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INICIAÇÃO

ESPORTIVA

PROFESSORES
Dr. Rui Resende
Me. Suelen Rodrigues da Luz

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Núcleo de Educação a Distância. RESENDE, Rui; LUZ, Suelen Rodrigues da.
Iniciação Esportiva Rui Resende; Suelen Rodrigues da Luz. Maringá -
PR: Unicesumar, 2022.

164 p.
ISBN xxxxxxxxxxxxxxx
“Graduação em Educação Física - EaD”.
1. Iniciação 2. Esportiva 3. Educação Física 4. EaD. I. Título.

 CDD - 22ª Ed. 796


Impresso por:

Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB-9-1679

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Ferdinandi.

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Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos
princípios éticos e profissionalismo, não somente para entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil.
oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para
conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, continuar relevante, a instituição de educação precisa ter
profissional, emocional e espiritual. pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compro-
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de misso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é pro-
Londrina) e em mais de 500 polos de educação a dis- mover a educação de qualidade nas diferentes áreas
tância espalhados por todos os estados do Brasil e, do conhecimento, formando profissionais cidadãos que
também, no exterior, com dezenas de cursos de gradua- contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade
ção e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros justa e solidária.
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano.
Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de Vamos juntos!
minha história meu currículo

Suelen Rodrigues da Luz

Olá, aluno! Sou a professora Suelen e gostaria de compartilhar um


pouquinho da minha trajetória acadêmica com vocês. Bom, eu cresci
como atleta de futebol/futsal e essa minha paixão pelo esporte fez
com que eu me interessasse pelo curso de Educação Física. Gostei
tanto que cursei licenciatura (2010) e bacharelado (2012) em Educa-
ção Física. Após a graduação, me especializei em Educação Especial
(licenciada) e Personal Trainer (bacharel). Como meu objetivo era
seguir carreira acadêmica, após atuar em escolas e academias, em
2017 iniciei meu mestrado em Fisiologia do Exercício na Universidade
Estadual de Maringá (UEM). Atualmente, estou cursando o Douto-
rado em Educação Física na mesma Universidade e minha linha de
pesquisa abrange diferentes modalidades esportivas, incluindo o
futebol, minha paixão inicial.

http://lattes.cnpq.br/1489736621464036

Aqui você pode


conhecer um
pouco mais sobre
mim, além das
informações do
meu currículo.
minha história meu currículo

Rui Resende

Possui Bacharelado em Educação Física e Desporto pela Universida-


de do Porto (1988), graduação em Licenciatura em Educação Física
e Desporto pela Universidade do Porto (1990), especialização em
Profissionalização no Ensino da Educação Física pela Escola Superior
de Educação do Porto (1995), mestrado em Alto Rendimento Des-
portivo pela Universidade do Porto (1996), doutorado em Ciências
da Atividade Física e do Desporto pela Universidade da Corunha
(2009) e aperfeiçoamento em Estudos Avançados em Ciências da Aqui você pode
Atividade Física e do Desporto: Avances e pela Universidade da Co- conhecer um
runha (2005). Para informações mais detalhadas sobre sua atuação
pouco mais sobre
mim, além das
profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo, disponível
informações do
no endereço a seguir meu currículo.

http://lattes.cnpq.br/5443241436070731
provocações iniciais

INICIAÇÃO ESPORTIVA

Quando pensamos em Educação Física, pensamos como este deve atuar para que o processo de trei-
em esporte, e por mais que o conteúdo “esporte” seja namento seja positivo. Por fim, aprenderá algumas
apenas mais um dentro das diferentes práticas corpo- formas de organizar e programar todo o processo de
rais que Educação Física abrange, podemos dizer que treinamento, tendo como base diferentes exemplos
o processo de ensino-aprendizagem das modalidades de planilhas para periodização.
esportivas possui grande destaque. Assim como nas Para que fique mais clara a importância dos con-
demais práticas corporais, é essencial que o profissio- teúdos descritos anteriormente, podemos pensar
nal que exerce a sua atividade no contexto esportivo, de forma mais prática, seguindo a linha do que é
seja dentro do espaço escolar, ou fora dele, tenha uma apresentado em cada unidade do livro e em como
preparação adequada, que seja uma pessoa culta, isso pode impactar no seu processo de formação.
empenhada, e que, por via disso, seja capaz de exercer
com competência e proficiência esta profissão. 1. Em um primeiro momento, seu foco será entender
Como ser um professor/treinador competente? os conceitos relacionados ao esporte e a forma
O que é preciso saber? Como posso ensinar? Como como ele pode se manifestar, além de suas classi-
devo me portar? ficações. Sabendo disso, você conseguirá entender
Bom, nosso objetivo, aqui, é ajudá-lo a respon- a importância do esporte no campo educacional,
der essas perguntas. Para isso, apresentamos, no do rendimento ou de participação, e ainda verificar
decorrer das cinco unidades deste livro, informações a possibilidade de atuação em cada área.
que lhe darão um aporte teórico e prático, por meio
de exemplos, para atuar de forma competente na 2. O próximo passo será conhecer modelos de
iniciação esportiva. ensino que podem ser utilizados na iniciação
De modo geral, você adentrará no contexto histó- esportiva. Ou seja, você aprenderá a ensinar!
rico-político do esporte como conteúdo da Educação Além de entender como o processo de iniciação
Física, os conceitos relacionados aos esportes e todas deve acontecer, considerando as etapas de de-
suas formas de manifestação (esporte de rendimen- senvolvimento da criança ou adolescente, você
to, esporte de participação e esporte educacional). também terá exemplos de atividades que podem
Terá acesso a alguns modelos de ensino que prezam ser utilizadas durante esse processo.
por uma abordagem mais construtivista, juntamente
com exemplos de atividades dentro do contexto de 3. Em seguida, o foco passa a ser as competências do
cada modelo e que podem ser utilizados no proces- professor/treinador. Nesse momento, você enten-
so de ensino das modalidades esportivas. Ainda, derá seu papel como professor/treinador e quais
verificará os conhecimentos e as competências que conhecimentos deverá dominar para que sua
um bom treinador/professor deve possuir, além de atuação profissional seja adequada e eficiente.
provocações iniciais

4. Após entender o que você precisa saber para ser O papel dos treinadores é fundamental, e, por
um bom profissional, a próxima etapa é enten- isso, há necessidade de melhorar a sua qualificação.
der como atuar para que sua intervenção seja O aperfeiçoamento dos seus conhecimentos reforça-
positiva. Entender a importância de uma relação rá a sua ação, e, por meio de uma prática reflexiva,
saudável entre professor/treinador, alunos/atle- melhorará sucessivamente as suas competências.
tas e familiares, facilita para que o processo de Após identificar as razões pelas quais ele está no
iniciação esportiva resulte no desenvolvimento esporte, o treinador deverá desenvolver uma filosofia
positivo da criança/adolescente. de treino de acordo com os seus valores morais e
éticos, adequando a sua prática ao contexto espe-
5. Por fim, após entender a importância do esporte, cífico onde atua.
aprender como o esporte pode ser ensinado, e co- Os procedimentos para concretizar as suas atitu-
nhecer o que você, como profissional, precisa ter des no processo de treino e na competição serão a
e como deve atuar, o último passo é saber como emanação do empenho que ele coloca na sua ativi-
organizar tudo isso na prática. Assim, na última dade e a demonstração da sua qualidade. Esta, ao ser
unidade do livro, você aprenderá a estruturar e reconhecida pelos atletas, pela família, pelos pares
planejar o treinamento, considerando um período e empregadores, poderá exaltar a importância que
competitivo completo. Você terá exemplos de a profissão de treinador exerce na sociedade atual.
planilhas semanais, mensais e anuais, além de Sugere-se a utilização de instrumentos para plane-
exemplos de planos de aula/unidade de treino. ar e controlar o processo de treino, sendo o treinador
mais preciso e rigoroso no desenvolvimento da sua
As informações apresentadas não são específicas atividade, tornando-a mais eficaz. Enfatiza-se, sobre-
para uma única modalidade ou um único contexto. tudo, a importância que o planeamento do microciclo
Os modelos de ensino, as planilhas e os exemplos de tem para esse processo e a forma como este deve
atividades podem (e devem) ser modificados consi- “desaguar” na construção da Unidade de Treino.
derando o contexto de atuação, além da modalidade Estamos conscientes que a atividade do treinador
a ser ensinada. Assim, caberá a você, futuro profes- é muito complexa e que o seu exercício depende de
sor/treinador, adaptar o conhecimento adquirido inúmeros fatores. Contudo, independentemente
para seu contexto de sua atuação. do contexto em que ela se realiza, pode constituir
O esporte é um fenômeno complexo e devemos uma atividade fascinante, pela qual valerá a pena
entender a importância dele para o desenvolvimento se aplicar.
de uma sociedade mais participativa e saudável. Ao final de cada unidade, você poderá testar os
Além disso, também devemos destacar o papel que conhecimentos adquiridos por meio de questões
o esporte pode ter no desenvolvimento positivo dos interpretativas e de recordação. Busque ler as in-
jovens e na transição que as competências esportivas formações das questões com atenção. O objetivo é
podem ter para as competências de vida no seu geral, a fixação do conteúdo.
desde que manifestamente ensinadas. Bom estudo!
sum ário

UNIDADE I
10 INTRODUÇÃO À INICIAÇÃO ESPORTIVA

UNIDADE II
36 MODELOS DE ENSINO PARA A INICIAÇÃO ESPORTIVA

UNIDADE III
66 CONHECIMENTOS E COMPETÊNCIAS DO TREINADOR

UNIDADE IV
94 EVOLUÇÃO POSITIVA ATRAVÉS DO ESPORTE

UNIDADE V
120 INTERVENÇÃO DO TREINADOR: PREPARAÇÃO E PLANEJAMENTO
INTRODUÇÃO À INICIAÇÃO ESPORTIVA

Dr. Rui Resende


Me. Suelen Rodrigues da Luz

Oportunidades de aprendizagem

Na Unidade 1, você terá a oportunidade de se aprofundar no fenômeno “esporte”,


no que se refere ao seu conceito e as suas diferentes formas de manifestações na
sociedade atual, perspectivando como se desenvolverá no futuro, além de refletir
melhor sobre a forma como se deve preparar o professor/profissional do esporte
para ele atuar com competência, tanto dentro quanto fora dele. Vamos lá?
unidade

I


É fato que todos nós, em algum momento da vida, tive- mais simples, que cresceram e foram moldados dentro
mos contato com o esporte, seja pela prática de alguma do esporte, mesmo que de forma amadora ou recreacio-
modalidade, pelo prazer de assistir a jogos e acompa- nal, que foram e/ou são atletas de fim de semana, que
nhar competições diversas, ou ambos. Dessa forma, é mudaram para um estilo de vida saudável por conta da
possível afirmar que o esporte, e suas diferentes mani- prática, além daqueles que vivem do esporte e/ou para o
festações, está presente quase que diariamente em nossa esporte, como é o caso de muitos professores e profissio-
vida e pode impactar diretamente em nossas vivências. nais de Educação Física.
A partir disso, e considerando que a Educação Física Pensou na importância ou no impacto que o esporte
atua diretamente com o esporte, podemos nos perguntar: pode causar na vida das pessoas? Para conseguir visualizar
qual a importância do esporte na vida das pessoas? melhor e dar mais significado ao tema, que tal fazermos
Para algumas pessoas, o contato com o esporte pode um mapa mental utilizando algumas palavras-chaves que
ser simples, singelo, sem muita importância. No entan- representam vivências a partir do esporte? Utilize o info-
to, para muitos, o esporte pode ser algo transformador! gráfico a seguir e descreva, no mínimo, cinco palavras que
Certamente você já viu ou leu alguma reportagem sobre expressem a importância do esporte para a população em
alguém que teve a vida totalmente transformada pelo es- geral, considerando atletas de alto nível, praticantes recre-
porte. Não falo somente sobre aquele menino ou aquela acionais, além da prática esportiva que objetiva a melho-
menina, de origem pobre, que, por conta do futebol ou ra da saúde e qualidade de vida. Para facilitar, você pode
de outra modalidade, mudou de vida e hoje é atleta reco- pensar nas palavras-chave a partir das suas próprias ex-
nhecido mundialmente. Ou daqueles que venceram di- periências com o esporte e depois expandir para o geral.
ficuldades e preconceitos para se tornarem medalhistas Para ajudá-lo, adicionei duas palavras-chave que, muito
olímpicos. Falo, também, daqueles que tiveram vivências provavelmente, serão comuns a você.

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EDUCAÇÃO FÍSICA

A partir dessa reflexão sobre a importância do esporte Física, poderá oferecer para seus alunos/atletas a partir
para as pessoas, de modo geral, imagine as possibilida- da vivência esportiva. Registre essas possibilidades no
des que você, futuro professor/profissional de Educação diário de bordo.

Seguindo essa linha, iniciaremos nossa contextualização,


justamente entendendo o conceito geral e as manifesta-
ções do esporte. De acordo com Betti (1991), o esporte
é caracterizado por uma atividade social institucionali- Se o esporte está presente na vida da maio-
zada, composta por regras e que possui uma base lúdica. ria das pessoas e tem poder de mudar a vida

A ação acontece em forma de competição entre dois ou de muitas delas, como você, futuro professor/
profissional de Educação Física, pode contribuir
mais oponentes ou contra a natureza. O objetivo é de-
nesse processo?
terminar o vencedor ou registrar o recorde, por meio de
comparação de desempenhos.

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A partir disso, o esporte pode ser classificado em: edu- Iniciaremos nosso conteúdo abordando o esporte
cação, participação e performance. O esporte-educação como um conteúdo da Educação Física (EF), dedi-
tem como foco o contexto escolar e deve ter como ob- cando atenção às razões que levaram à incorporação do
jetivo proporcionar aos alunos vivências de diferentes esporte nos currículos da Educação Física. Contudo, an-
modalidades, além da reflexão crítica do esporte na so- tes de abordarmos o esporte na escola, é importante ob-
ciedade. O esporte-participação refere-se a atividades servarmos um pouco a EF, que é a disciplina que assume
livres de comprometimento e obrigações, que podem o ensino formal do esporte na escola.
ser praticadas por todas as populações e que tem como O termo EF é usado para identificar a área cur-
objetivo principal a diversão, desenvolvimento pessoal ricular correspondente aos anos de escolaridade
ou interação social. Por fim, o esporte-performance, ou das crianças e dos jovens, tendo como propósito de-
de rendimento, envolve atletas de alto nível e é pratica- senvolver competências e habilidades em diferentes
do considerando regras e códigos éticos pré-estabele- atividades motoras (RESENDE; LIMA, 2016).
cidos por instituições que organizam as competições Deve constituir-se como a base de um conheci-
(ligas, federações, confederações, comitês olímpicos). mento da atividade física e esportiva, fomentando nos
Está fortemente vinculado à ideia de vitória e derrota alunos a procura por um estilo de vida ativo, de forma
(DARIDO; RANGEL, 2011). que venha a repercutir no futuro deles quando adultos.

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EDUCAÇÃO FÍSICA

Aliás, é interessante salientar que as percepções físicas ginástica como elemento indispensável para a formação
formadas durante a adolescência são, muitas vezes, de- integral da juventude. Desde então, vem agregando ele-
terminantes no comprometimento com os níveis de mentos históricos, marcos sociais, com conflitos e con-
atividade física subsequentes. Nesse sentido, os contri- quistas, por exemplo, a sua consolidação enquanto área
butos que a EF pode providenciar e promover no aluno de conhecimento. Sofreu, desde a sua inclusão, influên-
são inúmeros: o respeito pelo corpo, o seu e o dos cias das instituições onde era lecionada, nomeadamente
outros; melhoria da autoestima e da autoconfiança; de caráter militar e médico (MARTINS; PAIXÃO, 2014).
desenvolvimento de competências sociais e cogni-
tivas que, por sua vez, podem refletir em um melhor
desempenho acadêmico, como muitos estudos apon-
tam (PERALTA et al., 2014).
Não se pode deixar de referir, porém, que, devido a
Reforma Couto Ferraz (1951) – tornou obri-
várias inabilidades, a EF pode provocar “aversão” à ati-
gatória a Educação Física nas escolas do mu-
vidade física e esportiva por parte dos jovens e, assim, nicípio da Corte. Houve resistência por parte
condicionar a sua adesão, no futuro, ao proclamado e dos pais dos alunos, por serem atividades que
desejado estilo de vida saudável. Esse aspecto não deve fugiam do contexto intelectual. Alguns pais
ser escamoteado, pois a simples prática da EF, com todas proibiram suas filhas de participarem. Para os
as virtudes que se enunciam e lhe reconhecem, podem meninos, essa resistência era menor, visto que
não ser suficientes para alcançar os objetivos a que ela se a ginástica era baseada em atividades militares.
propõe. Nesse contexto, o professor e profissional de EF
é um ator de importância crucial, pois o seu empenho na Rui Barbosa (1982) – A partir da Reforma do
forma como leciona fará toda a diferença na percepção Ensino Primário, deu-se destaque especial à
que o aluno terá sobre a importância da atividade física Educação Física como agente formador de
para toda a sua vida. jovens. A princípio, a Educação Física foi de-

Tendo em conta a saúde pública e a cultura esportiva, senvolvida a partir das pedagogias tecnicista
e tradicional.
a EF deve constituir-se como uma defesa na promoção
de um estilo de vida saudável. Para isso, é determinante
que as atividades propostas reforcem os sentimentos de
competência, estimulando a realização da atividade físi-
ca de forma prazerosa. Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
A EF escolar brasileira possui uma trajetória que (BRASIL, 1996), a EF é componente curricular obriga-
inicia no ano de 1851, com a reforma Couto Ferraz, ini- tório para a Educação Básica (Educação Infantil, Ensino
cialmente denominada Ginástica, com a sua inclusão Fundamental e Ensino Médio). As diretrizes curricula-
no rol de disciplinas operacionalizadas na escola e com res reforçam a ideia de se estabelecer o desenvolvimento
o propósito da prática de exercícios físicos. Somente em pleno e gradual do aluno, preparando-o para a cidada-
1882, com Rui Barbosa e a sua reforma do ensino primá- nia em articulação com todos os componentes curricu-
rio, secundário e superior, é que se atribui importância à lares, privilegiando o desenvolvimento humano. A for-

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ma como a EF se apresenta atualmente, difere das razões


que a fizeram surgir na generalidade dos sistemas edu-
cativos contemporâneos. Considerando o Brasil, inicial-
mente (1889-1930), sob uma ótica médica e higienista,
os governantes passaram a prestar mais atenção à saúde
dos habitantes nas cidades.
Pretendia-se a formação de indivíduos fortes, sau-
dáveis e propensos à aderência às atividades boas em
detrimento de maus hábitos. Curiosamente, assiste-se,
atualmente, a uma preocupação semelhante com o
combate à obesidade e ao sedentarismo. Posteriormen-
te (1930-1945), tal preocupação veio com uma pers-
pectiva militarista, a qual se pretendia que os jovens es-
tivessem fisicamente aptos e, assim, melhor preparados
para as obrigações militares.
Em seguida, veio um período considerado pedago-
gicista (1945-1965), em que a EF era proposta como for-
mação do indivíduo. A EF competitivista (1964-1985),
uma visão do regime militar de então, enaltece os es-
portes com competições oficiais e o culto do atleta-he-
rói. Essa fase, em que existe uma apropriação da EF pelo
regime, condiciona, em grande medida, a forma como o
esporte é visto hoje no Brasil.
Apesar de tudo, o esporte, atualmente, surge como
parte integral do programa curricular da EF. Acrescen-
tamos que o vigor com que o faz advém dos desenvolvi-
mentos sociais das últimas décadas, que promoveram o
esporte à escala mundial, transformando-o em um pro-
duto extremamente midiático e com grande impacto co-
mercial. Tal como já referimos, a inclusão do esporte nas
aulas de EF ainda é considerado controverso por mui-
tos, por via do peso político e ideológico que contempla
(MARTINS; PAIXÃO, 2014). Com efeito, a tentativa de
reproduzir, na escola, o esporte-espetáculo, ou servir-se
da escola como viveiro de futuros alunos “atletas”, enfa-
tizando a competição, a vitória e, como consequência, a

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EDUCAÇÃO FÍSICA

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exclusão dos menos habilidosos, levou a sua base com- igualmente incluído, no seu âmago, valores educacio-
ponente educativa e formadora ao enfraquecimento. nais, como habilidades sociais e éticas.
A inserção do esporte na escola constitui uma re- A legitimação do ensino do esporte, na escola e fora
alidade hegemônica no Brasil (FERREIRA; LUCENA, dela, advém do seu próprio valor enquanto potencial de
2006), mas também no mundo, com um tempo destina- desenvolvimento do ser humano, por meio de uma práti-
do à sua prática nas aulas de EF superior a 40% (HARD- ca que, apesar de lúdica e prazerosa, exige o cumprimento
MAN, 2008). Esses dados reforçam a importância que de regras preestabelecidas e, por isso, implica organização.
deve ser dada ao ensino desta matéria em contexto es- Dessa forma, ensinar um jogo esportivo implica a orienta-
colar. Não pretendendo aflorar os contornos políticos ção e o comprometimento com um objetivo, exigindo es-
que levam à discussão da importância desta hegemonia, forço e persistência, qualidade de desempenho e resulta-
consideramos, contudo, que o esporte deve ter um lugar do. Essas virtudes levam ao espaço educativo mais-valias
importante na formação das crianças e dos jovens. pedagógicas que sustentam a sua importância curricular.
Os jogos esportivos “são atraentes pela dinâmica que Na Unidade 2, aprofundaremos em métodos e mo-
exploram e as disputas que desencadeiam, enaltecendo delos de ensino do esporte que podem (e devem) ser uti-
o incerto (pela presença de um adversário), a tomada lizadas tanto no meio escolar, como fora dele.
de decisão e a inevitável solidariedade para a conquista
de um objetivo comum” (RESENDE; SÁ; LIMA, 2017,
p. 12). De acordo com os autores citados, o esporte tem
a possibilidade de transportar mais-valias pedagógicas
para o espaço educativo, potenciadoras de um desenvol-
vimento positivo dos jovens. Os resultados positivos da
participação esportiva na inclusão social, na saúde men-
tal e física e na aparente melhoria cognitiva e acadêmica
dos jovens (BAILEY, 2005) deve constituir um forte ar-
gumento para perspectivar um ensino esportivo de qua-
lidade. A própria ONU (2003) enaltece o esporte como
inclusivo e promotor da cidadania, contribuindo para a
economia e fomentando um ambiente limpo e saudável.
Nesse contexto, a EF é uma área curricular que se
preocupa com o desenvolvimento dos alunos em termos
de competência física e autoconfiança, de forma a usar
essas habilidades em um leque alargado de atividades.
Deve preocupar-se, em consequência, em ensinar os
alunos a “aprender a mover-se” e a “mover-se para apren-
der”. Centra-se no ensino de habilidades que envolvem
a participação física, com o conhecimento do próprio
corpo e a sua capacidade de movimento. Contudo, tem

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EDUCAÇÃO FÍSICA

Título: Educação Física no Ensino Superior - Educação Física na Escola: Implicações


para a Prática Pedagógica. 2ª edição
Autor: Suraya Cristina Darido; Irene Conceição Andrade Rangel]
Editora: Guanabara koogan
Sinopse: aborda o papel da Educação Física na formação do cidadão que conhece parte
da cultura corporal de movimento, que usufrui efetivamente dela para se beneficiar
das inúmeras possibilidades advindas da sua prática e melhorar aspectos relacionados à saúde, lazer e comu-
nicação, que deseja se tornar autônomo a fim de tomar decisões de fundamental importância para sua vida

Quando pensamos em sua perspectiva para o futu-


ro, o esporte tem sido um instrumento para a indústria
que, por meio da sua utilização, obtém grandes provei-
tos, impulsionando as economias nacionais. Para esse
feito, com o apoio dos órgãos de comunicação social,
promovem-se espetáculos esportivos e originam-se no-
vas estrelas midiáticas que alcançam grande repercussão
mundial. Contudo, apesar de o esporte de rendimento
ser seguido apaixonadamente por cada vez mais pesso-
as, não existe um reflexo desta paixão no incremento do
número de praticantes esportivos.
Tomando o exemplo do Brasil, quantas pessoas
praticam esporte e de que maneira o fazem? O Minis-
tério do Esporte (BRASIL, 2015) encomendou uma
pesquisa denominada Diagnóstico Nacional do Espor-
te (Diesporte), em que traçou, por um lado, o perfil do
praticante de esporte ou de atividade física e, por outro
lado, o sedentário (indivíduo que não faz atividade fí-
sica ou esporte). Os resultados indicam que 45,9% dos
brasileiros (67 milhões) são sedentários, sendo que as
mulheres representam uma maior percentagem, com
50,4%, enquanto os homens estão em 41,2%. Os seden-
tários são em menor número na faixa etária mais jo-
vem, mas progridem com a idade.

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Com relação a países como Argentina (68,3%) e


Portugal (53%), verificamos que a taxa de seden-
tarismo do Brasil é bem inferior. É ligeiramente
menor que a da Itália (48%) e ligeiramente maior
que a dos Estados Unidos (40%). A população de
sedentários é muito inferior em países como Es-
panha (35%), Uruguai (34,1%), Canadá (33,9%),
França (22%) e Inglaterra (17%). Será importante
notar, no relatório referido, que a faixa de idade dos
brasileiros na qual se regista um maior abandono
do esporte ou da atividade física se dá entre os 16 e
24 anos, indicando, igualmente, que 90% dos aban-
donos surgem até os 34 anos.
É interessante constatar, no mesmo relatório,
que os praticantes esportivos são 25,6% da po-
pulação, enquanto os outros 28,5% se declaram
praticantes de atividade física. Caracterizando
um pouco melhor, verifica-se que os homens
(35,9%) praticam mais esportes que atividades
físicas (22,9%), e que esta tendência se inverte
quando consideramos as mulheres, com somen-
te 15,6% praticando esporte e 34% relatando que
fazem atividade física.
É estimulante, para essa disciplina, perceber
que o caminho pelo qual o brasileiro inicia a sua
prática esportiva é, maioritariamente (48%), na
escola, com a orientação de um professor, e se ini-
cia entre os 6 e 14 anos. A modalidade esportiva
mais praticada é, sem surpresa, o futebol (59,9%),
sendo seguida do voleibol (9,7%). Os autores do
estudo registraram, ainda, que 90,3% dos entre-
vistados não recebem qualquer tipo de orientação
quando fazem atividade esportiva, e que 92,4%
não têm qualquer filiação a uma instituição para
efetuar a prática esportiva.
A gestão esportiva profissional trouxe no-
vas estratégias de marketing, planos de negócios

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EDUCAÇÃO FÍSICA

e expansão dos esportes para novos mercados. O


crescimento do rádio e da televisão fez com que o
esporte se tornasse parte do dia a dia das pessoas.
As estrelas esportivas passaram a fazer parte dos
tabloides e das televisões, vendendo produtos di-
versos, tornando-se parte da realidade mundana e
roubando o protagonismo que, no século passado,
pertencia às estrelas de cinema.
Assim, quando a globalidade dos indivíduos
reflete sobre o esporte ou a atividade física, não
lhe ocorre o que ela pode fazer como praticante,
mas, sim, os resultados esportivos do seu clube, das
grandes competições em que o seu país está envol-
vido ou as medalhas obtidas nas Olimpíadas. Por
outro lado, essa globalidade associa ao esporte as
personagens mais relevantes e as marcas que a elas
estão relacionadas (SPRACKLEN, 2015).
Refletindo sobre aquilo que pode ser o es-
porte no futuro, não podemos deixar de consi-
derá-lo e aceitá-lo como um espetáculo no qual
as regras do mercado econômico ditarão as suas
leis. Contudo, o esporte pode desempenhar uma
importante função social, pois oferece oportu-
nidades para melhorar o autoconhecimento e a
autovalorização, reforçando, dessa forma, a pró-
pria identidade e, com isso, a da comunidade em
que ele está inserido.
Para além das sensações descritas anterior-
mente, o esporte pode constituir uma importante
forma de promoção da saúde, combatendo aquilo
que já se chama de doença do século: a obesidade.
Nesse sentido, ao fomentar um estilo de vida sau-
dável e promover os valores que lhe são próprios,
o esporte suscita um ser humano melhor. Carece,
por isso, de se considerá-lo como uma atividade
educativa e formativa, em que o intuito será criar
um cidadão com um estilo de vida ativa.

21


Dessa forma, ao olhar para o fenômeno esportivo, deve- Ainda, segundo o mesmo autor, além dessas característi-
remos ter consciência do seu alcance e de sua amplitude. cas, o esporte se situa como:
A atividade física e a competição estão no âmago das de-
finições de esporte. De acordo com Resende (2016), uma • Principalmente físico.
organização internacional denominada SportAccord, que • Principalmente mental.
aglomera federações esportivas internacionais, além de ou- • Principalmente motorizado.
tras organizações, define esporte como uma atividade que: • Principalmente coordenativo.
• Principalmente suportado por animais.
• Deve incluir um elemento de competição.
• Não deve recair em qualquer elemento de ‘sorte’.
• Não deve apresentar risco para a saúde ou segu-
rança dos seus praticantes.
• Não pode, de nenhuma forma, ser prejudicial Você acredita que esportes considerados radi-
para qualquer criatura viva. cais, ou mesmo as lutas, possuem risco à saúde
• Não deve depender de equipamentos providen- dos praticantes?
ciados por um só fornecedor.

22
EDUCAÇÃO FÍSICA

Podemos partir da premissa de que o esporte depende de por meio do esporte-espetáculo, quanto em uma pers-
estruturas formais e de organizações que estabelecem as pectiva mais global, em que faixas maiores da população
regras da competição e monitoram os participantes. Su- desfrutarão das suas potencialidades. O reconhecimen-
gere-se que os profissionais da área apreciem esta ativida- to de que as implicações da prática do esporte poderão
de como constituída por múltiplos esportes, pois implica ser benéficas, sendo reflexos positivos sociais, implicará
considerar distintos enquadramentos na sua formulação. a promoção e a maximização da sua prática.
Sobre essa temática, alertamos que a generalidade dos clu- As razões pelas quais é importante promover o es-
bes está formatada para o alto rendimento esportivo, mes- porte, sobretudo nas faixas etárias mais precoces, assi-
mo os que sabem que nunca terão as possibilidades de lá nala que os esportistas têm uma maior disposição para
chegar, sendo que o esporte de alto rendimento é somente hábitos alimentares mais saudáveis, para manter um
uma parte muito reduzida dessa atividade. peso menor, e uma diminuição da sedução pelo fumo
Como potencializador da saúde, no futuro, espe- ou pelas drogas. Possuem, igualmente, menor tendência
ra-se que o esporte continue a se evidenciar nas diferen- para expressar sentimentos de desânimo e de aborreci-
tes comunidades, tanto sob a sua forma mais popular, mento ou tédio (MULHOLLAND, 2008).

23


A investigação tem contribuído para a solidificação um instrumento para a promoção de hábitos de saúde
da opinião de que a atividade física e esportiva praticada no presente e para o futuro.
pelos jovens e pelos adolescentes tem um forte tributo Salienta-se a evidência de que o esporte promove,
na promoção da saúde pública. Acresce esta importân- para além das competências esportivas, competências
cia, em termos de benefícios, quando a participação de vida (aspecto que trataremos com maior relevância),
esportiva é realizada de uma forma consistente (TE- o que, naturalmente, faz com que o treinador deva inves-
LAMA, 2009). Por isso a importância de a participa- tir nessa ideia. Aliando o conhecimento que ele possui
ção esportiva ser integrada em um programa esportivo, dos atletas e das suas necessidades, o treinador poderá
desenvolvendo- se de forma significativa e persistente incrementar de forma muito positiva as aptidões des-
ao longo do tempo. Aliás, reforçando a ideia anterior, ses atletas para a vida (WHITLEY; WRIGHT; GOULD,
Kjonniksen, Fjortoft e Wold (2010), em uma pesquisa 2016), considera-se que as competências de vida oriun-
com 630 participantes, verificaram uma relação positiva das por meio do esporte podem ser transferidas para
entre a participação esportiva organizada e o desenvol- outras realidades. Para isso, o treinador terá de agir de
vimento de atividade física em idades adultas. Ou seja, a uma forma consciente, enfatizando a aquisição de habi-
prática esportiva em idades mais jovens antevê o envol- lidades transversais aos diferentes domínios em que está
vimento com a atividade física quando se é mais velho, envolvido e, assim, dotando os atletas de uma melhor
sendo consistente defender a formação esportiva como preparação para enfrentar com sucesso a vida cotidiana.

24
EDUCAÇÃO FÍSICA

OLHAR CONCEITUAL

Dentro de tudo o que foi abordado, é importante olhar para o esporte a partir das suas possibilidades de manifestações. De
modo geral, podemos entender essas manifestações a partir de duas categorias (MARQUES; ALMEIDA; GUTIERREZ, 2007):

Figura 1 – Modelo de concepção das formas de manifestação do esporte / Fonte: adaptado de Marques, Almeida e Gutierrez, (2007).

Descrição da Imagem: a imagem é um fluxograma que apresenta os aspectos inerentes às modalidades esportivas, o sentido que leva à prática,
e que compõem as manifestações esportivas. O fluxograma se inicia, na parte central superior, com a escrita “Esporte”, e dessa palavra saem
duas linhas, uma à esquerda, que apresenta “Modalidades Esportivas” e possui três itens: “Regras”, “História” e “Forma de Disputa”. À direita,
saindo da palavra “Esporte”, temos “Sentido para a prática”, que traz três itens: “Valores Morais”, “Significado da prática” e “contexto cultural”. Os
três itens de cada lado são interligados a um único ponto: “Forma de manifestação do esporte”.

O sentido da prática considera as intenções e o contexto em que o esporte é inserido. Já a modalidade esportiva refere-se
às atividades realizadas com intuito competitivo, que possuem regras e normas. Todavia, é importante entendermos que
a prática esportiva não é dualista, e que as categorias citadas se interpõem e, muitas vezes, se completam. Em um jogo de
final da Copa do Mundo de futebol, por exemplo, por mais que seja característico da modalidade esportiva, ainda haverá
um contexto social por trás, que dará sentido à prática (MARQUES; ALMEIDA; GUTIERREZ, 2007).

