ela é forte demais. Muito forte, eu acredito muito na mulher […] eu acho que a gente
é muito mais forte do que qualquer homem. A gente enfrenta qualquer batalha, na vida e tal. E
“Eu acho que é fundamental, porque muitas pessoas criticam ‘ah vai começar a lutar, vai virar
hominho. Vai ficar… vai ficar masculina’. Então acho que é uma… é uma… é uma parte
importante da gente manter, esse nosso lado feminino né? Mostrar que o esporte ele não muda
a pessoa né, que a luta não muda a… a mulher. Mas pelo contrário, a gente tá lutando a gente
tá buscando ter um físico mais forte mas nunca deixando a feminilidade de lado.” (P10)
4.8 Saúde
e em suas respostas observou-se que em geral há uma melhora na qualidade de vida a respeito
da saúde como uma instância multifatorial, referindo não apenas a saúde biológica, mas a saúde
psicológica e social também foram incluídas no relato. Pode-se observar também a questão do
sacrifício da saúde em relação a parte competitiva (esporte de alto rendimento) que será mais
“O Taekwondo arte marcial ele tem todo o benefício para a saúde, disciplina, respeito,
27
“nas fases da minha vida que eu treinei menos, que eu… que eu não tava treinando tanto eu…
eu acabava tendo um estilo de vida bem ‘junk’ assim. Eu percebo que quando eu to treinando
mais eu me alimento melhor, eu… durmo mais cedo acordo mais cedo. Enfim eu tenho uma…
“quando eu vim pra São Paulo, que eu voltei a três anos, eu voltei pra cá eu tava afastada de
qualquer esporte, meu pai não tava morando comigo, não tava treinando nada, aí eu no começo
eu senti um impacto muito grande. […] Eu tava sentindo uma solidão bem grande, mas quando
eu comecei, eu voltei a lutar então eu meio que achei o chão de volta. Então nesse sentido acho
“A gente tem, a gente fica com o condicionamento muito melhor, é... Ah é muito notável isso
no nosso dia-a-dia. Mas pra mim mesmo, o principal foi a timidez porque eu tenho muita
dificuldade, juro, pensa numa pessoa que passa mal de ver público, de ver pessoas, eu não
consigo falar em público, eu não consigo, eu tenho muita dificuldade eu sou muito tímida.
Muito, absurdo absurdo absurdo! Tipo de chorar assim, entrar em pânico, tremer, vomitar...
[…] hoje eu não me vejo sem esporte […] eu sempre tenho que ta fazendo alguma coisa pra me
“Olha pra mim é… primordialmente a perda de peso né? Perdi bastante peso, foram 30 quilos
que eu consegui perder né, é… a melhoria da autoestima, que a gente melhora né, é… a
autoestima, é.… […] Olha… […] a minha autoestima melhorou muito, né, e… as formas
também de encarar os desafios né, é... […], o treino é… como meu técnico falava, não só pra
luta mas pra vida né, então, questão de disciplina, de respeito, de você…. é… lidar com o outro
também, né. Então isso acaba ajudando bastante, e é… e eu sou uma pessoa que eu sou… eu
sempre fui muito tímida né? Muito introvertida, então o… o treino em si também me ajudou
bastante nisso né, como você tem que lidar sempre com pessoas né, e… e sempre em nível
diferente enfim, então isso ajudou bastante na minha vida também.” (P5)
“é bom, quando por exemplo você ta com stress né? Acumulado, eu acho que arte marcial, o
sei lá, convivência é… que te traz é diferente assim só você fazendo assim você tem essa
noção.” (P7)
“Quando eu entrei no esporte eu era uma menina muito tímida, muito retraída, tinha muitos
problemas com autoestima e o esporte me ajudou a vencer, e a desenvolver todas essas coisas
que me faltavam. Óbvio, não que eu não tenha ainda, mas é que o esporte me ajuda, em
contrapartida não só com o corpo, mas com a minha personalidade mesmo. A construir, a
confiar, a acreditar, a saber o quão forte eu sou pra superar as coisas porque o esporte é uma
superação, é um empoderamento você se sente forte, […]. E o corpo, e a saúde, é óbvio que é
consequência né, é porque a gente treina bastante! [...] Eu tenho muitas lesões por causa do
esporte, porque assim é diferente quando a gente pratica um esporte por… por qualidade de
vida. O que eu faço, qualquer atleta não é saudável né, ser atleta de alto rendimento não é
saudável. Então com certeza o meu corpo ele, pra idade que eu tenho ele é bem machucado […]
“além do físico e tudo mais, eu acho que a cada treino e principalmente pra quem compete e
tudo mais, trabalha muuuito o mental. Você precisa o tempo todo do mental, e eu acredito eu
falo isso pras minhas alunas, que é 80% mental, o resto físico. […] Mas… o que me agrada
“Sim. Hm… principalmente alimentação (risos). Porque a gente tem que manter um peso, pra
treinar também a gente tem que ter uma… manter uma boa alimentação. Já passei de… assim
4.9 Igualdade
29
“[..] hoje em dia não existe mais isso, de achar que é histórico masculino no esporte, entendeu?
