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NAS DIFERENTES
POPULAÇÕES
PROFESSOR
Dr. Luiz Rodrigo Augustemak de Lima
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
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Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos
com princípios éticos e profissionalismo, não somente entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil.
para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
de tudo, para gerar uma conversão integral das soluções inteligentes para as necessidades de todos.
pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: Para continuar relevante, a instituição de educação
intelectual, profissional, emocional e espiritual. precisa ter pelo menos três virtudes: inovação,
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de coragem e compromisso com a qualidade. Por
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia,
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e do ensino presencial e a distância.
Londrina) e em mais de 500 polos de educação a distância Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
espalhados por todos os estados do Brasil e, também, promover a educação de qualidade nas diferentes áreas
no exterior, com dezenas de cursos de graduação e do conhecimento, formando profissionais cidadãos
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros que contribuam para o desenvolvimento de uma
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. sociedade justa e solidária.
Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de Vamos juntos!
boas-vindas
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível e construção do conhecimento deve ser apenas
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
autor
Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações,
http://lattes.cnpq.br/9155840708006766
apresentação do material
84 Epidemiologia do diabetes melito e da hiper- 172 Análise de risco para o exercício físico durante a
tensão arterial gestação
91 Etiologia, fatores de risco e consequências à saúde 175 Prescrição da atividade física e exercícios durante
a gestação e pós-parto
ASPECTOS CONCEITUAIS PARA A
PRESCRIÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO EM
POPULAÇÕES ESPECIAIS
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Conceitos e Termos
• Benefícios da Atividade Física
• Estratificação de Riscos para a Atividade Física e Exercícios
• Recomendações gerais para a prática da Atividade Física
• Princípios utilizados na prescrição de Exercício Físico
Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer os conceitos e termos utilizados no campo da
atividade e exercício físico.
• Descobrir os benefícios da prática regular de atividade
física.
• Utilizar ferramentas para a estratificação dos riscos à
atividade física.
• Conhecer as recomendações para a prática de atividade
física em crianças, adolescentes, adultos e idosos.
• Utilizar os princípios básicos da prescrição do exercício
para indivíduos saudáveis.
unidade
I
INTRODUÇÃO
D
esde os estudos realizados na década de 50, a atividade físi-
ca habitual tem se mostrado um potencial comportamen-
to, como parte do estilo de vida, que pode impactar positi-
vamente a vida das pessoas. As evidências, desde então, têm
mostrado que a atividade física e o exercício físico podem prevenir o
desenvolvimento de doenças crônicas, particularmente importantes para
pessoas que fazem parte de grupos especiais. Com o avanço da ciência na
área, a atividade física e exercício foram aplicados de forma semelhante
aos medicamentos em populações com doenças crônicas estabelecidas,
esperando uma “resposta” para determinada “dose”, representando um
tratamento não-farmacológico.
Esta unidade irá tratar inicialmente dos conceitos e termos utilizados
na área de prescrição de exercícios físicos para grupos especiais e com
doenças crônicas. Posteriormente, serão tratados, resumidamente, os
benefícios da prática regular de atividade física na população em geral. A
unidade seguirá com a análise da estratificação de risco, principalmente
cardiovascular, necessária à qualquer processo de avaliação e prescrição
de exercícios, isso é, ainda, mais importante na atividade profissional com
pessoas em grupos especiais e com doenças crônicas. Você conhecerá as
recomendações atuais de atividade física, endossadas pela Organização
Mundial da Saúde, para toda a população.
A partir destes conhecimentos básicos, poderemos, então, apresentar
os parâmetros utilizados na prescrição de exercícios físicos para a pop-
ulação geral. Isso é importante estabelecer no início da nossa conversa,
pois, ao conhecer o processo padrão de prescrição, poderemos avançar às
populações com características especiais, focalizando esforços e atenção
necessários à estas pessoas.
Conceitos
e termos
Iniciaremos esta unidade, apresentando as defini- As doenças crônicas incluem doenças do aparelho
ções operacionais sobre conceitos e terminologias, circulatório, respiratório, digestivo, nervoso, infecciosas,
geralmente, utilizadas na prescrição de atividades endócrinas, metabólicas e neoplasias (BRASIL, 2013),
físicas para pessoas com condições especiais de saú- como é o caso de indivíduos que vivem com obesida-
de. Primeiramente, é importante entender que uma de, hipertensão, diabetes e/ou dislipidemias. Os grupos
condição especial de saúde é toda e qualquer con- especiais podem não ter limitações presentes, mas pos-
dição que requer orientações e cuidados especiais suem características físicas, fisiológicas e de capacidade
para o planejamento e execução da atividade física, funcional variáveis em função do ciclo da vida, como
exercício físico e esporte. Nesses aspectos, podemos gestantes, crianças, idosos etc. (ACSM, 2016).
considerar pessoas que vivem com doenças crônicas A atividade física é determinada como qualquer
ou grupos especiais. movimento corporal produzido pela contração do mús-
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EDUCAÇÃO FÍSICA
culo esquelético e que eleva o consumo de energia, re- Shephard e Stephens (1994) adicionam novos compo-
sultando em gasto energético acima dos níveis de repou- nentes morfológicos, como a densidade mineral óssea,
so (CASPERSEN et al., 1985). São atividades habituais componentes cardiovasculares (função pulmonar, fun-
que ocorrem no dia a dia dentro dos contextos do des- ção cardíaca e pressão arterial) e metabólicos (tolerância
locamento, trabalho, tarefas domésticas e do lazer, como: à glicose, sensibilidade à insulina, metabolismo lipídico
correr num parque, pular corda, jogar futebol com os e características de oxidação de substratos). Isto amplia
amigos entre outros. a compreensão sobre o efeito da atividade física e exercí-
Por sua vez, o exercício físico pode ser apontado cios no processo de saúde-doença das pessoas, tornando
como um subgrupo da atividade física, pois considera a discussão e o planejamento mais abrangentes.
a intencionalidade do movimento. Assim, no exercício É importante entender que a atividade física é com-
físico, o movimento é planejado, estruturado e repetitivo preendida, atualmente, como um comportamento que
com o objetivo de melhorar ou manter um ou mais com- envolve movimento humano (GABRIEL et al. 2012), po-
ponentes da aptidão física (CASPERSEN et al., 1985). dendo ser analisada em diferentes contextos do dia a dia,
Temos como exemplo o tradicional exercício aeróbio, mas pode ser sistematizada e organizada para atingir um
que reconhecidamente melhora a saúde cardiovascular, objetivo (exercício físico); isto pode resultar melhoria de
e o exercício de força, empregado no treinamento de produtos físicos e fisiológicos (aptidão física), que irá
atletas, para aperfeiçoar o seu rendimento esportivo. Os impactar diretamente a qualidade de vida, saúde e bem-
exercícios físicos devem ser descritos no início, em um -estar dos indivíduos envolvidos, independentemente
programa que defina: (1) limiar, ou seja, o limite mínimo da idade, sexo ou condição especial de saúde (BOU-
para atingir benefícios a saúde; (2) zona alvo de esforço CHARD; SHEPHARD; STEPHENS, 1994).
físico; (3) variáveis aplicadas a prescrição do exercício Tendo em vista a aplicação do exercício físico para
físico; (4) demandas e objetivos (ACSM, 2016). pessoas com condições especiais de saúde, ele pode ser
Tradicionalmente, aptidão física tem sido definida compreendido como uma terapia não-medicamentosa
como o conjunto de atributos que as pessoas possuem ou até mesmo auxiliar, complementando o tratamento
ou almejam ter em relação à sua capacidade em desem- medicamentoso contínuo exigido em diferentes do-
penhar esforço físicos (CARSTENSEN et al., 1985). Este enças. Para que o exercício físico seja adequadamente
conceito foi aplicado diretamente em relação à saúde e prescrito, é importante visualizar a dose-resposta como
ao desenvolvimento de habilidades motoras relaciona- analogia à terapia medicamentosa, ou seja, para o exercí-
das ao esporte. Portanto, a aptidão física relacionada à cio físico a dose corresponde à quantidade, intensidade e
saúde é composta pela potência aeróbica máxima, força frequência de exercício para provocar uma determinada
e resistência muscular, flexibilidade e composição cor- resposta; enquanto a resposta pode ser aguda, subaguda
poral. A aptidão física relacionada ao desempenho es- ou crônica, como resultado de um programa de exercí-
portivo, por sua vez, além das variáveis relacionadas à cios físicos (exemplo: redução da pressão arterial sistóli-
saúde, inclui a velocidade, coordenação, agilidade, po- ca em repouso) (HOWLEY; FRANKS, 2000).
tência, equilíbrio e tempo de reação (ACSM, 2016). O Colégio Americano de Medicina do Esporte
Em uma perspectiva contemporânea da aptidão (American College of Sports Medicine [ACSM] em in-
física, particularmente relacionada à saúde, Bouchard, glês) organizou as variáveis comumente utilizadas no
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processo de prescrição de exercício físico, ou seja, na 2016). Embora haja certa variabilidade entre os indiví-
prescrição da “dose” de exercício. Assim, a prescrição duos, nas respostas a um programa de exercícios com
de exercício físico ocorre a partir de princípios que são base no princípio FITT-VP, espera-se que haja benefí-
planejados para guiar a prática profissional, ajustados cios fisiológicos, psicológicos e de saúde (ACSM, 2016).
especificamente para que o indivíduo melhore o condi- Entre as variáveis FITT-VP, grande foco é dado à
cionamento físico e a saúde. Estes princípios “FITT-VP” intensidade, intimamente relacionada à quantidade ou
incluem a frequência, intensidade, tempo, tipo, volume e a dose de atividade física prescrita a um indivíduo. De
progressão e são utilizados para manipular a prescrição, forma geral, pode-se calcular a intensidade da atividade
com base na evidência científica acumulada (ACSM, física e exercício por meio de três métodos:
1) Utilizando METs
(unidade de equivalente metabólico).
16
EDUCAÇÃO FÍSICA
A tabela 1 apresenta um resumo das recomendações do Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM, 2016),
para a análise da intensidade da atividade física e exercício físico baseada no consumo máximo de oxigênio (VO2
máx), frequência cardíaca máxima (FC máx) e unidade de equivalente metabólico (MET).
Intensidade relativa
Intensidade absoluta*
Intensidade
VO2 R (%) - FCR (%) FCM (%) MET
<20 <50
Muito Leve < 3,2
20 a 39 50 a 63
Leve 3,2 a 5,3
40 a 59 64 a 76
Moderada 5,4 a 7,5
60 a 84 77 a 93
Vigorosa (forte) 7,6 a 10,2
85 a 99 94 a 99
Vigorosa (muito forte) 10,3 a 11,9
Embora os valores expostos na tabela 1 sejam rela- É possível consultar o valor de METs equivalente a
tivamente arbitrários, eles são amplamente usados uma série de atividades físicas e exercícios físicos atra-
na interpretação de atividades físicas e prescrição de vés do Compêndio de Atividades Físicas (FARINATTI,
exercícios físicos. A intensidade relativa é definida, 2003). Por exemplo, caminhar com o cachorro em um
utilizando-se um percentual da reserva de consumo terreno plano corresponde a um gasto de 3,0 METs (ati-
máximo de oxigênio do indivíduo ou da reserva da vidade muito leve), já um jogo de futebol competitivo
frequência cardíaca (ACSM, 2016). A intensidade equivale a um gasto metabólico de 10,0 METs (atividade
absoluta expressa a taxa de energia gasta durante o muito vigorosa). Com estes valores em mãos, torna-se
exercício e é medida por meio de uma unidade cha- possível estimar o gasto calórico total da atividade física
mada MET (do inglês, Metabolic Equivalent Task). e prescrevê-la com maior segurança.
Uma unidade de MET equivale a um consumo de Digamos que você prescreveu uma corrida de 30 mi-
3,5 ml/kg/min de oxigênio, que é o valor médio de nutos na esteira a 8 km/h a um indivíduo de 34 anos, com
repouso em adultos. Assim, quando um indivíduo massa corporal de 75 kg e que, ao consultar o Compêndio
realiza uma atividade física a 3 METs (3 x 3,5 ml/ de Atividades Físicas, encontrou o valor do equivalente me-
kg/min), isto significa dizer que ele teve 3 vezes o tabólico da corrida, igual a 8,0 METs. Para calcular o gasto
consumo de oxigênio em repouso. calórico desta atividade, basta aplicar a seguinte fórmula:
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Gasto calórico = METs x 0,0175 x Tempo (min) x (2001) realizaram uma meta-análise e propuseram uma
Massa Corporal (kg)
Gasto calórico = 8,0 METs x 0,0175 x 30 x 75 equação alternativa para a estimativa da FCM, sendo:
Gasto calórico = 315,0 kcal FCM= 208 - 0,7 * (idade), ou seja, um sujeito de 34 anos
teria uma FCM teórica de 184 bpm.
Assim, esse indivíduo terá um gasto calórico de 315 kcal O cálculo da FCR representa um avanço compara-
para realizar essa atividade física de corrida. Digamos, do a prescrição pela FCM, pois considera que indivídu-
porém, que este mesmo indivíduo deseja reduzir peso os podem apresentar diferentes níveis de FC de repouso
corporal, para isso precisa aumentar o gasto calórico. Isso – o que pode ser interpretado como diferente níveis de
é possível mudando o tipo de atividade física como um aptidão física – sendo esta uma variação importante e
exercício muito vigoroso de remo estacionário (200 W) significativa para a prescrição de exercícios, uma vez que
com a mesma duração de 30 minutos, então, teria: indivíduos com menor FC em repouso possuem melhor
Gasto calórico = METs x 0,0175 x Tempo (min) x Mas-
condicionamento físico, comparados aos que possuem
sa corporal (kg) maiores valores. Por este motivo, a literatura ressalta
Gasto calórico = 12,0 METS x 0,0175 x 30 x 75 que, para a prescrição da intensidade de atividades fí-
Gasto calórico = 472,5 kcal
sicas e exercício utilizando o valor de FCR, é necessário
levar em conta diferenças individuais em relação à FC
Com isso, observamos que apenas mudando o tipo da ati- de repouso.
vidade houve um aumento da intensidade e, consequen- Para calcularmos a FCR, basta subtrair o valor de
temente, um aumento no gasto energético total para o repouso da FC máxima teórica. Assim, um sujeito de 34
mesmo volume de atividade. Observe que o valor 0,0175 anos, com FC máxima de 184 bpm e FC de repouso de
é constante e representa a equivalência de 1 MET em kcal 60 bpm, teria um FCR de 124 bpm. Usando a tabela 1
(FARINETTI, 2003). O método para determinar a inten- e prescrevendo uma atividade física leve, calcularemos
sidade de uma atividade física e exercício, utilizando a fre- entre 20-39% deste valor como uma intensidade ótima
quência cardíaca de reserva (FCR), é muito utilizado nas de treino, ou seja, entre 25 a 49 bpm, somados aos va-
sessões de um programa de condicionamento físico. lores de FC de repouso (60 bpm), o que representaria a
Para isso, é importante levar em conta que os nossos intensidade de 85 a 109 bpm. Assumindo outro exemplo
batimentos cardíacos (bpm/min) aumentam conforme para o mesmo sujeito, a intensidade vigorosa de ativida-
aumenta a intensidade da atividade física (ACSM, 2007). de física de 60 a 84% da FCR (tabela 1) representaria um
Isso significa que o aumento dos batimentos é uma res- esforço de 134 a 164 bpm.
posta cardiovascular às demandas da atividade física. A terceira possibilidade, para calcular a intensi-
Por muito tempo, considerou-se a equação de Karvo- dade da atividade física e exercício, é utilizarmos o
nen (220 – idade) para se estimar a frequência cardíaca consumo de oxigênio de reserva. Estes valores inter-
máxima (FCM), contudo ela não tem mérito científico mediários do consumo de oxigênio, do repouso ao
e possui erros substanciais de predição. Tanaka et al. máximo, são obtidos ao longo de um teste ergoespi-
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EDUCAÇÃO FÍSICA
rométrico, ou seja, com análise direta dos gases expi- A partir do VO2 reserva as intensidades de exercício
rados. Ao final de um teste ergoespirométrico ou de físico de muito leve à vigorosa ou máxima podem ser
um teste indireto que permite a predição, obtém-se o calculadas da mesma maneira que foi realizada para
consumo máximo de oxigênio (VO2 máx). Assumin- a FCR. Em exemplo, comparativo a FCR do mesmo
do que o VO2 de reserva é relativamente constante de sujeito, os valores de VO2 reserva de intensidade mui-
3,5 ml/kg/min, pode-se subtrair do VO2 máx. Ainda, to leve seriam de 11,0 a 18,2 ml/kg/min e de intensi-
considerando o exemplo anterior, caso o indivíduo dade vigorosa seria de 26,1 a 35,2 ml/kg/min.
tenha um VO2 máximo = 41,2 ml/kg/min. Todas essas estimativas de intensidade relati-
va são importantes o controle do exercício físico e
VO2 máximo = (41,2 ml/kg/min – 3,5 ml/
kg/min) para que a integridade física do indivíduo não seja
VO2 reserva= 37,7 ml/kg/min exposta aos riscos de eventos súbitos, durante a prá-
tica da atividade física prescrita por você.
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Benefícios da
atividade física
Os benefícios da prática da atividade física para a saú- demonstrar um efeito protetor sobre diversas comor-
de, independentemente da faixa etária do indivíduo, bidades (ACSM, 2016).
estão amplamente documentados (WARBURTON Investigações conduzidas a partir de estudos pros-
et al. 2006; ACSM, 2016). Pesquisa epidemiológica já pectivos apontam que os benefícios da atividade física,
demonstrou que atividade física insuficiente, aliada realizada no contexto do lazer, estão associados ao menor
à alimentação inadequada, é prejudiciail, sendo a se- risco de desenvolver hipertensão, doenças coronarianas,
gunda causa de morte nos Estados Unidos e a quarta diabetes tipo II, câncer de mama e obesidade (WARBUR-
no mundo (RODGERS et al. 2004). Em geral, prati- TON et al., 2006; ACSM, 2016). O Quadro 1 sumariza os
car atividades físicas regularmente diminui o risco de principais benefícios relacionados à atividade física, de
mortalidade por doenças cardiovasculares, além de acordo com a força das evidências disponíveis.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
Evidências Fortes
Sendo assim, percebe-se que os benefícios da ati-
- Mortalidade vidade física são diretamente relacionados ao desfecho
- Doença arterial coronariana
- Infarto do miocárdio analisado. Um estudo recente, que envolveu 1.461 adul-
- Hipertensão arterial sistêmica tos de Curitiba-PR, corrobora com essa ideia. Ao anali-
- Diabetes tipo II sar a relação entre diferentes intensidades de atividade
- Síndrome metabólica
- Câncer do colo física (caminhada, AF moderada e AF vigorosa) com
- Câncer de mama os escores de qualidade de vida, observou-se que existe
- Ganho de peso uma relação específica entre cada intensidade de ativi-
+ Aptidão muscular
+ Aptidão cardiorrespiratória dade física e os domínios da qualidade de vida, como a
- Risco de quedas “vitalidade”, a “saúde mental” e a “função física” (PUCCI
- Função cognitiva et al., 2012). Assim, é plausível pensar que a relação entre
Evidências Fortes a Moderadas a dose e a resposta na melhora dos domínios da qualida-
+ Função física de de vida é específico à intensidade da atividade física.
- Gordura abdominal
Em outro estudo, prospectivo, com 14.343 adultos, foi
- Dislipidemias
encontrada uma relação de dose-resposta entre melhores
Evidências Moderadas
índices de aptidão cardiorrespiratória e o menor risco de
- Fraturas no quadril
- Câncer de pulmão sinais e sintomas de depressão (SUI et al., 2009). Os re-
- Câncer de útero sultados mostraram que homens com aptidão cardior-
+ Promove a manutenção do peso respiratória moderada obtiveram uma redução em 31%
+ Densidade óssea
+ Melhora do sono no risco de depressão e naqueles com elevada aptidão a
- Depressão redução foi de 51%. Entre as mulheres também houve um
- Ansiedade importante efeito protetor de 44% e 54%, para aptidão
Quadro 1 - Benefícios da prática regular de atividade física / Fonte: cardiorrespiratória moderada e elevada, respectivamente.
adaptado de Usdhhs (2008) e ACSM (2016).
Demonstrando a dose-resposta, desta vez, entre aptidão
física (produto da atividade física) e saúde mental.
Mesmo que as evidências apontem que uma vida ativa Ainda, estudos indicam que mesmo atividades físi-
traz benefícios à saúde, a relação dose-resposta ainda cas de intensidade leve já produzem benefícios para a
não está bem estabelecida. Parte do motivo ocorre por- saúde. Uma revisão sistemática com 27 ensaios clínicos
que o efeito da atividade física varia conforme o desfe- randomizados demonstrou o potencial da atividade fí-
cho analisado (exemplo: mmHg da pressão arterial ou sica leve, no controle de níveis pressóricos em adultos, a
mg/dL da glicemia), o tipo, volume e intensidade da ati- partir da caminhada regular; contudo, também ressalta-
vidade física. As inter-relações entre tais componentes -se que os benefícios aumentam à medida que a intensi-
da atividade física contribuem para a complexidade das dade da caminhada aumenta (LEE et al., 2010).
análises de dose-resposta. Por exemplo, a atividade física A importância de sabermos sobre a relação de dose-
de intensidade leve (aproximadamente 3 METs) pode -resposta é obter o conhecimento da mínima quantida-
contribuir para a melhora no bem-estar geral, porém de de atividade física necessária para atingir benefícios à
pode não ser suficiente para redução do peso corporal. saúde e, assim, prescrever orientações à população geral.