25


Pensando nos diferentes tipos de participação dentro foi evidenciado por Resende (2016) e que podemos ob-
do esporte, o alto rendimento não é a única forma pela servar na citação a seguir, assim como na Figura 2.
qual devemos observar e considerar a atividade esporti-
va. Considerando o espectro da participação esportiva, • O esporte de participação, que envolve crianças,
jovens adolescentes e adultos, tem como objetivo
protagonizado pelo ICCE (International Council for
resultados autorreferenciados como o entrete-
Coach Education) e pela ASOIF (Association of Sum- nimento, o desenvolvimento de habilidades e o
mer Olympic International Federations), em 2012, duas vínculo com um estilo de vida saudável.
organizações internacionais que fomentam o esporte, o
estudam e o promovem, procurando qualificá-lo pela • O esporte de rendimento, que engloba atletas
melhor preparação dos treinadores, identificaram dois emergentes, atletas de performance e atletas de elite.
tipos diferentes de participação esportiva, o que também

Figura 2 – Espectro da participação esportiva / Fonte: ICCE e ASOIF (2012)

Descrição da Imagem: a imagem é um fluxograma que apresenta as etapas da vida em que cada tipo de esporte é geralmente praticado. Ao
lado esquerdo, temos três itens: adultos; adolescentes; crianças. Do lado direito, atletas de elevada performance; atletas de performance; atletas
emergentes. Cada etapa da vida corresponde à prática esportiva citada, respectivamente.

26
EDUCAÇÃO FÍSICA

O campo de intervenção dos clubes esportivos


Essa distinção obriga a oferecer uma atenção par- (inspirado no livre associativismo) está-se a alte-
ticular sobre os objetivos esportivos para cada um rar pois, de locais onde os jovens ingressavam para
dos programas em que os atletas se inserem. Con- jogar, numa perspectiva de proximidade e oportu-
sequentemente, as exigências que consideram o nidade, de onde emergiam os mais aptos para voos
mais desafiantes, estão, para fazer face às despesas, a
nível do treino e da competição deverão ser con- transformar-se em empresas para sobreviver. Desta
venientemente adequadas, sugerindo-se a premissa forma, apesar de essencialmente motivados para o
de que todos que praticam esporte merecem trei- esporte de rendimento, os clubes passaram igual-
nadores qualificados. mente a prestar um serviço de participação espor-
tiva. Aliás, assiste-se à emergência de um grande
O esporte, neste século, deve almejar a mas-
número de ‘escolinhas’ e ‘academias’ esportivas, com
sificação da participação esportiva com o intuito vínculos aos clubes esportivos tradicionais ou a atu-
da promoção do desenvolvimento e da integração arem de forma autónoma (RESENDE, 2016, p. 38).
social e, paralelamente, da melhoria da saúde e ap-
tidão física das populações. Todavia, apesar de al-
gumas iniciativas políticas com o intuito de mas-
sificar a participação esportiva, ainda são escassas
as oportunidades para praticar esporte por prazer,
nomeadamente, de forma organizada. Existe, assim,
um abundante trabalho para integrar todos os que
gostariam de participar do esporte, prestando aten-
ção também nas populações especiais, nas mulheres
e nos idosos. Os decisores políticos investem mui-
ta da sua energia na promoção de grandes eventos
esportivos com a perspectiva de obter dividendos
eleitorais, cabendo à sociedade um papel reivindi-
cativo no apelo para que se criem melhores condi-
ções de generalização da prática esportiva.
É de elevada relevância social o que o esporte pode
realizar na potencialização da saúde das populações,
tendo em consideração os diferentes tipos de partici-
pação esportiva e adequando os seus propósitos a cada
população que os procuram. Dessa forma, o esporte
poderá alargar exponencialmente a sua penetração e,
consequentemente, a promoção dos seus valores.
Quando pensamos em clubes esportivos, a
modernização destes será uma realidade no pano-
rama de uma sociedade plural, desenvolvida e a ser-
viço das populações.

27


Esse novo cenário esportivo provoca profundas altera- • Avaliações e aconselhamentos pessoais
ções na adesão ao esporte, pois os atletas começaram a ao nível da prescrição do exercício e de
se constituir como clientes, exigindo a prestação de um nutrição.
serviço melhor. A procura do esporte pelas crianças e • Constante renovação de atividades.
pelos jovens que nasce de uma vontade intrínseca de • Acompanhamento personalizado se de-
praticar, e com forte apoio dos pais, que valorizam mui- sejado pelo cliente.
to a atividade, as quais consideravam uma boa ocupa- • Possibilidade de um retorno à calma so-

ção que, além de estimular o corpo, também desviava fisticada, como é o SPA.

os jovens de “más companhias”, passou a constituir uma


necessidade educativa que transcende a mera prática. Para enfrentar a modernidade, o clube esportivo terá
Assim, a qualidade do serviço prestado passa a ser equa- que ser atraente, não sendo suficiente possuir um espaço
cionado sob perspectivas substancialmente distintas das para a prática de uma modalidade. Nesse sentido, assi-
que eram observadas no passado, exigindo melhores nalamos que a prática esportiva atual e futura:
condições materiais e um acompanhamento pedagógi-
co de qualidade (RESENDE, 2016). • Deverá ter dirigentes preparados conveniente-
mente para uma nova era de consumidores, pois
Com essa nova postura, o treinador esportivo
o tempo dos dirigentes voluntários, generosos e
será forçado a adaptar-se e a preparar-se de forma bem-intencionados, mas com escassa prepara-
condizente. Constituindo-se como empresa, o clube ção, não combina com as novas necessidades. Es-
esportivo, apesar de estar configurado para o esporte tes continuam a ser determinantes pela ligação à
de rendimento, terá que se reinventar, alargando o seu história e aos valores do clube, contudo, a gestão
campo de recrutamento para o esporte de participa- diária das atividades terá que, forçosamente, en-
ção, fornecendo um serviço reputado com treinadores contrar outro tipo de resposta mais profissional
e, por isso, mais qualificada.
profissionais altamente qualificados, e bem equipado
em termos materiais e de instalações. Nesse contexto, • Os treinadores terão de estar preparados para o
e tendo como referência as academias e a sua enorme contexto específico onde irão operar e para as
expansão – o Brasil tem o maior número de acade- necessidades de aprendizagem do grupo que vão
mias do mundo, cerca de 20 mil, contando com 3,6 liderar, sob pena do serviço prestado ficar com-
milhões de usuários (ANDREAZZI et al., 2016) –, os prometido.
melhores exemplos reúnem um conjunto de valias • Os funcionários terão de ser o reflexo dos valores
que são muito apelativas, a saber (RESENDE, 2016): do clube, cuidando da relação social e estabele-
cendo pontes para uma boa relação entre todos.
• Um ambiente atraente.
Nesta perspectiva, de acordo com Resende (2016, p. 40),
• Atividades diversificadas.
• Autonomia de horários.
um clube moderno deve:
• Profissionais qualificados e profunda-
• Apontar para uma lógica integrada em que o es-
mente diligentes.
porte, apesar de ser o core da sua atividade,” pode

28
EDUCAÇÃO FÍSICA

agregar outras valências. Para isso, deve haver


diferentes realidades estiverem claramente definidos, a
um projeto esportivo de onde emanem os seus
propósitos e que sirvam de identificação para coexistência é benéfica, podendo haver a possibilidade
quem procura os seus serviços. de transversalidade entre os projetos, pelo aumento ou
diminuição do investimento pessoal do atleta.
• Ser um espaço social em que os valores que pro- Esse processo faz apelo a uma seriedade profissional
move devem estar bem determinados e sobre os na intervenção com os jovens a qual, por sua vez, não se
quais deve assentar a dinâmica da sua atividade.
compadece com leviandades. Está em risco o abandono
• Providenciar este aspecto: o acolhimento dos prematuro da atividade esportiva por parte dos jovens e
‘clientes’ será efetuado por alguém preparado, esse pode ser combatido por uma visão que não tenha
num espaço adequado e reservado, onde se ex- como única direção o esporte de rendimento, em que se
plicará o tipo de serviço que o clube presta, ade- investe, progressivamente, mais tempo, ou se desiste.
quando-o ao perfil e desejo manifestado. Reforçamos que a todos deve ser dada a oportunida-
de de praticar esporte de acordo com as suas motivações
• Proporcionar uma avaliação física ao atleta,
aconselhamento nutricional, disponibilizar e a possibilidade de tempo ou de talento demonstrado.
serviços de fisioterapia e de reabilitação capa- Para alcançar esse objetivo, o serviço a ser prestado pelos
zes e eficientes. clubes deverá ser melhorado, assegurando aos pais e en-
carregados da educação que o filho esteja bem acompa-
• Fornecer orientação psicológica e social.
nhado, desfrutando de uma formação holística, em um
ambiente seguro, e com o propósito de um desenvolvi-
De modo geral, os clubes deverão incluir, além do esporte mento de maneira positiva.
de performance, o esporte de participação, consideran-
do os níveis de rendimento/competição diferenciados e,
por via dessas diferenças, estratégias de intervenção ade-
quadas aos objetivos de cada uma das realidades. Como
exemplo disso, podemos pensar em duas equipes infan-
tojuvenis, em que uma treina duas vezes por semana e a
outra quatro vezes, aos quais se acrescentam as competi-
ções (habitualmente aos fins de semana). Nesse exemplo,
o tipo de exigência colocado na qualidade do treino e da
qualificação do treinador deverão ser idênticos, pois o
objetivo continua o mesmo, ou seja, competir e prepa-
rar-se para essa competição, contudo, o tempo de treino
é distinto e, obviamente, o tipo de investimento pessoal
dos atletas também é diferente.
Assim, a seriedade com que se encara o processo de
treinamento deverá ser similar, considerando os objeti-
vos diferenciados. Ainda, se os projetos esportivos das

29


Dessa forma, os pais terão de ser considerados como volvimento, em total sintonia e cumplicidade, conside-
parceiros essenciais na dinâmica do clube e no projeto rando que o esporte está longe de se esgotar nos mais
esportivo do seu filho. Por isso, se torna determinante jovens. No caso do esporte de participação para adultos,
fundamentar devidamente o que se pretende deles para o acompanhamento e rigor deverá ser similar e o trei-
que o desenvolvimento do seu filho ocorra de forma in- nador deverá adaptar-se às exigências do processo de
tegral. Uma sã convivência entre todos os parceiros fará treino através de uma forma negociada com os atletas.
emergir uma dinâmica social no clube, o que conduzirá O uso dos novos meios de controle do esforço, pos-
a melhores resultados educacionais e esportivos. sibilitados pelas aplicações informáticas, podem ser um
A política de exclusão, tantas vezes observada nas auxiliar fundamental na promoção da motivação para
rotinas dos clubes, deve ser evitada. Ao invés disso, os uma regularidade da prática esportiva. Considerando o
clubes devem apostar claramente em estratégias de inte- perfil desse segmento etário, o treinador deverá conside-
gração no processo esportivo dos seus filhos, com nor- rar outras vertentes para a sua atuação, nomeadamente,
mas e procedimentos bem claros e aceitos por estes. a de promotor de eventos de aspecto social, valorizando
Nesse sentido, o treinador, responsável máximo pelo formas de confraternização, reforçando, dessa forma, o
processo esportivo, deverá proporcionar informação aos sentimento de pertença e o valor da vida na sua plenitude.
pais, de forma a que estes possam constatar a evolução Acreditamos que, envolvendo os clubes, os dirigentes,
do seu filho, seguindo o exemplo da escola, que o faz por os treinadores, os pais e os atletas, será evidenciada uma
meio do boletim de resultados escolares. Para isso, indi- forma positiva de encarar o esporte e reforçará a sua im-
ca-se a criação de uma ficha do atleta com informações portância na esfera social. Nesse sentido, a ideia de pro-
periódicas do atleta. A qualidade dessa informação e a fessores e treinadores que encarem o esporte com uma
forma como é veiculada, diferencia a qualidade do ser- responsabilidade que ultrapassa o próprio esporte, e que
viço que é prestado no clube, assim como o empenho promovem o exercício profissional de uma forma pro-
que o treinador revela na forma como se preocupa com gressista, pode ser mais relevante. Para fazer face às inten-
a evolução do atleta. ções enunciadas anteriormente, as competências do trei-
Dentre as competências dos treinadores, evidencia- nador, figura nuclear de todo o processo, deverão emergir
-se a necessidade de uma boa relação com os pais dos de amplos conhecimentos, de forma que ele exerça profis-
seus atletas e um comprometimento com o seu desen- sionalmente a sua atividade de maneira eficaz.

30
EDUCAÇÃO FÍSICA

Esporte-educação: pode ser entendido como o esporte escolar e tem como objetivo “[...] democratizar e
gerar cultura pelo movimento de expressão do indivíduo em ação como manifestação social e do exercício
crítico da cidadania, evitando a exclusão e a competitividade exacerbada”. No contexto escolar, o foco deve
ser em proporcionar aos alunos vivências de diferentes modalidades, além da reflexão crítica do esporte
na sociedade (DARIDO; RANGEL, 2011, p.184).

Esporte-participação: caracterizado por atividades não comprometidas com tempo ou livre de obrigações
e tem como objetivo a diversão, desenvolvimento pessoal e/ou interação social. Pode ser praticado por
todas as populações, sem distinção de idade ou gênero (DARIDO; RANGEL, 2011).

Esporte-performance: também chamado de esporte de rendimento, está intimamente vinculado à ideia


de vitória ou derrota. É praticado considerando regras e códigos éticos preestabelecidos por instituições
que organizam as competições (ligas, federações, confederações, comitês olímpicos). Envolve atletas de
alto nível e possibilita a existência de profissões especializadas no esporte (DARIDO; RANGEL, 2011).

O que o esporte significa em sua vida? Bem, é fato que todos nós, em algum mo-
mento da vida, tivemos contato com algum esporte, seja pela prática de alguma
modalidade, pelo prazer de assistir a jogos e acompanhar competições diversas,
ou ambos. Para alguns, esse contato pode ter sido simples, singelo, sem muita
importância. No entanto, para muitos, o contato com o esporte pode ser algo
transformador! Considerando essas informações, neste podcast falaremos um
pouco mais sobre o fenômeno esporte, suas vertentes e o impacto que estas
têm na vida das pessoas! Aperte o play e vamos lá!

31


Título: Menina de ouro


Ano: 2005
Sinopse: Frankie Dunn passou a vida nos ringues, tendo agenciado e treinado grandes
boxeadores. Magoado com o afastamento de sua filha, Frankie é uma pessoa fechada e
que apenas se relaciona com Scrap, seu único amigo, que cuida também de seu ginásio.
Até que surge em sua vida Maggie Fitzgerald (Hilary Swank), uma jovem determinada
que possui um dom ainda não lapidado para lutar boxe. Maggie quer que Frankie a treine, mas ele não aceita
treinar mulheres e, além do mais, acredita que ela esteja velha demais para iniciar uma carreira no boxe.

Bem, como estudamos no decorrer da unidade, o pri- todos. Será determinante equacionar estratégias que
meiro contato com o esporte, na maioria das situações, evidenciem todos os aspectos relacionados ao jogo e à
acontece dentro do âmbito escolar. Nesse sentido, com- competição esportiva. Além disso, considerando que o
preender como se pode intervir pedagogicamente para perfil profissional do treinador vem se alterando pelas
que essa experiência seja positiva e conquiste os alunos demandas cada vez mais complexas e específicas, não
para uma prática esportiva continuada é incumbência será mais possível ao treinador somente saber do espor-
do professor/profissional de Educação Física. Ainda, te em concreto. Ele terá que dominar um conjunto de
considerando o enquadramento do esporte na socie- conhecimentos diversificados, alicerçados nas ciências
dade deste século, o qual possui uma grande relevância que suportam a atividade esportiva (ciências biológicas,
não só dentro da escola, cabe a esse profissional equa- ciências humanas e sociais) para, com a intervenção pe-
cionar e projetar de forma adequada a sua intervenção, dagógica adequada, estimular uma aprendizagem sólida
sempre com a preocupação subjacente de fazer com do atleta, seja este de participação (criança, jovem, adul-
que o esporte contribua para melhorar a saúde das po- to) ou de rendimento (jovem ou adulto).
pulações, nomeadamente por meio do fomento de um Assim, tanto em ambiente escolar, quanto fora dele,
estilo de vida saudável. o professor/profissional de Educação Física terá que dar
Para isso, o professor/profissional de Educação Fí- respostas às crescentes exigências que lhe são colocadas,
sica terá que idealizar a sua intervenção de uma forma demonstrando uma capacitação e uma maestria revela-
contextualizada a cada grupo que lidera, pautando a sua dora dos desafios que enfrentará. Somente desse modo
intervenção adequadamente, com o intuito de fazer as ele poderá reivindicar e exigir a consideração merecida
crianças e os jovens tirarem o máximo partido da ati- pela sua atividade profissional.
vidade e tendo em mente a inclusão e a valorização de

32
agora é com você

1. O esporte é entendido como uma atividade social institucionalizada, composta por regras, que
possui uma base lúdica, no qual o objetivo é determinar o vencedor ou registrar o recorde, por
meio de comparação de desempenhos. Nesse sentido, o esporte pode ser dividido em educação,
participação e performance. Sobre as três vertentes do esporte, analise as afirmativas a seguir:

I. O esporte-educação refere-se ao esporte escolar e tem como um dos objetivos a reflexão do


esporte na sociedade.
II. O esporte-performance é aquele praticado por todas as populações e tem como objetivo a
socialização focada na vitória.
III. O esporte-participação refere-se a atividades realizadas sem compromisso e que tem como
objetivo a interação social e desenvolvimento pessoal.

É correto o que se afirma em:

a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. II e III, apenas.
d. I e III, apenas.
e. I, II e III.

2. Como vimos no decorrer da unidade, a Educação Física é componente curricular obrigatório para a
Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio). Nesse contexto, analise
as alternativas a seguir e assinale aquela que corresponde ao objetivo da Educação Física escolar:

a. Ensinar o esporte.
b. Disciplinar os alunos.
c. Detectar futuros atletas olímpicos.
d. Divertir os alunos por meio de um recreio supervisionado.
e. Desenvolver em todos os alunos competências e habilidades motoras.

3. Ao longo de sua história, a Educação Física manifestou-se de várias maneiras. Houve o período
higienista, o pedagogicista e o competitivista, por exemplo. Sendo que, nesse último período,
os militares apossaram-se da EF e até hoje influenciam a maneira com que o esporte é visto
no Brasil. Apesar de ser considerado um conteúdo de docência, o ensino do esporte na escola
ainda é visto com alguma desconfiança. Com relação ao motivo dessa desconfiança, assinale
a alternativa correta:

a. Só serve para jogar futebol.


b. Retira tempo das atividades gímnicas.

33
agora é com você

c. Contribui para a integração e socialização dos jovens.


d. Favorece o desenvolvimento global de todos os alunos.
e. Exalta o aluno atleta e a supervaloriza competições.

4. “O esporte pode constituir uma importante forma de promoção da saúde. [...] Nesse sentido,
ao fomentar um estilo de vida saudável e promover os valores que lhe são próprios, o esporte
suscita um ser humano melhor”.
RESENDE, R. Iniciação Esportiva. Maringá - PR.:Unicesumar, 2018. Reimpresso em 2021. p.46.

Em resumo, o trecho cita que:

a. O esporte vai além da performance.


b. O esporte pode promover saúde e qualidade de vida.
c. O esporte-educação também pode ser esporte-saúde.
d. O esporte tem como intuito somente a promoção da saúde.
e. O esporte pode transformar o ser humano por meio da educação e saúde.

5. O esporte-performance ou de rendimento engloba atletas emergentes, atletas de performance


e atletas de elite. Essa distinção obriga a oferecer uma atenção particular sobre os objetivos es-
portivos para cada um dos programas nos quais os atletas se inserem. Considerando o trecho
anterior, analise as afirmativas e marque V para verdadeira e F para falsas.
( ) Adolescentes são classificados como atletas de performance.

( ) Crianças podem ser consideradas atletas emergentes e também de performance.

( ) Crianças, adolescentes e adultos podem ser classificados como atletas emergentes.

( ) No esporte-performance, adultos são classificados como atletas de elite, enquanto crianças


são classificadas como atletas emergentes.

As afirmativas são, respectivamente:

a. V, F, F, V.
b. F, F, V, F.
c. V, V, F, V.
d. F, F, F, V.
e. V, F, V, V.

34
UNIDADE
II
MODELOS DE ENSINO PARA
A INICIAÇÃO ESPORTIVA

Dr. Rui Resende


Me. Suelen Rodrigues da Luz

Oportunidades de aprendizagem

Com objetivo de auxiliá-lo na tarefa de atuar profissionalmente com excelência, nesta


unidade, você terá a oportunidade de se aprofundar ainda mais no conceito de esporte,
a partir da classificação das modalidades esportivas. Além disso, adentraremos em
alguns dos principais modelos de ensino utilizados na iniciação esportiva, que podem
ser utilizados tanto em ambiente escolar quanto fora dele.
unidade

II


lo, para ser o “bobinho”. O objetivo da atividade


Todos nós, em algum momento da vida, tivemos algum
é trocar passes entre os alunos que formam o
tipo de contato com o esporte, correto? Você se lembra círculo, sem que o “bobinho”, roube a bola.
como o seu professor/profissional de Educação Física
ensinou um esporte a você, durante a aula de Educação
Física ou em escolinhas de treinamento? Como você Tanto a atividade 1 quanto a atividade 2 têm como
aprendeu os fundamentos, as regras, além de ações táti- objetivo realizar passes, certo? Todavia, há alguns
cas? Foi por meio de exercícios isolados, focados na exe- pontos que devemos observar em cada uma das situ-
cução e repetição de movimentos? Ou dentro do contex- ações. A atividade 1 foca na execução do gesto mo-
to do jogo (aprender a jogar, jogando)? tor, por meio da repetição do movimento do passe.
Para entender o contexto das perguntas anterio- Já a atividade 2 foca no passe em situação de jogo, ou
res, imagine as duas atividades a seguir: seja, inclui outros elementos que fazem parte do jogo
formal, como o adversário (representado pelo “bobi-
• Atividade 1 – Alunos/atletas divididos em du- nho”), por exemplo.
plas, posicionados um de frente para o outro,
Essa diferença dos “meios” de ensino para um
com cerca de 5 metros de distância um do ou-
tro. Cada dupla terá uma bola e o objetivo da mesmo “fim” (ou objetivo), que no exemplo foi repre-
atividade é realizar passes entre si. sentado pelo fundamento do passe, indica a existência
de métodos e modelos diferentes para o ensino das
• Atividade 2 – Alunos/atletas dispostos em cír- modalidades esportivas, os quais são utilizados tanto
culo. Um deles deverá ficar ao centro do círcu- em ambiente escolar quanto fora dele.

38
EDUCAÇÃO FÍSICA

Voltando aos exemplos de atividades, além do que foi do com sua opinião. A resposta para essa questão será
citado, há alguma outra observação a fazer com relação descrita no decorrer da unidade.
às atividades? Você notou mais algum detalhe? Alguma
outra semelhança ou diferença entre as atividades e que a. As atividades propostas são específicas para
alguma modalidade esportiva ou estas podem
não foi pontuada? Utilize seu diário de bordo para fazer
ser adaptadas para diferentes modalidades?
suas anotações acerca dos questionamentos anteriores. Justifique sua resposta e dê exemplos. Utilize,
Caso não tenha nenhuma observação, analise e mais uma vez, o diário de bordo.
reflita sobre a pergunta a seguir, e responda de acor-

Entendemos que o esporte pode ser classificado de forma mais específica, abordaremos as classificações
acordo com as diferentes formas de manifestação e a categorização das modalidades esportivas, consi-
(educação, participação e performance). Agora, de derando suas características.

39


De acordo com a descrição de Darido e Rangel ou sem a oposição de um adversário. Da mesma for-
(2011), as modalidades esportivas podem ser clas- ma, os esportes coletivos caracterizam-se pela ação
sificadas considerando o número de participantes. em grupos ou equipes e que podem confrontar (ou
Assim, as modalidades podem ser classificadas em não) outras equipes (DARIDO; RANGEL, 2011). No
esportes individuais e esportes coletivos, que ainda Quadro 1, a seguir, há alguns exemplos de modalida-
podem ser divididos considerando a presença ou não des esportivas coletivas e individuais. Além desses, há
de adversários (GONZALES, 2004). Os esportes indi- uma infinidade de outras modalidades esportivas que
viduais caracterizam-se pela atuação individual, com se encaixam dentro dessas classificações.

Modalidade esportiva Sem interação com o adversário Com interação com o adversário
Atletismo Badminton
Individual
Natação Tênis
Futebol
Ginástica rítmica Handebol
Coletiva
Nado sincronizado Basquete
Voleibol

Quadro 1 – Exemplos de modalidades esportivas individuais e coletivas / Fonte: adaptado de Darido e Rangel (2011)

Seguindo essa linha, a Base Nacional Comum Curri- cas realizadas, ou seja, reúne esportes que apresentam
cular (BNCC) (BRASIL, 2018) propõe uma categori- exigências motrizes semelhantes no desenvolvimen-
zação para os esportes, a qual considera a lógica inter- to de suas práticas. Assim, as modalidades esportivas
na das modalidades e tem como referência os critérios são classificadas em: marca; precisão; invasão; campo
de cooperação, a interação com o adversário, o desem- e taco; combate; técnico-combinatório e rede/parede.
penho motor e objetivos táticos da ação. Tal modelo A figura a seguir (Figura 1) apresenta as característi-
de categorização possibilita que as modalidades sejam cas de cada categoria, bem como as modalidades que
distribuídas de acordo com as ações motoras intrínse- fazem parte de cada uma (BRASIL, 2018 p. 216, 217).

40
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 1 – Representação da categorização dos esportes e suas características, de acordo com a BNCC Fonte: adaptado de Brasil (2018 p. 216, 217)

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Considerando que nosso objetivo, aqui, é apresentar literatura, aumentando o leque de possibilidades para
informações gerais sobre a iniciação esportiva que po- um ensino mais eficaz dos JEC, seja na área do lazer,
dem ser utilizadas tanto em ambiente escolar, como da educação ou da performance.
fora dele, iremos focar nas modalidades coletivas Primeiramente, precisamos ter em mente que os
que possuem interação com o adversário, principal- modelos de ensino seguem abordagens metodológicas
mente as de invasão. Fique tranquilo, pois no decor- que podem ser classificadas em tradicionais e contem-
rer da sua formação como professor/profissional de porâneas (inovadoras). As abordagens tradicionais ou
Educação Física, você terá disciplinas específicas de analíticas, têm como foco geral a eficiência técnica por
modalidades pertencentes a outras categorias, como o meio da repetição de padrões de movimento, o que
atletismo na categoria de esportes de marca, ginástica pode gerar seletividade entre os praticantes, além de
nos esportes de técnica combinatória, algumas mo- um estado de dependência multifatorial, não só na di-
dalidades de lutas para esportes de combate, e outras mensão da prática esportiva (GASPAR, 2011).
modalidades que contemplem as demais categorias. Como exemplo de método de ensino baseado na
Conforme descrito anteriormente, as modalida- abordagem tradicional, temos o ensino particional,
des esportivas coletivas ou Jogos Esportivos Cole- também conhecido como método por partes ou analí-
tivos (JEC) exigem a interação e a cooperação entre tico, no qual as ações do jogo são divididas e trabalha-
duas ou mais pessoas que buscam superar outra dupla das de forma isolada. O objetivo desse modelo é en-
ou equipe. Essa categoria é considerada um fenômeno sinar as ações técnicas e táticas separadamente, para
esportivo moderno, devido aos poucos registros desse que os praticantes consigam realizá-las com eficiência,
tipo de atividade na antiguidade (GONZALES, 2004). unindo-as em situação de jogo (GONÇALVES, 2012).
Atualmente, as modalidades coletivas são as que
mais chamam atenção da população, devido as suas
características de interação em grupo, que, para Da-
rido e Rangel (2011, p. 186), “[...] reforçam a neces-
sidade humana de socialização, além, obviamente, do
elemento lúdico envolvido na disputa do tipo jogo”.
Nesse contexto, a legitimação do ensino do esporte,
na escola e fora dela, advém do seu próprio valor en-
quanto potencial de desenvolvimento do ser humano,
por meio de uma prática que, apesar de lúdica e praze-
rosa, exige o cumprimento de regras preestabelecidas
e, por isso, implica organização. Dessa forma, ensinar Acesse o QR code a seguir para verificar um exemplo
um jogo esportivo coletivo implica a orientação e o de atividade que tem como foco o gesto motor (téc-
comprometimento com um objetivo, exigindo esforço nica). Perceba que, durante todo o vídeo, que apre-
e persistência, qualidade de desempenho e resultado. senta o fundamento passe da modalidade futebol, a
Para que isso aconteça, ao longo dos anos, diferen- preocupação dos jogadores é totalmente voltada para
tes métodos e modelos de ensino foram descritos na a execução do fundamento.

42
EDUCAÇÃO FÍSICA

não corresponder nem às expectativas dos alunos,


nem aos objetivos que persegue, visto que o foco de
Título: Exemplo de
um ensino centrado em um método de aquisição das
exercício focado na
técnicas específicas de cada um dos esportes, desli-
execução do gesto
motor (técnica). gada do contexto real do jogo, implica uma escassa
aquisição de competência por parte dos alunos em
Sinopse: O vídeo
resolver as situações reais que o jogo levanta. Isso,
apresenta dois indi-
aliado à exaltação de uma maestria técnica, traz des-
víduos, vestidos com trajes esportivos rela-
motivação aos alunos pela falta de sentido que leva a
cionados ao futebol, em posse de uma bola,
realizando passes rasteiros entre si.
sua aprendizagem do jogo.
A questão de como ensinar os jogos esportivos
constitui um assunto controverso e tem sido objeto
de grande curiosidade acadêmica. As novas correntes
pedagógicas sustentadas nas teorias da aprendizagem
Apesar de apresentar algumas vantagens, como a cognitiva e construtivista, assim como a teoria da
maior facilidade no ensino e a correção das ações aprendizagem situada, são consideradas abordagens
técnicas do jogo, o ensino dos esportes por meio de inovadoras no ensino dos esportes (ROBLES et al.,
métodos tradicionais tem sido objeto de críticas por 2013) e têm dado destaque ao conceito de modelo em

43


detrimento do método. Os modelos de ensino são de- pois, por meio da colocação do aluno em uma si-
senvolvidos para que haja uma participação equitati- tuação de jogo de enfrentamento do adversário, ele
va, desafiando o raciocínio dos praticantes para além é estimulado a encontrar as melhores soluções para
da replicação das técnicas ou das habilidades. resolver os problemas que o jogo induz. Assim, o
A esse propósito, Metzeler (2005) refere que o aluno/atleta alcança um nível de compreensão cons-
modelo: ciente e age intencionalmente sobre a tática do jogo
(GRAÇA; MESQUITA, 2007).
A prática de jogos reduzidos oferece, igualmente,
• Fornece um plano global e uma abordagem a vantagem de permitir aos professores e treinadores
coerente para ensinar e aprender.
integrar o ensino de modalidades similares, pois a
• Clarifica as prioridades nos diferentes domínios transferibilidade entre elas é possível. Como exemplo,
de aprendizagem e de suas interações. podemos citar o popular jogo dos “10 passes” em que
• Fornece uma ideia central para o ensino. se pretende que uma das equipes mantenha a posse de
bola, em que o objetivo, para além de manter a posse
• Permite ao professor e aos alunos entenderem
de bola, é efetuar uma progressão no terreno de jogo.
o que está acontecendo e o que virá a seguir.

• Fornece uma estrutura teórica unificada.

• Apoia-se na investigação.

• Fornece uma linguagem técnica aos professo-


res e treinadores.

• Permite que a relação entre instrução e apren-


dizagem seja verificável.

• Permite uma avaliação mais válida da apren-


dizagem.

• Facilita a tomada de decisão do professor den-


tro de uma estrutura de trabalho conhecida.

A importância de conceber o esporte e, mais particu-


larmente, os jogos esportivos coletivos dessa forma,
permite ensinar o jogo de uma maneira modificada,
mantendo a sua essência, mas reduzindo a sua com-
plexidade e possibilitando aos alunos compreender
os seus elementos-chave (ALMOND, 2015). Usando
as formas de jogo reduzido, permite-se um estilo de
ensino que se pode apelidar de descoberta guiada,

44
EDUCAÇÃO FÍSICA

Outro exemplo bastante conhecido, é o “bobinho” No âmbito escolar, idealizar o ensino do esporte dessa
(acesse o QR code a seguir para verificar essa ativida- forma tem como grande objetivo fomentar a participa-
de na prática), citado como exemplo de atividade 2, no ção dos alunos, pois a motivação para o jogo é muito
início da unidade. Perceba que a descrição da atividade mais entusiasmante do que a realização de exercícios
2 não cita nenhum esporte em específico, podendo ser analíticos que induzem a longos tempos de espera para
adaptada para diferentes modalidades que possuem ca- entrar em atividade. Esse tipo de abordagem implica
racterísticas semelhantes (a exemplo dos jogos coleti- em o professor assumir uma intervenção que, para
vos de invasão), considerando, é claro, a especificidade além da liberdade de deixar jogar, ajude o aluno a en-
de cada uma. Nesse caso, por exemplo, enquanto o pas- contrar soluções, comunicando de forma positiva e es-
se do “bobinho” pensado para ensino do futebol pode timuladora uma reação à prestação do aluno.
ser realizado com os pés, para o ensino do basquete Nesse contexto, de acordo com Tani (2002), as
ou handebol, o passe pode ser realizado utilizando as principais caraterísticas do esporte enquanto conteú-
mãos. Outros elementos característicos das modalida- do da EF são:
des, como o tipo da bola e a forma de passar, também
podem ser adicionados pelo professor/treinador. • Ser objetivo no que diz respeito ao rendimento,
implicando consideração pelas diferenças indi-
A ideia geral, nesse caso, é que indiferente de qual
viduais, nomeadamente, as caraterísticas físicas,
modalidade seja, a atividade do “bobinho” reproduz psicológicas, sociais e culturais dos alunos.
situações que acontecem durante o jogo de fato, por
exemplo, realizar um passe tendo a figura de um (ou • Levar em consideração as diferenças individu-
mais) adversário que tentará “roubar” a bola. ais quanto às expectativas individuais, às aspi-
Lembrete: utilize essas informações para ela- rações e aos valores.
borar sua resposta para a pergunta “a”, feita no
• Estabelecer metas de desempenho realistas,
início da unidade. evitando, por um lado, a superestimulação e,
por outro, a subestimulação.

• Visar a aprendizagem e, com isso, o conheci-


mento esportivo.
Título: Exemplo da
atividade “bobinho” • Abranger todos os alunos, independentemen-
realizada para a mo- te do gênero, do seu nível de desenvolvimento
dalidade futebol. motor e das suas capacidades físicas.

Descrição: o vídeo • Ser objeto de avaliação, permitindo fornecer in-


apresenta atletas da dicações objetivas sobre o progresso do aluno.
Seleção Brasileira de Futebol, dispostos em cír-
culo, trocando passes entre si. Dentro do círculo, • Ter como alicerce que a sua disseminação cons-
há dois atletas que buscam recuperar a bola. titui um patrimônio cultural da humanidade.

