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EXERCÍCIO FÍSICO

NAS DIFERENTES
POPULAÇÕES

PROFESSOR
Dr. Luiz Rodrigo Augustemak de Lima

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C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância;


LIMA, Luiz Rodrigo Augustemak de.
Exercício Físico nas Diferentes Populações. Luiz Rodrigo Augustemak
de Lima.
Maringá - PR.:Unicesumar, 2020.
192 p.
“Graduação em Educação Física - EaD”.
1. Exercícios . 2. Populações . 3. Físicos EaD. I. Título.
ISBN 978-65-5615-079-6 CDD - 22ª Ed. 796
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Impresso por:
Ficha Catalográfica Elaborada pelo Bibliotecário
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828

DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação Kátia
Coelho, Diretoria de Pós-Graduação Bruno do Val Jorge, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine,
Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie
Fukushima, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas, Gerência de Contratos e Operações Jislaine Cristina da Silva,
Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki
Hey, Supervisora
Coordenador(a) dede ProjetosMara
Conteúdo Especiais Yasminn
Cecília Talyta Projeto
Rafael Lopes, Tavares Gráfico
ZagonelJosé Jhonny Coelho, Editoração
Juliana Duenha, Designer Educacional Jociane Karise Benedett, Ilustração André Azevedo Fotos
Shutterstock.

2
Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos
com princípios éticos e profissionalismo, não somente entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil.
para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
de tudo, para gerar uma conversão integral das soluções inteligentes para as necessidades de todos.
pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: Para continuar relevante, a instituição de educação
intelectual, profissional, emocional e espiritual. precisa ter pelo menos três virtudes: inovação,
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de coragem e compromisso com a qualidade. Por
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia,
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e do ensino presencial e a distância.
Londrina) e em mais de 500 polos de educação a distância Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
espalhados por todos os estados do Brasil e, também, promover a educação de qualidade nas diferentes áreas
no exterior, com dezenas de cursos de graduação e do conhecimento, formando profissionais cidadãos
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros que contribuam para o desenvolvimento de uma
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. sociedade justa e solidária.
Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de Vamos juntos!
boas-vindas

Willian V. K. de Matos Silva


Pró-Reitor da Unicesumar EaD

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à A apropriação dessa nova forma de conhecer


Comunidade do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores de
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar agregação de valor, de superação das desigualdades,
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
e pela nossa sociedade. Porém, é importante Logo, como agente social, convido você a saber cada
destacar aqui que não estamos falando mais daquele vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas tecnologia que temos e que está disponível.
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
atemporal, global, democratizado, transformado pelas modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
tecnologias digitais e virtuais. as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
De fato, as tecnologias de informação e comunicação equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o
informações, da educação por meio da conectividade conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes
e da mobilidade dos celulares. cativantes, ricos em informações e interatividade. É
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá
a informação e a produção do conhecimento, que não as portas para melhores oportunidades. Como já disse
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
segundos. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
boas-vindas

Kátia Solange Coelho


Janes Fidélis Tomelin Diretoria de Graduação
Pró-Reitor de Ensino de EAD
e Pós-graduação

Débora do Nascimento Leite Leonardo Spaine


Diretoria de Design Educacional Diretoria de Permanência

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível e construção do conhecimento deve ser apenas
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
autor

Dr. Luiz Rodrigo Augustemak de Lima


Doutor (2017) e mestre (2011) em Educação Física, nas áreas biodinâmica do desempe-

nho humano e cineantropometria, respectivamente, pela Universidade Federal de Santa

Catarina. Graduado em Educação Física pela Universidade Estadual de Ponta Grossa

(2007). Atualmente, é professor do Instituto de Educação Física e Esportes da Universi-

dade Federal de Alagoas. Líder do Grupo de Pesquisa em Biodinâmica do Desempenho

Humano e Saúde. Membro do Grupo de Pesquisa em Cineantropometria e Desempenho

Humano. Tem experiência nos campos de Medidas e Avaliação, Fisiologia do Exercício

e processos de saúde e doença na infância e adolescência. Desenvolve pesquisas sobre

atividade física e exercício, risco cardiovascular (composição corporal alterada, homeostase

metabólica, inflamação e aterosclerose), desenvolvimento e validação de instrumentos de

medida da composição corporal, aptidão aeróbica, crescimento e maturação, atividade

física e risco cardiovascular.

Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações,

acesse seu currículo disponível no seguinte endereço:

http://lattes.cnpq.br/9155840708006766
apresentação do material

EXERCÍCIO FÍSICO NAS DIFERENTES POPULAÇÕES


Dr. Luiz Rodrigo Augustemak de Lima

Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) ao mundo no qual a atividade física é


utilizada para prevenir, tratar e melhorar a vida de pessoas que vivem com
doenças crônicas ou que fazem parte de grupos especiais! Interessante, não é?
Mas, calma! O assunto é complexo e iremos juntos, ao longo do livro, aprender
como a atividade física e o exercício podem ter impacto clínico relevante so-
bre as condições saúde. Precisamos aprender também que para intervir com
exercícios físicos em quadros clínicos é necessário, previamente, entender os
aspectos relacionados à epidemiologia, fatores de risco associados, etiologia
(causas e origens), consequências à saúde e as formas de diagnóstico das do-
ença crônicas em questão.
Sim, o assunto é complexo, mas eu já disse, vamos entrar nessa juntos,
passo a passo, do fácil para o difícil. Antes que perceba, você estará imerso
nesse campo de conhecimento e poderá não só prescrever exercícios físicos,
mas compreender “como“ ocorrem os efeitos positivos à saúde.
Iniciaremos nossa jornada, definindo as questões mais básicas sobre a ati-
vidade física e exercício. Certamente, você já sabe algo sobre o assunto, porém
conhece todos os benefícios da atividade física? Sabe como reduzir os riscos de
eventos cardiovasculares indesejáveis a partir de uma triagem pré-participação?
Vamos realizar também uma atualização das recomendações de atividade física
para a população geral (crianças, adolescentes, adultos e idosos), além de revisar
os princípios utilizados para a prescrição do exercício físico. Isto é importante
e será utilizado ao longo das demais unidades.
Nas unidades seguintes, veremos como as doenças crônicas da obesidade,
hipertensão arterial, diabetes melito, dislipidemias e síndrome metabólica se
comportam na sociedade, em termos de ocorrência e distribuição (epidemio-
logia), causas e consequências (etiologia e fatores de risco), bem como as for-
mas de diagnóstico e tratamento, sabendo que o exercício físico é uma forma
não-medicamentosa que pode contribuir para reduzir o impacto da doença e
melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Na última unidade, voltaremos ao início de tudo, a gestação. Compreende-
remos melhor como ocorre esse processo maravilhoso da natureza que provoca
alterações anatômicas e fisiológicas bem como assimilar os benefícios, contra
indicações e prescrição de exercício físico seguro para melhorar a saúde da
própria gestante e dos recém-nascidos.
É muito interessante, garanto-lhe! Vamos em frente! Boa leitura!
sum ário

UNIDADE I 97 Diagnóstico do diabetes melito e da hipertensão


ASPECTOS CONCEITUAIS PARA A PRESCRIÇÃO DO arterial
EXERCÍCIO FÍSICO EM POPULAÇÕES ESPECIAIS 100 Tratamentos medicamentosos e não medica-
14 Conceitos e termos mentosos da diabetes melito e da hipertensão
arterial
20 Benefícios da atividade física
102 Prescrição do exercício físico para pessoas com
23 Estratificação de riscos para a atividade física e diabetes melito e hipertensão arterial
exercícios
29 Recomendações gerais para a prática da atividade
UNIDADE IV
física
DISLIPIDEMIAS E SÍNDROME METABÓLICA: DAS DEFINI-
31 Princípios utilizados na prescrição de exercício ÇÕES À PRESCRIÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO
físico
124 Epidemiologia das dislipidemias e da síndrome
metabólica
UNIDADE II
128 Etiologia, fatores de risco e consequências à saúde
CONHECENDO, DIAGNOSTICANDO E TRATANDO O
SOBREPESO E A OBESIDADE 137 Diagnóstico das dislipidemias e síndrome me-
tabólica
52 Conceitos e epidemiologia da obesidade
141 Tratamentos das dislipidemias e da síndrome
54 Etiologia, fatores de risco para a obesidade e con- metabólica
sequências à saúde
144 Prescrição do exercício físico para pessoas com
59 Ferramentas de diagnóstico do sobrepeso e obe- dislipidemias e/ou síndrome metabólica
sidade
62 Tratamentos da obesidade
UNIDADE V
64 Atividade física e prescrição de exercício físico na GESTAÇÃO E ATIVIDADE FÍSICA
obesidade
164 Alterações anatômicas e fisiológicas durante a
gestação
UNIDADE III
168 Benefícios da atividade física para gestantes
DIABETES MELITO E HIPERTENSÃO ARTERIAL: EPIDE-
MIOLOGIA, DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E EXERCÍCIO 170 Contraindicações ao exercício físico em gestantes

84 Epidemiologia do diabetes melito e da hiper- 172 Análise de risco para o exercício físico durante a
tensão arterial gestação

91 Etiologia, fatores de risco e consequências à saúde 175 Prescrição da atividade física e exercícios durante
a gestação e pós-parto
ASPECTOS CONCEITUAIS PARA A
PRESCRIÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO EM
POPULAÇÕES ESPECIAIS

Professor Dr. Luiz Rodrigo Augustemak de Lima

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Conceitos e Termos
• Benefícios da Atividade Física
• Estratificação de Riscos para a Atividade Física e Exercícios
• Recomendações gerais para a prática da Atividade Física
• Princípios utilizados na prescrição de Exercício Físico

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer os conceitos e termos utilizados no campo da
atividade e exercício físico.
• Descobrir os benefícios da prática regular de atividade
física.
• Utilizar ferramentas para a estratificação dos riscos à
atividade física.
• Conhecer as recomendações para a prática de atividade
física em crianças, adolescentes, adultos e idosos.
• Utilizar os princípios básicos da prescrição do exercício
para indivíduos saudáveis.
unidade

I
INTRODUÇÃO

D
esde os estudos realizados na década de 50, a atividade físi-
ca habitual tem se mostrado um potencial comportamen-
to, como parte do estilo de vida, que pode impactar positi-
vamente a vida das pessoas. As evidências, desde então, têm
mostrado que a atividade física e o exercício físico podem prevenir o
desenvolvimento de doenças crônicas, particularmente importantes para
pessoas que fazem parte de grupos especiais. Com o avanço da ciência na
área, a atividade física e exercício foram aplicados de forma semelhante
aos medicamentos em populações com doenças crônicas estabelecidas,
esperando uma “resposta” para determinada “dose”, representando um
tratamento não-farmacológico.
Esta unidade irá tratar inicialmente dos conceitos e termos utilizados
na área de prescrição de exercícios físicos para grupos especiais e com
doenças crônicas. Posteriormente, serão tratados, resumidamente, os
benefícios da prática regular de atividade física na população em geral. A
unidade seguirá com a análise da estratificação de risco, principalmente
cardiovascular, necessária à qualquer processo de avaliação e prescrição
de exercícios, isso é, ainda, mais importante na atividade profissional com
pessoas em grupos especiais e com doenças crônicas. Você conhecerá as
recomendações atuais de atividade física, endossadas pela Organização
Mundial da Saúde, para toda a população.
A partir destes conhecimentos básicos, poderemos, então, apresentar
os parâmetros utilizados na prescrição de exercícios físicos para a pop-
ulação geral. Isso é importante estabelecer no início da nossa conversa,
pois, ao conhecer o processo padrão de prescrição, poderemos avançar às
populações com características especiais, focalizando esforços e atenção
necessários à estas pessoas.


Conceitos
e termos

Iniciaremos esta unidade, apresentando as defini- As doenças crônicas incluem doenças do aparelho
ções operacionais sobre conceitos e terminologias, circulatório, respiratório, digestivo, nervoso, infecciosas,
geralmente, utilizadas na prescrição de atividades endócrinas, metabólicas e neoplasias (BRASIL, 2013),
físicas para pessoas com condições especiais de saú- como é o caso de indivíduos que vivem com obesida-
de. Primeiramente, é importante entender que uma de, hipertensão, diabetes e/ou dislipidemias. Os grupos
condição especial de saúde é toda e qualquer con- especiais podem não ter limitações presentes, mas pos-
dição que requer orientações e cuidados especiais suem características físicas, fisiológicas e de capacidade
para o planejamento e execução da atividade física, funcional variáveis em função do ciclo da vida, como
exercício físico e esporte. Nesses aspectos, podemos gestantes, crianças, idosos etc. (ACSM, 2016).
considerar pessoas que vivem com doenças crônicas A atividade física é determinada como qualquer
ou grupos especiais. movimento corporal produzido pela contração do mús-

14
EDUCAÇÃO FÍSICA

culo esquelético e que eleva o consumo de energia, re- Shephard e Stephens (1994) adicionam novos compo-
sultando em gasto energético acima dos níveis de repou- nentes morfológicos, como a densidade mineral óssea,
so (CASPERSEN et al., 1985). São atividades habituais componentes cardiovasculares (função pulmonar, fun-
que ocorrem no dia a dia dentro dos contextos do des- ção cardíaca e pressão arterial) e metabólicos (tolerância
locamento, trabalho, tarefas domésticas e do lazer, como: à glicose, sensibilidade à insulina, metabolismo lipídico
correr num parque, pular corda, jogar futebol com os e características de oxidação de substratos). Isto amplia
amigos entre outros. a compreensão sobre o efeito da atividade física e exercí-
Por sua vez, o exercício físico pode ser apontado cios no processo de saúde-doença das pessoas, tornando
como um subgrupo da atividade física, pois considera a discussão e o planejamento mais abrangentes.
a intencionalidade do movimento. Assim, no exercício É importante entender que a atividade física é com-
físico, o movimento é planejado, estruturado e repetitivo preendida, atualmente, como um comportamento que
com o objetivo de melhorar ou manter um ou mais com- envolve movimento humano (GABRIEL et al. 2012), po-
ponentes da aptidão física (CASPERSEN et al., 1985). dendo ser analisada em diferentes contextos do dia a dia,
Temos como exemplo o tradicional exercício aeróbio, mas pode ser sistematizada e organizada para atingir um
que reconhecidamente melhora a saúde cardiovascular, objetivo (exercício físico); isto pode resultar melhoria de
e o exercício de força, empregado no treinamento de produtos físicos e fisiológicos (aptidão física), que irá
atletas, para aperfeiçoar o seu rendimento esportivo. Os impactar diretamente a qualidade de vida, saúde e bem-
exercícios físicos devem ser descritos no início, em um -estar dos indivíduos envolvidos, independentemente
programa que defina: (1) limiar, ou seja, o limite mínimo da idade, sexo ou condição especial de saúde (BOU-
para atingir benefícios a saúde; (2) zona alvo de esforço CHARD; SHEPHARD; STEPHENS, 1994).
físico; (3) variáveis aplicadas a prescrição do exercício Tendo em vista a aplicação do exercício físico para
físico; (4) demandas e objetivos (ACSM, 2016). pessoas com condições especiais de saúde, ele pode ser
Tradicionalmente, aptidão física tem sido definida compreendido como uma terapia não-medicamentosa
como o conjunto de atributos que as pessoas possuem ou até mesmo auxiliar, complementando o tratamento
ou almejam ter em relação à sua capacidade em desem- medicamentoso contínuo exigido em diferentes do-
penhar esforço físicos (CARSTENSEN et al., 1985). Este enças. Para que o exercício físico seja adequadamente
conceito foi aplicado diretamente em relação à saúde e prescrito, é importante visualizar a dose-resposta como
ao desenvolvimento de habilidades motoras relaciona- analogia à terapia medicamentosa, ou seja, para o exercí-
das ao esporte. Portanto, a aptidão física relacionada à cio físico a dose corresponde à quantidade, intensidade e
saúde é composta pela potência aeróbica máxima, força frequência de exercício para provocar uma determinada
e resistência muscular, flexibilidade e composição cor- resposta; enquanto a resposta pode ser aguda, subaguda
poral. A aptidão física relacionada ao desempenho es- ou crônica, como resultado de um programa de exercí-
portivo, por sua vez, além das variáveis relacionadas à cios físicos (exemplo: redução da pressão arterial sistóli-
saúde, inclui a velocidade, coordenação, agilidade, po- ca em repouso) (HOWLEY; FRANKS, 2000).
tência, equilíbrio e tempo de reação (ACSM, 2016). O Colégio Americano de Medicina do Esporte
Em uma perspectiva contemporânea da aptidão (American College of Sports Medicine [ACSM] em in-
física, particularmente relacionada à saúde, Bouchard, glês) organizou as variáveis comumente utilizadas no

15


processo de prescrição de exercício físico, ou seja, na 2016). Embora haja certa variabilidade entre os indiví-
prescrição da “dose” de exercício. Assim, a prescrição duos, nas respostas a um programa de exercícios com
de exercício físico ocorre a partir de princípios que são base no princípio FITT-VP, espera-se que haja benefí-
planejados para guiar a prática profissional, ajustados cios fisiológicos, psicológicos e de saúde (ACSM, 2016).
especificamente para que o indivíduo melhore o condi- Entre as variáveis FITT-VP, grande foco é dado à
cionamento físico e a saúde. Estes princípios “FITT-VP” intensidade, intimamente relacionada à quantidade ou
incluem a frequência, intensidade, tempo, tipo, volume e a dose de atividade física prescrita a um indivíduo. De
progressão e são utilizados para manipular a prescrição, forma geral, pode-se calcular a intensidade da atividade
com base na evidência científica acumulada (ACSM, física e exercício por meio de três métodos:

1) Utilizando METs
(unidade de equivalente metabólico).

2) Frequência cardíaca máxima.

3) Consumo máximo de oxigênio de


reserva. Ainda, a intensidade pode ser
categorizada em muito leve, leve,
moderada, vigorosa e máxima, tendo
equivalentes a partir de diferentes
índices fisiológicos.

Figura 1 - Métodos para calcular intensidade da atividade física / Fonte: o autor.