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A partir das evidências disponíveis, órgãos internacio- Esse conhecimento sobre atividade física e exercí-
nais passaram a orientar a adoção de comportamentos cio físico é especialmente importante para a prática do
ativos e a propor guias de orientação sobre a quantidade profissional de Educação Física com pessoas em condi-
necessária para melhora da saúde em diferentes faixas ções especiais de saúde (com doenças crônicas ou gru-
etárias (ACSM, 2016). Atualmente, recomenda-se que pos especiais). O Ministério da Saúde recomenda que
adultos acumulem no mínimo 30 minutos de atividade as doenças crônicas requerem intervenções associadas
física de intensidade moderada a vigorosa na maioria à mudanças de estilo de vida, em um processo de cui-
dos dias da semana, de preferência todos os dias. Alter- dado contínuo e que nem sempre leva à cura (BRASIL,
nativamente, os adultos podem realizar 25 minutos de 2013). Portanto, é necessário compreender que o uso da
atividade física de intensidade vigorosa, pelo menos três atividade física e exercício, entre outras habilidades e
vezes na semana. Recomenda-se também que as ativida- competências, para promover saúde e prevenir doenças,
des físicas incluam exercícios de força e de flexibilidade, pode ocorrer de forma primária e secundária, como de-
além dos exercícios aeróbicos (WHO, 2010). monstra o Quadro 2.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
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24
EDUCAÇÃO FÍSICA
Se planeja tornar-se muito mais ativo do que atualmente, comece respondendo às sete perguntas a seguir. Se sua idade estiver entre
15 e 69 anos, o PAR-Q dirá se você deve consultar um médico antes de começar. Se tiver mais de 69 anos de idade e não está
acostumado a ser muito ativo, consulte seu médico.
o BOM SENSO é o seu melhor guia para responder a essas perguntas. Por favor, leia cada pergunta cuidadosamente e responda
honestamente: marque SIM ou NÃO.
SIM NÃO
1. Seu médico alguma vez já disse que você tem uma doença cardíaca e que você deveria fazer
apenas as atividades físicas recomendadas por ele?
2. Você sente dor no peito quando realiza uma atividade física?
3. No último mês, você sentiu dor no peito quando não estava fazendo atividade física?
4. Você perde seu equilíbrio por causa de tonturas ou você já perdeu a consciência alguma vez?
5. Você tem algum problema ósseo ou de articulação (exemplo: nas costas, no joelho ou no quadril)
que poderia piorar por uma alteração na sua atividade física?
6. Seu médico atualmente lhe receitou remédios (exemplo: diuréticos) para a sua pressão arterial
ou doença cardíaca?
7. Você sabe de qualquer outro motivo que o(a) impede de fazer atividade física?
Não são permitidas modificações. Você é encorajado a fotocopiar o PAR-Q., mas apenas se utilizar o formulário
completo.
Observação: se o PAR-Q estiver sendo dado a uma pessoa antes de sua participação em um programa de atividade física ou
uma avaliação de aptidão, esse trecho pode ser utilizado para propósitos legais ou administrativos.
“Eu li, entendi e completei este questionário. Quaisquer perguntas que tinha foram respondidas até meu esclarecimento.”
NOME:_____________________________________________________________________________ DATA:________________________________________
ASSINATURA:________________________________________________________________________ TESTEMUNHA:_________________________________
ASSINATURA DO PAI:__________________________________________________________________
OU RESPONSÁVEL (para participantes menores de idade)
Observação: essa avaliação de atividade física é válida por um período máximo de 12 meses, a partir da data em que
foi completada e se torna inválida se sua condição se alterar e passar a responder SIM a qualquer uma de suas
sete perguntas.
Figura 2 - Questionário PAR-Q & YOU em idioma português / Fonte: ACSM (2016, p. 23).
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A Triagem Pré-participação é fundamental e não pode a necessidade de monitoramento da saúde por meio de
ser ignorada: a anamnese – palavra de origem grega, que exames periódicos, principalmente, em indivíduos que
significa recordar. Trata-se de um questionário semies- apresentam sintomas ou fatores de risco (SILVA, 2010).
truturado em conhecimentos científicos e que represen- A estratificação de risco cardiovascular, como pre-
ta uma importante etapa na coleta de informações clíni- conizada pelo ACSM (2016), baseia-se num algoritmo
cas e de hábitos. Os itens essenciais para uma anamnese que se inicia pela identificação de doenças diagnostica-
objetiva e eficiente incluem: das, seguida pela análise de sinais e/ou sintomas e fina-
• Dados pessoais (sexo, idade). liza-se pela análise de fatores de riscos cardiovasculares.
• Dados cadastrais (endereço, telefone, e-mail). Portanto, inicialmente, o profissional buscará ques-
• Dados de ocupação (profissão, horário de traba- tionar o seu cliente sobre doenças diagnosticadas pre-
lho, turno). viamente, como as cardiovasculares (doença cardíaca,
• Dados de saúde (tipo sanguíneo, consulta médi- vascular periférica, cerebrovascular), as pulmonares
ca nos últimos 6 meses, doenças diagnosticadas). (doença pulmonar obstrutiva crônica, asma, doença
• Prática de atividade física (frequência e duração pulmonar intersticial, fibrose cística), as metabólicas
da atividade física).
(diabetes melito), as renais, hepáticas ou na tireoide.
• Sintomas (dor no peito, falta de ar, uso de medi-
Em caso de doença diagnosticada, como as anteriores, o
camentos contínuo).
indivíduo é considerado de “risco alto”. No caso das do-
• Fatores de risco para desenvolvimento de do-
enças estarem ausentes, são investigados os seus sinais
ença cardiovascular (sexo, idade, hereditarieda-
de, colesterol, hipertensão, obesidade, diabetes, e sintomas, pois, geralmente demonstram que a doença
fumo, sedentarismo, dislipidemia, hipertensão pode existir de forma oculta. Para isto, são considerados
arterial sistêmica) os parâmetros a seguir:
• Cirurgia prévia (realizou ou irá realizar alguma?). • Dor, desconforto (ou outro equivalente angino-
• Limitações ósteo-articulares (lesões, fraturas). so) no tórax, pescoço, mandíbula, braços ou ou-
• Limitações músculo-articulares (tipo e localização). tras áreas que se relacionam a isquemia.
• Gravidez. • Falta de ar em repouso ou em pequenos esforços.
• Qualidade do sono e horas de sono por noite. • Ortopnéia (falta de ar deitado) ou falta de ar no-
turna.
• Síncope (desmaio) ou tontura.
A partir das informações acima, o profissional de Educa-
• Edema maleolar.
ção física poderá ter um panorama abrangente da histó-
• Palpitação ou taquicardia.
ria do seu cliente. Por meio da Triagem Pré-participação,
• Claudicação intermitente.
também, é possível identificar a necessidade de um ates-
• Sopro cardíaco.
tado médico de liberação para a prática de atividade física,
• Fadiga excessiva ou falta de ar com atividades
o que garante maior segurança ao cliente e ao profissio-
usuais.
nal. Ademais, entende-se que esse procedimento pode
colaborar para a conscientização dos praticantes sobre
26
EDUCAÇÃO FÍSICA
Na presença de sinais ou sintomas de doença oculta, o da doença. A importância em conhecer os fatores de risco
indivíduo é considerado de “risco alto”. Em caso negativo, está na possibilidade de modificá-los, quando possível, e
há o aprofundamento sobre os fatores de risco. Um fator assim diminuir a ocorrência de determinada doença. Os
de risco em saúde é qualquer situação que aumenta a pos- principais fatores de risco para o desenvolvimento da do-
sibilidade de um indivíduo vir a desenvolver determina- ença cardiovascular elencados pelo ACSM são:
2. Histórico familiar: infarto do miocárdio ou revascularização coronariana ou morte súbita, antes dos 55 anos de idade
do pai ou de outro parente de primeiro grau do sexo masculino (irmão ou filho) ou antes dos 65 anos de idade da mãe ou
de outro parente do primeiro grau do sexo feminino (irmã ou filha).
3. Tabagismo: fumantes de cigarros (tabaco, cachimbo, charuto ou cigarro de palha) ou ex-fumantes com menos de seis
meses de interrupção.
4. Hipertensão arterial sistêmica: pressão arterial sistólica ≥ 140 mmHg e/ou a diastólica ≥ 90 mmHg, confirmadas por
mensurações feitas pelo menos em 2 ocasiões diferentes ou indivíduos com hipertensão que fazem uso de medicação
anti-hipertensiva.
5. Dislipidemia: colesterol total ≥ 200 mg/dL ou lipoproteína de baixa densidade (LDL colesterol) ≥ 130 mg/dL ou
lipoproteína de alta densidade (HDL colesterol) < 40 mg/dL ou fazer uso regular de medicação para reduzir o nível do
colesterol. Para esses exames, considerar os últimos 12 meses, sem haver mudanças significativas no estilo de vida.
6. Diabetes: glicose sanguínea em jejum alterada ≥ 100 mg/dL, confirmada em pelo menos 2 ocasiões diferentes ou
glicemia, mas em uso de medicação hipoglicemiante. Considerar os últimos 12 meses, sem haver mudanças significativas
no estilo de vida.
7. Obesidade: a partir das medidas de massa corporal e estatura, calcular o índice de massa corporal (IMC) pela equação
(IMC = massa corporal / estatura ²). Fator de risco se o IMC ≥ 30 Kg/m² ou perímetro da cintura > 102 cm (masculino) e > 88
cm (feminino) ou, ainda, razão cintura/quadril ≥ 0,95 (masculino) e ≥ 0,86 (feminino).
8. Estilo de vida: refere-se aos hábitos das pessoas, especificamente sobre a participação em programas regulares de
exercícios (≥ 6 meses) ou atendimento às recomendações de pelo menos 30 minutos de atividade física moderada ou
vigorosa na maioria dos dias da semana.
27
Os fatores de risco mencionados podem ser iden- cos (alto, médio ou baixo). O ACSM (2016) esta-
tificados a partir de uma anamnese detalhada. beleceu as definições relacionadas ao risco para a
Coletadas estas informações, podemos categori- realização de exercício físico, conforme registrado
zar o nível do risco para prática de exercícios físi- na Tabela 2.
A estratificação de risco permite que o profissional grama de atividade física, geralmente, uma atividade de
possa prescrever a intensidade e o volume de atividade intensidade leve.
física de modo individualizado e dentro dos padrões Para finalizar este tópico, vale destacar a importân-
de segurança. Deste modo, indivíduos com baixo ris- cia do Termo de Consentimento para Prática de Ativi-
co estão aptos a desenvolver atividades de intensidade dade Física, em que o aluno dá ciência de que recebeu
moderada e vigorosa. Indivíduos com risco moderado as orientações sobre os riscos e benefícios da atividade
podem realizar atividades leves e moderadas. Indiví- física, mesmo que não isenta a responsabilidade do pro-
duos com alto risco necessitam de uma ampla avalia- fissional em prescrever o exercício adequadamente e de
ção médica e orientação individualizada sobre o pro- maneira individualizada.
28
EDUCAÇÃO FÍSICA
29
30
EDUCAÇÃO FÍSICA
Princípios utilizados na
prescrição de exercício físico
Em geral, um programa de exercício físico deve conside- individualidade biológica, segurança e fatores comporta-
rar os princípios básicos do treinamento desportivo: (1) mentais. O programa também deve considerar o grau de
sobrecarga que se refere ao “uso cumulativo aumenta a experiência e proficiência do sujeito para realizar as ativi-
capacidade funcional”; (2) especificidade que reside em dades bem como as demandas e objetivos do indivíduo e,
“efeitos específicos ao exercício e músculos envolvidos”; em termos gerais, adequado para a promoção da saúde.
(3) variabilidade que consistem em “variação em um ou O processo de sistematização de programas de
mais componentes para manter o estímulo”. Há outros exercícios físicos numa sessão tem diferentes partes,
princípios que são considerados como a reversibilidade, a saber:
31
1) AQUECIMENTO:
de 5 a 10 minutos, de intensidade baixa a moderada
(20 a 50% do VO2 máx), de exercícios aeróbicos submáximos.
3) RESFRIAMENTO:
de 5 a 10 minutos, de intensidade moderada.
4) FLEXIBILIDADE (COMPLEMENTAR):
em cerca de 10 minutos, de exercícios de alongamento (ACSM, 2016).
Como já vimos anteriormente, em uma sessão de con- de produção de energia predominantes para uma diver-
dicionamento físico, os princípios FITT-VP (frequên- sidade de esportes.
cia, intensidade, tempo, tipo, volume e progressão) são Os exercícios físicos aeróbios podem ser realizados
os parâmetros recomendados pelo ACSM (2016) para a em modos contínuos ou descontínuos. O exercício aeró-
prescrição do exercício físico. bio contínuo é um bloco realizado em intensidades baixas
O exercício físico aeróbio é o tipo de exercício mais a moderadas, sem intervalos de descanso. Exercício aeró-
bem documentado na literatura e utilizado para a pres- bio descontínuo (intervalado) consiste em vários blocos
crição. Ele é caracterizado por esforços físicos que sobre- intermitentes de exercício de baixa à alta intensidade, in-
carregam o coração e o sistema respiratório, que utilizam tercalados com períodos de descanso. Ambos os tipos de
grandes grupos musculares e que tenham contrações exercícios aeróbios produzem melhorias significativas no
musculares de forma ritmada e contínua (ACSM, 2016). VO2 max, mas a pesquisa sugere que quando o volume de
Obviamente, isto depende de uma integração dos siste- exercício é controlado, o treinamento de intervalo de re-
mas pulmonar, cardiovascular e hematológico para que sistência de alta intensidade (90–95% FCmax; 95% VO2R)
os mecanismos de captação, entrega e oxidação no mús- melhora o VO2 máx mais do que contínuo, intensidade
culo possam utilizados em exercício. A duração maior moderada (70% FCmax; 50% VO2 R) treinamento físico
que 30 segundos até 4 horas torna os sistemas aeróbios aeróbico em adultos saudáveis. No entanto há uma preo-
32
EDUCAÇÃO FÍSICA
cupação com alta intensidade, treinamento intermitente é prescrição de um programa geral de condicionamento
a possibilidade esgotamento do exercício, principalmente físico. A prescrição do exercício resistido para o aprimo-
em pessoas com condições especiais de saúde. Há relatos ramento da força tem, principalmente, como parâmetro
que a taxa de abandono de adultos em um programa de de sobrecarga o percentual de 1-RM, sendo que a faixa
treinamento intervalado de alta intensidade (descontí- ideal para a manutenção de força e resistência de força
nua) foi duas vezes maior do que em um programa contí- é de 60 a 84%, essa sobrecarga corresponde entre 8 a 12
nuo de corrida (HEYWARD; GIBSON, 2014). repetições. Entretanto a sobrecarga pode variar, depen-
A prescrição de exercício físico aeróbio tem melho- dendo do nível de experiência com exercícios de força e
ra inquestionável de indicadores de saúde da população da idade. Como visto anteriormente, a OMS (2010) re-
geral. Como vimos anteriormente, o ACSM (2016) re- comenda este tipo de atividade física para grandes gru-
comenda que a prescrição possa ocorrer pelo método pos musculares.
do VO2, a frequência cardíaca (máximo ou reserva) ou Os quadros a seguir apresentam os parâmetros FIT-
equivalente metabólico (MET). T-VP para a prescrição de exercícios em crianças e ado-
Os exercícios de força (também chamados de exer- lescentes (Quadro 4), adultos (Quadros 5 e 6) e idosos
cícios resistidos) têm sido, extensivamente, utilizados na (Quadro 7) baseado em Garber et al. (2011).
Exercícios Aeróbios
Frequência Diária
A maior parte deve ser exercício aeróbico de intensidade, de moderada à vigorosa.
Intensidade
A intensidade vigorosa deve ser incluída pelos menos 3 vezes na semana.
Tempo ≥ 60 minutos por dia.
Atividades físicas aeróbica agradáveis e adequadas ao desenvolvimento, incluindo caminhada
Tipo
rápida, corrida, natação, dança, ciclismo.
Exercícios de Fortalecimento Muscular
Frequência ≥ 3 dias por semana.
Tempo Parte dos 60 minutos diários ou mais de exercício.
Atividades não estruturadas (brincar em playground, escalar árvore, entre outras) ou estrutura-
Tipo
das (exercícios com pesos, bandas elásticas).
Exercícios de Fortalecimento Ósseo
Frequência ≥ 3 dias por semana.
Tempo Parte dos 60 minutos diários ou mais de exercício.
Tipo Atividades com sobrecarga gravitacional (saltos e impactos) ou tensional (exercícios com pesos).
Quadro 4 - Recomendações de exercícios físicos para crianças e adolescentes baseados em evidências.
Fonte: adaptado de ACSM (2016) e Garber et al. (2011).
Programas de exercícios físicos para crianças e ado- mudanças em tamanho e evolução dos sistemas car-
lescentes devem considerar particularidades dos pro- diovascular e neuromuscular e de composição corpo-
cessos de crescimento e desenvolvimento físico, como ral. As atividades físicas devem ter foco multilateral
33
(BOMPA, 2002), ou seja, uma abordagem sequencial ter graus de maturação bastante distintos (atrasado ou
no desenvolvimento de várias habilidades fundamen- adiantado) e, por fim, as principais diferenças fisioló-
tais, antes do início de um determinado exercício es- gicas em relação ao adulto devem ser conhecidas, pois
pecífico ou esporte. O grau de maturação biológica é elas impactam na capacidade de desenvolver força,
importante e precede a interpretação da idade crono- sustentar esforços prolongados, limitam esforços em
lógica, pois adolescentes com a mesma idade podem ambientes com climas extremos e geram maior fadiga.
Exercícios Aeróbios
Em termos de progressão do programa de exercício aeró- aumenta a adesão e reduz os riscos de lesão musculoesque-
bios, é razoável o progresso gradual do volume com ajuste lética e eventos cardíacos. O Quadro 6 apresenta os parâ-
da duração, frequência e/ou intensidade. Essa abordagem metros de prescrição de exercícios resistidos em adultos.
34
EDUCAÇÃO FÍSICA
A progressão do programa resistido deve ser gradual de flexibilidade é de 10 a 30 segundos para a maioria dos
e mais focada em maior resistência e/ou repetições adultos. Para facilitação neuromuscular proprioceptiva
por séries e/ou aumento da resistência. Os exercícios (FNP), a contração de 3 a 6 segundos, leve a moderada,
de flexibilidade e neuromusculares (ou funcionais) é seguida de flexionamento estático de 10 a 30 segundos.
também impõe sobrecarga ao sistema neuro-muscu- Para o tipo de exercício de flexibilidade, recomenda-se
lar, sendo importantes componentes de programas de uma série de exercícios para cada unidade musculo-
exercícios elaborados para idosos e pessoas em com- tendinosa e o flexionamento estático (passivo ou ativo)
plicações crônicas de saúde. dinâmico, balístico ou por FNP são todos efetivos na
O exercício para o aprimoramento da flexibilidade melhora da flexibilidade. O volume razoável é realizar
pode ser realizado por alongamentos balísticos, dinâ- 60 segundo de período total de forçamento para cada
micos lentos, estáticos e por facilitação neuromuscular exercício. Para o padrão, recomenda-se a repetição de
proprioceptiva. De acordo com os princípios FITT-VP, cada exercício de flexibilidade 2 a 4 vezes, sendo que o
recomenda-se frequência de ≥ 2 a 3 dias, na semana, sen- exercício de flexibilidade é mais efetivo quando o mús-
do que quando executado, diariamente, é mais efetivo. A culo está aquecido (ACSM, 2016).
intensidade dos exercícios de alongamento ocorre até o Os exercícios neuromusculares, denominados tam-
ponto que se perceba um enrijecimento ou desconforto bém de exercícios funcionais, consistem de atividades
da unidade muscular em questão. O tempo de exercícios multifacetadas que incluem aspectos neuromotores,
35
Figura 5 - Benefícios das atividades físicas para idosos / Fonte: adaptada de ACSM (2016).
36
EDUCAÇÃO FÍSICA
Exercícios Aeróbicos (idosos que não conseguirem realizar, devem ser ativos como puderem)
De forma complementar, recomenda-se que sejam realizados exercícios de equilíbrio para a prevenção de quedas em
idosos. Um meta-análise (SHERRINGTON et al., 2011) levantou recomendações da melhor prática para a prevenção
de quedas, como:
37
Figura 6 - Recomendação para prática de atividades físicas de idosos para prevenção de quedas / Fonte: adaptada de Sherrington et al. (2011).
Para finalizar este tópico, alguns cuidados e conside- evento cardiovascular. Assim como a confusão men-
rações devem ser feitos para o processo de prescrição tal, cianose ou palidez, náusea ou vômito, dispnéia,
de exercícios para idosos. Como parte de um grupo queda abrupta da pressão arterial ou mesmo o não
especial, o idoso exige grande atenção, especialmente aumento esperado da pressão arterial com o esforço.
em sintomas de tontura, síncope, angina, fadiga inco- Ao observar estes sinais e sintomas, é necessário in-
mum ou dor intolerável que podem ser sugestivos de terromper o exercício físico.
38
considerações finais
Nesta unidade, vimos que a atividade física e o exercício são constructos diferentes,
que consequentemente exigem diferentes abordagens em termos de orientação para
mudanças no estilo de vida e prescrição de forma sistematizada em sessões de trei-
namento. Vimos, também, que ambos provocam alterações benéficas importantes na
aptidão física (melhora da função física), qualidade de vida e bem-estar, assim como
o aprimoramento da saúde cardiovascular e metabólica, o que reduz a chance de
doenças crônicas dessa natureza, principalmente em grupos especiais e vulneráveis.
