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ESPORTIVA
PROFESSORES
Dr. Rui Resende
Me. Suelen Rodrigues da Luz
164 p.
ISBN xxxxxxxxxxxxxxx
“Graduação em Educação Física - EaD”.
1. Iniciação 2. Esportiva 3. Educação Física 4. EaD. I. Título.
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor
Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio
Ferdinandi.
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Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos
princípios éticos e profissionalismo, não somente para entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil.
oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para
conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, continuar relevante, a instituição de educação precisa ter
profissional, emocional e espiritual. pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compro-
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de misso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é pro-
Londrina) e em mais de 500 polos de educação a dis- mover a educação de qualidade nas diferentes áreas
tância espalhados por todos os estados do Brasil e, do conhecimento, formando profissionais cidadãos que
também, no exterior, com dezenas de cursos de gradua- contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade
ção e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros justa e solidária.
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano.
Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de Vamos juntos!
minha história meu currículo
http://lattes.cnpq.br/1489736621464036
Rui Resende
http://lattes.cnpq.br/5443241436070731
provocações iniciais
INICIAÇÃO ESPORTIVA
Quando pensamos em Educação Física, pensamos como este deve atuar para que o processo de trei-
em esporte, e por mais que o conteúdo “esporte” seja namento seja positivo. Por fim, aprenderá algumas
apenas mais um dentro das diferentes práticas corpo- formas de organizar e programar todo o processo de
rais que Educação Física abrange, podemos dizer que treinamento, tendo como base diferentes exemplos
o processo de ensino-aprendizagem das modalidades de planilhas para periodização.
esportivas possui grande destaque. Assim como nas Para que fique mais clara a importância dos con-
demais práticas corporais, é essencial que o profissio- teúdos descritos anteriormente, podemos pensar
nal que exerce a sua atividade no contexto esportivo, de forma mais prática, seguindo a linha do que é
seja dentro do espaço escolar, ou fora dele, tenha uma apresentado em cada unidade do livro e em como
preparação adequada, que seja uma pessoa culta, isso pode impactar no seu processo de formação.
empenhada, e que, por via disso, seja capaz de exercer
com competência e proficiência esta profissão. 1. Em um primeiro momento, seu foco será entender
Como ser um professor/treinador competente? os conceitos relacionados ao esporte e a forma
O que é preciso saber? Como posso ensinar? Como como ele pode se manifestar, além de suas classi-
devo me portar? ficações. Sabendo disso, você conseguirá entender
Bom, nosso objetivo, aqui, é ajudá-lo a respon- a importância do esporte no campo educacional,
der essas perguntas. Para isso, apresentamos, no do rendimento ou de participação, e ainda verificar
decorrer das cinco unidades deste livro, informações a possibilidade de atuação em cada área.
que lhe darão um aporte teórico e prático, por meio
de exemplos, para atuar de forma competente na 2. O próximo passo será conhecer modelos de
iniciação esportiva. ensino que podem ser utilizados na iniciação
De modo geral, você adentrará no contexto histó- esportiva. Ou seja, você aprenderá a ensinar!
rico-político do esporte como conteúdo da Educação Além de entender como o processo de iniciação
Física, os conceitos relacionados aos esportes e todas deve acontecer, considerando as etapas de de-
suas formas de manifestação (esporte de rendimen- senvolvimento da criança ou adolescente, você
to, esporte de participação e esporte educacional). também terá exemplos de atividades que podem
Terá acesso a alguns modelos de ensino que prezam ser utilizadas durante esse processo.
por uma abordagem mais construtivista, juntamente
com exemplos de atividades dentro do contexto de 3. Em seguida, o foco passa a ser as competências do
cada modelo e que podem ser utilizados no proces- professor/treinador. Nesse momento, você enten-
so de ensino das modalidades esportivas. Ainda, derá seu papel como professor/treinador e quais
verificará os conhecimentos e as competências que conhecimentos deverá dominar para que sua
um bom treinador/professor deve possuir, além de atuação profissional seja adequada e eficiente.
provocações iniciais
4. Após entender o que você precisa saber para ser O papel dos treinadores é fundamental, e, por
um bom profissional, a próxima etapa é enten- isso, há necessidade de melhorar a sua qualificação.
der como atuar para que sua intervenção seja O aperfeiçoamento dos seus conhecimentos reforça-
positiva. Entender a importância de uma relação rá a sua ação, e, por meio de uma prática reflexiva,
saudável entre professor/treinador, alunos/atle- melhorará sucessivamente as suas competências.
tas e familiares, facilita para que o processo de Após identificar as razões pelas quais ele está no
iniciação esportiva resulte no desenvolvimento esporte, o treinador deverá desenvolver uma filosofia
positivo da criança/adolescente. de treino de acordo com os seus valores morais e
éticos, adequando a sua prática ao contexto espe-
5. Por fim, após entender a importância do esporte, cífico onde atua.
aprender como o esporte pode ser ensinado, e co- Os procedimentos para concretizar as suas atitu-
nhecer o que você, como profissional, precisa ter des no processo de treino e na competição serão a
e como deve atuar, o último passo é saber como emanação do empenho que ele coloca na sua ativi-
organizar tudo isso na prática. Assim, na última dade e a demonstração da sua qualidade. Esta, ao ser
unidade do livro, você aprenderá a estruturar e reconhecida pelos atletas, pela família, pelos pares
planejar o treinamento, considerando um período e empregadores, poderá exaltar a importância que
competitivo completo. Você terá exemplos de a profissão de treinador exerce na sociedade atual.
planilhas semanais, mensais e anuais, além de Sugere-se a utilização de instrumentos para plane-
exemplos de planos de aula/unidade de treino. ar e controlar o processo de treino, sendo o treinador
mais preciso e rigoroso no desenvolvimento da sua
As informações apresentadas não são específicas atividade, tornando-a mais eficaz. Enfatiza-se, sobre-
para uma única modalidade ou um único contexto. tudo, a importância que o planeamento do microciclo
Os modelos de ensino, as planilhas e os exemplos de tem para esse processo e a forma como este deve
atividades podem (e devem) ser modificados consi- “desaguar” na construção da Unidade de Treino.
derando o contexto de atuação, além da modalidade Estamos conscientes que a atividade do treinador
a ser ensinada. Assim, caberá a você, futuro profes- é muito complexa e que o seu exercício depende de
sor/treinador, adaptar o conhecimento adquirido inúmeros fatores. Contudo, independentemente
para seu contexto de sua atuação. do contexto em que ela se realiza, pode constituir
O esporte é um fenômeno complexo e devemos uma atividade fascinante, pela qual valerá a pena
entender a importância dele para o desenvolvimento se aplicar.
de uma sociedade mais participativa e saudável. Ao final de cada unidade, você poderá testar os
Além disso, também devemos destacar o papel que conhecimentos adquiridos por meio de questões
o esporte pode ter no desenvolvimento positivo dos interpretativas e de recordação. Busque ler as in-
jovens e na transição que as competências esportivas formações das questões com atenção. O objetivo é
podem ter para as competências de vida no seu geral, a fixação do conteúdo.
desde que manifestamente ensinadas. Bom estudo!
sum ário
UNIDADE I
10 INTRODUÇÃO À INICIAÇÃO ESPORTIVA
UNIDADE II
36 MODELOS DE ENSINO PARA A INICIAÇÃO ESPORTIVA
UNIDADE III
66 CONHECIMENTOS E COMPETÊNCIAS DO TREINADOR
UNIDADE IV
94 EVOLUÇÃO POSITIVA ATRAVÉS DO ESPORTE
UNIDADE V
120 INTERVENÇÃO DO TREINADOR: PREPARAÇÃO E PLANEJAMENTO
INTRODUÇÃO À INICIAÇÃO ESPORTIVA
Oportunidades de aprendizagem
I
É fato que todos nós, em algum momento da vida, tive- mais simples, que cresceram e foram moldados dentro
mos contato com o esporte, seja pela prática de alguma do esporte, mesmo que de forma amadora ou recreacio-
modalidade, pelo prazer de assistir a jogos e acompa- nal, que foram e/ou são atletas de fim de semana, que
nhar competições diversas, ou ambos. Dessa forma, é mudaram para um estilo de vida saudável por conta da
possível afirmar que o esporte, e suas diferentes mani- prática, além daqueles que vivem do esporte e/ou para o
festações, está presente quase que diariamente em nossa esporte, como é o caso de muitos professores e profissio-
vida e pode impactar diretamente em nossas vivências. nais de Educação Física.
A partir disso, e considerando que a Educação Física Pensou na importância ou no impacto que o esporte
atua diretamente com o esporte, podemos nos perguntar: pode causar na vida das pessoas? Para conseguir visualizar
qual a importância do esporte na vida das pessoas? melhor e dar mais significado ao tema, que tal fazermos
Para algumas pessoas, o contato com o esporte pode um mapa mental utilizando algumas palavras-chaves que
ser simples, singelo, sem muita importância. No entan- representam vivências a partir do esporte? Utilize o info-
to, para muitos, o esporte pode ser algo transformador! gráfico a seguir e descreva, no mínimo, cinco palavras que
Certamente você já viu ou leu alguma reportagem sobre expressem a importância do esporte para a população em
alguém que teve a vida totalmente transformada pelo es- geral, considerando atletas de alto nível, praticantes recre-
porte. Não falo somente sobre aquele menino ou aquela acionais, além da prática esportiva que objetiva a melho-
menina, de origem pobre, que, por conta do futebol ou ra da saúde e qualidade de vida. Para facilitar, você pode
de outra modalidade, mudou de vida e hoje é atleta reco- pensar nas palavras-chave a partir das suas próprias ex-
nhecido mundialmente. Ou daqueles que venceram di- periências com o esporte e depois expandir para o geral.
ficuldades e preconceitos para se tornarem medalhistas Para ajudá-lo, adicionei duas palavras-chave que, muito
olímpicos. Falo, também, daqueles que tiveram vivências provavelmente, serão comuns a você.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
A partir dessa reflexão sobre a importância do esporte Física, poderá oferecer para seus alunos/atletas a partir
para as pessoas, de modo geral, imagine as possibilida- da vivência esportiva. Registre essas possibilidades no
des que você, futuro professor/profissional de Educação diário de bordo.
A ação acontece em forma de competição entre dois ou de muitas delas, como você, futuro professor/
profissional de Educação Física, pode contribuir
mais oponentes ou contra a natureza. O objetivo é de-
nesse processo?
terminar o vencedor ou registrar o recorde, por meio de
comparação de desempenhos.
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A partir disso, o esporte pode ser classificado em: edu- Iniciaremos nosso conteúdo abordando o esporte
cação, participação e performance. O esporte-educação como um conteúdo da Educação Física (EF), dedi-
tem como foco o contexto escolar e deve ter como ob- cando atenção às razões que levaram à incorporação do
jetivo proporcionar aos alunos vivências de diferentes esporte nos currículos da Educação Física. Contudo, an-
modalidades, além da reflexão crítica do esporte na so- tes de abordarmos o esporte na escola, é importante ob-
ciedade. O esporte-participação refere-se a atividades servarmos um pouco a EF, que é a disciplina que assume
livres de comprometimento e obrigações, que podem o ensino formal do esporte na escola.
ser praticadas por todas as populações e que tem como O termo EF é usado para identificar a área cur-
objetivo principal a diversão, desenvolvimento pessoal ricular correspondente aos anos de escolaridade
ou interação social. Por fim, o esporte-performance, ou das crianças e dos jovens, tendo como propósito de-
de rendimento, envolve atletas de alto nível e é pratica- senvolver competências e habilidades em diferentes
do considerando regras e códigos éticos pré-estabele- atividades motoras (RESENDE; LIMA, 2016).
cidos por instituições que organizam as competições Deve constituir-se como a base de um conheci-
(ligas, federações, confederações, comitês olímpicos). mento da atividade física e esportiva, fomentando nos
Está fortemente vinculado à ideia de vitória e derrota alunos a procura por um estilo de vida ativo, de forma
(DARIDO; RANGEL, 2011). que venha a repercutir no futuro deles quando adultos.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
Aliás, é interessante salientar que as percepções físicas ginástica como elemento indispensável para a formação
formadas durante a adolescência são, muitas vezes, de- integral da juventude. Desde então, vem agregando ele-
terminantes no comprometimento com os níveis de mentos históricos, marcos sociais, com conflitos e con-
atividade física subsequentes. Nesse sentido, os contri- quistas, por exemplo, a sua consolidação enquanto área
butos que a EF pode providenciar e promover no aluno de conhecimento. Sofreu, desde a sua inclusão, influên-
são inúmeros: o respeito pelo corpo, o seu e o dos cias das instituições onde era lecionada, nomeadamente
outros; melhoria da autoestima e da autoconfiança; de caráter militar e médico (MARTINS; PAIXÃO, 2014).
desenvolvimento de competências sociais e cogni-
tivas que, por sua vez, podem refletir em um melhor
desempenho acadêmico, como muitos estudos apon-
tam (PERALTA et al., 2014).
Não se pode deixar de referir, porém, que, devido a
Reforma Couto Ferraz (1951) – tornou obri-
várias inabilidades, a EF pode provocar “aversão” à ati-
gatória a Educação Física nas escolas do mu-
vidade física e esportiva por parte dos jovens e, assim, nicípio da Corte. Houve resistência por parte
condicionar a sua adesão, no futuro, ao proclamado e dos pais dos alunos, por serem atividades que
desejado estilo de vida saudável. Esse aspecto não deve fugiam do contexto intelectual. Alguns pais
ser escamoteado, pois a simples prática da EF, com todas proibiram suas filhas de participarem. Para os
as virtudes que se enunciam e lhe reconhecem, podem meninos, essa resistência era menor, visto que
não ser suficientes para alcançar os objetivos a que ela se a ginástica era baseada em atividades militares.
propõe. Nesse contexto, o professor e profissional de EF
é um ator de importância crucial, pois o seu empenho na Rui Barbosa (1982) – A partir da Reforma do
forma como leciona fará toda a diferença na percepção Ensino Primário, deu-se destaque especial à
que o aluno terá sobre a importância da atividade física Educação Física como agente formador de
para toda a sua vida. jovens. A princípio, a Educação Física foi de-
Tendo em conta a saúde pública e a cultura esportiva, senvolvida a partir das pedagogias tecnicista
e tradicional.
a EF deve constituir-se como uma defesa na promoção
de um estilo de vida saudável. Para isso, é determinante
que as atividades propostas reforcem os sentimentos de
competência, estimulando a realização da atividade físi-
ca de forma prazerosa. Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
A EF escolar brasileira possui uma trajetória que (BRASIL, 1996), a EF é componente curricular obriga-
inicia no ano de 1851, com a reforma Couto Ferraz, ini- tório para a Educação Básica (Educação Infantil, Ensino
cialmente denominada Ginástica, com a sua inclusão Fundamental e Ensino Médio). As diretrizes curricula-
no rol de disciplinas operacionalizadas na escola e com res reforçam a ideia de se estabelecer o desenvolvimento
o propósito da prática de exercícios físicos. Somente em pleno e gradual do aluno, preparando-o para a cidada-
1882, com Rui Barbosa e a sua reforma do ensino primá- nia em articulação com todos os componentes curricu-
rio, secundário e superior, é que se atribui importância à lares, privilegiando o desenvolvimento humano. A for-
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exclusão dos menos habilidosos, levou a sua base com- igualmente incluído, no seu âmago, valores educacio-
ponente educativa e formadora ao enfraquecimento. nais, como habilidades sociais e éticas.
A inserção do esporte na escola constitui uma re- A legitimação do ensino do esporte, na escola e fora
alidade hegemônica no Brasil (FERREIRA; LUCENA, dela, advém do seu próprio valor enquanto potencial de
2006), mas também no mundo, com um tempo destina- desenvolvimento do ser humano, por meio de uma práti-
do à sua prática nas aulas de EF superior a 40% (HARD- ca que, apesar de lúdica e prazerosa, exige o cumprimento
MAN, 2008). Esses dados reforçam a importância que de regras preestabelecidas e, por isso, implica organização.
deve ser dada ao ensino desta matéria em contexto es- Dessa forma, ensinar um jogo esportivo implica a orienta-
colar. Não pretendendo aflorar os contornos políticos ção e o comprometimento com um objetivo, exigindo es-
que levam à discussão da importância desta hegemonia, forço e persistência, qualidade de desempenho e resulta-
consideramos, contudo, que o esporte deve ter um lugar do. Essas virtudes levam ao espaço educativo mais-valias
importante na formação das crianças e dos jovens. pedagógicas que sustentam a sua importância curricular.
Os jogos esportivos “são atraentes pela dinâmica que Na Unidade 2, aprofundaremos em métodos e mo-
exploram e as disputas que desencadeiam, enaltecendo delos de ensino do esporte que podem (e devem) ser uti-
o incerto (pela presença de um adversário), a tomada lizadas tanto no meio escolar, como fora dele.
de decisão e a inevitável solidariedade para a conquista
de um objetivo comum” (RESENDE; SÁ; LIMA, 2017,
p. 12). De acordo com os autores citados, o esporte tem
a possibilidade de transportar mais-valias pedagógicas
para o espaço educativo, potenciadoras de um desenvol-
vimento positivo dos jovens. Os resultados positivos da
participação esportiva na inclusão social, na saúde men-
tal e física e na aparente melhoria cognitiva e acadêmica
dos jovens (BAILEY, 2005) deve constituir um forte ar-
gumento para perspectivar um ensino esportivo de qua-
lidade. A própria ONU (2003) enaltece o esporte como
inclusivo e promotor da cidadania, contribuindo para a
economia e fomentando um ambiente limpo e saudável.
Nesse contexto, a EF é uma área curricular que se
preocupa com o desenvolvimento dos alunos em termos
de competência física e autoconfiança, de forma a usar
essas habilidades em um leque alargado de atividades.
Deve preocupar-se, em consequência, em ensinar os
alunos a “aprender a mover-se” e a “mover-se para apren-
der”. Centra-se no ensino de habilidades que envolvem
a participação física, com o conhecimento do próprio
corpo e a sua capacidade de movimento. Contudo, tem
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Dessa forma, ao olhar para o fenômeno esportivo, deve- Ainda, segundo o mesmo autor, além dessas característi-
remos ter consciência do seu alcance e de sua amplitude. cas, o esporte se situa como:
A atividade física e a competição estão no âmago das de-
finições de esporte. De acordo com Resende (2016), uma • Principalmente físico.
organização internacional denominada SportAccord, que • Principalmente mental.
aglomera federações esportivas internacionais, além de ou- • Principalmente motorizado.
tras organizações, define esporte como uma atividade que: • Principalmente coordenativo.
• Principalmente suportado por animais.
• Deve incluir um elemento de competição.
• Não deve recair em qualquer elemento de ‘sorte’.
• Não deve apresentar risco para a saúde ou segu-
rança dos seus praticantes.
• Não pode, de nenhuma forma, ser prejudicial Você acredita que esportes considerados radi-
para qualquer criatura viva. cais, ou mesmo as lutas, possuem risco à saúde
• Não deve depender de equipamentos providen- dos praticantes?
ciados por um só fornecedor.
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Podemos partir da premissa de que o esporte depende de por meio do esporte-espetáculo, quanto em uma pers-
estruturas formais e de organizações que estabelecem as pectiva mais global, em que faixas maiores da população
regras da competição e monitoram os participantes. Su- desfrutarão das suas potencialidades. O reconhecimen-
gere-se que os profissionais da área apreciem esta ativida- to de que as implicações da prática do esporte poderão
de como constituída por múltiplos esportes, pois implica ser benéficas, sendo reflexos positivos sociais, implicará
considerar distintos enquadramentos na sua formulação. a promoção e a maximização da sua prática.