Se você chegar aqui, se você ficar aqui 16:30 da tarde que é o treino de competição se tiver
quinze pessoas no treino, dez são mulheres. Dez são meninas. Então hoje em dia não tem mais
isso, perdeu um pouco essa característica de achar que a modalidade de luta é masculina, ou
“eu acho que sempre teve, a presença das mulheres nas lutas. Inclusive, quando elas não iam
pro campo de batalha, quando elas ficavam é... dentro das casas assim, não iam pra guerra
migrar pra guerra. Elas também deviam saber artes marciais para se defender caso o exército
“Olha eu acho que… não só no esporte mas em tudo, é… a questão das mulheres, né, tomando
a frente, ou encarando de frente, batendo de frente acho que tem mudado muito nos últimos
anos né, e tem sido pra mim alterações importantes e muito relevantes pra sociedade enfim, é…
pra combater aquela… aquele pensamento machista que sempre teve né… de mulher ser o sexo
frágil e que… tem que ficar em casa. […] eu me sinto muito orgulhosa de… de encarar a parte
da luta e… espero que nos próximos anos tenham muito mais mulheres não só no esporte de
combate mas em qualquer tipo de esporte que ela se interesse, que tenha gosto de fazer, né.”
(P5)
“Eu nunca vi isso, como esporte masculino. Acho que é porque eu cresci no meio de… de
professor que faz Caratê então eu nunca vi o Caratê como esporte masculino, que é só homem
que faz. [...] se eu um dia for… assaltada, você não sabe se é por mulher ou homem. Então vai
ter que se defender né? Então no treino eu não ligo, se a pessoa bateu no meu peito, se foi golpe
“Eu não ligo muito pra isso não, até porque hoje você tem muitas mulheres que tipo, faz.” (P7)
“Hoje em dia a gente vê na novela há 13 anos atrás não, e eu sempre quis provar, mostrar pras
pessoas porque é que eu to fazendo isso, e hoje é todo mundo meu fã, todo mundo sabe o que
eu faço. Todo mundo tira foto, saí na revista, saí no jornal. Acho que a melhor forma da gente
quebrar o preconceito é mostrando o nosso valor. Fazendo as pessoas nos respeitarem. No grito
30
a gente num arruma nada, só confusão.” (P8)
4.10 Sacrifício
Essa última categoria tem muita relação com algumas categorias já citadas (disciplina,
saúde), trazendo o sacrifício das participantes que passaram por lesões, podemos também
observar que a questão da ausência patrocínio financeiro no esporte sendo bastante recorrente
e motivo de angústia das mulheres praticantes, principalmente as que tem o esporte como
esporte de luta.