Considerando o potencial do exercício físico como tratamento não farmacológico,
percebe-se a sua utilização em pessoas com doenças crônicas, atuando de forma co-
adjuvante aos tratamentos convencionais, o que melhora a qualidade de vida, reduz
os sintomas clínicos e a chance de comorbidades secundárias dessas doenças de base.
Em termos práticos, vimos que as recomendações para a prática de atividade física,
no dia a dia é variável em função da idade do indivíduo, porém é comum que seja
composta de atividades aeróbias e de força. Quando se refere ao exercício físico, vimos
uma analogia de “dose-resposta” semelhante ao uso de medicamentos. Portanto, o
planejamento da “dose” de exercício físico é orientado a partir de princípios básicos
do treinamento físico (sobrecarga, especificidade e variabilidade) e pelas variáveis
FITT-VP (frequência, intensidade, tipo, tempo, volume progressão/padrão). Essa
abordagem não é a única disponível para o uso racional do exercício, mas está bem
consolidada na aplicação em pessoas com doenças crônicas e grupos especiais.
Ao se apropriar destas informações ficará muito mais fácil, prático e baseado em ci-
ência, organizar programas de exercício físico para diferentes populações, sejam elas
especiais, sejam com doenças crônicas.
39
atividades de estudo
40
atividades de estudo
a. V, V, F, F, V.
b. F, F, V, V, V.
c. V, F, V, V, F.
d. F, F, F, F, V.
e. V, V, V, F, V.
41
atividades de estudo
( ) Quando o idoso não conseguir fazer as atividades físicas, devido a alguma limi-
tação física ou fisiológica, eles devem abandonar o programa de atividades físicas.
( ) Para idosos com doenças crônicas, deve-se inicialmente entender como as
suas condições de saúde afetam a sua capacidade de realizar atividade física re-
gular de forma segura.
Assinale a alternativa correta:
a. V, V, F, F, V.
b. F, F, V, V, V.
c. V, F, V, F, V.
d. F, F, F, F, V.
e. V, V, V, V, V.
42
LEITURA
COMPLEMENTAR
43
material complementar
Página oficial da Organização Mundial da Saúde sobre as recomendações de atividade física para popula-
ção em diferentes faixas etárias.
Web: https://www.who.int/dietphysicalactivity/factsheet_recommendations/en/
O Exercise is Medicine® uma iniciativa global de saúde gerenciada pelo Colégio Americano de Medicina Es-
portiva (ACSM), incentiva dos profissionais da saúde a incluir atividade física em tratamentos de diferentes
pacientes.
Web: https://www.youtube.com/watch?v=AhvchRSofA4&list=PLH3yLqj49r0-5oEns-q0UkumFdTANUGrI
44
referências
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alth Organization, 2010.
46
gabarito
47
CONHECENDO, DIAGNOSTICANDO
E TRATANDO O SOBREPESO E A
OBESIDADE
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Conceitos e Epidemiologia da Obesidade
• Etiologia, Fatores de Risco para a Obesidade e
Consequências à Saúde
• Ferramentas de Diagnóstico do Sobrepeso e da Obesidade
• Tratamentos da Obesidade
• Atividade Física e Prescrição do Exercício Físico na
Obesidade
Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer os conceitos e a epidemiologia da obesidade.
• Apresentar a gênese da obesidade e os fatores de risco
envolvidos.
• Utilizar ferramentas para o diagnóstico da obesidade.
• Conhecer as formas de tratamento, medicamentos e não
medicamentosos, utilizadas na obesidade.
• Utilizar os princípios básicos da prescrição do exercício
físico para pessoas com obesidade.
unidade
II
INTRODUÇÃO
A
obesidade é uma doença crônica presente em muitos países,
em todo o mundo. As evidências atuais demonstram que in-
úmeros fatores são responsáveis pela gênese do ganho e ex-
cesso de peso, estes são considerados fatores de risco para o
desenvolvimento da obesidade. Além disso, quando o excesso de tecido
adiposo está instalado no organismo, este provoca diversos desequilíbrios
que desencadeiam consequências deletérias à saúde, entre elas doenças
conhecidas como hipertensão arterial, diabetes melito e tipos variados de
câncer. Portanto, é necessário que o profissional de educação física seja
capaz de identificar, diagnosticar e tratar o excesso de peso, no sentido
de reduzir as complicações à saúde e qualidade de vida da pessoa obesa.
Esta unidade tratará, inicialmente, dos conceitos e da epidemiologia
da obesidade, demonstrando que a transição nutricional atingiu vários
países no mundo, inclusive o Brasil. Posteriormente, serão tratadas as
questões de etiologia, fatores de risco para a obesidade e consequências
deletérias à saúde. A unidade seguirá com a apresentação de ferramentas
de diagnóstico do sobrepeso e obesidade que permitirá a prática profis-
sional sobre esta doença crônica. Nessa unidade, você, ainda, conhecerá
os diferentes tratamentos da obesidade, que podem ir além da atuação do
profissional de educação física, mas que exige o trabalho multidisciplinar
junto aos demais profissionais da saúde.
A partir destes conhecimentos básicos, poderemos, então, aprender
que o tratamento do sobrepeso e obesidade não é simplesmente “comer
menos e exercitar-se mais”. Assim, a atividade física e prescrição de exer-
cício físico na obesidade será nosso último tema, no qual serão visitados
conceitos e aplicações apresentadas na Unidade 1, além de desenvolver
os aspectos operacionais e as metas de programas de perda de peso, que
podem impactar no sucesso destas intervenções com pessoas obesas.
Conceitos e
epidemiologia da obesidade
A obesidade é uma doença crônica, definida como um O sobrepeso e a obesidade, que podemos chamar
acúmulo excessivo de gordura corporal que leva ao de excesso de peso, apresentam consequências im-
comprometimento da saúde, sendo consequência do portantes, desde perda da qualidade de vida até perda
balanço energético positivo (WHO, 2000). O número de de anos de vida e graves doenças crônicas não letais,
indivíduos acometidos tem avançado rapidamente em mas debilitantes: doenças cardiovasculares e cerebro-
diferentes países (MONTEIRO; CONDE, 2000), trans- vasculares, diabetes, hipertensão arterial sistêmica e
formando esta doença em um importante problema de certos tipos de câncer (FERREIRA; MAGALHÃES,
saúde pública e uma epidemia global. A causa do ganho 2006). Além disso, a literatura aponta que a obesidade
de peso e da obesidade é multifatorial, ou seja, estes fa- está associada às doenças mentais, como depressão e
tores atuam em conjunto, a genética, metabolismo, fator ansiedade, que podem ser acentuadas pela discrimi-
social, comportamental e cultura. nação social.
52
EDUCAÇÃO FÍSICA
Do ponto de vista epidemiológico, as taxas de obe- tudo, na análise estratificada por sexo, as maiores frequ-
sidade vêm aumentando em nível vertiginoso, ao longo ências de obesidade foram observadas no sexo mascu-
das últimas décadas. Os dados revelam que este cresci- lino em Manaus (27,1%), Cuiabá (25,4%) e Porto Velho
mento foi de 27,5% para adultos e 47,1% para crianças (23,2%) e, no sexo feminino, no Rio de Janeiro (24,6%),
entre 1980 e 2013, em todo o mundo. Em 1980, homens Rio Branco (23,0%) e Recife (22,6%) (BRASIL, 2019).
com excesso de peso representavam 28,8% da população Os custos médicos com a obesidade também são pre-
mundial, enquanto que mulheres representavam 29,8%; ocupantes. Estima-se que 2% a 7% dos orçamentos de saú-
em 2013, estas taxas foram para 36,9% e 38%, respecti- de, em países desenvolvidos, são destinados à obesidade
vamente. Esses aumentos foram observados principal- (WHO, 2000). No Brasil, não é diferente: o impacto econô-
mente em países desenvolvidos, mas também em países mico para o Sistema Único de Saúde (SUS) do sobrepeso e
em desenvolvimento (NG et al., 2014). obesidade, no que se refere aos procedimentos ambulato-
Especificamente, no Brasil, os níveis são alarmantes. riais, hospitalizações e medicações consomem cerca de 6%
Em adultos, 52,5% para homens e de 58,4% para mu- a 14% do orçamento (BAHIA et al., 2012). Se as despesas
lheres apresentaram excesso de peso (sobrepeso e obe- indiretas fossem incluídas, entre elas, os dias de trabalho
sidade); contudo, 11,7% dos homens e 20,6% das mu- perdidos, a incapacidade e o plano de saúde, os números
lheres são obesos (NG et al., 2014). Dados do VIGITEL seriam, ainda, mais altos (ABESO, 2012, on-line)¹.
(Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doen- O crescimento da obesidade, no Brasil, encontra-se
ças Crônicas por Inquérito Telefônico) revelaram que a dentro do processo de transformação do panorama ali-
frequência de adultos com excesso de peso (sobrepeso mentar do brasileiro. A urbanização e seu impacto, nos
e obesidade) variou entre 47,2% em São Luís e 60,7% padrões alimentares e na atividade física, também, con-
em Cuiabá. Em termos gerais, a obesidade variou entre tribui para a progresso do excesso de peso e obesidade
15,7% em São Luís e 23,0% em Cuiabá e Manaus, Con- (MONTEIRO; CONDE, 2000).
53
54
INGESTÃO DE ENERGIA Atividade física
umidas
Calorias cons ) Exercício
(alimentação
EDUCAÇÃO FÍSICA
Descrição da Imagem: a figura a representa uma balança desequilibrada, pendendo para o lado esquerdo que contém as inscrições “ingestão de
energia”: calorias consumidas (alimentação), indicando o ganho de peso, e, na figura b, vemos a mesma balança desequilibrada pendendo para a
direita em que a inscrição diz: “gasto energético”: calorias em repouso, atividade física, exercício, indicando a perda de peso.
GANHO DE PESO
GASTO ENERGÉTICO
PERDA DE PESO
GASTO ENERGÉTICO
Calorias em
repouso
Calorias em
repouso
INGESTÃO DE ENERGIA
INGESTÃO DE ENERGIA Atividade física
Atividade física
Calorias cons
umida
umidas Exercício (alimentação s
Calorias cons ) )
(alimentação Exercício
Figura 1 - Exemplos do desequilíbrio na relação entre ingestão e gasto calórico, como o ganho de peso (a) e perda de peso (b).
PERDA DE PESO
GASTO ENERGÉTICO
Calorias em
repouso
INGESTÃO DE ENERGIA
Atividade física
Calorias cons
umida
(alimentação s
O debategraph® desenvolve e alimenta um mapa da obesidade desde 2014,
)
Exercício
demonstrando a complexidade dessa doença crônica. Segundo eles, em-
bora a obesidade resulte do balanço energético positivo, existem muitos
fatores comportamentais e sociais que são complexos e que se combinam
para contribuir para as causas da obesidade. O acesso ao mapa da obesida-
de é público e você pode conferir as últimas atualizações sobre este tema
por meio do link: debategraph.org/obesityFSM
Para acessar, use o seu leitor de QR Code.
55
56
EDUCAÇÃO FÍSICA
• Hipertensão
Comorbidades • Hipertrofia ventricular esquerda com ou sem insuficiência cardíaca
cardiovasculares • Doença cerebrovascular
• Trombose
Essas comorbidades são consequências do excesso de mortalidade prematura muito maior do que seus pares
peso que impacta, negativamente, a saúde e a qualidade não obesos e que não têm outras doenças (NHLBI, 2000).
de vida. Para o risco global da obesidade na saúde, tem As comorbidades quando associadas à obesidade
que se levar em conta a presença de outros fatores de ris- podem aumentar o risco prematuro de mortalidade, são
co. A pessoa que for obesa e apresentar outras doenças eles: hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo II, baixos
de cunho crônico-degenerativos podem ter um risco de níveis de colesterol HDL no sangue (< 35 mg/dL), níveis
57
elevados de colesterol LDL (≥ 160 mg/dL), histórico fa- causa de amputações traumáticas das extremidades infe-
miliar prematuro de doenças crônico degenerativas, ta- riores. Hu et al. (2001) realizou um estudo longitudinal
bagismo e idade (≥ 45 anos nos homens e ≥ 55 anos nas com 84.941 mulheres durante os 16 anos, sendo observa-
mulheres) (NHLBI, 2000). da uma incidência de 3.300 novos casos de diabetes. Neste
Rimm et al. (1995) demonstrou que o risco cardio- estudo, indivíduos que apresentaram um IMC maior que
vascular triplica se um jovem de 19 anos, no decorrer de 30 kg/m² tiveram esse risco quadruplicado.
sua vida adulta, ganhar mais de 20 kg corporais. Harris Além dessas doenças, ainda têm as cerebrovascula-
et al. (1993), em uma investigação epidemiológica longi- res, como os acidentes vasculares cerebrais (AVC), que
tudinal, avaliou durante 14 anos mais de 1200 mulheres representam a terceira causa de morte nos Estados Uni-
americanas com excesso de peso e identificou que aque- dos da América, sendo que 705 das pessoas que sofrem
las que perderam menos de 7,7% do seu peso corporal esse evento ficam debilitadas (STEIN; COLDITZ, 2004).
apresentaram uma incidência de doenças cardiovascu- A associação desses eventos com a obesidade foi repor-
lares muito maior do que seus pares que não apresenta- tado em algumas pesquisas como em Field et al. (2001),
vam excesso de peso. na qual homens com sobrepeso tiveram duas vezes mais
Em relação à hipertensão arterial e obesidade, Yong chances de ter um acidente desta natureza, sendo o risco
et al. (1993), numa investigação longitudinal ao longo menos evidente nas mulheres.
de 30 anos com homens e mulheres, observou que o A International Agency for Research on Cancer
ganho de peso influenciou em 20% a variabilidade da (Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer)
pressão arterial. Ademais, os indivíduos que ganharam responsabilizou a obesidade como um dos fatores causa-
peso acima dos níveis recomendados apresentaram 40% dores de diferentes tipos de câncer, por exemplo: 9% de
de chance de desenvolver hipertensão arterial sistêmica. câncer de mama em mulheres após a menopausa; 11% de
Sarno e Monteiro (2007), em um estudo transversal com câncer de cólon do útero; 37% de câncer de esôfago; 39%
adultos da cidade de São Paulo, identificou que mais de de câncer endometrial (STEIN; COLDITZ, 2004).
60% da hipertensão poderia ser evitada se as pessoas Ademais, a obesidade tem ligação também com
não apresentassem excesso de peso e valores de períme- algumas outras condições deletérias de saúde, que
tro da cintura acima dos níveis recomendados. necessitam de uma atenção especial, como é o caso
O diabetes mellitus tipo II também é uma comorbi- das osteoartrites, problemas gástricos, alterações no
dade que associada à obesidade aumenta o risco prema- humor, estresse contínuo, anormalidades ginecoló-
turo de morte. A diabetes é reportada pela Organização gicas, dentre outras (NHLIB, 2000; STEIN; COL-
Mundial de Saúde (WHO, 2004) como a principal causa DITZ, 2004). Assim, a obesidade faz parte do grupo
de novos casos de insuficiência renal terminal, aumenta de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT),
de 2 a 4 vezes a chance de ter uma doença ou evento coro- porque possui uma história natural prolongada,
nariano, é a principal causa de novos casos de cegueira em múltiplos fatores de risco, longo curso assintomáti-
adultos de 20 a 74 anos de idade, além de ser a principal co e em geral lento, prolongado e permanente.
58
EDUCAÇÃO FÍSICA
Ferramentas de diagnóstico
do sobrepeso e da obesidade
Como vimos anteriormente, o excesso de peso, mais sonância magnética. Estes métodos mais avançados são
pronunciado na obesidade, tem consequências negati- precisos e reprodutíveis, no entanto inviáveis para apli-
vas na saúde e na qualidade de vida do indivíduo. Por- cação clínica e/ou estudos em bases populacionais, devi-
tanto, diagnosticar o sobrepeso e a obesidade de forma do ao seu alto custo. Por isso, o método antropométrico
precoce representa uma contribuição importante para a tem se mostrado eficiente por sua praticidade, acessibi-
atenção à saúde, com potencial em reduzir as comorbi- lidade e facilidade no manuseio, com o objetivo de iden-
dades e demais complicações citadas. tificar indivíduos que possuem riscos relativos à saúde.
Nesse sentido, a evolução tecnológica levou ao avan- Para diagnosticar e classificar a obesidade, utili-
ço dos métodos para mensurar a quantidade de gordura zamos, principalmente, o índice de massa corporal
corporal, como a tomografia computadorizada e a res- (IMC), que nada mais é do que o cálculo entre massa
59
corporal (kg) e estatura (m)² (IMC = kg/m²). Quando quantidade de gordura corporal, o que interfere dire-
o IMC de um indivíduo encontra-se acima de 30 kg/ tamente na saúde do indivíduo. A Tabela 1 apresenta
m², ele é classificado como obeso. Estudos mostram a classificação do sobrepeso e obesidade em relação
que quanto maior o valor do IMC, maior também a ao valores de IMC.
O IMC é a medida mais utilizada em todo o mundo O perímetro da cintura é utilizado para o diagnóstico da
para conhecer o estado nutricional da população do obesidade abdominal, o que inclui a gordura localizada
indivíduo, devido a sua simplicidade, baixo custo e ra- na região visceral, considerada um forte fator de risco
pidez na tomada de medidas e interpretação. Contudo potencial para a doença cardiovascular, independente-
esta técnica apresenta algumas limitações importantes mente da gordura corporal total. Estudos apontam que
de serem consideradas: é uma medida de forte relação com métodos que quan-
1. Não mede a gordura corporal ou massa magra. tificam a gordura corporal a partir de imagens. Ainda, a
Por exemplo, para indivíduos musculosos (fisi- combinação da medida de IMC e do perímetro da cintu-
culturistas), o IMC pode apontar para um falso- ra é superior para predizer o risco relativo à saúde, basea-
-positivo, indicando que estão na faixa de sobre-
do nas proporções de gordura corporal (JANSSEN et al.,
peso ou obesidade
2002). Quando combinados, há um aumento substancial
2. Não avalia a distribuição da gordura corporal.
A localização da gordura corporal é importante, na predição de risco à saúde (NHLBI, 1998), aumentan-
especialmente quando localizada na região cen- do assim a identificação de potenciais falsos-negativos. A
tral do corpo. interpretação do excesso de gordura para o aumento do
risco à saúde abdominal, pelo perímetro da cintura, pode
ser visualizado na Tabela 2 e a combinação da medida de
IMC e do perímetro da cintura na Tabela 3.
60
EDUCAÇÃO FÍSICA
Embora o tema da obesidade infantil exige mais espa- do IMC também está associado ao aumento da gordura
ço do que é possível nessa unidade, sabe-se que há um corporal em crianças e adolescentes (ALVES JUNIOR et
aumento consistente da prevalência de obesidade em al., 2017). Para grupos mais jovens, sugere-se a utilização
crianças e adolescentes. Portanto, a utilização do IMC da proposta internacional da Organização Mundial da
também pode ser realizado nesse grupo, pois o aumento Saúde, apresentada na Tabela 4.
Sobrepeso Obesidade
Idade (anos)
Meninos Meninas Meninos Meninas
15 23,29 23,94 28,30 29,11
15,5 23,60 24,17 28,60 29,29
16 23,90 24,37 28,88 29,43
16,5 24,19 25,54 29,14 29,56
17 24,46 24,70 29,41 29,69
17,5 24,73 24,85 29,70 29,84
18 25,00 25,00 30,0 30,0
Tabela 4 - Pontos de corte de Índice de Massa Corporal para adolescentes / Fonte: Cole et al. (2000).
Como visto anteriormente, a evolução tecnológica comum no contexto clínico, é importante um breve
levou ao avanço dos métodos para mensurar a com- esclarecimento sobre estes, pois comumente estas
posição corporal, especialmente a quantidade de gor- técnicas aparecem em textos científicos e começam a
dura corporal para a precisa análise da obesidade. estar disponíveis para avaliação para prática dos pro-
Embora estas técnicas tenham alto custo e aplicação fissionais de Educação Física.
61
Tratamentos
da obesidade
O tratamento do sobrepeso e obesidade não deve ser, dietas que têm como objetivo trazer ao indivíduo quan-
simplesmente, uma recomendação para comer menos e tidade menores de calorias, além de quantidades míni-
exercitar-se mais. Trata-se de uma doença crônica e de mas de gordura. Ao passo que dietas com restrição caló-
causa multifatorial, exigindo um tratamento complexo rica tendem a induzir um balanço energético negativo,
e multidisciplinar, envolvendo os elementos: dietético, dietas com uma restrição calórica mais rígida seriam
exercício físico, farmacológico, comportamental por mais eficientes no processo de redução de peso corporal,
meio da terapia cognitivo-comportamental e mudança contudo necessidades vitamínicas e de sais minerais não
no estilo de vida, e, em casos de maior gravidade, inclui- são atingidas (NHLBI, 1998).