16
EDUCAÇÃO FÍSICA

A tabela 1 apresenta um resumo das recomendações do Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM, 2016),
para a análise da intensidade da atividade física e exercício físico baseada no consumo máximo de oxigênio (VO2
máx), frequência cardíaca máxima (FC máx) e unidade de equivalente metabólico (MET).
Intensidade relativa
Intensidade absoluta*
Intensidade
VO2 R (%) - FCR (%) FCM (%) MET
<20 <50
Muito Leve < 3,2

20 a 39 50 a 63
Leve 3,2 a 5,3

40 a 59 64 a 76
Moderada 5,4 a 7,5

60 a 84 77 a 93
Vigorosa (forte) 7,6 a 10,2

85 a 99 94 a 99
Vigorosa (muito forte) 10,3 a 11,9

Máxima 100 100 12


Tabela 1 - Classificação da intensidade de atividade física / Fonte: adaptada de (ACSM, 2016).
VO2 R (%): percentual do consumo de oxigênio de reserva. FCR (%): percentual da frequência cardíaca de reserva.
FCM (%): percentual da frequência cardíaca máxima. MET: unidade de equivalente metabólico (1 MET=3,5 ml/kg/min.).
* a intensidade máxima absoluta pode variar em função da idade e de presença de doença, de 6 a 12 METS máximos.

Embora os valores expostos na tabela 1 sejam rela- É possível consultar o valor de METs equivalente a
tivamente arbitrários, eles são amplamente usados uma série de atividades físicas e exercícios físicos atra-
na interpretação de atividades físicas e prescrição de vés do Compêndio de Atividades Físicas (FARINATTI,
exercícios físicos. A intensidade relativa é definida, 2003). Por exemplo, caminhar com o cachorro em um
utilizando-se um percentual da reserva de consumo terreno plano corresponde a um gasto de 3,0 METs (ati-
máximo de oxigênio do indivíduo ou da reserva da vidade muito leve), já um jogo de futebol competitivo
frequência cardíaca (ACSM, 2016). A intensidade equivale a um gasto metabólico de 10,0 METs (atividade
absoluta expressa a taxa de energia gasta durante o muito vigorosa). Com estes valores em mãos, torna-se
exercício e é medida por meio de uma unidade cha- possível estimar o gasto calórico total da atividade física
mada MET (do inglês, Metabolic Equivalent Task). e prescrevê-la com maior segurança.
Uma unidade de MET equivale a um consumo de Digamos que você prescreveu uma corrida de 30 mi-
3,5 ml/kg/min de oxigênio, que é o valor médio de nutos na esteira a 8 km/h a um indivíduo de 34 anos, com
repouso em adultos. Assim, quando um indivíduo massa corporal de 75 kg e que, ao consultar o Compêndio
realiza uma atividade física a 3 METs (3 x 3,5 ml/ de Atividades Físicas, encontrou o valor do equivalente me-
kg/min), isto significa dizer que ele teve 3 vezes o tabólico da corrida, igual a 8,0 METs. Para calcular o gasto
consumo de oxigênio em repouso. calórico desta atividade, basta aplicar a seguinte fórmula:

17


Gasto calórico = METs x 0,0175 x Tempo (min) x (2001) realizaram uma meta-análise e propuseram uma
Massa Corporal (kg)
Gasto calórico = 8,0 METs x 0,0175 x 30 x 75 equação alternativa para a estimativa da FCM, sendo:
Gasto calórico = 315,0 kcal FCM= 208 - 0,7 * (idade), ou seja, um sujeito de 34 anos
teria uma FCM teórica de 184 bpm.
Assim, esse indivíduo terá um gasto calórico de 315 kcal O cálculo da FCR representa um avanço compara-
para realizar essa atividade física de corrida. Digamos, do a prescrição pela FCM, pois considera que indivídu-
porém, que este mesmo indivíduo deseja reduzir peso os podem apresentar diferentes níveis de FC de repouso
corporal, para isso precisa aumentar o gasto calórico. Isso – o que pode ser interpretado como diferente níveis de
é possível mudando o tipo de atividade física como um aptidão física – sendo esta uma variação importante e
exercício muito vigoroso de remo estacionário (200 W) significativa para a prescrição de exercícios, uma vez que
com a mesma duração de 30 minutos, então, teria: indivíduos com menor FC em repouso possuem melhor
Gasto calórico = METs x 0,0175 x Tempo (min) x Mas-
condicionamento físico, comparados aos que possuem
sa corporal (kg) maiores valores. Por este motivo, a literatura ressalta
Gasto calórico = 12,0 METS x 0,0175 x 30 x 75 que, para a prescrição da intensidade de atividades fí-
Gasto calórico = 472,5 kcal
sicas e exercício utilizando o valor de FCR, é necessário
levar em conta diferenças individuais em relação à FC
Com isso, observamos que apenas mudando o tipo da ati- de repouso.
vidade houve um aumento da intensidade e, consequen- Para calcularmos a FCR, basta subtrair o valor de
temente, um aumento no gasto energético total para o repouso da FC máxima teórica. Assim, um sujeito de 34
mesmo volume de atividade. Observe que o valor 0,0175 anos, com FC máxima de 184 bpm e FC de repouso de
é constante e representa a equivalência de 1 MET em kcal 60 bpm, teria um FCR de 124 bpm. Usando a tabela 1
(FARINETTI, 2003). O método para determinar a inten- e prescrevendo uma atividade física leve, calcularemos
sidade de uma atividade física e exercício, utilizando a fre- entre 20-39% deste valor como uma intensidade ótima
quência cardíaca de reserva (FCR), é muito utilizado nas de treino, ou seja, entre 25 a 49 bpm, somados aos va-
sessões de um programa de condicionamento físico. lores de FC de repouso (60 bpm), o que representaria a
Para isso, é importante levar em conta que os nossos intensidade de 85 a 109 bpm. Assumindo outro exemplo
batimentos cardíacos (bpm/min) aumentam conforme para o mesmo sujeito, a intensidade vigorosa de ativida-
aumenta a intensidade da atividade física (ACSM, 2007). de física de 60 a 84% da FCR (tabela 1) representaria um
Isso significa que o aumento dos batimentos é uma res- esforço de 134 a 164 bpm.
posta cardiovascular às demandas da atividade física. A terceira possibilidade, para calcular a intensi-
Por muito tempo, considerou-se a equação de Karvo- dade da atividade física e exercício, é utilizarmos o
nen (220 – idade) para se estimar a frequência cardíaca consumo de oxigênio de reserva. Estes valores inter-
máxima (FCM), contudo ela não tem mérito científico mediários do consumo de oxigênio, do repouso ao
e possui erros substanciais de predição. Tanaka et al. máximo, são obtidos ao longo de um teste ergoespi-

18
EDUCAÇÃO FÍSICA

rométrico, ou seja, com análise direta dos gases expi- A partir do VO2 reserva as intensidades de exercício
rados. Ao final de um teste ergoespirométrico ou de físico de muito leve à vigorosa ou máxima podem ser
um teste indireto que permite a predição, obtém-se o calculadas da mesma maneira que foi realizada para
consumo máximo de oxigênio (VO2 máx). Assumin- a FCR. Em exemplo, comparativo a FCR do mesmo
do que o VO2 de reserva é relativamente constante de sujeito, os valores de VO2 reserva de intensidade mui-
3,5 ml/kg/min, pode-se subtrair do VO2 máx. Ainda, to leve seriam de 11,0 a 18,2 ml/kg/min e de intensi-
considerando o exemplo anterior, caso o indivíduo dade vigorosa seria de 26,1 a 35,2 ml/kg/min.
tenha um VO2 máximo = 41,2 ml/kg/min. Todas essas estimativas de intensidade relati-
va são importantes o controle do exercício físico e
VO2 máximo = (41,2 ml/kg/min – 3,5 ml/
kg/min) para que a integridade física do indivíduo não seja
VO2 reserva= 37,7 ml/kg/min exposta aos riscos de eventos súbitos, durante a prá-
tica da atividade física prescrita por você.

O ACSM (American College of Sports Medicine) é uma grande sociedade que


produz conhecimento e promove certificações em diferentes expertises na
área da saúde e do exercício físico, desde 1954. Na sua página oficial (ht-
tps://www.acsm.org/acsm-positions-policy/official-positions/ACSM-position-
-stands), há posicionamentos e diretrizes sobre a prescrição de exercício
em diversas populações, como os grupos especiais e pessoas com doenças
crônicas. Vale a pena acessar a página e conferir as últimas atualizações
sobre esse tema!
Fonte: o autor.
Para acessar, use o seu leitor de QR Code.

19


Benefícios da
atividade física
Os benefícios da prática da atividade física para a saú- demonstrar um efeito protetor sobre diversas comor-
de, independentemente da faixa etária do indivíduo, bidades (ACSM, 2016).
estão amplamente documentados (WARBURTON Investigações conduzidas a partir de estudos pros-
et al. 2006; ACSM, 2016). Pesquisa epidemiológica já pectivos apontam que os benefícios da atividade física,
demonstrou que atividade física insuficiente, aliada realizada no contexto do lazer, estão associados ao menor
à alimentação inadequada, é prejudiciail, sendo a se- risco de desenvolver hipertensão, doenças coronarianas,
gunda causa de morte nos Estados Unidos e a quarta diabetes tipo II, câncer de mama e obesidade (WARBUR-
no mundo (RODGERS et al. 2004). Em geral, prati- TON et al., 2006; ACSM, 2016). O Quadro 1 sumariza os
car atividades físicas regularmente diminui o risco de principais benefícios relacionados à atividade física, de
mortalidade por doenças cardiovasculares, além de acordo com a força das evidências disponíveis.

20
EDUCAÇÃO FÍSICA

Evidências Fortes
Sendo assim, percebe-se que os benefícios da ati-
- Mortalidade vidade física são diretamente relacionados ao desfecho
- Doença arterial coronariana
- Infarto do miocárdio analisado. Um estudo recente, que envolveu 1.461 adul-
- Hipertensão arterial sistêmica tos de Curitiba-PR, corrobora com essa ideia. Ao anali-
- Diabetes tipo II sar a relação entre diferentes intensidades de atividade
- Síndrome metabólica
- Câncer do colo física (caminhada, AF moderada e AF vigorosa) com
- Câncer de mama os escores de qualidade de vida, observou-se que existe
- Ganho de peso uma relação específica entre cada intensidade de ativi-
+ Aptidão muscular
+ Aptidão cardiorrespiratória dade física e os domínios da qualidade de vida, como a
- Risco de quedas “vitalidade”, a “saúde mental” e a “função física” (PUCCI
- Função cognitiva et al., 2012). Assim, é plausível pensar que a relação entre
Evidências Fortes a Moderadas a dose e a resposta na melhora dos domínios da qualida-
+ Função física de de vida é específico à intensidade da atividade física.
- Gordura abdominal
Em outro estudo, prospectivo, com 14.343 adultos, foi
- Dislipidemias
encontrada uma relação de dose-resposta entre melhores
Evidências Moderadas
índices de aptidão cardiorrespiratória e o menor risco de
- Fraturas no quadril
- Câncer de pulmão sinais e sintomas de depressão (SUI et al., 2009). Os re-
- Câncer de útero sultados mostraram que homens com aptidão cardior-
+ Promove a manutenção do peso respiratória moderada obtiveram uma redução em 31%
+ Densidade óssea
+ Melhora do sono no risco de depressão e naqueles com elevada aptidão a
- Depressão redução foi de 51%. Entre as mulheres também houve um
- Ansiedade importante efeito protetor de 44% e 54%, para aptidão
Quadro 1 - Benefícios da prática regular de atividade física / Fonte: cardiorrespiratória moderada e elevada, respectivamente.
adaptado de Usdhhs (2008) e ACSM (2016).
Demonstrando a dose-resposta, desta vez, entre aptidão
física (produto da atividade física) e saúde mental.
Mesmo que as evidências apontem que uma vida ativa Ainda, estudos indicam que mesmo atividades físi-
traz benefícios à saúde, a relação dose-resposta ainda cas de intensidade leve já produzem benefícios para a
não está bem estabelecida. Parte do motivo ocorre por- saúde. Uma revisão sistemática com 27 ensaios clínicos
que o efeito da atividade física varia conforme o desfe- randomizados demonstrou o potencial da atividade fí-
cho analisado (exemplo: mmHg da pressão arterial ou sica leve, no controle de níveis pressóricos em adultos, a
mg/dL da glicemia), o tipo, volume e intensidade da ati- partir da caminhada regular; contudo, também ressalta-
vidade física. As inter-relações entre tais componentes -se que os benefícios aumentam à medida que a intensi-
da atividade física contribuem para a complexidade das dade da caminhada aumenta (LEE et al., 2010).
análises de dose-resposta. Por exemplo, a atividade física A importância de sabermos sobre a relação de dose-
de intensidade leve (aproximadamente 3 METs) pode -resposta é obter o conhecimento da mínima quantida-
contribuir para a melhora no bem-estar geral, porém de de atividade física necessária para atingir benefícios à
pode não ser suficiente para redução do peso corporal. saúde e, assim, prescrever orientações à população geral.

21


A partir das evidências disponíveis, órgãos internacio- Esse conhecimento sobre atividade física e exercí-
nais passaram a orientar a adoção de comportamentos cio físico é especialmente importante para a prática do
ativos e a propor guias de orientação sobre a quantidade profissional de Educação Física com pessoas em condi-
necessária para melhora da saúde em diferentes faixas ções especiais de saúde (com doenças crônicas ou gru-
etárias (ACSM, 2016). Atualmente, recomenda-se que pos especiais). O Ministério da Saúde recomenda que
adultos acumulem no mínimo 30 minutos de atividade as doenças crônicas requerem intervenções associadas
física de intensidade moderada a vigorosa na maioria à mudanças de estilo de vida, em um processo de cui-
dos dias da semana, de preferência todos os dias. Alter- dado contínuo e que nem sempre leva à cura (BRASIL,
nativamente, os adultos podem realizar 25 minutos de 2013). Portanto, é necessário compreender que o uso da
atividade física de intensidade vigorosa, pelo menos três atividade física e exercício, entre outras habilidades e
vezes na semana. Recomenda-se também que as ativida- competências, para promover saúde e prevenir doenças,
des físicas incluam exercícios de força e de flexibilidade, pode ocorrer de forma primária e secundária, como de-
além dos exercícios aeróbicos (WHO, 2010). monstra o Quadro 2.

Prevenção Primária de complicações à Saúde


Promoção da prática de atividade física e esportes assim como elevados níveis de aptidão física, para prevenir o
surgimento doenças.
Identificação da presença fatores de risco, definição das variáveis e padrões de atividades adequados para os
indivíduos, minimizando riscos associados à prática de exercícios físicos e contribuindo para potencializar seus
resultados positivos.
Prescrição do exercício físico, orientação e supervisão .
Desenvolvimento de aptidão cardiorrespiratória, força e resistência muscular, flexibilidade, equilíbrio e habilida-
des motoras.
Prevenção Secundária de complicações à Saúde
Promoção da prática de atividade física, assim como melhorar níveis de aptidão física, pode prevenir complica-
ções secundárias às doenças crônicas pré-existentes.
Realizar triagem de saúde e identificar de fatores de riscos cardiovasculares, podendo ser necessária a consulta
médica e liberação antes da prescrição e aplicação de atividades físicas e exercícios físicos.
Atentar aos efeitos dos medicamentos sobre a função física e fisiológicas, história clínica do indivíduo e ao esta-
do clínico atual.
A execução cuidadosa dos exercícios, potencialmente, reduzirão os agravos da doença e promoverão benefícios
psicológicos e de qualidade de vida.
Quadro 2 - Prevenção primária e secundária de complicações à saúde / Fonte: adaptado de Warburton et al. (2006) e Silva (2010).

22
EDUCAÇÃO FÍSICA

Estratificação de riscos para


a atividade física e exercícios
Considerando que a avaliação física, necessária à pres- que possam ser agravados pela prática de atividade físi-
crição de exercício físico, inclui testes dinâmicos que ex- ca. Neste instrumento, há sete questões sobre o histórico
põe o indivíduo ao desconforto físico e riscos cardiovas- médico que o indivíduo deve responder antes de iniciar
culares inerentes ao exercício de intensidade moderada qualquer prática de atividade física. Caso o indivíduo
à vigorosa, o ACSM recomenda a estratificação de risco, responda “sim” para alguma das questões será prudente
previamente, e a Sociedade Canadense de Fisiologia do conversar com um médico antes se tornar mais ativo fi-
Exercício recomenda, pelo menos, o uso do PAR-Q & sicamente. Contudo, caso as respostas sejam “não”, você
YOU para determinar a prontidão do indivíduo. poderá ter segurança em aumentar os níveis de ativi-
O PAR-Q & YOU é um questionário bastante sim- dade física do seu cliente. O formulário PAR-Q & YOU
ples para identificar doenças diagnosticadas ou motivos está disponível na Figura 2.

23


A estratificação de risco do ACSM representa uma


abordagem mais complexa e aprofundada que permite
análise de doenças diagnosticadas (cardiovasculares,
pulmonares, metabólicas e renais), dos sinais evidentes
ou sintomas sugestivos ou sobre a presença de fatores de
risco para estas doenças (ACSM, 2016). Isto representa
um grande auxílio ao profissional de Educação Física no
planejamento de uma prescrição segura. A estratificação
de riscos é nada mais do que uma classificação inicial
de risco para a atividade física com base na triagem que
pode estar em conjunto com a anamnese numa Triagem
Pré-Participação. Os objetivos desta triagem incluem:
• Identificação dos indivíduos que correm um
maior risco de serem acometidos por doença
em virtude da idade, dos sintomas e/ou fatores
de risco e que deveriam ser submetidos a uma
avaliação funcional.
• Identificação dos indivíduos com contraindica-
ções médicas para o exercício.
• Identificação de pessoas com doenças clinica-
mente significativas, que deveriam participar de
um programa de atividade física supervisionado.
• Identificação dos indivíduos com outras necessi-
dades especiais.