Sobre essa temática, alertamos que a generalidade dos clu- As razões pelas quais é importante promover o es-
bes está formatada para o alto rendimento esportivo, mes- porte, sobretudo nas faixas etárias mais precoces, assi-
mo os que sabem que nunca terão as possibilidades de lá nala que os esportistas têm uma maior disposição para
chegar, sendo que o esporte de alto rendimento é somente hábitos alimentares mais saudáveis, para manter um
uma parte muito reduzida dessa atividade. peso menor, e uma diminuição da sedução pelo fumo
Como potencializador da saúde, no futuro, espe- ou pelas drogas. Possuem, igualmente, menor tendência
ra-se que o esporte continue a se evidenciar nas diferen- para expressar sentimentos de desânimo e de aborreci-
tes comunidades, tanto sob a sua forma mais popular, mento ou tédio (MULHOLLAND, 2008).
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A investigação tem contribuído para a solidificação um instrumento para a promoção de hábitos de saúde
da opinião de que a atividade física e esportiva praticada no presente e para o futuro.
pelos jovens e pelos adolescentes tem um forte tributo Salienta-se a evidência de que o esporte promove,
na promoção da saúde pública. Acresce esta importân- para além das competências esportivas, competências
cia, em termos de benefícios, quando a participação de vida (aspecto que trataremos com maior relevância),
esportiva é realizada de uma forma consistente (TE- o que, naturalmente, faz com que o treinador deva inves-
LAMA, 2009). Por isso a importância de a participa- tir nessa ideia. Aliando o conhecimento que ele possui
ção esportiva ser integrada em um programa esportivo, dos atletas e das suas necessidades, o treinador poderá
desenvolvendo- se de forma significativa e persistente incrementar de forma muito positiva as aptidões des-
ao longo do tempo. Aliás, reforçando a ideia anterior, ses atletas para a vida (WHITLEY; WRIGHT; GOULD,
Kjonniksen, Fjortoft e Wold (2010), em uma pesquisa 2016), considera-se que as competências de vida oriun-
com 630 participantes, verificaram uma relação positiva das por meio do esporte podem ser transferidas para
entre a participação esportiva organizada e o desenvol- outras realidades. Para isso, o treinador terá de agir de
vimento de atividade física em idades adultas. Ou seja, a uma forma consciente, enfatizando a aquisição de habi-
prática esportiva em idades mais jovens antevê o envol- lidades transversais aos diferentes domínios em que está
vimento com a atividade física quando se é mais velho, envolvido e, assim, dotando os atletas de uma melhor
sendo consistente defender a formação esportiva como preparação para enfrentar com sucesso a vida cotidiana.
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OLHAR CONCEITUAL
Dentro de tudo o que foi abordado, é importante olhar para o esporte a partir das suas possibilidades de manifestações. De
modo geral, podemos entender essas manifestações a partir de duas categorias (MARQUES; ALMEIDA; GUTIERREZ, 2007):
Figura 1 – Modelo de concepção das formas de manifestação do esporte / Fonte: adaptado de Marques, Almeida e Gutierrez, (2007).
Descrição da Imagem: a imagem é um fluxograma que apresenta os aspectos inerentes às modalidades esportivas, o sentido que leva à prática,
e que compõem as manifestações esportivas. O fluxograma se inicia, na parte central superior, com a escrita “Esporte”, e dessa palavra saem
duas linhas, uma à esquerda, que apresenta “Modalidades Esportivas” e possui três itens: “Regras”, “História” e “Forma de Disputa”. À direita,
saindo da palavra “Esporte”, temos “Sentido para a prática”, que traz três itens: “Valores Morais”, “Significado da prática” e “contexto cultural”. Os
três itens de cada lado são interligados a um único ponto: “Forma de manifestação do esporte”.
O sentido da prática considera as intenções e o contexto em que o esporte é inserido. Já a modalidade esportiva refere-se
às atividades realizadas com intuito competitivo, que possuem regras e normas. Todavia, é importante entendermos que
a prática esportiva não é dualista, e que as categorias citadas se interpõem e, muitas vezes, se completam. Em um jogo de
final da Copa do Mundo de futebol, por exemplo, por mais que seja característico da modalidade esportiva, ainda haverá
um contexto social por trás, que dará sentido à prática (MARQUES; ALMEIDA; GUTIERREZ, 2007).
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Pensando nos diferentes tipos de participação dentro foi evidenciado por Resende (2016) e que podemos ob-
do esporte, o alto rendimento não é a única forma pela servar na citação a seguir, assim como na Figura 2.
qual devemos observar e considerar a atividade esporti-
va. Considerando o espectro da participação esportiva, • O esporte de participação, que envolve crianças,
jovens adolescentes e adultos, tem como objetivo
protagonizado pelo ICCE (International Council for
resultados autorreferenciados como o entrete-
Coach Education) e pela ASOIF (Association of Sum- nimento, o desenvolvimento de habilidades e o
mer Olympic International Federations), em 2012, duas vínculo com um estilo de vida saudável.
organizações internacionais que fomentam o esporte, o
estudam e o promovem, procurando qualificá-lo pela • O esporte de rendimento, que engloba atletas
melhor preparação dos treinadores, identificaram dois emergentes, atletas de performance e atletas de elite.
tipos diferentes de participação esportiva, o que também
Descrição da Imagem: a imagem é um fluxograma que apresenta as etapas da vida em que cada tipo de esporte é geralmente praticado. Ao
lado esquerdo, temos três itens: adultos; adolescentes; crianças. Do lado direito, atletas de elevada performance; atletas de performance; atletas
emergentes. Cada etapa da vida corresponde à prática esportiva citada, respectivamente.
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Esse novo cenário esportivo provoca profundas altera- • Avaliações e aconselhamentos pessoais
ções na adesão ao esporte, pois os atletas começaram a ao nível da prescrição do exercício e de
se constituir como clientes, exigindo a prestação de um nutrição.
serviço melhor. A procura do esporte pelas crianças e • Constante renovação de atividades.
pelos jovens que nasce de uma vontade intrínseca de • Acompanhamento personalizado se de-
praticar, e com forte apoio dos pais, que valorizam mui- sejado pelo cliente.
to a atividade, as quais consideravam uma boa ocupa- • Possibilidade de um retorno à calma so-
ção que, além de estimular o corpo, também desviava fisticada, como é o SPA.
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Dessa forma, os pais terão de ser considerados como volvimento, em total sintonia e cumplicidade, conside-
parceiros essenciais na dinâmica do clube e no projeto rando que o esporte está longe de se esgotar nos mais
esportivo do seu filho. Por isso, se torna determinante jovens. No caso do esporte de participação para adultos,
fundamentar devidamente o que se pretende deles para o acompanhamento e rigor deverá ser similar e o trei-
que o desenvolvimento do seu filho ocorra de forma in- nador deverá adaptar-se às exigências do processo de
tegral. Uma sã convivência entre todos os parceiros fará treino através de uma forma negociada com os atletas.
emergir uma dinâmica social no clube, o que conduzirá O uso dos novos meios de controle do esforço, pos-
a melhores resultados educacionais e esportivos. sibilitados pelas aplicações informáticas, podem ser um
A política de exclusão, tantas vezes observada nas auxiliar fundamental na promoção da motivação para
rotinas dos clubes, deve ser evitada. Ao invés disso, os uma regularidade da prática esportiva. Considerando o
clubes devem apostar claramente em estratégias de inte- perfil desse segmento etário, o treinador deverá conside-
gração no processo esportivo dos seus filhos, com nor- rar outras vertentes para a sua atuação, nomeadamente,
mas e procedimentos bem claros e aceitos por estes. a de promotor de eventos de aspecto social, valorizando
Nesse sentido, o treinador, responsável máximo pelo formas de confraternização, reforçando, dessa forma, o
processo esportivo, deverá proporcionar informação aos sentimento de pertença e o valor da vida na sua plenitude.
pais, de forma a que estes possam constatar a evolução Acreditamos que, envolvendo os clubes, os dirigentes,
do seu filho, seguindo o exemplo da escola, que o faz por os treinadores, os pais e os atletas, será evidenciada uma
meio do boletim de resultados escolares. Para isso, indi- forma positiva de encarar o esporte e reforçará a sua im-
ca-se a criação de uma ficha do atleta com informações portância na esfera social. Nesse sentido, a ideia de pro-
periódicas do atleta. A qualidade dessa informação e a fessores e treinadores que encarem o esporte com uma
forma como é veiculada, diferencia a qualidade do ser- responsabilidade que ultrapassa o próprio esporte, e que
viço que é prestado no clube, assim como o empenho promovem o exercício profissional de uma forma pro-
que o treinador revela na forma como se preocupa com gressista, pode ser mais relevante. Para fazer face às inten-
a evolução do atleta. ções enunciadas anteriormente, as competências do trei-
Dentre as competências dos treinadores, evidencia- nador, figura nuclear de todo o processo, deverão emergir
-se a necessidade de uma boa relação com os pais dos de amplos conhecimentos, de forma que ele exerça profis-
seus atletas e um comprometimento com o seu desen- sionalmente a sua atividade de maneira eficaz.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
Esporte-educação: pode ser entendido como o esporte escolar e tem como objetivo “[...] democratizar e
gerar cultura pelo movimento de expressão do indivíduo em ação como manifestação social e do exercício
crítico da cidadania, evitando a exclusão e a competitividade exacerbada”. No contexto escolar, o foco deve
ser em proporcionar aos alunos vivências de diferentes modalidades, além da reflexão crítica do esporte
na sociedade (DARIDO; RANGEL, 2011, p.184).
Esporte-participação: caracterizado por atividades não comprometidas com tempo ou livre de obrigações
e tem como objetivo a diversão, desenvolvimento pessoal e/ou interação social. Pode ser praticado por
todas as populações, sem distinção de idade ou gênero (DARIDO; RANGEL, 2011).
O que o esporte significa em sua vida? Bem, é fato que todos nós, em algum mo-
mento da vida, tivemos contato com algum esporte, seja pela prática de alguma
modalidade, pelo prazer de assistir a jogos e acompanhar competições diversas,
ou ambos. Para alguns, esse contato pode ter sido simples, singelo, sem muita
importância. No entanto, para muitos, o contato com o esporte pode ser algo
transformador! Considerando essas informações, neste podcast falaremos um
pouco mais sobre o fenômeno esporte, suas vertentes e o impacto que estas
têm na vida das pessoas! Aperte o play e vamos lá!
31
Bem, como estudamos no decorrer da unidade, o pri- todos. Será determinante equacionar estratégias que
meiro contato com o esporte, na maioria das situações, evidenciem todos os aspectos relacionados ao jogo e à
acontece dentro do âmbito escolar. Nesse sentido, com- competição esportiva. Além disso, considerando que o
preender como se pode intervir pedagogicamente para perfil profissional do treinador vem se alterando pelas
que essa experiência seja positiva e conquiste os alunos demandas cada vez mais complexas e específicas, não
para uma prática esportiva continuada é incumbência será mais possível ao treinador somente saber do espor-
do professor/profissional de Educação Física. Ainda, te em concreto. Ele terá que dominar um conjunto de
considerando o enquadramento do esporte na socie- conhecimentos diversificados, alicerçados nas ciências
dade deste século, o qual possui uma grande relevância que suportam a atividade esportiva (ciências biológicas,
não só dentro da escola, cabe a esse profissional equa- ciências humanas e sociais) para, com a intervenção pe-
cionar e projetar de forma adequada a sua intervenção, dagógica adequada, estimular uma aprendizagem sólida
sempre com a preocupação subjacente de fazer com do atleta, seja este de participação (criança, jovem, adul-
que o esporte contribua para melhorar a saúde das po- to) ou de rendimento (jovem ou adulto).
pulações, nomeadamente por meio do fomento de um Assim, tanto em ambiente escolar, quanto fora dele,
estilo de vida saudável. o professor/profissional de Educação Física terá que dar
Para isso, o professor/profissional de Educação Fí- respostas às crescentes exigências que lhe são colocadas,
sica terá que idealizar a sua intervenção de uma forma demonstrando uma capacitação e uma maestria revela-
contextualizada a cada grupo que lidera, pautando a sua dora dos desafios que enfrentará. Somente desse modo
intervenção adequadamente, com o intuito de fazer as ele poderá reivindicar e exigir a consideração merecida
crianças e os jovens tirarem o máximo partido da ati- pela sua atividade profissional.
vidade e tendo em mente a inclusão e a valorização de
32
agora é com você
1. O esporte é entendido como uma atividade social institucionalizada, composta por regras, que
possui uma base lúdica, no qual o objetivo é determinar o vencedor ou registrar o recorde, por
meio de comparação de desempenhos. Nesse sentido, o esporte pode ser dividido em educação,
participação e performance. Sobre as três vertentes do esporte, analise as afirmativas a seguir:
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. II e III, apenas.
d. I e III, apenas.
e. I, II e III.
2. Como vimos no decorrer da unidade, a Educação Física é componente curricular obrigatório para a
Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio). Nesse contexto, analise
as alternativas a seguir e assinale aquela que corresponde ao objetivo da Educação Física escolar:
a. Ensinar o esporte.
b. Disciplinar os alunos.
c. Detectar futuros atletas olímpicos.
d. Divertir os alunos por meio de um recreio supervisionado.
e. Desenvolver em todos os alunos competências e habilidades motoras.
3. Ao longo de sua história, a Educação Física manifestou-se de várias maneiras. Houve o período
higienista, o pedagogicista e o competitivista, por exemplo. Sendo que, nesse último período,
os militares apossaram-se da EF e até hoje influenciam a maneira com que o esporte é visto
no Brasil. Apesar de ser considerado um conteúdo de docência, o ensino do esporte na escola
ainda é visto com alguma desconfiança. Com relação ao motivo dessa desconfiança, assinale
a alternativa correta:
33
agora é com você
4. “O esporte pode constituir uma importante forma de promoção da saúde. [...] Nesse sentido,
ao fomentar um estilo de vida saudável e promover os valores que lhe são próprios, o esporte
suscita um ser humano melhor”.
RESENDE, R. Iniciação Esportiva. Maringá - PR.:Unicesumar, 2018. Reimpresso em 2021. p.46.
a. V, F, F, V.
b. F, F, V, F.
c. V, V, F, V.
d. F, F, F, V.
e. V, F, V, V.
34
UNIDADE
II
MODELOS DE ENSINO PARA
A INICIAÇÃO ESPORTIVA
Oportunidades de aprendizagem
II
38
EDUCAÇÃO FÍSICA
Voltando aos exemplos de atividades, além do que foi do com sua opinião. A resposta para essa questão será
citado, há alguma outra observação a fazer com relação descrita no decorrer da unidade.
às atividades? Você notou mais algum detalhe? Alguma
outra semelhança ou diferença entre as atividades e que a. As atividades propostas são específicas para
alguma modalidade esportiva ou estas podem
não foi pontuada? Utilize seu diário de bordo para fazer
ser adaptadas para diferentes modalidades?
suas anotações acerca dos questionamentos anteriores. Justifique sua resposta e dê exemplos. Utilize,
Caso não tenha nenhuma observação, analise e mais uma vez, o diário de bordo.
reflita sobre a pergunta a seguir, e responda de acor-
Entendemos que o esporte pode ser classificado de forma mais específica, abordaremos as classificações
acordo com as diferentes formas de manifestação e a categorização das modalidades esportivas, consi-
(educação, participação e performance). Agora, de derando suas características.
39
De acordo com a descrição de Darido e Rangel ou sem a oposição de um adversário. Da mesma for-
(2011), as modalidades esportivas podem ser clas- ma, os esportes coletivos caracterizam-se pela ação
sificadas considerando o número de participantes. em grupos ou equipes e que podem confrontar (ou
Assim, as modalidades podem ser classificadas em não) outras equipes (DARIDO; RANGEL, 2011). No
esportes individuais e esportes coletivos, que ainda Quadro 1, a seguir, há alguns exemplos de modalida-
podem ser divididos considerando a presença ou não des esportivas coletivas e individuais. Além desses, há
de adversários (GONZALES, 2004). Os esportes indi- uma infinidade de outras modalidades esportivas que
viduais caracterizam-se pela atuação individual, com se encaixam dentro dessas classificações.
Modalidade esportiva Sem interação com o adversário Com interação com o adversário
Atletismo Badminton
Individual
Natação Tênis
Futebol
Ginástica rítmica Handebol
Coletiva
Nado sincronizado Basquete
Voleibol
Quadro 1 – Exemplos de modalidades esportivas individuais e coletivas / Fonte: adaptado de Darido e Rangel (2011)
Seguindo essa linha, a Base Nacional Comum Curri- cas realizadas, ou seja, reúne esportes que apresentam
cular (BNCC) (BRASIL, 2018) propõe uma categori- exigências motrizes semelhantes no desenvolvimen-
zação para os esportes, a qual considera a lógica inter- to de suas práticas. Assim, as modalidades esportivas
na das modalidades e tem como referência os critérios são classificadas em: marca; precisão; invasão; campo
de cooperação, a interação com o adversário, o desem- e taco; combate; técnico-combinatório e rede/parede.
penho motor e objetivos táticos da ação. Tal modelo A figura a seguir (Figura 1) apresenta as característi-
de categorização possibilita que as modalidades sejam cas de cada categoria, bem como as modalidades que
distribuídas de acordo com as ações motoras intrínse- fazem parte de cada uma (BRASIL, 2018 p. 216, 217).
40
EDUCAÇÃO FÍSICA
Figura 1 – Representação da categorização dos esportes e suas características, de acordo com a BNCC Fonte: adaptado de Brasil (2018 p. 216, 217)
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Considerando que nosso objetivo, aqui, é apresentar literatura, aumentando o leque de possibilidades para
informações gerais sobre a iniciação esportiva que po- um ensino mais eficaz dos JEC, seja na área do lazer,
dem ser utilizadas tanto em ambiente escolar, como da educação ou da performance.
fora dele, iremos focar nas modalidades coletivas Primeiramente, precisamos ter em mente que os
que possuem interação com o adversário, principal- modelos de ensino seguem abordagens metodológicas
mente as de invasão. Fique tranquilo, pois no decor- que podem ser classificadas em tradicionais e contem-
rer da sua formação como professor/profissional de porâneas (inovadoras). As abordagens tradicionais ou
Educação Física, você terá disciplinas específicas de analíticas, têm como foco geral a eficiência técnica por
modalidades pertencentes a outras categorias, como o meio da repetição de padrões de movimento, o que
atletismo na categoria de esportes de marca, ginástica pode gerar seletividade entre os praticantes, além de
nos esportes de técnica combinatória, algumas mo- um estado de dependência multifatorial, não só na di-
dalidades de lutas para esportes de combate, e outras mensão da prática esportiva (GASPAR, 2011).
modalidades que contemplem as demais categorias. Como exemplo de método de ensino baseado na
Conforme descrito anteriormente, as modalida- abordagem tradicional, temos o ensino particional,
des esportivas coletivas ou Jogos Esportivos Cole- também conhecido como método por partes ou analí-
tivos (JEC) exigem a interação e a cooperação entre tico, no qual as ações do jogo são divididas e trabalha-
duas ou mais pessoas que buscam superar outra dupla das de forma isolada. O objetivo desse modelo é en-
ou equipe. Essa categoria é considerada um fenômeno sinar as ações técnicas e táticas separadamente, para
esportivo moderno, devido aos poucos registros desse que os praticantes consigam realizá-las com eficiência,
tipo de atividade na antiguidade (GONZALES, 2004). unindo-as em situação de jogo (GONÇALVES, 2012).