-se o tratamento cirúrgico (ABESO, 2016). Atualmente, o tratamento dietético não se trata ape-
As orientações dietéticas são a primeira linha de en- nas de objetivar o balanço energético negativo. Este deve
frentamento da obesidade, sobretudo as prescrições de ser associado à mudança comportamental, mantendo-se
62
EDUCAÇÃO FÍSICA
por longos períodos e levando em conta que, ao incluir seu elevado IMC e/ou condições clínicas de presença
e/ou excluir alimentos, é fundamental considerar os an- de comorbidades. Nestes casos, os riscos e benefícios
tecedentes socioculturais, a motivação do indivíduo, os devem ser cuidadosamente ponderados antes da inter-
custos e a facilidade na aquisição e preparo. O que de- venção cirúrgica (ABESO, 2009), pois a cirurgia bari-
termina o sucesso em um programa de emagrecimento, átrica é um processo agressivo ao organismo. Entre os
em longo prazo, é o método, a velocidade de perda de procedimentos disponíveis há a utilização de bandas ou
peso, a fisiologia individual e a mudança comportamen- anéis colocados verticalmente para obstruir a passagem
tal (ABESO, 2016). do alimento para o estômago ou redirecionamento do
A intervenção farmacológica é uma estratégia no alimento por uma via secundária adaptada pelo próprio
tratamento da obesidade, ela é indicada em adultos cirurgião (NHLBI, 1998). Abaixo, podemos verificar os
com IMC > 30 kg/m² ou adultos com IMC > 27 kg/ critérios de indicação para a cirurgia (Quadro 2).
m² na presença de comorbidades (NHLBI, 1998). Esta • Adultos com IMC > 40 kg/m² sem outras morbida-
intervenção sempre está acompanhada de mudança de des.
estilo de vida, que inclui dieta e atividade física. Assim, • Adultos com IMC 35 kg/m2 com uma ou mais mor-
bidades associadas.
o tratamento farmacológico é coadjuvante e deve ser • Adultos com resistência a tratamentos conservado-
individualizado, sob supervisão médica. Não significa res há pelo menos 2 anos.
que seja indicado a todos os indivíduos com sobrepeso • Adultos que aceitem, entendam e estejam motiva-
dos para a cirurgia.
e obesidade, além de ser contraindicado na ausência de • Ausência de contra-indicações.
outros tratamentos não farmacológicos, principalmente Quadro 2 - Critérios de indicação para cirurgia bariátrica para adultos
a mudança no estilo de vida (ABESO, 2016). entre 18 e 65 anos / Fonte: ABESO (2009, p.75).
Os medicamentos comumente utilizados, geral- É importante saber que há evidências limitadas para
mente, inibem o receptor de alguma enzima ou hormô- recomendação da cirurgia bariátrica aos pacientes com
nio relacionado ao processo de absorção ou saciedade. IMC inferior a 35 kg/m², nem para indicar tal cirurgia,
Contudo há efeitos deletérios ao organismo como doen- especificamente, para o controle glicêmico em diabéti-
ça valvular do coração, hipertensão pulmonar primária, cos, independentemente do IMC.
aumento da frequência cardíaca, pressão arterial e ainda
ocorre deficiência na absorção de vitaminas devido a
sua estrutura lipossolúvel (NHLBI, 1998).
O tratamento psicológico consiste na análise do ce-
nário e modificação de transtornos de comportamentos
associados ao estilo de vida, além do encorajamento e
da motivação para manter mudanças, em longo prazo,
associado ao suporte social (ABESO, 2016).
O tratamento cirúrgico da obesidade é indicado
quando indivíduo não obteve sucesso em tratamentos
anteriores e mais conservadores ou quando indivíduo
apresenta um grau maior de risco à saúde devido ao
63
64
EDUCAÇÃO FÍSICA
Figura 3 - Infográfico benefícios da atividade e do exercício físico em um programa de perda de peso / Fonte: o autor.
65
Objetivos Orientações
A duração da atividade física deve ser entre 150 a 250 min./semana, que
Prevenir o ganho de peso
equivale a um gasto calórico entre 1200 a 2000 kcal/semana.
A duração da atividade física deve ser entre 225 a 420 min/semana para
Perda de peso
promover uma perda entre 5 a 7,5 kg.
Manter o peso após atingir a Para manter o peso após uma redução é necessário uma atividade física
meta estipulada entre 200 e 300 min./semana.
Exercício de resistência para a O treinamento de resistência promove a manutenção do peso e principal-
perda de peso mente mantém a massa corporal magra.
Tabela 5 - Evidências para orientação e prescrição para atividade física para indivíduos obesos / Fonte: ACSM (2009, on-line).
Ainda, o ACSM (2009) preconiza que a prescrição da o gasto calórico total com a atividade. Portanto, deve-se
atividade física para indivíduos obesos deve iniciar com ter a clareza do volume semanal adequado para as con-
uma baixa intensidade e aumentar gradativamente, dições iniciais do indivíduo, considerando seus níveis de
sempre dando ênfase ao volume (duração) e a frequ- motivação no início do programa. Sobretudo, devem-se
ência (sessões) em vez da intensidade, pelo menos no estabelecer metas que possam ser alcançadas pelo in-
início dos programas. Assim, a modalidade primária divíduo obeso, para que o mesmo continue estimulado
deve consistir em atividades aeróbicas realizadas com no programa de exercícios. Não podemos esquecer que
grandes grupos musculares. Indivíduos que tenham a indivíduos obesos correm maior risco de lesões ortopé-
meta de reduzir o peso corporal devem elevar o gasto dicas, assim atividades de baixo impacto (hidroginásti-
energético entre 225 a 420 kcal/semana, considerando cas) podem ser uma alternativa em casos de obesidade
que a progressão deve ser estimulada a fim de aumentar mórbida (ACSM, 2009).
66
EDUCAÇÃO FÍSICA
Vimos que numa sessão de condicionamento físico, os doenças crônicas, como indivíduos obesos. O Quadro 1
princípios FITT-VP (frequência, intensidade, tempo, tipo, indica os princípios FITT-VP utilizados para a prescrição
volume e progressão) são os parâmetros recomendados de exercícios em obesos. Lembre-se de que é importante
pelo ACSM (2016) para a prescrição do exercício físico. Es- utilizar como controle da intensidade a frequência cardíaca
tes mesmos princípios são utilizados em populações com de reserva e a escala de percepção de esforço.
Exercícios Aeróbios
Tipo Principalmente atividades físicas aeróbicas, que envolvam grandes grupos musculares.
Cada grupo muscular principal deverá ser estimulado, preferencialmente em ações multiarticula-
Tipo
res, utilizando equipamentos ou peso corporal.
Repetições 8 a 12 repetições para melhorar força e a potência, na maioria dos adultos.
Séries 2 a 4 séries de exercício resistido para a melhora da força e potência, na maioria dos adultos.
Intervalos de repouso de 2 a 3 minutos entre cada série.
Padrão
Repouso ≥48 horas entre as sessões para qualquer grupo muscular único.
Progressão Progresso gradual de mais repetições por série e / ou aumento de resistência.
Quadro 1 - Recomendações de exercícios físicos para indivíduos com sobrepeso e obesidade baseados em evidência / Fonte: adaptado de ACSM (2016).
É importante reconhecer outras maneiras de prescrever tabólicos deflagra um meio interessante de quantificar
exercício físico, o gasto energético em equivalentes me- as sessões e o gasto em todo o programa.
67
considerações finais
68
atividades de estudo
69
atividades de estudo
4. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) para as sentenças a seguir sobre a adequa-
da prescrição de exercícios para pessoas obesas:
( ) A influência de comorbidades aumenta a classificação de risco; portanto, a
triagem médica antes do teste de esforço é indispensável.
( ) A maioria das pessoas com peso excessivo não é fisicamente ativa. Isso signi-
fica que a prescrição da carga inicial pode ser alta.
( ) Recomenda-se o uso da bicicleta ergométrica, em vez da esteira ou demais
estratégias alternativas nas quais o indivíduo obeso não transporte seu peso cor-
poral.
70
atividades de estudo
71
LEITURA
COMPLEMENTAR
72
LEITURA
COMPLEMENTAR
duos com alto risco e que estejam em tratamento. No entanto, o alto custo não permite
ser utilizado rotineiramente.
Fonte: Ellis (2000).
73
LEITURA
COMPLEMENTAR
74
material complementar
Página da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), que se
configura numa sociedade multidisciplinar sem fins lucrativos que reúne cerca de 500 associados espalha-
dos por todo o país, das diversas categorias profissionais envolvidas.
Web: http://www.abeso.org.br/
75
referências
76
referências
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referências
Referências on-line
1
Em:http://www.abeso.org.br/noticia/custos-de-doencas-ligadas-a-obesidade-para-
-o-sus. Acesso em: 3 jun. 2020.
78
gabarito
79
DIABETES MELITO E HIPERTENSÃO AR-
TERIAL: EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTI-
CO, TRATAMENTO E EXERCÍCIO
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Epidemiologia do Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial
• Etiologia, Fatores de Risco e Consequências à Saúde
• Diagnóstico do Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial
• Tratamentos medicamentosos e não-medicamentosos do
Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial
• Prescrição do Exercício Físico para pessoas com Diabetes
Melito e Hipertensão Arterial
Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer os conceitos e a epidemiologia do Diabetes
Melito e da Hipertensão Arterial.
• Descobrir a gênese, os fatores de risco e as consequências
do Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial.
• Utilizar ferramentas de diagnóstico do Diabetes Melito e da
Hipertensão Arterial.
• Conhecer os tratamentos do Diabetes Melito e da
Hipertensão Arterial.
• Utilizar os princípios básicos da prescrição do exercício
físico para pessoas do Diabetes Melito e da Hipertensão
Arterial.
unidade
III
INTRODUÇÃO
A
nteriormente, conhecemos um pouco mais sobre a obesidade,
desde a sua etiologia até as consequências prejudiciais à saúde,
sendo este um tema em constante construção, pois o excesso
de gordura corporal provoca alterações no metabolismo e na
hemodinâmica da circulação sanguínea. As alterações metabólicas mais
comuns decorrentes do excesso de peso e obesidade são o Diabetes Meli-
to e a Hipertensão Arterial, muito comuns na população em geral, o que
indica a necessidade do Profissional de Educação Física preparar-se para
a sua atuação.
Assim, esta unidade abordará, inicialmente, os conceitos-chave e a
epidemiologia do Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial, demons-
trando a magnitude e abrangência dessas doenças em adultos. Etiologia,
fatores de risco e as consequências à saúde serão apresentados posterior-
mente, indicando os potenciais de cada uma das doenças, que embora
possam convergir em alguns desfechos conhecidos, tem complicações
particulares que necessitam do nosso olhar. O diagnóstico do diabetes
melito e da hipertensão arterial são, normalmente, obtidos em medidas
ambulatoriais repetidas, porém o profissional de Educação Física deve
estar por dentro de todos os detalhes para melhor acolher e atender o
indivíduo com estas condições.
Você verá os tipos de tratamento medicamentosos e não-medicamen-
tosos do Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial, para compreender
como o profissional de Educação Física pode atuar em equipes multipro-
fissionais, melhorando assim o atendimento desses indivíduos. Por fim,
inerente a nossa profissão, estão os processos de prescrição do exercício
físico para pessoas com Diabetes Melito e Hipertensão Arterial. Embora
certos parâmetros sejam semelhantes à população geral e muitos bene-
fícios possam ser atingidos, o desprezo aos cuidados essenciais, antes e
durante as sessões, podem trazer consequências negativas indesejadas.
Epidemiologia do diabetes
melito e da hipertensão arterial
84
EDUCAÇÃO FÍSICA
85
Descrição da Imagem: gráfico de barras indicando a prevalência de adultos homens com DM nas capitais do país, sendo Salvador a capital com
menor incidência e Rio de Janeiro a maior, em porcentagens.
14
12
10
8 8
8 8
7 7 8 8
% 8 7 7 7
7 7
6 6 7 7 7
6 6 6
6 6 6
6 5 5 5
Campo Grande
Distrito Federal
Natal
Salvador
Aracaju
Vitória
Boa Vista
Cuiabá
Recife
João Pessoa
Curitiba
Rio Branco
Palmas
Porto Velho
Teresina
São Luís
São Paulo
Fortaleza
Rio de Janeiro
Maceió
Porto Alegre
Goiânia
Florianópolis
Belém
Belo Horizonte
Macapá
Manaus
Figura 1 - Percentual de homens (≥ 18 anos) que referiram diagnóstico médico de diabetes, nas capitais brasileiras e Distrito Federal
Fonte: Brasil (2019, p. 94).
Descrição da Imagem: gráfico de barras indicando a prevalência de adultos mulheres com DM nas capitais do país, sendo Rio Branco a capital com
menor incidência e Rio de Janeiro a maior, em porcentagens.
14
12
10
8 8 8 8 8 8
8 7 7 8
% 7 7 7
7 7 7 7
5 6 6 6
6 5
4
4
4
0
Campo Grande
Distrito Federal
Natal
Aracaju
Rio Branco
Palmas
Boa Vista
São Luís
Porto Velho
Teresina
Rio Branco
Salvador
Palmas
São Paulo
João Pessoa
Cuiabá
Vitória
Recife
Fortaleza
Rio de Janeiro
Porto Alegre
Florianópolis
Goiânia
Belo Horizonte
Maceió
Macapá
Manaus
Figura 2 - Percentual de mulheres (≥ 18 anos) que referiram diagnóstico médico de diabetes, nas capitais brasileiras e Distrito Federal
Fonte: Brasil (2019, p. 94).
86
EDUCAÇÃO FÍSICA
Desde a implantação desse sistema, em 2006, destaca-se acidente vascular encefálico, insuficiência cardíaca, do-
o crescimento da prevalência de diabetes ao longo dos ença arterial periférica e renal (ACSM, 2016) e de maior
anos, tanto em mulheres como em homens. As maio- chance de mortalidade (PESCATELLO et al., 2004).
res prevalências são, sistematicamente, encontradas em Na análise do Global Burden Disease Study (Estudo
adultos com mais de 40 anos (ADA, 2010), especialmen- Global de Carga de Doenças), a hipertensão arterial foi
te nos idosos (65 anos ou mais de idade), que possuem responsável por 924.7 mil (intervalo de confiança de 95%:
além do DM outras comorbidades que aumentam o 681.4 a 994.9) mortes em 2017, sendo que esse valor foi
risco cardiovascular. Considerando que o DM repre- 46,6% maior na comparação entre 2007 e 2017 (ROTH
senta um agravo que maximiza o surgimento de outras et al., 2018). As estimativas da OMS destacam que níveis
doenças crônicas, o desenvolvimento de estratégias des- elevados de pressão arterial foram responsáveis por cerca
tinadas a esse grupo especial torna-se relevante, prin- de 57 milhões de mortes em todo o mundo (WHO, 2009).
cipalmente com ações de prevenção e tratamento, por A prevalência global de HA foi estimada em 1,13 bi-
intermédio de um estilo de vida ativo e saudável. lhão em 2015, com mais de 150 milhões de hipertensos
na Europa Central e Oriental. Assim, a prevalência geral
HIPERTENSÃO ARTERIAL de HA em adultos é de cerca de 30 a 45%, sendo que a HA
se torna progressivamente mais comum com avanço da
A hipertensão arterial (HA) é caracterizada por níveis idade, chegando a prevalências maior que 60% em pesso-
elevados de pressão arterial sistólica (PAS) e/ou diastóli- as com idade superior a 60 anos (WILLIAMS et al., 2018)
ca (PAD), decorrentes de modificações estruturais e/ou Nos Estados Unidos da América, a prevalência,
funcionais de órgãos, como coração e rins, e alterações observada por meio da pesquisa NHANES (National
metabólicas (SBC, 2016). A pressão arterial é a força Health and Nutrition Examination Survey - Pesquisa
contra as artérias que transportam o sangue do coração Nacional sobre Exame de Saúde e Nutrição, 2005-2008),
para as células corporais, sendo mediada pelo débito foi de 29,9%, e as características associadas às maiores
cardíaco (quantidade de sangue bombeada pelo cora- prevalências de HA foram: homens, adultos mais velhos
ção e frequência de batimentos do coração) e resistência com idade maior ou igual a 65 anos, menor nível de es-
encontrada nas artérias. A definição da pressão arterial colaridade e renda familiar, com diabetes e incapacidade
sistólica (PAS) reside na pressão da artéria no momento para o trabalho (CDC, 2011).
em que o sangue foi bombeado pelo coração, enquanto Como apresentado pela 7ª Diretriz Brasileira de
que a pressão arterial diastólica (PAD) é definida pela Hipertensão Arterial, a prevalência no território brasi-
pressão da artéria no momento em que o coração está leiro de HAS varia de acordo com as características da
relaxado após uma contração. população estudada e do método de avaliação. Picon et
Portanto, a HA é uma condição clínica, que tem ori- al. (2012) realizaram uma meta-análise de 40 estudos
gem multifatorial e se caracteriza pela elevação sustentada transversais e de corte com amostra brasileira de 1980
dos níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg (SBC, 2016). a 2010. Os resultados mostraram uma tendência à dimi-
Pessoas com HA não controlada apresentam maiores nuição da prevalência em 6% nas últimas três décadas,
chances do risco de desenvolver doença cardiovascular, embora ainda se aproxime de 30%.
87
Nesse sentido, nos resultados do estudo ELSA-Bra- No VIGITEL, com base na pergunta “Algum médico
sil que incluiu 15.103 servidores públicos de seis capitais já lhe disse que o(a) Sr.(a) tem pressão alta?” foi estimada
brasileiras, foi utilizado para estimar a prevalência de a prevalência de HA em adultos brasileiros. Neste estudo
HA medida objetivamente. No estudo, foi encontrado de vigilância, foi encontrado a frequência de adultos que
prevalência em 35,8% de HA, sendo que os homens de- referiram diagnóstico médico de HA entre 15,9% em
monstraram maior predomínio comparado às mulheres São Luís e 31,2% no Rio de Janeiro, com variações signi-
(40,1% vs 32,2%). ficativas entre os sexos e as regiões brasileiras, conforme
apresentadas nas Figuras 3 e 4 (BRASIL, 2019).
Descrição da Imagem: gráfico de barras indicando a prevalência de adultos homens com HA nas capitais do país, sendo Porto Velho a capital com
menor incidência e Campo Grande a maior, em porcentagens.
40
35
30
27
26 26
24
25 23 23 24
21 22 22
% 20 20 20 21 21 21 21 21 21
19 19 19 19 19 19
20
16
15
15
10
Campo Grande
Teresina
Distrito Federal
Natal
Aracaju
Porto Velho
São Paulo
Vitória
Palmas
Curitiba
Boa Vista
Rio Branco
Fortaleza
Cuiabá
Salvador
São Paulo
Recife
João Pessoa
Rio de Janeiro
Porto Alegre
Florianópolis
Belém
Belo Horizonte
Maceió
Macapá
Manaus
Goiânia
Figura 3 - Percentual de homens (≥ 18 anos) que referiram diagnóstico médico de hipertensão arterial (HA), nas capitais brasileiras e Distrito Federal
Fonte: Brasil (2019, p. 88).
88
EDUCAÇÃO FÍSICA
Descrição da Imagem: gráfico de barras indicando a prevalência de adultos mulheres com HA nas capitais do país, sendo São Luís a capital com
menor incidência e Rio de Janeiro a maior, em porcentagens.
40
35
35
30
29 29 30
30
26 27 27 27 27
26 26
24 25 25 25
25 23 23 23 23 24
22 22
21
%
20 18 18
16
15
10
Campo Grande
Distrito Federal
Natal
Aracaju
São Luís
Boa Vista
Palmas
Porto Velho
Fortaleza
Curitiba
Rio Branco
Cuiabá
Cuiabá
João Pessoa
São Paulo
Recife
Vitória
Rio de Janeiro
Porto Alegre
Belém
Florianópolis
Goiânia
Belo Horizonte
Belo Horizonte
Maceió
Macapá
Figura 4 - Percentual de mulheres (≥ 18 anos) que referiram diagnóstico médico de hipertensão arterial (HA), nas capitais brasileiras e Distrito Federal Manaus
Fonte: Brasil (2019, p.88).
Embora essa abordagem seja alvo de críticas e limita- tos socioeconômicos elevados. Contudo dados do do
ções, o diagnóstico médico referido é utilizado também Sistema Único de Saúde (SUS) demonstram significa-
em outros estudos de abrangência nacional, como no tiva redução da tendência de internação por HA, de
Center of Disease of Control and Prevention (Centro 98,1/100.000 habitantes em 2000 para 44,2/100.000
de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Uni- habitantes em 2013. As taxas históricas de hospi-
dos da América. Vale ressaltar que os valores estimados talização por doenças cardiovasculares por região
pelo VIGITEL (BRASIL, 2019) foram semelhantes aos são apresentadas na Figura 5, elas mostram a redu-
estudos que realizaram o diagnóstico objetivo, a partir ção para HA e manutenção da redução para aciden-
da medida da pressão arterial. tes vascular encefálicos, ainda que indique aumento
As doenças cardiovasculares são responsáveis por das internações por doenças isquêmicas do coração
elevada frequência de internações e promovem cus- (MALACHIAS et al., 2016).
89
Descrição da Imagem: gráfico de barras indicando taxas de variação das doenças DH, DIC, AVE nas diferentes regiões do país.
2010
Geral 2011
2012
2010
Norte 2011
2012
2010
Nordeste 2011
2012
2010
Sudeste 2011
2012
2010
Sul 2011
2012
2010
Centro-Oeste 2011
2012
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
DH DIC AVE
Figura 5 - Evolução da taxa de internações por 10.000 habitantes no Brasil por região entre 2010 e 2012 (DH: doenças hipertensivas. DIC: doenças
isquêmicas do coração. AVE: acidente vascular encefálico) / Fonte: SBC (2016).