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Título: Pedagogia do Desporto


Autor: Go Tani; Jorge Olímpio Bento e Ricardo Demétrio de Souza Petersen
Editora: Guanabara Koogan
Sinopse: o livro estrutura-se em quatro partes. Na primeira, surge uma fundamentação
normativa da área, por meio da formulação de orientações e conceitos reguladores da
pedagogia do desporto. A segunda parte é um prolongamento da primeira e aproxima
a teoria da prática nos campos em que a Pedagogia do Desporto se espraia. Nas terceira e quarta partes, os
autores trazem as preocupações e operações da didática e da metodologia acerca do ensino do desporto.

Estes novos modelos surgem em oposição à


Considerando o exposto, apresentamos algumas pro- perspectiva tradicional de fragmentação do jogo
postas de modelos de ensino para os JEC, que têm em habilidades básicas e ao ensino das técnicas
sido alvo de bom acolhimento a nível internacional. isoladas, onde é ignorada a complexidade e a es-
Tais modelos têm despertado a curiosidade da co- pontaneidade do jogo, para enfatizar a tomada
de decisão e a capacidade de intervenção em si-
munidade científica, a qual tem produzido material tuações autênticas de prática em referência aos
empírico (fruto de pesquisas com recurso a diferentes problemas impostos pelo jogo (MESQUITA;
metodologias e em diferentes sistemas de ensino) que PEREIRA; GRAÇA, 2009, p. 945).
dá sustento e incentiva a sua aplicação.
São modelos cujo objetivo é empregar meto- Dessa forma, sugere-se que, quando os professores ou
dologias pedagógicas mais democráticas, provi- treinadores ajudam as crianças e os jovens a “enten-
denciando aos alunos experiências esportivas que der” o jogo e reduzem a importância do ensino das
realmente lhes permitam aprender a jogar bem e, técnicas de forma isolada, o divertimento e a satisfa-
com isso, ter maior desfrute com a sua prática. ção com o jogo são abertos a todos, independente-
Nesse sentido, o conhecimento do jogo refere-se mente da sua habilidade.
não somente à capacidade para executar habilida- Dentro desse contexto, o modelo do Ensino dos
des motoras complexas, mas também às decisões Jogos para a sua Compreensão – TGfU (Teaching
apropriadas do uso dessas habilidades no contex- Games for Understanding - TGfU) –, proposto por
to do jogo. Os modelos que serão apresentados Bunker e Thorpe (1982), teve um forte impacto na
rompem com as abordagens mais tradicionais ao forma como se começou a encarar o ensino das mo-
nível dos conteúdos, dos métodos e das estraté- dalidades esportivas. De forma oposta a um ensino
gias de ensino. Reconfiguram os papéis e as res- tradicional, que iniciava a aprendizagem do jogo pelo
ponsabilidades de quem ensina e de quem apren- domínio das técnicas, os autores propuseram uma
de, estabelecendo novos cenários de contextos de forma de ensinar na qual o próprio jogo fosse a sua
instrução e aprendizagem. essência. Dessa forma, promoveu-se uma participa-

46
EDUCAÇÃO FÍSICA

ção mais igualitária entre os estudantes, desafiando Uma das primeiras preocupações é evitar que o jogo
o entendimento do esporte para além das execuções se torne uma obsessão, dessa forma, colocando aos
técnicas e habilidades respectivas. alunos questões como: o que fazer? Quando fazer?
O ensino centrado no aluno, no qual esse mo- Como fazer? O contexto do jogo tem precedência
delo se apoia, pretende proporcionar sucesso em uma sobre o ensino das técnicas. Assim, a escolha da for-
grande variedade de jogos, explorando as técnicas e ma do jogo é crucial e será determinante para que
táticas que lhes são comuns, como “o passar e desmar- não faça uso de técnicas que impeçam a sua reali-
car”, “encontrar espaços vazios” ou “abrir linhas de zação. Consequentemente, deve permitir aos alunos
passe”. Assim, o professor ou o treinador centra o seu enfrentar de forma inteligente as situações coloca-
foco no ensinar a jogar ao invés de ensinar as técnicas das, interpretá-las, identificar uma possibilidade de
específicas de cada modalidade. Os alunos devem exe- solução e, consequentemente, agir intencionalmente
cutar estratégias apropriadas à complexidade do jogo de acordo com os objetivos.
e empregar tempo satisfatório para jogar. Acesse os QR codes a seguir para visualizar exem-
plos de atividades que podem ser utilizadas no mode-
lo TGfU. O primeiro vídeo apresenta o “jogo dos 10
O foco pedagógico desse modelo é: passes”, baseado na modalidade basquetebol, no qual
1. Representar jogos complexos de forma sim- o objetivo é realizar 10 passes entre os jogadores da
plificada. mesma equipe, sem que a equipe adversária recupere
2. Modificar os princípios do jogo em si, de forma a bola. No segundo vídeo, é apresentada uma ativida-
a diminuir as suas exigências. de de jogo reduzido, “4 x 4”, ou seja, em um espaço
menor e com número menor de jogadores que a quan-
3. Exagerar procedimentos no sentido de salien-
tidade oficial, baseado na modalidade futebol. Obser-
tar determinados aspectos do jogo que são
ve que ambas as atividades contemplam as situações
importantes para a sua compreensão.
de “passar e desmarcar”, “encontrar espaços vazios” e
“abrir linhas de passe”, mencionadas anteriormente.

Exemplo de atividades que pode ser utilizada no modelo TGfU.

No primeiro vídeo, o objetivo da atividade é realizar 10 passes en-


tre os jogadores da mesma equipe, sem que a equipe adversária
recupere a bola. O segundo vídeo apresenta uma animação com
bonecos vestidos com trajes esportivos específicos do futebol,
divididos em dois times, em um espaço menor que o campo de futebol. A animação demonstra como o jogo redu-
zido, de 4 x 4 jogadores, que pode ser realizado com adaptação das regras (por exemplo, ter apenas um goleiro).

47


implica o aluno na consciencialização dos problemas


Os seis passos para o ensino do TGfU propostos
táticos que o jogo aporta e preconiza o entendimen-
por Bunker e Thorpe (1982) são:
to das táticas mais elementares. A tomada de decisão
1. Jogo. incita o aluno a resolver questões (o que fazer? Como
2. Apreciação do jogo. fazer), atribuindo, dessa forma, significado ao uso da
3. Consciência tática. técnica, em função dos problemas táticos suscitados
4. Tomada de decisão. pelas ocorrências do jogo.
5. Habilidade de execução. A habilidade de execução procura dotar os alu-
6. Performance em competição. nos de um maior domínio e de uma maior eficácia
na execução das técnicas. Todas as fases anteriores se
reúnem para se corporizar na consolidação do jogo.
Quando se apresenta um jogo aos alunos, esse deve O ciclo voltará a se repetir, implicando o desenvolvi-
ser adequado a sua idade e ao seu nível de experiência. mento de procedimentos cognitivos e técnicos cada
Na prática, o professor desenha cenários de jogo em vez mais complexos, até atingir o jogo formal, como
forma de puzzles (quebra-cabeça), que necessitam ser exemplificado na Figura 2, a seguir. Contudo, é im-
resolvidos e que representam aquilo que o aluno nor- portante salientar que, apesar do propósito ser o ensi-
malmente encontra no jogo. no em direção ao domínio do jogo formal, se esse não
A apreciação do jogo envolve o conhecimento das for alcançado, não diminui em nada a importância
suas regras, que podem ser adaptadas em função dos das aprendizagens obtidas pelos alunos no decorrer
constrangimentos situacionais. A compreensão tática de todo o processo.

48
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 2 – Ciclo do modelo de ensino TGfU / Fonte: Adaptado de Graça e Mesquita (2007)

Descrição da Imagem: a imagem é um fluxograma que representa o ciclo do modelo de ensino dos esportes por meio do modelo TGfU em
seis passos. O fluxograma inicia com uma caixa de texto centralizada, com a descrição “Jogo” e segue com uma flecha para a esquerda, para
a próxima caixa de texto, que representa “Apreciação do jogo”. Abaixo, indicada também por uma flecha, há a caixa de texto da “Consciência
tática”. Em seguida, indicada por uma flecha para a direita, há uma caixa de texto maior, centralizada, que representa a “Tomada de decisão” e
possui a descrição “o que fazer/como fazer”. Seguindo para a direita, apontada por uma flecha, há a caixa de texto descrita como “Habilidade
de execução”. Em seguida, uma flecha para cima, apontando para a caixa de texto da “Performance”, que finaliza o fluxograma com uma fle-
cha em direção à primeira caixa de texto, “Jogo”, fechando o ciclo. Ao centro do fluxograma, há uma caixa de texto descrita com “Aluno”, para
representar o foco do modelo de ensino.

priado por meio de cenários de jogo que pro-


Esses passos metodológicos estão subordinados a porcionem formas de usar uma determinada
quatro princípios pedagógicos: habilidade ou solução tática dentro do jogo.
Como exemplo, podemos ilustrar com o jogo
• O primeiro, chamado de amostragem (Sam- dos dez passes ou o “bobinho”, já menciona-
pling), evidencia como a compreensão das dos anteriormente. Tais atividades instigam a
soluções táticas, regras e habilidades permite manutenção da posse de bola e impedir que o
a transferibilidade entre jogos similares ou da adversário a conquiste.
mesma categoria. Significa que, por exemplo,
a desmarcação no handebol possui um princí- • O terceiro princípio, designado como exage-
pio similar à desmarcação no basquetebol. ro (Exaggeration), implica que os professores
definam um objetivo específico tendo como
• O segundo princípio consiste na representa- ponto de partida o jogo formal, concebendo
ção do jogo (Game representation), no qual os um outro jogo que procure exagerar o concei-
professores criam um desenvolvimento apro- to específico que escolheram anteriormente.

49


Utilizando novamente o jogo dos dez passes


Em sua essência, jogar pressupõe esforçar-se pela obten-
como exemplo, coloca-se um constrangimen-
to ao jogo, em que se penaliza com perda de ção da vitória, o professor deve refletir sobre a melhor
posse de bola se houver um passe devolvido a estratégia para desenvolver o aluno nesse particular.
quem lhe passou.

• O quarto e último princípio, complexidade Noções básicas sobre o jogo: a necessidade


tática (Tactical complexity), assenta-se na pre- de aprender a vencer os adversários
missa de que existe um desenvolvimento pro- • Reconhecer como a sua equipe pode jogar
gressivo de soluções táticas que inclui as ha- (quais são as opções).
bilidades com bola e respectivos movimentos. • Reconhecer como jogam os adversários.
Mais uma vez, por meio do jogo dos 10 passes • Ser sensível às mudanças que ocorrem du-
como exemplo, o professor pode solicitar (até rante o jogo.
com ajuda de uma pontuação) formas diferen- • Estabelecer conexões entre a forma como se
ciadas de passar a bola. está jogando e as forças e fraquezas do adver-
sário e da própria equipe.
• Decidir o que fazer (como equipe/indivíduo).
O modelo de ensino do jogo, para a sua compreensão,
• Reconhecer que aquilo que é taticamente exe-
não deve ser reduzido ao ensino de uma competência quível deve ser tecnicamente possível.
cognitiva ou tática, pois tem grande potencial de con-
firmar a humanidade da EF e do esporte por meio das
formas em que destaca a interação humana e as dimen-
sões afetivas dos jogos. A operacionalização do ensino Uma das muitas vantagens do TGfU é que ele permite
desse modelo, segundo Almond (2015), envolve: ao professor integrar a sua abordagem em diferentes
categorias de jogos. Isso pode ser alcançado procu-
rando similaridades e diferenças nas técnicas, estraté-
Entender o jogo:
gias, táticas, regras e, inclusive, variáveis psicológicas.
• As regras do jogo e a forma como o podem in- O modelo de ensino de Educação Esportiva
fluenciar. (Sport Education) proposto por Siedentop (1994),
• Estratégia, táticas e princípios de jogo. foi elaborado para providenciar experiências des-
• Os princípios de jogo dentro de uma partida reco-
portivas enriquecedoras para todos os gêneros, no
nhecendo a sua relevância em situações específicas.
contexto da EF, e constitui-se como uma alternati-
• Como trabalhar em equipe e para a equipe – fo-
mentando a responsabilidade coletiva.
va ao ensino de unidades didáticas de curta duração
• Por que jogar desta forma ou daquela. compostas por multiatividades.
• Onde os próprios colegas estão e para onde eles A importância desse modelo é reconhecida pela
são suscetíveis de se movimentar. comunidade internacional que investiga a área da EF e
• A forma e o fluxo do jogo. tem sido alvo de pesquisas incidindo, por um lado, na
• O papel e a responsabilidades individuais:
forma como se pode implementá-lo e, por outro, so-
• No ataque e na defesa.
bre os resultados da sua aplicação. O grande objetivo
• Quando não tem a posse da bola.
“será reconhecer que o esporte é uma forma de jogo e,

50
EDUCAÇÃO FÍSICA

que numa sociedade onde formas superiores de ativi- Para concretizar tudo isso, os alunos são chamados a
dade lúdica são perseguidas vigorosamente por todas desempenhar diferentes papéis além de jogar. À medi-
as pessoas, a sociedade é mais madura” (CURTNER- da que a “época” progride, o professor altera um estilo
-SMITH; SOFO, 2004, p. 347). de ensino mais diretivo para um estilo menos diretivo
Dessa forma, tem como fim mais específico gerar pes- e mais centrado no aluno. Dessa forma, ao aumentar
soas com competência esportiva, literadas e entusiásticas. a responsabilidade em todos os aspectos do ambien-
te de aprendizagem sobre os alunos, gradualmente, o
professor assume mais um papel de facilitador.
A importância que a competição tem como ele-
• Uma pessoa competente no esporte é
mento central da experiência esportiva exige critérios
aquela que possui habilidade, entende e cuidadosos na criação das equipes e pretende fazer
executa a estratégia de jogo de forma a uma clara distinção entre o treinar (preparar para a
participar com sucesso no jogo. competição) e o competir.
O modelo visa, igualmente, evidenciar o com-
• Uma pessoa com conhecimento espor-
ponente diversão e a competência esportiva, que se
tivo é aquela que entende os valores e
tradições do esporte, assim como os seus
traduz na prática da competição esportiva institucio-
rituais e regras, além de ser capaz de dis- nalizada. O que faz todo o sentido, pois competir e
tinguir uma boa de uma pobre realização. esforçar-se pela vitória é inerente à prática do jogo e à
cultura esportiva que lhe está subjacente.
• Um esportista entusiasta é aquele que
Como princípios fundamentais dos conteúdos de
participa de forma a melhorar, preservar
e proteger a cultura desportiva.
ensino da EF e do esporte, o espírito da competição
deve fundar-se em um forte espírito ético de respeito
pelo jogo e por todos os que nele intervêm. É funda-
mental que a competição favoreça a participação de
A ideia contida nesse modelo será a de introduzir o todos e, com isso, o seu desenvolvimento pessoal,
conceito de época desportiva, que: criando a oportunidade de todos jogarem e, por via
disso, aprenderem a jogar.
• Articula a prática desportiva com a institucio-
Possuindo uma orientação que pretende ver to-
nalização de clubes.
dos os alunos incluídos no processo, o modelo de
• Junta a filiação duradoura e a competição ca- Educação Esportiva tem que saber lidar com valores
lendarizada com a conservação de registos de um pouco divergentes, que são ganhar e garantir que
resultados e estatísticas dos desempenhos in- todos tenham oportunidade de participação efetiva
dividuais e de grupo.
no jogo. Nesse sentido, a esse modelo é importante
• Atribui papéis e funções que compõem o en- corresponderem formas de jogo adequadas às capa-
volvimento desportivo (capitães, treinadores, cidades dos alunos, motivando e mobilizando a sua
árbitros, diretores, jornalistas, dentre outras participação de forma relevante.
possíveis funções).

51


52
EDUCAÇÃO FÍSICA

O objetivo do modelo de educação esportiva é:

• Melhorar a capacidade de jogo por meio do


progresso das habilidades específicas da leitura
de jogo e da consequente tomada de decisão.

• Melhorar as capacidades físicas e psicológicas.

• Fomentar a autonomia, a liderança e a parti-


lha de responsabilidades na organização da
experiência esportiva (isso obtido por meio de
uma transferência progressiva da organização
para os alunos).

Um dos pontos fundamentais que o modelo


da Educação Esportiva propõe é uma apren-
dizagem cooperativa por meio da consti-
tuição de pequenos grupos heterogêneos
e que tenham uma grande duração. Esse é
um ponto fundamental para que o modelo
seja eficaz. Criar um sentimento de identi-
dade no grupo, um espírito consolidado nos
objetivos comuns de alunos que se ajudam
mutuamente para o alcançar.
Naturalmente que, tratando-se de um
grupo e, ainda, formado por jovens, serão
desencadeados tensões e conflitos. Esses de-
vem ser tratados por meio do diálogo e, para
a sua resolução, deve contribuir o saber do
professor que, com o seu empenho e a sua
boa influência, fará resultar o processo.

53


domínio dos elementos coordenativos gerais básicos,


como também o domínio dos processos psicológicos,
cognitivos e sociais envolvidos” nas atividades (GRE-
CO; BENDA, 1998, p. 19).
Seguindo essa linha, o objetivo da IEU é conscien-
tizar o professor e o aluno da importância da prática
esportiva, “tornando o indivíduo capaz de compreen-
der e aprender a modalidade esportiva, de discernir
diferentes situações-problema e agir, de forma inde-
pendente e inteligente, para a solução das tarefas-pro-
O vídeo no QR apresenta um exemplo de atividade blema no esporte” (GRECO; BENDA, 1998, p. 16).
pré-desportiva (Handebol Spinner Cones), que pode É importante salientar que a IEU não possui foco
ser aplicada dentro do modelo da Educação Esportiva. específico no rendimento. Todavia, a proposta de en-
Você ainda pode variar ou adaptar a atividade, colo- sino oferece um aporte para que o aluno/atleta tenha
cando os alunos em outras funções dentro da atividade, condições de, no futuro, optar pelo alto rendimento, se
como o árbitro do jogo ou aquele quem vai marcar a assim preferir. Assim, é sempre considerado que o alu-
pontuação das equipes. Lembrando que é uma ativida- no possa ser um futuro atleta de rendimento, contudo,
de que pode ser utilizada em ambiente escolar, confor- entende-se que é um processo de longo prazo, não ha-
me apresenta o vídeo, e, também, fora dele. vendo preocupação com a especialização precoce.
Seguindo a mesma linha que os modelos de ensi- Paralelamente a isso, os autores ainda pregam a rela-
no apresentados anteriormente, o modelo de ensino ção do “ensinar o esporte” com o “ensinar pelo esporte”.
da Iniciação Esportiva Universal (IEU), proposto Ou seja, que “quando se ensina o esporte, ensina-se mui-
por Greco e Benda (1998), se contrapõe aos méto- to mais do que uma modalidade esportiva, desenvolve-
dos tradicionais e apresenta-se como um modelo que -se cidadania, humanidade, personalidade” (GRECO,
prioriza uma sequência focada inicialmente nas for- 2012, p. 148). Assim, a base do modelo se dá por meio
mas de aprendizagem incidental (aprender jogando), dos princípios éticos, educativos e formativos que pro-
evoluindo para as formas de aprendizado intencional movem o desenvolvimento da criança e/ou do adoles-
(jogar para aprender). cente como um todo, e não como uma soma das partes.
De acordo com os autores, o processo de ensino- De modo geral, a IEU propõe que o ensino-apren-
-aprendizagem-treinamento baseado nesse modelo dizagem-treinamento das modalidades esportivas
de ensino deve estar “orientado para um corpo de co- coletivas integre o desenvolvimento das capacidades
nhecimento teórico (adquirido através da prática) que táticas simultaneamente com as capacidades coorde-
promova a melhora do rendimento esportivo” (GRE- nativas, técnicas, físicas, sociais e psicológicas. A se-
CO; BENDA, 1998, p. 19). Isso se dará a partir da guir, são apresentados os “fins” e os “meios” relacio-
compreensão e da vivência de atividades que simulem nados ao modelo em questão, conforme descrito por
situações de jogos, promovendo tanto a “aquisição e Greco e Benda (1998, p. 23).

54
EDUCAÇÃO FÍSICA

O vídeo do QR code a seguir apresenta a atividade “pi-


“Fins” e metas da IEU
que bandeira”, a qual pode ser utilizada dentro do con-
• Tem objetivos em curto, médio e longo prazo. texto da IEU. Lembrando que muitas outras atividades
• Baseia-se nas inter-relações professor-aluno e podem ser utilizadas, desde que proporcionem desen-
alunos-alunos. volvimento das capacidades táticas simultaneamente
com as capacidades coordenativas, técnicas etc., con-
• Pretende o desenvolvimento das capacidades
forme mencionado anteriormente. O vídeo apresenta
coordenativas que servem de base para o pos-
crianças dispostas em círculo, sendo que uma delas
terior domínio de técnicas sem deixar a criação
de novos movimentos.
está explicando verbalmente a brincadeira “pique ban-
deira”. Enquanto ela explica, é mostrado no vídeo os
• Constrói-se em base a constituição do potencial
materiais utilizados na atividade e como ela é realizada.
do indivíduo.
O modelo de ensino IEU apresenta um sistema de
• Oferece a possibilidade de compartilhar deci- formação esportiva no qual se inter-relacionam estrutu-
sões com os outros. ras que são inerentes às modalidades esportivas. Embo-
• A conscientização passa pela contextualização ra cada estrutura deva ser entendida de forma indepen-
político-social, que deve ser desenvolvida à dente, estas devem atuar em conjunto, considerando os
medida que as capacidades de elaboração do objetivos e metas estipulados. Tais estruturas são dividi-
pensamento crítico estejam aptas para tal. das em: administrativa, institucional, área de aplicação,
• Constrói regras de jogo de tomada de decisão conteúdos e temporal (GRECO; BENDA, 1998).
por meio da ação conjunta e sua contextualização

“Meios” adotados na IEU

• Fundamenta-se na integração entre as ciências


biológicas e pedagógicas.

• Apoia-se em resultados de pesquisas nas áreas


de aprendizagem motora, do treinamento téc-
nico, das psicologias geral e do esporte, dos
métodos de ensino moderno e das formas de
aprendizagem.

• Encaminha-se à especialização após uma forte


base de generalização.

55


• Estrutura administrativa – tem como finalidade


sistematizar as diferentes formas de manifesta-
ção da atividade física.

• Estrutura institucional – é composta por órgãos


e instituições, como ministérios, secretarias de
esporte, federações etc.

• Estrutura da área de aplicação – entendida


como as diferentes formas de manifestação da
atividade física, como as expressões esportivas
relacionadas ao lazer, à saúde, à escola e outros. • Ensino dos jogos para sua compreen-
são (TGfU) – prega o ensino do espor-
• Estrutura dos conteúdos – caracteriza-se pelas
te a partir da resolução de problemas
capacidades e áreas de capacidades inerentes à
inerentes ao jogo, ou seja, através da
ação motora em qualquer nível de expressão da
compreensão da lógica do jogo. Assim,
atividade física, ou seja, as capacidades básicas
o conhecimento tático é oferecido antes
para ação esportiva. Podem ser classificadas
das habilidades técnicas, que são intro-
em: capacidades biológicas, físicas, táticas, téc-
duzidas no momento em que o aluno
nicas, psíquicas e socioambiental.
entende “o quando” e “o que fazer”.
• Estrutura temporal – abrange a sequência de
• Educação Esportiva – caracteriza-se,
fases e momentos que compõem os diferentes
principalmente, pela cooperação entre
níveis de rendimento esportivo, conforme a fai-
professores e alunos na organização das
xa etária e o acervo de experiência.
diferentes tarefas, bem como na distri-
buição de funções e responsabilidades. O
ensino do esporte passa pelo fator lúdi-
Sem minimizar a importância de todas as estruturas co e contextualização esportiva, havendo
que compõem o sistema de formação da IEU, da- um peso substantivo à prática motora.
remos foco para a Estrutura Temporal, visando um • Iniciação Esportiva Universal (IEU) – foca
maior entendimento do processo ensino-aprendiza- a imprevisibilidade tática e na tomada
gem-treinamento desse modelo. de decisão durante o jogo e considera
A estrutura temporal da IEU é dividida em nove que, embora cada modalidade esportiva
fases: fase pré-escolar, fase universal, fase de orien- coletiva possua características técnicas
tação, fase de direção, fase de especialização, fase de específicas, o processo de ensino deve
aproximação, fase de alto nível, fase de recuperação e se desenvolver a partir de capacidades
fase de recreação e saúde, conforme descrito a seguir coordenativas e habilidades técnicas glo-
bais que formam a base do treinamento.
(GRECO; BENDA, 1998).

56
EDUCAÇÃO FÍSICA

FASE PRÉ-ESCOLAR FASE UNIVERSAL

Nesse período, que compreende os primeiros anos de Compreende o período entre os 6 e 12 anos de idade
vida da criança, o foco deverá ser nas diversas pos- e pode ser considerada a fase mais ampla e rica em
sibilidades de movimentos. Ou seja, o professor/pro- movimentos do processo de formação esportiva. É
fissional de Educação Física deverá propor atividades importante salientar que, nesse período, as ativida-
que proporcionem uma vivência ampla de movimen- des esportivas sistemáticas não devem ultrapassar
tos, sem que haja preocupação com a execução. De três vezes por semana, para que não haja interferên-
acordo com Krebs (1992), “o padrão de movimento cia em outros interesses e necessidades que a criança
deve ser tomado apenas como estímulo para que a possa apresentar.
criança construa seu próprio padrão motor” (apud Como nessa fase a criança já apresenta habilidades
GRECO; BENDA, 1998, p. 66). básicas de locomoção, manipulação e estabilização, já
Para isso, indica-se a realização de atividades bási- é possível a apresentação de atividades motoras mais
cas de descolamento, equilíbrio, coordenação, esque- complexas. Entre a faixa etária de 7 a 10 anos de ida-
ma corporal, espaço-temporal etc., em forma de jogos de, denominada estágio geral ou transitório, a criança
de estafetas, de imitação, perseguição e outros. já é capaz de combinar e aplicar habilidades motoras

57


fundamentais. Já no estágio de habilidades específicas, tivas diversas. Salienta-se que essa iniciação técnica
dos 11 aos 13 anos de idade, há um maior desenvolvi- não deve visar a perfeição do gesto técnico. A ideia
mento cognitivo e físico, o que somado aos fatores cul- é que haja uma passagem pelas técnicas das diferen-
turais, possibilitam à criança utilizar suas capacidades tes modalidades esportivas, observando as exigências
motoras dentro de estruturas esportivas mais definidas que se apresentam em cada uma delas.
(GALLAHUE, 1989 apud GRECO; BENDA, 1998). Indica-se a realização de jogos com diferentes for-
De modo geral, podemos entender que crianças mas de organização (jogos de iniciação, pré-desporti-
de 6 a 8 anos devem trabalhar com jogos de perse- vos, grandes jogos, jogo recreativo etc.) a partir do as-
guição, estafetas, dentre outros. A partir dos 8 a 10 pecto recreativo, porém, com teor educativo, pois serão
inicia-se os aspectos esportivos por meio de jogos re- estabelecidas as bases para uma “ação inteligente”.
duzidos, jogos de iniciação, grandes jogos e em alguns
casos, jogos pré-desportivos. FASE DE DIREÇÃO
O foco nessa fase é desenvolver todas as capacidades
motoras e coordenativas gerais, criando uma base ampla Abrange o período entre os 13/14 anos a 15/16 anos.
e variada de movimentos, utilizando de atividades que A frequência de atividades esportivas sistematizadas
exaltem o aspecto lúdico. Temos sempre que lembrar indicadas continua de três vezes semanais, para que
que a criança e/ou o adolescente não são “miniadultos”. não haja conflito com os demais interesses e neces-
sidades do jovem.
Nessa fase, inicia-se a especialização técnica em
uma modalidade esportiva. Todavia, os autores des-
Considerando os esportes de invasão, quais tacam a importância de o jovem participar de duas
capacidades podem ser aprimoradas a partir ou mais modalidades, de preferência complementares
da atividade do “pique bandeira”? (que possuam características semelhantes, como por
exemplo modalidades coletivas de invasão), para que
não haja dificuldade nos processos de transferência de
técnica-tática. De acordo com Greco e Benda (1998),
FASE DE ORIENTAÇÃO a participação em diferentes modalidades possibilita a
“variabilidade prática” no processo de ensino-apren-
Inicia-se entre os 11-12 anos e vai até os 13-14 anos dizagem-treinamento, conceito que é de fundamental
de idade e possui uma frequência média recomenda- importância para o desenvolvimento de habilidades
da de atividades esportivas sistemáticas de três encon- motoras e do treinamento técnico-tático, além de evi-
tros semanais, com duração entre 60 a 90 minutos. tar a especialização precoce.
Nessa fase, busca-se o desenvolvimento e evolução Ao fim dessa fase, o jovem terá um acervo mo-
das capacidades físicas e técnicas adquiridas nas fases tor que permitirá, de acordo com suas necessidades e
anteriores. O objetivo dessa fase é a iniciação técnica, interesse, optar por escolher a prática esportiva com
ou seja, o gesto motor de forma global ou ações moto- vistas ao alto nível de rendimento.
ras gerais que possam ser utilizadas em tarefas espor-

58
EDUCAÇÃO FÍSICA

FASE DA ESPECIALIZAÇÃO autor, o nível de participação em alguma atividade,


seja ela de competição a nível escolar, municipal, esta-
Inicia-se aos 15/16 anos, até os 17/ 18 anos, que é, dual etc. ou de recreação e lazer, dependerá do talento
em média, o tempo em que o jovem finaliza o ensino individual do jovem, bem como das oportunidades,
médio. Orienta-se que o treinamento esportivo siste- das condições físicas e da motivação.
matizado aconteça em até três vezes semanais, com A partir disso, essa fase indica o momento de
duração de 90 a 120 minutos. concretizar a especialização na modalidade escolhida
De acordo com Gallahue (apud GRECO; BENDA, pelo indivíduo, que passa a se considerar atleta. Deve-
1998, p. 73), nessa fase, o jovem está no ápice de seu rá ocorrer o “aperfeiçoamento e otimização do poten-
desenvolvimento e é “caracterizado pelo desejo indi- cial técnico e tático, que sirvam de base para o empre-
vidual em participar de uma atividade que possui um go de comportamentos táticos de alto nível” (GRECO;
número limitado de movimentos”. Ainda segundo o BENDA, 1998, p. 74).

59


FASE DE APROXIMAÇÃO/INTEGRAÇÃO FASE DE RECUPERAÇÃO/READAPTAÇÃO

Abrange dos 18 aos 21 anos e pode ser considerada A fase de recuperação visa a readaptação do ex-atleta
o momento mais importante na transição para uma à sociedade, bem como a aplicação de atividades físi-
possível carreira esportiva. Nesse momento, a fase de cas e programas adequados, que contribuam para o
crescimento está finalizada, resultando em um bioti- destreinamento de maneira gradativa, conduzindo-o
po corporal específico, além dos traços psicológicos ao esporte como forma de benefício à saúde (GRECO;
do jovem adulto. BENDA, 1998, p. 75).
Nessa fase, além da otimização das capacidades
técnicas, táticas e físicas, também é essencial um espa- FASE DE RECREAÇÃO E SAÚDE
ço de tempo para que haja a otimização também das
capacidades psíquicas e sociais. Na última, as experiências passadas e presentes em ativi-
dade física devem proporcionar ao indivíduo estrutura
FASE DE ALTO NÍVEL básica de programas de atividade física que assegurem
os efeitos positivos na manutenção da função fisiológica.
Nessa fase, os domínios técnico-tático-psíquicos A Figura 3, a seguir, apresenta a estrutura tempo-
atingidos na fase anterior serão aprimorados, consi- ral da IEU em uma linha do tempo, considerando a
derando o aumento da carga de treinamento, no que faixa etária e a experiência do indivíduo. De acordo
se refere ao volume, intensidade e densidade e, “con- com os autores, essa classificação estrutural pode ser
sequentemente, será dirigido o processo para a meta considerada tanto na escola quanto em instituições
de otimização dos processos cognitivos (em relação à especializadas, como escolinhas de iniciação. Lem-
situação esportista/alto rendimento/estilo de vida) e brando que iniciação esportiva propriamente dita vai
psicológicos” (GRECO; BENDA, 1998, p. 75). até a fase de especialização e que as demais fases com-
pletam o ciclo esportivo (GRECO; BENDA, 1998).

60
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 3 – Fases e níveis de rendimento esportivo considerando a duração, a frequência de treinamento e a idade
Fonte: Greco e Benda (1998, p. 77)

Descrição da Imagem: o infográfico apresenta cada uma das nove fases da estrutura temporal do modelo de ensino IEU, cada uma inserida
dentro de uma caixa de texto, com as bordas em preto, detalhando as informações da idade, duração e a frequência das sessões de treinamento
para cada uma delas. Cada caixa de texto está interligada por uma linha do tempo de acordo com a faixa etária e a experiência dos praticantes. As
informações são apresentadas na vertical, de baixo para cima. No canto inferior direito, inicia-se com a caixa de texto da fase pré-escolar (idade: 3
a 6 anos; duração: 4 a 5 anos e frequência: 2 a 3 vezes). Em seguida, temos a caixa de texto da fase universal (idade: 6 a 12 anos; duração: 6 anos e
frequência: 2 a 3 vezes), seguida pela fase de orientação (idade: 12 a 14 anos; duração: 2 a 4 anos e frequência: 2 a 3 vezes) e a fase de direção (idade:
14 a 16 anos; duração: 2 a 4 anos e frequência: 3 a 4 vezes). Em diagonal, logo acima, há a caixa de texto da fase de especialização (idade: 16 a 18
anos; duração: 4 a 5 anos e frequência: 3 a 4 vezes). Seguindo em diagonal para a esquerda da página, há a caixa de texto da fase de aproximação
(idade: 18 a 21 anos; duração: 4 a 5 anos e frequência: 2 a 3 vezes), finalizando com a fase de alto nível (idade: acima de 21 anos; duração: 6 a 10
anos e frequência: 8 a 10 vezes), no canto superior esquerdo. Abaixo da caixa de texto da fase aproximação, seguindo em linha reta, acima da caixa
da fase de direção, há a caixa de texto da fase de recreação e saúde (idade: acima dos 16 anos; sem tempo de duração e frequência: 2 a 3 vezes).
Para finalizar, logo acima, em linha reta, há a caixa de texto da fase de readaptação, no canto superior direito, (sem descrição para idade; duração:
2 a 5 anos e frequência: 2 a 3 vezes). No canto inferior esquerdo da página, há a caixa de legendas, na qual a letra I representa a idade; a letra D,
duração do período; a letra F, de frequência semanal de treinamento; e o símbolo hífen, que significa sem determinação específica.