Atualmente, as modalidades coletivas são as que
mais chamam atenção da população, devido as suas
características de interação em grupo, que, para Da-
rido e Rangel (2011, p. 186), “[...] reforçam a neces-
sidade humana de socialização, além, obviamente, do
elemento lúdico envolvido na disputa do tipo jogo”.
Nesse contexto, a legitimação do ensino do esporte,
na escola e fora dela, advém do seu próprio valor en-
quanto potencial de desenvolvimento do ser humano,
por meio de uma prática que, apesar de lúdica e praze-
rosa, exige o cumprimento de regras preestabelecidas
e, por isso, implica organização. Dessa forma, ensinar Acesse o QR code a seguir para verificar um exemplo
um jogo esportivo coletivo implica a orientação e o de atividade que tem como foco o gesto motor (téc-
comprometimento com um objetivo, exigindo esforço nica). Perceba que, durante todo o vídeo, que apre-
e persistência, qualidade de desempenho e resultado. senta o fundamento passe da modalidade futebol, a
Para que isso aconteça, ao longo dos anos, diferen- preocupação dos jogadores é totalmente voltada para
tes métodos e modelos de ensino foram descritos na a execução do fundamento.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
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detrimento do método. Os modelos de ensino são de- pois, por meio da colocação do aluno em uma si-
senvolvidos para que haja uma participação equitati- tuação de jogo de enfrentamento do adversário, ele
va, desafiando o raciocínio dos praticantes para além é estimulado a encontrar as melhores soluções para
da replicação das técnicas ou das habilidades. resolver os problemas que o jogo induz. Assim, o
A esse propósito, Metzeler (2005) refere que o aluno/atleta alcança um nível de compreensão cons-
modelo: ciente e age intencionalmente sobre a tática do jogo
(GRAÇA; MESQUITA, 2007).
A prática de jogos reduzidos oferece, igualmente,
• Fornece um plano global e uma abordagem a vantagem de permitir aos professores e treinadores
coerente para ensinar e aprender.
integrar o ensino de modalidades similares, pois a
• Clarifica as prioridades nos diferentes domínios transferibilidade entre elas é possível. Como exemplo,
de aprendizagem e de suas interações. podemos citar o popular jogo dos “10 passes” em que
• Fornece uma ideia central para o ensino. se pretende que uma das equipes mantenha a posse de
bola, em que o objetivo, para além de manter a posse
• Permite ao professor e aos alunos entenderem
de bola, é efetuar uma progressão no terreno de jogo.
o que está acontecendo e o que virá a seguir.
• Apoia-se na investigação.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
Outro exemplo bastante conhecido, é o “bobinho” No âmbito escolar, idealizar o ensino do esporte dessa
(acesse o QR code a seguir para verificar essa ativida- forma tem como grande objetivo fomentar a participa-
de na prática), citado como exemplo de atividade 2, no ção dos alunos, pois a motivação para o jogo é muito
início da unidade. Perceba que a descrição da atividade mais entusiasmante do que a realização de exercícios
2 não cita nenhum esporte em específico, podendo ser analíticos que induzem a longos tempos de espera para
adaptada para diferentes modalidades que possuem ca- entrar em atividade. Esse tipo de abordagem implica
racterísticas semelhantes (a exemplo dos jogos coleti- em o professor assumir uma intervenção que, para
vos de invasão), considerando, é claro, a especificidade além da liberdade de deixar jogar, ajude o aluno a en-
de cada uma. Nesse caso, por exemplo, enquanto o pas- contrar soluções, comunicando de forma positiva e es-
se do “bobinho” pensado para ensino do futebol pode timuladora uma reação à prestação do aluno.
ser realizado com os pés, para o ensino do basquete Nesse contexto, de acordo com Tani (2002), as
ou handebol, o passe pode ser realizado utilizando as principais caraterísticas do esporte enquanto conteú-
mãos. Outros elementos característicos das modalida- do da EF são:
des, como o tipo da bola e a forma de passar, também
podem ser adicionados pelo professor/treinador. • Ser objetivo no que diz respeito ao rendimento,
implicando consideração pelas diferenças indi-
A ideia geral, nesse caso, é que indiferente de qual
viduais, nomeadamente, as caraterísticas físicas,
modalidade seja, a atividade do “bobinho” reproduz psicológicas, sociais e culturais dos alunos.
situações que acontecem durante o jogo de fato, por
exemplo, realizar um passe tendo a figura de um (ou • Levar em consideração as diferenças individu-
mais) adversário que tentará “roubar” a bola. ais quanto às expectativas individuais, às aspi-
Lembrete: utilize essas informações para ela- rações e aos valores.
borar sua resposta para a pergunta “a”, feita no
• Estabelecer metas de desempenho realistas,
início da unidade. evitando, por um lado, a superestimulação e,
por outro, a subestimulação.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
ção mais igualitária entre os estudantes, desafiando Uma das primeiras preocupações é evitar que o jogo
o entendimento do esporte para além das execuções se torne uma obsessão, dessa forma, colocando aos
técnicas e habilidades respectivas. alunos questões como: o que fazer? Quando fazer?
O ensino centrado no aluno, no qual esse mo- Como fazer? O contexto do jogo tem precedência
delo se apoia, pretende proporcionar sucesso em uma sobre o ensino das técnicas. Assim, a escolha da for-
grande variedade de jogos, explorando as técnicas e ma do jogo é crucial e será determinante para que
táticas que lhes são comuns, como “o passar e desmar- não faça uso de técnicas que impeçam a sua reali-
car”, “encontrar espaços vazios” ou “abrir linhas de zação. Consequentemente, deve permitir aos alunos
passe”. Assim, o professor ou o treinador centra o seu enfrentar de forma inteligente as situações coloca-
foco no ensinar a jogar ao invés de ensinar as técnicas das, interpretá-las, identificar uma possibilidade de
específicas de cada modalidade. Os alunos devem exe- solução e, consequentemente, agir intencionalmente
cutar estratégias apropriadas à complexidade do jogo de acordo com os objetivos.
e empregar tempo satisfatório para jogar. Acesse os QR codes a seguir para visualizar exem-
plos de atividades que podem ser utilizadas no mode-
lo TGfU. O primeiro vídeo apresenta o “jogo dos 10
O foco pedagógico desse modelo é: passes”, baseado na modalidade basquetebol, no qual
1. Representar jogos complexos de forma sim- o objetivo é realizar 10 passes entre os jogadores da
plificada. mesma equipe, sem que a equipe adversária recupere
2. Modificar os princípios do jogo em si, de forma a bola. No segundo vídeo, é apresentada uma ativida-
a diminuir as suas exigências. de de jogo reduzido, “4 x 4”, ou seja, em um espaço
menor e com número menor de jogadores que a quan-
3. Exagerar procedimentos no sentido de salien-
tidade oficial, baseado na modalidade futebol. Obser-
tar determinados aspectos do jogo que são
ve que ambas as atividades contemplam as situações
importantes para a sua compreensão.
de “passar e desmarcar”, “encontrar espaços vazios” e
“abrir linhas de passe”, mencionadas anteriormente.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
Figura 2 – Ciclo do modelo de ensino TGfU / Fonte: Adaptado de Graça e Mesquita (2007)
Descrição da Imagem: a imagem é um fluxograma que representa o ciclo do modelo de ensino dos esportes por meio do modelo TGfU em
seis passos. O fluxograma inicia com uma caixa de texto centralizada, com a descrição “Jogo” e segue com uma flecha para a esquerda, para
a próxima caixa de texto, que representa “Apreciação do jogo”. Abaixo, indicada também por uma flecha, há a caixa de texto da “Consciência
tática”. Em seguida, indicada por uma flecha para a direita, há uma caixa de texto maior, centralizada, que representa a “Tomada de decisão” e
possui a descrição “o que fazer/como fazer”. Seguindo para a direita, apontada por uma flecha, há a caixa de texto descrita como “Habilidade
de execução”. Em seguida, uma flecha para cima, apontando para a caixa de texto da “Performance”, que finaliza o fluxograma com uma fle-
cha em direção à primeira caixa de texto, “Jogo”, fechando o ciclo. Ao centro do fluxograma, há uma caixa de texto descrita com “Aluno”, para
representar o foco do modelo de ensino.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
que numa sociedade onde formas superiores de ativi- Para concretizar tudo isso, os alunos são chamados a
dade lúdica são perseguidas vigorosamente por todas desempenhar diferentes papéis além de jogar. À medi-
as pessoas, a sociedade é mais madura” (CURTNER- da que a “época” progride, o professor altera um estilo
-SMITH; SOFO, 2004, p. 347). de ensino mais diretivo para um estilo menos diretivo
Dessa forma, tem como fim mais específico gerar pes- e mais centrado no aluno. Dessa forma, ao aumentar
soas com competência esportiva, literadas e entusiásticas. a responsabilidade em todos os aspectos do ambien-
te de aprendizagem sobre os alunos, gradualmente, o
professor assume mais um papel de facilitador.
A importância que a competição tem como ele-
• Uma pessoa competente no esporte é
mento central da experiência esportiva exige critérios
aquela que possui habilidade, entende e cuidadosos na criação das equipes e pretende fazer
executa a estratégia de jogo de forma a uma clara distinção entre o treinar (preparar para a
participar com sucesso no jogo. competição) e o competir.
O modelo visa, igualmente, evidenciar o com-
• Uma pessoa com conhecimento espor-
ponente diversão e a competência esportiva, que se
tivo é aquela que entende os valores e
tradições do esporte, assim como os seus
traduz na prática da competição esportiva institucio-
rituais e regras, além de ser capaz de dis- nalizada. O que faz todo o sentido, pois competir e
tinguir uma boa de uma pobre realização. esforçar-se pela vitória é inerente à prática do jogo e à
cultura esportiva que lhe está subjacente.
• Um esportista entusiasta é aquele que
Como princípios fundamentais dos conteúdos de
participa de forma a melhorar, preservar
e proteger a cultura desportiva.
ensino da EF e do esporte, o espírito da competição
deve fundar-se em um forte espírito ético de respeito
pelo jogo e por todos os que nele intervêm. É funda-
mental que a competição favoreça a participação de
A ideia contida nesse modelo será a de introduzir o todos e, com isso, o seu desenvolvimento pessoal,
conceito de época desportiva, que: criando a oportunidade de todos jogarem e, por via
disso, aprenderem a jogar.
• Articula a prática desportiva com a institucio-
Possuindo uma orientação que pretende ver to-
nalização de clubes.
dos os alunos incluídos no processo, o modelo de
• Junta a filiação duradoura e a competição ca- Educação Esportiva tem que saber lidar com valores
lendarizada com a conservação de registos de um pouco divergentes, que são ganhar e garantir que
resultados e estatísticas dos desempenhos in- todos tenham oportunidade de participação efetiva
dividuais e de grupo.
no jogo. Nesse sentido, a esse modelo é importante
• Atribui papéis e funções que compõem o en- corresponderem formas de jogo adequadas às capa-
volvimento desportivo (capitães, treinadores, cidades dos alunos, motivando e mobilizando a sua
árbitros, diretores, jornalistas, dentre outras participação de forma relevante.
possíveis funções).
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Nesse período, que compreende os primeiros anos de Compreende o período entre os 6 e 12 anos de idade
vida da criança, o foco deverá ser nas diversas pos- e pode ser considerada a fase mais ampla e rica em
sibilidades de movimentos. Ou seja, o professor/pro- movimentos do processo de formação esportiva. É
fissional de Educação Física deverá propor atividades importante salientar que, nesse período, as ativida-
que proporcionem uma vivência ampla de movimen- des esportivas sistemáticas não devem ultrapassar
tos, sem que haja preocupação com a execução. De três vezes por semana, para que não haja interferên-
acordo com Krebs (1992), “o padrão de movimento cia em outros interesses e necessidades que a criança
deve ser tomado apenas como estímulo para que a possa apresentar.
criança construa seu próprio padrão motor” (apud Como nessa fase a criança já apresenta habilidades
GRECO; BENDA, 1998, p. 66). básicas de locomoção, manipulação e estabilização, já
Para isso, indica-se a realização de atividades bási- é possível a apresentação de atividades motoras mais
cas de descolamento, equilíbrio, coordenação, esque- complexas. Entre a faixa etária de 7 a 10 anos de ida-
ma corporal, espaço-temporal etc., em forma de jogos de, denominada estágio geral ou transitório, a criança
de estafetas, de imitação, perseguição e outros. já é capaz de combinar e aplicar habilidades motoras
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fundamentais. Já no estágio de habilidades específicas, tivas diversas. Salienta-se que essa iniciação técnica
dos 11 aos 13 anos de idade, há um maior desenvolvi- não deve visar a perfeição do gesto técnico. A ideia
mento cognitivo e físico, o que somado aos fatores cul- é que haja uma passagem pelas técnicas das diferen-
turais, possibilitam à criança utilizar suas capacidades tes modalidades esportivas, observando as exigências
motoras dentro de estruturas esportivas mais definidas que se apresentam em cada uma delas.
(GALLAHUE, 1989 apud GRECO; BENDA, 1998). Indica-se a realização de jogos com diferentes for-
De modo geral, podemos entender que crianças mas de organização (jogos de iniciação, pré-desporti-
de 6 a 8 anos devem trabalhar com jogos de perse- vos, grandes jogos, jogo recreativo etc.) a partir do as-
guição, estafetas, dentre outros. A partir dos 8 a 10 pecto recreativo, porém, com teor educativo, pois serão
inicia-se os aspectos esportivos por meio de jogos re- estabelecidas as bases para uma “ação inteligente”.
duzidos, jogos de iniciação, grandes jogos e em alguns
casos, jogos pré-desportivos. FASE DE DIREÇÃO
O foco nessa fase é desenvolver todas as capacidades
motoras e coordenativas gerais, criando uma base ampla Abrange o período entre os 13/14 anos a 15/16 anos.
e variada de movimentos, utilizando de atividades que A frequência de atividades esportivas sistematizadas
exaltem o aspecto lúdico. Temos sempre que lembrar indicadas continua de três vezes semanais, para que
que a criança e/ou o adolescente não são “miniadultos”. não haja conflito com os demais interesses e neces-
sidades do jovem.
Nessa fase, inicia-se a especialização técnica em
uma modalidade esportiva. Todavia, os autores des-
Considerando os esportes de invasão, quais tacam a importância de o jovem participar de duas
capacidades podem ser aprimoradas a partir ou mais modalidades, de preferência complementares
da atividade do “pique bandeira”? (que possuam características semelhantes, como por
exemplo modalidades coletivas de invasão), para que
não haja dificuldade nos processos de transferência de
técnica-tática. De acordo com Greco e Benda (1998),
FASE DE ORIENTAÇÃO a participação em diferentes modalidades possibilita a
“variabilidade prática” no processo de ensino-apren-
Inicia-se entre os 11-12 anos e vai até os 13-14 anos dizagem-treinamento, conceito que é de fundamental
de idade e possui uma frequência média recomenda- importância para o desenvolvimento de habilidades
da de atividades esportivas sistemáticas de três encon- motoras e do treinamento técnico-tático, além de evi-
tros semanais, com duração entre 60 a 90 minutos. tar a especialização precoce.
Nessa fase, busca-se o desenvolvimento e evolução Ao fim dessa fase, o jovem terá um acervo mo-
das capacidades físicas e técnicas adquiridas nas fases tor que permitirá, de acordo com suas necessidades e
anteriores. O objetivo dessa fase é a iniciação técnica, interesse, optar por escolher a prática esportiva com
ou seja, o gesto motor de forma global ou ações moto- vistas ao alto nível de rendimento.
ras gerais que possam ser utilizadas em tarefas espor-
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Abrange dos 18 aos 21 anos e pode ser considerada A fase de recuperação visa a readaptação do ex-atleta
o momento mais importante na transição para uma à sociedade, bem como a aplicação de atividades físi-
possível carreira esportiva. Nesse momento, a fase de cas e programas adequados, que contribuam para o
crescimento está finalizada, resultando em um bioti- destreinamento de maneira gradativa, conduzindo-o
po corporal específico, além dos traços psicológicos ao esporte como forma de benefício à saúde (GRECO;
do jovem adulto. BENDA, 1998, p. 75).
Nessa fase, além da otimização das capacidades
técnicas, táticas e físicas, também é essencial um espa- FASE DE RECREAÇÃO E SAÚDE
ço de tempo para que haja a otimização também das
capacidades psíquicas e sociais. Na última, as experiências passadas e presentes em ativi-
dade física devem proporcionar ao indivíduo estrutura
FASE DE ALTO NÍVEL básica de programas de atividade física que assegurem
os efeitos positivos na manutenção da função fisiológica.
Nessa fase, os domínios técnico-tático-psíquicos A Figura 3, a seguir, apresenta a estrutura tempo-
atingidos na fase anterior serão aprimorados, consi- ral da IEU em uma linha do tempo, considerando a
derando o aumento da carga de treinamento, no que faixa etária e a experiência do indivíduo. De acordo
se refere ao volume, intensidade e densidade e, “con- com os autores, essa classificação estrutural pode ser
sequentemente, será dirigido o processo para a meta considerada tanto na escola quanto em instituições
de otimização dos processos cognitivos (em relação à especializadas, como escolinhas de iniciação. Lem-
situação esportista/alto rendimento/estilo de vida) e brando que iniciação esportiva propriamente dita vai
psicológicos” (GRECO; BENDA, 1998, p. 75). até a fase de especialização e que as demais fases com-
pletam o ciclo esportivo (GRECO; BENDA, 1998).
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EDUCAÇÃO FÍSICA
Figura 3 – Fases e níveis de rendimento esportivo considerando a duração, a frequência de treinamento e a idade
Fonte: Greco e Benda (1998, p. 77)
Descrição da Imagem: o infográfico apresenta cada uma das nove fases da estrutura temporal do modelo de ensino IEU, cada uma inserida
dentro de uma caixa de texto, com as bordas em preto, detalhando as informações da idade, duração e a frequência das sessões de treinamento
para cada uma delas. Cada caixa de texto está interligada por uma linha do tempo de acordo com a faixa etária e a experiência dos praticantes. As
informações são apresentadas na vertical, de baixo para cima. No canto inferior direito, inicia-se com a caixa de texto da fase pré-escolar (idade: 3
a 6 anos; duração: 4 a 5 anos e frequência: 2 a 3 vezes). Em seguida, temos a caixa de texto da fase universal (idade: 6 a 12 anos; duração: 6 anos e
frequência: 2 a 3 vezes), seguida pela fase de orientação (idade: 12 a 14 anos; duração: 2 a 4 anos e frequência: 2 a 3 vezes) e a fase de direção (idade:
14 a 16 anos; duração: 2 a 4 anos e frequência: 3 a 4 vezes). Em diagonal, logo acima, há a caixa de texto da fase de especialização (idade: 16 a 18
anos; duração: 4 a 5 anos e frequência: 3 a 4 vezes). Seguindo em diagonal para a esquerda da página, há a caixa de texto da fase de aproximação
(idade: 18 a 21 anos; duração: 4 a 5 anos e frequência: 2 a 3 vezes), finalizando com a fase de alto nível (idade: acima de 21 anos; duração: 6 a 10
anos e frequência: 8 a 10 vezes), no canto superior esquerdo. Abaixo da caixa de texto da fase aproximação, seguindo em linha reta, acima da caixa
da fase de direção, há a caixa de texto da fase de recreação e saúde (idade: acima dos 16 anos; sem tempo de duração e frequência: 2 a 3 vezes).