90
EDUCAÇÃO FÍSICA
91
Fechado aberto
células
O DM1 é também conhecido como diabetes insulino- DM1 ocorre principalmente em crianças, adolescente e
-dependente, devido à necessidade de doses sintéticas e adultos jovens até 30 anos e os principais sinais e sinto-
exógenas de insulina. Isso ocorre porque as células de mas são sede, fome, vontade de urinar em excesso, fadi-
defesa do próprio organismo atacam as células β pan- ga, lentidão no processo de cicatrização de ferimentos e
creáticas em um processo auto-imune, que acarreta a visão turva (MARASCHIN et al., 2010; NIH, 2008).
produção insuficiente de insulina ao indivíduo; entre- O DM2 é a forma mais comum de Diabetes Meli-
tanto também pode ser de origem idiopática (sem causa to e acomete principalmente adultos e idosos, apesar de
definida ou conhecida) (MARASCHIN et al., 2010). O ser cada vez mais frequente em crianças e adolescentes,
92
EDUCAÇÃO FÍSICA
93
DOENÇA CARDIOVASCULAR
As doenças cardiovasculares são mais precoces e mais frequentes em
indivíduos com DM, como é o caso da hipertensão arterial, que deve
ter seu controle intensificado neste caso. Além disso, a dislipidemia
(elevação de colesterol e triglicerídeos no plasma sanguíneo)
também é outro fator que aparece com mais frequência em
pacientes com DM, o que contribui para a manifestação da doença
arterial coronariana.
RETINOPATIA DIABÉTICA
É a principal forma de cegueira irreversível no Brasil e é classificada
em não-proliferativa e proliferativa. Na sua forma não-proliferativa,
causa visão embaçada devido ao edema macular que pode ser
tratado e o quadro revertido. Após algum tempo, desenvolve-se a
forma proliferativa da doença, que pode desencadear em
hemorragia vítrea, descolamento da retina e glaucoma.
NEFROPATIA DIABÉTICA
O alto nível de açúcar no sangue sobrecarrega a atividade de
filtração dos rins, o que acarreta em perda de moléculas de proteína
na urina, que em outra situação seriam utilizadas pelo organismo. A
evolução desse quadro consiste em síndrome nefrótica e
insuficiência renal, o que leva o indivíduo à necessidade de realizar
hemodiálise e até transplante, em casos mais graves.
NEUROPATIA DIABÉTICA
Trata-se de uma lesão neural devido à glicemia elevada, que pode se
manifestar por meio de alguns sinais como sensação de queimação,
cãimbras, agulhadas, formigamentos, fraqueza, dor, dificuldade na
percepção do calor e do frio. Estes sinais podem se ocorrer em
repouso, com exacerbação à noite e melhora com movimentos.
PÉ DIABÉTICO
É uma complicação do DM que ocorre a partir de uma ferida ou
machucado que pode evoluir à úlcera devido à neuropatia e má
circulação, no qual em níveis graves, pode levar à amputação de
extremidades.
94
EDUCAÇÃO FÍSICA
95
crônico e elevado de álcool, dislipidemias, diabetes dismo ou hipertireoidismo e doença da artéria aorta
não controlada, sedentarismo e genética (MALA- (CHIANG et al., 2010).
CHIAS et al., 2016; SBC, 2016; CHIANG et al., 2010). Em longo prazo, a HA não controlada danifica os
Todavia a HA pode originar-se, também, de causas vasos sanguíneos, prejudicando a circulação sistêmi-
secundárias como patologias relacionadas aos rins, ca ofertada aos tecidos e acarreta sérias consequên-
disfunções endócrinas que ocasionam em hipotireoi- cias ao organismo:
Arritmias.
Insuficiência cardíaca.
96
EDUCAÇÃO FÍSICA
Diagnóstico do diabetes
melito e da hipertensão arterial
O diagnóstico do diabetes melito e da hipertensão ar- percebidos pelos indivíduos acometidos e, por isso, é con-
terial é extremamente importante, dada que ambas as siderado uma doença silenciosa. Por este motivo, muitas
condições de agravo à saúde são silenciosas e crônicas, pessoas não sabem que possuem DM, o que pode acarre-
levando muito tempo para manifestar sintomas clíni- tar em complicações graves devido a presença silenciosa
cos relevantes. Portanto, é fundamental aprender como da doença por muito tempo. Neste sentido, consultas e
ocorre o diagnóstico destas doenças crônicas. exames periódicos são fundamentais e capazes de iden-
tificar um estado de risco aumentado para o desenvolvi-
DIABETES MELITO mento de DM2, que é conhecido como pré-diabetes.
Em uma condição de pré-diabetes, os níveis de gli-
Na maioria das vezes, o DM não apresenta muitos sinais cemia são superiores ao normal, mas ainda não repre-
e sintomas evidentes, ou seus sintomas podem não ser sentam valores suficientes para o diagnóstico de DM;
97
contudo é considerado um sinal de alerta e uma condi- de Diabetes (ADA, 2020) e têm sido utilizados em
ção que ainda pode ser revertida. todo o mundo com o objetivo de prevenir as compli-
Os parâmetros para diagnóstico da pré-diabetes cações decorrentes da doença, utilizando os seguin-
e DM foram definidos pela Associação Americana tes métodos:
Figura 8 - Infográfico método para diagnóstico de pré-diabetes e DM / Fonte: adaptada de ADA (2020).
Os critérios de diagnóstico de pré-diabetes e DM podem ser verificados no quadro abaixo (quadro 3):
Glicemia em jejum Teste de Tolerância Teste de Hemoglobina Glicemia casual (com
de 8 horas Oral à Glicose Glicada (A1C) sintomas clássicos)*
Glicemia normal ≤ 100 mg/dL ≤ 140 mg/dL ≤ 5,7 % -
≥ 100 mg/dL e ≥ 140 mg/dL e ≥ 5,7 % e
Pré-diabetes -
≤ 125 mg/dL ≤ 199 mg/dL ≤ 6,4 %
Diabetes Melito ≥ 126 mg/dL ≥ 200 mg/dL ≥ 6,5 % ≥ 200 mg/dL
* Glicemia medida a qualquer momento do dia, considerando um paciente com sintomas clássicos de hiperglicemia ou em crise hiperglicêmica.
Quadro 3 - Critérios de diagnóstico da diabetes em função dos valores de glicemia (mg/dL), ADA, 2020 / Fonte: adaptada de ADA (2020).
98
EDUCAÇÃO FÍSICA
PREPARAÇÃO PRÉVIA À MEDIDA DA PRESSÃO ARTE- Se os batimentos persistirem até o nível zero,
RIAL determinar a PAD no abafamento dos sons
11
(fase IV de Korotkoff) e anotar valores da PAS/
Paciente deve estar em repouso 3 a 5 minutos
1 PAD/zero.*
antes da aferição.
Realizar pelo menos duas medições, com
Paciente não deve conversar ou se movimen-
intervalo em torno de um minuto. Medições
tar durante o exame assim como não deve
2 12 adicionais deverão ser realizadas se as duas
ter realizado exercício físico nos últimos 60
primeiras forem muito diferentes. Caso julgue
minutos.
adequado, considere a média das medidas.
Posicionamento do paciente:
Medir a pressão em ambos os braços na pri-
Sentado, com pernas descruzadas e pés
13 meira consulta e usar o valor do braço onde
apoiados no chão.
foi obtida a maior pressão como referência.
3 Dorso encostado na cadeira e relaxado.
Braço posicionado na altura do coração, Anotar os valores exatos sem “arredondamen-
14
apoiado, com a palma da mão voltada para tos” e o braço em que a PA foi medida.
cima. * Itens realizados exclusivamente na técnica auscultatória. PAS: pressão
arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; mmHg: milímetros de
PASSO A PASSO DA MEDIDA DA PRESSÃO ARTERIAL
mercurio.
Determinar a circunferência do braço e sele- Quadro 4 - Etapas para a Medição da Pressão Arterial
1 cionar o manguito de tamanho adequado ao Fonte: adaptado de MALACHIAS (2016).
braço do indivíduo.
Colocar o manguito sem deixar folgas, 2 a 3 Os valores fisiológicos e normais de PA, conhecidos
2
cm acima da fossa cubital. como condição de normotensão, são medidas menores
Centralizar o meio da parte compressiva do ou iguais a 120/80 mmHg para PAS e PAD, respectiva-
3
manguito sobre a artéria braquial.
mente. Valores considerados aceitáveis são até <130/85
Estimar o nível da PAS pela palpação do pulso
4 mmHg. A Hipertensão Arterial (HA) estágio I é consi-
radial.*
derada quando ≥140/90 mmHg são obtidos em, pelo
Palpar a artéria braquial na fossa cubital e co-
5 locar a campânula ou o diafragma do estetos- menos, três aferições em dias diferentes. A HA estágio 2
cópio sem compressão excessiva.* e 3 possuem valores de PAS e PAD entre 160-179 e 100-
Inflar rapidamente até ultrapassar 20 a 30 109 mmHg e ≥180 e ≥110, respectivamente.
6 mmHg o nível estimado da PAS obtido pela Em termos gerais, essa informação é muito impor-
palpação.*
tante para o profissional de Educação Física estabelecer
Proceder à deflação lentamente (velocidade
7 os níveis de intervenção segura com exercício físico ou
de 2 mmHg por segundo).*
mesmo contraindicar qualquer prática de atividade físi-
Determinar a PAS pela ausculta do primeiro
8 som (fase I de Korotkoff) e, após, aumentar ca. No tratamento não medicamentoso da HA, a aborda-
ligeiramente a velocidade de deflação.* gem multiprofissional é recomendada sempre que pos-
Determinar a PAD no desaparecimento dos sível e inclui o profissional da educação física, que deve
9
sons (fase V de Korotkoff).* estar apto a trabalhar em equipe, reconhecendo os seus
Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do limites de atuação e compartilhando informações clíni-
último som para confirmar seu desapareci-
10 cas (SBC, 2016; SILVA et al., 2010).
mento e, depois, proceder à deflação rápida e
completa.*
99
100
EDUCAÇÃO FÍSICA
e habilidades no monitoramento da glicemia e na mu- bagismo e controle do estresse (psicoterapia, yoga, “tai chi
dança do estilo de vida. O segundo aspecto trata-se da chuan” etc.) (MALACHIAS et al., 2016; KOHLMANN et
prevenção de complicações crônicas, por meio de inter- al., 1999). Neste sentido, ressalta-se a importância da aten-
venções preventivas metabólicas e cardiovasculares; e ção à saúde numa abordagem multiprofissional.
na detecção e tratamento das complicações crônicas do A partir do momento em que evidencia-se a ne-
DM (BRASIL, 2006; MILECH et al., 2016). cessidade de tratamento medicamentoso para a HA, o
Para tanto, é necessário manter uma alimenta- paciente deve ser orientado quanto à importância do
ção saudável, prática regular de atividades físicas, uso contínuo dessas medicações bem como o eventu-
evitar o fumo e manter parâmetros clínicos envolvi- al ajuste de doses, troca ou associação de fármacos. Os
dos no cenário adequados : glicemia em jejum, he- anti-hipertensivos comumente utilizados são os diuré-
moglobina glicada, triglicerídeos, colesterol e pres- ticos, inibidores adrenérgicos, vasodilatadores diretos,
são arterial (BRASIL, 2006; MILECH et al., 2016). inibidores da enzima conversora da angiotensina, anta-
gonistas dos canais de cálcio e antagonistas do receptor
HIPERTENSÃO ARTERIAL da angiotensina II.
No III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arte-
O tratamento não medicamentoso da HA tem como rial, realizado em 1998, foi definida a decisão terapêu-
meta a mudança no estilo de vida que propicie a redu- tica para HA baseada na estratificação de risco e nos
ção da pressão arterial; abrange o controle de peso, terapia níveis de pressão arterial, verifique a seguir, na Tabela 1
nutricional, prática de atividades físicas, abandono do ta- (KOHLMANN, 1999):
101
102
EDUCAÇÃO FÍSICA
Os benefícios do exercício físico regular para in- contínua. Devem-se enfatizar as atividades que utili-
divíduos com DM tipo II e pré-diabetes impactam di- zem os grandes grupos musculares de modo rítmico e
retamente no quadro clínico e evolução da doença. Os contínuo. Além disso, devem ser levados em conside-
benefícios incluem a melhora da intolerância à glicose, ração os interesses pessoais e objetivos desejados para
o aumento da sensibilidade à insulina e a diminuição o programa de exercícios do paciente com DM. Em
da hemoglobina glicosilada que tem como reflexo a termos de progresso do programa, a maximização do
otimização da homeostase do metabolismo dos carboi- gasto energético sempre será grande prioridade; por-
dratos (MILECH et al., 2016). Em indivíduos com DM1 tanto, deve-se aumentar progressivamente a duração
e naqueles com DM2 que utilizam insulina exógena, dos exercícios. Conforme os indivíduos aumentam o
o exercício físico regular impõe adaptações orgânicas seu condicionamento físico, pode ser desejável adi-
que reduz as necessidades de administração de insulina cionar exercícios de maior intensidade para promover
exógena (ACSM, 2016). Além disso, ocorre simultane- adaptações benéficas (ACSM, 2016).
amente a redução dos fatores de risco para doença car- Adicionalmente, o exercício resistido deve ser en-
diovascular como a melhora no perfil lipídico, redução corajado quando não houver contraindicações, como a
da pressão arterial e peso corporal, além da otimização retinopatia e os tratamentos, utilizando cirurgia a laser,
da capacidade funcional de pessoas com DM. consideradas complicações comuns nos pacientes com
As recomendações do American College of Sports DM avançada. Embora as orientações sejam semelhan-
Medicine (ACSM) para a prescrição de exercícios físicos tes aos indivíduos saudáveis (frequência em 2 a 3 dias.
aeróbicos e resistidos ao indivíduo com DM se suportam semana-1; exercício de cada grande grupo muscular;
nos princípios FITT (ACSM, 2016). Deve-se lembrar de intensidade 60 a 70% 1-RM; 8 a 12 repetições em 2 a
que os princípios FITT se referem à frequência, intensi- 4 séries), pode ser necessário algumas adaptações in-
dade, tipo, tempo da sessão de exercícios. Um programa dividuais devido a presença de comorbidades. Existem
de exercícios para pessoas com DM deve incluir exer- evidências, sugerindo que a combinação dos exercícios
cícios aeróbios e resistidos. A seguir, serão descritos os aeróbicos e resistidos melhora o controle da glicemia
parâmetros da sessão de cada tipo de exercício. comparado às mesmas modalidades aplicadas de forma
Na prescrição de exercícios aeróbicos, a frequên- isolada (ACSM, 2016).
cia de exercícios na semana pode variar de 3 a 7 dias, A prescrição do exercício em pessoas com DM exi-
enquanto que a intensidade corresponde de 40 a <60% ge algumas considerações especiais. A hipoglicemia é o
do consumo máximo de oxigênio ou da frequência problema mais sério e de maior complicação para indi-
cardíaca de reserva (ou 11 a 13 da percepção subjeti- víduos com DM, exercitar-se, portanto, é uma preocu-
va de esforço). Pode ser alcançado um controle melhor pação principalmente para indivíduos que administram
da glicemia com intensidades superiores (>60%), de insulina exógena ou tomam medicamentos hipoglice-
modo que indivíduos em exercícios regulares pode-se miantes que aumentam a secreção da insulina (ACSM,
considerar aumentar a intensidade. O tempo de uma 2016). A hipoglicemia, considerada quando < 70 mg.
sessão de exercício físico é de 20 a 60 minutos, consi- dL-1, é relativa, podem ocorrer quedas rápidas sem
derando blocos de no mínimo 10 minutos de atividade sintomas ou o indivíduo apresentar tremores, fraqueza,
103
suor anormal, nervosismo, ansiedade, formigamento na cardíaca e pressão arterial. Nesses casos, deve-se: (1) mo-
boca e nos dedos e fome. Os sintomas neuroglicopêni- nitorar os sinais e sintomas de hipoglicemia, de isquemia
cos incluem a dor de cabeça, distúrbios visuais, confusão silenciosa (encurtamento da respiração ou dor nas cos-
mental, convulsões e coma. A hipoglicemia ainda pode tas); (2) monitorar a pressão arterial antes e após o exer-
ocorrer de modo atrasado e aparecer em até 12 horas cício para administrar a hipotensão e hipertensão asso-
após o exercício (ACSM, 2016). ciadas ao exercício; (3) avaliar a percepção subjetiva de
Portanto, o monitoramento da glicemia, antes da esforço. No caso de neuropatia periférica (pé diabético),
sessão de exercício e horas após o exercício findar, pare- o cuidado deve ser com os pés para evitar a ulceração du-
ce ser prudente, ainda mais pela escassez de informações rante o exercício, para isto recomenda-se utilizar de calça-
sobre o efeito combinado de exercícios e hipoglicemian- dos e meias confortáveis. Para indivíduo com nefropatia,
tes. Assim, o ajuste do consumo de carboidratos e / ou embora não haja evidências sobre aceleração da taxa de
medicamentos, antes e após o exercício com base nos va- progresso da doença renal em função da intensidade vi-
lores de glicemia e de intensidade do exercício, é neces- gorosa, é prudente aplicar intensidades moderadas.
sário para evitar a hipoglicemia. Por todas essas razões Em linhas gerais, a prática regular de exercícios físicos
supracitadas que visam reduzir os eventos de hipoglice- contribui para o controle glicêmico, assim como auxilia
mia, a supervisão dos exercícios por um profissional de para uma maior sensibilidade da insulina nos receptores
Educação Física, qualificado no trabalho com este grupo das células. Associado a um estilo de vida ativo, uma ali-
especial, é fundamental. mentação equilibrada é fundamental, esses aspectos pos-
No outro extremo, a hiperglicemia é uma preocu- sibilitam a manutenção não somente da glicemia corpo-
pação para os indivíduos com DM tipo II que não tem ral, mas o nível de gordura corporal (ADA, 2010).
controle glicêmico. Os sintomas comuns associados à
hiperglicemia incluem a poliúria (urina frequentemente HIPERTENSÃO ARTERIAL
“adocicada”), fadiga, fraqueza, sede exacerbada e hálito
cetônico. Pessoas com hiperglicemia, desde que se sin- A prática regular de atividade física pode ser benéfi-
tam bem e não apresentem corpos cetônico no sangue ca tanto na prevenção quanto no tratamento da HA,
ou urina, podem se exercitar; porém deve-se avaliar a reduzindo ainda a morbimortalidade cardiovascular
sua glicemia frequentemente e evitar o exercício vigoro- (MALACHIAS et al., 2016). Ao tratar de pessoas que
so até que percebam a glicemia diminuir. A desidratação possuem diagnóstico de HA, a literatura demonstra que
resultante da poliúria pode prejudicar a resposta ter- sessões de exercícios físicos possuem potencial efeito hi-
morregulatória. Indivíduos com DM tipo II e que apre- potensor da pressão arterial, isto sugere que o exercício
sentaram retinopatia estão em risco de descolamento deva ser considerado no manejo destes pacientes.
da retina e hemorragia vítrea associada ao exercício de Classicamente, vários ensaios clínicos controlados
intensidade vigorosa. Para minimizar este risco pode se demonstraram um efeito hipotensor dos exercícios ae-
utilizar de exercícios que não causem elevação significa- róbios, que podem ser complementados pelos resistidos,
tiva da pressão arterial. sobre as reduções de PA, estando indicados para a pre-
A neuropatia autonômica pode causar incompetên- venção e o tratamento da HA (MALACHIAS et al., 2016;
cia cronotrópica a atenuar os incrementos da frequência ACSM, 2016). O exercício físico aeróbico leva a reduções
104
EDUCAÇÃO FÍSICA
da pressão arterial de repouso 5 a 7 mmHg, como efei- tendo em vista a modificação no diâmetro dos vasos e
to agudo e crônico em pessoas com HAS, com reduções associados à diminuição da atividade nervosa simpática
permanecendo em até 22 horas depois do exercício (PES- - que atua na vasoconstrição dos mesmos, considerando
CATELLO et al., 2004). Esses valores também ficam re- esta uma notável adaptação positiva em hipertensos ao
duzidos em cargas submáximas de esforço como uma exercício físico (PESCATELLO et al., 2004).
adaptação orgânica crônica ao exercício (ACSM, 2016). O A prescrição do exercício físico pelo ACSM é orien-
efeito hipotensor do exercício físico aeróbico também foi tada por princípios que incluem a frequência, intensida-
observado em meta-análise de 54 estudos clínicos rando- de, tempo, tipo volume e progressão – princípio FITT
mizados, em que se observou uma redução de 3,84 e 2,58 (ACSM, 2016). Para a pessoa com HA, o ACSM reco-
mmHg na PAS e PAD, respectivamente (WHELTON et menda exercícios aeróbicos e de resistidos. O exercício
al., 2002). A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), na aeróbico podem ser praticados, preferencialmente, to-
sua 7ª Diretriz de Hipertensão Arterial, recomenda o trei- dos os dias da semana, sendo que os exercícios resistidos
namento aeróbico como forma preferencial de exercício podem ter frequência de 2 a 3 dias na semana. A inten-
para a prevenção e o tratamento da HA. sidade do exercício aeróbico deve ser moderada (40 a
Há certa controvérsia sobre os resultados do exercí- 60% do consumo máximo de oxigênio ou frequência
cio resistido sobre a pressão arterial. Segundo a SBC, o cardíaca de reserva; ou de 11 a 13 na percepção subjetiva
exercício resistido reduz a pressão arterial de pré-hiper- de esforço). O exercício resistido pode ser suplementa-
tensos, mas não tem em hipertensos (MALACHIAS et do em intensidade de 60 a 80% de 1-RM. O tempo de
al., 2016) . Porém poucos estudos randomizados e con- atividade de uma sessão deve ser entre 30 a 60 minutos,
trolados foram desenvolvidos com esse tipo de exercício realizados de exercício aeróbico, de forma contínua ou
na HA. Em uma revisão, encontrou-se que o exercício fí- intermitente, neste último, deve-se acumular no mínimo
sico resistido dinâmico e isométrico promoveu redução 10 minutos para atingir o total diário.
na PAS de 1,8 e 10,9 mmHg, respectivamente, enquanto O exercício resistido deve consistir em, pelo menos,
que na PAD reduções semelhantes foram observadas uma série de 8 a 12 repetições para cada um dos princi-
(3,2 e 6,2 mmHg) (CORNELISSEN; SMART, 2013). pais grupos musculares. O exercício aeróbico deve ser
Os mecanismos responsáveis pela redução da pressão o principal tipo, como caminhadas, corridas, ciclismo e
arterial como efeito crônico do exercício aeróbio estão as- natação. O exercício resistido, utilizando equipamentos
sociados às modificações estruturais, vasculares e neuro- com carga ou carga livre, deve suplementar o programa
-humorais bem como pela redução síntese de catecolami- de exercícios aeróbicos. A progressão do exercício físi-
nas e da resistência periférica, concomitante ao aumento co aeróbico deve ser gradual no volume com ajustes da
da sensibilidade à insulina e agentes vasodilatadores e ar- duração, frequência e/ou intensidade, porém deve ser
térias (PESCATELLO et al., 2004). A redução da pressão levado em consideração o nível de controle da pressão
arterial de forma sustentada em consequência do exer- arterial, alterações na terapia medicamentosa anti-hi-
cício físico é mediada pelo débito cardíaco e resistência pertensiva, nos efeitos colaterais dos medicamentos, na
periférica; contudo esse último componente parece ser o presença de doenças em órgãos-alvo e outros comorbi-
responsável primário pela diminuição da pressão arterial, dades e os ajustes devem ser feitos de acordo. A progres-
105
106
considerações finais
107
atividades de estudo
2. Vimos que são muitos os fatores que expõem o indivíduo ao maior risco de
desenvolver doenças. Nesse sentido, considere os fatores de risco envolvidos
no desenvolvimento da DM e HA e assinale a resposta correta .