24
EDUCAÇÃO FÍSICA

Questionário sobre prontidão


para a Atividade Física (PAR-Q)
(revisado em 2002)
PAR-Q e Você
(Um questionário para pessoas com idade entre 15 e 69 anos)
A atividade física regular é divertida e saudável, e cada vez mais, pessoas começam a se tornar mais ativas, todos os dias. Ser mais ativo
é muito seguro para a maioria das pessoas. Entretanto algumas pessoa devem consultar seus médicos, antes de começar a
ser mais fisicamente ativas.

Se planeja tornar-se muito mais ativo do que atualmente, comece respondendo às sete perguntas a seguir. Se sua idade estiver entre
15 e 69 anos, o PAR-Q dirá se você deve consultar um médico antes de começar. Se tiver mais de 69 anos de idade e não está
acostumado a ser muito ativo, consulte seu médico.
o BOM SENSO é o seu melhor guia para responder a essas perguntas. Por favor, leia cada pergunta cuidadosamente e responda
honestamente: marque SIM ou NÃO.

SIM NÃO
1. Seu médico alguma vez já disse que você tem uma doença cardíaca e que você deveria fazer
apenas as atividades físicas recomendadas por ele?
2. Você sente dor no peito quando realiza uma atividade física?
3. No último mês, você sentiu dor no peito quando não estava fazendo atividade física?
4. Você perde seu equilíbrio por causa de tonturas ou você já perdeu a consciência alguma vez?
5. Você tem algum problema ósseo ou de articulação (exemplo: nas costas, no joelho ou no quadril)
que poderia piorar por uma alteração na sua atividade física?
6. Seu médico atualmente lhe receitou remédios (exemplo: diuréticos) para a sua pressão arterial
ou doença cardíaca?
7. Você sabe de qualquer outro motivo que o(a) impede de fazer atividade física?

SE VOCÊ RESPONDEU SIM A UMA OU MAIS PERGUNTAS


Fale com seu médico por telefone ou pessoalmente ANTES de começar a ser tornar muito mais ativo fisicamente ou
ANTES de passar por uma avaliação de aptidão. Fale com seu médico sobre o pAR-Q e sobre as questões em que
você marcou SIM.
• Você pode ser capaz de fazer qualquer atividade que deseje, desde que comece lentamente e aumente
gradualmente. Ou você pode restringir suas atividades apenas para aquelas que são seguras.
Fale com seu médico sobre os tipos de atividades de que deseja participar e siga seus conselhos
• Descubra quais programas comunitários são seguros e podem ajudar você

Atrase o início de se tornar muito mais


NÃO A TODAS AS QUESTÕES fisicamente ativo:
• Se você não estiver se sentindo bem por
Se você respondeu honestamente NÃO a todas as perguntas do causa de uma doença temporária como
PAR-Q, você pode ter certeza suficiente de que pode: uma gripe ou resfriado, espere até se
• Começar a ser muito mais fisicamente ativo, comece devagar e sentir melhor.
aumente gradualmente. Esse é o caminho mais seguro e fácil de • Se você está ou pode estar grávida, fale
seguir. com seu médico antes de se tornar ativa.
• Participe de uma avaliação de aptidão, esse é um modo excelente Observação: se a sua condição de saúde
de determinar sua aptidão básica e você pode planejar a melhor mudar de modo que passe a responder sim
maneira de viver ativamente. Também é altamente recomendável a qualquer das perguntas anteriores,
que você passe por uma avaliação da sua pessão arterial. Se a sua consulte o profissional de Educação Física
ou de Saúde. Pergunte se você deve
estiver acima de 14/9 , fale com seu médico antes de começar a ser modificar o seu planejamento de atividade
muito ativo fisicamente. física.
Uso informado do PAR-Q: a Sociedade Canadense de Fisiologia do Exercício, a Saúde do Canadá e seus agentes não assumem
responsabilidade por aqueles que realizarão atividade física e , se estiver em dúvida após completar este questionário, consulte
seu medico antes da atividade física

Não são permitidas modificações. Você é encorajado a fotocopiar o PAR-Q., mas apenas se utilizar o formulário
completo.
Observação: se o PAR-Q estiver sendo dado a uma pessoa antes de sua participação em um programa de atividade física ou
uma avaliação de aptidão, esse trecho pode ser utilizado para propósitos legais ou administrativos.
“Eu li, entendi e completei este questionário. Quaisquer perguntas que tinha foram respondidas até meu esclarecimento.”

NOME:_____________________________________________________________________________ DATA:________________________________________
ASSINATURA:________________________________________________________________________ TESTEMUNHA:_________________________________
ASSINATURA DO PAI:__________________________________________________________________
OU RESPONSÁVEL (para participantes menores de idade)

Observação: essa avaliação de atividade física é válida por um período máximo de 12 meses, a partir da data em que
foi completada e se torna inválida se sua condição se alterar e passar a responder SIM a qualquer uma de suas
sete perguntas.

Figura 2 - Questionário PAR-Q & YOU em idioma português / Fonte: ACSM (2016, p. 23).

25


A Triagem Pré-participação é fundamental e não pode a necessidade de monitoramento da saúde por meio de
ser ignorada: a anamnese – palavra de origem grega, que exames periódicos, principalmente, em indivíduos que
significa recordar. Trata-se de um questionário semies- apresentam sintomas ou fatores de risco (SILVA, 2010).
truturado em conhecimentos científicos e que represen- A estratificação de risco cardiovascular, como pre-
ta uma importante etapa na coleta de informações clíni- conizada pelo ACSM (2016), baseia-se num algoritmo
cas e de hábitos. Os itens essenciais para uma anamnese que se inicia pela identificação de doenças diagnostica-
objetiva e eficiente incluem: das, seguida pela análise de sinais e/ou sintomas e fina-
• Dados pessoais (sexo, idade). liza-se pela análise de fatores de riscos cardiovasculares.
• Dados cadastrais (endereço, telefone, e-mail). Portanto, inicialmente, o profissional buscará ques-
• Dados de ocupação (profissão, horário de traba- tionar o seu cliente sobre doenças diagnosticadas pre-
lho, turno). viamente, como as cardiovasculares (doença cardíaca,
• Dados de saúde (tipo sanguíneo, consulta médi- vascular periférica, cerebrovascular), as pulmonares
ca nos últimos 6 meses, doenças diagnosticadas). (doença pulmonar obstrutiva crônica, asma, doença
• Prática de atividade física (frequência e duração pulmonar intersticial, fibrose cística), as metabólicas
da atividade física).
(diabetes melito), as renais, hepáticas ou na tireoide.
• Sintomas (dor no peito, falta de ar, uso de medi-
Em caso de doença diagnosticada, como as anteriores, o
camentos contínuo).
indivíduo é considerado de “risco alto”. No caso das do-
• Fatores de risco para desenvolvimento de do-
enças estarem ausentes, são investigados os seus sinais
ença cardiovascular (sexo, idade, hereditarieda-
de, colesterol, hipertensão, obesidade, diabetes, e sintomas, pois, geralmente demonstram que a doença
fumo, sedentarismo, dislipidemia, hipertensão pode existir de forma oculta. Para isto, são considerados
arterial sistêmica) os parâmetros a seguir:
• Cirurgia prévia (realizou ou irá realizar alguma?). • Dor, desconforto (ou outro equivalente angino-
• Limitações ósteo-articulares (lesões, fraturas). so) no tórax, pescoço, mandíbula, braços ou ou-
• Limitações músculo-articulares (tipo e localização). tras áreas que se relacionam a isquemia.
• Gravidez. • Falta de ar em repouso ou em pequenos esforços.
• Qualidade do sono e horas de sono por noite. • Ortopnéia (falta de ar deitado) ou falta de ar no-
turna.
• Síncope (desmaio) ou tontura.
A partir das informações acima, o profissional de Educa-
• Edema maleolar.
ção física poderá ter um panorama abrangente da histó-
• Palpitação ou taquicardia.
ria do seu cliente. Por meio da Triagem Pré-participação,
• Claudicação intermitente.
também, é possível identificar a necessidade de um ates-
• Sopro cardíaco.
tado médico de liberação para a prática de atividade física,
• Fadiga excessiva ou falta de ar com atividades
o que garante maior segurança ao cliente e ao profissio-
usuais.
nal. Ademais, entende-se que esse procedimento pode
colaborar para a conscientização dos praticantes sobre

26
EDUCAÇÃO FÍSICA

Na presença de sinais ou sintomas de doença oculta, o da doença. A importância em conhecer os fatores de risco
indivíduo é considerado de “risco alto”. Em caso negativo, está na possibilidade de modificá-los, quando possível, e
há o aprofundamento sobre os fatores de risco. Um fator assim diminuir a ocorrência de determinada doença. Os
de risco em saúde é qualquer situação que aumenta a pos- principais fatores de risco para o desenvolvimento da do-
sibilidade de um indivíduo vir a desenvolver determina- ença cardiovascular elencados pelo ACSM são:

1. Idade: ≥ 45 anos (masculino) ou ≥ 55 anos (feminino)

2. Histórico familiar: infarto do miocárdio ou revascularização coronariana ou morte súbita, antes dos 55 anos de idade
do pai ou de outro parente de primeiro grau do sexo masculino (irmão ou filho) ou antes dos 65 anos de idade da mãe ou
de outro parente do primeiro grau do sexo feminino (irmã ou filha).
3. Tabagismo: fumantes de cigarros (tabaco, cachimbo, charuto ou cigarro de palha) ou ex-fumantes com menos de seis
meses de interrupção.

4. Hipertensão arterial sistêmica: pressão arterial sistólica ≥ 140 mmHg e/ou a diastólica ≥ 90 mmHg, confirmadas por
mensurações feitas pelo menos em 2 ocasiões diferentes ou indivíduos com hipertensão que fazem uso de medicação
anti-hipertensiva.
5. Dislipidemia: colesterol total ≥ 200 mg/dL ou lipoproteína de baixa densidade (LDL colesterol) ≥ 130 mg/dL ou
lipoproteína de alta densidade (HDL colesterol) < 40 mg/dL ou fazer uso regular de medicação para reduzir o nível do
colesterol. Para esses exames, considerar os últimos 12 meses, sem haver mudanças significativas no estilo de vida.
6. Diabetes: glicose sanguínea em jejum alterada ≥ 100 mg/dL, confirmada em pelo menos 2 ocasiões diferentes ou
glicemia, mas em uso de medicação hipoglicemiante. Considerar os últimos 12 meses, sem haver mudanças significativas
no estilo de vida.
7. Obesidade: a partir das medidas de massa corporal e estatura, calcular o índice de massa corporal (IMC) pela equação
(IMC = massa corporal / estatura ²). Fator de risco se o IMC ≥ 30 Kg/m² ou perímetro da cintura > 102 cm (masculino) e > 88
cm (feminino) ou, ainda, razão cintura/quadril ≥ 0,95 (masculino) e ≥ 0,86 (feminino).
8. Estilo de vida: refere-se aos hábitos das pessoas, especificamente sobre a participação em programas regulares de
exercícios (≥ 6 meses) ou atendimento às recomendações de pelo menos 30 minutos de atividade física moderada ou
vigorosa na maioria dos dias da semana.

Figura 3 - Fatores de risco para doenças cardiovasculares / Fonte: o autor.

27


Os fatores de risco mencionados podem ser iden- cos (alto, médio ou baixo). O ACSM (2016) esta-
tificados a partir de uma anamnese detalhada. beleceu as definições relacionadas ao risco para a
Coletadas estas informações, podemos categori- realização de exercício físico, conforme registrado
zar o nível do risco para prática de exercícios físi- na Tabela 2.

Categorias da Estratificação de Risco Fatores de risco


Homens com menos de 45 anos e mulheres com menos de 55 anos
Baixo risco assintomáticos, que apresentam no máximo um fator de risco para de-
senvolvimento de doença cardiovascular.
Homens com 45 anos ou mais, mulheres com 55 anos ou mais ou aque-
Moderado risco les que apresentam 2 ou mais fatores de risco para desenvolvimento de
doença cardiovascular.
Indivíduos com um ou mais sinais ou sintomas sugestivos de doença
Alto risco cardiovascular e pulmonar ou com doença cardiovascular, pulmonar ou
metabólica conhecida.
Quadro 3 - Critérios de estratificação de risco para a prática de atividade física / Fonte: adaptado de ACSM (2016).

A estratificação de risco permite que o profissional grama de atividade física, geralmente, uma atividade de
possa prescrever a intensidade e o volume de atividade intensidade leve.
física de modo individualizado e dentro dos padrões Para finalizar este tópico, vale destacar a importân-
de segurança. Deste modo, indivíduos com baixo ris- cia do Termo de Consentimento para Prática de Ativi-
co estão aptos a desenvolver atividades de intensidade dade Física, em que o aluno dá ciência de que recebeu
moderada e vigorosa. Indivíduos com risco moderado as orientações sobre os riscos e benefícios da atividade
podem realizar atividades leves e moderadas. Indiví- física, mesmo que não isenta a responsabilidade do pro-
duos com alto risco necessitam de uma ampla avalia- fissional em prescrever o exercício adequadamente e de
ção médica e orientação individualizada sobre o pro- maneira individualizada.

28
EDUCAÇÃO FÍSICA

Recomendações gerais para


a prática da atividade física
A Organização Mundial da Saúde (OMS) é a nossa refe- critas as recomendações atuais para a prática de ativida-
rência sobre as recomendações de atividades físicas para de física, de acordo com o ciclo da vida (WHO, 2010).
toda a população. Embora haja recomendações específi- As recomendações específicas para crianças e ado-
cas para cada fase no ciclo da vida, por diversos órgãos, lescentes (5 a 17 anos) indicam a necessidade de realizar
desde 2010, a OMS é rotineiramente citada. De forma 60 minutos (1 hora) ou mais de atividade física diária. As
geral, acumular maiores volumes de atividade física re- atividades, em maior parte, devem ser aeróbias, de inten-
presentará benefícios adicionais, contudo realizar qual- sidade moderada ou vigorosa, e devem incluir ativida-
quer volume de atividade física já é importante à saúde. des de intensidade vigorosa, por pelo menos 3 dias por
Como vimos anteriormente, mesmo uma simples cami- semana. Para crianças e adolescentes, é muito impor-
nhada já confere benefícios à saúde. A seguir serão des- tante o fortalecimento muscular, a partir de atividades e

29


as atividades físicas para crianças e adolescentes devem


ser apropriadas, divertidas e agradáveis para sua idade.
As recomendações de atividade física para adultos
(18 a 64 anos) incluem realizar pelo menos 150 minutos
(2 horas e 30 minutos) de atividade física por semana de
intensidade moderada ou 75 minutos (1 hora e 15 minu-
tos) por semana de atividade física de intensidade vigo-
rosa. A atividade aeróbica deve ser realizada em blocos
contínuos de, pelo menos 10 minutos e, de preferência,
deve ser na maior parte dos dias da semana. Para benefí-
cios adicionais à saúde, os adultos devem aumentar suas
atividades físicas de intensidade moderada para 300 mi-
nutos (5 horas) por semana ou uma combinação equiva-
lente à moderada e intensidade vigorosa. Ainda, os adul-
tos, também, devem fazer atividades de fortalecimento
muscular que envolvem os grandes grupos musculares
em dois ou mais dias por semana.
As recomendações para pessoas idosas (adultos
com 65 anos ou mais) são semelhantes às orientações
aos adultos, ou seja, de realizar pelo menos 150 minutos
(2 horas e 30 minutos) de atividade física por semana de
intensidade moderada ou 75 minutos (1 hora e 15 minu-
tos) por semana de atividade física de intensidade vigo-
rosa. Quando o idoso não conseguir fazer 150 minutos
brincadeiras que demandem força muscular, como cabo por semana de atividade física aeróbias e de força devi-
de guerra entre outras que solicitem esforços de empur- do a alguma limitação física ou fisiológica, eles devem
rar, tracionar e/ou sustentar o peso corporal. Isto deve ser tão ativos fisicamente quanto as suas capacidades e
ocorrer como parte dos 60 ou mais minutos diários de condições permitirem. De forma complementar, idosos
atividade física. Porém o fortalecimento muscular deve devem fazer exercícios que mantenham ou melhorem o
compreender pelo menos 3 dias da semana. equilíbrio e diminuam o risco de queda. Sabendo que
Tendo em vista o momento ótimo, que crianças e alguns indicadores fisiológicos estarão alterados devido
adolescentes passam em termos de desenvolvimento do o avanço da idade, os idosos devem determinar seu ní-
pico de massa óssea, atividades que fortaleçam os ossos, vel de percepção de esforço. Para idosos com doenças
a partir de movimentos com sobrecarga muscular ou crônicas, deve-se, inicialmente, entender como as suas
gravitacional (com impacto nas articulações) devem fa- condições de saúde afetam a sua capacidade de realizar
zer parte de seus 60 ou mais minutos diários de atividade atividade física regular de forma segura.
física ou, pelo menos, em 3 dias da semana. Sobretudo,

30
EDUCAÇÃO FÍSICA

Princípios utilizados na
prescrição de exercício físico
Em geral, um programa de exercício físico deve conside- individualidade biológica, segurança e fatores comporta-
rar os princípios básicos do treinamento desportivo: (1) mentais. O programa também deve considerar o grau de
sobrecarga que se refere ao “uso cumulativo aumenta a experiência e proficiência do sujeito para realizar as ativi-
capacidade funcional”; (2) especificidade que reside em dades bem como as demandas e objetivos do indivíduo e,
“efeitos específicos ao exercício e músculos envolvidos”; em termos gerais, adequado para a promoção da saúde.
(3) variabilidade que consistem em “variação em um ou O processo de sistematização de programas de
mais componentes para manter o estímulo”. Há outros exercícios físicos numa sessão tem diferentes partes,
princípios que são considerados como a reversibilidade, a saber:

31


1) AQUECIMENTO:
de 5 a 10 minutos, de intensidade baixa a moderada
(20 a 50% do VO2 máx), de exercícios aeróbicos submáximos.

2) SESSÃO DE CONDICIONAMENTO FÍSICO:


de 20 a 60 minutos, de exercícios.

3) RESFRIAMENTO:
de 5 a 10 minutos, de intensidade moderada.

4) FLEXIBILIDADE (COMPLEMENTAR):
em cerca de 10 minutos, de exercícios de alongamento (ACSM, 2016).