Após entendermos um pouco mais o esporte e suas diferentes manifesta-


ções na unidade anterior, é essencial que saibamos, também, como ensinar
o esporte, considerando todos os aspectos que o cercam. Assim, nesse
podcast, falaremos um pouco mais sobre a iniciação esportiva e alguns mo-
delos de ensino que podem ser utilizados nela, principalmente das modali-
dades coletivas, tanto na escola, quanto fora dela. Aperte o play e vamos lá!

61


Nessa unidade, abordamos algumas informações e Para isso, ele terá que idealizar a sua intervenção
conceitos importantes acerca dos esportes e suas clas- de uma forma contextualizada a cada grupo que li-
sificações, e apresentamos modelos de ensino que ex- dera, pautando a sua intervenção adequadamente,
põem estratégias agregadoras para ensinar o esporte com o intuito de fazer as crianças e os jovens tirarem
de forma motivadora e prazerosa, não esquecendo o máximo partido da atividade. Tendo em mente a
que é quase inerente ao ser humano gostar de jogar. inclusão e a valorização de todos, será determinante
Os modelos de ensino apresentados fazem con- equacionar estratégias que evidenciem todos os as-
traponto aos métodos tradicionais que fragmentam pectos relacionados ao jogo e à competição esportiva
o jogo em habilidades técnicas, e propõem o ensino de forma saudável.
do esporte dentro de um aspecto construtivista, con- É importante ressaltar que não há um modelo que
siderando a complexidade e espontaneidade de cada seja melhor ou pior. Dada a singularidade de cada in-
modalidade e enfatizando a tomada de decisão e in- divíduo no processo pedagógico, alguns modelos po-
tervenção em situações e problemas impostos pelo dem ser mais adequados para uma turma, por exem-
jogo em si. No centro da aplicação dessas estratégias plo, e menos adequados para outras. Assim, caberá ao
de ensino está o professor, que, pelo seu empenho e professor analisar o contexto no qual está inserido e
competência, ensinará a criança e o jovem a jogar. optar pela proposta de modelo mais adequada.

62
agora é com você

1. As modalidades esportivas podem ser classificadas de acordo com o número


de participantes, em individuais e coletivas, e também considerando a intera-
ção ou não com adversário. Dentro desse contexto, ainda, há uma categoria
denominada Esportes Coletivos de Invasão. Considerando tais informações,
analise as asserções a seguir e a relação proposta entre elas:

I. O basquetebol, o futebol americano e o futsal são caracterizados como moda-


lidades esportivas coletivas de invasão.

PORQUE

II. São esportes em que as equipes dividem o mesmo campo de jogo e buscam
invadir o campo adversário para marcar ponto e/ou gol.

a. As asserções I e II são falsas.


b. A asserção I é falsa e a II é verdadeira.
c. A asserção I é verdadeira e a II é falsa.
d. As asserções I e II são verdadeiras, e a II justifica a I.
e. As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não justifica a I.

2. Baseado em abordagens mais tradicionais, no ensino particional ou método por


partes ou analítico, as ações do jogo são divididas e trabalhadas de forma isola-
da, para que os praticantes consigam realizá-las com eficiência. Considerando o
exposto, analise as afirmativas a seguir acerca da utilização desse método.

I. Facilita o ensino e a correção da execução do movimento.


II. Explora a criatividade da criança a partir de atividades que recriam situações
do jogo.
III. Desenvolve a motivação da criança para a prática esportiva.

É correto o que afirma em:

a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I e II, apenas.
e. II e III, apenas.

63
agora é com você

3. As formas de jogo reduzido permitem o ensino esportivo a partir da desco-


berta guiada, colocando o aluno em uma situação de jogo de enfrentamento
do adversário. Além disso, os jogos reduzidos permitem aos professores e
treinadores integrar o ensino de modalidades similares, a partir da “transferi-
bilidade”. A partir da análise do trecho, a transferibilidade refere-se ao:

a. Princípio da transferência entre atividades a partir da técnica e da tática.


b. Princípio da transferência de habilidades entre modalidades esportivas seme-
lhantes.
c. Princípio da transferência entre as crianças ou jovens participantes da atividade.
d. Princípio da transferência da técnica entre esportes individuais e coletivos.
e. Princípio da transferência em modelos de ensino diferentes.

4. O modelo do ensino dos jogos para a sua compreensão (Teaching Games for
Understanding - TGfU) faz oposição a um ensino tradicional e propõe uma
forma de ensinar na qual o próprio jogo fosse a sua essência, promovendo
a participação mais igualitária entre os estudantes e desafiando o entendi-
mento do esporte para além das execuções técnicas e habilidades respectivas.
Considerando as características do modelo de ensino TGfU, analise as afirma-
tivas a seguir e assinale V para verdadeiras e F para falsas:

( ) A performance técnica, ou seja, a execução do gesto motor é priorizada.


( ) Um dos focos do modelo é modificar os princípios do jogo em si, de forma a
diminuir as suas exigências.
( ) Propõe o ensino por meio de uma variedade de jogos, explorando as técnicas
e táticas que lhes são comuns.

As afirmações são, respectivamente:

a. V, V, V.
b. F, F, V.
c. V, V, F.
d. F, V, V.
e. F, V, F.

64
agora é com você

5. Em contraponto aos métodos e abordagens de ensino tradicionais, são pro-


postos três modelos de ensino baseados em novas correntes pedagógicas
sustentadas nas teorias da aprendizagem cognitiva e construtivista, o ensino
dos jogos para a sua compreensão (TGfU), a Educação Esportiva e a Iniciação
esportiva Universal (IEU). Sobre os modelos de ensino citados, analise as afir-
mativas a seguir:

I. No modelo de ensino TGfU, os aspectos táticos são abordados antes dos as-
pectos técnicos através de jogos variados.
II. No modelo IEU, o processo de ensino se desenvolve a partir de capacidades co-
ordenativas e habilidades técnicas globais que formam a base do treinamento.
III. O modelo de Educação Esportiva prega o ensino esportivo por meio de um
contexto lúdico e caracteriza-se principalmente pela cooperação entre alunos
e professores.

É correto o que se afirma em:

a. II, apenas.
b. I e II, apenas.
c. I e III, apenas.
d. II e III, apenas.
e. I, II e III.

65
CONHECIMENTOS E
COMPETÊNCIAS DO TREINADOR

Dr. Rui Resende


Me. Suelen Rodrigues da Luz

Oportunidades de aprendizagem

Um professor/treinador competente deve adquirir um conjunto de conhecimentos


que o permitam lidar tanto com o que é específico para o processo de treinamento
e iniciação esportiva quanto com os demais aspectos que fazem parte do contexto
esportivo. Assim, nesta terceira unidade, você terá a oportunidade de se aprofundar
um pouco nos conhecimentos e competências necessárias para que o processo da
iniciação e treinamento esportivo seja realizado de forma adequada e eficaz.
unidade

III


É fato que para desempenhar com qualidade qual- trapessoal). No decorrer desta unidade, você verá cada
quer atividade profissional, é necessário possuir um um desses conhecimentos de forma mais completa.
conjunto de conhecimentos que permitam atuar com
competência. Antigamente, no caso do treinamento • Conhecimento profissional – refere-se à ba-
gagem teórica e prática do professor/treinador,
esportivo, para ser professor ou treinador, considera-
relacionada especificamente com a modalida-
va-se suficiente o domínio do conteúdo específico da de de atuação.
modalidade. Ou seja, ter sido um atleta preconizava
requisitos suficientes para exercer a atividade. Mas • Conhecimento interpessoal – está ligado ao
será que somente conhecer os fundamentos e regras modo de se relacionar com as demais pesso-
da modalidade é suficiente? Você acredita que, por as. Nesse caso, seria a forma de relação entre o
professor/treinador, o atleta e as demais pesso-
exemplo, para ser um bom treinador, é necessário
as que fazem parte do contexto esportivo.
ter sido um bom atleta? Será que um indivíduo sem
histórico de prática de uma modalidade pode vir a se • Conhecimento intrapessoal – refere-se ao
tornar um bom professor ou treinador? autoconhecimento, ou seja, à capacidade de se
Os problemas e as situações com os quais o trei- relacionar com suas próprias emoções e senti-
nador se depara durante o processo de iniciação ou mentos e a como aplicar essas ferramentas em
nossas vidas.
treinamento esportivo são muito mais abrangentes que
aqueles contidos no esporte por si só. Carece o pro-
fessor/treinador de adquirir um conjunto de conheci- A partir desses conceitos, pense em quais caracte-
mentos para lidar com o processo de treino de forma a rísticas ou qualidades necessárias para ser um bom
promover os que nele estão envolvidos. A sua instrução professor/treinador se encaixam em cada um desses
não tem uma via única e pode ser obtida de diversas conhecimentos, seguindo o exemplo a seguir:
formas. O mais importante é que as formações obtidas
Conhecimento Característica/qualidade
ao longo da sua carreira mobilizem a sua capacidade
de pensar, decidir e refletir a sua prática de forma con- Profissional Boa didática

tínua. Além disso, a atuação deve ter uma base peda- Saber incentivar seus
Interpessoal
alunos/atletas
gógica que permita o melhor desenvolvimento desses
Intrapessoal Autocontrole
atletas de acordo com os valores inerentes ao esporte.
Em resumo, para promover a eficácia da sua atividade, Quadro 1 – Características do professor/treinador
Fonte: o autor
o professor/treinador deverá desenvolver conhecimen-
tos de nível profissional, interpessoal e intrapessoal.
Para facilitar o entendimento, que tal pensarmos Pensou? Utilize o espaço do diário de bordo para des-
nesses conhecimentos de forma mais prática? Primei- crever outras características ou qualidades que, ao seu
ramente, vamos aos conceitos relacionados aos tipos de ver, um bom professor/treinador deve possuir. Descreva
conhecimentos citados (profissional, interpessoal e in- uma ou mais, para cada um dos conhecimentos citados.

68
EDUCAÇÃO FÍSICA

Considerando o que já foi exposto, iniciaremos nosso


assunto a partir do contexto histórico da intervenção
do treinador. Para evitar que o texto fique repetitivo,
utilizaremos somente o termo “treinador”, tanto em
contexto escolar como fora dele.

69


A figura do treinador surge de forma pouco respeitada, Os treinadores, genericamente, emergiram do in-
pois no início da sua popularização, o esporte não era terior da própria atividade como antigos atletas, fa-
considerado conteúdo de ensino (DURING, 1994). De zendo uso do seu conhecimento e de suas habilidades
acordo com o autor citado, os pedagogos ingleses indi- práticas, adquiridas durante o tempo em que estive-
cavam que a passagem das regras do jogo para as regras ram eles próprios em competição. Aproveitando essa
da vida era tão mais eficiente quanto mais discreta fosse experiência, eles formularam os seus próprios méto-
a interferência do adulto. Nesse sentido, o esporte ser- dos de treino, assim como os entendimentos acerca
viria para educar de forma cívica e moral por si só e, das técnicas e as abordagens competitivas. Como ne-
por isso, não carecia de professores. nhuma geração pode ser imune aos desenvolvimentos

70
EDUCAÇÃO FÍSICA

contemporâneos, os treinadores mais aptos experi- só pode ser adquirido pela prática e por meio da expe-
mentaram e aplicaram conhecimentos inovadores. riência, observação, ensaio e erro.
No século XIX, a expertise na preparação espor- Apesar do aumento institucional da ciência, a prá-
tiva passava, essencialmente, pelas comunidades de tica no treino continuou a usar o conhecimento tradi-
prática, no sentido em que a partilha dos mesmos cional em todos os estádios do processo e, ainda que
problemas encorajava a procura de novas soluções. A sistemáticos na sua abordagem, os treinadores consis-
essa altura, aumentou muito o número de fontes aces- tentemente se descreveram como práticos. Aliás, essa
síveis aos treinadores. A produção de manuais que se dicotomia entre aqueles que se intitulavam como práti-
referiam aos métodos de treino, à psicologia, à ajuda cos (antigos atletas que, após o término da sua carreira
ergogênica e à dieta ajudaram a entender a evolução de sucesso, tornaram-se treinadores) e os teóricos (ha-
do processo de treino. Contudo, não são perceptíveis bitualmente, os que vinham do mundo acadêmico e,
os aspetos mais implícitos do treino, a prática deste não raramente, sem currículo esportivo de grande des-
por si mesma, pois é assumido que esse conhecimento taque) ainda constitui uma realidade nos dias de hoje.

71


Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os confron-


tos políticos e ideológicos são igualmente exportados para
o esporte, com o intuito de evidenciar a superioridade de
um sistema em relação a outro (GREEN; HOULIHAN,
2005). De um lado, o sistema capitalista liderado pelos
Estados Unidos e, do outro, a União Soviética comunista.
O sucesso no esporte internacional destaca-se
pela valorização que os povos atribuem ao nacionalis-
mo, para além dos lucros econômicos da organização
de grandes eventos, como Copas do Mundo ou Jogos
Olímpicos. Ao colocar em evidência a discussão do
número de medalhas obtidas, as Olimpíadas fazem
emergir uma discussão sobre a avaliação do desenvol-
vimento esportivo em cada país. Essa discussão tem
como consequência alimentar a propaganda sobre a
eficácia do respectivo sistema político.
Não negligenciando o protagonismo político que o
esporte atrai, os países, desejosos de se afirmarem por
meio das grandes competições internacionais, aplica-
ram um sistema que permitisse a constituição da me-
lhor elite possível de atletas. O interesse no esporte le-
vou ao fato de que mais recursos, tanto materiais como
humanos, fossem para aí canalizados. Dessa forma, o
estudo e a pesquisa científica contribuíram para elevar
a performance dos esportistas. Essa fase da evolução
do esporte denomina-se período científico (TUBINO,
1987), ou de sistematização (GOMES; MANSO; VAL-
DIVIESO; CABALLERO, 1996), em que se multiplicam
laboratórios de pesquisa científica nas áreas biológicas
e se promovem novas concepções de treino.
Seguindo essa evolução científica, sobressai a for-
mação de treinadores em uma base nacional, colocan-
do esses profissionais como personagens centrais no
processo de treino, essencialmente nos países do Leste
Europeu. Consequentemente, essa alteração valorizou
a função da liderança do processo de treino do ponto
de vista social e, também, enquanto profissão.

72
EDUCAÇÃO FÍSICA

Ao reconhecer a importância da qualifi-


cação de treinadores em relação à promoção
do esporte, foram criados programas de for-
mação especializada desses agentes. Como
consequência, exercer a profissão de treina-
dor é uma ocupação respeitada nesses países
(WOODMAN, 1993).
O desenvolvimento da Educação Física (EF)
como uma disciplina acadêmica a partir dos
anos 1970 deu um impulso à qualidade de treino,
particularmente no que se refere à área da Peda-
gogia. A esse propósito, Lyle (2002), referindo-se
a um relatório do English Sport Council, de 1997,
assinala que 13% dos treinadores em atividade
eram oriundos do ensino. Esse autor acrescen-
ta, ainda, que a grande maioria dos professores
de EF eram treinadores após cumprirem as suas
obrigações profissionais nas escolas.
A partir dos anos 1980, houve uma alteração
gradual e de grande importância entre a lógica
política e a lógica do mercado. A representação
do clube e do país enquanto embaixadores políti-
cos do seu regime foi substituída pela representa-
ção de grandes multinacionais (PISANO, 2003).

73


Com a crescente exigência competitiva e os montan- uma pessoa culta. A razão pela qual chamamos a aten-
tes econômicos envolvidos, a direção do processo de ção para a palavra “culto” advém do fato de se requerer
treino de alto rendimento é liderado por um treina- que um treinador concentre em si muito mais que o co-
dor que reúne uma equipe de especialistas sob as suas nhecimento e o domínio específicos de um esporte. Ele
ordens. Podemos enumerar como exemplo: os assis- deverá ter uma profunda consciência do mundo que o
tentes diretos do treinador em campo, depois, os que rodeia e promover os valores sociais e culturais, incen-
colaboram de forma mais indireta, como o médico e o tivando a participação cívica de todos os envolvidos.
fisioterapeuta, ou o estatístico e o scouter (técnico cuja Questiona-se, então, quais tipos de conhecimen-
missão é observar a equipe adversária), dentre outros tos serão necessários para o treinador exercer com
profissionais que cuidam para que nada falte aos atle- competência e eficácia a sua função. Como já afirma-
tas na busca da sua melhor performance. mos, a atividade do treinador é complexa e apela a um
Como consequência, a preparação para ser treina- domínio de matérias que extravasam o âmbito do trei-
dor de elevado rendimento, um líder de um processo no, dos atletas ou da competição. Implica saber como
de treino, exige o domínio de conhecimentos que lhe colocar em prática uma atividade desportiva (ou um
permitam “digerir” todo o manancial de informação processo de treino), mas, igualmente, possuir uma
que os seus colaboradores lhe trazem para, assim, to- compreensão crítica de como o conhecimento deve
mar as decisões mais adequadas. ser relacionado com a prática de forma adequada.
Mas quais, então? O que é preciso para ser treina- Consequentemente, o treinador necessita desen-
dor? Como fazer para ser um bom treinador? Medir a volver competências que vão ao encontro do contexto
qualidade desse profissional pelos resultados desporti- em que ele atuará e de acordo com as necessidades
vos alcançados é uma visão muito redutora da sua ati- dos atletas. Ao ampliar a sua experiência, ele precisa
vidade, apesar de ser essa a forma mais vinculada ao alargar o seu leque de conhecimentos, suportados nas
senso comum. Exploraremos a razão pela qual consi- diferentes ciências que apoiam o esporte, como são as
deramos que o treinador necessita de amplos conheci- ciências biológicas, as ciências sociais e as metodolo-
mentos para desempenhar com sucesso a sua atividade. gias de treino, nas quais se inserem com cada vez mais
A complexidade e a responsabilidade do treina- premência as novas tecnologias. Para alcançar esse
dor não se extinguem no domínio e no conhecimento objetivo, o treinador terá de se envolver em ações de
específico da modalidade (nos seus aspectos técnicos, formação de caráter formal, não formal e informal. A
táticos e estratégicos), pois a generalidade das solici- seguir, serão definidos esses conceitos.
tações às quais ele é sujeito extravasa, em muito, esse
tipo de competência. O treinador assume múltiplos • Formação regular é aquela que decorre em um
contexto cuja aprendizagem ocorre em am-
papéis, dentre os quais o de líder, amigo e confidente
bientes institucionalizados, como os cursos de
e, por vezes, de pai ou de mãe. ensino superior relacionados à Educação Físi-
Nesse contexto, esta unidade pretende elucidar ca e às Ciências do Esporte, e programas con-
a complexidade que envolve a atuação do treinador e vencionais de certificação de treinadores, que
que, por consequência, exige um leque grande de co- são ofertados por organizações governamen-
nhecimentos, os quais devem despontar a partir de tais ligadas ao esporte.

74
EDUCAÇÃO FÍSICA

• Aprendizagem não formal acontece pelo en- • A aprendizagem informal resulta de um proces-
gajamento em atividades sistematicamente or- so contínuo de formação que se prolonga du-
ganizadas, ocorridas fora do ambiente formal. rante toda a vida. Ocorre por meio da interação
Os locais onde essas ações se desenvolvem são com outros treinadores pelas experiências pro-
variados, e as atividades, geralmente, são dire- fissionais vivenciadas diariamente, das reflexões
cionadas a grupos específicos. As conferências, sobre a própria atividade, dentre outros.
workshops, seminários e cursos de curta du-
ração oferecidos pelas federações são alguns
exemplos desse contexto de aprendizagem.

75


• Os atletas, nomeadamente por meio do conhe-


A atividade do treinador é sustentada por um conjun-
cimento sobre as suas capacidades, respectivos
to de conhecimentos e competências que se relacionam estágios de desenvolvimento e a sua motivação.
especificamente com o domínio da sua área de interven-
ção, mas requer igualmente o envolvimento com os ou- • As ciências do esporte: as áreas biológicas, so-
ciais e pedagógicas, como a fisiologia e a medi-
tros atores do cenário esportivo. Mobiliza, por isso, a ca-
cina, ou a sociologia e a psicologia, ou a didáti-
pacidade de pensar, decidir e refletir sobre a sua prática.
ca e a gestão esportiva.
Concretamente, quais serão, então, as habilidades
a serem desenvolvidas pelo treinador como forma de • O domínio da comunicação, tanto na sua ora-
ser eficaz na execução da sua tarefa? Sentimos, por lidade como na sua escrita, a matemática, o
uso da tecnologia.
isso, a necessidade de definir eficácia, e recorremos
à definição de Côté e Gilbert (2009, p. 316), que in-
dicam ser “a aplicação consistente de conhecimento Por outro lado, o conhecimento interpessoal incide
profissional integrado, interpessoal e intrapessoal na forma como são estabelecidas as relações dentro
para melhorar os atletas” na sua competência, con- do ambiente esportivo. Podem ser consideradas as se-
fiança, caráter e conexão com os outros em contextos guintes áreas:
específicos de treinamento.
• O contexto social, no qual o treinador deve inte-
Os autores consideram que a eficácia de um trei-
grar a macro e a microcultura do treino espor-
nador depende de três fatores: tivo; o domínio ético e a segurança da partici-
pação esportiva por parte dos atletas; a relação
• Do conhecimento do treinador. com a família e com as pessoas que mais direta-
• Dos resultados dos atletas. mente acompanham os atletas; a afinidade com
os colegas treinadores; a relação com os agentes
• Dos diferentes contextos em que os treinado- esportivos como árbitros, dirigentes e com as
res tipicamente trabalham. entidades como os clubes e as federações; a rela-
ção com os meios de comunicação social.

Definimos, em seguida, o que os autores entendem • A forma como se estabelece o relacionamento


por conhecimento profissional, interpessoal e intra- por meio da comunicação; fomentar a empatia
pessoal (RESENDE; GILBERT, 2015, p. 28). e simpatia; ser um bom ouvinte e questionar de
forma pertinente; ter uma conduta pessoal apro-
O conhecimento profissional engloba o conteúdo
priada; gerir e formar adequadamente o grupo
específico do processo de treino e a forma como o treina-
como um todo e os atletas individualmente.
dor vai processar o ensino e a aprendizagem das habilida-
des esportivas. Esses conhecimentos podem considerar: • • O conhecimento da metodologia do treino
inclui-se no conhecimento interpessoal, pois
• As áreas específicas do esporte, como a técnica e enfatiza-se que o treino, pelo desenvolvimento
a tática, os diferentes regulamentos e regras das que potencializa, se efetiva no contexto da rela-
modalidades, as instalações e os equipamentos. ção pedagógica estabelecida entre o treinador e
o atleta. Nesse contexto, emergem as seguintes

76
EDUCAÇÃO FÍSICA

áreas: metodologia e teoria da aprendizagem;


Com relação às competências do treinador, o termo
planejamento, organização e concretização;
criação de um clima positivo de aprendizagem; “competência”, em seu sentido mais lato, significa ser
observar, avaliar e proporcionar um feedback capaz de aglomerar um conjunto de conhecimentos
adequado; explicar e demonstrar, instruir de diversificados, desde os teóricos até os práticos, de
forma apropriada forma a corresponder à realização de uma tarefa com
qualidade. Nesse sentido, competência traduz-se pela
Por fim, o conhecimento intrapessoal refere-se à au- qualificação de uma pessoa que expressa grande auto-
toconsciência do treinador e a sua capacidade autor- ridade em um determinado assunto.
reflexiva. Nesse conhecimento, podem ser observadas
as seguintes áreas:

• Filosofia pessoal, identidade, valores e crenças


do treinador, além do seu estilo de liderança. Um exercício sobre a eficácia de um treinador
é pensar em um desses profissionais que você
• A aprendizagem ao longo da vida, que exige do já teve a oportunidade de encontrar. Quais as
treinador competência na aprendizagem, au- suas três melhores qualidades? E três delas que
tonomia e responsabilidade. O treinador deve menos lhe agradaram? Ao registrar por escrito
desenvolver uma mentalidade adequada – a au- esses aspectos, você refletirá sobre a forma
torreflexão – de forma contínua e consistente, como os seus futuros atletas o recordarão.
a capacidade de síntese crítica, a promoção da
inovação e a criação de conhecimento.

Por meio do domínio de conhecimentos gerais (ciên-


Considerando a noção de eficácia expressa anterior- cias que apoiam o processo de treino, como a fisiologia
mente, as áreas de conhecimento descritas deverão ou a biomecânica nas ciências biológicas, ou a psicolo-
constar no repertório do treinador, de forma a poder gia ou a pedagogia nas ciências sociais) e específicos da
aplicá-las de forma crítica e com consistência enquan- modalidade (técnica, tática, arbitragem, dentre outras),
to decorre a sua intervenção. o treinador desenvolve a competência para saber como
desempenhar a função. A competência emerge como
fruto do domínio dos conhecimentos adquiridos e ten-
Aproveite tais informações, retorne ao início de a reconstruir-se de forma permanente com a expe-
da unidade e verifique se as características riência adquirida, em função da reflexão que advém
que você descreveu em seu Diário de Bordo dessa mesma experiência. Acredita-se que a reflexão
para cada um dos conhecimentos no início da resulta da forma como se colocou em prática o proces-
unidade estão de acordo com o conteúdo de- so de treino e dos contextos reais vivenciados, transfor-
talhado anteriormente!
mando, assim, experiências em melhores competências
e, consequentemente, em autonomia profissional.

77


OLHAR CONCEITUAL

78
EDUCAÇÃO FÍSICA

Ao descrever o conjunto de competências listadas O treinador de sucesso tem como característica


anteriormente, pretende-se ilustrar os saberes-fazer uma forte intuição sobre o que rodeia o processo de
que os treinadores precisam de desenvolver de for- treino, tendo como resultado respostas rápidas, flui-
ma continuada. das e naturais às situações enfrentadas. É uma pessoa
Quando pensamos nas características de treina- que edifica a sua competência de forma contínua, re-
dores de sucesso, uma forma de observar criticamente fletindo sobre a sua prática e comparando os seus pro-
o perfil de competências é identificar se há caracte- cedimentos com os dos seus pares.
rísticas comuns com treinadores que, durante a sua Cassidy, Jones e Potrac (2004) propõem que a refle-
carreira, obtiveram sucesso. Por exemplo, em uma xão por parte do treinador se situe em nível técnico, prá-
pesquisa com o propósito de avaliar como os treina- tico e crítico. Considerando o nível técnico, as questões
dores bem-sucedidos de esportes coletivos adquirem que o treinador deve colocar a si mesmo podem ser:
conhecimento, Salmela, Draper e Laplante (1993)
reportaram oito caraterísticas relacionadas com o • Como assegurar que todos os atletas me es-
cutem?
sucesso: (1) envolvimento “precoce” em esporte; (2)
aprendizagem com mentores; (3) carreira “precoce” e • A quais materiais posso recorrer para melho-
desenvolvimento de carreira amadurecida; (4) outras rar o ensino dessa tarefa?
fontes de conhecimento; (5) construção e equipe; (6)
• Alcancei os objetivos definidos para essa ses-
capacidade no envolvimento do treino; (7) operante são de treino?
em competição; (8) futuros mentores de treinadores.
Por outro lado, os autores registraram que treinado- • Como posso solucionar esse problema?
res ligados ao meio acadêmico e com conhecimentos • Qual parte do treino é passível de ser alterada
semelhantes aos treinadores de sucesso têm dificulda- para que ele termine na hora estipulada?
de em competir com os conceitos integrados obtidos
• O que não está certo com os atletas?
pela experiência destes últimos.
Competente é o treinador que, à medida que con- • Por que é que não lhes agrada fazer esse exercício?
quista experiência pela resolução dos problemas levan-
• Quais alterações posso fazer para que esse
tados pelo processo de treino e os registra na sua me-
exercício decorra de uma forma mais atrativa?
mória, começa a reconhecer similitudes em contextos
diferenciados, ou seja, a competência emerge quando, • Será esse exercício adequado aos propósitos da
após a apreciação de cada nova experiência, se encon- sessão de treino?
tram novas soluções para os problemas ou novos planos
de atuação. Proficiente é o treinador que demonstra, de Em um nível prático, o treinador considera os atletas
forma consistente, distinguir o importante do acessó- como pessoas ao se questionar sobre:
rio no processo de aprendizagem, e possui a noção de
timing para alterar as tarefas que não estão decorrendo • Quais são as alternativas para transmitir a mi-
nha mensagem?
satisfatoriamente, tomando decisões segundo um pro-
cesso de análise consciente e deliberada.

79


• Qual informação transmito pela minha pos-


Adquirindo uma postura crítica, o treinador incide a
tura e pelo que eu visto?
sua reflexão sobre o significado político, moral e ético
• A minha experiência como atleta influencia a da sua intervenção. Ele se questiona sobre o valor do co-
minha atuação e as minhas expectativas? nhecimento, de que forma ele valoriza a justiça e a igual-
dade. Consequentemente, o treinador pode considerar:
• O meu comportamento reforça estereótipos?
• Qual a representação do conhecimento duran-
• Quais são os feedbacks sobre a performance e te o treino?
os feedbacks comportamentais? E quem os tem?
• Como procedo se um dos melhores atletas da
• O tipo de feedback reforça a aprendizagem? equipe está a 80%?

• Recorro de forma suficiente à tecnologia dispo- • Como proceder quando a tradição da equipe
nível? ou do clube não são equitativas ou são injustas?

• Dou feedbacks diferentes de acordo com a


qualidade dos atletas? Por quê?

80
EDUCAÇÃO FÍSICA

Conjuntamente, esses níveis de reflexão podem auxi- ra proporcionar-lhes autonomia, e tem como meta a
liar o treinador em sua tarefa de adequar a sua ativi- construção de uma carreira atlética prolongada, com
dade ao contexto em que ela ocorre. Concretamente, ênfase na manutenção de um estilo de vida saudável.
o treinador se depara sempre com uma situação única A forma qualificada como o treinador comuni-
em face da especificidade dos seus atletas (idade, sexo, ca, explica e demonstra é decisiva para o processo de
nível de desenvolvimento, dentre outras), do ambiente aprendizagem e motivadora do seu sucesso. Se o trei-
sociocultural e das condições materiais que ele usufrui. nador conceber empenhamentos de prática que promo-
Naturalmente, não existem situações de treino iguais, vam a motivação para a aprendizagem, o atleta reforça a
pois todas as soluções deverão ser específicas e de acor- sua aptidão e o seu comprometimento com a atividade.
do com o conhecimento desenvolvido pelo treinador. O treino intenciona desenvolver os atletas em
Os conhecimentos adquiridos pelos treinadores quatro domínios (4Cs – competência, confiança, co-
devem resultar nas aprendizagens dos atletas. Nesse nexão e caráter) (ERICKSON; GILBERT, 2013). Con-
sentido, é importante operacionalizar a sua interven- tudo, o treinador deverá estar consciente de que esse
ção a partir de uma base de atuação pedagógica que, desenvolvimento se circunscreve em um contexto
por sua vez, permita o melhor desenvolvimento do esportivo específico. Será importante considerar que
atleta de acordo com os valores inerentes ao esporte. essa proposta se insere na perspectiva de desenvolvi-
A ação do treinador com relação aos atletas procu- mento positivo do jovem enquanto praticante espor-
tivo e enquanto ser humano. Segue o Quadro 2 sobre
os quatro domínios (4Cs):

81


Competência Por competência, entende-se as caraterísticas específicas do esporte no que diz


respeito às técnicas e táticas respectivas, a aptidão para a performance e a capa-
cidade em melhorar os índices de saúde, assim como a obtenção de hábitos de
treino saudáveis.

• A competência técnica refere-se à capacidade de o atleta realizar as tarefas


necessárias para alcançar o sucesso esportivo.

• A competência tática incide na habilidade das ações e decisões que os atletas


efetuam durante a competição para obter vantagem sobre os seus oponentes
(tomada de decisão, leitura de jogo e estratégia).

• As qualidades funcionais, conjuntamente com a aptidão física, são as compe-


tências que possibilitam ao atleta manifestar a capacidade esportiva específica
(velocidade, agilidade e endurance).

Confiança É a percepção que um atleta possui acerca do seu valor pessoal em termos globais
e esportivos, nomeadamente por meio da sua autoestima e autoeficácia. É deter-
minante que essa característica seja equacionada na qualidade da participação
esportiva. Nessa particularidade, o tempo (continuidade) despendido, assim como
a intensidade pelo número de anos em que o atleta esteve comprometido com
uma determinada atividade, é determinante para avaliar os efeitos positivos que o
esporte pode ter na formação pessoal do atleta como pessoa.

Conexão Constitui-se das obrigações positivas e das relações sociais que os atletas criam
com as pessoas, dentro e fora do esporte. Constitui-se das medidas de qualidade
criadas, assim como do grau de interação com os pares, treinadores, dirigentes e
outros envolvidos no ambiente esportivo.

Caráter Engloba o respeito com o esporte e com os outros (conceito de moralidade), a inte-
gridade, a responsabilidade e a empatia genericamente estabelecida. O caráter, no
esporte, está tipicamente relacionado com os comportamentos sociais e a preven-
ção de comportamentos antissociais.

Quadro 1 – Os quatro domínios / Fonte: Resende e Gilbert (2015, p. 29)

82
EDUCAÇÃO FÍSICA

Os três últimos domínios constituem medidas psicos- habilidades e envolver-se num estilo de vida saudá-
sociais que revelam a importância para a construção de vel; e outra, que abrange o esporte de performance,
um atleta, sustentando a relevância que deve ser atribu- em que o desenvolvimento de capacidades atléticas e a
ída à sua compreensão para um treino mais eficaz. sua colocação em evidência surgem por meio da com-
Tendo em conta o desenvolvimento holístico do petição (RESENDE; GILBERT, 2015, p. 29).
jovem atleta e respectiva contextualização em que se No Quadro 3, estão expostas as características que
desenrola a prática esportiva, o treinador deve estar um treinador de jovens deve ter para ser eficaz. Relacio-
consciente dos diferentes tipos de participação es- na-se à busca pelo melhor desempenho esportivo com os
portiva que com os quais se pode deparar nos jovens. resultados psicossociais positivos dos seus atletas (ERI-
Aqui, surge uma nova forma de estar no esporte e que CKSON; GILBERT, 2013). Os autores referenciam que os
implica uma posição substancialmente diferente da treinadores que fomentam a autonomia parecem ter uma
vivida no meio esportivo até recentemente. melhor resposta por parte das crianças e jovens, pois es-
Identificam-se dois tipos de participação esporti- ses profissionais promovem uma atmosfera de conheci-
va: uma em que os atletas procuram, como resultado mento por meio do esforço pessoal em vez de procurar
da sua prática o divertimento, o desenvolvimento de evitar a incompetência (o erro, o fracasso ou a derrota).

Características de treino
Construto Exemplos práticos
eficiente

Instrução. Elogio dos esforços desejados.


Comportamentos
Suporte. Encorajamento e instruções técnicas rele-
dominantes
Ausência de punições. vantes após os erros.

Inclusão dos atletas no processo de toma-


Tom (entoação) da de decisão.
Autonomia-suporte.
motivacional Justificativas para as decisões técnicas.
Solicitação das perspectivas dos atletas.