Para finalizar, logo acima, em linha reta, há a caixa de texto da fase de readaptação, no canto superior direito, (sem descrição para idade; duração:
2 a 5 anos e frequência: 2 a 3 vezes). No canto inferior esquerdo da página, há a caixa de legendas, na qual a letra I representa a idade; a letra D,
duração do período; a letra F, de frequência semanal de treinamento; e o símbolo hífen, que significa sem determinação específica.
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Nessa unidade, abordamos algumas informações e Para isso, ele terá que idealizar a sua intervenção
conceitos importantes acerca dos esportes e suas clas- de uma forma contextualizada a cada grupo que li-
sificações, e apresentamos modelos de ensino que ex- dera, pautando a sua intervenção adequadamente,
põem estratégias agregadoras para ensinar o esporte com o intuito de fazer as crianças e os jovens tirarem
de forma motivadora e prazerosa, não esquecendo o máximo partido da atividade. Tendo em mente a
que é quase inerente ao ser humano gostar de jogar. inclusão e a valorização de todos, será determinante
Os modelos de ensino apresentados fazem con- equacionar estratégias que evidenciem todos os as-
traponto aos métodos tradicionais que fragmentam pectos relacionados ao jogo e à competição esportiva
o jogo em habilidades técnicas, e propõem o ensino de forma saudável.
do esporte dentro de um aspecto construtivista, con- É importante ressaltar que não há um modelo que
siderando a complexidade e espontaneidade de cada seja melhor ou pior. Dada a singularidade de cada in-
modalidade e enfatizando a tomada de decisão e in- divíduo no processo pedagógico, alguns modelos po-
tervenção em situações e problemas impostos pelo dem ser mais adequados para uma turma, por exem-
jogo em si. No centro da aplicação dessas estratégias plo, e menos adequados para outras. Assim, caberá ao
de ensino está o professor, que, pelo seu empenho e professor analisar o contexto no qual está inserido e
competência, ensinará a criança e o jovem a jogar. optar pela proposta de modelo mais adequada.
62
agora é com você
PORQUE
II. São esportes em que as equipes dividem o mesmo campo de jogo e buscam
invadir o campo adversário para marcar ponto e/ou gol.
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I e II, apenas.
e. II e III, apenas.
63
agora é com você
4. O modelo do ensino dos jogos para a sua compreensão (Teaching Games for
Understanding - TGfU) faz oposição a um ensino tradicional e propõe uma
forma de ensinar na qual o próprio jogo fosse a sua essência, promovendo
a participação mais igualitária entre os estudantes e desafiando o entendi-
mento do esporte para além das execuções técnicas e habilidades respectivas.
Considerando as características do modelo de ensino TGfU, analise as afirma-
tivas a seguir e assinale V para verdadeiras e F para falsas:
a. V, V, V.
b. F, F, V.
c. V, V, F.
d. F, V, V.
e. F, V, F.
64
agora é com você
I. No modelo de ensino TGfU, os aspectos táticos são abordados antes dos as-
pectos técnicos através de jogos variados.
II. No modelo IEU, o processo de ensino se desenvolve a partir de capacidades co-
ordenativas e habilidades técnicas globais que formam a base do treinamento.
III. O modelo de Educação Esportiva prega o ensino esportivo por meio de um
contexto lúdico e caracteriza-se principalmente pela cooperação entre alunos
e professores.
a. II, apenas.
b. I e II, apenas.
c. I e III, apenas.
d. II e III, apenas.
e. I, II e III.
65
CONHECIMENTOS E
COMPETÊNCIAS DO TREINADOR
Oportunidades de aprendizagem
III
É fato que para desempenhar com qualidade qual- trapessoal). No decorrer desta unidade, você verá cada
quer atividade profissional, é necessário possuir um um desses conhecimentos de forma mais completa.
conjunto de conhecimentos que permitam atuar com
competência. Antigamente, no caso do treinamento • Conhecimento profissional – refere-se à ba-
gagem teórica e prática do professor/treinador,
esportivo, para ser professor ou treinador, considera-
relacionada especificamente com a modalida-
va-se suficiente o domínio do conteúdo específico da de de atuação.
modalidade. Ou seja, ter sido um atleta preconizava
requisitos suficientes para exercer a atividade. Mas • Conhecimento interpessoal – está ligado ao
será que somente conhecer os fundamentos e regras modo de se relacionar com as demais pesso-
da modalidade é suficiente? Você acredita que, por as. Nesse caso, seria a forma de relação entre o
professor/treinador, o atleta e as demais pesso-
exemplo, para ser um bom treinador, é necessário
as que fazem parte do contexto esportivo.
ter sido um bom atleta? Será que um indivíduo sem
histórico de prática de uma modalidade pode vir a se • Conhecimento intrapessoal – refere-se ao
tornar um bom professor ou treinador? autoconhecimento, ou seja, à capacidade de se
Os problemas e as situações com os quais o trei- relacionar com suas próprias emoções e senti-
nador se depara durante o processo de iniciação ou mentos e a como aplicar essas ferramentas em
nossas vidas.
treinamento esportivo são muito mais abrangentes que
aqueles contidos no esporte por si só. Carece o pro-
fessor/treinador de adquirir um conjunto de conheci- A partir desses conceitos, pense em quais caracte-
mentos para lidar com o processo de treino de forma a rísticas ou qualidades necessárias para ser um bom
promover os que nele estão envolvidos. A sua instrução professor/treinador se encaixam em cada um desses
não tem uma via única e pode ser obtida de diversas conhecimentos, seguindo o exemplo a seguir:
formas. O mais importante é que as formações obtidas
Conhecimento Característica/qualidade
ao longo da sua carreira mobilizem a sua capacidade
de pensar, decidir e refletir a sua prática de forma con- Profissional Boa didática
tínua. Além disso, a atuação deve ter uma base peda- Saber incentivar seus
Interpessoal
alunos/atletas
gógica que permita o melhor desenvolvimento desses
Intrapessoal Autocontrole
atletas de acordo com os valores inerentes ao esporte.
Em resumo, para promover a eficácia da sua atividade, Quadro 1 – Características do professor/treinador
Fonte: o autor
o professor/treinador deverá desenvolver conhecimen-
tos de nível profissional, interpessoal e intrapessoal.
Para facilitar o entendimento, que tal pensarmos Pensou? Utilize o espaço do diário de bordo para des-
nesses conhecimentos de forma mais prática? Primei- crever outras características ou qualidades que, ao seu
ramente, vamos aos conceitos relacionados aos tipos de ver, um bom professor/treinador deve possuir. Descreva
conhecimentos citados (profissional, interpessoal e in- uma ou mais, para cada um dos conhecimentos citados.
68
EDUCAÇÃO FÍSICA
69
A figura do treinador surge de forma pouco respeitada, Os treinadores, genericamente, emergiram do in-
pois no início da sua popularização, o esporte não era terior da própria atividade como antigos atletas, fa-
considerado conteúdo de ensino (DURING, 1994). De zendo uso do seu conhecimento e de suas habilidades
acordo com o autor citado, os pedagogos ingleses indi- práticas, adquiridas durante o tempo em que estive-
cavam que a passagem das regras do jogo para as regras ram eles próprios em competição. Aproveitando essa
da vida era tão mais eficiente quanto mais discreta fosse experiência, eles formularam os seus próprios méto-
a interferência do adulto. Nesse sentido, o esporte ser- dos de treino, assim como os entendimentos acerca
viria para educar de forma cívica e moral por si só e, das técnicas e as abordagens competitivas. Como ne-
por isso, não carecia de professores. nhuma geração pode ser imune aos desenvolvimentos
70
EDUCAÇÃO FÍSICA
contemporâneos, os treinadores mais aptos experi- só pode ser adquirido pela prática e por meio da expe-
mentaram e aplicaram conhecimentos inovadores. riência, observação, ensaio e erro.
No século XIX, a expertise na preparação espor- Apesar do aumento institucional da ciência, a prá-
tiva passava, essencialmente, pelas comunidades de tica no treino continuou a usar o conhecimento tradi-
prática, no sentido em que a partilha dos mesmos cional em todos os estádios do processo e, ainda que
problemas encorajava a procura de novas soluções. A sistemáticos na sua abordagem, os treinadores consis-
essa altura, aumentou muito o número de fontes aces- tentemente se descreveram como práticos. Aliás, essa
síveis aos treinadores. A produção de manuais que se dicotomia entre aqueles que se intitulavam como práti-
referiam aos métodos de treino, à psicologia, à ajuda cos (antigos atletas que, após o término da sua carreira
ergogênica e à dieta ajudaram a entender a evolução de sucesso, tornaram-se treinadores) e os teóricos (ha-
do processo de treino. Contudo, não são perceptíveis bitualmente, os que vinham do mundo acadêmico e,
os aspetos mais implícitos do treino, a prática deste não raramente, sem currículo esportivo de grande des-
por si mesma, pois é assumido que esse conhecimento taque) ainda constitui uma realidade nos dias de hoje.
71
72
EDUCAÇÃO FÍSICA
73
Com a crescente exigência competitiva e os montan- uma pessoa culta. A razão pela qual chamamos a aten-
tes econômicos envolvidos, a direção do processo de ção para a palavra “culto” advém do fato de se requerer
treino de alto rendimento é liderado por um treina- que um treinador concentre em si muito mais que o co-
dor que reúne uma equipe de especialistas sob as suas nhecimento e o domínio específicos de um esporte. Ele
ordens. Podemos enumerar como exemplo: os assis- deverá ter uma profunda consciência do mundo que o
tentes diretos do treinador em campo, depois, os que rodeia e promover os valores sociais e culturais, incen-
colaboram de forma mais indireta, como o médico e o tivando a participação cívica de todos os envolvidos.
fisioterapeuta, ou o estatístico e o scouter (técnico cuja Questiona-se, então, quais tipos de conhecimen-
missão é observar a equipe adversária), dentre outros tos serão necessários para o treinador exercer com
profissionais que cuidam para que nada falte aos atle- competência e eficácia a sua função. Como já afirma-
tas na busca da sua melhor performance. mos, a atividade do treinador é complexa e apela a um
Como consequência, a preparação para ser treina- domínio de matérias que extravasam o âmbito do trei-
dor de elevado rendimento, um líder de um processo no, dos atletas ou da competição. Implica saber como
de treino, exige o domínio de conhecimentos que lhe colocar em prática uma atividade desportiva (ou um
permitam “digerir” todo o manancial de informação processo de treino), mas, igualmente, possuir uma
que os seus colaboradores lhe trazem para, assim, to- compreensão crítica de como o conhecimento deve
mar as decisões mais adequadas. ser relacionado com a prática de forma adequada.
Mas quais, então? O que é preciso para ser treina- Consequentemente, o treinador necessita desen-
dor? Como fazer para ser um bom treinador? Medir a volver competências que vão ao encontro do contexto
qualidade desse profissional pelos resultados desporti- em que ele atuará e de acordo com as necessidades
vos alcançados é uma visão muito redutora da sua ati- dos atletas. Ao ampliar a sua experiência, ele precisa
vidade, apesar de ser essa a forma mais vinculada ao alargar o seu leque de conhecimentos, suportados nas
senso comum. Exploraremos a razão pela qual consi- diferentes ciências que apoiam o esporte, como são as
deramos que o treinador necessita de amplos conheci- ciências biológicas, as ciências sociais e as metodolo-
mentos para desempenhar com sucesso a sua atividade. gias de treino, nas quais se inserem com cada vez mais
A complexidade e a responsabilidade do treina- premência as novas tecnologias. Para alcançar esse
dor não se extinguem no domínio e no conhecimento objetivo, o treinador terá de se envolver em ações de
específico da modalidade (nos seus aspectos técnicos, formação de caráter formal, não formal e informal. A
táticos e estratégicos), pois a generalidade das solici- seguir, serão definidos esses conceitos.
tações às quais ele é sujeito extravasa, em muito, esse
tipo de competência. O treinador assume múltiplos • Formação regular é aquela que decorre em um
contexto cuja aprendizagem ocorre em am-
papéis, dentre os quais o de líder, amigo e confidente
bientes institucionalizados, como os cursos de
e, por vezes, de pai ou de mãe. ensino superior relacionados à Educação Físi-
Nesse contexto, esta unidade pretende elucidar ca e às Ciências do Esporte, e programas con-
a complexidade que envolve a atuação do treinador e vencionais de certificação de treinadores, que
que, por consequência, exige um leque grande de co- são ofertados por organizações governamen-
nhecimentos, os quais devem despontar a partir de tais ligadas ao esporte.
74
EDUCAÇÃO FÍSICA
• Aprendizagem não formal acontece pelo en- • A aprendizagem informal resulta de um proces-
gajamento em atividades sistematicamente or- so contínuo de formação que se prolonga du-
ganizadas, ocorridas fora do ambiente formal. rante toda a vida. Ocorre por meio da interação
Os locais onde essas ações se desenvolvem são com outros treinadores pelas experiências pro-
variados, e as atividades, geralmente, são dire- fissionais vivenciadas diariamente, das reflexões
cionadas a grupos específicos. As conferências, sobre a própria atividade, dentre outros.
workshops, seminários e cursos de curta du-
ração oferecidos pelas federações são alguns
exemplos desse contexto de aprendizagem.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
77
OLHAR CONCEITUAL
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EDUCAÇÃO FÍSICA
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• Recorro de forma suficiente à tecnologia dispo- • Como proceder quando a tradição da equipe
nível? ou do clube não são equitativas ou são injustas?
80
EDUCAÇÃO FÍSICA
Conjuntamente, esses níveis de reflexão podem auxi- ra proporcionar-lhes autonomia, e tem como meta a
liar o treinador em sua tarefa de adequar a sua ativi- construção de uma carreira atlética prolongada, com
dade ao contexto em que ela ocorre. Concretamente, ênfase na manutenção de um estilo de vida saudável.
o treinador se depara sempre com uma situação única A forma qualificada como o treinador comuni-
em face da especificidade dos seus atletas (idade, sexo, ca, explica e demonstra é decisiva para o processo de
nível de desenvolvimento, dentre outras), do ambiente aprendizagem e motivadora do seu sucesso. Se o trei-
sociocultural e das condições materiais que ele usufrui. nador conceber empenhamentos de prática que promo-
Naturalmente, não existem situações de treino iguais, vam a motivação para a aprendizagem, o atleta reforça a
pois todas as soluções deverão ser específicas e de acor- sua aptidão e o seu comprometimento com a atividade.
do com o conhecimento desenvolvido pelo treinador. O treino intenciona desenvolver os atletas em
Os conhecimentos adquiridos pelos treinadores quatro domínios (4Cs – competência, confiança, co-
devem resultar nas aprendizagens dos atletas. Nesse nexão e caráter) (ERICKSON; GILBERT, 2013). Con-
sentido, é importante operacionalizar a sua interven- tudo, o treinador deverá estar consciente de que esse
ção a partir de uma base de atuação pedagógica que, desenvolvimento se circunscreve em um contexto
por sua vez, permita o melhor desenvolvimento do esportivo específico. Será importante considerar que
atleta de acordo com os valores inerentes ao esporte. essa proposta se insere na perspectiva de desenvolvi-
A ação do treinador com relação aos atletas procu- mento positivo do jovem enquanto praticante espor-
tivo e enquanto ser humano. Segue o Quadro 2 sobre
os quatro domínios (4Cs):
81
Confiança É a percepção que um atleta possui acerca do seu valor pessoal em termos globais
e esportivos, nomeadamente por meio da sua autoestima e autoeficácia. É deter-
minante que essa característica seja equacionada na qualidade da participação
esportiva. Nessa particularidade, o tempo (continuidade) despendido, assim como
a intensidade pelo número de anos em que o atleta esteve comprometido com
uma determinada atividade, é determinante para avaliar os efeitos positivos que o
esporte pode ter na formação pessoal do atleta como pessoa.
Conexão Constitui-se das obrigações positivas e das relações sociais que os atletas criam
com as pessoas, dentro e fora do esporte. Constitui-se das medidas de qualidade
criadas, assim como do grau de interação com os pares, treinadores, dirigentes e
outros envolvidos no ambiente esportivo.
Caráter Engloba o respeito com o esporte e com os outros (conceito de moralidade), a inte-
gridade, a responsabilidade e a empatia genericamente estabelecida. O caráter, no
esporte, está tipicamente relacionado com os comportamentos sociais e a preven-
ção de comportamentos antissociais.
82
EDUCAÇÃO FÍSICA
Os três últimos domínios constituem medidas psicos- habilidades e envolver-se num estilo de vida saudá-
sociais que revelam a importância para a construção de vel; e outra, que abrange o esporte de performance,
um atleta, sustentando a relevância que deve ser atribu- em que o desenvolvimento de capacidades atléticas e a
ída à sua compreensão para um treino mais eficaz. sua colocação em evidência surgem por meio da com-
Tendo em conta o desenvolvimento holístico do petição (RESENDE; GILBERT, 2015, p. 29).
jovem atleta e respectiva contextualização em que se No Quadro 3, estão expostas as características que
desenrola a prática esportiva, o treinador deve estar um treinador de jovens deve ter para ser eficaz. Relacio-
consciente dos diferentes tipos de participação es- na-se à busca pelo melhor desempenho esportivo com os
portiva que com os quais se pode deparar nos jovens. resultados psicossociais positivos dos seus atletas (ERI-
Aqui, surge uma nova forma de estar no esporte e que CKSON; GILBERT, 2013). Os autores referenciam que os
implica uma posição substancialmente diferente da treinadores que fomentam a autonomia parecem ter uma
vivida no meio esportivo até recentemente. melhor resposta por parte das crianças e jovens, pois es-
Identificam-se dois tipos de participação esporti- ses profissionais promovem uma atmosfera de conheci-
va: uma em que os atletas procuram, como resultado mento por meio do esforço pessoal em vez de procurar
da sua prática o divertimento, o desenvolvimento de evitar a incompetência (o erro, o fracasso ou a derrota).
Características de treino
Construto Exemplos práticos
eficiente
• Questionar os atletas.
• Promover a discussão.
Interatividade
Encorajar. • Confirmar verbalmente o entendimento
com o atleta
por parte dos atletas sobre os conceitos/
instruções.
Quadro 3 - Qualidades de treinadores de jovens eficientes / Fonte: Erickson e Gilbert (2013, p. 30)
83
A qualificação do processo de treino deve incidir aspectos pessoais e emocionais do atleta, além do
nas necessidades dos atletas em cada momento contexto em que este se insere, o qual determina a
do treino, de forma que eles possam alcançar os sua identidade social.
seus objetivos (os quais podem ser distintos uns Dentro desse contexto dos conhecimentos
dos outros, mesmo em um grupo muito similar). e competências do treinador, também é neces-
De acordo com Côté (2009), e levando em conta sário entender a caracterização do esporte ju-
os contextos de treino, é fundamental relacionar venil. A cultura juvenil, pelo menos no mundo
as etapas de formação dos praticantes com as desenvolvido, expressa-se de forma muito idên-
exigências de performance de cada modalidade tica. A maneira como os jovens gastam o seu
esportiva. Desenvolver um conceito de formação
esportiva abrangente e plural deve fundamentar
a ação do treinador no sentido da qualificação da
prática esportiva.