Figura 4 - Sistematização de programas de exercícios físicos

Como já vimos anteriormente, em uma sessão de con- de produção de energia predominantes para uma diver-
dicionamento físico, os princípios FITT-VP (frequên- sidade de esportes.
cia, intensidade, tempo, tipo, volume e progressão) são Os exercícios físicos aeróbios podem ser realizados
os parâmetros recomendados pelo ACSM (2016) para a em modos contínuos ou descontínuos. O exercício aeró-
prescrição do exercício físico. bio contínuo é um bloco realizado em intensidades baixas
O exercício físico aeróbio é o tipo de exercício mais a moderadas, sem intervalos de descanso. Exercício aeró-
bem documentado na literatura e utilizado para a pres- bio descontínuo (intervalado) consiste em vários blocos
crição. Ele é caracterizado por esforços físicos que sobre- intermitentes de exercício de baixa à alta intensidade, in-
carregam o coração e o sistema respiratório, que utilizam tercalados com períodos de descanso. Ambos os tipos de
grandes grupos musculares e que tenham contrações exercícios aeróbios produzem melhorias significativas no
musculares de forma ritmada e contínua (ACSM, 2016). VO2 max, mas a pesquisa sugere que quando o volume de
Obviamente, isto depende de uma integração dos siste- exercício é controlado, o treinamento de intervalo de re-
mas pulmonar, cardiovascular e hematológico para que sistência de alta intensidade (90–95% FCmax; 95% VO2R)
os mecanismos de captação, entrega e oxidação no mús- melhora o VO2 máx mais do que contínuo, intensidade
culo possam utilizados em exercício. A duração maior moderada (70% FCmax; 50% VO2 R) treinamento físico
que 30 segundos até 4 horas torna os sistemas aeróbios aeróbico em adultos saudáveis. No entanto há uma preo-

32
EDUCAÇÃO FÍSICA

cupação com alta intensidade, treinamento intermitente é prescrição de um programa geral de condicionamento
a possibilidade esgotamento do exercício, principalmente físico. A prescrição do exercício resistido para o aprimo-
em pessoas com condições especiais de saúde. Há relatos ramento da força tem, principalmente, como parâmetro
que a taxa de abandono de adultos em um programa de de sobrecarga o percentual de 1-RM, sendo que a faixa
treinamento intervalado de alta intensidade (descontí- ideal para a manutenção de força e resistência de força
nua) foi duas vezes maior do que em um programa contí- é de 60 a 84%, essa sobrecarga corresponde entre 8 a 12
nuo de corrida (HEYWARD; GIBSON, 2014). repetições. Entretanto a sobrecarga pode variar, depen-
A prescrição de exercício físico aeróbio tem melho- dendo do nível de experiência com exercícios de força e
ra inquestionável de indicadores de saúde da população da idade. Como visto anteriormente, a OMS (2010) re-
geral. Como vimos anteriormente, o ACSM (2016) re- comenda este tipo de atividade física para grandes gru-
comenda que a prescrição possa ocorrer pelo método pos musculares.
do VO2, a frequência cardíaca (máximo ou reserva) ou Os quadros a seguir apresentam os parâmetros FIT-
equivalente metabólico (MET). T-VP para a prescrição de exercícios em crianças e ado-
Os exercícios de força (também chamados de exer- lescentes (Quadro 4), adultos (Quadros 5 e 6) e idosos
cícios resistidos) têm sido, extensivamente, utilizados na (Quadro 7) baseado em Garber et al. (2011).

Exercícios Aeróbios
Frequência Diária
A maior parte deve ser exercício aeróbico de intensidade, de moderada à vigorosa.
Intensidade
A intensidade vigorosa deve ser incluída pelos menos 3 vezes na semana.
Tempo ≥ 60 minutos por dia.
Atividades físicas aeróbica agradáveis e adequadas ao desenvolvimento, incluindo caminhada
Tipo
rápida, corrida, natação, dança, ciclismo.
Exercícios de Fortalecimento Muscular
Frequência ≥ 3 dias por semana.
Tempo Parte dos 60 minutos diários ou mais de exercício.
Atividades não estruturadas (brincar em playground, escalar árvore, entre outras) ou estrutura-
Tipo
das (exercícios com pesos, bandas elásticas).
Exercícios de Fortalecimento Ósseo
Frequência ≥ 3 dias por semana.
Tempo Parte dos 60 minutos diários ou mais de exercício.
Tipo Atividades com sobrecarga gravitacional (saltos e impactos) ou tensional (exercícios com pesos).
Quadro 4 - Recomendações de exercícios físicos para crianças e adolescentes baseados em evidências.
Fonte: adaptado de ACSM (2016) e Garber et al. (2011).

Programas de exercícios físicos para crianças e ado- mudanças em tamanho e evolução dos sistemas car-
lescentes devem considerar particularidades dos pro- diovascular e neuromuscular e de composição corpo-
cessos de crescimento e desenvolvimento físico, como ral. As atividades físicas devem ter foco multilateral

33


(BOMPA, 2002), ou seja, uma abordagem sequencial ter graus de maturação bastante distintos (atrasado ou
no desenvolvimento de várias habilidades fundamen- adiantado) e, por fim, as principais diferenças fisioló-
tais, antes do início de um determinado exercício es- gicas em relação ao adulto devem ser conhecidas, pois
pecífico ou esporte. O grau de maturação biológica é elas impactam na capacidade de desenvolver força,
importante e precede a interpretação da idade crono- sustentar esforços prolongados, limitam esforços em
lógica, pois adolescentes com a mesma idade podem ambientes com climas extremos e geram maior fadiga.

Exercícios Aeróbios

≥ 5 dias.semana-1 de exercício moderado ou ≥ 3 dias.semana-1 de exercício vigoroso ou uma


Frequência
combinação entre moderado e vigoroso, em ≥ 3 a 5 dias.semana-1.
A intensidade moderada a vigorosa é recomendada para a maioria dos adultos.
Intensidade
A intensidade leve e moderada podem ser benéficas para indivíduos fora de forma.
30 a 60 min.dia-1 de exercício intencional moderado, ou 20 a 60 min.dia-1 de exercício vigoroso
Tipo ou uma combinação entre exercício moderado e vigoroso por dia para a maioria dos adultos.
< 20 min. de exercício por dia pode ser benéfico, especialmente, para indivíduos sedentários.
Exercício intencional, regular, que envolve a maioria dos grupos musculares e que tenha nature-
Tempo
za contínua e rítmica.
Volume desejado de ≥500 a 1.000 METs*-min.semana-1.
Aumentar a contagem de passadas do pedômetro em ≥2.000 passadas.dia-1 para alcançar uma
Volume
contagem de ≥7.000 passadas.dia-1 é benéfico.
Exercitar-se abaixo desses volumes pode ser benéfico para indivíduos incapazes.
Pode ser realizado em uma sessão única (contínua) por dia ou em múltiplas sessões com ≥10
Padrão min. para acumular a duração e o volume desejados de exercício por dia.
Sessões com < 10 min. podem levar a adaptações favoráveis em indivíduos muito fora de forma.
Quadro 5 - Recomendações de exercícios físicos aeróbicos para adultos baseados em evidência / Fonte: adaptado de ACSM (2016).
*METs: Unidade de equivalente metabólico

Em termos de progressão do programa de exercício aeró- aumenta a adesão e reduz os riscos de lesão musculoesque-
bios, é razoável o progresso gradual do volume com ajuste lética e eventos cardíacos. O Quadro 6 apresenta os parâ-
da duração, frequência e/ou intensidade. Essa abordagem metros de prescrição de exercícios resistidos em adultos.

34
EDUCAÇÃO FÍSICA

Exercícios de Resistência Muscular


Frequência Cada grupo muscular principal deve ser treinado 2 a 3 dias.semana-1
60 a 70% 1-RM (moderada a vigorosa) para novatos ou intermediários melhorarem a força.
≥80% 1-RM (vigorosa a muito vigorosa) para treinados e experientes melhorarem a força.
Intensidade 40 a 50% 1-RM (leve a muito leve) para sedentários e idosos, começando um treinamento resisti-
do.
<50% 1-RM (leve a moderada) para melhorar a resistência muscular e potência (idosos).
Tempo Não foi identificada duração de treinamento específica para a efetividade.
Exercício resistidos (ER), envolvendo cada grande grupo muscular.
ER multiarticulares que afetam >1 grupo muscular e trabalham agonistas / antagonistas.
Tipo ER uniarticulares que afetam uma articulação e os principais grupos musculares, após ER multiar-
ticulares para aquele grupo muscular em particular.
Pode ser utilizada uma variedade de equipamentos e/ou pesos corporais para a realização de ER.
8 a 12 repetições para melhorar força e a potência, na maioria dos adultos.
Repetições 10 a 15 repetições são mais efetivas para melhorar em “meia-idade” e idosos iniciantes.
15 a 30 repetições são recomendadas para melhorar a resistência muscular.
2 a 4 séries de ER para a melhora da força e potência, na maioria dos adultos.
Séries 1 série de ER pode ser efetiva para a melhora da força em idosos e iniciantes.
≤2 séries são efetivas para a melhora da resistência muscular.
Intervalos de repouso de 2 a 3 minutos entre cada séries são eficientes.
Padrão
Repouso ≥48, horas entre as sessões para qualquer grupo muscular único, é recomendado.
Quadro 6 - Recomendações de exercícios físicos resistidos para adultos baseados em evidência / Fonte: adaptado de ACSM (2016).
RM: repetições máxima. ER: exercício resistido.

A progressão do programa resistido deve ser gradual de flexibilidade é de 10 a 30 segundos para a maioria dos
e mais focada em maior resistência e/ou repetições adultos. Para facilitação neuromuscular proprioceptiva
por séries e/ou aumento da resistência. Os exercícios (FNP), a contração de 3 a 6 segundos, leve a moderada,
de flexibilidade e neuromusculares (ou funcionais) é seguida de flexionamento estático de 10 a 30 segundos.
também impõe sobrecarga ao sistema neuro-muscu- Para o tipo de exercício de flexibilidade, recomenda-se
lar, sendo importantes componentes de programas de uma série de exercícios para cada unidade musculo-
exercícios elaborados para idosos e pessoas em com- tendinosa e o flexionamento estático (passivo ou ativo)
plicações crônicas de saúde. dinâmico, balístico ou por FNP são todos efetivos na
O exercício para o aprimoramento da flexibilidade melhora da flexibilidade. O volume razoável é realizar
pode ser realizado por alongamentos balísticos, dinâ- 60 segundo de período total de forçamento para cada
micos lentos, estáticos e por facilitação neuromuscular exercício. Para o padrão, recomenda-se a repetição de
proprioceptiva. De acordo com os princípios FITT-VP, cada exercício de flexibilidade 2 a 4 vezes, sendo que o
recomenda-se frequência de ≥ 2 a 3 dias, na semana, sen- exercício de flexibilidade é mais efetivo quando o mús-
do que quando executado, diariamente, é mais efetivo. A culo está aquecido (ACSM, 2016).
intensidade dos exercícios de alongamento ocorre até o Os exercícios neuromusculares, denominados tam-
ponto que se perceba um enrijecimento ou desconforto bém de exercícios funcionais, consistem de atividades
da unidade muscular em questão. O tempo de exercícios multifacetadas que incluem aspectos neuromotores,

35


de flexibilidade e resistência muscular. Essas atividades exercícios proprioceptivos e atividades multifacetadas


ainda envolvem habilidades motoras, como equilíbrio, (i.e. tai chi, ioga). Sobre a intensidade, volume, padrão
coordenação, marcha, agilidade e propriocepção. Os e progressão, ainda, não foram determinados os níveis
exercícios neuromotores parecem trazer muitos benefí- ótimos necessários à promoção da saúde (ACSM, 2016).
cios à saúde, porém os princípios FITT-VP acumulam A prescrição de exercício físico para idosos deve
uma quantidade menor de evidência. A frequência re- focar em reduzir o impacto do envelhecimento bioló-
comendada é de ≥ 2 a 3 dias, na semana, e o tempo de gico sobre os sistema corporais bem como promover
execução pode ser ≥ 20 a 30 min. no dia. O tipo de exer- funcionalidade física e qualidade de vida. Assim, o
cício neuromotor envolve habilidades motoras, além de exercício físico pode:

1) OTIMIZAR AS ALTERAÇÕES NA COMPOSIÇÃO CORPORAL


RELACIONADAS À IDADE.
2) OTIMIZAR O TRANSPORTE E UTILIZAÇÃO DO OXIGÊNIO.
3) REDUZIR O ESTRESSE CARDIOVASCULAR E METABÓLICO EM
ESFORÇOS INTENSOS.
4) PROMOVER BEM-ESTAR PSICOLÓGICO E COGNITIVO.
5) REDUZIR OU ADMINISTRAR DOENÇAS CRÔNICAS.
6) REDUZIR RISCOS DE INCAPACIDADE FÍSICA,
7) AUMENTAR A LONGEVIDADE.

Figura 5 - Benefícios das atividades físicas para idosos / Fonte: adaptada de ACSM (2016).

36
EDUCAÇÃO FÍSICA

Exercícios Aeróbicos (idosos que não conseguirem realizar, devem ser ativos como puderem)

Frequência ≥ 5 dias na semana (intensidade moderada) ou ≥ 3 dias na semana (intensidade vigorosa).


Escala de esforço percebido de intensidade moderada (de 5 a 6) e vigorosa (de 7 a 8), numa esca-
Intensidade
la adaptada de 1 a 10.
Entre 30 a 60 minutos por dia (maior benefício) em sessões de 10 minutos (150 a 300 min.) ou de
Tempo
20 a 30 minutos de atividades vigorosas (75 a 10 minutos).
Atividades físicas aeróbica agradáveis quaisquer, mas que não imponham estresse ortopédico.
Tipo
Atividades de ciclismo e aquáticas podem ser vantajosas intolerantes à sustentação de peso.
Exercícios de Fortalecimento Muscular

Frequência ≥ 2 dias por semana.


40 a 50% 1-RM para idosos iniciantes. Sem 1-RM calculado, pode-se a percepção subjetiva (5 a 6),
Intensidade
numa escala adaptada de 1 a 10.
Exercícios de força progressivos com pesos ou calistenia ( 8 a 10 exercícios; ≥ 1 série de 10 a 15
Tipo
repetições). Subir escadas e outras atividades fortalecedoras podem ser alternativas.
Exercícios de Flexibilidade

Frequência ≥ 2 dias por semana.


Intensidade Alongamentos até o ponto de desconforto.
Tempo Manter flexionado por 30 a 60 segundos.
Quaisquer atividades lentas que mantenham o alongamento ou aumentem a flexibilidade para
Tipo
cada grupo muscular, utilizando insistências (e não os movimentos balísticos).
Quadro 7 - Recomendações de exercícios físicos resistidos para idosos baseados em evidência / Fonte: adaptado de ACSM (2016).
RM: repetições máxima.

De forma complementar, recomenda-se que sejam realizados exercícios de equilíbrio para a prevenção de quedas em
idosos. Um meta-análise (SHERRINGTON et al., 2011) levantou recomendações da melhor prática para a prevenção
de quedas, como:

37


1. EXERCÍCIO COM FOCO NO EQUILÍBRIO.


2. EXERCÍCIO REALIZADO EM DOSES SUFICIENTES (2 HORAS NA SEMANA).
3. DEVE-SE TER UM PROGRAMA REGULAR (CONTÍNUO E PROGRESSIVO).
4. EXERCÍCIOS DE EQUILÍBRIO PARA IDOSOS (INCLUSIVE PARA GRUPOS DE
ALTO RISCO).
5. EXERCÍCIOS INDIVIDUAIS OU EM GRUPOS.
6. EXERCÍCIOS QUE INCLUA CAMINHADA (COM MAIOR ATENÇÃO EM
GRUPOS DE RISCO).
7. EXERCÍCIOS RESISTIDOS PODEM SER INCLUÍDOS NO PROGRAMA.
8. PROGRAMA DEVE SER DESENVOLVIDO EM CONJUNTO COM O TRABALHO
DE OUTROS FATORES DE RISCO.

Figura 6 - Recomendação para prática de atividades físicas de idosos para prevenção de quedas / Fonte: adaptada de Sherrington et al. (2011).

Para finalizar este tópico, alguns cuidados e conside- evento cardiovascular. Assim como a confusão men-
rações devem ser feitos para o processo de prescrição tal, cianose ou palidez, náusea ou vômito, dispnéia,
de exercícios para idosos. Como parte de um grupo queda abrupta da pressão arterial ou mesmo o não
especial, o idoso exige grande atenção, especialmente aumento esperado da pressão arterial com o esforço.
em sintomas de tontura, síncope, angina, fadiga inco- Ao observar estes sinais e sintomas, é necessário in-
mum ou dor intolerável que podem ser sugestivos de terromper o exercício físico.

38
considerações finais

Nesta unidade, vimos que a atividade física e o exercício são constructos diferentes,
que consequentemente exigem diferentes abordagens em termos de orientação para
mudanças no estilo de vida e prescrição de forma sistematizada em sessões de trei-
namento. Vimos, também, que ambos provocam alterações benéficas importantes na
aptidão física (melhora da função física), qualidade de vida e bem-estar, assim como
o aprimoramento da saúde cardiovascular e metabólica, o que reduz a chance de
doenças crônicas dessa natureza, principalmente em grupos especiais e vulneráveis.
Considerando o potencial do exercício físico como tratamento não farmacológico,
percebe-se a sua utilização em pessoas com doenças crônicas, atuando de forma co-
adjuvante aos tratamentos convencionais, o que melhora a qualidade de vida, reduz
os sintomas clínicos e a chance de comorbidades secundárias dessas doenças de base.
Em termos práticos, vimos que as recomendações para a prática de atividade física,
no dia a dia é variável em função da idade do indivíduo, porém é comum que seja
composta de atividades aeróbias e de força. Quando se refere ao exercício físico, vimos
uma analogia de “dose-resposta” semelhante ao uso de medicamentos. Portanto, o
planejamento da “dose” de exercício físico é orientado a partir de princípios básicos
do treinamento físico (sobrecarga, especificidade e variabilidade) e pelas variáveis
FITT-VP (frequência, intensidade, tipo, tempo, volume progressão/padrão). Essa
abordagem não é a única disponível para o uso racional do exercício, mas está bem
consolidada na aplicação em pessoas com doenças crônicas e grupos especiais.
Ao se apropriar destas informações ficará muito mais fácil, prático e baseado em ci-
ência, organizar programas de exercício físico para diferentes populações, sejam elas
especiais, sejam com doenças crônicas.