Avaliação da performance dos atletas


Orientação dos Maestria/clima de aprendi-
com base na melhoria autorreferenciada,
objetivos zagem.
aprendizagem e esforço.

• Questionar os atletas.
• Promover a discussão.
Interatividade
Encorajar. • Confirmar verbalmente o entendimento
com o atleta
por parte dos atletas sobre os conceitos/
instruções.

Quadro 3 - Qualidades de treinadores de jovens eficientes / Fonte: Erickson e Gilbert (2013, p. 30)

83


A qualificação do processo de treino deve incidir aspectos pessoais e emocionais do atleta, além do
nas necessidades dos atletas em cada momento contexto em que este se insere, o qual determina a
do treino, de forma que eles possam alcançar os sua identidade social.
seus objetivos (os quais podem ser distintos uns Dentro desse contexto dos conhecimentos
dos outros, mesmo em um grupo muito similar). e competências do treinador, também é neces-
De acordo com Côté (2009), e levando em conta sário entender a caracterização do esporte ju-
os contextos de treino, é fundamental relacionar venil. A cultura juvenil, pelo menos no mundo
as etapas de formação dos praticantes com as desenvolvido, expressa-se de forma muito idên-
exigências de performance de cada modalidade tica. A maneira como os jovens gastam o seu
esportiva. Desenvolver um conceito de formação
esportiva abrangente e plural deve fundamentar
a ação do treinador no sentido da qualificação da
prática esportiva.
Assim, um treinador deve assumir uma abor-
dagem holística na sua intervenção, considerando
o processo de treino de uma forma integrada e
que solicita diversos conhecimentos, como são os

84
EDUCAÇÃO FÍSICA

tempo, entre as tarefas escolares e as folgas, é muito


similar. A partilha de gostos e a forma como eles uti-
lizam o seu próprio dinheiro, a moda, as preferências
musicais e, por inferência, o esporte, têm caracterís-
ticas muito semelhantes. A essa generalização, que
influencia de modo determinante o estilo de vida
desses jovens, não são imunes os avanços tecnológi-
cos e a sua globalização, fazendo com que essa parte
da população manifeste um crescente desinteresse
pela leitura (ZUZANEK, 2005).
O ambiente esportivo deve ser encarado, quando
se equaciona os tempos atuais, como uma micror-
reprodução da sociedade, na qual a volatilidade de
processos é uma caraterística, e a capacidade para a
perseverança e a concentração em uma tarefa decaiu
na exata proporção em que a velocidade de aquisição
de informação aumentou. Contudo, o esporte pode
constituir-se como um local onde a sociedade pode
reproduzir e facilitar, por meio de uma intervenção
adequada, uma preparação para a vida.
Considerando os apontamentos prévios, não de-
vemos nos esquecer de que as crianças e jovens, ape-
sar das idades relativamente próximas, não têm gostos
e interesses coincidentes. Uma criança com 7 anos
tem motivações bem divergentes de um pré-adoles-
cente de 13 anos, ou seja, a intervenção pelo esporte
deve ter em forte consideração as diferentes idades
das crianças e dos jovens, assim como os seus estágios
de desenvolvimento.
Refletindo sobre como se processa a adesão ao
esporte, verificamos a importância da família como
agente primário. Ela atribui importância às ativida-
des físicas e, consequentemente, apoia o ingresso da
criança no mundo esportivo, sustentando a sua par-
ticipação tanto material como financeiramente (GO-
MES, 2010). Sobre essa matéria, Smoll, Cumming e
Smith (2011) alertam que os familiares influenciam a

85


integração social por meio do esporte, mas também servando que essas abordagens foram inadequadas
têm um impacto profundo nas consequências psico- ou infrutíferas. Este será, eventualmente, um tema ao
lógicas que daí resultam. Considera-se, por isso, mais qual a investigação deverá dar maior atenção, no sen-
importante que estas experiências sejam positivas e tido de propor programas de formação dos pais quan-
fomentadoras de uma atitude perante a vida, atitude do envolvidos no esporte dos seus filhos.
esta que seja, acima de tudo, saudável. No extremo Para além da família (agente primário), a escola
contrário, Gomes (2011) aponta exemplos negativos (agente secundário), fundamental na adesão e perma-
de pais que colocam expectativas elevadas na per- nência no esporte, possui, na generalidade dos currí-
formance esportiva dos filhos, fomentando níveis de culos, a disciplina de Educação Física. Esta tem como
pressão tão elevados que podem tornar a experiência importante função promover o conhecimento espor-
esportiva desagradável e indesejável e, por isso, levan- tivo e possibilitar o primeiro contato com esse meio.
do ao seu abandono de uma forma precoce. Nesse contexto, pode ser determinante a forma empe-
nhada com a qual professor de Educação Física leva
à prática e constrói a sua atividade, o relacionamento
que estabelece com os alunos e o entusiasmo que ele
lhes provoca para que continuem a praticar esporte
Título: Glory road - Es-
(RESENDE et al., 2014). Os mesmos autores afirmam
trada para a glória
que, além de influenciar positivamente os alunos para
Ano: 2004
Sinopse: o filme, que se aderirem à prática esportiva, o professor de Educação
passa em 1966, conta Física, muitas vezes, estabelece e promove contatos
a história do primei- entre a escola e o clube esportivo, seja este escolar ou
ro time de basquete federado. O meio onde se insere a criança e o jovem
formado apenas por poderá conter fortes estímulos para potencializar a
negros como titulares. Em um momento de adesão ao esporte. A identidade social dos grupos
grande discriminação racial, o treinador Don aos quais se associa o jovem, quando este inicia a sua
Hanskins os avalia por suas habilidades, e luta exploração do mundo para além do círculo familiar
para o fim do preconceito racial, levando o time mais próximo, é determinante para a construção da
à vitória. Baseado em fatos. sua personalidade. Nesse sentido, os interesses co-
muns poderão catalisar a aderência e a permanência
no meio esportivo, pois, para os jovens, a participação
esportiva é motivadora e facilitadora de relações so-
Reforçando essa perspectiva, Ross, Mallett e Parkes ciais (GREEN, 2010).
(2015), em uma investigação qualitativa com treina- Apesar de não constituir um objetivo do presente
dores de jovens australianos e a sua interação com os trabalho, não há de se descuidar da importância que
pais, se referem, consideravelmente, a mais interações aqueles que se configuram como líderes entre os jo-
negativas do que positivas. Alguns participantes re- vens têm na forma como estes enfrentam a participa-
portaram, ainda, esforços na formação dos pais, ob- ção esportiva (PRICE; WEISS, 2011).

86
EDUCAÇÃO FÍSICA

Ao promover e incentivar a prática esportiva,


providenciando instalações e materiais, a in-
tervenção política visa a promover a atividade
física e o esporte, aceitando e compreenden-
do o importante benefício social que ela mes-
ma pode retirar desse investimento.

As experiências prematuras e bem-sucedidas com o es-


porte parecem influenciar as tendências de ocupação
do tempo livre por parte dos jovens. No seguimento
dessas considerações, será interessante considerar qual
o tipo de impacto que a mercantilização do esporte
tem nos jovens, nomeadamente os feitos e vitórias das
suas equipes de eleição em geral, e dos seus ídolos em
particular. Esse impacto sai, ainda, reforçado com as Nesse sentido, os projetos da área devem procurar
agressivas estratégias de marketing que estão associa- integrar todo um processo que se desencadeia, habi-
das a esses eventos. Contudo, naquilo que estamos ana- tualmente, pela mão de um adulto, e que se prolonga
lisando, para a adesão esportiva por parte dos jovens, é até a sua fidelização e autonomia. As investigações
questionável o impacto dessas realizações. A esse pro- sugerem que esse processo é, em inúmeras vezes,
pósito, Green (2010, p. 157), após considerar diversas preenchido de insucessos e frustrações, tendo, como
pesquisas, enuncia que o impacto dos ídolos esportivos resultado, o abandono precoce da atividade espor-
na adesão esportiva dos jovens é “muitas vezes mal-en- tiva. Será, então, de grande importância considerar,
tendida e frequentemente exagerada”. em cada contexto particular, o início da atividade
Ao considerar e caracterizar o esporte juvenil, é esportiva pela criança, pois, quando jovem, a sua ex-
fundamental refletir sobre a importância que a famí- periência é uma mais-valia para uma vida ativa em
lia mais próxima do atleta atribui à sua frequência, longo prazo (RESENDE; GILBERT, 2015).
assim como o tipo de ajuda que esta lhe presta. Essa Assim, teremos que considerar e reconsiderar
preocupação tem, como base, o desejo de incremen- a oferta esportiva, não olhando para a sua iniciação
tar a prática esportiva das crianças e dos jovens. Des- como uma via de sentido único para o rendimento ou
sa forma, deve-se ponderar que a harmonia fami- a elevada performance. Poucos são os atletas que al-
liar é frequentemente perturbada pelos horários da cançam o elevado rendimento e, por isso, a participa-
participação esportiva, tanto nos treinos quanto nas ção esportiva deve contemplar na sua gênese e, como
competições, e uma necessária envolvência e corres- consequência, na sua prática, um conjunto de valores
ponsabilização da família são cruciais para o êxito adequados a essa realidade. Apoiando esse comentá-
dos programas esportivos.

87


rio, Muir et al. (2011) referem-se à existência de dois sistente. Dessas duas situações derivam, no primei-
tipos de abordagem ao processo de treino que envolve ro caso, programas demasiado exigentes ao nível de
as crianças e os jovens, sendo que em nenhum deles volume de treinos, de competições e de pressão para
são equacionadas as suas necessidades de desenvol- vencer. Na situação considerada mais de lazer, a prá-
vimento em longo prazo. Um é o esporte de elevado tica, quando tão livre e pouco exigente, dificilmente
rendimento reproduzido pelos adultos (em que, mui- faz ocorrer o desenvolvimento, sobressaindo apenas
tas vezes, ocorre uma especialização precoce e uma os naturalmente mais dotados (MUIR et al., 2011).
seleção de atletas com base na sua performance atual, Considerando os pressupostos anteriores, de-
sem considerar as suas potencialidades de desenvolvi- fendemos uma ideia mais moderna e de acordo com
mento), a outra é aquela que somente pretende a ocu- aquilo que deve ser o pressuposto do esporte para
pação ativa das crianças e dos jovens. todos, ou seja, uma atividade social que deve pro-
Contudo, a crítica feita a essas organizações é que, mover o desenvolvimento físico e a fruição pela ati-
apesar de as atividades serem esportivas e com um vidade física para todos os jovens, de acordo com as
espírito lúdico, carecem de uma estrutura e de uma suas necessidades e objetivos. Claro que o desejo de
organização que fomentam uma aprendizagem con- rendimento esportivo deve ser respeitado para quem
o almeja, mas não deve constituir a única finalidade.

88
EDUCAÇÃO FÍSICA

Projetar um programa esportivo constitui um de- um bom profissional, constatamos que os seus pro-
safio, e esse programa deve considerar as fases de de- cedimentos terão de se sustentar em conhecimentos
senvolvimento das crianças e dos jovens, assim como o sólidos e abrangentes, de forma que desempenhe a
contexto no qual ele se implementará. De acordo com sua atividade com competência, certificando-se que
Resende e Gilbert (2015), entre os 5 e 8 anos, a estru- os seus atletas se desenvolvam de forma holística, in-
turação do esporte deve ser pouco formal, não existin- dependentemente do nível de participação esportiva
do a necessidade da existência de equipes formais. O na qual estejam. Competências como ter uma visão
grande objetivo é entusiasmar a participação esportiva, estratégica da sua atividade, construir relações e con-
a fruição da atividade e o estabelecimento de relações duzir práticas são exemplos de atributos relacionados
sociais. Nessa faixa etária, a forma como os pais e os à liderança de um processo de treino.
treinadores encaram o esporte é determinante para a Ressaltamos a importância de uma formação
forma como os jovens se julgam quando estão em ativi- continuada, independentemente da sua origem, sa-
dade. Nesse sentido, as suas expectativas devem se con- lientando a importância de o treinador colocar, de
centrar no esforço desenvolvido e na envolvência com forma incessante, a sua atividade em equação para,
a atividade, tendo como objetivo maior a diversão por por via da autorreflexão, inovar na resolução dos
meio da aprendizagem de novas habilidades. problemas que ele enfrenta cotidianamente. Nes-
se sentido, o treinador pode colocar para si mesmo
questões de nível técnico, prático e crítico, de for-
ma a melhorar e adequar as suas ações. Assim, ele se
torna um fomentador de novos conhecimentos que,
concomitantemente, lhe proporcionam uma maior
expertise, à medida que adquire experiência. A ati-
vidade do treinador, para se revestir de sucesso, deve
se sustentar em ações pedagógicas que fomentam a
aprendizagem, a despeito do nível de participação
esportiva dos atletas. Nesse sentido, o treinador de-
verá desenvolver os atletas ao nível da sua competên-
cia (medida de performance), confiança, conexão e
Considerando as informações apresentadas nesta unida-
caráter (medidas psicossociais).
de, reforçaremos, neste podcast, alguns pontos específi-
cos destacados no texto, dentro do contexto dos conhe-
No processo esportivo, as crianças e os jovens de-
cimentos e das competências necessárias para que um vem ser considerados de forma distinta, pois os seus
indivíduo seja um bom treinador. Aperte o play e vamos lá! interesses, gostos, preferências e vontades, para além
de se alterarem rapidamente em função do desenvol-
vimento tecnológico, podem ser pouco coincidentes
Os conteúdos abordados até aqui evidenciam a com- por causa das diferenças de idade. O treinador terá,
plexidade da atuação do treinador. Pensando no que por isso, de fomentar o processo de treino adequado
é necessário para ser treinador e como fazer para ser para cada situação em particular.

89
agora é com você

1. Genericamente, os treinadores emergiram do interior da própria atividade


como antigos atletas. Por conta disso, os treinamentos eram baseados em
seus conhecimentos e habilidades práticas adquiridas durante o tempo em
que estiveram eles próprios em competição. Em resumo:

a. Os treinadores baseavam-se em livros e informações científicas para elaborar


seus treinamentos.
b. As técnicas e as abordagens competitivas eram baseadas nas próprias expe-
riências dos treinadores.
c. Os indivíduos considerados melhores atletas eram, consequentemente, os
melhores treinadores.
d. Somente indivíduos com histórico de atletas eram permitidos a serem treina-
dores.
e. Não era necessário ser um bom atleta para ser um bom treinador.

2. Diante da evolução científica, a formação do treinador é evidenciada. Assim,


com base nessa informação, analise as asserções a seguir:

I. O treinador não poderá conhecer somente sobre o esporte em si, necessitan-


do dominar conhecimentos diversificados

PORQUE

II. O perfil profissional do treinador vem se alterando pelas solicitações cada vez
mais complexas e específicas.

A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta:

a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa


correta da I.
b. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa correta
da I.
c. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa.
d. A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira.
e. As asserções I e II são proposições falsas.

90
agora é com você

3. Ao ampliar a sua experiência, o treinador precisa aumentar seu leque de co-


nhecimentos, abrangendo as diferentes áreas que apoiam o esporte, como as
ciências biológicas, as ciências sociais e as metodologias de treino, nas quais
se inserem com cada vez mais premência as novas tecnologias. Nesse sentido,
o treinador terá de se envolver em ações de formação de caráter formal, não
formal e informal. Considerando os tipos de formações, analise as afirmativas
a seguir e assinale V para verdadeiras e F para falsas:

( ) A formação regular ocorre em ambientes institucionalizados, como os cursos


de ensino superior relacionados à Educação Física e às Ciências do Esporte.
( ) A formação não formal ocorre por meio da interação com outros treinadores
pelas experiências profissionais vivenciadas diariamente e das reflexões sobre a
própria atividade, dentre outros.
( ) As formações não formal e informal são sinônimos e ocorrem fora do am-
biente formal, em locais como workshops e seminários.
( ) A formação informal resulta de um processo contínuo de formação que se
prolonga durante toda a vida.

As afirmações são, respectivamente:

a. V, V, F, V.
b. V, F, V, F.
c. F, F, F, V.
d. V, F, F, V.
e. F, V, F, F.

4. De acordo com a International Council for Coaching Excellence (ICCE, 2013), o trei-
nador necessita de uma série de competências para sua atuação profissional.
Tais competências estabelecem um conjunto de funções primárias que con-
fluem em habilidades específicas como: definir visão e estratégia; moldar am-
biente; construir relações; conduzir práticas; ler e responder ao campo de ação;
aprender e refletir. Sobre tais competências, analise as afirmações a seguir:

I. Definir a visão de estratégia está relacionado à análise das necessidades dos


atletas e aos objetivos do trabalho.
II. Ler e responder ao campo de ação corresponde a uma tomada de decisão
eficaz a todas as ocorrências.

91
agora é com você

III. Aprender e refletir indica uma aprendizagem de forma contínua, além da au-
toavaliação e reflexão.
IV. Construir relações refere-se somente à relação atleta e colega de equipe.

É correto o que se afirma em:

a. I e III, apenas.
b. II e IV, apenas.
c. I, II e III, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.

5. Sem minimizar os demais conhecimentos que um bom treinador precisa ter, o


conhecimento profissional é de extrema relevância. Trata-se de conhecimen-
to que engloba o conteúdo específico do processo de treino e a forma como o
treinador vai processar o ensino e a aprendizagem das habilidades esportivas.
Considerando tais informações, analise as afirmativas a seguir acerca do co-
nhecimento citado:

I. Considera as áreas específicas do esporte, como a técnica e a tática, os diferen-


tes regulamentos e regras das modalidades, as instalações e os equipamentos.
II. Abrange as ciências do esporte, como, por exemplo, as áreas biológicas, so-
ciais e pedagógicas, como a fisiologia ou a didática e a gestão esportiva.
III. Aborda a filosofia pessoal, identidade, valores e crenças do treinador, além do
seu estilo de liderança.
IV. Considera o relacionamento por meio da comunicação; fomenta a empatia e
simpatia.

É correto o que se afirma em:.

a. I e II, apenas.
b. II e IV, apenas.
c. I, II e III, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.

92
UNIDADE
IV
EVOLUÇÃO POSITIVA
ATRAVÉS DO ESPORTE

Dr. Rui Resende


Me. Suelen Rodrigues da Luz

Oportunidades de aprendizagem

A base para uma vida adulta ativa é criada durante a infância e a juventude por meio
da prática esportiva, a qual deve, então, ser uma experiência enriquecedora. Nesse
contexto, o desenvolvimento positivo dos atletas depende da forma como o esporte
está organizado e da configuração das relações entre as pessoas envolvidas. Assim,
nesta unidade, você terá a oportunidade de entender o esporte como uma ferramenta
positiva no processo de desenvolvimento integral de crianças e jovens.
unidade

IV


Apesar do impacto do esporte na sociedade, não se processo, uma vez que, ao materializar um processo
pode esperar que somente pela prática esportiva as de treinamento, o objetivo será desenvolver o atleta de
crianças e os jovens adquiriram competências que se forma integral. Ou seja, o treinador deverá ser capaz
prolonguem para as outras facetas da intervenção so- de proporcionar o desenvolvimento de habilidades
cial. É necessário ter consciência da sua importância e (além das que compõem a técnica e a tática de jogo)
trabalhá-las de forma intencional para que, assim, os que contribuam com a formação pessoal e social da
jovens desenvolvam, de uma forma saudável e cons- criança e do jovem, contemplando todos os benefícios
trutiva, todo o potencial que detêm. Nesse sentido, que a prática esportiva possibilita (PALHETA et al.,
como deve ser o processo de treinamento/iniciação 2016). Como a tarefa de desenvolver os jovens não se
esportiva para que o desenvolvimento das crianças e compadece de ações isoladas, o apoio da família tam-
dos jovens seja positivo? Quem são os agentes respon- bém é crucial. Assim, os pais ou responsáveis dos alu-
sáveis por esse processo? nos/atletas terão uma participação importante nesse
Tendo em vista que o resultado do desenvolvi- processo e deverão cooperar no desenvolvimento es-
mento por meio do esporte depende da forma como portivo dos jovens de forma solidária com o treinador.
o ambiente esportivo está organizado – o que inclui Considerando a importância do treinador, a cons-
o processo de treinamento em si, além das relações trução de uma boa relação entre este e os jovens alu-
interpessoais – o treinador é uma peça-chave nesse nos/atletas é fundamental para que haja uma formação

96
EDUCAÇÃO FÍSICA

esportiva positiva. Nesse sentido, feedbacks positivos ta de alguma modalidade esportiva. Busque, ainda,
e elogios podem melhorar a autoestima dos jovens, fa- refletir sobre como deve ser a comunicação entre pro-
zendo com que estes deem continuidade à prática. Ou- fessor/treinador e aluno/atleta e sobre a abordagem
tra boa estratégia que pode ajudar a criar e manter uma comunicativa que pode ser positiva e abordagens que
boa relação com os alunos/atletas é torná-los respon- podem gerar um resultado negativo no processo de
sáveis por parte dos processos de desenvolvimento dos desenvolvimento esportivo, e sobre o que irá motivar
treinos, por exemplo, instigando a autonomia. e ajudar na criação de um ambiente esportivo saudá-
Seguindo essas informações, imagine você como vel e o que pode desmotivar e gerar desinteresse com
um futuro treinador e pense em quais outras estraté- relação à modalidade praticada.
gias, além das já citadas, poderiam ser utilizadas para Utilize o diário de bordo, a seguir, para descrever
criar e/ou manter um bom relacionamento entre o de uma a três estratégias que podem ser utilizadas
treinador e os jovens alunos/atletas. para criar ou manter um bom relacionamento entre
Para auxiliá-lo com essa tarefa, utilize de experi- treinador e aluno/atleta.
ências anteriores, caso tenha sido (ou ainda seja) atle-

97


• Entre os 6-12 anos, a importância maior deve


Inicialmente, para que haja evolução positiva, é es-
ser o jogo, propondo uma percentagem de 80%
sencial que o processo de formação esportiva ocorra para as atividades de jogo e 20% para a prática
de forma adequada. Ou seja, considerando, sempre, deliberada. Dessa forma, as crianças experien-
as etapas de desenvolvimento da criança e do jovem. ciam diferentes esportes, reduzindo a seleção,
Nesse sentido, Côté et al. (2007) indicam que o de- fomentando equipes pequenas, aumentando o
senvolvimento esportivo se inicia por uma adesão ao tempo de jogo e incentivando o esporte como
forma de prazer e excitamento.
esporte (sampling years), em que as atividades lúdicas,
por meio do esporte e em vários deles, são prioritárias. • Os anos de especialização, dos 12-16 anos, de-
A seguir, vêm os anos de especialização esportiva (spe- vem incluir um equilíbrio entre o jogo e o trei-
cializing years), seguidos pelos anos de investimento no, diminuindo o número de esportes, inician-
esportivo (investment years). Simultaneamente a essas do-se a diferenciação em níveis competitivos.
duas fases, os autores ressaltam que quem procura o Nesse contexto, e apesar do divertimento e do
esporte de participação eleva a percentagem de jogo prazer que advêm da prática esportiva, emerge
a especificidade esportiva como uma caracte-
em detrimento do tempo dedicado à prática delibera-
rística determinante.
da, focando-se, com igual importância, nas atividades
cujo foco são o fitness e a saúde. • Os anos de investimento ocorrem, depen-
De forma mais específica, Hancock e Côté (2014) dendo da modalidade esportiva, a partir dos
aconselham que: 16 anos, em que a prática deliberada (treino)

98
EDUCAÇÃO FÍSICA

constitui a maior parte do tempo (80%), im-


É característica do esporte reivindicar para
plicando que o jovem está vinculado a atingir
patamares de rendimento esportivo elevado si valores importantes na formação do indivíduo
em um determinado esporte. como um todo, e não somente do atleta. Inse-
rido em um contexto de intervenção no esporte,
o desenvolvimento positivo dos jovens tem sido
As percentagens propostas anteriormente podem ser- apontado como uma excelente possibilidade para
vir de linha de orientação para o desenvolvimento de contribuir com uma transição bem-sucedida para
um processo de treino, tendo em conta as necessida- a vida adulta (DIAS, 2011). A aquisição de com-
des de cada grupo em concreto. Dessa forma, evita-se petências essenciais por parte dos jovens para en-
a especialização precoce e possibilita-se um desenvol- frentar com sucesso os desafios da sociedade atual
vimento mais global do atleta, o que poderá ser cru- deve, por isso, constituir um grande objetivo do es-
cial caso ele opte pelo esporte de rendimento. porte. Nesse sentido, ele deve consistir em um es-
A partir disso, seguindo na busca por uma evo- paço educativo por excelência, dotando os jovens
lução esportiva positiva, devemos, então, enxergar o de atributos que lhes permitam encarar a vida de
esporte para além da sua prática. Ou seja, enxergar o uma forma saudável por meio de um estilo de vida
esporte também como um fenômeno social e uma fer- ativo, e de se incorporarem de forma cívica e atu-
ramenta educacional. ante na sociedade.

99


energia com que a competição é


vivenciada pelos jovens deve ser
aproveitada para esse fim. Ali-
ás, essa intervenção é pertinen-
te, pois é nesse período da vida
onde ocorrem, tendencialmente,
mais riscos associados a proble-
mas comportamentais (GREEN,
2010) pelo excesso de sedentaris-
mo, com reflexos no aumento do
sobrepeso ou da obesidade, abuso
do consumo do álcool e do taba-
co e a experimentação de drogas.
Reforçando os benefícios alcança-
dos pela prática esportiva, Malina
(2011) indica melhorias em nível
de saúde em geral, da aptidão fí-
sica, da regulação cardiovascular,
da composição corporal e, conse-
quentemente, da redução de fato-
Apoiando essa intervenção, investigações empíricas res de risco metabólicos. A par desses benefícios, o au-
têm evidenciado que o esporte eleva a autoestima, a tor afirma que o esporte está relacionado com o menor
autoconfiança e o aproveitamento acadêmico (CÔTÉ envolvimento por parte dos jovens em criminalidade,
et al., 2010). Realçando, no entanto, que subsistem gravidez indesejada, condutas sexuais de risco e ideias
dúvidas no meio acadêmico sobre o esporte ser um de suicídio. Para que o esporte seja efetivo na aquisição
meio de desenvolvimento de competências de vida dessas mais-valias, ele necessita provocar estímulos
(GOULD; WESTFALL, 2014). Aliás, esses autores que vão de moderados a intensos (AAHPERD, 2013),
alertam, baseando-se em investigações sobre a reper- pois uma atividade demasiado ligeira não produzirá os
cussão do esporte nos jovens, que a atividade espor- efeitos enunciados anteriormente.
tiva não é somente associada ao desenvolvimento de Em suma, os benefícios provocados pelo esporte
competências de vida positivas e pode, igualmente, podem ser físicos, mas também de caráter psicológico,
ser fruto de consequências negativas. como a elevação dos níveis de autoconfiança, o desen-
Os programas esportivos podem (e talvez de- volvimento de competências de liderança e de iniciativa,
vam) ser desenhados de forma a privilegiar o desen- o desenvolvimento de hábitos de autodisciplina, per-
volvimento positivo dos jovens, aproveitando o clima severança e resiliência na procura de atingir objetivos
intrinsecamente motivante promovido pela prática previamente definidos. A inserção social adquirida pela
esportiva e pelo potencial que a competição traz. A cooperação e pelo respeito aos outros, pela autoridade,

100
EDUCAÇÃO FÍSICA

nomeadamente pelos árbitros e juízes, constitui outro fa- Pinheiro et al. (2012) descreverem, por meio de entre-
tor determinante pelo qual o esporte pode trazer benefí- vistas retrospectivas com atletas femininas sobre as suas
cios aos jovens. Fazer novos amigos e conhecidos, cons- experiências, constrangimentos centrais, como treinar e
truindo uma rede social em contínuo desenvolvimento, competir lesionadas, controle excessivo do peso e casti-
promove as competências sociais (SMOL; CUMMING; gos corporais aplicados. Essas evidências ajudam a alertar
SMITH, 2011; CARRERES-PONSODA et al., 2012). A que nem tudo no esporte pode ser positivo e, assim, as
esse propósito, Rutten et al. (2011) efetuaram um estudo circunstâncias em que se delineia e aplica um programa
com 439 jovens de idades entre 14 e 17 anos, envolvidos esportivo devem ser convenientemente escrutinadas.
em 67 equipes esportivas, e confirmaram que a existên- Em consequência, alerta-se para uma maior cons-
cia de ambientes morais positivos está associada a com- ciencialização política por meio de uma produção le-
portamentos pró-sociais no contexto esportivo. gislativa que defenda o praticante esportivo, que exerça
O envolvimento com o esporte também tem sido cor- uma efetiva fiscalização, promova a formação de trei-
relacionado com melhorias cognitivas (aumento da capa- nadores e dirigentes para implementar as políticas de
cidade de atenção e do trabalho da memória), resultados desenvolvimento positivo dos jovens pelo esporte. De-
acadêmicos superiores ao nível das classificações obtidas, vemos ter consciência de que é a configuração da orga-
maior gosto pela escola e, consequentemente, redução de nização esportiva, em todos os seus recursos, que in-
absentismo e de abandono precoce dos estudos (TRUDE- fluencia o desenvolvimento dos jovens (HOLT, 2008).
AU; SHEPHARD, 2008; JONKER;
ELFERINK-GEMSER; VISS-
CHER, 2009; ZENHA; RESENDE;
GOMES, 2009; SINGH; UIJT-
DEWILLIGEN; TWISK, 2012).
Como atores conscientes da in-
tervenção esportiva, não devemos
deixar de olhar para os possíveis pe-
rigos decorrentes da prática espor-
tiva, como os riscos da ocorrência
de lesões traumáticas durante essa
prática, exagero na forma como se
vivencia a competição e a conse-
quente possibilidade de síndrome
de burnout, influência menos posi-
tiva na maturação física dos jovens
pela inadequação de cargas de trei-
no desajustadas (MALINA, 2011),
apesar de, em um contexto espe-
cífico, como a ginástica esportiva,

101


Com o intuito de construir uma sociedade mais har- um desígnio para as suas vidas sustentam o seu
moniosa e significativa para todos, e considerando o desenvolvimento positivo, pois determinam ou,
impacto do esporte nas competências da vida, o de- pelo menos, os estimulam a colocar metas e a se
senvolvimento positivo do ser humano deve ser enca- esforçarem para as ultrapassar (HILL et al., 2010).
rado como um objetivo pelo qual todos devemos nos Claro que se deve ter a percepção de que este de-
empenhar. Essa filosofia de bem-estar e de formação senvolvimento terá de ser empreendido de forma glo-
tem total pertinência no desenvolvimento dos jovens. bal, em todas as interações concretizadas diariamente,
De acordo com Orlick (2014), as pessoas que, de al- mas é no esporte que concentramos a nossa atenção.
guma forma, expressam sentimentos negativos, o fa- Somos da opinião que o esporte é um meio, desde que
zem porque, em algum momento, fracassaram na sua orientado para esse efeito, capaz de proporcionar às
aprendizagem de como ser positivas. Nesse sentido, se crianças e aos jovens a oportunidade de colocarem em
o objetivo for que as crianças, os jovens e os adultos ação atitudes positivas, sendo estas passíveis de serem
aprendam a encarar a vida de forma positiva, então, transferidas para outros contextos sociais.
será necessário ensinar como fazê-lo. Apesar de, como abordado anteriormente, o es-
Para ensinar as competências de vida positi- porte ter a presunção de, somente pela sua ativida-
vas por meio do esporte, de acordo com Lerner, de, já produzir um impacto significativo em outros
Dowling e Anderson (2003), é necessário que domínios da vida dos jovens, essa relação ainda não
os jovens se empenhem moral e comportamen- está consistentemente estabelecida (VIERIMAA et al.,
talmente nessa construção social, constituindo- 2012). É assim determinante que o esporte, antes de
-se como agentes autônomos nesse esforço. Essa reivindicar o fomento de um desenvolvimento positi-
perspectiva se reforça no sentido de que o desen- vo dos jovens em outras áreas, deve evidenciar que os
volvimento positivo dos jovens propõe que todos seus programas produzem esses efeitos.
eles possuem uma grande capacidade para se de- Especificamente, as competências de vida no con-
senvolver de forma bem-sucedida, construtiva e texto esportivo são vistas como:
saudável (LERNER et al., 2005).
É nesse sentido que a construção de progra- [...] ativos internos pessoais, características e
competências, como estabelecer objetivos, con-
mas que visem o desenvolvimento positivo de
trole emocional, autoestima e um trabalho duro
jovens se apoia substancialmente no talento, nos e ético que pode ser facilitado ou desenvolvido
interesses e no potencial que se evidencia nessas no esporte, podendo ser transferido para outros
idades. As lideranças devem almejar o enquadra- envolvimentos não esportivos (GOULD; CAR-
mento dos jovens em parcerias sustentadas de SON, 2008, p. 60).

colaboração com adultos para que o desenvolvi-


mento e a construção das competências preten- Para que a participação em programas esportivos
didas decorram de forma harmoniosa (LERNER; potencialize os efeitos positivos pretendidos no de-
LERNER; PHELPS, 2008). Deve-se reforçar que senvolvimento dos jovens, deverão ser considerados
os esforços que motivam os jovens a descobrir os seguintes itens:

102
EDUCAÇÃO FÍSICA

te, nomeadamente os meios informativos (mídias),


• Envolvimento físico e psicológico seguro confundirem sucesso com vitória. Será fundamental
no decorrer da atividade esportiva. os responsáveis pela formação esportiva tornarem-se
empreendedores e substituírem, ou mesmo elimina-
• Um programa claro e consistente, que
rem a filosofia de “o ganhar não é tudo; ganhar é a úni-
decorra sob a supervisão dos adultos.
ca coisa que interessa”. Colocando a vitória como fim
• Apoio e mútuo comprometimento de único do esporte, os jovens podem deixar de aprovei-
todos que estão envolvidos na realiza- tar excelentes oportunidades para desenvolver habili-
ção do programa. dades únicas por meio da prática esportiva, desfrutar
do que a competição permite, além de crescer social e
• Chances de participação para todos emocionalmente. Tal como muitos responsáveis têm
que mostrarem desejo para tal. alertado, a implementação de sucesso terá que ser vin-
culada a políticas que atribuam ao esforço em vencer a
• Normas e regulamentos implementa-
maior virtude no êxito pessoal e coletivo, criando um
dos de forma positiva.
forte princípio para a criação de um favorável clima
• Estratégias que impliquem e correspon- motivacional (SMOLL; CUMMING; SMITH, 2011).
sabilizem o jovem na atividade desen- É de acordo com essas preocupações que decorre
volvida. o objetivo de formação do jovem esportista. O trei-
nador precisa estar consciente sobre a forma como o
• Estratégias que impliquem a participa- esporte é encarado atualmente, quais são as necessi-
ção e a oportunidade para todos. dades dos jovens e com quem eles se identificam, e ter
também consciência de que, entre a criança e o jovem
• Estender e integrar a família, a escola e adulto, essas percepções se alteram substancialmente.
a comunidade nos programas desen- Não será fácil esse entendimento, pois ele é fortemen-
volvidos. te dependente do contexto e da própria atualidade,
contudo, será fundamental o treinador se preparar
adequadamente para esses tipos de fenômenos, por-
Na continuação do exposto anteriormente, a que eles impactarão de forma decisiva a sua atuação.
AAHPERD (2013) reafirma que a forma como o es- A consciência de que um ensino/treino dirigido para
porte está organizado, o envolvimento das pessoas a promoção da autonomia, com um forte apoio so-
(pares, pais e treinadores), a importância que o jovem cial, uma visão inspiradora para o futuro e a partilha
atribui ao esporte e como isso o integra em outras ati- das tomadas de decisão estimulará os jovens a ficarem
vidades da sua vida, determinam o alcance dos resul- mais aptos a experimentar o bem-estar pela aquisição
tados positivos da participação esportiva. de pensamentos, emoções e comportamentos mais
Uma situação determinante na ponderação da adaptados à sua realidade (QUESTED; DUDA, 2011).
organização dessas atividades é a noção de sucesso Será com base nessa orientação que o treinador
no esporte. É comum os meios que relatam o espor- deverá desenvolver o atleta jovem de uma forma ho-

103


lística, ou seja, integral. Um treinador que assimila a


tivação/estabelecimento de objetivos e a
importância do desenvolvimento dos jovens de forma
comunicação como as mais importantes.
holística revela a capacidade de integrar diferentes ti-
pos de conhecimento, compreendendo os que se re- • Filosofias que priorizam a participação es-
ferem aos aspetos pessoais, emocionais, psicológicos, portiva parecem estar relacionadas com
culturais e de identidade social. Consequentemente, os treinadores mais eficazes no ensino das
encara o processo de treino de uma forma assimilada competências de vida.
e integral, levando em conta que este é muito mais do
• Essas competências são intencionalmente
que a soma das partes. ensinadas de forma direta e indireta.