Assim, um treinador deve assumir uma abor-
dagem holística na sua intervenção, considerando
o processo de treino de uma forma integrada e
que solicita diversos conhecimentos, como são os
84
EDUCAÇÃO FÍSICA
85
integração social por meio do esporte, mas também servando que essas abordagens foram inadequadas
têm um impacto profundo nas consequências psico- ou infrutíferas. Este será, eventualmente, um tema ao
lógicas que daí resultam. Considera-se, por isso, mais qual a investigação deverá dar maior atenção, no sen-
importante que estas experiências sejam positivas e tido de propor programas de formação dos pais quan-
fomentadoras de uma atitude perante a vida, atitude do envolvidos no esporte dos seus filhos.
esta que seja, acima de tudo, saudável. No extremo Para além da família (agente primário), a escola
contrário, Gomes (2011) aponta exemplos negativos (agente secundário), fundamental na adesão e perma-
de pais que colocam expectativas elevadas na per- nência no esporte, possui, na generalidade dos currí-
formance esportiva dos filhos, fomentando níveis de culos, a disciplina de Educação Física. Esta tem como
pressão tão elevados que podem tornar a experiência importante função promover o conhecimento espor-
esportiva desagradável e indesejável e, por isso, levan- tivo e possibilitar o primeiro contato com esse meio.
do ao seu abandono de uma forma precoce. Nesse contexto, pode ser determinante a forma empe-
nhada com a qual professor de Educação Física leva
à prática e constrói a sua atividade, o relacionamento
que estabelece com os alunos e o entusiasmo que ele
lhes provoca para que continuem a praticar esporte
Título: Glory road - Es-
(RESENDE et al., 2014). Os mesmos autores afirmam
trada para a glória
que, além de influenciar positivamente os alunos para
Ano: 2004
Sinopse: o filme, que se aderirem à prática esportiva, o professor de Educação
passa em 1966, conta Física, muitas vezes, estabelece e promove contatos
a história do primei- entre a escola e o clube esportivo, seja este escolar ou
ro time de basquete federado. O meio onde se insere a criança e o jovem
formado apenas por poderá conter fortes estímulos para potencializar a
negros como titulares. Em um momento de adesão ao esporte. A identidade social dos grupos
grande discriminação racial, o treinador Don aos quais se associa o jovem, quando este inicia a sua
Hanskins os avalia por suas habilidades, e luta exploração do mundo para além do círculo familiar
para o fim do preconceito racial, levando o time mais próximo, é determinante para a construção da
à vitória. Baseado em fatos. sua personalidade. Nesse sentido, os interesses co-
muns poderão catalisar a aderência e a permanência
no meio esportivo, pois, para os jovens, a participação
esportiva é motivadora e facilitadora de relações so-
Reforçando essa perspectiva, Ross, Mallett e Parkes ciais (GREEN, 2010).
(2015), em uma investigação qualitativa com treina- Apesar de não constituir um objetivo do presente
dores de jovens australianos e a sua interação com os trabalho, não há de se descuidar da importância que
pais, se referem, consideravelmente, a mais interações aqueles que se configuram como líderes entre os jo-
negativas do que positivas. Alguns participantes re- vens têm na forma como estes enfrentam a participa-
portaram, ainda, esforços na formação dos pais, ob- ção esportiva (PRICE; WEISS, 2011).
86
EDUCAÇÃO FÍSICA
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rio, Muir et al. (2011) referem-se à existência de dois sistente. Dessas duas situações derivam, no primei-
tipos de abordagem ao processo de treino que envolve ro caso, programas demasiado exigentes ao nível de
as crianças e os jovens, sendo que em nenhum deles volume de treinos, de competições e de pressão para
são equacionadas as suas necessidades de desenvol- vencer. Na situação considerada mais de lazer, a prá-
vimento em longo prazo. Um é o esporte de elevado tica, quando tão livre e pouco exigente, dificilmente
rendimento reproduzido pelos adultos (em que, mui- faz ocorrer o desenvolvimento, sobressaindo apenas
tas vezes, ocorre uma especialização precoce e uma os naturalmente mais dotados (MUIR et al., 2011).
seleção de atletas com base na sua performance atual, Considerando os pressupostos anteriores, de-
sem considerar as suas potencialidades de desenvolvi- fendemos uma ideia mais moderna e de acordo com
mento), a outra é aquela que somente pretende a ocu- aquilo que deve ser o pressuposto do esporte para
pação ativa das crianças e dos jovens. todos, ou seja, uma atividade social que deve pro-
Contudo, a crítica feita a essas organizações é que, mover o desenvolvimento físico e a fruição pela ati-
apesar de as atividades serem esportivas e com um vidade física para todos os jovens, de acordo com as
espírito lúdico, carecem de uma estrutura e de uma suas necessidades e objetivos. Claro que o desejo de
organização que fomentam uma aprendizagem con- rendimento esportivo deve ser respeitado para quem
o almeja, mas não deve constituir a única finalidade.
88
EDUCAÇÃO FÍSICA
Projetar um programa esportivo constitui um de- um bom profissional, constatamos que os seus pro-
safio, e esse programa deve considerar as fases de de- cedimentos terão de se sustentar em conhecimentos
senvolvimento das crianças e dos jovens, assim como o sólidos e abrangentes, de forma que desempenhe a
contexto no qual ele se implementará. De acordo com sua atividade com competência, certificando-se que
Resende e Gilbert (2015), entre os 5 e 8 anos, a estru- os seus atletas se desenvolvam de forma holística, in-
turação do esporte deve ser pouco formal, não existin- dependentemente do nível de participação esportiva
do a necessidade da existência de equipes formais. O na qual estejam. Competências como ter uma visão
grande objetivo é entusiasmar a participação esportiva, estratégica da sua atividade, construir relações e con-
a fruição da atividade e o estabelecimento de relações duzir práticas são exemplos de atributos relacionados
sociais. Nessa faixa etária, a forma como os pais e os à liderança de um processo de treino.
treinadores encaram o esporte é determinante para a Ressaltamos a importância de uma formação
forma como os jovens se julgam quando estão em ativi- continuada, independentemente da sua origem, sa-
dade. Nesse sentido, as suas expectativas devem se con- lientando a importância de o treinador colocar, de
centrar no esforço desenvolvido e na envolvência com forma incessante, a sua atividade em equação para,
a atividade, tendo como objetivo maior a diversão por por via da autorreflexão, inovar na resolução dos
meio da aprendizagem de novas habilidades. problemas que ele enfrenta cotidianamente. Nes-
se sentido, o treinador pode colocar para si mesmo
questões de nível técnico, prático e crítico, de for-
ma a melhorar e adequar as suas ações. Assim, ele se
torna um fomentador de novos conhecimentos que,
concomitantemente, lhe proporcionam uma maior
expertise, à medida que adquire experiência. A ati-
vidade do treinador, para se revestir de sucesso, deve
se sustentar em ações pedagógicas que fomentam a
aprendizagem, a despeito do nível de participação
esportiva dos atletas. Nesse sentido, o treinador de-
verá desenvolver os atletas ao nível da sua competên-
cia (medida de performance), confiança, conexão e
Considerando as informações apresentadas nesta unida-
caráter (medidas psicossociais).
de, reforçaremos, neste podcast, alguns pontos específi-
cos destacados no texto, dentro do contexto dos conhe-
No processo esportivo, as crianças e os jovens de-
cimentos e das competências necessárias para que um vem ser considerados de forma distinta, pois os seus
indivíduo seja um bom treinador. Aperte o play e vamos lá! interesses, gostos, preferências e vontades, para além
de se alterarem rapidamente em função do desenvol-
vimento tecnológico, podem ser pouco coincidentes
Os conteúdos abordados até aqui evidenciam a com- por causa das diferenças de idade. O treinador terá,
plexidade da atuação do treinador. Pensando no que por isso, de fomentar o processo de treino adequado
é necessário para ser treinador e como fazer para ser para cada situação em particular.
89
agora é com você
PORQUE
II. O perfil profissional do treinador vem se alterando pelas solicitações cada vez
mais complexas e específicas.
90
agora é com você
a. V, V, F, V.
b. V, F, V, F.
c. F, F, F, V.
d. V, F, F, V.
e. F, V, F, F.
4. De acordo com a International Council for Coaching Excellence (ICCE, 2013), o trei-
nador necessita de uma série de competências para sua atuação profissional.
Tais competências estabelecem um conjunto de funções primárias que con-
fluem em habilidades específicas como: definir visão e estratégia; moldar am-
biente; construir relações; conduzir práticas; ler e responder ao campo de ação;
aprender e refletir. Sobre tais competências, analise as afirmações a seguir:
91
agora é com você
III. Aprender e refletir indica uma aprendizagem de forma contínua, além da au-
toavaliação e reflexão.
IV. Construir relações refere-se somente à relação atleta e colega de equipe.
a. I e III, apenas.
b. II e IV, apenas.
c. I, II e III, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.
a. I e II, apenas.
b. II e IV, apenas.
c. I, II e III, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.
92
UNIDADE
IV
EVOLUÇÃO POSITIVA
ATRAVÉS DO ESPORTE
Oportunidades de aprendizagem
A base para uma vida adulta ativa é criada durante a infância e a juventude por meio
da prática esportiva, a qual deve, então, ser uma experiência enriquecedora. Nesse
contexto, o desenvolvimento positivo dos atletas depende da forma como o esporte
está organizado e da configuração das relações entre as pessoas envolvidas. Assim,
nesta unidade, você terá a oportunidade de entender o esporte como uma ferramenta
positiva no processo de desenvolvimento integral de crianças e jovens.
unidade
IV
Apesar do impacto do esporte na sociedade, não se processo, uma vez que, ao materializar um processo
pode esperar que somente pela prática esportiva as de treinamento, o objetivo será desenvolver o atleta de
crianças e os jovens adquiriram competências que se forma integral. Ou seja, o treinador deverá ser capaz
prolonguem para as outras facetas da intervenção so- de proporcionar o desenvolvimento de habilidades
cial. É necessário ter consciência da sua importância e (além das que compõem a técnica e a tática de jogo)
trabalhá-las de forma intencional para que, assim, os que contribuam com a formação pessoal e social da
jovens desenvolvam, de uma forma saudável e cons- criança e do jovem, contemplando todos os benefícios
trutiva, todo o potencial que detêm. Nesse sentido, que a prática esportiva possibilita (PALHETA et al.,
como deve ser o processo de treinamento/iniciação 2016). Como a tarefa de desenvolver os jovens não se
esportiva para que o desenvolvimento das crianças e compadece de ações isoladas, o apoio da família tam-
dos jovens seja positivo? Quem são os agentes respon- bém é crucial. Assim, os pais ou responsáveis dos alu-
sáveis por esse processo? nos/atletas terão uma participação importante nesse
Tendo em vista que o resultado do desenvolvi- processo e deverão cooperar no desenvolvimento es-
mento por meio do esporte depende da forma como portivo dos jovens de forma solidária com o treinador.
o ambiente esportivo está organizado – o que inclui Considerando a importância do treinador, a cons-
o processo de treinamento em si, além das relações trução de uma boa relação entre este e os jovens alu-
interpessoais – o treinador é uma peça-chave nesse nos/atletas é fundamental para que haja uma formação
96
EDUCAÇÃO FÍSICA
esportiva positiva. Nesse sentido, feedbacks positivos ta de alguma modalidade esportiva. Busque, ainda,
e elogios podem melhorar a autoestima dos jovens, fa- refletir sobre como deve ser a comunicação entre pro-
zendo com que estes deem continuidade à prática. Ou- fessor/treinador e aluno/atleta e sobre a abordagem
tra boa estratégia que pode ajudar a criar e manter uma comunicativa que pode ser positiva e abordagens que
boa relação com os alunos/atletas é torná-los respon- podem gerar um resultado negativo no processo de
sáveis por parte dos processos de desenvolvimento dos desenvolvimento esportivo, e sobre o que irá motivar
treinos, por exemplo, instigando a autonomia. e ajudar na criação de um ambiente esportivo saudá-
Seguindo essas informações, imagine você como vel e o que pode desmotivar e gerar desinteresse com
um futuro treinador e pense em quais outras estraté- relação à modalidade praticada.
gias, além das já citadas, poderiam ser utilizadas para Utilize o diário de bordo, a seguir, para descrever
criar e/ou manter um bom relacionamento entre o de uma a três estratégias que podem ser utilizadas
treinador e os jovens alunos/atletas. para criar ou manter um bom relacionamento entre
Para auxiliá-lo com essa tarefa, utilize de experi- treinador e aluno/atleta.
ências anteriores, caso tenha sido (ou ainda seja) atle-
97
98
EDUCAÇÃO FÍSICA
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100
EDUCAÇÃO FÍSICA
nomeadamente pelos árbitros e juízes, constitui outro fa- Pinheiro et al. (2012) descreverem, por meio de entre-
tor determinante pelo qual o esporte pode trazer benefí- vistas retrospectivas com atletas femininas sobre as suas
cios aos jovens. Fazer novos amigos e conhecidos, cons- experiências, constrangimentos centrais, como treinar e
truindo uma rede social em contínuo desenvolvimento, competir lesionadas, controle excessivo do peso e casti-
promove as competências sociais (SMOL; CUMMING; gos corporais aplicados. Essas evidências ajudam a alertar
SMITH, 2011; CARRERES-PONSODA et al., 2012). A que nem tudo no esporte pode ser positivo e, assim, as
esse propósito, Rutten et al. (2011) efetuaram um estudo circunstâncias em que se delineia e aplica um programa
com 439 jovens de idades entre 14 e 17 anos, envolvidos esportivo devem ser convenientemente escrutinadas.
em 67 equipes esportivas, e confirmaram que a existên- Em consequência, alerta-se para uma maior cons-
cia de ambientes morais positivos está associada a com- ciencialização política por meio de uma produção le-
portamentos pró-sociais no contexto esportivo. gislativa que defenda o praticante esportivo, que exerça
O envolvimento com o esporte também tem sido cor- uma efetiva fiscalização, promova a formação de trei-
relacionado com melhorias cognitivas (aumento da capa- nadores e dirigentes para implementar as políticas de
cidade de atenção e do trabalho da memória), resultados desenvolvimento positivo dos jovens pelo esporte. De-
acadêmicos superiores ao nível das classificações obtidas, vemos ter consciência de que é a configuração da orga-
maior gosto pela escola e, consequentemente, redução de nização esportiva, em todos os seus recursos, que in-
absentismo e de abandono precoce dos estudos (TRUDE- fluencia o desenvolvimento dos jovens (HOLT, 2008).
AU; SHEPHARD, 2008; JONKER;
ELFERINK-GEMSER; VISS-
CHER, 2009; ZENHA; RESENDE;
GOMES, 2009; SINGH; UIJT-
DEWILLIGEN; TWISK, 2012).
Como atores conscientes da in-
tervenção esportiva, não devemos
deixar de olhar para os possíveis pe-
rigos decorrentes da prática espor-
tiva, como os riscos da ocorrência
de lesões traumáticas durante essa
prática, exagero na forma como se
vivencia a competição e a conse-
quente possibilidade de síndrome
de burnout, influência menos posi-
tiva na maturação física dos jovens
pela inadequação de cargas de trei-
no desajustadas (MALINA, 2011),
apesar de, em um contexto espe-
cífico, como a ginástica esportiva,
101
Com o intuito de construir uma sociedade mais har- um desígnio para as suas vidas sustentam o seu
moniosa e significativa para todos, e considerando o desenvolvimento positivo, pois determinam ou,
impacto do esporte nas competências da vida, o de- pelo menos, os estimulam a colocar metas e a se
senvolvimento positivo do ser humano deve ser enca- esforçarem para as ultrapassar (HILL et al., 2010).
rado como um objetivo pelo qual todos devemos nos Claro que se deve ter a percepção de que este de-
empenhar. Essa filosofia de bem-estar e de formação senvolvimento terá de ser empreendido de forma glo-
tem total pertinência no desenvolvimento dos jovens. bal, em todas as interações concretizadas diariamente,
De acordo com Orlick (2014), as pessoas que, de al- mas é no esporte que concentramos a nossa atenção.
guma forma, expressam sentimentos negativos, o fa- Somos da opinião que o esporte é um meio, desde que
zem porque, em algum momento, fracassaram na sua orientado para esse efeito, capaz de proporcionar às
aprendizagem de como ser positivas. Nesse sentido, se crianças e aos jovens a oportunidade de colocarem em
o objetivo for que as crianças, os jovens e os adultos ação atitudes positivas, sendo estas passíveis de serem
aprendam a encarar a vida de forma positiva, então, transferidas para outros contextos sociais.
será necessário ensinar como fazê-lo. Apesar de, como abordado anteriormente, o es-
Para ensinar as competências de vida positi- porte ter a presunção de, somente pela sua ativida-
vas por meio do esporte, de acordo com Lerner, de, já produzir um impacto significativo em outros
Dowling e Anderson (2003), é necessário que domínios da vida dos jovens, essa relação ainda não
os jovens se empenhem moral e comportamen- está consistentemente estabelecida (VIERIMAA et al.,
talmente nessa construção social, constituindo- 2012). É assim determinante que o esporte, antes de
-se como agentes autônomos nesse esforço. Essa reivindicar o fomento de um desenvolvimento positi-
perspectiva se reforça no sentido de que o desen- vo dos jovens em outras áreas, deve evidenciar que os
volvimento positivo dos jovens propõe que todos seus programas produzem esses efeitos.
eles possuem uma grande capacidade para se de- Especificamente, as competências de vida no con-
senvolver de forma bem-sucedida, construtiva e texto esportivo são vistas como:
saudável (LERNER et al., 2005).
É nesse sentido que a construção de progra- [...] ativos internos pessoais, características e
competências, como estabelecer objetivos, con-
mas que visem o desenvolvimento positivo de
trole emocional, autoestima e um trabalho duro
jovens se apoia substancialmente no talento, nos e ético que pode ser facilitado ou desenvolvido
interesses e no potencial que se evidencia nessas no esporte, podendo ser transferido para outros
idades. As lideranças devem almejar o enquadra- envolvimentos não esportivos (GOULD; CAR-
mento dos jovens em parcerias sustentadas de SON, 2008, p. 60).
102
EDUCAÇÃO FÍSICA
103
104
EDUCAÇÃO FÍSICA
105
106
EDUCAÇÃO FÍSICA
do contexto esportivo enquanto líder de um processo SON; GILBERT, 2013). Esses autores referem que o
de treino e competição. O treinador também não deve treinador deve incorporar, no seu cotidiano com os
diminuir a importância relativa a como a sua perso- atletas, o elogio aos esforços destes e a instrução por
nalidade será vista, apreciada e avaliada pelos atletas, meio de feedbacks positivos. Partilhar com os atletas
dirigentes, família e todo o entorno que rodeia o fe- o processo de decisão, levando em conta as suas pers-
nômeno esportivo. Por isso, o treinador encontra ar- pectivas e providenciando argumentos coerentes para
gumentos para “trabalhar” o efeito que o seu caráter, as suas decisões. Essas atitudes ajudam a implementar
temperamento e valores trazem à função. e a desenvolver a autonomia dos atletas.