39
atividades de estudo

1. O conhecimento sobre comportamentos, procedimentos e produtos que in-


terferem na saúde é essencial para a prescrição de exercício físico. Quanto
à relação entre atividade física, exercício físico e aptidão física, considere as
alternativas corretas:
I. Todo exercício físico é atividade física, o contrário também é verdadeiro.
II. A aptidão física é um produto da atividade física (comportamento) e da gené-
tica do indivíduo.
III. O exercício físico é prescrito a partir de princípios e variáveis, chamados FITT-
-VP, que remetem à frequência, intensidade, tempo, tipo, volume e progressão
/ padrão.
IV. A prescrição do exercício pelo cálculo do gasto energético considera o tempo
e tipo de atividade, assumindo que as pessoas de diferentes tamanhos e mas-
sa corporal gastam a mesma quantidade.
Assinale a alternativa correta:
a. Apenas, I e II estão corretas.
b. Apenas, II e III estão corretas.
c. Apenas, I está correta.
d. Apenas, II, III e IV estão corretas.
e. Nenhuma das alternativas está correta.

2. A prescrição de exercício físico para idosos deve focar em reduzir o impacto do


envelhecimento biológico sobre os sistemas orgânicos bem como promover
funcionalidade física e qualidade de vida. Sobre isso, assinale Verdadeiro (V)
ou Falso (F) para o que se entende como benefício do exercício físico:
( ) Otimizar as alterações na composição corporal relacionadas à idade.
( ) Reduzir o transporte e utilização do oxigênio.
( ) Reduzir o estresse cardiovascular e metabólico em esforços intensos.
( ) Promover bem-estar psicológico e cognitivo.
( ) Aumentar o risco de doenças crônicas.
Assinale a alternativa correta:

40
atividades de estudo

a. V, V, F, F, V.
b. F, F, V, V, V.
c. V, F, V, V, F.
d. F, F, F, F, V.
e. V, V, V, F, V.

3. A estratificação de risco é um importante momento pré-exercício para a pre-


venção de eventos cardiovasculares indesejáveis. Sobre o tema da estratifica-
ção de risco para a atividade física, assinale as alternativas corretas:
a. A Anamnese é um processo de pouca importância para a prescrição de exer-
cícios físicos para grupos especiais.
b. O PAR-Q & YOU é um questionário bastante simples para identificar doenças
diagnosticadas ou motivos que possam ser agravados pela prática de ativida-
de física.
c. No PARQ & YOU, caso haja “sim” em alguma das questões, o indivíduo estará
pronto para se tornar mais ativo fisicamente.
d. A estratificação de risco do ACSM representa uma abordagem mais complexa
e aprofundada, a partir da presença de doenças diagnosticadas, dos sinais e
sintomas sugestivos ou da presença de fatores de risco.

4. A Organização Mundial da Saúde é a referência sobre as recomendações de


atividades físicas para toda a população. Sobre isso, assinale Verdadeiro (V)
ou Falso (F):
( ) Para crianças e adolescentes, recomenda-se realizar 60 minutos ou mais de
atividades físicas diárias.
( ) Para crianças e adolescentes, é muito importante o fortalecimento muscular e
as atividades podem ser em brincadeiras, como cabo de guerra entre outras que
solicitem esforços de empurrar, tracionar e/ou sustentar o peso corporal.
( ) Para idosos, recomenda-se realizar pelo menos 300 minutos por semana de
atividade física de intensidade moderada ou 10 minutos de atividade física de in-
tensidade vigorosa.

41
atividades de estudo

( ) Quando o idoso não conseguir fazer as atividades físicas, devido a alguma limi-
tação física ou fisiológica, eles devem abandonar o programa de atividades físicas.
( ) Para idosos com doenças crônicas, deve-se inicialmente entender como as
suas condições de saúde afetam a sua capacidade de realizar atividade física re-
gular de forma segura.
Assinale a alternativa correta:
a. V, V, F, F, V.
b. F, F, V, V, V.
c. V, F, V, F, V.
d. F, F, F, F, V.
e. V, V, V, V, V.

5. Considerando o processo de transição demográfica haverá um aumento de


idosos no Brasil. Redija um parágrafo sobre os assuntos a seguir, conectan-
do-os na prescrição de exercícios físicos de uma idosa (70 anos), sem doenças
diagnosticadas, mas dois fatores de risco presentes, que busca melhorar a sua
função física e qualidade de vida.
1) Os princípios básicos do treinamento esportivo aplicados à prescrição de exer-
cícios.
2) Componentes comuns numa sessão de exercício físico.
3) Princípios FITT-VP (frequência, intensidade, tempo, tipo, volume e progressão)
são os parâmetros recomendados pelo ACSM.

42
LEITURA
COMPLEMENTAR

O exercício neuromotor, popularmente conhecimento como funcional, é uma meto-


dologia de treinamento baseada na funcionalidade. Esta atividade pode ser compre-
endida sob a ótica do princípio da funcionalidade, o qual preconiza a realização de
movimentos integrados e multiplanares.
Segundo Grigoletto et al. (2014), o termo “funcional” pode ser compreendido em rela-
ção à função ou ao desempenho, às funções orgânicas vitais, à capacidade de cumprir
com eficiência seus fins utilitários ou como adjetivo particular ou relativo às funções
biológicas ou psíquicas. Ainda, explicam os autores que os pressupostos associados
ao treinamento funcional é a “transferência” de adaptações orgânicas sobre a saúde e
qualidade de vida, pois implicam diretamente sobre as atividades da vida diária.
Assim, o desenvolvimento de exercícios integrados, variados, multiplanares, será
sempre adequado se considerarmos os fatores de estímulo mínimo e por sua vez, as
necessidades de repetição e sistematização, para produzir adaptações. O exercícios
neuromotores, que subsidiam o treinamento funcional, parecem ferramentas muito
promissoras ao acervo do profissional de Educação Física - particularmente para pres-
crição em grupos especiais e com doenças crônicas.
Contudo, o ACSM (2016) declara que mais investigações são necessárias para que os
parâmetros FITT-VP possam ser estabelecidos e consolidados para a prescrição de
exercícios físicos.

Fonte: Silva-Grigoletto, Brito e Heredia (2014).

43
material complementar

Indicação para Ler

Diretrizes do ACSM para os Testes de Esforço e sua Prescrição


ACSM
Editora: Guanabara Koogan
Sinopse: principal referência no campo da prescrição de exercícios físicos para
grupos especiais e pessoas com doenças crônicas. O livro apresenta um conteúdo
completo e atualizado com base em evidência científica acumulada da área. Con-
siderando que esta é a 10ª edição, os avanços das edições anteriores foram man-
tidos; portanto, além de ser uma referência detalhada é também um guia prático.

Indicação para Assistir

The Truth About Exercise


Ano: 2012
Sinopse: Michael Mosley, um jornalista, explora as pesquisas sobre os benefícios
de apenas três minutos de exercícios de alta intensidade por semana, além de re-
visitar conceitos e estratégias relacionadas à medida do exercício físico e atividade
física que impactam na saúde. Ele utiliza-se de própria cobaia humana e coloca-se
em experimentação, descobrindo o impacto de atividades simples, como cami-
nhada e ciclismo, para a saúde. Ainda, descobre porque algumas pessoas não
respondem ao exercício.

Indicação para Acessar

Página oficial da Organização Mundial da Saúde sobre as recomendações de atividade física para popula-
ção em diferentes faixas etárias.
Web: https://www.who.int/dietphysicalactivity/factsheet_recommendations/en/

O Exercise is Medicine® uma iniciativa global de saúde gerenciada pelo Colégio Americano de Medicina Es-
portiva (ACSM), incentiva dos profissionais da saúde a incluir atividade física em tratamentos de diferentes
pacientes.
Web: https://www.youtube.com/watch?v=AhvchRSofA4&list=PLH3yLqj49r0-5oEns-q0UkumFdTANUGrI

44
referências

ACSM. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. Rio de Janei-
ro: Guanabara Koogan, 2016.
BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes para o cuidado das pessoas com doenças
crônicas nas redes de atenção à saúde e nas linhas de cuidado prioritárias. Brasília:
Ministério da Saúde, 2013.
BOUCHARD, C. E.; SHEPHARD, R. J.; STEPHENS, T. E. Physical activity, fitness,
and health: International proceedings and consensus statement. 2. ed. Toronto: Hu-
man Kinetics Publishers, 1994.
BOMPA, T. O. Periodização: Teoria e Metodologia do Treinamento. Phorte, 2002.
CASPERSEN, C. J. et al. Physical activity, exercise, and physical fitness: definitions
and distinctions for health-related research. Public Health Reports, [online], v. 100,
n. 2, p. 126-31, 1985.
FARINATTI, P. T. V. Apresentação de uma versão em português do compêndio de
atividades físicas: uma contribuição aos pesquisadores e profissionais em fisiologia
do exercício. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício, [online], v. 2, p. 177-208,
2003.
GABRIEL, K. K. P. et al. Framework for physical activity as a complex and multidi-
mensional behavior. Journal of Physical Activity and Health, [online], v. 9, n. 1, p.
11-18, 2012.
GARBER, C. E. et al. American College of Sports Medicine position stand. Quanti-
ty and quality of exercise for developing and maintaining cardiorespiratory, muscu-
loskeletal, and neuromotor fitness in apparently healthy adults: guidance for prescri-
bing exercise. Medicine and Science of Sports and Exercise, [online], v. 43, n. 7, p.
1334-1359, 2011.
HEYWARD, V.; GIBSON, A. L. Advanced Fitness Assessment and Exercise Pres-
cription. 7. ed. Toronto: Human kinetics, 2014.
HOWLEY, E. T.; FRANKS, B. D. Manual do instrutor de condicionamento físico
para a saúde. Porto Alegre: ARTMED, 2000.

45
referências

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tematic review. International Journal of Nursing Studies, [online], v. 47, n. 12, p.
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PUCCI, G. C. M. F. et al. Association between physical activity and quality of life in
adults. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 46, n. 1, p. 166-179, 2012.
RODGERS, A. et al. Comparative risk assessment collaborating group distribution
of major health risks: findings from the Global Burden of Disease study. PLoS Medi-
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SHERRINGTON, C. et al. Exercise to prevent falls in older adults: an updated meta-
-analysis and best practice recommendations. New South Wales Public Health Bul-
letin, [online], v. 22, n. 4, p. 78-83, 2011.
SILVA, F. M. et al. (org.). Recomendações sobre Condutas e Procedimentos do Pro-
fissional de Educação Física. Rio de Janeiro: CONFEF, 2010.
SILVA-GRIGOLETTO, M. E.; BRITO, C. J.; HEREDIA, J. R. Functional training:
functional for what and for whom? Revista Brasileira de Cineantropometria e De-
sempenho Humano, Florianópolis, v. 16, n. 6, p. 714-719, 2014.
SUI, X. et al. Prospective study of cardiorespiratory fitness and depressive symptoms
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TANAKA, H. et al. Age-predicted maximal heart rate revisited. Journal of the Ame-
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USDHHS. Physical Activity Guidelines Advisory Committee Report, 2008. Washin-
gton: Department of Health and Human Services, 2008. Disponível em: https://health.
gov/sites/default/files/2019-10/CommitteeReport_7.pdf. Acesso em: 4 ago. 2020.
WARBURTON, D. E. R. et al. Health benefits of physical activity: the evidence.
CMAJ, Joinville, v. 174, n. 6, p. 801-809, 2006.
WHO. Global Recommendations on Physical Activity for Health. [S.l.]: World He-
alth Organization, 2010.

46
gabarito

Questão 1 - Resposta: alternativa “b”.


Questão 2 - Resposta: alternativa “c”.
Questão 3 - Resposta: alternativas “b” e “d”.
Questão 4 - Resposta: alternativa “a”.
Questão 5 - No processo de planejamento de prescrição de exercícios para a idosa
em questão, deve-se atentar aos princípios básicos do treinamento esportivo aplica-
dos à prescrição de exercícios, que se referem à sobrecarga, especificidade e varia-
bilidade, compreendendo a sua individualidade biológicas, limitações e potenciais.
Numa sessão clássica de exercício físico com esta idosa, haverá o aquecimento pou-
co mais prolongado (10 a 15 minutos), a parte principal de condicionamento físico
composta de exercícios aeróbicos e resistidos e o resfriamento em intensidade mo-
derada à baixa, próxima aos níveis de repouso. Os princípios FITT-VP recomendados
pelo ACSM para idosos incluem para os exercícios aeróbios a frequência de cinco
dias na semana, de intensidade moderada (monitorada pela percepção de esforço
subjetiva) ou exercícios de intensidade vigorosa numa frequência de pelo menos
três dias na semana. O tempo das sessões será de 30 a 60 minutos, em blocos de
pelo menos 10 minutos, a partir de atividades físicas aeróbias agradáveis quaisquer,
que não imponham estresse ortopédico. As atividades de ciclismo e aquáticas po-
dem ser vantajosas intolerantes à sustentação de peso. Os exercícios resistidos são
importantes para idosos e terão frequência de pelo menos duas vezes na semana,
em intensidade 40 a 50% de uma repetição máxima, sendo do tipo com pesos ou
calistenia (8 a 10 exercícios; ≥ 1 série de 10 a 15 repetições). Em algumas das ses-
sões de exercícios físicos, ao final, serão incorporados exercícios de flexibilidade, a
partir de alongamentos lentos nos maiores grupos musculares até o ponto de des-
conforto muscular, de 30 a 60 segundos de duração.

47
CONHECENDO, DIAGNOSTICANDO
E TRATANDO O SOBREPESO E A
OBESIDADE

Professor Dr. Luiz Rodrigo Augustemak de Lima

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Conceitos e Epidemiologia da Obesidade
• Etiologia, Fatores de Risco para a Obesidade e
Consequências à Saúde
• Ferramentas de Diagnóstico do Sobrepeso e da Obesidade
• Tratamentos da Obesidade
• Atividade Física e Prescrição do Exercício Físico na
Obesidade

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer os conceitos e a epidemiologia da obesidade.
• Apresentar a gênese da obesidade e os fatores de risco
envolvidos.
• Utilizar ferramentas para o diagnóstico da obesidade.
• Conhecer as formas de tratamento, medicamentos e não
medicamentosos, utilizadas na obesidade.
• Utilizar os princípios básicos da prescrição do exercício
físico para pessoas com obesidade.
unidade

II
INTRODUÇÃO

A
obesidade é uma doença crônica presente em muitos países,
em todo o mundo. As evidências atuais demonstram que in-
úmeros fatores são responsáveis pela gênese do ganho e ex-
cesso de peso, estes são considerados fatores de risco para o
desenvolvimento da obesidade. Além disso, quando o excesso de tecido
adiposo está instalado no organismo, este provoca diversos desequilíbrios
que desencadeiam consequências deletérias à saúde, entre elas doenças
conhecidas como hipertensão arterial, diabetes melito e tipos variados de
câncer. Portanto, é necessário que o profissional de educação física seja
capaz de identificar, diagnosticar e tratar o excesso de peso, no sentido
de reduzir as complicações à saúde e qualidade de vida da pessoa obesa.
Esta unidade tratará, inicialmente, dos conceitos e da epidemiologia
da obesidade, demonstrando que a transição nutricional atingiu vários
países no mundo, inclusive o Brasil. Posteriormente, serão tratadas as
questões de etiologia, fatores de risco para a obesidade e consequências
deletérias à saúde. A unidade seguirá com a apresentação de ferramentas
de diagnóstico do sobrepeso e obesidade que permitirá a prática profis-
sional sobre esta doença crônica. Nessa unidade, você, ainda, conhecerá
os diferentes tratamentos da obesidade, que podem ir além da atuação do
profissional de educação física, mas que exige o trabalho multidisciplinar
junto aos demais profissionais da saúde.
A partir destes conhecimentos básicos, poderemos, então, aprender
que o tratamento do sobrepeso e obesidade não é simplesmente “comer
menos e exercitar-se mais”. Assim, a atividade física e prescrição de exer-
cício físico na obesidade será nosso último tema, no qual serão visitados
conceitos e aplicações apresentadas na Unidade 1, além de desenvolver
os aspectos operacionais e as metas de programas de perda de peso, que
podem impactar no sucesso destas intervenções com pessoas obesas.


Conceitos e
epidemiologia da obesidade

A obesidade é uma doença crônica, definida como um O sobrepeso e a obesidade, que podemos chamar
acúmulo excessivo de gordura corporal que leva ao de excesso de peso, apresentam consequências im-
comprometimento da saúde, sendo consequência do portantes, desde perda da qualidade de vida até perda
balanço energético positivo (WHO, 2000). O número de de anos de vida e graves doenças crônicas não letais,
indivíduos acometidos tem avançado rapidamente em mas debilitantes: doenças cardiovasculares e cerebro-
diferentes países (MONTEIRO; CONDE, 2000), trans- vasculares, diabetes, hipertensão arterial sistêmica e
formando esta doença em um importante problema de certos tipos de câncer (FERREIRA; MAGALHÃES,
saúde pública e uma epidemia global. A causa do ganho 2006). Além disso, a literatura aponta que a obesidade
de peso e da obesidade é multifatorial, ou seja, estes fa- está associada às doenças mentais, como depressão e
tores atuam em conjunto, a genética, metabolismo, fator ansiedade, que podem ser acentuadas pela discrimi-
social, comportamental e cultura. nação social.