• A criação de um ambiente de afeto é


verdadeiramente importante para de-
senvolver a confiança com os atletas e
O holismo constitui-se em uma doutrina que fundamental no desenvolvimento de com-
proclama o todo não ser a mera soma das petências de vida.
partes, aglomerando, no seu conjunto, pro-
priedades que carecem aos elementos de uma • O adágio “eles não querem saber o que
forma individual (particularmente no ser vivo). tu sabes enquanto não souberem quem
és”, com toda a certeza, é adequado para
quando se ensina competências de vida.

• A possibilidade de os jovens testarem e


A investigação efetuada por Gould, Carson e Blanton demonstrarem as suas competências por
(2013) sugere que o ensino de competências de vida meio da interação com os pares, treina-
por meio do esporte evidencia os seguintes aspectos: dores e todos os que estão envolvidos no
esporte, facilita excelentes oportunidades
para favorecer competências de vida.
• Uma ligação estreita entre a participação es-
portiva e o desenvolvimento de competências
de vida.
Enfatizando os desafios que o treinador enfrenta, con-
• A consciência de que é importante desenvol- cordamos com Cordovil (2005), que afirma serem es-
ver as competências de vida dos jovens. peciais os treinadores de jovens, pois estão disponíveis
para trabalhar em longo prazo, transmitindo valores
• Competências-chave para o desenvolvimento
que não são os dominantes, porque trabalham com gru-
dos atletas, como a responsabilidade, a mo-
pos heterogêneos e em constante mutação, nos quais o
reconhecimento profissional é ainda muito escasso.

104
EDUCAÇÃO FÍSICA

mentando a sua autoestima e a vivência de experiên-


cias agradáveis, estimulando a edificação de relações
Gould, Voelker e Griffes (2013) estudaram uma amigáveis de longa duração e uma atitude favorável
abordagem para ensinar a liderança por meio em relação à atividade física (WEISS, 2004).
do esporte. A liderança pode ser definida como A forma e o comportamento que o treinador mos-
um indivíduo que motiva, inspira e incentiva tra quando ele se apresenta aos atletas, no contexto es-
um grupo de pessoas para atingir um objeti- portivo, tem um impacto relevante, pois, tal como os
vo comum. Treinadores que comunicam para pais, o treinador pode exercer uma forte influência nos
seus atletas os papéis e as responsabilidades jovens. A sua forma de interagir, a postura que adota
de um líder eficaz têm mais chances de serem e, inclusive, a indumentária que enverga, está impreg-
bem-sucedidos. Você concorda?
nada de representações e significados com impacto
profundo no jovem. Acrescenta-se que a qualidade das
relações interpessoais estabelecidas com os treinadores,
Considerando a efetivação de um programa de trei- identificando-os como professores, amigos e mentores,
namento esportivo para o desenvolvimento de com- reconhecendo a sua capacidade de saber ouvir, de ser
petências de vida pelo jovem atleta, é necessário pacientes e profissionais, dentro e fora do contexto
incluir o treinador como elemento crucial nesse de prática, assume uma importância essencial no de-
processo de formação. Isso porque ele deve ser o senvolvimento positivo dos jovens (BECKER, 2009).
responsável máximo pelo desenvolvimento dos atle- Considera-se, assim, que o desenvolvimento de com-
tas, garantindo, acima de tudo, o desenvolvimento petências de vida por meio do esporte é determinado
harmonioso e o bem-estar destes. Por isto, lhe é im- pela forma como o treinador concebe um ambiente que
putada a responsabilidade de proporcionar experi- fomente esse progresso (GOULD; CARSON, 2008).
ências positivas que contribuam para que o jovem A competência do treinador se expressa de múl-
adote, quando adulto, independentemente do espor- tiplas formas, mas tem a sua maior exaltação na
te praticado, um estilo de vida ativo. O treinador de- forma como ele ensina e como faz os jovens apren-
verá, por isso, ser inspirador, motivando para a prá- derem as técnicas do esporte e melhorarem a sua ca-
tica e assegurando que ela se assente, essencialmente, pacidade tática, estratégica e de tomada de decisão.
em razões intrínsecas. Certamente, com esse tipo de Por outro lado, também é definidora a forma como
atuação, o profissional potencializa o alcance dos be- são capazes de, conjuntamente, definir e atingir os ob-
nefícios relevantes para o seu desenvolvimento, fo- jetivos no nível da performance.

105


petições nos terrenos dos adversários. Aqui é uma


Faz parte da capacidade do treinador as-
excelente oportunidade de formação, porque existe
segurar a conjugação de ingredientes que
um tempo maior de convívio para fomentar compor-
motivem os jovens para a prática espor-
tamentos proativos no seio do grupo. Os ambientes
tiva quando esse profissional realiza as
estabelecidos nessas circunstâncias incrementam e
seguintes ações:
testam as dimensões morais em desenvolvimento do
• Providencia estímulos ótimos. jovem atleta, transportando-o para uma urbanidade
• Estimula da melhor forma possível o concordante com os valores sociais contemporâneos.
apoio e o reconhecimento social em Ao considerar a atividade como treinador, sugere-
relação à sua atividade. -se que este coloque a si mesmo três questões, as quais
nortearão a sua atuação como treinador de jovens:
• Certifica-se de que as experiências que
o atleta vivencia são divertidas e estimu-
lam a sua continuação.

• Fomenta um clima de ativação favorável


à atividade.

• Educa para a autonomia.

Em consequência, os treinadores determinam o terre-


no moral e os valores nos quais edificam a formação
dos jovens e, assim, podem contribuir decisivamente
para um desenvolvimento positivo por meio do es-
porte. A ética e a moral que o esporte pode trazer não
sucedem das suas regras específicas, mas da sua natu-
reza intrínseca, e esta é, desde o começo, profunda-
mente influenciada pelo treinador pelo exemplo que
ele dá (HARDMAN; JONES; JONES, 2010).
O treinador concretiza a sua atividade por meio
da instrução, por isso, a pedagogia surge como agre-
gadora dos diferentes conhecimentos que sustentam
a sua atividade. Essa instrução se inicia desde que o
atleta chega ao local do treino, continua no vestiário A resposta a essas questões por parte do treinador
e materializa-se durante a sessão de treino e compe- facilita ganhar consciência com relação a como se
tição. É importante, igualmente, referir que o esporte comportar no momento de incorporar a “pele” de um
contempla um importante espaço de formação quan- treinador de jovens. Implica a sua personalidade e a
do são proporcionadas as deslocações para as com- forma como ela se manifesta nas diferentes situações

106
EDUCAÇÃO FÍSICA

do contexto esportivo enquanto líder de um processo SON; GILBERT, 2013). Esses autores referem que o
de treino e competição. O treinador também não deve treinador deve incorporar, no seu cotidiano com os
diminuir a importância relativa a como a sua perso- atletas, o elogio aos esforços destes e a instrução por
nalidade será vista, apreciada e avaliada pelos atletas, meio de feedbacks positivos. Partilhar com os atletas
dirigentes, família e todo o entorno que rodeia o fe- o processo de decisão, levando em conta as suas pers-
nômeno esportivo. Por isso, o treinador encontra ar- pectivas e providenciando argumentos coerentes para
gumentos para “trabalhar” o efeito que o seu caráter, as suas decisões. Essas atitudes ajudam a implementar
temperamento e valores trazem à função. e a desenvolver a autonomia dos atletas.
Reforça-se que o empenho nos valores e princí- Um ambiente de aprendizagem favorável poten-
pios que devem pertencer ao esporte constituem uma cializa uma definição clara de objetivos e permite a
pedra angular na personalidade do treinador, forne- avaliação da performance com base na aprendizagem
cendo-lhe as bases para fazer face às pressões que re- e nos esforços realizados.
sultam do processo de treino e, mais vigorosamente, Os treinadores com maior relevância na aquisição
da competição. Essas pressões, que podem surgir de de competências de vida dos atletas são aqueles que se
inúmeros lugares e pessoas, também podem abalar as caracterizam por evidenciar filosofias de treino de sua
convicções e comprometer os princípios. O compor- preferência e são proativos no desenvolvimento des-
tamento do treinador tem sido reconhecido como crí- sas competências de forma explícita, preocupando-se
tico na forma como os atletas encaram o esporte, pelas permanentemente com as transferências dessas com-
performances que alcançam e pela coesão de grupo petências para outros ambientes. Destacam o esporti-
que demonstram (ARTHUR et al., 2011). vismo, fomentam relações fortes com os seus atletas,
Outra forma de olhar para o treinador é pelo pon- focam em delinear objetivos, traçam estratégias com-
to de vista dos alunos. Aqui, uma das caraterísticas petitivas concordantes com o contexto esportivo em
mais salientadas pelos atletas/alunos para, qualitati- que estão inseridos e consideram as suas caraterísticas
vamente, considerarem um treinador bom, resulta do sociodemográficas.
empenho demonstrado por ele para que os jovens se
desenvolvam como pessoas e atletas (RESENDE et al.,
2014), reportando as características de índole social
como mais determinantes do que as exclusivamente
específicas e mais técnicas da modalidade esportiva
em causa. Sobressai-se a noção de que os treinadores
com maior eficácia são, igualmente, bons professores,
pois serão incapazes de ensinar se não tornarem com-
preensível aquilo que pretendem que os atletas apren-
dam, com objetivos desafiadores, mas alcançáveis.
A instrução, a par do suporte que dá às realiza-
ções dos atletas e à ausência de punições, constitui
uma característica de um treinador eficaz (ERICK-

107


OLHAR CONCEITUAL

108
EDUCAÇÃO FÍSICA

As estratégias enunciadas anteriormente são materia- plos práticos que podem ser empregados pelos treina-
lizadas na Tabela 1, a seguir, em que se descrevem as dores no exercício da sua atividade.
tarefas a ser desenvolvidas e se providenciam exem-

Estratégia Descrição Exemplos de treino

1. Focar no Promove e elogia o esforço e a per- • Usa elogios para o processo (evitar elogios pessoais).
esforço e na sistência. • Providencia tempo para a prática deliberada de
persistência Providencia oportunidades de prática competências de vida durante o treino, como defi-
deliberada de competências de vida e nição de objetivos.
técnicas esportivas específicas.

2. Promover Desafia os jovens para tarefas difíceis • Planeja treinos com um nível elevado de dificuldade.
desafios que permitam a oportunidade de • Permite um clima de maestria.
realizar novas habilidades, providen- • Planeja objetivos desafiadores para os jovens.
ciando feedback à performance.

3. Promover Interpreta o erro e os insucessos • Atribui o erro a fatores controláveis que podem ser
o valor do como oportunidades válidas para melhorados e planeja treinos de acordo com isso.
insucesso promover a aprendizagem de • Usa o erro para monitorar a realização de objetivos.
competências, como a regulação do
comportamento, planejamento e
monitoramento.

4. Perceber o Define sucesso por meio de fatores • Planeja auto-objetivos e ajuíza o sucesso pela sua
sucesso controláveis, como o esforço e a obtenção.
persistência. • Não olha para o marcador para determinar o seu
grau de satisfação com a performance.

5. Promover a Promove aprendizagem da orien- • Foca na aprendizagem em vez da vitória.


aprendizagem tação por objetivos e um clima de • Partilha responsabilidades com os atletas.
proficiência. • Usa alta frequência de reforços positivos particu-
larmente nos que dizem respeito ao processo e às
instruções técnicas.

6. Providenciar Comunica expectativas a atletas • Planeja objetivos difíceis para os atletas jovens,
expectativas que estão abaixo do nível médio de preferivelmente objetivos de processo.
elevadas performance, e integra-os em um • Comunica alto nível de crença na capacidade de os
ambiente positivo de apoio. jovens atletas melhorarem.

Tabela 1 – Sumário de estratégias de instrução para promover desenvolvimento positivo dos jovens a partir do esporte
Fonte: Vella e Gilbert (2014, apud RESENDE; GILBERT, 2015, p. 27, tradução nossa)

109


Com essas ferramentas, os treinadores têm a possibi- plar o esporte de participação de forma que o objetivo
lidade de incorporar na sua atividade o ensino de es- do clube não seja unicamente determinado e decalca-
tratégias que fomentem a aquisição de competências do pelo esporte de rendimento.
positivas de vida pela parte dos jovens atletas, e con- Os pais que, na maioria das situações, promovem
tribuir, dessa forma, para que o seu desenvolvimento a experiência esportiva dos filhos, fomentam e ani-
se processe de forma mais harmoniosa, saudável e in- mam a continuação dessa prática, muitas vezes, com
tegrada na sociedade. apoio material e financeiro, além da disponibilidade
para acompanhar (GOMES, 2010).
A presença dos pais é importante para a boa in-
tegração e a socialização esportiva dos filhos, provi-
denciando bem-estar psicológico e índices elevados
Título: Desenvolvimento positivo de jovens
de satisfação com a prática esportiva. Contudo, tam-
através do esporte: dos pressupostos ao papel
bém podem ser exemplos contraproducentes quan-
do treinador esportivo
do têm expectativas demasiado elevadas quanto ao
Autores: Carlos Ewerton Palheta, Eduardo Leal
rendimento esportivo dos seus filhos, colocando
Goulart Nunes, Rui Resende e Michel Milistetd
uma pressão tão alta que podem tornar a experiên-
Revista: Iberoamericana de Psicología del Ejer- cia esportiva aversiva e indesejável (GOMES, 2011).
cicio y el Deporte, Las Palmas de Gran. Canaria, Smoll, Cumming e Smith (2011) indicam que a pes-
v. 11, n. 2, p. 289-296 quisa evidenciou a influência da família na socializa-
Ano: 2016 ção esportiva das crianças e tem um impacto profun-
Comentário: Ótima leitura complementar
do nas consequências psicológicas que daí decorrem.
para o tema da unidade. Os autores do artigo Nesse sentido, os autores indicam que as crianças e
destacam o papel do treinador na formação os jovens têm o direito de não querer participar e,
positiva de jovens por meio do esporte e apre- dessa forma, impor o esporte pode produzir os efei-
sentam algumas estratégias que podem ser tos contrários aos desejados.
utilizadas pelos treinadores para que o pro- Gomes e Zão (2007), em uma pesquisa em que
cesso de desenvolvimento esportivo aconteça estudaram a relação entre a influência parental e a
de forma adequada] motivação no esporte, com recurso a dois instrumen-
tos relativos aos pais e aos atletas, constataram que,
com relação aos atletas, existe maior apoio parental
nas modalidades de caráter individual; maior apoio,
Além do treinador, os pais e a família são cruciais na influência técnica e menos reações negativas por parte
educação e, consequentemente, no desenvolvimen- dos pais dos atletas que estão nos níveis iniciais de for-
to dos filhos. Confrontados com as exigências cada mação e maior apoio dos pais dos atletas que não têm
vez mais bem informadas e críticas dos pais (família) reprovações escolares. No estudo dos pais, verificaram
em relação às atividades nas quais são os filhos inseri- que os pais dos atletas do sexo masculino evidenciam
dos, os locais da prática esportiva necessitam contem- maior apoio e influência técnica; os pais dos atletas

110
EDUCAÇÃO FÍSICA

que praticam modalidades esportivas individuais as- na iniciação e promoção do esporte, constituindo-se
sumiram maior apoio e orientação motivacional para como elos facilitadores desse processo, pelo entusias-
o divertimento e menos reações negativas; e os pais mo e pela dedicação que podem evidenciar. Assim, faz
com menor formação escolar demonstraram menos todo o sentido que a instituição que recebe o jovem
apoio e influência técnica, maior orientação para os estabeleça uma relação de elevada confiança com os
resultados e para as reações negativas. pais dos atletas. Nessa relação, o primeiro contato, ha-
Esse tipo de pesquisa permite ao treinador ganhar bitualmente, é pelo treinador, profissional responsável
consciência em relação às diferenças dos pais e às res- pela integração e pelo acompanhamento do jovem, fo-
pectivas influências nos comportamentos dos filhos e, mentando a sua inclusão e promovendo a atividade a
assim, permitir a esse treinador agir por antecipação. ser desenvolvida no seio do clube esportivo.
A família é crucial para um desenvolvimento posi-
tivo dos jovens por meio do esporte, procurando que Gomes (2011) propõe que a postura do treinador
contribua para o pleno desenvolvimento físico, mental em relação aos pais menos vinculados e interessa-
e social. Dessa forma, os pais são pilares fundamentais dos com a prática esportiva dos filhos será a de fo-

111


Título: Um sonho possível


Ano: 2009
Sinopse: Michael Oher (Quinton Aaron) era um jovem negro, filho de uma mãe viciada
e não tinha onde morar. Com boa vocação para os esportes, um dia ele foi avistado
pela família de Leigh Anne Tuohy (Sandra Bullock), andando em direção ao estádio da
escola para poder dormir longe da chuva. Ao ser convidado para passar uma noite na
casa dos milionários, Michael não tinha ideia que aquele dia iria mudar para sempre a sua vida, tornando-se,
mais tarde, um astro do futebol americano.

mentar e encorajar o seu envolvimento,


entusiasmando a sua participação em
atividades que enaltecem a sua utilida-
de e relevância para o projeto esportivo
com o qual o filho está comprometido.
Com relação àqueles pais que são ex-
cessivamente críticos ou, quando nas
competições, revelam comportamentos
inapropriados, ou até mesmo, descon-
trolados, deve-se procurar uma aborda-
gem personalizada e evidenciar a reper-
cussão negativa para o rendimento do
jovem que essas atitudes podem ter.
O autor citado anteriormente reco-
menda, por isso, que o treinador pro-
mova uma reunião na qual esclareça o
projeto esportivo e o que se espera de
cada um dos seus intervenientes. Essa
reunião tem como objetivo integrar a
família em três áreas:

O treinador pode, ainda, ser o mentor de


eventos sociais que promovam afinidades
entre atletas, família, treinadores e dirigen-

112
EDUCAÇÃO FÍSICA

tes. Realizações que vão além do treino e da competi- demonstra o empenho que o treinador coloca em
ção fomentam o sentimento de pertença e constituem ação para que a evolução do atleta decorra da me-
uma oportunidade importante para que as pessoas se lhor forma possível.
conheçam e ganhem laços de empatia. Tal ficha, da qual se sugere um exemplo na Figu-
A qualidade da atividade do treinador pode ra 1, mais adiante, poderá registrar diferentes tipos de
ser incrementada e valorizada pelos pais dos atle- informação. Temos consciência que a construção de
tas por meio da criação de uma ficha do atleta. uma ficha deverá ser pessoal (do treinador ou do clu-
Ela reunirá a informação pessoal do atleta e re- be) e terá que ser adaptada ao contexto específico no
sultados de sua atividade esportiva, e deverá ser qual se desenvolve o trabalho, assim como à moda-
enviada aos pais em, pelo menos, duas vezes por lidade esportiva. Contudo, propõe-se que essa ficha:
época esportiva. O serviço prestado pelo clube
poderá constituir um diferenciador positivo, e A ficha do atleta deve fazer parte integrante do dos-

• Contenha uma informação pessoal básica (quem desejar ser um pouco mais profundo poderá caracterizar
mais a filiação com, por exemplo, a idade dos pais e a sua ocupação profissional).

• Dados biométricos, em que se pode registar de forma muito fácil a evolução física (com o peso, a altura e a
envergadura), o cálculo do IMC, que dá uma indicação se o atleta está dentro da Zona Saudável, de acordo
com a OMS (Organização Mundial da Saúde). Os testes físicos a serem realizados dependem do esporte em
questão e das condições materiais para os efetuar. Contudo, sugere-se que se apliquem testes que avaliem
a globalidade das capacidades condicionais (resistência, velocidade, força e flexibilidade).

• Dados técnico-táticos, mencionados em consonância com a modalidade e de acordo com aquilo que o treinador
considerar pertinente para a idade dos atletas. Sugere-se algum tipo de avaliação qualitativa, a qual corresponde
a um índice quantitativo para, assim, ser mais fácil tanto a execução como a sua visualização, e correspondente
grau de evolução.

• Dados sociopsicológicos. Essa caracterização pode ser de importância fundamental, pois, tal como já comen-
tado anteriormente, o treinador é responsável por fazer o atleta evoluir em mais dimensões que aquelas
que se relacionam diretamente com a performance (físicas, técnicas e táticas). Propõe-se que se avalie o
atleta na sua integração social e nas suas capacidades volitivas por meio de uma escala de 1 a 5 (de débil
a robusto). Existe igualmente um espaço para observações, pois essa classificação poderá ser insuficiente
e, assim, existir a necessidade de complementar informação.

• Perspectivas de evolução expõem a opinião do treinador sobre o possível desenvolvimento do atleta nas
diferentes áreas analisadas.

• A informação sobre a atividade acadêmica é um espaço que se reveste de importância crucial no acompa-
nhamento e no interesse pelo atleta para além da sua performance atlética.

• Reuniões com os pais. O espaço para o registo de reuniões (ou outras interações) com os pais, assim como
um resumo dos assuntos abordados, permite acompanhar com maior rigor o tipo de relacionamento es-
tabelecido e, assim, monitorar o interesse familiar pela prática esportiva do atleta.

113


siê pessoal do treinador. Desta


ficha, recomenda-se extrair a
informação mais pertinente e
adequada para enviar aos pais
dos atletas. As informações re-
gistradas traçam um perfil do
crescimento dos atletas e atri-
buem um significado especial à
sua trajetória no clube, permi-
tem obter dados para posterior
pesquisa e reforçar ou alterar
trajetórias de trabalho e perso-
nificam de forma substantiva o
empenhamento e o rigor com o
qual o treinador desempenha
a sua função, reforçando a sua
posição perante os pais.

O desenvolvimento positivo

Figura 1 – Exemplo de ficha do atleta


Fonte: Os autores

Descrição da Imagem: trata-se de um


exemplo de ficha para acompanhamen-
to dos atletas que o treinador pode uti-
lizar para preencher dados biográficos
(nome, data de nascimento, filiação,
endereço, CPF), dados biométricos (al-
tura, peso, IMC, envergadura), dados
técnicos-táticos, dados sociopsicoso-
ciais, dados acadêmicos e informações
sobre reuniões com os pais de cada um
dos seus atletas

114
EDUCAÇÃO FÍSICA

O Índice de Massa
Corporal (IMC) (des-
crito no exemplo de
ficha de atleta) é uma
medida internacional
usada para calcular se
uma pessoa está no peso ideal. Desenvolvido
pelo polímata Lambert Quételet, no fim do sé-
culo XIX, trata-se de um método fácil e rápido
para a avaliação do nível de gordura de cada É nossa função, como profissionais e futuros profis-
pessoa, sendo, por isso, um preditor interna- sionais de Educação Física, enxergar o esporte para
cional de obesidade adotado pela Organização além da sua prática e aproveitar de todo seu potencial,
Mundial da Saúde (OMS). como fenômeno sociocultural, para possibilitar um
Você pode calcular imediatamente seu desenvolvimento integral de crianças e jovens atletas.
IMC, introduzindo a altura e o peso, para ve- Para que isso aconteça, tanto o treinador quanto a
rificar se você está dentro da normalidade em família possuem papeis importantes nesse processo.
relação ao seu peso. Lembrando que o IMC é Assim, nesse podcast, falaremos de forma mais especí-
uma medida geral que não considera o percen- fica sobre como o esporte pode promover uma forma-
tual de massa magra e gordura separadamen- ção esportiva positiva, além dos papeis do treinador e
te. Para saber mais, acesse o QR Code . da família. Acesse o QR Code para saber mais!

dos jovens deve constituir o objetivo de uma socie- fortalecendo o sentimento de pertença. Todavia, o es-
dade evoluída, e o esporte, de acordo com inúmeros porte também comporta riscos e ameaças no seu seio.
estudos e pesquisas científicas, pode contribuir de Como exemplos, temos o risco de lesões esportivas
forma significativa para esse fim, nomeadamente, que podem decorrer da prática e de forma acidental,
por meio da melhoria da aptidão física e da saúde. ou, mais grave, a ocorrência de situações de abuso de
Contudo, a influência do esporte pode ir além, com nível físico (aplicação de cargas de treino desadequa-
o desenvolvimento de competências psicológicas, das) e psicológico (pressões exageradas para obter
como são exemplos a liderança, o espírito de inicia- rendimento).
tiva, o estabelecimento de objetivos, a superação e a O treinador é, pela sua formação e responsabilida-
resiliência. Em termos da integração social, o esporte de na liderança do processo esportivo, quem deve as-
pode promover a possibilidade de fazer novos ami- segurar um desenvolvimento positivo e sustentado do
gos, reforçando a solidariedade interpares, tornando- jovem atleta. Para alcançar esse objetivo, o treinador
-se parte de um grupo em desenvolvimento e, assim, terá que se preparar adequadamente no que concer-

115


ne aos aspectos científicos e tecnológicos necessários ter a consciência de que o fator mais valorizado pelo
para desempenhar a sua atividade, e ter, igualmente, ambiente socioesportivo são as características do seu
uma formação que lhe permita incorporar, na sua caráter. Consequentemente, a personalidade do trei-
prática cotidiana, as competências de vida que estão nador é a janela pela qual a sua atuação será escruti-
para além dos ensinamentos do esporte. Contudo, os nada. Conquistar a família, envolvendo-a no processo
conhecimentos adquiridos somente se transformarão esportivo, é determinante para alcançar o sucesso a
em competências se o treinador as exercitar de for- que o treinador se propõe.
ma crítica, reflexiva e contínua. Ele deverá sempre

116
agora é com você

1. O processo de formação esportiva deve sempre considerar as etapas de de-


senvolvimento da criança e do jovem, para que aconteça de forma adequada.
Nesse contexto, Côté et al. (2007) indicam que o desenvolvimento esportivo
se inicia por uma adesão ao esporte (sampling years), em que as atividades
lúdicas são prioritárias. Em seguida, há a especialização esportiva (specializing
years) e, posteriormente, os anos de investimento esportivo (investment years).
Considerando o processo de desenvolvimento esportivo proposto por Côté et
al. (2007), analise as afirmações a seguir:

I. Nos anos de investimento, o jovem busca o rendimento esportivo em um de-


terminado esporte.
II. Nos anos iniciais, entre os 6-12 anos, é indicado que as crianças experimen-
tem diferentes modalidades esportivas.
III. Os anos de especialização acontecem após os 16 anos e devem incluir 80%
para as atividades de jogo e 20% para a prática deliberada.
IV. Nos anos de especialização, a participação em diferentes esportes deve dimi-
nuir e o jovem começa a participar de atividades competitivas.

É correto o que se afirma em:

a. I e II, apenas.
b. II e III, apenas.
c. I, II e IV, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.

2. De acordo com as informações do livro, o processo de treinamento esportivo


deve ter como objetivo desenvolver o atleta jovem de uma forma holística.
Considerando o conceito de holismo descrito no livro, o processo de treina-
mento esportivo deve ter como objetivo:

a. Desenvolver os atletas sem preocupação em considerar todos os aspectos


envolvidos no processo de treinamento.
b. Desenvolver os atletas a partir das experiências que o treinador possui em
relação a aspectos específicos da modalidade.
c. Desenvolver os atletas considerando os aspectos físicos, técnicos e táticos de
diferentes modalidades que possam ser transferidas entre si.

117
agora é com você

d. Desenvolver os atletas de forma a integrar diferentes tipos de conhecimento,


considerando que o processo de treino é muito mais do que a soma das partes.
e. Desenvolver os atletas de forma integral, trabalhando individualmente os as-
pectos técnicos, táticos, físicos, sociais e emocionais para que o resultado seja
somado, no fim.

3. Considerando a importância de um programa de treinamento que seja efeti-


vo, é fato que o treinador possui um papel essencial no processo da formação
esportiva positiva de crianças e jovens. Considerando isso, analise as asser-
ções a seguir e a relação entre elas:

I. O treinador é o responsável máximo pelo desenvolvimento dos atletas

PORQUE

II. É responsabilidade do treinador proporcionar experiências esportivas positi-


vas que contribuam para que no futuro o jovem adote um estilo de vida ativo.

Sobre as asserções, é correto afirmar que:

a. As asserções I e II são falsas.


b. A asserção I é falsa e a II é verdadeira.
c. A asserção I é verdadeira e a II é falsa.
d. As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I.
e. As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I.

4. Os treinadores que promovem a aquisição de competências de vida dos atle-


tas são aqueles que propõem filosofias de treino de sua preferência, proativos
no desenvolvimento dessas competências e sempre se preocupam com as
transferências dessas competências para outros ambientes. Nesse contexto,
Vella e Gilbert (2014, apud RESENDE; GILBERT, 2015) propõem seis estratégias
de ensino para o desenvolvimento positivo dos jovens por meio do esporte.
Considerando as estratégias apresentadas pelos autores, analise as afirmati-
vas abaixo e marque V para verdadeiras e F para falsas.
( ) Para promover a aprendizagem, o treinador deve planejar objetivos difíceis
para os atletas jovens, preferivelmente objetivos de processo.
( ) Para estimular expectativas elevadas, os atletas podem ser inspirados, moti-
vados a melhorar a sua autoconfiança por meio dos adultos.

118
agora é com você

( ) Um exemplo de como promover desafios durante o processo de desenvolvi-


mento é planejar treinos com um nível elevado de dificuldade.
( ) A estratégia de focar no esforço e na persistência pode ser exemplificada por
meio de elogios durante o processo de treino, principalmente elogios pessoais.

As afirmações são, respectivamente:

a. F, V, F, V.
b. F, V, V, F.
c. V, F, V, F.
d. V, V, V, V.
e. F, V, V, V.

5. O apoio da família também é essencial para que haja uma formação positiva
por meio do esporte, pois fomentam e animam a continuação dessa prática.
Todavia, essa participação, se feita de forma inadequada, pode ser prejudicial
no processo de formação. Considerando isso, analise as afirmações a seguir
acerca da participação inadequada da família no processo de desenvolvimen-
to esportivo positivo:

I. Expectativas muito elevadas em relação ao rendimento esportivo do jovem


atleta podem tornar a experiência esportiva aversiva e indesejável.
II. O apoio material e financeiro, além da disponibilidade de tempo para acompa-
nhar o jovem atleta podem ser prejudiciais no processo de formação.
III. A insistência contínua para a participação de esportes que sejam contra a von-
tade da criança e do jovem pode produzir efeitos contrários aos desejados.

É correto o que se afirma em:

a. I e III, apenas.
b. II e III, apenas.
c. I e II, apenas.
d. III, apenas.
e. I, apenas.