Reforça-se que o empenho nos valores e princí- Um ambiente de aprendizagem favorável poten-
pios que devem pertencer ao esporte constituem uma cializa uma definição clara de objetivos e permite a
pedra angular na personalidade do treinador, forne- avaliação da performance com base na aprendizagem
cendo-lhe as bases para fazer face às pressões que re- e nos esforços realizados.
sultam do processo de treino e, mais vigorosamente, Os treinadores com maior relevância na aquisição
da competição. Essas pressões, que podem surgir de de competências de vida dos atletas são aqueles que se
inúmeros lugares e pessoas, também podem abalar as caracterizam por evidenciar filosofias de treino de sua
convicções e comprometer os princípios. O compor- preferência e são proativos no desenvolvimento des-
tamento do treinador tem sido reconhecido como crí- sas competências de forma explícita, preocupando-se
tico na forma como os atletas encaram o esporte, pelas permanentemente com as transferências dessas com-
performances que alcançam e pela coesão de grupo petências para outros ambientes. Destacam o esporti-
que demonstram (ARTHUR et al., 2011). vismo, fomentam relações fortes com os seus atletas,
Outra forma de olhar para o treinador é pelo pon- focam em delinear objetivos, traçam estratégias com-
to de vista dos alunos. Aqui, uma das caraterísticas petitivas concordantes com o contexto esportivo em
mais salientadas pelos atletas/alunos para, qualitati- que estão inseridos e consideram as suas caraterísticas
vamente, considerarem um treinador bom, resulta do sociodemográficas.
empenho demonstrado por ele para que os jovens se
desenvolvam como pessoas e atletas (RESENDE et al.,
2014), reportando as características de índole social
como mais determinantes do que as exclusivamente
específicas e mais técnicas da modalidade esportiva
em causa. Sobressai-se a noção de que os treinadores
com maior eficácia são, igualmente, bons professores,
pois serão incapazes de ensinar se não tornarem com-
preensível aquilo que pretendem que os atletas apren-
dam, com objetivos desafiadores, mas alcançáveis.
A instrução, a par do suporte que dá às realiza-
ções dos atletas e à ausência de punições, constitui
uma característica de um treinador eficaz (ERICK-
107
OLHAR CONCEITUAL
108
EDUCAÇÃO FÍSICA
As estratégias enunciadas anteriormente são materia- plos práticos que podem ser empregados pelos treina-
lizadas na Tabela 1, a seguir, em que se descrevem as dores no exercício da sua atividade.
tarefas a ser desenvolvidas e se providenciam exem-
1. Focar no Promove e elogia o esforço e a per- • Usa elogios para o processo (evitar elogios pessoais).
esforço e na sistência. • Providencia tempo para a prática deliberada de
persistência Providencia oportunidades de prática competências de vida durante o treino, como defi-
deliberada de competências de vida e nição de objetivos.
técnicas esportivas específicas.
2. Promover Desafia os jovens para tarefas difíceis • Planeja treinos com um nível elevado de dificuldade.
desafios que permitam a oportunidade de • Permite um clima de maestria.
realizar novas habilidades, providen- • Planeja objetivos desafiadores para os jovens.
ciando feedback à performance.
3. Promover Interpreta o erro e os insucessos • Atribui o erro a fatores controláveis que podem ser
o valor do como oportunidades válidas para melhorados e planeja treinos de acordo com isso.
insucesso promover a aprendizagem de • Usa o erro para monitorar a realização de objetivos.
competências, como a regulação do
comportamento, planejamento e
monitoramento.
4. Perceber o Define sucesso por meio de fatores • Planeja auto-objetivos e ajuíza o sucesso pela sua
sucesso controláveis, como o esforço e a obtenção.
persistência. • Não olha para o marcador para determinar o seu
grau de satisfação com a performance.
6. Providenciar Comunica expectativas a atletas • Planeja objetivos difíceis para os atletas jovens,
expectativas que estão abaixo do nível médio de preferivelmente objetivos de processo.
elevadas performance, e integra-os em um • Comunica alto nível de crença na capacidade de os
ambiente positivo de apoio. jovens atletas melhorarem.
Tabela 1 – Sumário de estratégias de instrução para promover desenvolvimento positivo dos jovens a partir do esporte
Fonte: Vella e Gilbert (2014, apud RESENDE; GILBERT, 2015, p. 27, tradução nossa)
109
Com essas ferramentas, os treinadores têm a possibi- plar o esporte de participação de forma que o objetivo
lidade de incorporar na sua atividade o ensino de es- do clube não seja unicamente determinado e decalca-
tratégias que fomentem a aquisição de competências do pelo esporte de rendimento.
positivas de vida pela parte dos jovens atletas, e con- Os pais que, na maioria das situações, promovem
tribuir, dessa forma, para que o seu desenvolvimento a experiência esportiva dos filhos, fomentam e ani-
se processe de forma mais harmoniosa, saudável e in- mam a continuação dessa prática, muitas vezes, com
tegrada na sociedade. apoio material e financeiro, além da disponibilidade
para acompanhar (GOMES, 2010).
A presença dos pais é importante para a boa in-
tegração e a socialização esportiva dos filhos, provi-
denciando bem-estar psicológico e índices elevados
Título: Desenvolvimento positivo de jovens
de satisfação com a prática esportiva. Contudo, tam-
através do esporte: dos pressupostos ao papel
bém podem ser exemplos contraproducentes quan-
do treinador esportivo
do têm expectativas demasiado elevadas quanto ao
Autores: Carlos Ewerton Palheta, Eduardo Leal
rendimento esportivo dos seus filhos, colocando
Goulart Nunes, Rui Resende e Michel Milistetd
uma pressão tão alta que podem tornar a experiên-
Revista: Iberoamericana de Psicología del Ejer- cia esportiva aversiva e indesejável (GOMES, 2011).
cicio y el Deporte, Las Palmas de Gran. Canaria, Smoll, Cumming e Smith (2011) indicam que a pes-
v. 11, n. 2, p. 289-296 quisa evidenciou a influência da família na socializa-
Ano: 2016 ção esportiva das crianças e tem um impacto profun-
Comentário: Ótima leitura complementar
do nas consequências psicológicas que daí decorrem.
para o tema da unidade. Os autores do artigo Nesse sentido, os autores indicam que as crianças e
destacam o papel do treinador na formação os jovens têm o direito de não querer participar e,
positiva de jovens por meio do esporte e apre- dessa forma, impor o esporte pode produzir os efei-
sentam algumas estratégias que podem ser tos contrários aos desejados.
utilizadas pelos treinadores para que o pro- Gomes e Zão (2007), em uma pesquisa em que
cesso de desenvolvimento esportivo aconteça estudaram a relação entre a influência parental e a
de forma adequada] motivação no esporte, com recurso a dois instrumen-
tos relativos aos pais e aos atletas, constataram que,
com relação aos atletas, existe maior apoio parental
nas modalidades de caráter individual; maior apoio,
Além do treinador, os pais e a família são cruciais na influência técnica e menos reações negativas por parte
educação e, consequentemente, no desenvolvimen- dos pais dos atletas que estão nos níveis iniciais de for-
to dos filhos. Confrontados com as exigências cada mação e maior apoio dos pais dos atletas que não têm
vez mais bem informadas e críticas dos pais (família) reprovações escolares. No estudo dos pais, verificaram
em relação às atividades nas quais são os filhos inseri- que os pais dos atletas do sexo masculino evidenciam
dos, os locais da prática esportiva necessitam contem- maior apoio e influência técnica; os pais dos atletas
110
EDUCAÇÃO FÍSICA
que praticam modalidades esportivas individuais as- na iniciação e promoção do esporte, constituindo-se
sumiram maior apoio e orientação motivacional para como elos facilitadores desse processo, pelo entusias-
o divertimento e menos reações negativas; e os pais mo e pela dedicação que podem evidenciar. Assim, faz
com menor formação escolar demonstraram menos todo o sentido que a instituição que recebe o jovem
apoio e influência técnica, maior orientação para os estabeleça uma relação de elevada confiança com os
resultados e para as reações negativas. pais dos atletas. Nessa relação, o primeiro contato, ha-
Esse tipo de pesquisa permite ao treinador ganhar bitualmente, é pelo treinador, profissional responsável
consciência em relação às diferenças dos pais e às res- pela integração e pelo acompanhamento do jovem, fo-
pectivas influências nos comportamentos dos filhos e, mentando a sua inclusão e promovendo a atividade a
assim, permitir a esse treinador agir por antecipação. ser desenvolvida no seio do clube esportivo.
A família é crucial para um desenvolvimento posi-
tivo dos jovens por meio do esporte, procurando que Gomes (2011) propõe que a postura do treinador
contribua para o pleno desenvolvimento físico, mental em relação aos pais menos vinculados e interessa-
e social. Dessa forma, os pais são pilares fundamentais dos com a prática esportiva dos filhos será a de fo-
111
112
EDUCAÇÃO FÍSICA
tes. Realizações que vão além do treino e da competi- demonstra o empenho que o treinador coloca em
ção fomentam o sentimento de pertença e constituem ação para que a evolução do atleta decorra da me-
uma oportunidade importante para que as pessoas se lhor forma possível.
conheçam e ganhem laços de empatia. Tal ficha, da qual se sugere um exemplo na Figu-
A qualidade da atividade do treinador pode ra 1, mais adiante, poderá registrar diferentes tipos de
ser incrementada e valorizada pelos pais dos atle- informação. Temos consciência que a construção de
tas por meio da criação de uma ficha do atleta. uma ficha deverá ser pessoal (do treinador ou do clu-
Ela reunirá a informação pessoal do atleta e re- be) e terá que ser adaptada ao contexto específico no
sultados de sua atividade esportiva, e deverá ser qual se desenvolve o trabalho, assim como à moda-
enviada aos pais em, pelo menos, duas vezes por lidade esportiva. Contudo, propõe-se que essa ficha:
época esportiva. O serviço prestado pelo clube
poderá constituir um diferenciador positivo, e A ficha do atleta deve fazer parte integrante do dos-
• Contenha uma informação pessoal básica (quem desejar ser um pouco mais profundo poderá caracterizar
mais a filiação com, por exemplo, a idade dos pais e a sua ocupação profissional).
• Dados biométricos, em que se pode registar de forma muito fácil a evolução física (com o peso, a altura e a
envergadura), o cálculo do IMC, que dá uma indicação se o atleta está dentro da Zona Saudável, de acordo
com a OMS (Organização Mundial da Saúde). Os testes físicos a serem realizados dependem do esporte em
questão e das condições materiais para os efetuar. Contudo, sugere-se que se apliquem testes que avaliem
a globalidade das capacidades condicionais (resistência, velocidade, força e flexibilidade).
• Dados técnico-táticos, mencionados em consonância com a modalidade e de acordo com aquilo que o treinador
considerar pertinente para a idade dos atletas. Sugere-se algum tipo de avaliação qualitativa, a qual corresponde
a um índice quantitativo para, assim, ser mais fácil tanto a execução como a sua visualização, e correspondente
grau de evolução.
• Dados sociopsicológicos. Essa caracterização pode ser de importância fundamental, pois, tal como já comen-
tado anteriormente, o treinador é responsável por fazer o atleta evoluir em mais dimensões que aquelas
que se relacionam diretamente com a performance (físicas, técnicas e táticas). Propõe-se que se avalie o
atleta na sua integração social e nas suas capacidades volitivas por meio de uma escala de 1 a 5 (de débil
a robusto). Existe igualmente um espaço para observações, pois essa classificação poderá ser insuficiente
e, assim, existir a necessidade de complementar informação.
• Perspectivas de evolução expõem a opinião do treinador sobre o possível desenvolvimento do atleta nas
diferentes áreas analisadas.
• A informação sobre a atividade acadêmica é um espaço que se reveste de importância crucial no acompa-
nhamento e no interesse pelo atleta para além da sua performance atlética.
• Reuniões com os pais. O espaço para o registo de reuniões (ou outras interações) com os pais, assim como
um resumo dos assuntos abordados, permite acompanhar com maior rigor o tipo de relacionamento es-
tabelecido e, assim, monitorar o interesse familiar pela prática esportiva do atleta.
113
O desenvolvimento positivo
114
EDUCAÇÃO FÍSICA
O Índice de Massa
Corporal (IMC) (des-
crito no exemplo de
ficha de atleta) é uma
medida internacional
usada para calcular se
uma pessoa está no peso ideal. Desenvolvido
pelo polímata Lambert Quételet, no fim do sé-
culo XIX, trata-se de um método fácil e rápido
para a avaliação do nível de gordura de cada É nossa função, como profissionais e futuros profis-
pessoa, sendo, por isso, um preditor interna- sionais de Educação Física, enxergar o esporte para
cional de obesidade adotado pela Organização além da sua prática e aproveitar de todo seu potencial,
Mundial da Saúde (OMS). como fenômeno sociocultural, para possibilitar um
Você pode calcular imediatamente seu desenvolvimento integral de crianças e jovens atletas.
IMC, introduzindo a altura e o peso, para ve- Para que isso aconteça, tanto o treinador quanto a
rificar se você está dentro da normalidade em família possuem papeis importantes nesse processo.
relação ao seu peso. Lembrando que o IMC é Assim, nesse podcast, falaremos de forma mais especí-
uma medida geral que não considera o percen- fica sobre como o esporte pode promover uma forma-
tual de massa magra e gordura separadamen- ção esportiva positiva, além dos papeis do treinador e
te. Para saber mais, acesse o QR Code . da família. Acesse o QR Code para saber mais!
dos jovens deve constituir o objetivo de uma socie- fortalecendo o sentimento de pertença. Todavia, o es-
dade evoluída, e o esporte, de acordo com inúmeros porte também comporta riscos e ameaças no seu seio.
estudos e pesquisas científicas, pode contribuir de Como exemplos, temos o risco de lesões esportivas
forma significativa para esse fim, nomeadamente, que podem decorrer da prática e de forma acidental,
por meio da melhoria da aptidão física e da saúde. ou, mais grave, a ocorrência de situações de abuso de
Contudo, a influência do esporte pode ir além, com nível físico (aplicação de cargas de treino desadequa-
o desenvolvimento de competências psicológicas, das) e psicológico (pressões exageradas para obter
como são exemplos a liderança, o espírito de inicia- rendimento).
tiva, o estabelecimento de objetivos, a superação e a O treinador é, pela sua formação e responsabilida-
resiliência. Em termos da integração social, o esporte de na liderança do processo esportivo, quem deve as-
pode promover a possibilidade de fazer novos ami- segurar um desenvolvimento positivo e sustentado do
gos, reforçando a solidariedade interpares, tornando- jovem atleta. Para alcançar esse objetivo, o treinador
-se parte de um grupo em desenvolvimento e, assim, terá que se preparar adequadamente no que concer-
115
ne aos aspectos científicos e tecnológicos necessários ter a consciência de que o fator mais valorizado pelo
para desempenhar a sua atividade, e ter, igualmente, ambiente socioesportivo são as características do seu
uma formação que lhe permita incorporar, na sua caráter. Consequentemente, a personalidade do trei-
prática cotidiana, as competências de vida que estão nador é a janela pela qual a sua atuação será escruti-
para além dos ensinamentos do esporte. Contudo, os nada. Conquistar a família, envolvendo-a no processo
conhecimentos adquiridos somente se transformarão esportivo, é determinante para alcançar o sucesso a
em competências se o treinador as exercitar de for- que o treinador se propõe.
ma crítica, reflexiva e contínua. Ele deverá sempre
116
agora é com você
a. I e II, apenas.
b. II e III, apenas.
c. I, II e IV, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.
117
agora é com você
PORQUE
118
agora é com você
a. F, V, F, V.
b. F, V, V, F.
c. V, F, V, F.
d. V, V, V, V.
e. F, V, V, V.
5. O apoio da família também é essencial para que haja uma formação positiva
por meio do esporte, pois fomentam e animam a continuação dessa prática.
Todavia, essa participação, se feita de forma inadequada, pode ser prejudicial
no processo de formação. Considerando isso, analise as afirmações a seguir
acerca da participação inadequada da família no processo de desenvolvimen-
to esportivo positivo:
a. I e III, apenas.
b. II e III, apenas.
c. I e II, apenas.
d. III, apenas.
e. I, apenas.
119
INTERVENÇÃO DO TREINADOR:
PREPARAÇÃO E PLANEJAMENTO
Oportunidades de aprendizagem
Nesta última unidade, você terá a oportunidade de aprender a preparar e planejar sua
intervenção como professor/profissional de Educação Física. Abordaremos informações
gerais sobre a preparação do profissional, bem como planejar sua intervenção em
nível anual, mensal e semanal. Ainda, apresentaremos exemplos de planilhas anuais,
mensais, semanais, além de planos diários de aula/treino.
unidade
V
No decorrer deste livro, você teve acesso a uma desta filosofia por parte do treinador são sugeridos.
gama de informações relacionadas ao processo de Para além disso, é proposta uma operacionalização
iniciação esportiva, certo? Os conteúdos aborda- desses conceitos, ideias, em elementos concretos de
ram as classificações dos esportes e suas diferentes atuação quando para quando o treinador enfrentar a
possibilidades de manifestações, alguns modelos prática ter um comportamento de liderança adequado
de ensino baseados em teorias construtivistas, à filosofia formulada.
conhecimentos e competências para ser um bom Para facilitar o entendimento da ideia da filosofia
treinador, além de como o treinador pode e deve do treinador, pensemos de forma mais prática, tendo
agir, como peça essencial no processo de iniciação como base quatro conceitos filosóficos descritos por
esportiva, para que o desenvolvimento esportivo Hardman e Jones (2013), que podem ser representa-
seja positivo. Tendo isso em vista, como você, fu- dos pelas seguintes perguntas: 1) O que o treinador
turo professor/profissional de Educação Física, valoriza? 2) O que o treinador ajuíza sobre o que
deve se organizar e se programar para colocar é moral e imoral? 3) Qual o sentido que atribui ao
em prática todas essas informações aprendidas processo de treinamento? 4) Quais as reflexões so-
nas unidades anteriores? bre a experiência de ser treinador?
Primeiramente, é importante ressaltar que, Assim, a partir dessas informações, imagine-se
quando alguém assume o papel de treinador, deve ter como um treinador de uma equipe de iniciação, ou
consciência da importância da sua decisão, pois ser seja, de equipe formada por jovens e adolescentes e
treinador implica ter a capacidade de liderar e imple- pense em qual seria a sua filosofia de treinamento
mentar um processo de treinamento com crianças, para que o processo de desenvolvimento esportivo
jovens ou adultos. Nesse sentido, será determinante desses jovens tivesse um resultado positivo.
ganhar consciência sobre a forma como vai idealizar Reflita sobre as perguntas que representam os
e liderar toda a sua intervenção. Assim, além da im- conceitos filósofos citados anteriormente e descreva
portância de estar preparado para liderar o processo sua filosofia de treinamento. Baseie-se nas seguintes
de treino, no que se refere à projeção e previsão dos perguntas para elaborar sua resposta.
acontecimentos durante todo o período esportivo,
considerando os objetivos definidos para cada etapa, • O que eu valorizo em meus treinamentos?
também será determinante que o treinador conceba • O que eu considero moral ou imoral?
uma filosofia de treino que o leve a ser congruente • O que o treinamento significa para mim?
nas suas ações como profissional. • Como é, para mim, ser treinador?