I. Os principais fatores de risco para o desenvolvimento HA são o envelhecimen-
to, excesso de peso e obesidade, consumo excessivo de sódio, consumo crô-
nico e elevado de álcool, dislipidemias, diabetes não controlada, sedentarismo
e genética.
II. Causas secundárias como patologias relacionadas aos rins, disfunções endó-
crinas que ocasionam em hipotireoidismo ou hipertireoidismo e doença da
artéria aorta podem causar HA.
III. O DM2 está associado à hereditariedade, sedentarismo, dietas ricas em gor-
duras, obesidade e envelhecimento.
IV. Diagnóstico de pré-diabetes, hipertensão arterial, colesterol alto ou alterações
na taxa de triglicérides no sangue, doenças renais crônicas, diabetes gestacio-
nal, síndrome de ovários policísticos, uso contínuo de medicamentos da classe
dos glicocorticóides aumentam a chance de DM.
Assinale a alternativa correta:
a. Apenas, I e II estão corretas.
b. Apenas, II e III estão corretas.
c. Apenas, I está correta.
d. Apenas, II, III e IV estão corretas.
e. Todas as alternativas estão corretas.
108
atividades de estudo
109
LEITURA
COMPLEMENTAR
110
LEITURA
COMPLEMENTAR
Tal estresse gerado pela pratica regular de exercício físico, produz algumas alterações
morfofuncionais no organismo também conhecidas como efeitos crônicos do exercício,
a fim de adaptar o individuo a situação ao qual está sendo submetido (GHORAYEB,
1999). Uma das principais adaptações que o exercício físico promove, podem ser
observadas no tecido muscular que sofre um aumento de sua secção transversa deno-
minado “hipertrofia”. Sendo acompanhada de alguns fenômenos como aumento nos
estoques de glicogênio, aumento do número e tamanho das miofibrilas, maior quanti-
dade de água dentro das fibras, maior capacidade da via oxidativa, que é refletida por
incrementos na densidade mitocondrial e na atividade máxima de enzimas do processo
mitocondrial de respiração celular, aumento da vascularização e capilarização (RAMOS,
2000). Estas adaptações reduzem a resistência vascular melhorando o fluxo sangüíneo
e ocasionado um maior transporte de glicose e lipídios para o metabolismo dos tecidos,
e ainda potencializando a ação da insulina devido o aumento da proteína quinase AMP-
-ativada (AMPK) fosforilada apontada como mediadora da estimulação da captação de
glicose induzida pela contração muscular. Alguns defeitos ou desusos (sedentarismo)
do sistema de sinalização da AMPK poderiam resultar em muitas das perturbações do
(DMNID). Onde o aumento da ultilização desta via de sinalização AMPK por exercícios
poderia ser efetivo em corrigir a resistência à insulina (GAZOLA, 2001).
Além de melhorar o transporte e captação de insulina os exercícios tanto aeróbicos
quanto os resistidos, promovem um aumento do metabolismo basal conhecido como
metabolismo de repouso, que é responsável por 60% a 70% do gasto energético total,
contribuindo para a perda de peso, e diminuição do risco de desenvolver diabetes,
hipertensão, e outras doenças (CIOLAC, 2004). A fim de acompanhar e suprir as neces-
sidades de adaptação do tecido muscular, o sistema cardiovascular evolui de forma a
suprir as exigências crescentes (CARNEIRO, 2002), ocasionando uma hipertrofia das fi-
111
LEITURA
COMPLEMENTAR
bras cardíacas, tornando o coração maior e mais forte, melhorando assim a capacidade
contrátil do miocárdio (BIBLIOTECA SAÚDE, 1996).
Esta ação é seguida de um aumento do volume de ejeção, diminuição da freqüência
cardíaca de repouso (bradicardia), decorrente de uma redução do tônus simpático e
um aumento do tônus parassimpático, resultando em uma dilatação arteríola e ve-
nodilatação. (MAUGHAN, 2000), contribuindo para uma queda da pressão arterial sis-
têmica, melhorando a eficácia do sistema circulatório, e gerando um aumento do Vo-
2MÁX.(BIBLIOTECA SAÚDE). O Vo2MÁX é o melhor preditor para o condicionamento
físico (CARPENTER, 2002). FOX & MATHEWS apud HERNANDES JR (2002), relatam que
o treinamento anaeróbio não altera significativamente o Vo2MÁX, enquanto o aeróbio
produz grande aumento do Vo2MÁX. Sendo os exercícios aeróbios superiores no que
diz respeito as adaptações hemodinâmica como maior aumento das câmaras cardíacas
eficácia do sistema de transporte de oxigênio (SANTARÉM 1998).
Basicamente os exercícios resistidos produzem maior hipertrofia das paredes do cora-
ção e menor aumento de câmaras cardíacas, comparativamente aos exercícios aeró-
bios. Sendo esta maior hipertrofia do miocárdio fisiológica produzida pelos exercícios
com pesos, não se acompanhando das complicações da hipertrofia patológica produ-
zida pela hipertensão arterial crônica. As câmaras cardíacas podem aumentar ou não
durante o treinamento resistido, mas nunca diminuem, como pode ocorrer na doença
hipertensiva (SANTARÉM, 1998).
Esta resposta fisiológica do treinamento resistido em promover aumento nas paredes
do miocárdio favorecendo a execução das atividades anaeróbias, sendo que estas es-
tão presentes em grande parte das atividades vinculadas ao cotidiano (ACSM, 2003).
Segundo Silva, a adoção de um estilo de vida não sedentário, calçado na prática regu-
lar de atividade física, encerra a possibilidade de desenvolvimento da maior parte das
112
LEITURA
COMPLEMENTAR
113
material complementar
114
referências
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Guanabara Koogan, 2016.
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115
referências
116
referências
117
gabarito
118
UNIDADE
IV
DISLIPIDEMIAS E SÍNDROME METABÓLI-
CA: DAS DEFINIÇÕES À PRESCRIÇÃO DO
EXERCÍCIO FÍSICO
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Epidemiologia das Dislipidemias e da Síndrome Metabólica
• Etiologia, Fatores de Risco e Consequências à Saúde
• Diagnóstico das Dislipidemias e da Síndrome Metabólica
• Tratamentos das Dislipidemias e da Síndrome Metabólica
• Prescrição do Exercício Físico para Pessoas com
Dislipidemias e/ou Síndrome Metabólica
Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer os conceitos e a epidemiologia das Dislipidemias
e da Síndrome Metabólica.
• Descobrir a gênese e os fatores de risco das Dislipidemias
e da Síndrome Metabólica.
• Utilizar ferramentas de diagnóstico das Dislipidemias e da
Síndrome Metabólica.
• Conhecer os tratamentos das Dislipidemias e da Síndrome
Metabólica
• Utilizar os princípios básicos da prescrição do exercício
físico para pessoas com Dislipidemias e/ou Síndrome
Metabólica
unidade
IV
INTRODUÇÃO
N
esta disciplina, já discutimos sobre os temas obesidade, dia-
betes melito e hipertensão, desde os conceitos, complicações
à saúde e diagnósticos, até a intervenção aplicada ao profis-
sional de educação física. Nesta unidade, abordaremos nova-
mente sobre estes aspectos de forma integrada e adicionaremos o tema
das dislipidemias. Esse aglomerado de fatores de risco cardiovasculares é
descrito como síndrome metabólica.
Inicialmente, conheceremos a epidemiologia das dislipidemias e da
síndrome metabólica, compreendendo o potencial e abrangência dessas
condições crônicas, assim como a interpretação da etiologia, os aspectos
biológicos e bioquímicos básicos também serão revisitados, para a melhor
leitura sobre os fatores de risco aos que estão associados e às potenciais
consequências à saúde.
Veremos também como ocorre o diagnóstico das dislipidemias e da
síndrome metabólica, apesar das divergências de critério e pontos de
corte para a síndrome, muitos avanços na tecnologia de investigação
clínica permitirão, nos próximos anos, a predição precisa das anormali-
dades metabólicas e cardiovasculares.
Os últimos tópicos apresentarão os tratamentos medicamentosos e
não medicamentosos das dislipidemias e da síndrome metabólica, ba-
seados em farmacoterapia e mudanças no estilo de vida, que provocam
benefícios subsequentes na perda e manutenção do peso, assim como
no perfil lipídico. A prescrição do exercício físico para pessoas com dis-
lipidemias e/ou síndrome metabólica se suporta na manipulação dos
princípios FITT-VP, assumindo mais atenção aos cuidados relaciona-
dos às múltiplas complicações crônicas que podem estar presentes no
mesmo indivíduo.
124
EDUCAÇÃO FÍSICA
mia como alterações no metabolismo de lipídios que mias. Contudo, alguns de larga abrangência podem nos
repercutem nos níveis séricos de lipoproteínas. dar a luz de heterogeneidade existente.
Na perspectiva fisiológica e clínica, os lipídios que De acordo com o Observatório de Saúde Global, da
têm maior significado e relevância biológica são os fos- Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2008, a preva-
folípides, o colesterol total e frações (principalmente, lência global de colesterol total elevado entre adultos foi
lipoproteína de colesterol de baixa densidade [LDL-c] de 39% (37% para homens e 40% para mulheres). Global-
e de alta densidade [HDL-c]), os triglicérides (TG) e os mente, o colesterol total médio mudou entre 1980 e 2008,
ácidos graxos (AG) (XAVIER et al., 2013). O papel de caindo menos de 38,0 mg/dL por década em homens e
cada um deles na interação do metabolismo lipídico e na mulheres. Dados da OMS revelam que a prevalência de
contribuição no processo de desenvolvimento de doen- colesterol total elevado foi mais alta na região da Europa
ça cardiovascular será aprofundado no próximo tópico. (cerca de 54%), seguida pela região das Américas (cer-
A prevalência de dislipidemia irá variar de acordo ca de 48%). Enquanto que a região Africana e sudeste
com o analito em questão, ou seja, variações genéticas e da Ásia apresentaram os menores percentuais (22,6% e
fenotípicas que podem influenciar o TG, colesterol total 29,0%, respectivamente) (OMS, [2020], on-line)1. De for-
(CT) e as suas frações (HDL-c e LDL-c) determinarão ma geral, a Figura 1 demonstra a prevalência de colesterol
ampla variação na prevalência e incidência de dislipide- total elevado em diferentes regiões no mundo.
Descrição da Imagem: A imagem apresenta o mapa global, enfatizando em diferentes cores a prevalência de colesterol elevado, sendo que o norte
da europa e europa central possuem os maiores valores, seguido do leste europeu, américa do norte e Austrália.
Figura 1 - Prevalência de colesterol total elevado (>= 5.0 mmol/L 90 mg/dL) em pessoas com idade superior a 25 anos, padronizado por idade, de
ambos o sexos / Fonte: Organização Mundial da Saúde (2011, on-line)2.
125
126
EDUCAÇÃO FÍSICA
Em estudo recente da população brasileira (59.402 a complexidade da logística do estudo, permite maior
adultos e idosos), da Pesquisa Nacional de Saúde - 2013 abrangência e ainda possui concordância com os valores
(RAMIREZ et al., 2018) identificou uma prevalência de mensurados objetivamente.
8,9% (IC95% 8,4 a 9,5%), sendo maior nas mulheres que Outro dado interessante do mesmo estudo foi a pre-
nos homens (7,5 vs 10,3%, respectivamente). A principal valência do agrupamento de fatores de risco, descritos
limitação do estudo reside no fato de que a diabetes e na Tabela 1. Isto mostra que apenas 23,8% da população
hipercolesterolemia foram autorreferidas e não mensu- não apresenta qualquer um dos componentes da síndro-
radas a partir de amostras de sangue, embora a pressão me metabólica, porém quase 70% apresenta entre um a
arterial e circunferência da cintura tenham sido medi- dois componentes. Embora menos de 10% dos partici-
das. Apesar de não ser a melhor abordagem, o autorre- pantes apresentaram 3 ou mais fatores de risco, é im-
lato de diagnóstico de doenças é uma estratégia comu- portante lembrar que tal agrupamento aumenta muito
mente utilizada em estudos epidemiológicos, pois reduz o risco de doença arterial coronariana.
Total Masculino
Feminino
N = 59.402 N = 25.920
Componentes da Síndro- N = 33.482
me Metabólica
% (IC 99) % (IC 99)
% (IC 99)
127
128
EDUCAÇÃO FÍSICA
tituinte de membrana e influencia a sua fluidez e ativa- celular induzida pelo excesso de lipídios e desregulação
ção de enzimas (NELSON; COX, 2002). lipídica (FONSECA-ALANIZ et al., 2007).
Os TGs são formados por três ácidos graxos liga- As lipoproteínas permitem a solubilização e o trans-
dos ao glicerol, juntos eles constituem uma forma oti- porte dos lipídios - tendo em vista que eles são hidrofó-
mizada de armazenamento de energia importantes no bicos e formam micelas em meio polar como a corrente
organismo, alocados nos tecidos adiposo e muscular, sanguínea (NELSON; COX, 2002). Portanto, as lipopro-
comumente lembrado nas reflexões sobre intensidade e teínas são compostas por lipídios e proteínas denomi-
volume de exercício físico (POWERS; HOWLEY, 2009). nadas apolipoproteínas (Apos). As Apos têm funções no
De forma geral a maioria dos TG de ocorrência natural metabolismo das lipoproteínas desde a formação intra-
são mistos e cerca de 98% dos lipídeos são TG, em uma celular das partículas lipoproteicas (Apo B100 e B48) à
dieta “habitual” (NELSON; COX, 2002). atuação como ligantes a receptores de membrana (Apo
Os ácidos graxos são classificados como saturados B100 e E) ou mesmo cofatores enzimáticos (Apo CII,
(sem duplas ligações entre seus átomos de carbono), CIII e AI). De forma geral, existem quatro grandes clas-
mono ou poli-insaturados, de acordo com o número de ses de lipoproteínas divididos em dois grupos: 1) ricas
ligações duplas na cadeia (NELSON; COX, 2002). Os em TG, maiores e menos densas, representadas pelos
ácidos graxos saturados mais frequentemente presentes quilomícrons, de origem intestinal, e pelas lipoproteínas
em nossa alimentação são: láurico, mirístico, palmítico e de densidade muito baixa (VLDL), de origem hepática;
esteárico (que variam de 12 a 18 átomos de carbono). En- 2) as ricas em colesterol, incluindo as densidade baixa e
tre os ácidos graxos monoinsaturados, o mais frequente alta, como o LDL-c e HDL-c, respectivamente. Embora
é o ácido oleico, que contém 18 átomos de carbono. Ain- existam outras lipoproteínas como a intermediária e “a”,
da há ácidos graxos poli-insaturados, classificados como os papéis no organismo não estão bem definidos (XA-
ômega-3 (eicosapentaenóico, docosahexaenoico e lino- VIER et al., 2013).
lênico) ou ômega-6 (linoleico), de acordo com a presen- O LDL-c tem a função de transportar o colesterol,
ça da primeira dupla ligação (XAVIER et al., 2013). sendo 3/4 do total, até os tecidos corporais. O LDL-c
Os ácidos graxos têm muitas funções no nosso orga- ainda regula a taxa de produção e remoção determinada
nismo, desde a manutenção de energia em forma de TG na concentração no sangue. As dietas contendo alta con-
nos adipócitos (células especializadas em estocar gordu- centração de gordura saturada e colesterol reprimem as
ra), como a providência de energia ao exercício físico, retirada do LDL-c, o que afeta os seus receptores no fí-
além da sinalização celular relacionada à lipotoxicida- gado. Há, também, variantes genéticas no receptor de
de. Portanto, é sensato o raciocínio de que o excesso de LDL-c, que causam redução de sua expressão na mem-
gordura corporal em forma de energia irá permitir uma brana e deformações na sua estrutura e função.
maior quantidade de lipídios circulantes e de processos Enquanto o HDL-c transporta o colesterol das arté-
de sinalização celular entre os órgãos. Assim, o acúmu- rias (tecidos periféricos) até o fígado, em que é captado
lo de TG em células não adipócitos leva à produção de por receptores específicos, isto é frequentemente deno-
ceramidas, que ativa a óxido nítrico sintase induzível e minado “transporte reverso do colesterol”, tem variações
promove apoptose pela ativação do NFkB, ou seja, morte na apolipoproteínas (Apo A-I e Apo A-II), que são im-
129
plicações clínicas importantes. O HDLc faz a remoção à causas genéticas manifestadas em função da influência
de lípides oxidados da LDL-c - moléculas de grande po- ambiental, devido à dieta inadequada e/ou ao elevado
tencial aterogênico. O HDL-c também reduz o proces- comportamento sedentário. As dislipidemias primárias
so aterogênico pela inibição da fixação de moléculas de englobam as hiperlipidemias (de ordem genética, apre-
adesão e monócitos ao endotélio, reduzindo a chance de sentadas no Quadro 1) e hipolipidemias que causam
disfunção endotelial. Além disso, estimula a liberação de diminuição de LDL-C (abetalipoproteinemia e hipobe-
óxido nítrico, importante vasodilatador, que contribui talipoproteinemia) e diminuição de HDL-C (hipoalfa-
para a saúde cardiovascular (WOOLF-MAY et al., 2006). lipoproteinemia e deficiência familiar de apo A) (SAN-
A etiologia das dislipidemias pode ter classificação TOS et al., 2001).
primária e secundária. As primárias são consequências
Nas bases fisiopatológicas das dislipidemias primárias, o nados às doenças cardiovasculares e resulta em quadro
acúmulo de quilomícrons e/ou de VLDL-c na corrente clínico de hipercolesterolemia. Como dislipidemia pri-
sanguínea resulta em hipertrigliceridemia e decorre da mária, o acúmulo de LDL-c pode ocorrer por doenças
diminuição da hidrólise dos TGs destas lipoproteínas monogênicas, por defeito no gene do receptor do LDL-c
pela lipase lipoprotéica (LLP) ou do aumento da síntese ou no gene da Apo B100. Muitas mutações no gene do
de VLDL-c. Isto pode ter origem nas variações genéticas receptor do LDL-c foram detectadas em pessoas com hi-
das enzimas ou apolipoproteínas relacionadas, causando percolesterolemia familiar (XAVIER et al., 2013).
aumento de síntese ou redução da hidrólise. O acúmulo As dislipidemias secundárias vem se tornando mais
de lipoproteínas ricas em colesterol, como a LDL-c, na comum pela maior experiência acumulada na investiga-
corrente sanguínea, é um dos principais fatores relacio- ção etiológica das alterações lipídicas no metabolismo.
130
EDUCAÇÃO FÍSICA
Além disso, o crescimento da população idosa vem se as- medicamentos; e 3) Dislipidemias secundárias a hábitos
sociando a maior frequência de dislipidemias secundá- de vida inadequados que incluem, principalmente, a die-
rias, devido à elevada incidência de comorbidades pre- ta, tabagismo e etilismo (SANTOS et al., 2001). O Qua-
sentes nas faixas etárias mais avançadas. Assim, há três dro 2 resume as dislipidemias secundárias decorrente de
grupos de dislipidemias secundárias: 1) Dislipidemias estilo de vida inadequado, de certas condições mórbidas
secundárias a doenças; 2) Dislipidemias secundárias a ou de medicamentos.
131
As dislipidemias representam um dos principais fatores mento de placas de ateromas na camada médio intimal das
de risco para a doença aterosclerótica, afetando artérias artérias. A hipercolesterolemia, nesse caso, pode ter efeito
de grande e médio porte e, consequentemente, causando primário nos vasos e tônus vascular, bem como promover
isquemia no cérebro, coração ou pernas. Como conse- a disfunção do endotélio, também presente de forma inicial
quência, doença arterial coronariana, com eventos fatais na hipertensão arterial (MARTE; SANTOS, 2007).
e não fatais de infarto no miocárdio e acidente vascular Como definido por alguns pesquisadores, a síndro-
encefálico podem ocorrer. me metabólica é uma constelação de fatores de risco
para doenças cardiovasculares. Este agrupamento inclui
SÍNDROME METABÓLICA a obesidade central (Unidade II), hipertensão arterial e
diabetes melito (Unidade III), e dislipidemias - especifi-
Entre os mecanismos fisiopatológicos envolvidos na gênese camente elevado TG e baixo HDL-c, que ganham com-
da hipertensão e da dislipidemia, sabe-se do compartilha- plexidade nesta unidade. Como principal consequência,
mento de anormalidades metabólicas comuns a ambas as o aglomerado da síndrome metabólica aumenta o risco
condições. Estas alterações podem agir sinergicamente ou de doença arterial coronariana, como demonstrado na
até mesmo acelerar processo de aterogênese - desenvolvi- Figura 2 (HARDMAN; STENSEL, 2009).