52
EDUCAÇÃO FÍSICA

Do ponto de vista epidemiológico, as taxas de obe- tudo, na análise estratificada por sexo, as maiores frequ-
sidade vêm aumentando em nível vertiginoso, ao longo ências de obesidade foram observadas no sexo mascu-
das últimas décadas. Os dados revelam que este cresci- lino em Manaus (27,1%), Cuiabá (25,4%) e Porto Velho
mento foi de 27,5% para adultos e 47,1% para crianças (23,2%) e, no sexo feminino, no Rio de Janeiro (24,6%),
entre 1980 e 2013, em todo o mundo. Em 1980, homens Rio Branco (23,0%) e Recife (22,6%) (BRASIL, 2019).
com excesso de peso representavam 28,8% da população Os custos médicos com a obesidade também são pre-
mundial, enquanto que mulheres representavam 29,8%; ocupantes. Estima-se que 2% a 7% dos orçamentos de saú-
em 2013, estas taxas foram para 36,9% e 38%, respecti- de, em países desenvolvidos, são destinados à obesidade
vamente. Esses aumentos foram observados principal- (WHO, 2000). No Brasil, não é diferente: o impacto econô-
mente em países desenvolvidos, mas também em países mico para o Sistema Único de Saúde (SUS) do sobrepeso e
em desenvolvimento (NG et al., 2014). obesidade, no que se refere aos procedimentos ambulato-
Especificamente, no Brasil, os níveis são alarmantes. riais, hospitalizações e medicações consomem cerca de 6%
Em adultos, 52,5% para homens e de 58,4% para mu- a 14% do orçamento (BAHIA et al., 2012). Se as despesas
lheres apresentaram excesso de peso (sobrepeso e obe- indiretas fossem incluídas, entre elas, os dias de trabalho
sidade); contudo, 11,7% dos homens e 20,6% das mu- perdidos, a incapacidade e o plano de saúde, os números
lheres são obesos (NG et al., 2014). Dados do VIGITEL seriam, ainda, mais altos (ABESO, 2012, on-line)¹.
(Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doen- O crescimento da obesidade, no Brasil, encontra-se
ças Crônicas por Inquérito Telefônico) revelaram que a dentro do processo de transformação do panorama ali-
frequência de adultos com excesso de peso (sobrepeso mentar do brasileiro. A urbanização e seu impacto, nos
e obesidade) variou entre 47,2% em São Luís e 60,7% padrões alimentares e na atividade física, também, con-
em Cuiabá. Em termos gerais, a obesidade variou entre tribui para a progresso do excesso de peso e obesidade
15,7% em São Luís e 23,0% em Cuiabá e Manaus, Con- (MONTEIRO; CONDE, 2000).

53


Etiologia, fatores de risco para a


obesidade e consequências à saúde
A principal causa da obesidade é o excesso de inges- caráter multifatorial (FERREIRA; MAGALHÃES 2006),
tão calórica, associado ao sedentarismo, por um perío- ou seja, é influenciada por uma interação de fatores so-
do prolongado, que resulta em um balanço energético ciais e biológicos - chamados de fatores de risco para a
positivo e tem como consequência o ganho de peso obesidade - que influenciam direta ou indiretamente o
(como exemplificado, na Figura 1, a seguir). Entretan- balanço energético; ao todo, são mais de 100 variáveis
to a etiologia da obesidade é muito complexa e possui que exercem este papel.

54
INGESTÃO DE ENERGIA Atividade física

umidas
Calorias cons ) Exercício
(alimentação
EDUCAÇÃO FÍSICA

Descrição da Imagem: a figura a representa uma balança desequilibrada, pendendo para o lado esquerdo que contém as inscrições “ingestão de
energia”: calorias consumidas (alimentação), indicando o ganho de peso, e, na figura b, vemos a mesma balança desequilibrada pendendo para a
direita em que a inscrição diz: “gasto energético”: calorias em repouso, atividade física, exercício, indicando a perda de peso.

GANHO DE PESO

GASTO ENERGÉTICO
PERDA DE PESO
GASTO ENERGÉTICO
Calorias em
repouso
Calorias em
repouso
INGESTÃO DE ENERGIA
INGESTÃO DE ENERGIA Atividade física
Atividade física
Calorias cons
umida
umidas Exercício (alimentação s
Calorias cons ) )
(alimentação Exercício

Figura 1 - Exemplos do desequilíbrio na relação entre ingestão e gasto calórico, como o ganho de peso (a) e perda de peso (b).

PERDA DE PESO
GASTO ENERGÉTICO

Calorias em
repouso
INGESTÃO DE ENERGIA

Atividade física
Calorias cons
umida
(alimentação s
O debategraph® desenvolve e alimenta um mapa da obesidade desde 2014,
)
Exercício
demonstrando a complexidade dessa doença crônica. Segundo eles, em-
bora a obesidade resulte do balanço energético positivo, existem muitos
fatores comportamentais e sociais que são complexos e que se combinam
para contribuir para as causas da obesidade. O acesso ao mapa da obesida-
de é público e você pode conferir as últimas atualizações sobre este tema
por meio do link: debategraph.org/obesityFSM
Para acessar, use o seu leitor de QR Code.

55


go para as bicicletas, temperatura ambiente e aclives e


declives da pista.
O fator da atividade física exprime-se em relação à
frequência, tipo e intensidade das atividades praticadas
por uma pessoa, como praticar esportes vigorosos se-
manalmente (corrida, basquete, futebol). Por outro lado,
observamos, diariamente, a diminuição da atividade fí-
sica no trabalho e na rotina diária, sem falar que o custo,
o acesso e as oportunidades de exercício físico são dife-
rentes entre as pessoas (MOTTA et al., 2004).
O fator ambiente alimentar influencia nas escolhas
Alguns estudos comprovaram a associação do fator ge- alimentares, como quando há dificuldade de acesso e
nético com a obesidade. Assim, quando o indivíduo pos- falta de disponibilidade de frutas e vegetais próximo à
sui um dos pais obesos, o risco de também desenvolver residência; em contrapartida, existe a facilidade, rapi-
obesidade é de 50%, aumentando para 80% quando am- dez e baixo custo no consumo de fast-foods e demais
bos os pais são obesos; quando nenhum dos pais é obe- alimentos ultraprocessados (MOTTA et al., 2004). En-
so, este risco é de 9% (ABESO, 2009). Isso ocorre porque quanto que o fator do consumo de alimentos trata da
se acredita que o fator genético pode ser o responsável quantidade (tamanho das porções), qualidade (valores
por influenciar a eficiência do organismo em aproveitar nutricionais) e taxa de ingestão de alimentos.
e armazenar os nutrientes ingeridos assim como pode Observamos, ao longo das últimas décadas, o aumento
influenciar também o gasto energético, a taxa metabóli- da disponibilidade de entretenimento passivo e a influên-
ca basal (TMB), o controle do apetite e o comportamen- cia da mídia (exposição à publicidade de alimentos), o que
to alimentar (TAVARES et al., 2010). reforça os fatores sociais, psicológicos e culturais. Outros
É importante ressaltar que, apesar de um indivíduo fatores importantes e relacionados ao ganho de peso são:
possuir forte influência genética para obesidade, esta pode educação, pressão dos pares, percepção de falta de tempo,
ser evitada por meio de esforços em prevenção desde a in- padrões de consumo de alimentos, transtornos alimenta-
fância, com o objetivo de evitar as consequências indese- res, ansiedade, estresse, autoestima, compensação, uso de
jadas da doença em curto, médio e longo prazo (ABESO, medicamentos. Ainda, há momentos da vida que apresen-
2009). Ainda, com relação ao fator metabólico, parece haver tam associação com a obesidade, como o casamento, viu-
uma associação da obesidade com desordens endócrinas, vez, separação, traumas, assim como deixar de fumar e a
como hipotireoidismo e problemas no hipotálamo. redução drástica da atividade física (TAVARES et al., 2010)
O fator ambiental impacta fortemente no indiví- Uma grande apreensão médica é sobre o risco
duo. O ambiente em que o indivíduo vive influencia elevado de distúrbios fisiopatológicos decorrentes da
no seu comportamento, por exemplo, ir de bicicleta ao obesidade, principalmente, nas pessoas com índice de
trabalho ou se deslocar com um veículo motorizado. massa corporal (IMC) acima de 30 kg/m². No figura 2,
Esta escolha pode ser dificultada devido à insegurança são apresentadas as principais comorbidades associa-
nas ruas e estradas, ausência de ciclovias, falta de abri- das à obesidade.

56
EDUCAÇÃO FÍSICA

• Hipertensão
Comorbidades • Hipertrofia ventricular esquerda com ou sem insuficiência cardíaca
cardiovasculares • Doença cerebrovascular
• Trombose

• Diabetes mellitus tipo II


Comorbidades • Hipotireoidismo
endócrinas • Dislipidemia
• Infertilidade
• Asma brônquica
Comorbidades • Apneia obstrutiva do sono
respiratórias • Síndrome da hipoventilação

Comorbidades • Refluxo gastroesofágico


• Hérnia de hiato
gastrointestinais • Colecistite
Comorbidades • Osteoartrose
músculo-esqueléticos • Defeitos posturais
• Câncer de mama
• Câncer de próstata
Neoplasias • Câncer de cólon e reto, vesícula, pâncreas
• Linfoma não Hodgkin
• Mieloma múltiplo
Doenças • Depressão
• Ansiedade
psiquiátricas
Figura 2 - Comorbidades associadas à obesidade / Fonte: adaptada de ABESO (2016).

Essas comorbidades são consequências do excesso de mortalidade prematura muito maior do que seus pares
peso que impacta, negativamente, a saúde e a qualidade não obesos e que não têm outras doenças (NHLBI, 2000).
de vida. Para o risco global da obesidade na saúde, tem As comorbidades quando associadas à obesidade
que se levar em conta a presença de outros fatores de ris- podem aumentar o risco prematuro de mortalidade, são
co. A pessoa que for obesa e apresentar outras doenças eles: hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo II, baixos
de cunho crônico-degenerativos podem ter um risco de níveis de colesterol HDL no sangue (< 35 mg/dL), níveis

57


elevados de colesterol LDL (≥ 160 mg/dL), histórico fa- causa de amputações traumáticas das extremidades infe-
miliar prematuro de doenças crônico degenerativas, ta- riores. Hu et al. (2001) realizou um estudo longitudinal
bagismo e idade (≥ 45 anos nos homens e ≥ 55 anos nas com 84.941 mulheres durante os 16 anos, sendo observa-
mulheres) (NHLBI, 2000). da uma incidência de 3.300 novos casos de diabetes. Neste
Rimm et al. (1995) demonstrou que o risco cardio- estudo, indivíduos que apresentaram um IMC maior que
vascular triplica se um jovem de 19 anos, no decorrer de 30 kg/m² tiveram esse risco quadruplicado.
sua vida adulta, ganhar mais de 20 kg corporais. Harris Além dessas doenças, ainda têm as cerebrovascula-
et al. (1993), em uma investigação epidemiológica longi- res, como os acidentes vasculares cerebrais (AVC), que
tudinal, avaliou durante 14 anos mais de 1200 mulheres representam a terceira causa de morte nos Estados Uni-
americanas com excesso de peso e identificou que aque- dos da América, sendo que 705 das pessoas que sofrem
las que perderam menos de 7,7% do seu peso corporal esse evento ficam debilitadas (STEIN; COLDITZ, 2004).
apresentaram uma incidência de doenças cardiovascu- A associação desses eventos com a obesidade foi repor-
lares muito maior do que seus pares que não apresenta- tado em algumas pesquisas como em Field et al. (2001),
vam excesso de peso. na qual homens com sobrepeso tiveram duas vezes mais
Em relação à hipertensão arterial e obesidade, Yong chances de ter um acidente desta natureza, sendo o risco
et al. (1993), numa investigação longitudinal ao longo menos evidente nas mulheres.
de 30 anos com homens e mulheres, observou que o A International Agency for Research on Cancer
ganho de peso influenciou em 20% a variabilidade da (Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer)
pressão arterial. Ademais, os indivíduos que ganharam responsabilizou a obesidade como um dos fatores causa-
peso acima dos níveis recomendados apresentaram 40% dores de diferentes tipos de câncer, por exemplo: 9% de
de chance de desenvolver hipertensão arterial sistêmica. câncer de mama em mulheres após a menopausa; 11% de
Sarno e Monteiro (2007), em um estudo transversal com câncer de cólon do útero; 37% de câncer de esôfago; 39%
adultos da cidade de São Paulo, identificou que mais de de câncer endometrial (STEIN; COLDITZ, 2004).
60% da hipertensão poderia ser evitada se as pessoas Ademais, a obesidade tem ligação também com
não apresentassem excesso de peso e valores de períme- algumas outras condições deletérias de saúde, que
tro da cintura acima dos níveis recomendados. necessitam de uma atenção especial, como é o caso
O diabetes mellitus tipo II também é uma comorbi- das osteoartrites, problemas gástricos, alterações no
dade que associada à obesidade aumenta o risco prema- humor, estresse contínuo, anormalidades ginecoló-
turo de morte. A diabetes é reportada pela Organização gicas, dentre outras (NHLIB, 2000; STEIN; COL-
Mundial de Saúde (WHO, 2004) como a principal causa DITZ, 2004). Assim, a obesidade faz parte do grupo
de novos casos de insuficiência renal terminal, aumenta de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT),
de 2 a 4 vezes a chance de ter uma doença ou evento coro- porque possui uma história natural prolongada,
nariano, é a principal causa de novos casos de cegueira em múltiplos fatores de risco, longo curso assintomáti-
adultos de 20 a 74 anos de idade, além de ser a principal co e em geral lento, prolongado e permanente.

58
EDUCAÇÃO FÍSICA

Ferramentas de diagnóstico
do sobrepeso e da obesidade
Como vimos anteriormente, o excesso de peso, mais sonância magnética. Estes métodos mais avançados são
pronunciado na obesidade, tem consequências negati- precisos e reprodutíveis, no entanto inviáveis para apli-
vas na saúde e na qualidade de vida do indivíduo. Por- cação clínica e/ou estudos em bases populacionais, devi-
tanto, diagnosticar o sobrepeso e a obesidade de forma do ao seu alto custo. Por isso, o método antropométrico
precoce representa uma contribuição importante para a tem se mostrado eficiente por sua praticidade, acessibi-
atenção à saúde, com potencial em reduzir as comorbi- lidade e facilidade no manuseio, com o objetivo de iden-
dades e demais complicações citadas. tificar indivíduos que possuem riscos relativos à saúde.
Nesse sentido, a evolução tecnológica levou ao avan- Para diagnosticar e classificar a obesidade, utili-
ço dos métodos para mensurar a quantidade de gordura zamos, principalmente, o índice de massa corporal
corporal, como a tomografia computadorizada e a res- (IMC), que nada mais é do que o cálculo entre massa

59


corporal (kg) e estatura (m)² (IMC = kg/m²). Quando quantidade de gordura corporal, o que interfere dire-
o IMC de um indivíduo encontra-se acima de 30 kg/ tamente na saúde do indivíduo. A Tabela 1 apresenta
m², ele é classificado como obeso. Estudos mostram a classificação do sobrepeso e obesidade em relação
que quanto maior o valor do IMC, maior também a ao valores de IMC.

Classificação IMC (kg/m2) Risco à Saúde


Baixo peso < 18,4 -
Peso normal 18,5-24,9 -
Sobrepeso 25,0-29,9 Aumentado
Obeso grau I 30,0-34,9 Moderado
Obeso grau II 35,0-39,9 Grave
Obeso grau III – mórbido 40,0 Muito grave
Tabela 1 - Classificação do risco a saúde de acordo com o Índice de Massa Corporal para adultos / Fonte: Diretrizes do ACSM (2016, p. 59).

O IMC é a medida mais utilizada em todo o mundo O perímetro da cintura é utilizado para o diagnóstico da
para conhecer o estado nutricional da população do obesidade abdominal, o que inclui a gordura localizada
indivíduo, devido a sua simplicidade, baixo custo e ra- na região visceral, considerada um forte fator de risco
pidez na tomada de medidas e interpretação. Contudo potencial para a doença cardiovascular, independente-
esta técnica apresenta algumas limitações importantes mente da gordura corporal total. Estudos apontam que
de serem consideradas: é uma medida de forte relação com métodos que quan-
1. Não mede a gordura corporal ou massa magra. tificam a gordura corporal a partir de imagens. Ainda, a
Por exemplo, para indivíduos musculosos (fisi- combinação da medida de IMC e do perímetro da cintu-
culturistas), o IMC pode apontar para um falso- ra é superior para predizer o risco relativo à saúde, basea-
-positivo, indicando que estão na faixa de sobre-
do nas proporções de gordura corporal (JANSSEN et al.,
peso ou obesidade
2002). Quando combinados, há um aumento substancial
2. Não avalia a distribuição da gordura corporal.
A localização da gordura corporal é importante, na predição de risco à saúde (NHLBI, 1998), aumentan-
especialmente quando localizada na região cen- do assim a identificação de potenciais falsos-negativos. A
tral do corpo. interpretação do excesso de gordura para o aumento do
risco à saúde abdominal, pelo perímetro da cintura, pode
ser visualizado na Tabela 2 e a combinação da medida de
IMC e do perímetro da cintura na Tabela 3.

Risco de doenças metabólicas Homem Mulher


Alto 94 80
Muito Alto 102 88
Tabela 2 - Valores para perímetro da cintura (cm) associados aos agravos à saúde para homens e mulheres.
Fonte: adaptada de Diretrizes do ACSM (2016).

60
EDUCAÇÃO FÍSICA

IMC (kg/m2) Perímetro da cintura


Risco de doenças meta-
bólicas
Homem: 94-101 Homem: 102
Mulher: 80-87 Mulher: 88
Baixo peso < 18,5 - -
Peso saudável 18,5-24,9 - Aumentado
Sobrepeso 25,0-29,9 Aumentado Alto
Obesidade 30 Alto Muito alto
Tabela 3 - Combinação das medidas de índice de massa corporal (kg/m²) e perímetro da cintura (cm) em adultos.
Fonte: adaptada de Diretrizes do ACSM (2016).

Embora o tema da obesidade infantil exige mais espa- do IMC também está associado ao aumento da gordura
ço do que é possível nessa unidade, sabe-se que há um corporal em crianças e adolescentes (ALVES JUNIOR et
aumento consistente da prevalência de obesidade em al., 2017). Para grupos mais jovens, sugere-se a utilização
crianças e adolescentes. Portanto, a utilização do IMC da proposta internacional da Organização Mundial da
também pode ser realizado nesse grupo, pois o aumento Saúde, apresentada na Tabela 4.