“A gente tem assim, é tudo regrado com alimentação, é um esporte de contato físico o tempo
todo. Tá sempre machucado, sempre com lesão. É… os gastos também são muito altos, então
cê tem que ter um foco assim, gostar muito disso. […] agora com relação a esporte, é bem
difícil, hm… você conseguir ficar muito tempo porque é muito contato físico, então você se
machuca demais, é muito estresse, emocional, e diversos fatores né. […] Mas devido essa minha
lesão, eu fiquei três anos fora, então eles não vão querer saber se você se machucou. Isso não
existe pra eles, você tem que ter resultado. Então patrocínio financeiramente não. É tudo arcado
pela minha pessoa. […] Esporte, competição ele não é saúde né? Competição é você entregar
o máximo que você tem, você está ali todos os dias”. (P2)
“Comecei a treinar com os atletas, porque o treino dos atletas é 100% é muito muito diferente
do treino comercial. É… demanda mais tempo, demanda uma alimentação melhor, é muito
muito diferente mesmo, é uma dedicação que eu nunca tipo presenciei tipo, nunca vivi em outra
“No joelho. Então é… eu tive uma… uma lesão… é... no ligamento… [...]é… um foi total, e o
outro foi parcial, né. Então foi, foram seis meses de… de recuperação fazendo fisioterapia,
musculação, tudo do meu bolso (risos) pra… tentar voltar né, e voltar a ter confiança né, pra
chutar principalmente. E também a… a.. voltar a competir né, que foi sempre o que eu, o que
eu mais gosto de fazer né, então fiquei seis meses, foi a lesão que eu tive assim grave, e de…
31
não tão grave na minha última luta eu tomei uma cabeçada e eu tomei três pontos aqui no meu
supercílio mas isso é básico né […]. Olha… que eu me lembre… acho que só… acho que você
acabou falando da questão do patrocínio que é super difícil da gente conseguir né…
principalmente é… nos esportes que não se encaixam em… seja em futebol né, porque futebol
você vê futebol masculino né, porque… futebol feminino você vê que quase não tem
reconhecimento, patrocínio, então isso acaba pecando um pouco pros atletas em geral né… e…
“Eu rompi o ligamento cruzado do joelho esquerdo, aí tive que operar tudo… fiquei mais ou
menos uns três meses fora. Porque eu voltei antes, não era pra voltar.” (P7)
“Eu tenho duas cirurgias de ligamentos cruzados, duas reconstruções de LCA, uma em cada
joelho. Uma fazem quatro anos e a outra um ano e meio. Em média eu fiquei parada nelas um
ano né, é uma recuperação bem chata e eu sempre… os meus médicos o meu fisioterapeuta o
Então eu tenho essas duas cirurgias, hoje em dia elas tão curadas, elas tão bem. Hoje em dia eu
tenho hérnia de disco na cervical, desgaste de cartilagem no joelho… e… várias outras dores.
Eu sou uma pessoa bem machucada (risos) são muitos anos, mas de cirurgia são só essas duas
mesmo. […] eu só acho que a grande dificuldade do atleta é a parte de patrocínio. Eu tenho
alguns apoios, eu tenho patrocínio, ainda tenho acredito que mais que outros, mas mesmo assim
“eu acredito que o esporte ele é uma profissão. E muitas pessoas não veem isso, […] E isso
mexe muito sabe? […] Então às vezes, muitas vezes o cara os patrocinadores eles não veem
muito ah… como posso falar… a parte interna da… da pessoa ser uma boa atleta. Muitas vezes
vê a parte externa, ah ela é bonita ela vai ser um… um marketing legal pra minha marca. Então,
aí muitas vezes a atleta que não é tão… desfavorecida (risos), que é desfavorecida de beleza
acaba sofrendo um pouco com isso. E eu acredito que não é só aqui, lá fora também isso
acontece, mas lá fora tem muito mais oportunidade de... de patrocínio, tem academias que te...
32
Discussão
que motivam essas mulheres a praticar seus respectivos esportes de luta, algumas trouxeram
outras trouxeram motivações individuais como ser um grande sonho. A motivação mais aceita
situação (Weinberg & Gould, 2016), essa perspectiva interacional da motivação aponta que a
discursos, e se relaciona diretamente com a forma que essas mulheres (indivíduo) dão
significado para suas competições e treinos (situação) transformando situações que muitas
entrevistadas receberam algum tipo de apoio familiar, que corrobora com a hipótese da
pesquisa, que partindo dos princípios básicos de Análise do Comportamento (Moreira &
Medeiros, 2018) o qual todo comportamento que possui uma consequência reforçadora tende a
de luta.