Nesse contexto, a filosofia do treinador surge como
um princípio orientador do seu comportamento pe- Utilize o espaço do seu Diário de Bordo para realizar
rante o ambiente de treino e permite edificar um estilo essa tarefa!
de liderança. Elementos para auxiliar na construção
122
EDUCAÇÃO FÍSICA
Bom, agora que você foi introduzido ao conteúdo, da equipe que tem sob o seu comando, tem sido asso-
abordaremos de forma mais detalhada as informações ciado ao sucesso do processo de treino, pois apresenta
referentes à filosofia do treinador e à organização e uma mensagem positiva e consistente aos atletas.
programação do processo de treinamento durante o Em termos gerais, aceita-se que a filosofia do trei-
período esportivo. nador serve para guiar os seus princípios de atuação,
A filosofia pode ser definida como uma teoria ou sendo definida pelas crenças e valores que orientam
atitude realizada por uma pessoa ou organização que a sua prática. Assim, em termos objetivos, constitui a
atua como um princípio orientador para o comporta- forma como ‘vê’ o treino esportivo. Permite sustentar
mento. Nesse sentido, a filosofia do treinador con- um estilo de liderança, as preferências por uma deter-
siste nos princípios que guiam o treinador no de- minada forma de ensinar, a maneira como organiza e
senvolvimento dos atletas e das equipes. A palavra faz a gestão do ambiente de treino.
filosofia toma muitos significados no seio do treino Nesse sentido, uma filosofia do treinador se cons-
esportivo, contudo, o desenvolvimento de uma filo- trói sobre um conjunto de padrões pelos quais o trei-
sofia clara por parte do treinador e, por consequência, nador vai influenciar, ensinar e modelar os seus atle-
123
tas. Idealmente, reflete a sua própria filosofia de vida car a razão pela qual se pretende ser treinador, quais
(MARTENS, 1990), pois os objetivos e os valores têm são os objetivos pretendidos e quais os valores que
que ser significativos em nível pessoal, se não, são so- vão orientar a sua atuação quando estiver a dirigir e
mente propósitos vazios. Será importante realçar que liderar um processo de treino. O passo seguinte será
a influência que um treinador pode ter no atleta pode criar estratégias de treino e competição que permitam
ir muito além das esportivas e ter um forte impacto ensinar e reforçar os valores anteriormente definidos.
em anos subsequentes. Nesse sentido, os objetivos do treino e os valores que
De acordo com Hardman e Jones (2013), uma fi- lhe estão associados devem ser usados para sustentar
losofia do treinador deve ser edificada sobre quatro as decisões do dia a dia.
conceitos filosóficos, que se definem em: axiologia (o O que o treinador deve considerar para iniciar
que o treinador valoriza), ética (o que o treinador aju- a construção da sua filosofia é entender-se como se
íza sobre o que é moral e imoral), ontologia (o sentido é, enquanto treinador e enquanto pessoa. A lógica
que atribui ao processo de treino), e fenomenologia dessa ideia é que a sua ação (atividade como treina-
(reflexões sobre a experiência de ser treinador). dor) depende de quem a pessoa é, do seu ideal de vida,
Contudo, devemos ter presente que desenvolver uma das circunstâncias particulares em que se insere e da
filosofia de treino, dentre outras coisas, requer tempo e forma como o demonstra. Assim, responder às se-
reflexão sobre as suas próprias experiências (CAMIRÉ; guintes perguntas pode auxiliá-lo nesse propósito,
TRUDEL; FORNERIS, 2012), sendo que os treinadores pois permite refletir sobre os próprios valores e, dessa
jovens apresentam dificuldades em explicar como im- forma, desenvolver uma filosofia de treino que coin-
plementam os valores que defendem na sua prática coti- cida com aquilo em que acredita. É importante referir
diana (MCCALLISTER; BLINDE; WEISS, 2000). que o objetivo de treino e os valores não necessitam
Ajudando a construir uma filosofia de treino e do ser validados por outros, estão corretos quando são
treinador (GILBERT, 2017), será importante identifi- inspiradores e significativos no âmbito pessoal.
124
EDUCAÇÃO FÍSICA
125
O próximo estágio para a construção de uma filosofia significado prático (Tabela 1) para que se tornem claros
pessoal de abordagem ao processo de treino consiste para os atletas e sirvam de orientação ao treinador.
em explanar a sua ideia (valores), acerca do processo de Os valores podem ser abertos à discussão por par-
treino e do que pretende atingir (objetivos). Uma frase te da equipe e até ser ligeiramente alterados de forma
será suficiente e servirá a razão pela qual o treinador a se adequarem ao grupo de atletas a quem se diri-
toma os procedimentos que acha mais adequados. gem. A razão pela qual se sugere esta abertura é que
Será importante destacar que esse exercício não os atletas “compram a ideia” de forma mais convicta se
deve ser imutável ao longo do tempo em que o trei- tiverem a oportunidade de colaborarem na definição
nador exerce a sua atividade. Pelo contrário, na me- dos valores da equipe.
dida em que vai exercendo a sua prática, acumulando
conhecimento e experiência, é natural e saudável que Valores Aplicação
existam reformulações na sua filosofia de treino.
Superação
De forma a ilustrar a aplicação desse procedimento, • Vou ser competitivo.
pessoal
iremos destacar como exemplo uma filosofia de treino • Todas as vezes contam para melhorar.
que irá nortear toda a exposição subsequente. O conse- • Lutar por todas as bolas.
lho dado por Gilbert (2017) indica que o treinador deve
Compromisso
• Com a equipe e com os objetivos
começar por dizer “Como treinador, eu sou....” e que a
definidos.
frase deve conter poucas linhas e ser um sumário das
• Aceitar responsabilidades e ter consci-
principais ideias que irão nortear a sua ação.
ência do meu valor para a equipe.
Então, de acordo com a linha de raciocínio expli-
citada, expomos, a título de exemplo: • Todos somos treinadores.
• Contribuir para uma boa atmosfera de
Corresponsabilização
A filosofia de treino descreve a maneira como será efe- • Consciência do que se pretende nas
Autonomia
tuada a abordagem como treinador e assegura que esta tarefas de treino e competição.
seja fiel aos objetivos e valores definidos. O passo se- • Esforçar-me porque valorizo a razão
guinte consiste em descrever os principais valores que pela qual estou aqui.
vão orientar os propósitos definidos anteriormente. To-
Tabela 1 - Valores e sua aplicação prática
davia, é importante definir os valores e atribuir-lhes um Fonte: o autor
126
EDUCAÇÃO FÍSICA
127
A importância e a vantagem de ganhar consciência de Será importante afirmar que, numa perspectiva de
uma filosofia de treino bem delineada é que o treina- carreira em longo prazo de um atleta, a planificação
dor aprende sobre si mesmo, constata as suas insufi- não se deve resumir a uma só época esportiva. Con-
ciências e as suas potencialidades, apercebe-se das ra- tudo, tendo em conta a realidade, em que os treinado-
zões pelas quais está a treinar e do que necessita para res não têm uma permanência com os mesmos atletas
melhorar as suas competências como treinador. durante épocas sucessivas, iremos concentrar a nossa
atenção numa época esportiva.
Considerando que não se planeja de forma abs-
trata, mas, sim, a partir de situações reais, o treinador
A partir dessas informações, ficou mais fácil terá que fazer uso da sua capacidade de análise da si-
entender o conceito de filosofia do treinador? tuação que enfrenta para tomar as melhores decisões.
Você mudaria a ideia da sua filosofia como trei- Realizar uma periodização para esportes de equipe
nador proposta no início da unidade? coloca múltiplos desafios devido à grande variedade
de objetivos, de volume de treino e de treinos, da du-
ração da época esportiva, dentre outros. Nesse sen-
tido, algumas variáveis precisam ser consideradas
Após a tomada de consciência da filosofia a imple- para que o planejamento de uma temporada espor-
mentar num processo de treino por parte do treina- tiva seja realizado de forma adequada.
dor, chega a hora de operacionalizar toda uma estra-
tégia no sentido de concretizar os objetivos definidos.
Estes devem ser competitivos e formativos indepen-
dentemente do nível de performance com que se tra-
balha, pois o treinador não deve nunca deixar de se
sentir um professor (GALLIMORE; THARP, 2004).
A planificação ou periodização que se sugere nes-
tas páginas envolve uma organização e direcionamen-
to de propósitos de treino e pressupõe que o treinador
domine os princípios de adaptação das cargas de treino
que serão suportadas e aplicadas aos atletas. O exercício
de planear ou planejar é procurar antecipar e prever
uma sequência lógica e coerente de acontecimentos
que se vão desenrolar durante a época desportiva e que
apontam para a concretização dos objetivos definidos.
Nesse sentido, o planeamento constitui o processo por
meio do qual o treinador define as linhas de orientação
que vai colocar em prática durante a época e onde pre-
tende procurar prever o futuro.
128
EDUCAÇÃO FÍSICA
129
Descrição da Imagem: a figura apresenta um exemplo de ficha composta por 16 linhas e 38 colunas, com todos os dados e espaço para pla-
nejamento ou periodização de uma temporada esportiva. Na primeira coluna à esquerda, há a descrição das variáveis que serão analisadas
(meses, microciclos, treinos, jogos, periodização, mesociclos). Os microciclos são divididos em colunas subsequentes numeradas que vão do 1
ao 36. Abaixo, o item descrito como “jogos” é representado também por colunas coloridas que que vão de 1 a 36, considerando os períodos
de preparação de competição (representado pela cor azul clara), competição de controle (azul escuro), campeonato (cinza claro) e preparação
(cinza escuro). Mais abaixo, a periodização é dividida em quatro períodos: preparatório, pré-competitivo, competitivo. Abaixo do item “periodiza-
ção”, temos os mesociclos, divididos entre as colunas subsequentes em: condicionamento, básico geral, pré-competitivo e competitivo, sempre
considerando a divisão da periodização. Abaixo do item “mesociclo”, na primeira coluna à esquerda, estão descritas as variáveis de preparação
física (capacidade aeróbia, força, velocidade e flexibilidade), a técnica e a tática e o teste. O item capacidade aeróbia é dividido, nas colunas
subsequentes, em “aquisição” e “manutenção”. O item força, é dividido nas colunas subsequentes em “resistência de força”, “força máxima”
e “potência”. A velocidade é dividida, em colunas subsequentes, em “velocidade geral” e “velocidade específica”. A flexibilidade é dividida, em
colunas subsequentes, em “desenvolver” e “manutenção”. A técnica é dividida, nas colunas subsequentes, em “aquisição e estabilização”. A tática
é dividida, nas colunas subsequentes, em “aquisição”, “aquisição avançada”, “estabilização” e “estabilização: trabalho de equipe/cooperação”. O
item “teste” é dividido, nas colunas subsequentes, em “médicos/físicos” e “exercícios/critérios”. As subdivisões do item Mesociclos e das demais
variáveis da preparação física, técnica, tática e testes são divididas considerando as fases da periodização (preparatório, pré-competitivo, com-
petitivo). Nas duas últimas linhas da ficha, na primeira coluna da esquerda, há a descrição das horas de treino (horas de treino e horas reais de
treino). As colunas subsequentes estão em branco para o preenchimento.
O conteúdo do plano anual • Meses: deve conter os meses desde que se inicia a prepa-
divide-se genericamente em ração da equipe até ao seu término antes do período de fé-
duas partes, uma em que se rias. Permite visualizar a sequência do período competitivo, a
prevê o tempo previsto de trei- coincidência com períodos que possam perturbar de alguma
no (treino é aquele em que efe- forma a preparação da equipe (épocas de exames para atletas
tivamente o treinador está com estudantes, ou alturas de festas como o carnaval) e períodos
a equipe a treinar) e as compe- de férias em que se pode aumentar o tempo dedicado ao
tições que se vão efetuar e ou- treino, pois os atletas poderão estar mais predispostos e mais
tro com o tipo de preparação a concentrados nessa tarefa.
ser ministrada nesse período.
130
EDUCAÇÃO FÍSICA
131
• Velocidade especial.
o seu grau de desenvolvimento. O desempenho es-
• Flexibilidade.
portivo sustenta-se num bom aprimoramento físico,
• Desenvolver.
pois o reforço da condição física é fundamental para
• Manutenção.
preparar o atleta para um bom desempenho esportivo
em termos de performance e como forma de prevenir O treino técnico é dividido em aquisição, estabiliza-
lesões. O treinador deve atribuir a devida importância ção e velocidade de execução, e o treino tático, em
a essa atividade durante toda a época desportiva e, ob- aquisição e estabilização.
viamente, levar em linha de consideração para quem é Os testes podem ser divididos em:
dirigido o processo de treino.
No treino físico ou preparação física, são traba- • Médicos – permitem avaliar a saúde dos atle-
tas e indagar da sua predisposição para a prá-
lhadas as capacidades condicionais:
tica esportiva.
• Aeróbia.
• Físicos – servem para avaliar a melhoria da
• Aquisição. condição física individual, aquilatar dos pro-
• Manutenção. gressos gerais efetuados e estabelecer uma re-
• Força. lação com o treino efetuado.
• Resistência.
• Força Máxima. • Exercícios-critério – são exercícios específi-
cos da modalidade, que permitem confirmar a
• Potência.
evolução da equipe de acordo com a filosofia
• Velocidade. do treinador, revelando indicações sobre se a
• Velocidade geral. sua prática está em sintonia com as ideias ide-
alizadas para a equipe (RESENDE et al., 2017).
132
EDUCAÇÃO FÍSICA
OLHAR CONCEITUAL
Em resumo, temos o MACROCICLO, que configura a maior divisão do processo de treinamento (com duração
de 6 ou 12 meses, geralmente). O MACROCICLO é composto por MESOCICLOS (com duração média de 3 a 6
semanas), que, por sua vez, são divididos em MICROCICLOS (geralmente, têm duração de uma semana). Por
fim, os MICROCICLOS são compostos pelas UNIDADES DE TREINAMENTO (UT).
Figura 2 – Organização do planejamento de um período esportivo (periodização) / Fonte: adaptado de Jackix e dos Santos (2018)
Descrição da Imagem: a imagem apresenta um infográfico que representa a organização de um período esportivo que inicia no macrociclo, passa
para o mesociclo, microciclo e finaliza na unidade de treinamento (UT). O infográfico inicia com uma caixa de texto de cor alaranjada, acima e no
centro da figura, descrita como macrociclo (que representa a organização semestral ou anual). Da caixa de texto do macrociclo, saem três setas
(na cor alaranjada) em direção a três caixas de texto descritas como mesociclo (organização mensal), localizadas logo abaixo, na cor verde. Da
mesma forma, cinco setas da cor azul saem das caixas de texto dos mesociclos, em direção a cinco caixas de texto, localizadas abaixo, na cor azul
marinho, descritas como microciclo (organização semanal). Por fim, seguindo a sequência, dez setas na cor vermelha saem das caixas de texto dos
microciclos em direção a dez caixas de texto vermelhas, localizadas na parte inferior da figura, que representam a unidade diária de treino (UT).
Após a construção do plano anual e tendo em vista isso, deixar de dar importância a uma previsão mais
que se deveria passar para uma planificação intermé- intermédia como o Mesociclo. Aliás, pensamos que
dia (mesociclo), optamos por focar concretamente é importante no sentido de controle do processo de
numa semana de treinos (microciclo). Essa decisão treino, pois, fazendo uso das potencialidades do pro-
se sustenta no fato de os esportes coletivos se consti- grama Excel enquanto folha de cálculo, conseguimos
tuírem de vários fatores imponderáveis e que exigem saber a quantidade de tempo que temos destinada às
uma adequação mais imediata. Não queremos, com diferentes componentes do treino. Dessa forma, con-
133
Descrição da Imagem: a figura 3 apresenta um exemplo de ficha com todos os dados e espaço para planejamento de um microciclo. A ficha é
composta por trinta e duas linhas e nove colunas. No cabeçalho da ficha, na coluna à esquerda, há os dados gerais do microciclo, como a data, o
objetivo, seguido de uma espaço em branco, nas colunas subsequentes, para preenchimento. Ainda no cabeçalho, na sexta coluna, há a descrição
dos percentuais (quantidade de tempo) relacionados à preparação física, técnica e tática que serão trabalhados. A coluna seguinte está em branco
para preenchimento dos percentuais. Na linha abaixo, a primeira coluna à esquerda é descrita como “Física”, referindo-se à preparação física. As
colunas subsequentes são divididas entre os dias da semana e vão de segunda a domingo. Na linha abaixo da caixa que descreve a preparação
física, há as divisões em: aquecimento, resistência, velocidade, força e flexibilidade, uma na linha abaixo da outra. As colunas subsequentes estão
em branco para preenchimento, considerando os dias da semana (segunda-feira a domingo) e o total. A linha abaixo, na primeira coluna à es-
querda, representa o “total da preparação física geral”. As colunas subsequentes seguem em branco para preenchimento, considerando os dias da
semana (segunda-feira a domingo) e o total. Em seguida, nas linhas abaixo, ainda na primeira coluna à esquerda, há os itens “velocidade especial”,
“resistência especial” e “outros”. Abaixo desses itens, na primeira coluna à esquerda, há o item referente à preparação técnica descrito apenas como
“técnica”. As cinco linhas abaixo e as colunas subsequentes seguem em branco para preenchimento, considerando os dias da semana (segunda-feira
a domingo) e o total. Da mesma forma, na linha abaixo, há o item “tática”, sendo que as cinco linhas abaixo e as colunas subsequentes seguem em
branco para preenchimento, considerando os dias da semana (segunda-feira a domingo) e o total. Nas últimas duas linhas da ficha, há os itens
que se referem ao total de tempo para a técnica (total técnica) e para o treino (total treino). As colunas subsequentes ao “total técnica” seguem em
branco para preenchimento, considerando os dias da semana (segunda-feira a domingo) e o total. As cinco colunas subsequentes ao “total treino”
são preenchidas pelo número zero, para exemplificar que não houve tempo de treinamento. A sétima coluna é relativa ao “total treino” ao item
“jogo”, sendo que as colunas subsequentes a ela seguem em branco para preenchimento. Todas as células da ficha que apresentam uma descrição
estão na cor azul claro. As células descritas como “física”, “técnica” e “tática” são diferenciadas pela cor azul marinho.
134
EDUCAÇÃO FÍSICA
Considerando que é mais fácil acompanhar e enten- Após essa decisão, inicia-se o preenchimento da fi-
der tal conteúdo a partir de um exemplo prático, pla- cha (Figura 4) com os conteúdos e o tempo que se vai
nejaremos uma semana de treinamento (microciclo), dedicar a cada um deles de uma forma geral. Poste-
imaginando um cenário hipotético em que você é trei- riormente, na Unidade de Treino (UT), serão especi-
nador de uma equipe. ficados. Nessa fase do planeamento, uma dificuldade
O exemplo sugerido é de uma equipe de fute- é decidir o que inserir em cada um dos componentes,
bol infanto-juvenil masculina que está disputando o pois, se em alguns conteúdos não existem dúvidas, em
campeonato estadual, e com fortes possibilidades de outros, a decisão poderá não ser tão simples.
se apurar para a fase nacional. A equipe treina quatro
vezes por semana, sendo que três treinos são de 90 Por exemplo, se devido à escassez de tempo que
se tem para treinar, o aquecimento já é efetuado
minutos e um é de 60 minutos, o que perfaz um total
com bola e se aproveita esse momento para exer-
de 330 minutos disponíveis para treinar. citar alguma técnica, este conteúdo faz parte da
A primeira operação a fazer, após contabilizar o componente física ou da técnica? A resposta para
tempo total de treino na semana, consiste em deter- estas questões está na Componente Crítica (CC)
minar qual porcentagem desse tempo se irá atribuir a do conteúdo que desejamos praticar. “Compo-
nentes Críticas são os pontos essenciais que o(a)
cada uma das componentes definidas: Física, Técnica
treinador(a) estabeleceu como fundamentais”
e Tática, conforme descrito a seguir. (RESENDE et al., 2017, p. 45).