Sobrepeso Obesidade
Idade (anos)
Meninos Meninas Meninos Meninas
15 23,29 23,94 28,30 29,11
15,5 23,60 24,17 28,60 29,29
16 23,90 24,37 28,88 29,43
16,5 24,19 25,54 29,14 29,56
17 24,46 24,70 29,41 29,69
17,5 24,73 24,85 29,70 29,84
18 25,00 25,00 30,0 30,0
Tabela 4 - Pontos de corte de Índice de Massa Corporal para adolescentes / Fonte: Cole et al. (2000).

Como visto anteriormente, a evolução tecnológica comum no contexto clínico, é importante um breve
levou ao avanço dos métodos para mensurar a com- esclarecimento sobre estes, pois comumente estas
posição corporal, especialmente a quantidade de gor- técnicas aparecem em textos científicos e começam a
dura corporal para a precisa análise da obesidade. estar disponíveis para avaliação para prática dos pro-
Embora estas técnicas tenham alto custo e aplicação fissionais de Educação Física.

61


Tratamentos
da obesidade
O tratamento do sobrepeso e obesidade não deve ser, dietas que têm como objetivo trazer ao indivíduo quan-
simplesmente, uma recomendação para comer menos e tidade menores de calorias, além de quantidades míni-
exercitar-se mais. Trata-se de uma doença crônica e de mas de gordura. Ao passo que dietas com restrição caló-
causa multifatorial, exigindo um tratamento complexo rica tendem a induzir um balanço energético negativo,
e multidisciplinar, envolvendo os elementos: dietético, dietas com uma restrição calórica mais rígida seriam
exercício físico, farmacológico, comportamental por mais eficientes no processo de redução de peso corporal,
meio da terapia cognitivo-comportamental e mudança contudo necessidades vitamínicas e de sais minerais não
no estilo de vida, e, em casos de maior gravidade, inclui- são atingidas (NHLBI, 1998).
-se o tratamento cirúrgico (ABESO, 2016). Atualmente, o tratamento dietético não se trata ape-
As orientações dietéticas são a primeira linha de en- nas de objetivar o balanço energético negativo. Este deve
frentamento da obesidade, sobretudo as prescrições de ser associado à mudança comportamental, mantendo-se

62
EDUCAÇÃO FÍSICA

por longos períodos e levando em conta que, ao incluir seu elevado IMC e/ou condições clínicas de presença
e/ou excluir alimentos, é fundamental considerar os an- de comorbidades. Nestes casos, os riscos e benefícios
tecedentes socioculturais, a motivação do indivíduo, os devem ser cuidadosamente ponderados antes da inter-
custos e a facilidade na aquisição e preparo. O que de- venção cirúrgica (ABESO, 2009), pois a cirurgia bari-
termina o sucesso em um programa de emagrecimento, átrica é um processo agressivo ao organismo. Entre os
em longo prazo, é o método, a velocidade de perda de procedimentos disponíveis há a utilização de bandas ou
peso, a fisiologia individual e a mudança comportamen- anéis colocados verticalmente para obstruir a passagem
tal (ABESO, 2016). do alimento para o estômago ou redirecionamento do
A intervenção farmacológica é uma estratégia no alimento por uma via secundária adaptada pelo próprio
tratamento da obesidade, ela é indicada em adultos cirurgião (NHLBI, 1998). Abaixo, podemos verificar os
com IMC > 30 kg/m² ou adultos com IMC > 27 kg/ critérios de indicação para a cirurgia (Quadro 2).
m² na presença de comorbidades (NHLBI, 1998). Esta • Adultos com IMC > 40 kg/m² sem outras morbida-
intervenção sempre está acompanhada de mudança de des.
estilo de vida, que inclui dieta e atividade física. Assim, • Adultos com IMC 35 kg/m2 com uma ou mais mor-
bidades associadas.
o tratamento farmacológico é coadjuvante e deve ser • Adultos com resistência a tratamentos conservado-
individualizado, sob supervisão médica. Não significa res há pelo menos 2 anos.
que seja indicado a todos os indivíduos com sobrepeso • Adultos que aceitem, entendam e estejam motiva-
dos para a cirurgia.
e obesidade, além de ser contraindicado na ausência de • Ausência de contra-indicações.
outros tratamentos não farmacológicos, principalmente Quadro 2 - Critérios de indicação para cirurgia bariátrica para adultos
a mudança no estilo de vida (ABESO, 2016). entre 18 e 65 anos / Fonte: ABESO (2009, p.75).

Os medicamentos comumente utilizados, geral- É importante saber que há evidências limitadas para
mente, inibem o receptor de alguma enzima ou hormô- recomendação da cirurgia bariátrica aos pacientes com
nio relacionado ao processo de absorção ou saciedade. IMC inferior a 35 kg/m², nem para indicar tal cirurgia,
Contudo há efeitos deletérios ao organismo como doen- especificamente, para o controle glicêmico em diabéti-
ça valvular do coração, hipertensão pulmonar primária, cos, independentemente do IMC.
aumento da frequência cardíaca, pressão arterial e ainda
ocorre deficiência na absorção de vitaminas devido a
sua estrutura lipossolúvel (NHLBI, 1998).
O tratamento psicológico consiste na análise do ce-
nário e modificação de transtornos de comportamentos
associados ao estilo de vida, além do encorajamento e
da motivação para manter mudanças, em longo prazo,
associado ao suporte social (ABESO, 2016).
O tratamento cirúrgico da obesidade é indicado
quando indivíduo não obteve sucesso em tratamentos
anteriores e mais conservadores ou quando indivíduo
apresenta um grau maior de risco à saúde devido ao

63


Atividade física e prescrição


de exercício físico na obesidade
Observamos, nas sessões anteriores, que a prevalên- O propósito do tratamento da obesidade não é
cia da obesidade e sobrepeso vem aumentando, tanto somente diminuir o peso do paciente, como também
em países desenvolvidos, como naqueles que estão em prevenir e/ou amenizar as comorbidades relaciona-
desenvolvimento, sendo, por isso, considerada uma das ao excesso de peso, de modo que a qualidade de
epidemia mundial. Vimos, também, que a obesida- vida do indivíduo aumente. Neste sentido, o profis-
de é uma doença crônica e multifatorial, associada às sional de educação física tem papel fundamental e
diversas comorbidades que, por sua vez, diminuem a integrante no tratamento da obesidade e deve estar
qualidade de vida. Assim, trataremos da atividade fí- ciente dos benefícios da atividade e do exercício físi-
sica como um recurso indispensável para o manejo do co em um programa de perda de peso e mudança de
peso corporal em pessoas obesas. estilo de vida, o que inclui:

64
EDUCAÇÃO FÍSICA

• Dispêndio de calorias e perda de peso em longo prazo.


• Manutenção do peso em médio e longo prazo.
• Melhoria na circulação sanguínea.
• Manutenção da tonificação dos músculos.
• Aumento da taxa de metabolismo (a quantidade de calorias que
o seu organismo queima 24 horas por dia).
• Melhoria nas funções cardíacas e pulmonares.
• Prevenção de diabetes, pressão arterial elevada e colesterol alto.
• Redução da ansiedade, estresse e depressão.
• Aumento da habilidade de concentração e do autocontrole.
• Melhoria na qualidade do sono.
• Melhoria na aparência.

Figura 3 - Infográfico benefícios da atividade e do exercício físico em um programa de perda de peso / Fonte: o autor.

• Incluir práticas de atividade física (> 150 min até


A perda de peso obtida por meio da terapia nutricional
250 min na semana).
também é capaz de melhorar o quadro clínico da do-
• Incluir reduções na ingestão de gordura na dieta
ença. Todavia os benefícios adicionais adquiridos com para < 30% da ingestão calórica total, enfatizar o
a integração do exercício físico favorecem o controle consumo de frutas, verduras e cereais.
metabólico e têm papel fundamental na manutenção do • Incluir alimentos aceitáveis, em termos contex-
peso. Portanto, não há dúvidas sobre a contribuição con- tos culturais e custos.
junta da atividade física e alimentação adequada para o • Proporcionar balanço energético negativo de
tratamento da obesidade. 500 a 1000 kcal.dia-1, resultando numa perda de
O ACSM (2009) e AHA/ACC/TOS (2014) orientam 0,5 a 1,0 kg.semana-1.
que os programas de perda de peso devem incluir: • Incluir mudanças comportamentais e prevenção
• Meta de redução do peso em longo prazo (3 a 6 de recaídas e ganho de peso, assim como estraté-
meses): pelo menos 5 a 10% do peso. gias de manutenção (200 a 300 min.semana-1).

65


4. Recomenda-se o uso da bicicleta ergométrica,


Contudo, antes de prescrever a atividade física, sabe-
em vez da esteira ou demais estratégias alterna-
mos que é necessário realizar o teste de esforço. Enfa- tivas nas quais o indivíduo obeso não transporte
tizamos alguns cuidados especiais acerca do teste de seu peso corporal.
esforço aos pacientes obesos, com base nas diretrizes 5. Utilizar o tamanho adequado da braçadeira para
do ACSM (2009): medir a pressão arterial, para evitar medidas im-
1. A influência de comorbidades aumenta a classi- precisas.
ficação de risco; portanto, a triagem médica an- 6. Os critérios de interrupção padronizados no tes-
tes do teste de esforço é indispensável. te de esforço máximo podem não se aplicar aos
2. Avaliar a presença de problemas musculoesque- indivíduos obesos, pela dificuldade em alcançar
léticos e/ou ortopédicos prévios. os critérios fisiológicos tradicionais.
3. A maioria das pessoas com peso excessivo não é
A tabela, a seguir, apresenta as orientações gerais
fisicamente ativa. Isso significa que a prescrição
da carga inicial deve ser baixa, aumentando gra-
para a preparação de programas de atividade fí-
dativamente. sica para perda e manutenção de peso, segundo o
ACSM (2009).

Objetivos Orientações
A duração da atividade física deve ser entre 150 a 250 min./semana, que
Prevenir o ganho de peso
equivale a um gasto calórico entre 1200 a 2000 kcal/semana.
A duração da atividade física deve ser entre 225 a 420 min/semana para
Perda de peso
promover uma perda entre 5 a 7,5 kg.
Manter o peso após atingir a Para manter o peso após uma redução é necessário uma atividade física
meta estipulada entre 200 e 300 min./semana.
Exercício de resistência para a O treinamento de resistência promove a manutenção do peso e principal-
perda de peso mente mantém a massa corporal magra.
Tabela 5 - Evidências para orientação e prescrição para atividade física para indivíduos obesos / Fonte: ACSM (2009, on-line).

Ainda, o ACSM (2009) preconiza que a prescrição da o gasto calórico total com a atividade. Portanto, deve-se
atividade física para indivíduos obesos deve iniciar com ter a clareza do volume semanal adequado para as con-
uma baixa intensidade e aumentar gradativamente, dições iniciais do indivíduo, considerando seus níveis de
sempre dando ênfase ao volume (duração) e a frequ- motivação no início do programa. Sobretudo, devem-se
ência (sessões) em vez da intensidade, pelo menos no estabelecer metas que possam ser alcançadas pelo in-
início dos programas. Assim, a modalidade primária divíduo obeso, para que o mesmo continue estimulado
deve consistir em atividades aeróbicas realizadas com no programa de exercícios. Não podemos esquecer que
grandes grupos musculares. Indivíduos que tenham a indivíduos obesos correm maior risco de lesões ortopé-
meta de reduzir o peso corporal devem elevar o gasto dicas, assim atividades de baixo impacto (hidroginásti-
energético entre 225 a 420 kcal/semana, considerando cas) podem ser uma alternativa em casos de obesidade
que a progressão deve ser estimulada a fim de aumentar mórbida (ACSM, 2009).

66
EDUCAÇÃO FÍSICA

Vimos que numa sessão de condicionamento físico, os doenças crônicas, como indivíduos obesos. O Quadro 1
princípios FITT-VP (frequência, intensidade, tempo, tipo, indica os princípios FITT-VP utilizados para a prescrição
volume e progressão) são os parâmetros recomendados de exercícios em obesos. Lembre-se de que é importante
pelo ACSM (2016) para a prescrição do exercício físico. Es- utilizar como controle da intensidade a frequência cardíaca
tes mesmos princípios são utilizados em populações com de reserva e a escala de percepção de esforço.

Exercícios Aeróbios

Frequência ≥ 5 dias na semana (para maximizar o gasto energético)

Foco em atividades físicas de intensidade moderada à vigorosa.


No início do programa de exercícios, recomenda-se intensidade moderada (ex: 40 a 60% da
Intensidade
FCreserva), com ajuste gradual para intensidades mais elevadas (ex: ≥ 60% das FCreserva), que irá
provocar maiores benefícios.
Mínimo de 30 minutos por dia (150 minutos na semana), aumentando até 60 minutos por dia (300
minutos na semana).
Exercícios intermitentes (com blocos mínimos de 10 minutos) pode ser uma alternativa aos contí-
Tempo
nuos.
Exercícios vigorosos podem ser úteis para reduzir o tempo, mas os indivíduos devem estar aptos
e dispostos. Ainda, deve-se reconhecer um risco de lesões.

Tipo Principalmente atividades físicas aeróbicas, que envolvam grandes grupos musculares.

Exercícios de Fortalecimento Muscular

Frequência 2 a 3 dias por semana.

Intensidade 40 a 70% de 1-RM.

Tempo Parte dos 60 minutos diários ou mais de exercício.

Cada grupo muscular principal deverá ser estimulado, preferencialmente em ações multiarticula-
Tipo
res, utilizando equipamentos ou peso corporal.
Repetições 8 a 12 repetições para melhorar força e a potência, na maioria dos adultos.
Séries 2 a 4 séries de exercício resistido para a melhora da força e potência, na maioria dos adultos.
Intervalos de repouso de 2 a 3 minutos entre cada série.
Padrão
Repouso ≥48 horas entre as sessões para qualquer grupo muscular único.
Progressão Progresso gradual de mais repetições por série e / ou aumento de resistência.
Quadro 1 - Recomendações de exercícios físicos para indivíduos com sobrepeso e obesidade baseados em evidência / Fonte: adaptado de ACSM (2016).

É importante reconhecer outras maneiras de prescrever tabólicos deflagra um meio interessante de quantificar
exercício físico, o gasto energético em equivalentes me- as sessões e o gasto em todo o programa.

67
considerações finais

Ao longo desta unidade aprendemos os conceitos-chave envolvidos na obesidade, como a sua


definição expressa pelo acúmulo excessivo de gordura corporal que leva ao comprometimento
da saúde. Na epidemiologia dessa doença crônica, destaca-se a prevalência de excesso de peso
(sobrepeso e obesidade), no Brasil, de 52,5% para homens e 58,4% para mulheres, enquanto os
dados do VIGITEL (BRASIL, 2019) revelaram que o excesso de peso variou entre 47,2% em São
Luís e 60,7% em Cuiabá.
Compreendemos que a etiologia da obesidade é complexa e possui caráter multifatorial, influen-
ciada direta e indiretamente por dezenas de fatores, que incidem sobre o balanço energético
positivo. O cenário da obesidade causa complicações cardiovasculares, endócrinas, respiratórias,
gastrointestinais, músculo esqueléticas, neoplasias e psiquiátricas, que têm desfechos de maior
morbidade e mortalidade.
Há formas simples e utilizadas em larga escala para o seu diagnóstico, como a utilização do
índice de massa corporal (IMC) e pela medida do perímetro da cintura. Vimos, que, a partir
destes indicadores, pode-se diagnosticar a obesidade, até mesmo em nível central. Portanto,
medidas simples, de baixo custo e fácil operacionalização podem ser utilizadas para a identi-
ficação da obesidade.
Por fim, vimos diferentes abordagens de tratamentos da obesidade, entre os não-medicamen-
tosos, como mudanças no estilo de vida (atividade física e dietas que aumentem o gasto ener-
gético e reduzam a ingestão calórica), farmacológica, psicológica e cirúrgica que irão variar de
acordo com a gravidade da obesidade. O aumento da atividade física habitual e o engajamento
e exercícios físicos são extremamente importantes para pessoas com excesso de peso, com foco
em aumento do gasto energético com impacto em balanço energético negativo e redução de
peso sustentável, em médio e longo prazo. Assim, os exercícios físicos aeróbios e resistidos são
fundamentais e precisam ser orientados, a partir dos princípios FITT-VP, para que as variáveis
de exercícios possam ser adequadamente manipuladas e tenham impacto significativo na vida
da pessoa com excesso de peso.

68
atividades de estudo

1. São citados na literatura, diferentes fatores que determinam o surgimento da


obesidade. Nesse aspecto, considere as alternativas corretas sobre os seus
fatores de risco (que aumentam a chance da obesidade):
I. Fatores sociais, psicológicos e culturais não explicam a obesidade e devem ser
desconsiderados.
II. O fator do ambiente alimentar influencia nas escolhas alimentares, como
quando há dificuldade de acesso e falta de disponibilidade de frutas e vegetais
próximo à residência.
III. O fator genético se expressa mais fortemente quando ambos os pais são obe-
sos; portanto, a chance de ser obeso pode chegar a 80%.
IV. O fator ambiental influencia no comportamento do indivíduo, como ir de bici-
cleta ao trabalho ou se deslocar com um veículo motorizado.
Assinale a alternativa correta:
a. Apenas, I e II estão corretas.
b. Apenas, II e III estão corretas.
c. Apenas, I está correta.
d. Apenas, II, III e IV estão corretas.
e. Nenhuma das alternativas está correta.

2. O diagnóstico do sobrepeso e obesidade de forma precoce representa uma con-


tribuição importante para a atenção à saúde, com potencial em reduzir as co-
morbidades e demais complicações citadas. Sobre isso, assinale Verdadeiro (V)
ou Falso (F) para o que se entende como adequado para o processo de avaliação:
( ) Pode-se diagnosticar a obesidade a partir da observação direta de fotos.
( ) O índice de massa corporal é o indicador antropométrico de estado nutricional
mais utilizado em todo o mundo.
( ) O adulto é considerado obeso quando o índice de massa corporal é maior que
30 kg/m².
( ) O perímetro da cintura é utilizado para o diagnóstico da obesidade abdominal.
( ) A antropometria é uma técnica de baixo custo, simples e prática.