119
INTERVENÇÃO DO TREINADOR:
PREPARAÇÃO E PLANEJAMENTO

Dr. Rui Resende


Me. Suelen Rodrigues da Luz

Oportunidades de aprendizagem

Nesta última unidade, você terá a oportunidade de aprender a preparar e planejar sua
intervenção como professor/profissional de Educação Física. Abordaremos informações
gerais sobre a preparação do profissional, bem como planejar sua intervenção em
nível anual, mensal e semanal. Ainda, apresentaremos exemplos de planilhas anuais,
mensais, semanais, além de planos diários de aula/treino.
unidade

V


No decorrer deste livro, você teve acesso a uma desta filosofia por parte do treinador são sugeridos.
gama de informações relacionadas ao processo de Para além disso, é proposta uma operacionalização
iniciação esportiva, certo? Os conteúdos aborda- desses conceitos, ideias, em elementos concretos de
ram as classificações dos esportes e suas diferentes atuação quando para quando o treinador enfrentar a
possibilidades de manifestações, alguns modelos prática ter um comportamento de liderança adequado
de ensino baseados em teorias construtivistas, à filosofia formulada.
conhecimentos e competências para ser um bom Para facilitar o entendimento da ideia da filosofia
treinador, além de como o treinador pode e deve do treinador, pensemos de forma mais prática, tendo
agir, como peça essencial no processo de iniciação como base quatro conceitos filosóficos descritos por
esportiva, para que o desenvolvimento esportivo Hardman e Jones (2013), que podem ser representa-
seja positivo. Tendo isso em vista, como você, fu- dos pelas seguintes perguntas: 1) O que o treinador
turo professor/profissional de Educação Física, valoriza? 2) O que o treinador ajuíza sobre o que
deve se organizar e se programar para colocar é moral e imoral? 3) Qual o sentido que atribui ao
em prática todas essas informações aprendidas processo de treinamento? 4) Quais as reflexões so-
nas unidades anteriores? bre a experiência de ser treinador?
Primeiramente, é importante ressaltar que, Assim, a partir dessas informações, imagine-se
quando alguém assume o papel de treinador, deve ter como um treinador de uma equipe de iniciação, ou
consciência da importância da sua decisão, pois ser seja, de equipe formada por jovens e adolescentes e
treinador implica ter a capacidade de liderar e imple- pense em qual seria a sua filosofia de treinamento
mentar um processo de treinamento com crianças, para que o processo de desenvolvimento esportivo
jovens ou adultos. Nesse sentido, será determinante desses jovens tivesse um resultado positivo.
ganhar consciência sobre a forma como vai idealizar Reflita sobre as perguntas que representam os
e liderar toda a sua intervenção. Assim, além da im- conceitos filósofos citados anteriormente e descreva
portância de estar preparado para liderar o processo sua filosofia de treinamento. Baseie-se nas seguintes
de treino, no que se refere à projeção e previsão dos perguntas para elaborar sua resposta.
acontecimentos durante todo o período esportivo,
considerando os objetivos definidos para cada etapa, • O que eu valorizo em meus treinamentos?
também será determinante que o treinador conceba • O que eu considero moral ou imoral?
uma filosofia de treino que o leve a ser congruente • O que o treinamento significa para mim?
nas suas ações como profissional. • Como é, para mim, ser treinador?
Nesse contexto, a filosofia do treinador surge como
um princípio orientador do seu comportamento pe- Utilize o espaço do seu Diário de Bordo para realizar
rante o ambiente de treino e permite edificar um estilo essa tarefa!
de liderança. Elementos para auxiliar na construção

122
EDUCAÇÃO FÍSICA

Bom, agora que você foi introduzido ao conteúdo, da equipe que tem sob o seu comando, tem sido asso-
abordaremos de forma mais detalhada as informações ciado ao sucesso do processo de treino, pois apresenta
referentes à filosofia do treinador e à organização e uma mensagem positiva e consistente aos atletas.
programação do processo de treinamento durante o Em termos gerais, aceita-se que a filosofia do trei-
período esportivo. nador serve para guiar os seus princípios de atuação,
A filosofia pode ser definida como uma teoria ou sendo definida pelas crenças e valores que orientam
atitude realizada por uma pessoa ou organização que a sua prática. Assim, em termos objetivos, constitui a
atua como um princípio orientador para o comporta- forma como ‘vê’ o treino esportivo. Permite sustentar
mento. Nesse sentido, a filosofia do treinador con- um estilo de liderança, as preferências por uma deter-
siste nos princípios que guiam o treinador no de- minada forma de ensinar, a maneira como organiza e
senvolvimento dos atletas e das equipes. A palavra faz a gestão do ambiente de treino.
filosofia toma muitos significados no seio do treino Nesse sentido, uma filosofia do treinador se cons-
esportivo, contudo, o desenvolvimento de uma filo- trói sobre um conjunto de padrões pelos quais o trei-
sofia clara por parte do treinador e, por consequência, nador vai influenciar, ensinar e modelar os seus atle-

123


tas. Idealmente, reflete a sua própria filosofia de vida car a razão pela qual se pretende ser treinador, quais
(MARTENS, 1990), pois os objetivos e os valores têm são os objetivos pretendidos e quais os valores que
que ser significativos em nível pessoal, se não, são so- vão orientar a sua atuação quando estiver a dirigir e
mente propósitos vazios. Será importante realçar que liderar um processo de treino. O passo seguinte será
a influência que um treinador pode ter no atleta pode criar estratégias de treino e competição que permitam
ir muito além das esportivas e ter um forte impacto ensinar e reforçar os valores anteriormente definidos.
em anos subsequentes. Nesse sentido, os objetivos do treino e os valores que
De acordo com Hardman e Jones (2013), uma fi- lhe estão associados devem ser usados para sustentar
losofia do treinador deve ser edificada sobre quatro as decisões do dia a dia.
conceitos filosóficos, que se definem em: axiologia (o O que o treinador deve considerar para iniciar
que o treinador valoriza), ética (o que o treinador aju- a construção da sua filosofia é entender-se como se
íza sobre o que é moral e imoral), ontologia (o sentido é, enquanto treinador e enquanto pessoa. A lógica
que atribui ao processo de treino), e fenomenologia dessa ideia é que a sua ação (atividade como treina-
(reflexões sobre a experiência de ser treinador). dor) depende de quem a pessoa é, do seu ideal de vida,
Contudo, devemos ter presente que desenvolver uma das circunstâncias particulares em que se insere e da
filosofia de treino, dentre outras coisas, requer tempo e forma como o demonstra. Assim, responder às se-
reflexão sobre as suas próprias experiências (CAMIRÉ; guintes perguntas pode auxiliá-lo nesse propósito,
TRUDEL; FORNERIS, 2012), sendo que os treinadores pois permite refletir sobre os próprios valores e, dessa
jovens apresentam dificuldades em explicar como im- forma, desenvolver uma filosofia de treino que coin-
plementam os valores que defendem na sua prática coti- cida com aquilo em que acredita. É importante referir
diana (MCCALLISTER; BLINDE; WEISS, 2000). que o objetivo de treino e os valores não necessitam
Ajudando a construir uma filosofia de treino e do ser validados por outros, estão corretos quando são
treinador (GILBERT, 2017), será importante identifi- inspiradores e significativos no âmbito pessoal.

124
EDUCAÇÃO FÍSICA

125


O próximo estágio para a construção de uma filosofia significado prático (Tabela 1) para que se tornem claros
pessoal de abordagem ao processo de treino consiste para os atletas e sirvam de orientação ao treinador.
em explanar a sua ideia (valores), acerca do processo de Os valores podem ser abertos à discussão por par-
treino e do que pretende atingir (objetivos). Uma frase te da equipe e até ser ligeiramente alterados de forma
será suficiente e servirá a razão pela qual o treinador a se adequarem ao grupo de atletas a quem se diri-
toma os procedimentos que acha mais adequados. gem. A razão pela qual se sugere esta abertura é que
Será importante destacar que esse exercício não os atletas “compram a ideia” de forma mais convicta se
deve ser imutável ao longo do tempo em que o trei- tiverem a oportunidade de colaborarem na definição
nador exerce a sua atividade. Pelo contrário, na me- dos valores da equipe.
dida em que vai exercendo a sua prática, acumulando
conhecimento e experiência, é natural e saudável que Valores Aplicação
existam reformulações na sua filosofia de treino.

Superação
De forma a ilustrar a aplicação desse procedimento, • Vou ser competitivo.

pessoal
iremos destacar como exemplo uma filosofia de treino • Todas as vezes contam para melhorar.
que irá nortear toda a exposição subsequente. O conse- • Lutar por todas as bolas.
lho dado por Gilbert (2017) indica que o treinador deve

Compromisso
• Com a equipe e com os objetivos
começar por dizer “Como treinador, eu sou....” e que a
definidos.
frase deve conter poucas linhas e ser um sumário das
• Aceitar responsabilidades e ter consci-
principais ideias que irão nortear a sua ação.
ência do meu valor para a equipe.
Então, de acordo com a linha de raciocínio expli-
citada, expomos, a título de exemplo: • Todos somos treinadores.
• Contribuir para uma boa atmosfera de
Corresponsabilização

treino, divertida e empenhada.


Como treinador, desejo que os meus atle-
• Entusiasmar o meu parceiro, avaliar a
tas tenham satisfação com a superação
sua performance para que ele tenha
pessoal, entendam o treino de forma au- uma melhor consciência do seu de-
tônoma e sejam corresponsáveis com os sempenho.
objetivos da equipe. • Ajudo no treino com as bolas e mate-
rial para que haja mais tempo útil de
treino.

A filosofia de treino descreve a maneira como será efe- • Consciência do que se pretende nas
Autonomia

tuada a abordagem como treinador e assegura que esta tarefas de treino e competição.
seja fiel aos objetivos e valores definidos. O passo se- • Esforçar-me porque valorizo a razão
guinte consiste em descrever os principais valores que pela qual estou aqui.
vão orientar os propósitos definidos anteriormente. To-
Tabela 1 - Valores e sua aplicação prática
davia, é importante definir os valores e atribuir-lhes um Fonte: o autor

126
EDUCAÇÃO FÍSICA

A estratégia de ação passa, então, por:


Estabelecer estratégias de recrutamento
que assegurem atletas que compartilhem
• Definir e, de forma repetida, articular os mesmos valores e que já foram aceitos
os valores desejados. e assumidos pela equipe.

• Criar ferramentas e estratégias de Implementar sistemas de recompensa e


ensino que ajudem os atletas a en- punição que reforcem os valores do grupo.
tenderem os valores definidos com Por exemplo, se alguém responsável por
consistência. arrumar o material não o fez, toda a equipe
ter uma tarefa suplementar para reforçar
a corresponsabilização de todos quanto à
Poderíamos, igualmente, incluir como sugestão para gru- importância de arrumar o material.
pos mais avançados, no que diz respeito à competição:

127


A importância e a vantagem de ganhar consciência de Será importante afirmar que, numa perspectiva de
uma filosofia de treino bem delineada é que o treina- carreira em longo prazo de um atleta, a planificação
dor aprende sobre si mesmo, constata as suas insufi- não se deve resumir a uma só época esportiva. Con-
ciências e as suas potencialidades, apercebe-se das ra- tudo, tendo em conta a realidade, em que os treinado-
zões pelas quais está a treinar e do que necessita para res não têm uma permanência com os mesmos atletas
melhorar as suas competências como treinador. durante épocas sucessivas, iremos concentrar a nossa
atenção numa época esportiva.
Considerando que não se planeja de forma abs-
trata, mas, sim, a partir de situações reais, o treinador
A partir dessas informações, ficou mais fácil terá que fazer uso da sua capacidade de análise da si-
entender o conceito de filosofia do treinador? tuação que enfrenta para tomar as melhores decisões.
Você mudaria a ideia da sua filosofia como trei- Realizar uma periodização para esportes de equipe
nador proposta no início da unidade? coloca múltiplos desafios devido à grande variedade
de objetivos, de volume de treino e de treinos, da du-
ração da época esportiva, dentre outros. Nesse sen-
tido, algumas variáveis precisam ser consideradas
Após a tomada de consciência da filosofia a imple- para que o planejamento de uma temporada espor-
mentar num processo de treino por parte do treina- tiva seja realizado de forma adequada.
dor, chega a hora de operacionalizar toda uma estra-
tégia no sentido de concretizar os objetivos definidos.
Estes devem ser competitivos e formativos indepen-
dentemente do nível de performance com que se tra-
balha, pois o treinador não deve nunca deixar de se
sentir um professor (GALLIMORE; THARP, 2004).
A planificação ou periodização que se sugere nes-
tas páginas envolve uma organização e direcionamen-
to de propósitos de treino e pressupõe que o treinador
domine os princípios de adaptação das cargas de treino
que serão suportadas e aplicadas aos atletas. O exercício
de planear ou planejar é procurar antecipar e prever
uma sequência lógica e coerente de acontecimentos
que se vão desenrolar durante a época desportiva e que
apontam para a concretização dos objetivos definidos.
Nesse sentido, o planeamento constitui o processo por
meio do qual o treinador define as linhas de orientação
que vai colocar em prática durante a época e onde pre-
tende procurar prever o futuro.

128
EDUCAÇÃO FÍSICA

Iniciaremos o planejamento a partir do plano materializar progressivamente com maior pormenor


anual ou macrociclo. Tal como afirmamos ante- ao longo do decurso da época. Serve igualmente para
riormente, o plano anual é um roteiro das ativida- monitorizar a adequação do planeado com a realida-
des a realizar pela equipe e pretende idealizar de de do que vai acontecendo. Salientamos que existiu a
uma forma genérica a forma como pretendemos preocupação de permitir a integração de todos os es-
preparar a época esportiva. Também será impor- portes coletivos que depois, necessariamente, deverão
tante realçar que essa tarefa é pessoal e que o que ser trabalhados de acordo com as suas especificidades.
se sugere deverá servir de indicador para cons- A Figura 1 apresenta-se como exemplo de plano
truir a sua própria. anual e aponta para duas fases distintas de competi-
Para ajudar na realização do planeamento anual, ção. Poderíamos chamar a primeira de campeonato
sugerimos a utilização de uma folha de cálculo do estadual e a segunda de campeonato nacional. Cada
Excel. Essa ficha, que deve fazer parte do dossiê do item dentro do plano é explicado a seguir.
treinador, é um instrumento simples que depois irá se

129


Figura 1 - Exemplo de periodização para uma temporada esportiva / Fonte: os autores

Descrição da Imagem: a figura apresenta um exemplo de ficha composta por 16 linhas e 38 colunas, com todos os dados e espaço para pla-
nejamento ou periodização de uma temporada esportiva. Na primeira coluna à esquerda, há a descrição das variáveis que serão analisadas
(meses, microciclos, treinos, jogos, periodização, mesociclos). Os microciclos são divididos em colunas subsequentes numeradas que vão do 1
ao 36. Abaixo, o item descrito como “jogos” é representado também por colunas coloridas que que vão de 1 a 36, considerando os períodos
de preparação de competição (representado pela cor azul clara), competição de controle (azul escuro), campeonato (cinza claro) e preparação
(cinza escuro). Mais abaixo, a periodização é dividida em quatro períodos: preparatório, pré-competitivo, competitivo. Abaixo do item “periodiza-
ção”, temos os mesociclos, divididos entre as colunas subsequentes em: condicionamento, básico geral, pré-competitivo e competitivo, sempre
considerando a divisão da periodização. Abaixo do item “mesociclo”, na primeira coluna à esquerda, estão descritas as variáveis de preparação
física (capacidade aeróbia, força, velocidade e flexibilidade), a técnica e a tática e o teste. O item capacidade aeróbia é dividido, nas colunas
subsequentes, em “aquisição” e “manutenção”. O item força, é dividido nas colunas subsequentes em “resistência de força”, “força máxima”
e “potência”. A velocidade é dividida, em colunas subsequentes, em “velocidade geral” e “velocidade específica”. A flexibilidade é dividida, em
colunas subsequentes, em “desenvolver” e “manutenção”. A técnica é dividida, nas colunas subsequentes, em “aquisição e estabilização”. A tática
é dividida, nas colunas subsequentes, em “aquisição”, “aquisição avançada”, “estabilização” e “estabilização: trabalho de equipe/cooperação”. O
item “teste” é dividido, nas colunas subsequentes, em “médicos/físicos” e “exercícios/critérios”. As subdivisões do item Mesociclos e das demais
variáveis da preparação física, técnica, tática e testes são divididas considerando as fases da periodização (preparatório, pré-competitivo, com-
petitivo). Nas duas últimas linhas da ficha, na primeira coluna da esquerda, há a descrição das horas de treino (horas de treino e horas reais de
treino). As colunas subsequentes estão em branco para o preenchimento.

O conteúdo do plano anual • Meses: deve conter os meses desde que se inicia a prepa-
divide-se genericamente em ração da equipe até ao seu término antes do período de fé-
duas partes, uma em que se rias. Permite visualizar a sequência do período competitivo, a
prevê o tempo previsto de trei- coincidência com períodos que possam perturbar de alguma
no (treino é aquele em que efe- forma a preparação da equipe (épocas de exames para atletas
tivamente o treinador está com estudantes, ou alturas de festas como o carnaval) e períodos
a equipe a treinar) e as compe- de férias em que se pode aumentar o tempo dedicado ao
tições que se vão efetuar e ou- treino, pois os atletas poderão estar mais predispostos e mais
tro com o tipo de preparação a concentrados nessa tarefa.
ser ministrada nesse período.

130
EDUCAÇÃO FÍSICA

2. Período Pré-Competitivo: momento em que


• Microciclos: enumera-se o número
se prepara a equipe para competir.
de ciclos semanais de treino no total
3. Período Competitivo: altura em que se preten-
da época esportiva. Abordaremos de de que a equipe evidencie o seu maior potencial.
forma mais detalhada a seguir.
4. Período de Transição: ocasião em que a equi-
• Treinos: contabiliza-se o número de pe deixa de ter o foco no desenvolvimento es-
Unidades de Treino que se tem previs- pecífico do esporte em causa e aproveita para
tas para cada microciclo. No término melhorar outras capacidades.
de cada coluna, indica- se o número
de horas prevista para treinar em cada
microciclo e o número efetivo de ho- Os mesociclos são as unidades mensais (normalmen-
ras que se treinou. No fim das linhas, te, de 3 a 6 semanas) de treino e que podem ser de:
será evidenciado o somatório do total
• Condicionamento: de preparação básica com
da época do número de treinos e das
incidência maior na parte da condição física.
horas correspondentes.
• Básico Geral: em que se aprimoram as capaci-
dades gerais necessárias para a prática do es-
porte específico.
Essa contabilidade ajuda a refletir, tendo em linha de con-
ta o que se previu fazer e o que efetivamente se realizou. • Pré-competitivo: preparação da equipe de uma
forma mais próxima às necessidades competitivas.

• Competitivo: manutenção da melhor forma da


equipe.
Idealize-se como treinador de um esporte a
sua escolha e tente projetar uma periodização
adequada à realidade específica da sua compe- Os microciclos são habitualmente coincidentes com
tição. Utilize as variáveis sugeridas e complete uma semana de treinos que culmina na competição,
a ficha apresentada. também habitualmente, no fim de semana.
No item “Treino”, indica-se a previsão de treinos
que se irá efetuar por semana e que permite prever o
No exemplo dado, a periodização é dividida em qua- total de treinos a realizar na época desportiva. O treino
tro períodos: é composto de três conteúdos básicos, que são: a Pre-
paração Física, o Treino Técnico e o Treino Tático.
1. Período Preparatório: altura em que se efetiva No que diz respeito à Preparação Física, gostarí-
a preparação da equipe para encarar a competi-
amos de evidenciar a sua importância para um bom
ção, tendo como maior índice de preocupação
o condicionamento físico geral e específico. desempenho competitivo de uma equipe, seja qual for

131


• Velocidade especial.
o seu grau de desenvolvimento. O desempenho es-
• Flexibilidade.
portivo sustenta-se num bom aprimoramento físico,
• Desenvolver.
pois o reforço da condição física é fundamental para
• Manutenção.
preparar o atleta para um bom desempenho esportivo
em termos de performance e como forma de prevenir O treino técnico é dividido em aquisição, estabiliza-
lesões. O treinador deve atribuir a devida importância ção e velocidade de execução, e o treino tático, em
a essa atividade durante toda a época desportiva e, ob- aquisição e estabilização.
viamente, levar em linha de consideração para quem é Os testes podem ser divididos em:
dirigido o processo de treino.
No treino físico ou preparação física, são traba- • Médicos – permitem avaliar a saúde dos atle-
tas e indagar da sua predisposição para a prá-
lhadas as capacidades condicionais:
tica esportiva.
• Aeróbia.
• Físicos – servem para avaliar a melhoria da
• Aquisição. condição física individual, aquilatar dos pro-
• Manutenção. gressos gerais efetuados e estabelecer uma re-
• Força. lação com o treino efetuado.
• Resistência.
• Força Máxima. • Exercícios-critério – são exercícios específi-
cos da modalidade, que permitem confirmar a
• Potência.
evolução da equipe de acordo com a filosofia
• Velocidade. do treinador, revelando indicações sobre se a
• Velocidade geral. sua prática está em sintonia com as ideias ide-
alizadas para a equipe (RESENDE et al., 2017).

132
EDUCAÇÃO FÍSICA

OLHAR CONCEITUAL

Em resumo, temos o MACROCICLO, que configura a maior divisão do processo de treinamento (com duração
de 6 ou 12 meses, geralmente). O MACROCICLO é composto por MESOCICLOS (com duração média de 3 a 6
semanas), que, por sua vez, são divididos em MICROCICLOS (geralmente, têm duração de uma semana). Por
fim, os MICROCICLOS são compostos pelas UNIDADES DE TREINAMENTO (UT).

Figura 2 – Organização do planejamento de um período esportivo (periodização) / Fonte: adaptado de Jackix e dos Santos (2018)

Descrição da Imagem: a imagem apresenta um infográfico que representa a organização de um período esportivo que inicia no macrociclo, passa
para o mesociclo, microciclo e finaliza na unidade de treinamento (UT). O infográfico inicia com uma caixa de texto de cor alaranjada, acima e no
centro da figura, descrita como macrociclo (que representa a organização semestral ou anual). Da caixa de texto do macrociclo, saem três setas
(na cor alaranjada) em direção a três caixas de texto descritas como mesociclo (organização mensal), localizadas logo abaixo, na cor verde. Da
mesma forma, cinco setas da cor azul saem das caixas de texto dos mesociclos, em direção a cinco caixas de texto, localizadas abaixo, na cor azul
marinho, descritas como microciclo (organização semanal). Por fim, seguindo a sequência, dez setas na cor vermelha saem das caixas de texto dos
microciclos em direção a dez caixas de texto vermelhas, localizadas na parte inferior da figura, que representam a unidade diária de treino (UT).

Após a construção do plano anual e tendo em vista isso, deixar de dar importância a uma previsão mais
que se deveria passar para uma planificação intermé- intermédia como o Mesociclo. Aliás, pensamos que
dia (mesociclo), optamos por focar concretamente é importante no sentido de controle do processo de
numa semana de treinos (microciclo). Essa decisão treino, pois, fazendo uso das potencialidades do pro-
se sustenta no fato de os esportes coletivos se consti- grama Excel enquanto folha de cálculo, conseguimos
tuírem de vários fatores imponderáveis e que exigem saber a quantidade de tempo que temos destinada às
uma adequação mais imediata. Não queremos, com diferentes componentes do treino. Dessa forma, con-

133


juntamente com outros meios de análise,


como a estatística de jogo, é possível re-
orientar ou ajustar os procedimentos de
planeamento semanal.
O plano anual indica qual o tipo de
momento que estamos a preparar e, assim,
determina-se o objetivo do microciclo. Na
Figura 3, apresentamos a estrutura da ficha
de microciclo que propomos e que constitui
uma forma de operacionalizar a semana de
treinos. Os campos abertos serão para pre-
encher de acordo com a modalidade que se
está a treinar, de acordo com as concepções
individuais do treinador e as exigências de
preparação da equipe que lidera.

Figura 3 – Exemplo de ficha para o


microciclo / Fonte: os autores

Descrição da Imagem: a figura 3 apresenta um exemplo de ficha com todos os dados e espaço para planejamento de um microciclo. A ficha é
composta por trinta e duas linhas e nove colunas. No cabeçalho da ficha, na coluna à esquerda, há os dados gerais do microciclo, como a data, o
objetivo, seguido de uma espaço em branco, nas colunas subsequentes, para preenchimento. Ainda no cabeçalho, na sexta coluna, há a descrição
dos percentuais (quantidade de tempo) relacionados à preparação física, técnica e tática que serão trabalhados. A coluna seguinte está em branco
para preenchimento dos percentuais. Na linha abaixo, a primeira coluna à esquerda é descrita como “Física”, referindo-se à preparação física. As
colunas subsequentes são divididas entre os dias da semana e vão de segunda a domingo. Na linha abaixo da caixa que descreve a preparação
física, há as divisões em: aquecimento, resistência, velocidade, força e flexibilidade, uma na linha abaixo da outra. As colunas subsequentes estão
em branco para preenchimento, considerando os dias da semana (segunda-feira a domingo) e o total. A linha abaixo, na primeira coluna à es-
querda, representa o “total da preparação física geral”. As colunas subsequentes seguem em branco para preenchimento, considerando os dias da
semana (segunda-feira a domingo) e o total. Em seguida, nas linhas abaixo, ainda na primeira coluna à esquerda, há os itens “velocidade especial”,
“resistência especial” e “outros”. Abaixo desses itens, na primeira coluna à esquerda, há o item referente à preparação técnica descrito apenas como
“técnica”. As cinco linhas abaixo e as colunas subsequentes seguem em branco para preenchimento, considerando os dias da semana (segunda-feira
a domingo) e o total. Da mesma forma, na linha abaixo, há o item “tática”, sendo que as cinco linhas abaixo e as colunas subsequentes seguem em
branco para preenchimento, considerando os dias da semana (segunda-feira a domingo) e o total. Nas últimas duas linhas da ficha, há os itens
que se referem ao total de tempo para a técnica (total técnica) e para o treino (total treino). As colunas subsequentes ao “total técnica” seguem em
branco para preenchimento, considerando os dias da semana (segunda-feira a domingo) e o total. As cinco colunas subsequentes ao “total treino”
são preenchidas pelo número zero, para exemplificar que não houve tempo de treinamento. A sétima coluna é relativa ao “total treino” ao item
“jogo”, sendo que as colunas subsequentes a ela seguem em branco para preenchimento. Todas as células da ficha que apresentam uma descrição
estão na cor azul claro. As células descritas como “física”, “técnica” e “tática” são diferenciadas pela cor azul marinho.

134
EDUCAÇÃO FÍSICA

Considerando que é mais fácil acompanhar e enten- Após essa decisão, inicia-se o preenchimento da fi-
der tal conteúdo a partir de um exemplo prático, pla- cha (Figura 4) com os conteúdos e o tempo que se vai
nejaremos uma semana de treinamento (microciclo), dedicar a cada um deles de uma forma geral. Poste-
imaginando um cenário hipotético em que você é trei- riormente, na Unidade de Treino (UT), serão especi-
nador de uma equipe. ficados. Nessa fase do planeamento, uma dificuldade
O exemplo sugerido é de uma equipe de fute- é decidir o que inserir em cada um dos componentes,
bol infanto-juvenil masculina que está disputando o pois, se em alguns conteúdos não existem dúvidas, em
campeonato estadual, e com fortes possibilidades de outros, a decisão poderá não ser tão simples.
se apurar para a fase nacional. A equipe treina quatro
vezes por semana, sendo que três treinos são de 90 Por exemplo, se devido à escassez de tempo que
se tem para treinar, o aquecimento já é efetuado
minutos e um é de 60 minutos, o que perfaz um total
com bola e se aproveita esse momento para exer-
de 330 minutos disponíveis para treinar. citar alguma técnica, este conteúdo faz parte da
A primeira operação a fazer, após contabilizar o componente física ou da técnica? A resposta para
tempo total de treino na semana, consiste em deter- estas questões está na Componente Crítica (CC)
minar qual porcentagem desse tempo se irá atribuir a do conteúdo que desejamos praticar. “Compo-
nentes Críticas são os pontos essenciais que o(a)
cada uma das componentes definidas: Física, Técnica
treinador(a) estabeleceu como fundamentais”
e Tática, conforme descrito a seguir. (RESENDE et al., 2017, p. 45).
Idealmente, nenhum desses componentes deve ul-
trapassar os 40% nem ser inferior a 30%. Contudo, a sua Assim, no exemplo anunciado, o aquecimento fará
variabilidade depende, em grande medida, do tempo parte do componente físico, ou seja, nesse caso, e em
disponível, dos objetivos pretendidos em cada microci- qualquer outro no processo de treino, o treinador, ao
clo e do nível competitivo com o qual se está a trabalhar. estabelecer a CC, irá dedicar a sua atenção prioritaria-
O microciclo é competitivo, a equipe está numa fase mente a esse aspecto, desenvolvendo uma estratégia
decisiva e vai ter um jogo no fim de semana com um ad- de comunicação adequada por meio da emissão dos
versário direto. Perante essa realidade, tomou-se a deci- feedbacks correspondentes (RESENDE et al., 2017).
são de dedicar o maior tempo disponível ao treino Tático, Outra situação de dúvida é a da “teoria”: onde
dedicando-lhe 40%, o que perfaz um total de 132 minu- colocá-la? Entendemos por teoria o tempo que o
tos, restando 99 minutos para a parte Técnica e Física. treinador demora, na sessão de treino, a indicar os
objetivos do treino e o seu relacionamento com a
Preparação Tempo em minutos competição. Nesse sentido, inserimos esse tempo no
Física 99 componente tática. Toda outra informação referente
Técnica 99
à explicação dos exercícios ou outro tipo de paragem
Tática 132
que o treinador resolva fazer estará incluída no tem-
Total 330
po específico dos conteúdos.

135


Como estratégia para o preenchimento da ficha, ini- Na preparação da componente técnica, deve se so-
ciamos pela parte do componente físico. Distingui- bressair em termos de ênfase (CC) aquilo que se pre-
mos Preparação Física geral de específica. A primeira tende aperfeiçoar com os atletas e que deverá estar em
trabalha as capacidades condicionais de uma forma linha com as performances anteriores e, consequente-
geral (por exemplo, sprints de velocidade de 20, 30 mente, com as necessidades individuais dos atletas no
metros) e de forma específica (por exemplo, veloci- seu conjunto. Sugere-se que, em termos de planeamen-
dade com mudanças de direção). Aqui, manifesta-se to, as CC definidas tenham relação com o que se vai
a preocupação com a dinâmica das cargas existindo a fazer na componente tática e, assim, otimizar atenção
preocupação de “olhar” para a semana com a inten- dos atletas e do treinador para a sua relação com o jogo.
ção de que a equipe chegue nas melhores condições A preparação da componente tática deverá focar
ao jogo (por exemplo, trabalhar a resistência numa essencialmente no aprimoramento da estratégia deli-
fase mais inicial da semana, pois a sua recuperação neada para fazer face ao adversário, e será importante
é mais lenta, e a velocidade numa fase mais adianta- ter uma relação diária com a parte técnica no sentido
da porque a sua recuperação é mais acelerada). Sa- de otimizar a atenção dos alunos nos particulares que
lientamos que qualquer desses conteúdos podem ser estiverem em foco na sessão de treino.
executados com bola, mas o que determina o seu po- Os valores descritos representam o tempo em minu-
sicionamento no plano é a ênfase (CC) atribuída pelo tos, considerando os dias de treinamento (segunda, quar-
treinador. Por exemplo, no caso exposto, o primeiro ta, quinta e sexta-feira). Note que os valores descritos na
treino da semana é exigente do ponto de vista físico última linha da ficha (total treino), representam o tempo
porque é o que está mais longe do jogo e, também, de total de treino (90 minutos segunda, quarta e quinta e
porque no dia seguinte é folga, o que permitirá aos 60 minutos na sexta-feira) para cada dia, conforme des-
atletas uma maior recuperação. crito anteriormente, na situação hipotética exposta.

136
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 4 – Ficha do microciclo


preenchida considerando o exem-
plo dado / Fonte: o autor

Descrição da Imagem: a figura apresenta um exem-


plo de ficha de microciclo preenchida com todos os
dados, considerando o cenário hipotético em que você
é treinador de uma equipe. A ficha é composta por
trinta e duas linhas e nove colunas. No cabeçalho da
ficha, na coluna à esquerda, há os dados gerais do mi-
crociclo, como a data, o objetivo. O objetivo descrito no
cenário hipotético é apresentado como “competitivo”.
Ainda no cabeçalho, na sexta coluna, há a descrição
dos percentuais (quantidade de tempo) relacionados
à preparação física, técnica e tática que serão traba-
lhados. A coluna seguinte é preenchida com o tempo
em minutos (99 para a física e técnica e 132 para tá-
tica). A primeira coluna à esquerda é descrita como
“Física”, referindo-se à preparação física. As colunas
subsequentes são divididas entre os dias da semana
e vão de segunda a domingo. A última coluna repre-
senta o “total”. Na linha abaixo da caixa que descreve
a preparação física, há as divisões em: aquecimento,
resistência, velocidade, força e flexibilidade, uma na
linha abaixo da outra. Para o aquecimento, consi-
derando situação hipotética, as células referentes à
segunda-feira, quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira
são preenchidas com o número 10 (que representa
o tempo). A coluna “total”, é preenchida pela soma
desses valores (40). Para a resistência e velocidade,
as colunas ficam sem preenchimento e o “total” com
o valor zero. Para a variável força, é adicionado o valor
20 na célula que corresponde à segunda-feira. O total
fica com o valor 20. Para a flexibilidade, é adicionado
o valor 10 na célula que corresponde à sexta-feira. O
total fica com o valor 10. A linha abaixo, na primeira
coluna à esquerda, representa o “total da preparação
física geral”. As colunas subsequentes apresentam o
valor total de tempo que cada capacidade descrita
foi treinada, considerando os dias da semana. Assim,
para segunda-feira, há o valor 30, para a quarta-feira e
quinta-feira, o valor 10, e para a célula de sexta-feira,
20. A célula correspondente ao “total” tem valor 70.
Ainda na primeira coluna à esquerda, há as variáveis
“velocidade especial”, “resistência especial” e “outros”,
nas linhas abaixo. Para a velocidade especial, há o
valor 20 na célula que corresponde à quarta-feira. O
total também fica com o valor 20. Para a resistência
especial, há o valor 9, na célula que corresponde à
segunda-feira. A linha abaixo representa o valor total
da preparação física geral e da específica. Assim, na
célula que corresponde à segunda-feira, há o valor 39. A célula que corresponde à quarta-feira, o valor 30. A célula que corresponde à quinta-feira, o valor
10 e a célula da sexta-feira, o valor 10. Na célula que representa o “total”, o valor é 99. Abaixo desses itens, também na primeira coluna à esquerda, há o item
referente à preparação técnica descrito apenas como “técnica”. Nas linhas abaixo, há a descrição das variáveis técnicas (desmarcação, finalização, ataque-drible,
defesa contenção/desarme), uma em cada linha. Passe e desmarcação, valor 20 para a célula que representa a quinta-feira. Para a finalização, o valor 10,
para a sexta-feira. Ataque-drible, o valor 20 para a quarta-feira. Defesa contenção/desarme, 29 para a segunda-feira e o valor 20 para a quinta-feira. A linha
abaixo representa o total da técnica. Assim, apresenta o valor 29 para a célula de segunda-feira, 20 para quarta-feira, 40 para quinta-feira e 10 a sexta-feira.
A célula do valor total ficou em 99. Para a organização defensiva, o valor 17 é descrito na célula referente à segunda-feira. Para a transição ofensiva, 35 para
a célula da quarta-feira. Para a organização ofensiva, 35 para quinta-feira. Os valores 15 e 10, são descritos nas células correspondentes à sexta-feira, para as
variáveis transição defensiva e bolas paradas. Para a teoria, os valores são 5 para as células na segunda-feira, quarta-feira, quinta-feira e sexta-feira. As duas
últimas linhas da ficha são destinadas para o preenchimento do tempo “total tática” e “total treino”. Para o tempo total da tática, é adicionado o valor 22 para
a célula correspondente da segunda-feira, 40 para a quarta-feira e quinta-feira e 30 para a sexta-feira. Na coluna do total, é descrito o valor 132. Para o total
do treino (tempo total em minutos de treino), 90 para a segunda-feira, quarta-feira e quinta-feira e 60 para a sexta-feira. Na sétima coluna relativa ao “total
treino” ao item “jogo” sendo que as colunas subsequentes a ela seguem em branco para preenchimento. Todas as células da ficha que apresentam uma
descrição estão na cor azul claro. As células descritas como “física”, “técnica” e “tática” são diferenciadas pela cor azul marinho.