Idealmente, nenhum desses componentes deve ul-
trapassar os 40% nem ser inferior a 30%. Contudo, a sua Assim, no exemplo anunciado, o aquecimento fará
variabilidade depende, em grande medida, do tempo parte do componente físico, ou seja, nesse caso, e em
disponível, dos objetivos pretendidos em cada microci- qualquer outro no processo de treino, o treinador, ao
clo e do nível competitivo com o qual se está a trabalhar. estabelecer a CC, irá dedicar a sua atenção prioritaria-
O microciclo é competitivo, a equipe está numa fase mente a esse aspecto, desenvolvendo uma estratégia
decisiva e vai ter um jogo no fim de semana com um ad- de comunicação adequada por meio da emissão dos
versário direto. Perante essa realidade, tomou-se a deci- feedbacks correspondentes (RESENDE et al., 2017).
são de dedicar o maior tempo disponível ao treino Tático, Outra situação de dúvida é a da “teoria”: onde
dedicando-lhe 40%, o que perfaz um total de 132 minu- colocá-la? Entendemos por teoria o tempo que o
tos, restando 99 minutos para a parte Técnica e Física. treinador demora, na sessão de treino, a indicar os
objetivos do treino e o seu relacionamento com a
Preparação Tempo em minutos competição. Nesse sentido, inserimos esse tempo no
Física 99 componente tática. Toda outra informação referente
Técnica 99
à explicação dos exercícios ou outro tipo de paragem
Tática 132
que o treinador resolva fazer estará incluída no tem-
Total 330
po específico dos conteúdos.
135
Como estratégia para o preenchimento da ficha, ini- Na preparação da componente técnica, deve se so-
ciamos pela parte do componente físico. Distingui- bressair em termos de ênfase (CC) aquilo que se pre-
mos Preparação Física geral de específica. A primeira tende aperfeiçoar com os atletas e que deverá estar em
trabalha as capacidades condicionais de uma forma linha com as performances anteriores e, consequente-
geral (por exemplo, sprints de velocidade de 20, 30 mente, com as necessidades individuais dos atletas no
metros) e de forma específica (por exemplo, veloci- seu conjunto. Sugere-se que, em termos de planeamen-
dade com mudanças de direção). Aqui, manifesta-se to, as CC definidas tenham relação com o que se vai
a preocupação com a dinâmica das cargas existindo a fazer na componente tática e, assim, otimizar atenção
preocupação de “olhar” para a semana com a inten- dos atletas e do treinador para a sua relação com o jogo.
ção de que a equipe chegue nas melhores condições A preparação da componente tática deverá focar
ao jogo (por exemplo, trabalhar a resistência numa essencialmente no aprimoramento da estratégia deli-
fase mais inicial da semana, pois a sua recuperação neada para fazer face ao adversário, e será importante
é mais lenta, e a velocidade numa fase mais adianta- ter uma relação diária com a parte técnica no sentido
da porque a sua recuperação é mais acelerada). Sa- de otimizar a atenção dos alunos nos particulares que
lientamos que qualquer desses conteúdos podem ser estiverem em foco na sessão de treino.
executados com bola, mas o que determina o seu po- Os valores descritos representam o tempo em minu-
sicionamento no plano é a ênfase (CC) atribuída pelo tos, considerando os dias de treinamento (segunda, quar-
treinador. Por exemplo, no caso exposto, o primeiro ta, quinta e sexta-feira). Note que os valores descritos na
treino da semana é exigente do ponto de vista físico última linha da ficha (total treino), representam o tempo
porque é o que está mais longe do jogo e, também, de total de treino (90 minutos segunda, quarta e quinta e
porque no dia seguinte é folga, o que permitirá aos 60 minutos na sexta-feira) para cada dia, conforme des-
atletas uma maior recuperação. crito anteriormente, na situação hipotética exposta.
136
EDUCAÇÃO FÍSICA
137
138
EDUCAÇÃO FÍSICA
139
Figura 5 – Exemplo de
ficha para uma unidade
de treino (UT).
Fonte: os autores
Descrição da Imagem:
a figura apresenta um
exemplo de ficha para o
preenchimento dos dados
relacionados à unidade de
treino (UT). O cabeçalho
da ficha é dividido entre os
dados gerais da unidade
de treino, como o núme-
ro do treino, número do
microciclo e data (na pri-
meira linha). Na segunda
linha, a descrição da hora
e do local, com espaço em
branco para preenchimen-
to. Abaixo, há a descrição
dos materiais, a duração e
os percentuais de tempo
separado em físico, técnico e tático. Todos com espaço em branco para preenchimento. Para fechar os dados do cabeçalho, as duas linhas
abaixo apresentam o conteúdo e o objetivo geral, além do espaço em branco para preenchimento dessas informações.
Abaixo, há divisão em duas linhas e cinco colunas. Na primeira linha são descritas as variáveis “T”, que representa o tempo, “objetivos específicos”,
a “descrição e organização/componentes/críticas”, as “palavras-chave” e a “eficiência/eficácia”. Cada uma em uma coluna. A linha abaixo fica em
branco para preenchimento. Abaixo dessas informações, há a descrição das variáveis relacionadas à reflexão/análise do treino, divididas em seis
linhas e 12 colunas. Na primeira linha, temos, como cabeçalho, a descrição “performance dos atletas” e “performance treinador”, divididas em duas
colunas. Abaixo da primeira classificação para a “performance dos atletas”, há as descrições “medíocre”, “fraco”, “suficiente”, “muito bom” e “exce-
lente”. Abaixo, temos opções para classificações que consideram as variáveis: esforço, performance, corresponsabilidade e autonomia, cada uma
em uma linha, descritas na primeira coluna à esquerda. Nas colunas subsequentes a essas variáveis, há os números 1 (na célula que corresponde
a classificação medíocre), 2 (na célula que corresponde a classificação fraco), 3 (na célula que corresponde a classificação suficiente), 4 (na célula
que corresponde a classificação muito bom) e 5 (na célula que corresponde a classificação excelente). Da mesma forma, abaixo da segunda clas-
sificação, “performance treinador”, há as descrições “medíocre”, “fraco”, “suficiente”, “muito bom” e “excelente”. Abaixo dessas, temos opções para
classificações que consideram as variáveis: observação, comunicação, decisão e trabalho em equipe, cada uma em uma linha, descritas na sétima.
Nas colunas subsequentes a essas variáveis, há os números 1 (na célula que corresponde a classificação medíocre), 2 (na célula que corresponde
a classificação fraco), 3 (na célula que corresponde a classificação suficiente), 4 (na célula que corresponde a classificação muito bom) e 5 (na célula
que corresponde a classificação excelente).
140
EDUCAÇÃO FÍSICA
É importante o treinador considerar a preparação Na roda inicial, o treinador apresenta o que será
para desenvolver a sua atividade como fundamen- trabalhado durante a aula ou UT, além de levantar
tal para ser mais eficiente na condução e direção do informações sobre o que os alunos já conhecem em
processo de treino. Esse instrumento é essencial para relação ao conteúdo que será abordado no dia. Esse
adequar as estratégias de ação, ser congruente com os também é o momento de valorizar o pensamento re-
valores que assume e, por isso, fazer com que os atletas flexivo e crítico a partir de vivências já realizadas, con-
aprendam mais e melhor. Porque não se pode treinar siderando situações positivas e negativas.
tudo ao mesmo tempo, as escolhas sobre onde vai re- A roda final é momento de avaliação do que foi
cair o foco do treinador e atletas é fundamental para realizado no dia. Nesse momento, treinador e atleta de-
uma gestão da equipe. vem discutir e refletir sobre as dificuldades e facilidades
Além da importância de planejar e planificar cada encontradas durante o treinamento, além das possibi-
UT, considerando as três etapas propostas por Hughes, lidades de adaptação e a transformação das atividades
Lee e Chesterfield (2009), também é essencial enten- realizadas e outros aspectos que julgarem relevantes.
dermos como funciona essa estrutura na prática, ou Entre o momento inicial (roda inicial) e final (fi-
seja, como a aula ou UT deve ser organizada e estrutu- nal) da UT, acontecem as atividades práticas, que po-
rada, considerando os objetivos e atividades propostas. dem ser divididas, ainda, em cinco ou seis momentos
Nesse sentido, Gonzáles et al. (2017) propõe que (caso inclua o campeonato na parte final), conforme
a aula ou UT deve ser estruturada em três grandes a Figura 6. Cada elemento dessa estrutura é descrito
blocos: a roda inicial, as vivências (aplicação das com detalhes em sequência (GONZÁLES et al., 2017
atividades) e a roda final. A roda inicial e a roda apud MENEGASSI, 2021).
final são os momentos de conversa entre professor/
treinador e aluno/atleta.
141
Descrição da Imagem: a imagem apresenta oito caixas de texto em forma de elipse, com a descrição de cada momento de aula ou UT. Na parte
superior e inferior da figura, há uma caixa de texto que representa os momentos “Roda inicial” e “Roda final”, na cor amarela. No centro, entre as
duas caixas de texto citadas, há a caixa de texto que representa as “Vivências”, na cor rosa. Ao redor dela, há cinco caixas de texto, representando
os cinco momentos das vivências da aula ou UT, todas na cor azul claro. O ciclo de momentos da aula que representam as vivências inicia com
a caixa de texto dos “primeiros movimentos” também representada pelo número 1, que fica na parte de cima da imagem, logo abaixo da “roda
inicial”. Seguindo no sentido horário, na sequência, há a caixa de texto indicando o “jogo inicial” (número 2). Logo abaixo, há a caixa de texto que
representa o momento de “conscientização tática” (número 3) seguido pela caixa de texto que representa o momento das “tarefas e exercícios”
(número 4), localizada à esquerda da caixa anterior. Para finalizar o ciclo, logo acima da caixa anterior (na mesma linha que a caixa 2), há a caixa de
texto que representa o “jogo final” (número 5). Todas as caixas de textos do ciclo são indicadas, seguindo o sentido horário, por uma flecha de cor
azul, num tom ainda mais claro que as caixas de textos, que inicia e finaliza em “primeiros movimentos”. No canto superior esquerdo, fora do ciclo,
há um caixa de texto, em formato de retângulo, que representa o campeonato, também na cor azul claro.
142
EDUCAÇÃO FÍSICA
143
• Como finalizar a jogada/fazer o gol? R: bus- inicial” ou exercícios em que não haja interação/
car melhor posição para o arremesso ou passar interferência do adversário, para que o aluno/
a bola para o atleta que estiver desmarcado e/ atleta se aprofunde na dimensão tática proposta
ou mais bem posicionado para o arremesso. ou exercite habilidades motoras específicas. No
entanto, sempre que possível, tais exercícios ou
4. Tarefas e exercícios: esse momento se caracteriza atividades devem ser realizados considerando si-
por atividades menos complexas do que no “jogo tuações de jogo da modalidade ensinada.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
145
Roda inicial:
Nessa aula/treino, a conversa com os alunos pode começar por uma pergunta como: será que é possível, em esportes
como o handebol, o basquete, o futsal, o futebol, jogar sem pensar em como agir durante a partida? Qual a diferença
desses esportes com o lançamento da pelota do atletismo, por exemplo (ou outra prática esportiva sem interação entre
adversários que os alunos conheçam)? Ao lançar a bola, é necessário pensar no que fazer? Não! É preciso lançar a
bola o mais longe possível. Não é necessário se deter em como fazer esse movimento.
No handebol, no basquetebol, no futsal, no futebol é diferente? É necessário pensar no que fazer quando estou com
a bola? Sim, pois tenho muitas alternativas. Não dá para sair dando um passe, sem ver como está o jogo, quem está
mais perto, quem está mais longe, se tem alguém que pode marcar pontos. No mesmo sentido, não posso tentar final-
izar sem levar em conta os defensores e o goleiro. Isso significa que sempre é necessário ‘ler o jogo’ antes de agir. Por
esse motivo, é importante que, ao participar de esportes como o handebol, o frisbee, o basquetebol, o futsal, o futebol,
ou seja, esportes de invasão, haja atenção ao que se passa no espaço de jogo.
Exemplos dos próprios alunos em experiências anteriores, em diversas situações de jogo, ajudam a esclarecer o con-
ceito. Além disso, essas falas são bons indicadores do ‘domínio’ do tema objeto da aula.
É importante recuperar as regras da modalidade trabalhada na(s) aula(s) anterior(es). Sempre é bom incentivar a
confecção de bolas que se possam agarrar com uma só mão, assim como o uso delas em jogos de malabares, para os
alunos melhorarem suas habilidades manipulativas.
1. Primeiros movimentos
Em pequenos grupos (3, 4, 5 integrantes) os alunos passam a bola e se movimentam por todo o espaço, evitando
esbarrar nos colegas. Durante a execução dos passes, devem experimentar diferentes formas de realizar a ação e
os deslocamentos, variar: as distâncias dos passes, mudar o tipo de passe, utilizar a ‘outra mão’, realizar passes em
suspensão.
A seguir, se propõe que, dentro do grupo, se designe um pegador que terá como objetivo tocar o jogador com posse
de bola. Esse, por sua vez, deverá passar a bola aos colegas antes de ser alcançado. Joga-se dentro de um espaço
determinado, não é permitido andar com a bola.
Durante esses jogos, são apresentadas as primeiras informações sobre as regras a respeito de ‘andar’ e os contatos
ilegais com o adversário. Inicialmente, não é necessário liberar o drible. Sem exigir sua estrita observação das regras, é
importante que os alunos entendam as características particulares da modalidade
2. Jogo inicial:
Jogo: 4x4 ou 5x5
Objetivo: Derrubar os cones (ou garrafas pet 2l) da equipe adversária.
Descrição: a equipe com posse da bola deve realizar passes até encontrar uma situação clara para atingir os alvos
adversários (quatro ou cinco). Enquanto isso, a equipe da defesa procura evitar o lançamento e conseguir a posse da
bola para passar ao ataque. Os alvos devem ficar na linha do fundo da quadra, atrás de uma linha a qual não pode
ser ultrapassada (a distância da linha em relação aos alvos pode variar em função do nível dos grupos, ainda assim, é
recomendável que, nos primeiros jogos, não seja superior a três metros).
146
EDUCAÇÃO FÍSICA
Condições:
- Não é permitido quicar a bola.
- Não é permitido tirar a bola do atacante com posse de bola (só é possível interceptar a bola na trajetória do passe).
- Após do gol, reinicia-se com um tiro de meta.
3. Consciência tática
Pergunta (P): Qual era o objetivo do jogo?
Resposta (R): Derrubar os cones, sem quicar a bola.
P: O que é necessário fazer quando se recebe a bola?
R: Deve-se receber a bola de frente para a meta ou se virar para os cones.
P: É importante observar a situação do jogo antes de tomar uma decisão e realizar uma ação? Por quê?
R: Sim, senão vai dar errado. Pode passar para quem está marcado ou não lançar quando há espaço para lançar.
P: Algumas vezes durante o jogo tentaram atingir o alvo estando marcados ou não lançaram estando desmarcados?
Será que a situação foi observada?
P: Como faço para observar?
R: Tento receber a bola olhando para os cones. Procuro olhar para frente antes de dar continuidade ao jogo.
P: Como faço para não andar?
R: Não dou mais de três passos com a bola na mão.
4. Tarefa(s)
Participantes: 4x4 ou 5x5 + 1 Curinga/Prisioneiro
Objetivo do jogo: passar a bola para o curinga que se encontra dentro do círculo.
Descrição: a equipe no ataque, posicionada fora do círculo, passará a bola entre seus jogadores até que encontrem o
momento de passá-la ao ‘prisioneiro’ (jogador no centro). A equipe de guardiães (defensores) tentará evitar o passe de-
fendendo o espaço onde se encontra o prisioneiro. Os jogadores defensores devem marcar sem sair do espaço limitado
pelos dois círculos concêntricos. Não é permitido tirar a bola do atacante com posse de bola (só é possível interceptar a
bola na trajetória do passe). Os atacantes devem realizar passes quicados para o prisioneiro.
5. Jogo final:
Idem ao jogo inicial.
Roda final
Ao final da aula, dialogar sobre a importância do conteúdo trabalhado, apontando as vantagens dessa ação e o quanto
pode qualificar a participação nos jogos. Reforce, brevemente, as várias possibilidades que surgem para o atacante
com posse de bola, quando ele observa antes de agir (o que muitas vezes acontece em milésimos de segundos). Tra-
ta-se de convencer os alunos sobre a importância e a necessidade de ler a situação antes de jogar.
Quadro 2 - Plano de Aula/Treino para a modalidade de handebol / Fonte: adaptado de Gonzáles et al. (2017 p. 361)
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Para que você seja capaz de materializar sua ativida- Com as ferramentas apresentadas nesta unidade,
de como treinador de forma eficaz, é determinante o treinador pode construir um plano de ação, desde
ter princípios orientadores que se edificam a partir a ideia sobre o que pensa do treino e forma como o
dos seus valores pessoais e como treinador, os quais pretende implementar até a sua materialização com os
apelidamos de filosofia do treinador. Com efeito, a atletas. Será importante realçar que liderar um pro-
congruência entre a ideia e a sua aplicação permite ao cesso de treino é uma tarefa complexa, muito variável,
treinador uma maior eficiência e controle do processo muito contextual e, por isso, exige a melhor prepara-
de treino. A construção da filosofia do treinador sur- ção. É nesse sentido que se disponibilizam os instru-
ge, assim, como o passo inicial mais importante para mentos aqui apresentados. Não pretendem ser guias
liderar um projeto de treino. Após a determinação estritos, pois planejar é, sem dúvida, uma tarefa muito
dos valores e princípios que vão nortear a sua atua- pessoal. Contudo, com essas orientações, o professor/
ção, assim como a forma como os vai aplicar, o trei- treinador pode adaptar e construir os seus próprios
nador necessita antecipar e planear um roteiro para as materiais e assim operacionalizar todo o processo. Sa-
suas atividades. Essa periodização se apresenta num lientamos que o controlar o processo de treino, para
formato anual (normalmente coincidente com uma além dos resultados competitivos, é importante para a
época esportiva) num plano semanal (que também reflexão sobre esse mesmo processo, e ajuda a corrigir
habitualmente corresponde ao calendário da maioria eventuais desvios do caminho traçado, melhora a sua
das competições) e na unidade treino (UT) que é o atuação e, por via disso, aumenta a sua eficácia.
projeto do que se pretende efetivamente fazer com os
atletas enquanto estão sob a direção do treinador.
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agora é com você
a. II, apenas.
b. III, apenas.
c. I e III, apenas.
d. II e III, apenas.
e. I, II e III.
149
agora é com você
a. F, F, V.
b. V, V, F.
c. F, V, V.
d. V, F, V.
e. F, V, V.
150
agora é com você
a. I e II, apenas.
b. II e IV, apenas.
c. I, III e IV, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.
a. A atividade proposta faz parte do “jogo inicial”, visto que apresenta uma orga-
nização de 1x1, ou seja, um aluno contra o outro.
b. A atividade proposta faz parte da “conscientização tática”, visto que promove a
organização tática específica do jogo de basquete.
c. A atividade proposta faz parte das “tarefas e exercícios”, visto que promove o
desenvolvimento de habilidades específicas da modalidade, como a finta ou
arremesso.
d. A atividade proposta faz parte do “jogo final”, visto que promove o desloca-
mento em situação próxima do jogo formal de basquete, todavia, com menos
jogadores (1 x 1).
e. A atividade proposta faz parte dos “primeiros movimentos”, visto que apresen-
ta características de uma atividade de aquecimento, com baixa complexidade
e que estimula a coordenação.
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