Descrição da Imagem: A figura demonstra que a soma de fatores de risco, expresso por barras brancas (homens) ou azuis (mulheres), aumenta o
risco relativo de doenças de cardiovasculares.
8 Homem
Mulher
Risco relativo de doença arterial coronariana
0
0 1 2 3 ou mais
Soma de fatores de risco
Figura 2 - Risco relativo de doença arterial coronariana e soma dos fatores de risco que caracterizam a síndrome metabólica /
Fonte: adaptada de Hardman e Stensel (2009).
O desenvolvimento da doença aterosclerótica é intima- sencialmente, uma doença inflamatória crônica de origem
mente relacionado ao desenvolvimento dos fatores de ris- multifatorial, que acomete a camada médio-intimal das
co, presentes na síndrome metabólica. A aterosclerose é, es- artérias de médio e grande calibre (FALUDI et al., 2017).
132
EDUCAÇÃO FÍSICA
133
Descrição da Imagem: A figura demonstra, através de um fluxograma, as relações causais no processo de saúde-doença, do excesso de ingestão
de energia (comumente observado na obesidade), que passa pelo estresse celular e resistência à insulina (como marcador central da desregulação
metabólica) ao estabelecimento de doença com significado clínico relevante.
Adaptativo
Saúde Depósitos fisiológicos
(hipertrofia dos adipócitos)
Ingestão excessiva
continuada
Aumento translocação de LPS
Estresse Celular Ativação de receptores
de imunidade inata
Ácidos Graxos
Saturados Resistência à Insulina Inflamação tecidual
séricos
aumentados
Consequências clínicas
(doença cardiovascular, diabetes, câncer, etc.)
Figura 3 - Inflamação crônica e resistência à insulina como elementos centrais no desenvolvimento de doenças metabólicas que têm desfechos cardio-
vasculares / Fonte: adaptada de Odegaard e Chawla (2013).
134
EDUCAÇÃO FÍSICA
(RIDKER et al., 2003). Pesquisadores encontraram que eram mais elevados conforme o maior agrupamento
24% do grupo investigado apresentava síndrome me- de componentes da síndrome metabólica, como apre-
tabólica no início do estudo, no qual os níveis de PCR sentado na Figura 4.
Descrição da Imagem: A figura demonstra que a soma dos componentes da síndrome metabólica, expresso por caixas brancas, estão associadas
ao aumento da concentração de proteína C-reativa, considerado um marcador de inflamação relevante para as doenças cardiovasculares,.
(N=170)
(N=1135)
C-reative protein (mg/L)
6 (N=2292)
4 (N=3152)
5.75 mg/L
(N=3884)
2
(N=4086) 3.88 mg/L
3.01 mg/L
1.93 mg/L
0 0.68 mg/L 1.09 mg/L
0 1 2 3 4 5
Numbers os Components of the Metabolic Syndrome
Figura 4 - Distribuição dos níveis de PCR entre 14.719 mulheres de acordo com a presença de componentes da síndrome metabólica /
Fonte: adaprada de Ridker et al. (2003)
135
Como observado, a PCR é marcador útil de inflamação síndrome metabólica, mas continua sendo um marcador
que apresenta valores alterados na presença de componen- importante de risco de eventos cardiovasculares e de atero-
tes isolados e agrupados da síndrome metabólica. Contu- gênese. Adiante, veremos os critérios utilizados para o diag-
do, a medida da PCR não é considerada no diagnóstico da nóstico de dislipidemias e síndrome metabólica.
A Khan Academy traz um vídeo curto que irá ampliar o seu conhecimento
sobre aterosclerose, consolidando aspectos fisiopatológicos e consequên-
cias à saúde das dislipidemias e síndrome metabólica.
https://www.youtube.com/watch?v=WVGMCCNSuW8 .
Para acessar, use o seu leitor de QR Code.
136
EDUCAÇÃO FÍSICA
137
cesso laboratorial: 1) fase pré-analítica, que está relacio- colorimétrico. Para reduzir os custos, a maior parte dos
nada aos procedimentos de coleta de sangue, ao preparo laboratórios realiza a estimativa assumindo a equação de
das amostras ou fatores do indivíduo, como estilo de vida, Friedewald, descrita em 1972, sendo: LDL-c = CT – HDL-
uso de medicamentos e doenças de base; e 2) fase analíti- -c –TG/5. Ainda, o valor de TG/5 é uma estimativa da
ca, que está relacionada aos protocolos, técnicas, equipa- VLDL-c e todas as concentrações são expressas em mg/
mentos e procedimentos utilizados nos laboratórios. Em dL. Deve-se assumir que os valores estimados de LDL-c
termos gerais, ambas há ampla padronização das duas são confiáveis quando os valores de TG estão entre 100 e
etapas, com certa variabilidade nos fatores intrínsecos ao 400 mg/dL (FALUDI et al., 2017). Recentemente, a comu-
indivíduo que podem atingir de 10% para o CT, LDL-c e nidade científica tem estimado também o conteúdo não
HDL-c e 25% para o TG (FALUDI et al., 2017). HDL-c, ou seja, um parâmetro de avaliação das dislipide-
Vale destacar também que para a dosagem de lípi- mias que é produto da subtração do HDL-c dos valores de
des e lipoproteínas não é necessário jejum, pois o esta- CT, sendo: (não HDL-c = CT - HDL-c).
do pós-prandial pouco interfere na concentração destes Devido à portabilidade e possível aplicação no con-
analitos. Assim, recomenda-se manter o estado meta- texto do monitoramento de lípides e lipoproteínas, a
bólico estável e a dieta habitual (FALUDI et al., 2017). microtécnica ou técnica de punção capilar da polpa do
Certamente, os procedimentos de coleta de amostras de dedo deve ser considerada. Esta técnica comumente é
sangue é resguardado como atividade profissional de utilizada de forma remota no acompanhamento das
médicos, enfermeiros e farmacêuticos. dislipidemias no início precoce do tratamento farmaco-
Na fase analítica, propriamente dita, há vários mé- lógico, além de prevenir as consequências das doenças
todos passíveis de dosagem dos lípides e lipoproteínas, cardiovasculares e suas intervenções clínicas, especial-
como a ultracentrifugação, a espectroscopia por resso- mente na hipercolesterolemia familiar (FALUDI et al.,
nância magnética espectroscopia de massas e eletrofore- 2017). Nessa técnica, pode-se dosar diretamente CT, os
se que comumente são utilizados em estudos científicos TG e HDL-c tiras de reagentes, utilizando o sangue to-
(FALUDI et al., 2017). tal de punção capilar, e o resultado é obtido em poucos
Entretanto, o método colorimétrico enzimático tal- minutos. Faludi et al. (2017) indica que são imprescindí-
vez seja o mais amplamente utilizado na rotina laborato- veis a assepsia do dedo com álcool isopropílico 70% e a
rial para a determinação do CT, HDL-c e TG. Atualmente, calibração da pipeta que fará a transferência do material
os valores de lipídeos e lipoproteínas de diferentes labo- biológico para a tira de teste.
ratórios podem ser comparáveis devido à boa correlação A partir da disposição dos valores de lípides e lipopro-
entre os resultados e baixa variação entre eles (FALUDI et teínas, a interpretação pode ser realizada através de distin-
al., 2017). Assim, método colorimétrico enzimático repre- tas referências e pontos de corte. A atualização da Diretriz
senta a melhor opção devido à boa sensibilidade e especi- Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose,
ficidade, simplicidade operacional, baixo custo e possibi- de 2017 (FALUDI et al., 2017), recomenda que os valores
lidade de automação em laboratórios clínicos. de referência e de alvo terapêutico do perfil lipídico em
No caso do LDL-c, existe a opção de realizar um adultos (em jejum e com jejum de 12 horas) estejam indi-
cálculo de estimativa ou a dosagem direta por ensaio cados no exame, como apresentado no Quadro 4.
138
EDUCAÇÃO FÍSICA
139
três dos critérios expostos no Quadro 6, de acordo com Embora alguns critérios de síndrome metabólica
o National Cholesterol Education Program’s Adult Tre- estabelecem a necessidade de incluir a obesidade
atment Panel III (NCEP - ATP III), adotado nos Estados central e resistência à insulina como componen-
Unidos da América. tes fundamentais de caracterização, a definição do
Critério Definição
NCEP-ATP III foi desenvolvida para uso clínico
e não exige estes elementos, facilitando a sua uti-
Obesidade Abdominal
lização. Ainda, apesar de não fazerem parte dos
Homens > 102 cm critérios diagnósticos da síndrome metabólica, al-
Mulheres > 88 cm gumas condições clínicas e fisiopatológicas estão
Dislipidemias associadas a ela, tais como a síndrome de ovários
Triglicérides ≥ 150 mg/dL policísticos, acanthosis nigricans, doença hepática
HDL-c
gordurosa não alcoólica, microalbuminúria, esta-
dos pró-trombóticos, hiperuricemia, estados pró-
Homens < 40 mg/dL
-inflamatórios e de disfunção endotelial (CAR-
Mulheres < 50 mg/dL
VALHO et al., 2005); sendo que estes dois últimos
Hipertensão Arterial
contribuem fortemente para o desenvolvimento
Sistólica, ou ≥ 130 mmHg da doença aterosclerótica.
Diastólica ≥ 85 mmHg
Diabetes Melito
Glicemia de jejum ≥ 110 mg/dL
Quadro 6 - Critérios diagnósticos para síndrome metabólica /
Fonte: NCEP - ATP III (CARVALHO et al., 2005).
140
EDUCAÇÃO FÍSICA
141
te integral) e de gorduras saturadas (óleo, produtos in- plo), os fibratos (prevenção de eventos cardiovasculares
dustrializados, manteiga, queijo), substituindo parcial- maiores em pacientes com hipertrigliceridemia e HDL-
mente pelas insaturadas (castanhas, amêndoas, azeite -c baixo), o ácido nicotínico (prevenção de eventos car-
de oliva, abacate, chia); além de Incluir carnes magras, diovasculares maiores) e a ezetimiba (redução da absor-
frutas, grãos, fibras e hortaliças na dieta. Ressalta-se que ção do colesterol no intestino delgado) (FALUDI et al.,
o modo de preparo de alguns alimentos é primordial no 2017; XAVIER et al., 2013).
teor de gordura dos alimentos. Portanto, a importância
da terapia nutricional não está apenas na seleção e subs- SÍNDROME METABÓLICA
tituição dos alimentos, como também no modo de pre-
paro e na quantidade, que devem estar em sintonia com Os principais fatores para o desenvolvimento da síndro-
diversos aspectos da mudança do estilo de vida. me metabólica são: predisposição genética, alimentação
De forma geral, quanto à prática de atividades fí- inadequada e sedentarismo. Além disso, é importante
sicas, recomenda-se 30 minutos de atividade contínua salientar a alta prevalência de obesidade no Brasil e no
leve à moderada na maioria dos dias de semana, além da mundo como um todo. Portanto, o tratamento da Sín-
adesão de hábitos mais ativos, como subir escadas e usar drome Metabólica tem como alvo principal a obesidade.
menos o carro, por exemplo. Contudo, em relação aos A perda de peso reduz o risco de doença aterosclerótica,
exercícios físicos, mais detalhes serão observados nos uma vez que contribui para o controle da pressão arte-
próximos tópicos. rial e da glicemia, melhora a sensibilidade à insulina e o
Nestas pacientes, a cessação do tabagismo é primor- perfil lipídico. Para tanto, modificações no estilo de vida
dial, pois este hábito está associado à redução dos níveis são necessários, com ênfase na atividade física e alimen-
de HDL-c. Destaca-se que o tratamento do tabagismo é tação saudável, além do tratamento dos fatores de risco
assegurado pela rede do Sistema Único de Saúde (SUS), associados à doença cardiovascular – o que pode incluir
na Atenção Básica de Saúde do Brasil. farmacoterapia (ACMS, 2016; CORNIER et al., 2008).
O tratamento farmacológico é necessário quando o Para orientar a intervenção primária e secundária
risco cardiovascular do paciente é alto risco. Os princi- no tratamento da síndrome metabólica, a Internatio-
pais fármacos utilizados são as estatinas (prevenção de nal Diabetes Federation (IDF) e a Sociedade Brasileira
eventos cardiovasculares maiores, como infarto agudo de Cardiologia estabeleceram as seguintes diretrizes
do miocárdio e acidente vascular encefálico, por exem- (ACMS, 2016; CARVALHO et al., 2005):
142
EDUCAÇÃO FÍSICA
INTERVENÇÃO PRIMÁRIA
• Alimentação
Restrição moderada de ingestão energética, para redução de
peso de 5 a 10% em um ano.
Adesão de um plano alimentar individualizado, visando
alterações na composição dos macronutrientes para modificar
os fatores de risco de doenças cardiovasculares específicas.
Aumento da ingestão de frutas, hortaliças e leguminosas.
Redução da ingestão de açúcar e sódio.
• Exercício físico
Aumento moderado de atividade física, conforme as
recomendações de saúde pública: 30 minutos de atividade
física de moderada à vigorosa na maioria dos dias da semana.
• Controle do estresse
• Cessação do fumo
• Controle da ingestão de álcool
INTERVENÇÃO SECUNDÁRIA
Quando as mudanças no estilo de vida não são suficientes para
a melhora do quadro da síndrome metabólica, o tratamento
medicamentoso é considerado para reduzir o risco de doença
aterosclerótica. Como não existe nenhuma medicação
específica para a síndrome metabólica, as recomendações são
seguir a farmacologia necessária para o tratamento dos fatores
de risco da doença cardiovascular, considerando a hipertensão
arterial, diabetes melito, obesidade e dislipidemia, observado
nesta unidade e nas anteriores.
143
144
EDUCAÇÃO FÍSICA
• Alterações em sub partículas de LDL. Exercícios Aeróbicos que tenham o objetivo de ma-
• Utilização de estoques de TG intramuscular. nutenção do peso corporal
• Desequilíbrio e aumento da limpeza da taxa de O principal tipo deve ser aeróbico,
TG e VLDL. que envolva grandes grupos muscu-
• Alterações positivas na LCAT. lares.
Tipo
Incluir exercícios de flexibilidade e
• Aumento da Oxidação dos NEFAs. resistidos para ter um programa
• Redução da adiposidade corporal total e visceral. equilibrado.
• Aumento da expressão gênica de receptores de Aumento progressivo na duração do
LDL-c e lipases. exercício (contínuo ou acumulado),
Progresso
seguido da intensidade.
Programas efetivos de 9 a 12 meses.
O exercício físico sempre foi recomendado pelas Dire-
Quadro 7 - Recomendações de exercícios físicos aeróbicos para pessoas
trizes Brasileiras sobre Dislipidemias, com frequência com dislipidemias / Fonte: ACSM (2016).
semanal de três a seis vezes e duração das sessões em
média de 40 minutos de atividade física aeróbia. Assim, De forma geral, os exercícios de flexibilidade e força são
as recomendações estabelecem que zona alvo do exer- sugeridos para fazerem parte do programa de exercícios
cício aeróbio deve ficar na faixa de 60% a 80% da fre- para pessoas com dislipidemias. Os exercícios de força
qüência cardíaca máxima, obtida em teste ergométrico, e flexibilidade não tem orientações específicas e se-
mesmo na vigência dos medicamentos de uso corrente guem as mesmas orientações preconizadas aos adultos
(SANTOS et al., 2001). A seguir estão descritas as re- saudáveis, assumindo os princípios FITT-VP. No que se
comendações do American College of Sports Medici- refere ao exercício resistido, a frequência semanal reco-
ne (ACSM) para a prescrição do exercício físico para mendada é duas a três vezes na semana, com exercícios
pessoas com dislipidemias, considerando os princípios realizados numa intensidade de 40 a 70% de uma repe-
de frequência, intensidade, tipo, tempo, volume e pro- tição máxima (1-RM), enquanto que não há evidência
gressão (FITT-VP). conclusiva sobre o tempo suficiente de cada sessão de
exercício. O tipo de exercício recomendado é para cada
Exercícios Aeróbicos que tenham o objetivo de ma-
nutenção do peso corporal grupo muscular principal, em movimentos multiarticu-
≥ 5 dias na semana de forma a ma- lares, utilizando equipamentos ou próprio peso corpo-
ximizar o gasto calórico (dos valores ral. O número de repetições é de 8 a 12 num sistema de
Frequência
mínimos [1.000 a 1.200 kcal] ao nível 2 a 4 séries, assumindo intervalos de 2 a 3 minutos e 48
ótimo [2.000 a 3.500 kcal]).
horas entre as sessões. O progresso do programa deve
Exercícios físicos de intensidade mo-
Intensidade ser gradual de maior volume, assumindo mais repeti-
derada (ex: 40 a 75% da FCreserva).
ções por série (ACSM, 2016).
30 a 60 minutos por dia de atividade.
Para a redução de peso corporal Num estudo de revisão sistemática e meta-análise
simultaneamente, 50 a 60 (ou mais) de ensaios clínicos randomizados - o melhor tipo de
Tempo minutos por dia.
pesquisa para determinar a causa e o efeito - o efeito
Exercícios intermitentes, em blocos
de no mínimo 10 minutos, podem exercício físico resistido sobre os lipídios e lipoproteínas
ser uma alternativa. foi investigado. Após avaliarem 29 estudos de interven-
145
146
EDUCAÇÃO FÍSICA
147
148
considerações finais
Inicialmente, verificamos que as dislipidemias podem ter origem genética, assim como a origem
pode ser secundária e adquirida, principalmente, pelo estilo de vida e outras doenças de base,
como o diabetes melito e obesidade. A Síndrome Metabólica é considerada uma “constelação” de
fatores de risco que inclui a obesidade central, alterações na glicemia, pressão arterial e nos lípides.
Pudemos ver que as alterações no metabolismo criam alterações cardiovasculares significativas,
do ponto de vista clínico. Discute-se atualmente a causa e efeito de cada componente da síndro-
me metabólica, assim como o papel de cada um sobre a inflamação crônica, considerado pilar
da doença aterosclerótica. O diagnóstico das Dislipidemias baseia-se na análise de colesterol
total e frações (LDL-c e HDL-c), triglicérides. A Síndrome Metabólica necessita de atender as
padronizações de um protocolo - como o NCEP ATP III - para a avaliação de cada componente.
Entre os tratamentos das Dislipidemias e da Síndrome Metabólica foi considerado muito do que
já foi visto anteriormente, suportado em 1) mudança no estilo de vida em termos de alimentação
saudável e prática de atividade física como parte da vida em diferentes contextos; 2) tratamentos
de controle do estresse, cessação do tabagismo e controle da ingestão de álcool; e 3) perda de
peso de, aproximadamente 5 a 10%. A farmacoterapia se aplica, principalmente, nas dislipidemias
primárias e intervenções secundárias da síndrome metabólica.
Por fim, aprofundamos, o exercício físico aeróbio e resistido, que são importantes moduladores
do perfil lipídico, assim como sobre os componentes da síndrome metabólica. Ainda, o exercício
é importante na redução da gordura abdominal, da pressão arterial e da normalização da glice-
mia em jejum. Contudo, esse é um campo de conhecimento em plena construção que poderá
assumir novas informações num futuro próximo.
149
LEITURA
COMPLEMENTAR
150
LEITURA
COMPLEMENTAR
151
atividades de estudo
152
atividades de estudo
153
atividades de estudo
154
material complementar
155
referências
156
referências
157
referências
Referências on-line
1
Em: https://www.who.int/gho/ncd/risk_factors/cholesterol_text/en/. Acessado em:
24 mar. 2020
2
Em: http://gamapserver.who.int/mapLibrary/app/searchResults.aspx. Acesso em:
18 abr. 2020.
158
gabarito
159
GESTAÇÃO E ATIVIDADE FÍSICA
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Alterações anatômicas e fisiológicas durante a gestação
• Benefícios da atividade física para gestantes
• Contraindicações do exercício físico em gestantes
• Análise de risco para o exercício físico durante a gestação
• Prescrição da atividade física durante a gestação e pós-parto
Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer as alterações anatômicas e fisiológicas durante a
gestação.
• Compreender os benefícios da atividade física durante a
gestação.
• Conhecer as contraindicações relativas e absolutas à
prática de exercícios físicos.
• Avaliar os riscos e benefícios de exercícios físicos durante a
gestação e após o parto.
• Prescrever e orientar exercícios físicos de forma segura
para gestantes.
unidade
V
INTRODUÇÃO
P
ossível reconhecer que a atividade física regular promove alte-
rações fisiológicas favoráveis à saúde geral do indivíduo, mes-
mo que este possua alguma condição especial. Observamos di-
versos benefícios da atividade física para grupos com doenças
crônicas e condições especiais (idosos, por exemplo), como as alterações
favoráveis nas concentrações plasmáticas de lipídios, pressão arterial,
controle glicêmico, função endotelial, prevenindo a doença cardíaca co-
ronária e controlando diabetes melito, entre outras condições. C o n t u -
do, não foi observado nada a respeito de mulheres gestantes. Quais os
benefícios e as recomendações para a prática de atividade física nessa po-
pulação? São as mesmas da população especial ou com doença crônica?