137


A ideia comum na generalidade dos treinadores é que o tempo é escas-


so para cumprir todas as necessidades da equipe. Por isso, planejar é
decisivo para otimizar a gestão do tempo disponível para treinar. Uma
outra virtude da realização desse tipo de planificação relaciona-se com
a possibilidade de aprofundar o controle de treino, pois os microciclos
acumulados (nos mesociclos e, por fim, na época) revelam a quanti-
dade de tempo atribuída a cada componente e, assim, constituem mais
um fator de reflexão a ser utilizado pelo treinador.
Por fim, temos a Unidade de Treino (UT), a qual representa a
sessão de treino ou aula prevista no microciclo, idealizado de forma a
contemplar os seus objetivos específicos. Dessa forma, visa – na maio-
ria das situações – operacionalizar a ideia de preparar melhor possível
os atletas, tendo em linha de conta os constrangimentos contextuais
da equipe para vencer o adversário no fim de semana.

138
EDUCAÇÃO FÍSICA

• A performance dos atletas em Esforço; Perfor-


Para realizar a UT, apresenta-se uma sugestão na
mance; Corresponsabilização; e Autonomia.
Figura 5. Segundo Hughes, Lee e Chesterfield (2009),
a UT está dividida em três partes, além da reflexão. • Avalia a performance do treinador em Obser-
A primeira parte é de caraterização, em que se vação; Comunicação; Tomada de Decisão; e
contextualiza a sessão de treino. Contempla o número Team Work.
da sessão de treino; o número do microciclo; a data,
a hora e o local onde se realiza o treino; o material de Reflexão é o espaço que permite ao treinador descrever
que se vai necessitar para cumprir todas as tarefas do os seus sentimentos, sensações, sobre o rendimento do
treino; a duração da sessão e qual o tempo em minutos treino do que correu bem e dos aspectos a melhorar,
que se dedicará a cada uma das componentes; os con- apontar possíveis soluções e áreas de melhoria a imple-
teúdos a serem abordados durante a sessão de treino e mentar no futuro. Tem um grande potencial em elevar
o objetivo geral que se pretende atingir com a sessão. o grau de conhecimento dos treinadores pelo fomento
A segunda parte representa o desenho da sessão da tomada de consciência do seu envolvimento.
de treino propriamente dito, em que se contempla o Será importante salientar que a UT que se sugere
tempo destinado às tarefas (T); os objetivos especí- pretende ser um exemplo e consideramos que a cons-
ficos de cada exercício que permitem orientar e di- trução e planificação da UT é pessoal, e deve, por isso,
recionar as intenções de cada prática; a descrição e servir à filosofia do treinador, corporizando-se na sua
organização (desenho) das tarefas em que devem ser ação e relação prática com os atletas.
colocadas as Componentes Críticas que constituirão A relevância desta estrutura de UT é que impele o
o rumo da comunicação a ser efetuada pelo treinador. treinador a ser rigoroso e eficiente na sua planificação.
As palavras-chave constituem um resumo das CC Para além da discriminação das atividades, ao decidir
e têm significado de aprendizagem para os atletas, di- quais são as CC e respectivas palavras-chave, o treina-
recionando a sua atenção para os aspetos particulares dor elabora uma estratégia de comunicação, centra a
que o treinador considera importantes para melhorar sua atenção e as dos atletas no que determinou como
a sua ação; os critérios de sucesso subdividem-se em mais importante focar. Consequentemente, aporta
eficácia (medida quantificada) e eficiência (medida da qualidade ao processo. Por outro lado, tendo o cuidado
qualidade da execução). de delinear exercícios que sejam competitivos e fazen-
A terceira parte constitui o campo de reflexão de do uso permanente dos critérios de sucesso, faz com
análise do treino e permite orientar sugestões de me- que o atleta se foque de forma consistente em elevar a
lhoria para as próximas UT. Com o uso de uma escala sua performance. Os atletas gostam na sua essência de
de Likert, que varia entre 1 (medíocre) e 5 (excelente), competir, pelo que tarefas desafiadoras são um ingre-
o treinador avalia: diente que também faz emergir um treino com quali-
dade realizado de forma empenhada por todos.

139


Figura 5 – Exemplo de
ficha para uma unidade
de treino (UT).
Fonte: os autores

Descrição da Imagem:
a figura apresenta um
exemplo de ficha para o
preenchimento dos dados
relacionados à unidade de
treino (UT). O cabeçalho
da ficha é dividido entre os
dados gerais da unidade
de treino, como o núme-
ro do treino, número do
microciclo e data (na pri-
meira linha). Na segunda
linha, a descrição da hora
e do local, com espaço em
branco para preenchimen-
to. Abaixo, há a descrição
dos materiais, a duração e
os percentuais de tempo
separado em físico, técnico e tático. Todos com espaço em branco para preenchimento. Para fechar os dados do cabeçalho, as duas linhas
abaixo apresentam o conteúdo e o objetivo geral, além do espaço em branco para preenchimento dessas informações.
Abaixo, há divisão em duas linhas e cinco colunas. Na primeira linha são descritas as variáveis “T”, que representa o tempo, “objetivos específicos”,
a “descrição e organização/componentes/críticas”, as “palavras-chave” e a “eficiência/eficácia”. Cada uma em uma coluna. A linha abaixo fica em
branco para preenchimento. Abaixo dessas informações, há a descrição das variáveis relacionadas à reflexão/análise do treino, divididas em seis
linhas e 12 colunas. Na primeira linha, temos, como cabeçalho, a descrição “performance dos atletas” e “performance treinador”, divididas em duas
colunas. Abaixo da primeira classificação para a “performance dos atletas”, há as descrições “medíocre”, “fraco”, “suficiente”, “muito bom” e “exce-
lente”. Abaixo, temos opções para classificações que consideram as variáveis: esforço, performance, corresponsabilidade e autonomia, cada uma
em uma linha, descritas na primeira coluna à esquerda. Nas colunas subsequentes a essas variáveis, há os números 1 (na célula que corresponde
a classificação medíocre), 2 (na célula que corresponde a classificação fraco), 3 (na célula que corresponde a classificação suficiente), 4 (na célula
que corresponde a classificação muito bom) e 5 (na célula que corresponde a classificação excelente). Da mesma forma, abaixo da segunda clas-
sificação, “performance treinador”, há as descrições “medíocre”, “fraco”, “suficiente”, “muito bom” e “excelente”. Abaixo dessas, temos opções para
classificações que consideram as variáveis: observação, comunicação, decisão e trabalho em equipe, cada uma em uma linha, descritas na sétima.
Nas colunas subsequentes a essas variáveis, há os números 1 (na célula que corresponde a classificação medíocre), 2 (na célula que corresponde
a classificação fraco), 3 (na célula que corresponde a classificação suficiente), 4 (na célula que corresponde a classificação muito bom) e 5 (na célula
que corresponde a classificação excelente).

140
EDUCAÇÃO FÍSICA

É importante o treinador considerar a preparação Na roda inicial, o treinador apresenta o que será
para desenvolver a sua atividade como fundamen- trabalhado durante a aula ou UT, além de levantar
tal para ser mais eficiente na condução e direção do informações sobre o que os alunos já conhecem em
processo de treino. Esse instrumento é essencial para relação ao conteúdo que será abordado no dia. Esse
adequar as estratégias de ação, ser congruente com os também é o momento de valorizar o pensamento re-
valores que assume e, por isso, fazer com que os atletas flexivo e crítico a partir de vivências já realizadas, con-
aprendam mais e melhor. Porque não se pode treinar siderando situações positivas e negativas.
tudo ao mesmo tempo, as escolhas sobre onde vai re- A roda final é momento de avaliação do que foi
cair o foco do treinador e atletas é fundamental para realizado no dia. Nesse momento, treinador e atleta de-
uma gestão da equipe. vem discutir e refletir sobre as dificuldades e facilidades
Além da importância de planejar e planificar cada encontradas durante o treinamento, além das possibi-
UT, considerando as três etapas propostas por Hughes, lidades de adaptação e a transformação das atividades
Lee e Chesterfield (2009), também é essencial enten- realizadas e outros aspectos que julgarem relevantes.
dermos como funciona essa estrutura na prática, ou Entre o momento inicial (roda inicial) e final (fi-
seja, como a aula ou UT deve ser organizada e estrutu- nal) da UT, acontecem as atividades práticas, que po-
rada, considerando os objetivos e atividades propostas. dem ser divididas, ainda, em cinco ou seis momentos
Nesse sentido, Gonzáles et al. (2017) propõe que (caso inclua o campeonato na parte final), conforme
a aula ou UT deve ser estruturada em três grandes a Figura 6. Cada elemento dessa estrutura é descrito
blocos: a roda inicial, as vivências (aplicação das com detalhes em sequência (GONZÁLES et al., 2017
atividades) e a roda final. A roda inicial e a roda apud MENEGASSI, 2021).
final são os momentos de conversa entre professor/
treinador e aluno/atleta.

141


Figura 6 – Infográfico da representação da estrutura e momentos da aula ou UT


Fonte: adaptado de Gonzaléz et al. (2017 apud MENEGASSI, 2021)

Descrição da Imagem: a imagem apresenta oito caixas de texto em forma de elipse, com a descrição de cada momento de aula ou UT. Na parte
superior e inferior da figura, há uma caixa de texto que representa os momentos “Roda inicial” e “Roda final”, na cor amarela. No centro, entre as
duas caixas de texto citadas, há a caixa de texto que representa as “Vivências”, na cor rosa. Ao redor dela, há cinco caixas de texto, representando
os cinco momentos das vivências da aula ou UT, todas na cor azul claro. O ciclo de momentos da aula que representam as vivências inicia com
a caixa de texto dos “primeiros movimentos” também representada pelo número 1, que fica na parte de cima da imagem, logo abaixo da “roda
inicial”. Seguindo no sentido horário, na sequência, há a caixa de texto indicando o “jogo inicial” (número 2). Logo abaixo, há a caixa de texto que
representa o momento de “conscientização tática” (número 3) seguido pela caixa de texto que representa o momento das “tarefas e exercícios”
(número 4), localizada à esquerda da caixa anterior. Para finalizar o ciclo, logo acima da caixa anterior (na mesma linha que a caixa 2), há a caixa de
texto que representa o “jogo final” (número 5). Todas as caixas de textos do ciclo são indicadas, seguindo o sentido horário, por uma flecha de cor
azul, num tom ainda mais claro que as caixas de textos, que inicia e finaliza em “primeiros movimentos”. No canto superior esquerdo, fora do ciclo,
há um caixa de texto, em formato de retângulo, que representa o campeonato, também na cor azul claro.

142
EDUCAÇÃO FÍSICA

1. Primeiros movimentos: caracteriza o início


da prática. Considerando a idade dos alu-
nos/atletas, essa primeira etapa da aula pode Acesse o QR code para
iniciar a partir de atividades de aquecimen- verificar um exemplo
to e alongamento. Nesse momento, também de atividade para esse
são propostos jogos de baixa organização ou momento da aula, ten-
complexidade (atividades de perseguição, por do o handebol como
exemplo) que proporcionem vivências das ha- modalidade base. O
bilidades básicas do jogo, além da coordenação vídeo apresenta uma
motora e criatividade tática. atividade com situação de superioridade numéri-
ca, iniciando com 1x0 (atleta finalizando a jogada
sem interferência defensiva de jogador de linha),
seguindo para o 2x1 (dois atletas atacando e um
A atividade “jogo da
jogador de linha defendendo) e 3x2 (três atletas
velha”, é um exemplo
atacando e dois jogadores de linha defendendo).
de jogo que pode ser
utilizado nessa primeira
etapa da aula, pois aten- 3. Conscientização tática: semelhante à roda
de às características de inicial, nesse momento da aula ou treino, o
baixa organização, além treinador se reúne com os atletas para discu-
de estimular a coordenação motora e criatividade. tir e refletir sobre o comportamento tático e a
Acesse o QR code para verificar o vídeo que exem- tomada de decisão, considerando o objetivo
plifica a atividade. proposto para a aula/treino. As perguntas re-
alizadas pelo professor/treinador devem estar
associadas a respostas que possibilitem a con-
2. Jogo inicial: representa o jogo reduzido da tinuidade nas discussões.
modalidade ensinada, ou seja, um jogo com
menos jogadores (exemplo: 2x1; 2x2; 3x2; 3x3 Considerando o exemplo de atividade apre-
etc.), podendo ser em um espaço menor que o sentada anteriormente no momento do “Jogo
espaço oficial de jogo e com condições e regras inicial” (atividade de superioridade numéri-
adaptadas (exemplo: limitar o número de to-
ca da modalidade handebol), seguem alguns
ques na bola; exigir que a bola passe por todos
os jogadores antes de finalizar etc.). exemplos de perguntas que podem ser feitas
pelo professor/treinador.
Essas adaptações (menor número de jogadores
e com diferentes regras e condições) permitem • “Qual foi o objetivo dessa atividade?” R: fi-
nalizar a jogada/fazer gol em situação de con-
condicionar a atividade ou jogo ao aspecto/
tra-ataque.
problema tático específico que foi escolhido
para o dia. Esse formato adaptado difere o jogo • Como contra-atacar com eficácia? R: finali-
inicial do jogo final. zar a jogada/fazer o gol em um menor tempo
possível.

143


• Como finalizar a jogada/fazer o gol? R: bus- inicial” ou exercícios em que não haja interação/
car melhor posição para o arremesso ou passar interferência do adversário, para que o aluno/
a bola para o atleta que estiver desmarcado e/ atleta se aprofunde na dimensão tática proposta
ou mais bem posicionado para o arremesso. ou exercite habilidades motoras específicas. No
entanto, sempre que possível, tais exercícios ou
4. Tarefas e exercícios: esse momento se caracteriza atividades devem ser realizados considerando si-
por atividades menos complexas do que no “jogo tuações de jogo da modalidade ensinada.

Como exemplo de atividades para esse momento, ainda consi-


derando a modalidade handebol, temos os vídeos a seguir, os
quais apresentam exercícios de finalização/arremesso para o
gol, de atletas que atuam como pontas (direito e esquerdo) e
pivô. Acesse os QR codes a seguir para visualizar os exemplos.

5. Jogo final: pode ser semelhante ao jogo inicial,


todavia, deve apresentar condições ou adap-
tações que coloquem em prática os conteúdos
aprendidos durante a UT. Ainda, deve ser reali-
zado em maior complexidade, seguindo o mais
próximo possível as características do jogo for-
mal e da situação competitiva do esporte trei-
nado (exemplo: no futebol, o mais próximo do
11x11; no handebol, o mais próximo de 7x7 etc.)

Como exemplo, o vídeo


do QR code a seguir
apresenta uma situação
de ataque contra a de-
fesa, em que o objetivo
principal é a movimenta-
ção ofensiva. A atividade
representa uma situação normal de jogo, com a
mesma quantidade de jogadores do jogo formal.
Acesse e verifique.

144
EDUCAÇÃO FÍSICA

Quer conhecer ativi-


dades diferentes para
utilizar na iniciação es-
portiva? Acesse o link
a seguir e baixe o livro
“Manual de Práticas
para Iniciação Esportiva no Programa Segun-
do Tempo”. O manual apresenta informações
a respeito de organização e planejamento de
aulas/treinos, além de diversas atividades que
podem ser aplicadas na iniciação de diferentes
modalidades esportivas coletivas e individuais.
O material é gratuito! Aproveite!

Para finalizar a estruturação e momentos da aula ou


UT, mais do que as situações de jogo formal, criar ex-
periências esportivas mais autênticas, em formato de
torneios ou festivais, é essencial para potencializar a
aprendizagem dos elementos trabalhados durante as
aulas e treinamentos da modalidade ensinada. Nesse
sentido, há um momento que compõe a estruturação
da UT, descrito como “Campeonato”. Esse momento
não acontece em todas as aulas. Sugere-se uma vez ao
mês, ou a cada seis semanas.
A realização de campeonatos, torneios ou festi-
vais também possibilita que os alunos/atletas viven-
ciem outras funções dentro da modalidade. Assim,
quando não estiverem jogando no momento, podem
realizar funções como árbitro, treinador, gandula,
repórter, bandeirinha etc.
Considerando essa estruturação e os momentos de
uma aula ou UT descritos, a seguir, apresentamos um
exemplo de Plano de Aula/Treino para a modalidade de
handebol, proposto por Gonzáles et al. (2017 p. 361).

145


Handebol: Plano de Aula/Treino


Problema tático:
Manter a posse da bola
Objetivos:
Procurar ficar de frente para a meta adversária quando receber a bola e observar antes de agir

Roda inicial:
Nessa aula/treino, a conversa com os alunos pode começar por uma pergunta como: será que é possível, em esportes
como o handebol, o basquete, o futsal, o futebol, jogar sem pensar em como agir durante a partida? Qual a diferença
desses esportes com o lançamento da pelota do atletismo, por exemplo (ou outra prática esportiva sem interação entre
adversários que os alunos conheçam)? Ao lançar a bola, é necessário pensar no que fazer? Não! É preciso lançar a
bola o mais longe possível. Não é necessário se deter em como fazer esse movimento.
No handebol, no basquetebol, no futsal, no futebol é diferente? É necessário pensar no que fazer quando estou com
a bola? Sim, pois tenho muitas alternativas. Não dá para sair dando um passe, sem ver como está o jogo, quem está
mais perto, quem está mais longe, se tem alguém que pode marcar pontos. No mesmo sentido, não posso tentar final-
izar sem levar em conta os defensores e o goleiro. Isso significa que sempre é necessário ‘ler o jogo’ antes de agir. Por
esse motivo, é importante que, ao participar de esportes como o handebol, o frisbee, o basquetebol, o futsal, o futebol,
ou seja, esportes de invasão, haja atenção ao que se passa no espaço de jogo.
Exemplos dos próprios alunos em experiências anteriores, em diversas situações de jogo, ajudam a esclarecer o con-
ceito. Além disso, essas falas são bons indicadores do ‘domínio’ do tema objeto da aula.
É importante recuperar as regras da modalidade trabalhada na(s) aula(s) anterior(es). Sempre é bom incentivar a
confecção de bolas que se possam agarrar com uma só mão, assim como o uso delas em jogos de malabares, para os
alunos melhorarem suas habilidades manipulativas.

1. Primeiros movimentos
Em pequenos grupos (3, 4, 5 integrantes) os alunos passam a bola e se movimentam por todo o espaço, evitando
esbarrar nos colegas. Durante a execução dos passes, devem experimentar diferentes formas de realizar a ação e
os deslocamentos, variar: as distâncias dos passes, mudar o tipo de passe, utilizar a ‘outra mão’, realizar passes em
suspensão.
A seguir, se propõe que, dentro do grupo, se designe um pegador que terá como objetivo tocar o jogador com posse
de bola. Esse, por sua vez, deverá passar a bola aos colegas antes de ser alcançado. Joga-se dentro de um espaço
determinado, não é permitido andar com a bola.
Durante esses jogos, são apresentadas as primeiras informações sobre as regras a respeito de ‘andar’ e os contatos
ilegais com o adversário. Inicialmente, não é necessário liberar o drible. Sem exigir sua estrita observação das regras, é
importante que os alunos entendam as características particulares da modalidade

2. Jogo inicial:
Jogo: 4x4 ou 5x5
Objetivo: Derrubar os cones (ou garrafas pet 2l) da equipe adversária.
Descrição: a equipe com posse da bola deve realizar passes até encontrar uma situação clara para atingir os alvos
adversários (quatro ou cinco). Enquanto isso, a equipe da defesa procura evitar o lançamento e conseguir a posse da
bola para passar ao ataque. Os alvos devem ficar na linha do fundo da quadra, atrás de uma linha a qual não pode
ser ultrapassada (a distância da linha em relação aos alvos pode variar em função do nível dos grupos, ainda assim, é
recomendável que, nos primeiros jogos, não seja superior a três metros).

146
EDUCAÇÃO FÍSICA

Condições:
- Não é permitido quicar a bola.
- Não é permitido tirar a bola do atacante com posse de bola (só é possível interceptar a bola na trajetória do passe).
- Após do gol, reinicia-se com um tiro de meta.

3. Consciência tática
Pergunta (P): Qual era o objetivo do jogo?
Resposta (R): Derrubar os cones, sem quicar a bola.
P: O que é necessário fazer quando se recebe a bola?
R: Deve-se receber a bola de frente para a meta ou se virar para os cones.
P: É importante observar a situação do jogo antes de tomar uma decisão e realizar uma ação? Por quê?
R: Sim, senão vai dar errado. Pode passar para quem está marcado ou não lançar quando há espaço para lançar.
P: Algumas vezes durante o jogo tentaram atingir o alvo estando marcados ou não lançaram estando desmarcados?
Será que a situação foi observada?
P: Como faço para observar?
R: Tento receber a bola olhando para os cones. Procuro olhar para frente antes de dar continuidade ao jogo.
P: Como faço para não andar?
R: Não dou mais de três passos com a bola na mão.

4. Tarefa(s)
Participantes: 4x4 ou 5x5 + 1 Curinga/Prisioneiro
Objetivo do jogo: passar a bola para o curinga que se encontra dentro do círculo.
Descrição: a equipe no ataque, posicionada fora do círculo, passará a bola entre seus jogadores até que encontrem o
momento de passá-la ao ‘prisioneiro’ (jogador no centro). A equipe de guardiães (defensores) tentará evitar o passe de-
fendendo o espaço onde se encontra o prisioneiro. Os jogadores defensores devem marcar sem sair do espaço limitado
pelos dois círculos concêntricos. Não é permitido tirar a bola do atacante com posse de bola (só é possível interceptar a
bola na trajetória do passe). Os atacantes devem realizar passes quicados para o prisioneiro.

5. Jogo final:
Idem ao jogo inicial.

Roda final
Ao final da aula, dialogar sobre a importância do conteúdo trabalhado, apontando as vantagens dessa ação e o quanto
pode qualificar a participação nos jogos. Reforce, brevemente, as várias possibilidades que surgem para o atacante
com posse de bola, quando ele observa antes de agir (o que muitas vezes acontece em milésimos de segundos). Tra-
ta-se de convencer os alunos sobre a importância e a necessidade de ler a situação antes de jogar.

Quadro 2 - Plano de Aula/Treino para a modalidade de handebol / Fonte: adaptado de Gonzáles et al. (2017 p. 361)

147


Título: Práticas Corporais e a Organização do Conhecimento - Esportes de invasão:


basquetebol – futebol – futsal – handebol – ultimate frisbee
Autor: Organização: Suraya C.Darido, Fernando J.González e Amauri A.Bassoli de Oliveira
Editora: Eduem
Sinopse: A coleção “Práticas Corporais e a Organização do Conhecimento” tem servido
de subsídio aos que atuam nessa área do conhecimento dando suporte pedagógico
e contribuindo na organização das aulas dos projetos sociais esportivos, bem como nas aulas de Educação
Física curricular.

Para que você seja capaz de materializar sua ativida- Com as ferramentas apresentadas nesta unidade,
de como treinador de forma eficaz, é determinante o treinador pode construir um plano de ação, desde
ter princípios orientadores que se edificam a partir a ideia sobre o que pensa do treino e forma como o
dos seus valores pessoais e como treinador, os quais pretende implementar até a sua materialização com os
apelidamos de filosofia do treinador. Com efeito, a atletas. Será importante realçar que liderar um pro-
congruência entre a ideia e a sua aplicação permite ao cesso de treino é uma tarefa complexa, muito variável,
treinador uma maior eficiência e controle do processo muito contextual e, por isso, exige a melhor prepara-
de treino. A construção da filosofia do treinador sur- ção. É nesse sentido que se disponibilizam os instru-
ge, assim, como o passo inicial mais importante para mentos aqui apresentados. Não pretendem ser guias
liderar um projeto de treino. Após a determinação estritos, pois planejar é, sem dúvida, uma tarefa muito
dos valores e princípios que vão nortear a sua atua- pessoal. Contudo, com essas orientações, o professor/
ção, assim como a forma como os vai aplicar, o trei- treinador pode adaptar e construir os seus próprios
nador necessita antecipar e planear um roteiro para as materiais e assim operacionalizar todo o processo. Sa-
suas atividades. Essa periodização se apresenta num lientamos que o controlar o processo de treino, para
formato anual (normalmente coincidente com uma além dos resultados competitivos, é importante para a
época esportiva) num plano semanal (que também reflexão sobre esse mesmo processo, e ajuda a corrigir
habitualmente corresponde ao calendário da maioria eventuais desvios do caminho traçado, melhora a sua
das competições) e na unidade treino (UT) que é o atuação e, por via disso, aumenta a sua eficácia.
projeto do que se pretende efetivamente fazer com os
atletas enquanto estão sob a direção do treinador.

148
agora é com você

1. De acordo com as informações apresentadas no início da unidade, a filosofia


do treinador serve para guiar os seus princípios de atuação, sendo definida
pelas crenças e valores que orientam a sua prática. A partir disso, podemos
entender que:

a. A filosofia do treinador se baseia nas experiências motoras do profissional


enquanto pessoa.
b. A filosofia do treinador é influenciada pelas características pessoais do profis-
sional enquanto pessoa.
c. A filosofia do treinador é definida pelas experiências do profissional e dos seus
alunos atletas.
d. A filosofia do treinador é proposta a partir dos objetivos e da filosofia já im-
plantada no clube ou escola em que o professor ou treinador atua.
e. A filosofia do treinador é criada a partir das novas práticas e experiência que se-
rão vivenciadas pelo profissional a partir do início da sua jornada como treinador.

2. A filosofia de treino descreve a maneira que o profissional, enquanto treina-


dor, irá efetuar sua abordagem, assegurando que esta seja fiel aos objetivos e
valores definidos, sendo, dessa forma, essencial no processo do treinamento
esportivo. A respeito disso, analise as afirmações a seguir acerca da importân-
cia da filosofia de treino:

I. A filosofia de treino é essencial para que o treinador consiga identificar gran-


des talentos esportivos a partir da iniciação.
II. Uma filosofia de treino bem delineada é aquela em que o treinador aprende
sobre si mesmo, constata as suas insuficiências e as suas potencialidades.
III. A partir da filosofia de treino, o treinador conseguirá estabelecer as melhores
metodologias e modelos de ensino, tornando o processo de iniciação e desen-
volvimento esportivo mais eficaz.

É correto o que se afirma em:

a. II, apenas.
b. III, apenas.
c. I e III, apenas.
d. II e III, apenas.
e. I, II e III.

149
agora é com você

3. A periodização ou planejamento possibilita uma melhor organização do pro-


cesso de treinamento durante a época desportiva, podendo ser organizada
em plano anual (macrociclo), mensal (mesociclos), semanal (microciclo), além
da unidade de treino (UT). Com relação às etapas da periodização, analise as
afirmativas a seguir e marque (V) para verdadeiras e F para falsas.
( ) Os mesociclos são compostos de 3 a 6 semanas de treino, que podem ter
como objetivo o aprimoramento do condicionamento, das capacidades básicas
gerais, além da preparação pré-competitiva e da manutenção da equipe no perí-
odo competitivo.
( ) Os microciclos representam os dias de treinamento e podem ter como foco
o período competitivo e de desenvolvimento das habilidades básicas da modali-
dade treinada, além da preparação física.
( ) A UT representa a unidade de treino, ou seja, as sessões de treinamento, e
tem como premissa contemplar os objetivos específicos.

As afirmações são, respectivamente:

a. F, F, V.
b. V, V, F.
c. F, V, V.
d. V, F, V.
e. F, V, V.

4. Considerando a proposta de Gonzáles et al. (2017), a aula ou UT deve ser estru-


turada em três grandes blocos: a roda inicial, as vivências (aplicação das ativida-
des) e a roda final. Com relação a essa estrutura, analise as afirmações a seguir:
I. As “vivências” representam a realização das atividades programadas para o dia
de treino e podem ser divididas em 5 ou 6 momentos.
II. O momento denominado “campeonato” precisa acontecer em todos os dias
de treinamento para que os alunos/atletas vivenciem formas mais autênticas
de competição.
III. A roda inicial e a roda final são os momentos de conversa nos quais o profes-
sor/treinador apresenta o que será realizado durante a UT e realiza o feedba-
ck (avaliação) da aula/treino.
IV. O momento denominado “conscientização tática”, embora faça parte das vi-
vências, é o momento em que professor/treinador e o aluno/atleta se reúnem
para refletir sobre as atividades e as tomadas de decisão, considerando o ob-
jetivo proposto para a UT.

150
agora é com você

É correto o que se afirma em:

a. I e II, apenas.
b. II e IV, apenas.
c. I, III e IV, apenas.
d. II, III e IV, apenas.
e. I, II, III e IV.

5. Durante um treinamento da modalidade de basquete, o professor/treinador


realizou a atividade conhecida como “Siga o chefe”, conforme descrita a seguir:
Organizados em duplas, os alunos se deslocam um atrás do outro a uns dois me-
tros de distância. O que está na frente faz o papel de guia, e o que está atrás, de
seguidor. O guia vai alterando seus deslocamentos de forma aleatória tentando
ampliar a distância de dois metros. O seguidor, contrariamente, tenta sempre
estar a dois metros de distância. Na mesma organização (um atrás do outro) os
alunos se deslocam numa corrida suave. Quando o professor grita ‘1’ (ou qual-
quer outro tipo de sinal combinado) o seguidor tenta tocar as costas do guia
antes que este complete cinco passos. Caso completados os cinco passos, os
atletas voltam a se deslocar de forma lenta. Quando o professor grita ‘2’, o guia
é quem tenta pegar o seguidor, e este busca fugir para evitar que o toquem nos
cinco primeiros passos.

Considerando os momentos da UT proposto Gonzáles et al. (2017) e as carac-


terísticas da atividade citada, é correto afirmar que:

a. A atividade proposta faz parte do “jogo inicial”, visto que apresenta uma orga-
nização de 1x1, ou seja, um aluno contra o outro.
b. A atividade proposta faz parte da “conscientização tática”, visto que promove a
organização tática específica do jogo de basquete.
c. A atividade proposta faz parte das “tarefas e exercícios”, visto que promove o
desenvolvimento de habilidades específicas da modalidade, como a finta ou
arremesso.
d. A atividade proposta faz parte do “jogo final”, visto que promove o desloca-
mento em situação próxima do jogo formal de basquete, todavia, com menos
jogadores (1 x 1).
e. A atividade proposta faz parte dos “primeiros movimentos”, visto que apresen-
ta características de uma atividade de aquecimento, com baixa complexidade
e que estimula a coordenação.

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UNIDADE 5

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competência eficaz. Journal of Sport Pedagogy & Reseacrh, v. 3, n. 1, p. 42-58, 2017.

160
gabarito

UNIDADE 1

1. D. A afirmativa II está incorreta, pois o esporte performance não tem como


objetivo a socialização.

2. E. O objetivo da Ed. Física escolar é desenvolver em todos os alunos compe-


tências e habilidades motoras.

3. E. O ensino do esporte no contexto escolar ainda é visto com desconfiança


por, muitas vezes, promover a exaltação do atleta e supervalorizar as com-
petições.

4. B. Trata-se de uma questão de interpretação do trecho em destaque, o qual


indica que o esporte pode promover tanto a saúde quanto a qualidade de
vida de seus praticantes.

5. A. As afirmações I e II estão incorretas, pois crianças não são classificadas como


atletas de performance, e adultos não são considerados atletas emergentes.

UNIDADE 2

1. D. Tanto o basquetebol, quanto o futebol americano e o futsal são descritos


como esportes de invasão, pois as equipes dividem o mesmo espaço de jogo
e há necessidade de invadir o espaço ou campo alheio para marcar a pontu-
ação ou gol.

2. A. O desenvolvimento da motivação e da criatividade da criança se dá por


meio de metodologias inovadoras e não tradicionais.

3. B. A transferibilidade refere-se à transferência de habilidades entre moda-


lidades esportivas que possuem características similares. Utilizando os es-
portes de invasão como exemplo, se o aluno entender o princípio desses es-
portes (dividir o mesmo campo de jogo e invadir o campo alheio), terá maior
facilidade em praticar modalidades diferentes, como o rugby e o futsal.

4. D. A primeira afirmação é falsa, pois o foco do modelo de ensino em questão


é a aprendizagem a partir do jogo como um todo, e não a partir da execução
do gesto motor.

5. E. Todas as afirmativas apresentam informações corretas, visto que atendem


às características inovadoras dos modelos citados.

161
gabarito

UNIDADE 3

1. B. A alternativa “b” apresenta de forma resumida o trecho do texto base e


explica que os treinamentos eram baseados nas próprias experiências dos
treinadores.

2. B. O treinador precisa ter conhecimento específico da modalidade e, tam-


bém, de outras áreas. Assim, as duas afirmativas são corretas, sendo que a
afirmativa II explica a informação da afirmativa I.

3. D. As afirmativas II e III são falsas pois, a aprendizagem não formal acontece


pelo engajamento em atividades sistematicamente organizadas, ocorridas
fora do ambiente formal, e a aprendizagem não formal e informal não são
sinônimos..

4. C. A afirmativa IV é incorreta pois “construir relações” refere-se a todos que


participam do processo, e não somente aos atletas e seus colegas.

5. A. O conhecimento profissional aborda os aspectos diretos ou indiretos li-


gados à profissão, dos aspectos relacionados à modalidade ensinada, bem
como do processo metodológico de treinamento. Características e crenças
pessoais não fazem parte desse conhecimento.

UNIDADE 4

1. C. A afirmação III está incorreta, pois os anos de especialização não iniciam


após os 16 e não possuem as características de incluir 80% para jogo e 20%
para outras atividades.

2. D. A alternativa “d” está correta, pois atende ao conceito de holismo descrito


no livro, ou seja, de desenvolver o atleta de forma integral, considerando que
o processo é muito mais do que a soma das partes.

3. D. O treinador é o maior responsável pela formação esportiva positiva por-


que é ele quem pode e deve proporcionar experiências positivas aos seus
alunos/atletas.

4. B. As afirmações I e IV são falsas, pois planejar objetivos de processo difíceis


refere-se a planejar expectativas elevadas, e para a estratégia de foco e per-
sistência, indica-se não realizar elogios pessoais.

162
gabarito

5. A. A afirmativa II é incorreta, pois o apoio material, financeiro e a disponibili-


dade de tempo são exemplos de participação adequada da família no proces-
so de desenvolvimento esportivo positivo.

UNIDADE 5

1. B. Conforme apresentado no texto base, a filosofia “é definida pelas crenças


e valores que orientam a sua prática”, ou seja, pelas características pessoais
do indivíduo.

2. A. A filosofia de treino diz respeito ao que o treinador entende e aprende so-


bre si mesmo, e não sobre a identificação de talentos ou sobre metodologias
de ensino.

3. D. A afirmativa II é falsa, pois os microciclos representam as semanas de trei-


no, e não os dias.

4. C. A afirmativa II é falsa, pois o “campeonato” não precisa acontecer em to-


das as sessões de treino, e pode ser realizado uma vez a cada quatro ou seis
semanas.

5. E. A partir da interpretação das características da atividade, é possível dizer


que ela representa os “primeiros movimentos”, visto que atende as caracte-
rísticas (aquecimento, baixa organização e coordenação) dessa etapa da UT,
conforme proposto por Gonzáles et al. (2017).

163

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