Moura, Bento, Santos, Lovisolo (2010) a respeito da habilidade funcionar como um passaporte
pela atleta, em outra categoria (Machismo) a atleta afirma novamente que em seus seminários
ela precisa “mostrar” o seu trabalho para se provar. Durante a entrevista (P10) trouxe a seguinte
fala: " O meu pai ele só começou a aceitar mesmo quando ele começou a ver resultado". O
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machismo dificulta a jornada de ascensão das mulheres no esporte de luta, fazendo com que
estejam em uma alerta intermitente ao terem de provar suas técnicas e habilidades a todo
momento confirmando a afirmativa de Pires, Lima e Penna (2019) de que mulheres passam por
práticas esportivas, a autora apresenta uma distinção entre gênero e sexo, no qual o gênero se
mulheres pelo fato de serem biologicamente mulheres, discute-se a ligação entre esporte e os
estereótipos do que mulheres podem ou não realizar com seus corpos. A categoria Feminilidade
respostas com duas ideias centrais, uma delas a de que a feminilidade é importante, e que a
entrevistada faz questão de manter-se e sentir-se feminina que corrobora com a seguinte
afirmativa “mulheres atletas profissionais eram praticamente obrigadas a adotar uma postura
apologética, tomando o cuidado necessário de mostrar para o público que sua prática no esporte
apresentaram a ideia de que a feminilidade precisa ser abandonada, e que não é possível manter-
se feminina e praticar esporte de luta, sendo essa afirmativa não uma negação ao sexo, e sim
uma negação ao estereotipo de gênero em que as mulheres precisam ser sempre belas e frágeis
(Garcia, 2018).
No início do século XX a mulher vivia de forma rígida seguindo o papel social que lhe
de casa", sendo essa condição inexorável devido ao código civil de 1916 o qual submetia a
mulher ao homem, legalizando uma dependência e subordinação (Mathias & Rubio, 2010).
Levando em conta que a menos de um século as mulheres possuíam o papel social tão rígido, é
possível relacionar esse papel ao discurso apresentado ainda na categoria Machismo, o relato
da entrevista de P9 "todo mundo acha que a gente entra no esporte pra… por conta dos… dos
homens que tão lá dentro, ou porque você é masculina." corrobora com o artigo de Thomazini,
34
Moraes e Almeida (2009), no qual um dos atletas entrevistados faz essa afirmativa no sentido
de que as mulheres só se aproximam do esporte de luta pela atração do porte físico dos atletas
homens, revelando que atualmente essa visão patriarcal e de submissão feminina continua
e regras ilógicas como outro relato da própria participante P9: "Uma das coisas que eu coloquei
na minha cabeça desde pequenininha, desde os 14 anos assim eu nunca vou ficar com ninguém
do boxe. Porque se eu ficar uma vez é vão me… julgar como… como isso, entendeu? E magina
você se barrar, de conhecer alguém dentro do seu ambiente e tudo mais só porque com medo
que de alguma forma receberam a pergunta "Como é ser uma mulher que pratica um esporte
historicamente masculino?" como um insulto aos seus valores com base em suas vivências, por
mais que a pergunta tivesse um objetivo de compreender as dificuldades dessas mulheres diante
se relaciona com a afirmação de que a participação feminina nos esportes vem aumentando
como resultado de suas lutas por igualdade e inclusão nos esportes, rompendo barreiras sociais
esteticamente, entretanto, seis participantes (P1, P2, P3, P4, P5, P10) afirmaram que a questão
da categoria de peso é importante para elas e para que estejam na categoria precisariam ter mais
ou menos peso. Esteticamente o discurso de P5, P7 e P8 foram os que relataram que gostariam
de ter menos gordura corporal mas nada que trouxesse um incômodo excessivo, sendo P5 a
única participante que aderiu ao esporte pelo motivo da perca de peso, porém permaneceu no
esporte e tornou-se competidora não mais por esse motivo, que corrobora com o estudo de Da
Rocha, Zagonel e Bonorino (2018) o qual concluiu que os fatores de aderência evidenciados
estética as participantes P4, P8 e P10 relataram a vontade de um dia colocar silicone, sendo o
Brasil o segundo país com o maior número de procedimentos estéticos do mundo, e a cirurgia
do aumento de mama com implante estando em primeiro lugar entre as operações mais
frequentes (ISAPS, 2018), o fator cultural pode ter grande influência nessa vontade, a
fisiculturismo afirmando que as próteses nas mamas são um procedimento comum do grupo, e
a razão é que os treinos causam perda de gordura nos seios causando diminuição no volume e
sendo necessário “corrigir”. Esse pode ser um dos motivos que implicam nessa vontade das