Como prescrever atividade física à gestante, sem promover risco à saúde
do feto e da mulher?
Para começar, até o século 20, acreditava-se que a atividade física poderia
causar algum malefício durante a gestação, sendo assim, as gestantes eram
orientadas a reduzirem ou, até mesmo, interromperem as atividades físicas
recreativas e ocupacionais, presumindo que aumentaria o risco de parto pre-
maturo. Entretanto, a partir da década de 90, o American College of Obs-
tetricians and Gynecologists (ACOG) adotou diretrizes, nas quais a prática
da atividade física deveria ser incentivada durante a gestação, desde que a
gestante apresentasse condições adequadas (BATISTA et al., 2003).
A gestação é um período único de profundas alterações físicas, psico-
lógicas e hormonais na mulher. A preocupação com a saúde do feto e em
manter uma gestação saudável faz com que muitas mulheres procurem ati-
vidades físicas, tanto para controlar o ganho de peso, quanto para melhorar
a flexibilidade, relaxar e melhorar a qualidade de vida. Esta unidade irá
abordar as modificações anatômicas e fisiológicas do corpo feminino du-
rante a gestação, os benefícios da atividade física e quando ela é contraindi-
cada, a avaliação do risco da atividade física para a gestante e, finalmente, as
orientações para a atividade física durante a gestação e o pós-parto.
Alterações anatômicas e
fisiológicas durante a gestação
A gestação é responsável por várias alterações anatômi- ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS
cas e fisiológicas no organismo feminino com o objetivo A implantação da placenta na parede uterina de-
de acomodar e nutrir o feto, disponibilizando desenvol- sencadeia diversas respostas endócrinas, como a sín-
vimento pleno e saudável. Não apenas o ganho ponderal tese de dois tipos de hormônios: os peptídicos (entre
ocorre, como também modificações hormonais, car- eles, o hormônio gonadotropina coriônica - HCG) e os
diorrespiratórias e, inclusive, musculoesqueléticas para esteroides (a progesterona, estrógeno e os andrógenos).
o melhor desenvolvimento neste processo. A prática de Esses hormônios são essenciais para o desenvolvimento
exercícios físicos durante a gestação requer atenção es- e crescimento adequado do feto e para impedir que o
pecial e deve levar em consideração todas as mudanças organismo da mulher o rejeite. Na gestante, estes hor-
que ocorrem durante o processo, que serão descritas nos mônios provocam alterações na metabolismo da glicose,
tópicos a seguir. cuja molécula passa a ser destinada em maior parte ao
164
EDUCAÇÃO FÍSICA
feto e, por este mesmo motivo, a mulher passa a usar os a musculatura uterina relaxada, dessa forma, permite a
ácidos graxos como principal fonte de energia (CARO- manutenção da gravidez e previne abortos espontâne-
MANO, 2018). os. Em contrapartida, a redução da tonicidade muscular
dos músculos lisos provocada pela progesterona, resul-
Descrição da Imagem: Desenho de um útero seccionado indicando
trompas, vagina, cervix, ovários e outros elementos que o definem.
ta em alterações hemodinâmicas (aumento do volume
sanguíneo, da frequência cardíaca, do volume sistólico
e do débito cardíaco; e diminuição da resistência vascu-
Trompa de falópio Útero Fundo Tuba uterina
lar sistêmica) (CAROMANO, 2018) responsáveis por
alguns dos sintomas gravídicos considerados, muitas
vezes, desconfortáveis, como a náusea, constipação, di-
latação de veias, tontura e hiperventilação.
As modificações na circulação sanguínea citadas
Ovário Endométrio
Fímbria precisam ser ponderadas durante as sessões de exer-
Miométrio
cícios físicos, especialmente aqueles que requerem a
Vagina
Colo do útero
posição decúbito dorsal (de costas para o chão), o que
pode resultar em episódios importantes de hipotensão,
particularmente, após a vigésima semana de gravidez
(ACOG, 2020).
Figura 1 - Sistema reprodutor feminino
Ainda é importante considerar o efeito do estróge-
SAIBA MAIS no, que age no desenvolvimento da musculatura uterina,
mas também é o responsável pela frouxidão ligamentar.
Após a fecundação, que ocorre nas trompas Isto pode causar possíveis distensões musculares e le-
de falópio, o óvulo fecundado passa por di- sões articulares, como entorses. Neste sentido, os alon-
versas transformações enquanto percorre o gamentos são indispensáveis durante a gestação, bem
caminho até alcançar o útero. Nesta fase, o
óvulo fecundado é chamado de blastocisto como o cuidado com a intensidade das atividades e para
e adere-se à parede interna do útero - o en- não sobrecarregar as articulações, além do tipo de ativi-
dométrio -, este processo é conhecido como dades e do terreno com vistas ao risco de queda (CARO-
implantação.
Fonte: adaptado de Vieira e Fragoso (2006). MANO, 2018; FONSECA; ROCHA, 2012).
Após o primeiro trimestre da gravidez, as modifica-
ções na síntese hormonal da glândula tireoide aumentam
Entre outras funções, a progesterona exerce um papel em até 25% o metabolismo basal da gestante e do feto, o
fundamental na preparação do endométrio para rece- que pode gerar aumento dispêndio energético em, apro-
ber a placenta e na inibição das contrações ao manter ximadamente, 300 quilocalorias por dia. Outros sintomas,
165
também são considerados desconfortáveis; causados pe- A compressão causada pelo grande volume abdo-
las alterações na tireoide e paratireoide, são o aumento da minal de gestantes sobre a veia cava inferior, na posição
frequência cardíaca, dispneia, redução da tolerância ao supina, reduz o retorno venoso ao coração e, consequen-
calor, cãibras e ansiedade (CAROMANO, 2018). temente, reduz o fluxo de sangue no cérebro. Isto resulta
em um quadro de hipotensão, tontura, náusea e, inclusive,
ALTERAÇÕES CARDIORRESPIRATÓRIAS síncope, conhecido com Síndrome da Hipotensão Supina
(ACOG, 2020; CAROMANO, 2018). Caso isso ocorra,
Ao longo da gestação, ocorrem algumas modificações é necessário ação imediata, posicionando a gestante em
anatômicas no sistema cardiovascular. Devido à com- decúbito lateral para o lado esquerdo, aliviando a pressão.
pressão causada pelo útero, o músculo do diafragma se A elevação na posição do diafragma também reflete
eleva e, como resultado, ele modifica a posição do cora- na alteração anatômica da caixa torácica que aumenta
ção. Como demanda da gestação, a quantidade de ener- em decorrência da compressão dos pulmões. Assim, a
gia que o coração transfere para a circulação sanguínea partir da 12ª semana de gestação, a capacidade para pra-
aumenta 40% neste período devido ao aumento de vo- ticar exercícios anaeróbicos é prejudicada, a disponibili-
lume sanguíneo, do débito cardíaco (de 27 a 64%) e do dade de oxigênio para exercícios aeróbicos é menor e a
aumento de peso materno (entre 10 a 12 kg, dentro de mulher passa a apresentar cansaço e falta de ar durante
uma faixa de ganho de peso saudável) (CAROMANO, a prática de atividades físicas rotineiras. Isso ocorre por-
2018). Portanto, neste sentido, é comum a gestante sen- que a ventilação por minuto aumenta 50% neste período
tir-se mais cansada e o coração mais acelerado. para compensar o aumento do fluxo sanguíneo. Em ati-
vidades físicas intensas, a alcalose fisiológica respiratória
pode não ser suficiente para compensar a acidose meta-
bólica (ACOG, 2020).
Primeiro Segundo Terceiro
Trimestre Trimestre Trimestre
Débito
Cardíaco + 50 a 10% ++ 35 a 40%
Frequ-
ência +3a5% + 10 a 15 % + 15 a 20%
Cardíaca
Pressão
Arterial - 10 % - 5% +5%
Volume
+ ++ 40 a 50%
Plasmático
+: aumenta; - diminui.
Quadro1- Principais alterações cardiovasculares durante gravidez nor-
mal / Fonte: ACOG (2020).
166
EDUCAÇÃO FÍSICA
167
Benefícios da atividade
física para gestantes
Níveis insuficientes de atividade física, assim como tes posturais decorrentes desse período, prevenindo lom-
comportamentos sedentários em excesso são fatores as- balgias, além de realizar com mais facilidade as atividades
sociados a maior probabilidade de desenvolver doenças da vida diária (LIMA; OLIVEIRA, 2005; MATSUDO, V.;
crônicas e complicações durante a gestação. De maneira MATSUDO, S., 2000; NÓBREGA et al., 1999).
oposta, a prática regular da atividade física inclui diversos A atividade física aeróbia beneficia significativa-
benefícios. Em geral, exercício resistido de intensidade leve mente o controle de peso e a preservação do condicio-
à moderada melhora a resistência e flexibilidade muscular, namento físico durante a gestação. Observa-se também
sem aumento ou com pouco risco de lesões e/ou compli- melhora na circulação sanguínea, o que reduz o estresse
cações à gestante e ao feto. Como resultado, a mulher passa cardiovascular e a retenção de líquidos (MATSUDO, V.;
a suportar melhor o aumento de peso e desenvolve o ajus- MATSUDO, S., 2000).
168
EDUCAÇÃO FÍSICA
Outro fator importante é que a atividade física apre- cesáreo e do tempo de recuperação pós-parto, redução
senta um fator protetor em relação ao desenvolvimen- da incidência de parto prematuro em mulheres com so-
to de diabetes melito gestacional, inclusive em mulhe- brepeso e obesidade e proteção da mulher em desenvol-
res com sobrepeso e obesidade. A ativação dos grandes ver depressão pós-parto (ACOG, 2020).
grupos musculares possibilita que a glicose seja melhor PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA DU-
utilizada pelos tecidos devido a maior a sensibilidade à RANTE A GESTAÇÃO
insulina (ACOG, 2020; ARTAL et al., 2003; NÓBREGA • Prevenção de ganho excessivo de peso gestacional
et al., 1999). Os benefícios se estendem também sobre a • Melhora na postura e alívio da lombalgia
• Menor incidência de diabetes melito gestacional
menor incidência de hipertensão gestacional, ajudando
• Menor chance de desenvolver transtornos hiper-
a prevenir a pré-eclâmpsia (ACOG, 2020). tensivos gestacionais
Diversos estudos, sumarizados pelo American Col- • Facilidade na recuperação após o parto
• Menor incidência de parto cesáreo
lege of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) apon-
• Menor incidência de depressão pós-parto
tam demais benefícios da atividade física regular para a Quadro 2 - Principais benefícios da atividade física durante a gestação /
gestação, como a diminuição da probabilidade de parto Fonte: adaptado de ACOG (2020); Fonseca e Rocha (2012).
169
Contraindicações ao
exercício físico em gestantes
Embora a atividade física habitual sejam um elemento a prática de atividade física (ACOG, 2020; FONSECA;
importante para a vida saudável da gestante, algumas ROCHA, 2012; ACSM, 2016).
condições são consideradas contraindicações relativas e Contraindicações Relativas
absolutas à prática de exercícios físicos. • Anemia grave.
Segundo o ACOG, caso a gestante seja saudável e a • Arritmia cardíaca maternas não avaliada.
gravidez se desenvolva dentro da normalidade, é segu- • Bronquite crônica.
ro e também importante continuar ou iniciar exercícios • Diabetes melito tipo 1 pouco controlado.
físicos em sessões regulares. Nessa situação, a atividade • Obesidade mórbida.
física em si não aumenta risco de aborto, baixo peso ao • Subpeso extremo .
nascer ou parto prematuro. Entretanto, algumas con- • Histórico de estilo de vida extremamente seden-
dições e/ou complicações na gestação contraindicam tário.
170
EDUCAÇÃO FÍSICA
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172
EDUCAÇÃO FÍSICA
173
É importante lembrar que o PARmed-X, assim como O teste de esforço máximo não é indicado para
o PARQ, são instrumentos de triagem inicial de con- gestantes, salvo recomendações médicas específicas.
dições de saúde que buscam contraindicações e/ou si- Assim, quando necessário, o teste de esforço deve ser
nais e sintomas de doença oculta, que podem impedir realizado sob supervisão médica direta após avaliação
ou evoluir complicações com a prática de exercícios minuciosa de condições de contraindicação. A orien-
físicos. Portanto, a avaliação e o parecer médico de- tação declarada do ACSM é de que mulheres grávidas
vem ser obtidos antes da prática segura de quaisquer sedentárias antes da gestação ou que tenham alguma
atividades físicas, bem como o treinamento aeróbio e contraindicação mencionada na aula anterior, recebam
resistido na gestação. avaliação médica do seu obstetra antes de iniciar um
programa de exercícios (ACSM, 2016).
174
EDUCAÇÃO FÍSICA
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176
EDUCAÇÃO FÍSICA
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Em relação ao tipo do exercício, comumente fonte de dificados), exercícios de resistência (com faixas elásticas
dúvida aos Profissionais de Educação Física, são consi- e pesos) e hidroginástica (ACOG, 2020). Exercícios na
derados seguros e benéficos pela literatura científica a água são mais recomendados quando a gestante apre-
caminhada, ciclismo estacionário, dança, exercícios ae- senta lombalgia, além da redução significativa do im-
róbicos, exercícios de alongamento (yoga e pilates mo- pacto das movimentações.
178
EDUCAÇÃO FÍSICA
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considerações finais
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atividades de estudo
181
atividades de estudo
182
atividades de estudo
5. Considerando que a maior partes das mulheres serão gestantes e que os be-
nefícios da prática de atividades físicas nessa população especial está bem
documentado, redija um parágrafo que responda aos assuntos a seguir, co-
nectando-os no processo de prescrição de exercícios físicos de uma mulher
com gestação normal e ganho de peso normal (25 anos), sem qualquer doen-
ça diagnosticada, que busca melhorar a sua função física e qualidade de vida.
1) Avaliação de riscos.
2) Componentes comuns numa sessão de exercício físico.
3) Aplicação dos princípios FITT-VP recomendados pelo ACSM.
183
LEITURA
COMPLEMENTAR
Será que a atividade física durante a gestação exerce algum tipo de influência sobre
desfechos de saúde materno-infantil? Essa hipótese não foi completamente comprova-
da ao longo do tempo. Contudo a partir de uma metodologia elegante e bem estrutu-
rada, Shana Ginar, da Universidade Federal de Pelotas, conduziu três estudos sobre o
tema que se complementam em termos de evidência científica nesta temática e trazem
subsídios para prática profissional.
No primeiro estudo, foi realizada uma revisão sistemática com meta-análise dos dados
(padrão-ouro de sumarização da evidência científica) sobre efeito da atividade física
durante a gestação sobre desfechos maternos e do recém-nascido em dois diferentes
tipos de pesquisa epidemiológica, estudos de coorte (de acompanhamento ao longo do
tempo, sem intervenção do pesquisador) e ensaios controlados randomizados (tipo de
pesquisa sofisticado com experimentação, ou seja, o pesquisador intervém no estudo,
manipulando-o em um grupo [grupo experimental], mas não em outro [grupo contro-
le]). Os resultados da meta-análise dos ensaios controlados randomizados indicaram
que atividade física realizada no lazer foi associada à redução no ganho de peso e me-
nor incidência de diabetes na gestação, além da maior probabilidade do bebê nascer
dentro dos padrões normais de crescimento. Ainda, a meta-análise dos estudos de co-
orte reafirmou as evidências para ganho de peso e diabetes gestacional, e demonstrou
que a atividade física realizada no lazer esteve relacionada à redução na incidência de
partos prematuros.
No segundo estudo, a atividade física foi mensurada de forma objetiva (utilizando sen-
sores de movimento) e os fatores associados a esse comportamento foram conside-
rados numa amostra com mais de 2.000 gestantes, entrevistadas durante o acompa-
nhamento pré-natal da coorte de nascimentos de 2015 da cidade de Pelotas-RS. Os
resultados do segundo estudo apresentou baixos níveis de atividade física das gestan-
184
LEITURA
COMPLEMENTAR
tes, mostrando que esta população despende, em média, 15 minutos em atividades físi-
cas moderadas a vigorosas (AFMV) e menos de 1 minuto em atividades físicas vigorosas
por dia. Diferenças no tempo de atividade física foram encontradas quando comparado
às médias em relação às características sociodemográficas, comportamentais e de his-
tória reprodutiva. Especificamente, acumularam menos tempo em AFMV as gestantes:
com cor da pele branca, que viviam sem a presença do companheiro, que passavam
pela primeira gestação, com maior nível de escolaridade e econômico, e que receberam
aconselhamento médico para não fazer atividade física na gestação.
O terceiro estudo sobre a temática foi composto por um ensaio controlado randomi-
zado. Portanto, um grupo experimental, com 213 gestantes realizou um programa de
exercícios físicos por 16 semanas, enquanto o grupo controle com 426 gestantes, rece-
beu o tratamento conservador de cuidados da gestante sem a intervenção com exercí-
cios. O foco do ensaio controlado randomizado era testar se o programa de exercícios
físicos tinha desfechos de saúde materna-infantil, como pré-eclâmpsia, ganho de peso
e diabetes gestacional e do recém-nascido, como o peso ao nascer, prematuridade e
crescimento fetal. Após a análise dos dados, foi concluído que o exercício físico não
afeta negativamente a saúde do recém-nascido como prematuridade e baixo peso ao
nascer. Contudo, o programa de exercícios não confirmou os benefícios do exercício
físico em termos de prevenir o ganho de peso, diabetes gestacional e pré-eclâmspia.
Assim, os achados realizados pela Shana Ginar trouxeram evidências importantes, re-
visadas e meta-analisadas, além de dados sobre o padrão de atividade física e seus
determinantes na gestação, além de evidenciar que o exercício físico não impacta ne-
gativamente na saúde do bebê.
185
material complementar
Página da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), fundada em 1959,
que tem como objetivo de promover, apoiar e zelar pelo aperfeiçoamento técnico, científico e aspectos éti-
cos do exercício profissional de ginecologistas e obstetras. Nesta páginas, você irá encontrar muitas infor-
mações úteis para a população e para os profissionais de saúde, para o melhor conhecimento da gestação.
Web: http://www.febrasgo.org.br/pt/
186
referências
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cise During Pregnancy and the Postpartum Period: ACOG Committee Opinion, Number
804. Obstetrics & Gynecology, 135, n. 4, p. e178-e188, 2020.
ACSM. American College of Sports Medicine. Diretrizes do ACSM para os testes de es-
forço e sua prescrição/ American College of Sports Medicine. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan 2016.
ACSM. American College of Sports Medicine. Manual de pesquisa: das diretrizes do
ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. Guanabara Koogan, 2003.
ARTAL, R. et al. Guidelines of the American College of Obstetricians and Gynecologists
for exercise during pregnancy and the postpartum period. British journal of sports me-
dicine, v. 37, n. 1, p. 6-12, 2003.
BATISTA, D. C. et al. Atividade física e gestação: saúde da gestante não atleta e crescimen-
to fetal. Revista brasileira de saúde materno infantil, v. 3, n. 2, p. 151-158, 2003.
CAROMANO, F. A. Adaptações fisiológicas do período gestacional. Fisioterapia Brasil,
v. 7, n. 5, p. 375-380, 2018.
CSEP/SCPE. PARmed-x para gestação atividade física com facilidade. 2020. Disponível
em: https://www.csep.ca/CMFiles/publications/parq/PARmedXPOR_prefinal.pdf. Aces-
so em: 05 ago. 2020.
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FONSECA, C. C.; ROCHA, L. A. Gestação e atividade física: manutenção do programa
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LEITÃO, M. B. et al. Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Es-
porte: atividade física e saúde na mulher. Revista brasileira de medicina do esporte, v. 6,
n. 6, p. 215-220, 2000.
187
referências
188
gabarito
189
conclusão geral
Caro(a) aluno(a), seguimos juntos nesta jornada e aprendemos muito. Ao longo
do livro re-isitamos as definições dos elementos importantes a serem utilizados
em relação à atividade física e à prescrição de exercícios físicos. Ficou evidente
o potencial do exercício físico como tratamento não farmacológico em doenças
crônicas, atuando de forma coadjuvante aos tratamentos convencionais.
Vimos as recomendações para a prática da atividade física e a manipulação
da “dose” de exercício a partir dos princípios básicos do treinamento físico (so-
brecarga, especificidade e variabilidade) e variáveis FITT-VP (frequência, inten-
sidade, tipo, tempo, volume progressão/padrão). Lembre-se: não há “receita de
bolo” e a prescrição de exercícios físicos para pessoas com doenças crônicas ou
em grupos especiais deve ser racional e individualizada.
Aprendemos que a obesidade é uma doença crônica complexa de caráter mul-
tifatorial. O exercício físico pareceu uma ferramenta adicional para o tratamento
dela, especialmente com foco no aumento do gasto energético com impacto em
balanço energético negativo, para a redução de peso de forma contínua e susten-
tável, em médio e longo prazo.
Estudamos que o Diabetes Melito, Hipertensão Arterial, Dislipidemia e a Sín-
drome Metabólica são doenças crônicas, que levam tempo para manifestar sin-
tomas clínicos relevantes e podem causar múltiplas comorbidades e mortalidade
precoce. Portanto, o exercício físico bem planejado e individualizado pode ter
importante significado clínico e de qualidade de vida.
Em todos os casos, sempre será necessário cuidado especial em relação às parti-
cularidades de cada doença crônica ou grupo especial, evitando os desfechos nega-
tivos à saúde. Vimos alguns aspectos importantes sobre isso relacionados à gravidez.
Bem, chegamos ao final e espero que tenha sido uma jornada agradável para
você, e que tenha aproveitado todos os elementos e oportunidades criados, para
que fortaleça a sua formação e agregue ferramentas à sua futura prática profissional.