participantes P4, P8 e P10, que são participantes que se denominaram atletas, que além dos
A categoria Sacrifício foi uma categoria na qual as mulheres que competem trouxeram
algumas falas relacionadas a momentos em que abrem mão de uma satisfação imediata e
ilimitada para exercer controle do próprio corpo (Vaz,1999). Sendo por meio de dietas, treinos
homeostático deve provocar sempre uma adaptação superior.” (Vaz, 1999, p. 103). Essa quebra
de equilíbrio muitas vezes acaba gerando algumas lesões nos corpos dessas mulheres, e
afetando sua Saúde como podemos observar no trecho da fala de P8 “O que eu faço, qualquer
atleta não é saudável né, ser atleta de alto rendimento não é saudável. Então com certeza o meu
corpo ele, pra idade que eu tenho ele é bem machucado”. As categorias Sacrifício e Disciplina
foram divididas didaticamente, sacrifício é entendido como abrir mão de reforçadores, aceitar
Martins e Kanashiro, 2010, qual afirma que essa arte marcial possui em sua essência valores
que o diferenciam de um simples combate. Havendo também uma busca não apenas de seu
respeito, formas de hierarquia, a fala de P10 a seguir ilustra com fidedignidade o significado de
disciplina: “ […] vai além do que socar e bater […] vai te ajudar a desenvolver como eu posso
falar… ah… mentalmente né, é… molda o seu caráter, é… faz de você uma pessoa melhor,
assim na sociedade, né. Então vai muito além do que você fazer um esporte para
Na categoria Saúde as participantes (P3, P4, P5, P6, P7, P8, P9) mencionaram o esporte
stress. Essa afirmativa corrobora com o artigo de Cevada et al (2012), o qual afirma que o
visto que a saúde é uma questão multifatorial que envolve fatores biopsicossociais (Oliveira &
Egry, 2000), o esporte de luta é então visto como benéfico para a saúde nesta perspectiva
Considerações Finais
A análise das entrevistas deste grupo de mulheres que praticam esportes de luta
possibilitou a compreensão a respeito da escolha dos esportes de luta entre mulheres, que a
partir da apresentação de suas narrativas, encontrou-se alguns fatores que propiciaram a escolha
do esporte de luta, dentre esses fatores a vontade de fazer algum esporte e a dificuldade em
estética como aderência ao esporte mesmo que apenas uma das entrevistadas tenha iniciado a
prática com essa motivação e ao longo do seu desenvolvimento no esporte tenha dado um
significado diferente para sua permanência, ser mulher é intrínseco ao sofrimento de violências,
pelo fato do gênero ser um sistema binário de hierarquia, a pressão estética a ter um corpo belo
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e segundo os padrões normativos é apenas uma dessas violências e faz com que as escolhas em
seus discursos, sendo afirmando usar e fazer aquilo que as faz sentir-se bem, sendo
igualdade nunca havia sido tão próxima ao comparar com os períodos anteriores, ou até mesmo
levando para o esporte de luta a feminilidade que carregam em si a partir do contexto social,
ocupando posições na qual a virilidade e a força nunca antes tivessem se fundido com o que é
mulheres trouxeram relato do sofrimento de machismo, que é uma categoria que previa-se
encontrar dados, pois foram presentes em outros estudos Thomazini, Moraes e Almeida (2009),
Fernandes, Mourão, Goellner e Grespan (2015), (Soares, Mourão e Monteiro, 2017), Adelman
(2006), De Oliveira Camilo e Pereira (2018), Pires, Lima e Penna (2019),Sousa e Altmann
ascensão na jornada como atleta pelo preconceito de gênero, a baixa quantidade de patrocínio
que as mulheres conseguiram em suas carreiras mesmo muitas delas sendo/foram atletas
resultados, sendo assim muito mais cobradas do que os atletas homens que desde a infância
mulheres aos seus respectivos esportes, e como existe uma grande carga afetiva a respeito
desses significados. Em relação a qualidade de vida muitas delas apresentaram saúde como
sendo um dos principais benefícios, entretanto, o esporte de alto rendimento foi apontado como
concluiu seus objetivos, ressaltando que a área do esporte de luta está em ascensão por conta
do crescimento do MMA, pela superação dos estereótipos que afasta as mulheres dos esportes
de luta e pesquisas sobre mulheres em esportes principalmente de luta ainda são escassas,
39
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Artmed editora.
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Apêndice I
Nome: idade:
Ocupação
10.Já competiu? Caso sim, quantos anos tinha na primeira competição, quantas vezes competiu
e qual o histórico de vitórias?
14.Como você enxerga seu corpo? Você está satisfeita com ele?
18.Desde que iniciou a prática quais foram as mudanças observadas na sua vida?
44
Anexos
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