69
atividades de estudo

Assinale a alternativa correta:


a. V, V, F, F, V.
b. F, V, V, V, V.
c. V, F, V, V, F.
d. F, F, F, F, V.
e. V, V, V, F, V.

3. Sabe-se que há diferentes tratamentos (comportamentais, farmacológicos e


cirúrgico) para a obesidade. Assinale apenas as alternativas corretas:
a. A intervenção farmacológica é a primeira linha de tratamento do sobrepeso e
obesidade.
b. O tratamento cirúrgico da obesidade é indicado quando o indivíduo não ob-
teve sucesso em tratamentos anteriores. Há critérios bem definidos para a
indicação à cirurgia, como adultos com IMC > 40 kg/m² e adultos com IMC de
35 kg/m² com uma ou mais comorbidades associadas.
c. O tratamento do sobrepeso e obesidade exige abordagem multidisciplinar,
envolvendo os elementos: dietético, exercício físico, farmacológico, compor-
tamental, por meio da terapia cognitivo-comportamental e mudança no estilo
de vida.
d. O tratamento psicológico consiste na análise do cenário e modificação de
transtornos de comportamentos associados ao estilo de vida.

4. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) para as sentenças a seguir sobre a adequa-
da prescrição de exercícios para pessoas obesas:
( ) A influência de comorbidades aumenta a classificação de risco; portanto, a
triagem médica antes do teste de esforço é indispensável.
( ) A maioria das pessoas com peso excessivo não é fisicamente ativa. Isso signi-
fica que a prescrição da carga inicial pode ser alta.
( ) Recomenda-se o uso da bicicleta ergométrica, em vez da esteira ou demais
estratégias alternativas nas quais o indivíduo obeso não transporte seu peso cor-
poral.

70
atividades de estudo

( ) Problemas musculoesqueléticos e/ou ortopédicos são insignificantes no con-


texto da obesidade.
( ) Utilizar o tamanho adequado da braçadeira para medir a pressão arterial,
para evitar medidas imprecisas.
Assinale a alternativa correta:
a. V, V, F, F, V.
b. F, F, V, V, V.
c. V, F, V, F, V.
d. F, F, F, F, V.
e. V, V, V, V, V.

5. Tendo em vista a definição-chave da obesidade, a etiologia e as consequências


à saúde que podem advir desta doença crónica, redija um breve parágrafo,
contendo as seguintes informações:
a. Definição da obesidade.
b. Três fatores que causam o ganho de peso.
c. Três consequências da obesidade.

71
LEITURA
COMPLEMENTAR

Em ordem de acesso e de custo ao profissional de Educação Física, estão dispostas as


técnicas a saber:
1. Medidas da espessura de dobras cutâneas: são indicadores de obesidade de baixo
custo e práticos. Eles têm relação entre a gordura localizada nos depósitos debaixo
da pele e a gordura interna e a densidade corporal. Comumente se utiliza a própria
medida de dobra cutânea para interpretação dos valores absolutos em milímetro ou
pode-se utilizar estes valores em equações de estimativa da gordura corporal para se
obter os valores percentuais. A equação mais utilizada no mundo é Jackson & Pollock,
no Brasil é a equação de Petroski (2003). Esta técnica é duplamente indireta na estima-
tiva da composição corporal.
2. Impedância bioelétrica: técnica segura e não invasiva, realizada a partir de aparelho
portátil, que tem sido considerada válida, quando realizada atendendo às recomen-
dações pré-teste. A impedância bioelétrica assume o pressuposto que de a condução
de uma corrente elétrica pelos tecidos corporais providencia uma estimativa da sua
composição. Esta técnica é duplamente indireta na estimativa da composição corporal.
3. Ultrassonografia: técnica que tem sido cada vez mais utilizada no campo de pesqui-
sa, devido a sua crescente disponibilidade em ambientes ambulatoriais e hospitalares,
mas que necessita de treinamento prévio e padronização da técnica. Não é invasivo e
pode ser utilizado em pacientes com mobilidade reduzida. Além da avaliação da espes-
sura do tecido adiposo, avalia também tecidos mais profundos, como a massa muscu-
lar, nas diferentes regiões corporais.
4. Tomografia computadorizada: método de imagem, que demonstra alta precisão
para quantificar o tecido adiposo subcutâneo e visceral, principalmente na região ab-
dominal. Apresenta elevado custo e certo nível de risco devido à emissão de radiação.
5. Ressonância magnética: método preciso e inócuo, porque não expõe o paciente à
radiação. Indicado para diagnóstico e acompanhamento da gordura visceral em indiví-

72
LEITURA
COMPLEMENTAR

duos com alto risco e que estejam em tratamento. No entanto, o alto custo não permite
ser utilizado rotineiramente.
Fonte: Ellis (2000).

Considerando o cenário de avaliação e tratamento da obesidade, há necessidade de uti-


lizar um algoritmo, isto é, uma estratégia para avaliação e tratamento de pacientes com
excesso de peso, associado às comorbidades que necessitam imediatamente de um tra-
tamento à baseado numa abordagem multidisciplinar, que inclui o profissional de Educa-
ção Física. Este algoritmo foi publicado por Serdula et al. (2003) e tem os seguintes passos
que devem ser seguidos para a identificação e o tratamento da obesidade:
Avaliação do indivíduo: na presença de IMC > 30 kg/m² ou 25 à 29,9 kg/m² com mais
duas comorbidades, ou ainda, perímetro da cintura > 88 cm nas mulheres e 102 cm nos
homens com mais duas comorbidades, recomenda-se questionar se o indivíduo deseja
perder peso. Contudo, se ele não apresentar risco na avaliação inicial é aconselhável
orientá-lo a manter o peso e investigá-lo sobre outras possíveis comorbidades.
Encaminhamento aos tratamentos: com anuência do indivíduo para perder peso é
aconselhável determinar as metas, sendo que em seis meses deverá perder 10% do
peso inicial. Além disso, as comorbidades precisam ser controladas. Esse tratamento
será assistido e com intervenções multidisciplinares apropriadas por profissionais de
cada área (médico, profissional de educação física, nutricionista, psicólogo).
Diferentes cenários: Se o indivíduo obeso não quer perder peso faz-se necessário a ma-
nutenção do atual peso dele, bem como orientá-lo a respeito de outras comorbidades.
Contudo, aquele que quer perder peso deve provocar mudanças no seu estilo de vida
e criar déficit na dieta de 500 a 100 kcal/dia, além de praticar atividade física de intensi-
dade moderada de 30 a 45 minutos, preferencialmente, todos os dias da semana.

73
LEITURA
COMPLEMENTAR

Tratamento farmacológico: pode ser coadjuvante às mudanças do estilo de vida, de


modo que para pacientes com o IMC maior que 30 kg/m² ou maior igual 27 kg/m² e
duas comorbidades, os remédios são também recomendados. Indivíduos obesos que
após os seis primeiros meses de intervenção com mudanças no estilo de vida que não
atingiram redução maior que 10% do seu peso corporal são indicados ao tratamento
medicamentoso.
Tratamento cirúrgico (bariátrica): pode ser um coadjuvante em pacientes que apresen-
tam um IMC maior ou igual a 40 kg/m² ou naqueles com o IMC 35 kg/m² e presença de
comorbidades.
Ao assumir que o paciente seguiu o tratamento torna-se necessário o feedback, ou
seja, perguntar ao indivíduo se os objetivos iniciais foram alcançados e interpretar jun-
to a ele a conquista das metas, contextualizando a necessidade de manutenção das
terapias e orientações dietéticas, de atividade física e o monitoramento periódico do
peso, IMC e circunferência da cintura. Contudo, se os objetivos propostos não foram
atingidos é recomendável buscar junto ao participante as razões para esta falha e acon-
selhá-lo novamente definindo novas metas.
Este algoritmo é específico ao sobrepeso e a obesidade, sendo que não pode ser usado
no tratamento de outras doenças. Além disso, exige uma equipe multidisciplinar para o
sucesso do tratamento. Assim, espera-se que os profissionais de Educação Física este-
jam aptos a orientar as atividades físicas habituais do indivíduo obeso e desenvolver os
programas de exercícios físicos para a redução e manutenção do peso corporal.

Fonte: Serdula, Khan, Dietz (2003).

74
material complementar

Indicação para Ler

Atividade Física e Obesidade


Claude Bouchard
Editora: Manole
Sinopse: embora o livro tenha uma defasagem de informação devido o ano de
publicação, continua sendo uma obra clássica da área da atividade Física e obe-
sidade. Há quase 20 capítulos escritos por especialistas na área que apresentam
explicações abrangentes explicações sobre o tema. É importante lembrar que o
tema é complexo e que o livro não irá esgotar as explicações, as formas de diag-
nóstico e tratamento. Por fim, a obra é referência para aqueles que querem apro-
fundar no tema da obesidade e intervir com atividade física.

Indicação para Assistir

Muito Além do Peso


Ano: 2012
Sinopse: o documentário trata do excesso de peso em crianças brasileiras. Isto é
importante porque esta é a primeira geração a apresentar doenças crônicas que
eram restritas aos adultos, como depressão, diabetes e problemas cardiovascu-
lares. Este documentário estuda o caso da obesidade infantil, principalmente, no
território nacional mas também nos outros países no mundo, entrevistando pais,
representantes das escolas, membros do governo e responsáveis pela publicidade
de alimentos.

Indicação para Acessar

Página oficial da Organização Mundial da Saúde sobre o tópico da obesidade.


Web: https://www.who.int/topics/obesity/en/

Página da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), que se
configura numa sociedade multidisciplinar sem fins lucrativos que reúne cerca de 500 associados espalha-
dos por todo o país, das diversas categorias profissionais envolvidas.
Web: http://www.abeso.org.br/

75
referências

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2009.
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ACSM. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. Rio de Janei-
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teção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e
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Referências on-line
1
Em:http://www.abeso.org.br/noticia/custos-de-doencas-ligadas-a-obesidade-para-
-o-sus. Acesso em: 3 jun. 2020.

78
gabarito

Questão 1 - Resposta: alternativa “d”.


Questão 2 - Resposta: alternativa “b”.
Questão 3 - Resposta: alternativas “b”, “c” e “d”.
Questão 4 - Resposta: alternativa “c”.
Questão 5 - A obesidade é uma doença crônica definida como um acúmulo ex-
cessivo de tecido adiposo em um nível que compromete a saúde do indivíduo. A
obesidade tem múltiplas causas, que levam ao balanço energético positivo, entre
elas a inatividade física, a ingestão excessiva de calorias em alimentos ricos ultra
processados e fatores sociais e ambientais. As consequências da obesidade são
várias, porém pode-se citar a hipertensão arterial sistêmica, diabetes melito e cer-
tos tipos de câncer, que podem aumentar o risco de mortalidade precoce.

79
DIABETES MELITO E HIPERTENSÃO AR-
TERIAL: EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTI-
CO, TRATAMENTO E EXERCÍCIO

Professor Dr. Luiz Rodrigo Augustemak de Lima

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Epidemiologia do Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial
• Etiologia, Fatores de Risco e Consequências à Saúde
• Diagnóstico do Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial
• Tratamentos medicamentosos e não-medicamentosos do
Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial
• Prescrição do Exercício Físico para pessoas com Diabetes
Melito e Hipertensão Arterial

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer os conceitos e a epidemiologia do Diabetes
Melito e da Hipertensão Arterial.
• Descobrir a gênese, os fatores de risco e as consequências
do Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial.
• Utilizar ferramentas de diagnóstico do Diabetes Melito e da
Hipertensão Arterial.
• Conhecer os tratamentos do Diabetes Melito e da
Hipertensão Arterial.
• Utilizar os princípios básicos da prescrição do exercício
físico para pessoas do Diabetes Melito e da Hipertensão
Arterial.
unidade

III
INTRODUÇÃO

A
nteriormente, conhecemos um pouco mais sobre a obesidade,
desde a sua etiologia até as consequências prejudiciais à saúde,
sendo este um tema em constante construção, pois o excesso
de gordura corporal provoca alterações no metabolismo e na
hemodinâmica da circulação sanguínea. As alterações metabólicas mais
comuns decorrentes do excesso de peso e obesidade são o Diabetes Meli-
to e a Hipertensão Arterial, muito comuns na população em geral, o que
indica a necessidade do Profissional de Educação Física preparar-se para
a sua atuação.
Assim, esta unidade abordará, inicialmente, os conceitos-chave e a
epidemiologia do Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial, demons-
trando a magnitude e abrangência dessas doenças em adultos. Etiologia,
fatores de risco e as consequências à saúde serão apresentados posterior-
mente, indicando os potenciais de cada uma das doenças, que embora
possam convergir em alguns desfechos conhecidos, tem complicações
particulares que necessitam do nosso olhar. O diagnóstico do diabetes
melito e da hipertensão arterial são, normalmente, obtidos em medidas
ambulatoriais repetidas, porém o profissional de Educação Física deve
estar por dentro de todos os detalhes para melhor acolher e atender o
indivíduo com estas condições.
Você verá os tipos de tratamento medicamentosos e não-medicamen-
tosos do Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial, para compreender
como o profissional de Educação Física pode atuar em equipes multipro-
fissionais, melhorando assim o atendimento desses indivíduos. Por fim,
inerente a nossa profissão, estão os processos de prescrição do exercício
físico para pessoas com Diabetes Melito e Hipertensão Arterial. Embora
certos parâmetros sejam semelhantes à população geral e muitos bene-
fícios possam ser atingidos, o desprezo aos cuidados essenciais, antes e
durante as sessões, podem trazer consequências negativas indesejadas.


Epidemiologia do diabetes
melito e da hipertensão arterial

Inicialmente, estudaremos a ocorrência e distribuição DIABETES MELITO


do diabete melito e da hipertensão arterial. Conhecer
a epidemiologia destas doenças crônicas permite ao O diabetes melito (DM) é uma doença endócrino-me-
profissional da saúde melhorar o planejamento de suas tabólica, caracterizada por um estado de hiperglicemia
intervenções, sendo, assim, mais preciso nas suas ações em jejum, e está associada às complicações, disfunções
pelo conhecimento das características dos indivíduos. e insuficiência de vários órgãos (neurológico e cardio-
Ao mesmo tempo, não deixa de observar a distribuição vascular). Isto pode resultar de defeitos de secreção e/ou
da doença no próprio país e no mundo afora. ação da insulinam, envolvendo processos patogênicos
específicos (CAMPAIGNE, 2003; ACSM, 2016).

84
EDUCAÇÃO FÍSICA

Há quatro tipos de DM, segundo a American Diabe-


tes Association (ADA - Associação Americana de Dia-
betes): tipo 1 ou insulino-dependente (DM1); tipo 2 ou
não insulino-dependente (DM2); gestacional; e secun-
dário à outras patologias. Entretanto o DM2 representa
90% de todos os casos e o tipo I de 5 a 10% (ADA, 2010).
Independente do tipo de DM, a sua principal caracte-
rística é a manutenção da glicemia em níveis acima dos
valores considerados normais. Os valores de <100 mg.
dL-1, 100 a 125 mg.dL-1 e ≥ 126 mg.dL-1 caracterizam
o estado normal, pré-diabético e diabético (ADA, 2010).
O DM é uma doença crônica que tem crescido ao
longo dos anos, em todo o mundo. Estima-se que, em
2030, serão 366 milhões de diabéticos (WILD et al.,
2004) e esse agravo ocupará a 7ª posição em causas de No ano de 2000, o Brasil ocupava a 8ª posição entre
mortes no mundo (WHO, 2008). Destaca-se também o os 10 países com maiores quantidades de pessoas com
incremento na quantidade de pessoas com diabetes, ao diabetes e estima-se que, em 2030, ocupará a 6ª coloca-
longo dos anos, em todos os países desenvolvidos e em ção, com cerca de 11,3 milhões de diabéticos, estando
desenvolvimento, particularmente, em pessoas com 65 somente atrás de países como a Índia, China, Estados
anos ou mais de idade (WILD et al., 2004). De acordo Unidos, Indonésia e Paquistão (WILD et al., 2004).
com Centers for Disease Control and Prevention (Cen- Atualmente, o DM é uma realidade em todas as regi-
tros de Prevenção e Controle de Doenças) dos Estados ões do Brasil. De acordo com o sistema de Vigilância
unidos, quase 24 milhões de estados-unidenses tinham de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crôni-
diabetes e cerca de 6 milhões não diagnosticados. De cas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), que monitora
fato, a DM é subnotificada e só acaba sendo diagnostica- anualmente diferentes indicadores de saúde da popu-
da quandos os sintomas clássicos ocorrem (ADA, 2010). lação adulta das 27 capitais brasileiras, foi encontrada
Segundo a análise do Global Burden Disease Study uma frequência de adultos que referiram diagnóstico
(Estudo Global de Carga de Doenças) o DM1 e DM2 médico de diabetes variando de 5,2% em Rio Branco
foi responsável por 1.37 milhões (intervalo de confiança a 9,8% no Rio de Janeiro (BRASIL, 2019). Esta preva-
[IC] de 95%: 1.34 a 1.40) de mortes em 2017, sendo que lência foi encontrada baseada na seguinte pergunta re-
esse valor foi 34,7% maior na comparação entre 2007 e alizada aos brasileiros: “Algum médico já lhe disse que
2017. Deste montante, 25,2% (IC: 23,0–27,3) eram DM1. o(a) Sr.(a) tem diabetes?”. Observou-se também que a
O total de mortes de DM1 aumentou de 2007 a 2017 em prevalência de DM mostrou diferenças entre os sexos
15,1% (IC: 10,5 a 19,0%), enquanto que as mortes de e as regiões. As Figuras 1 e 2 mostram a prevalência da
DM2 aumentaram no mesmo período em 43,0% (IC: DM em adultos brasileiros, de acordo com as capitais
40,4 a 45,9%) (ROTH et al., 2018). brasileiras, estratificado por sexo.

85


Descrição da Imagem: gráfico de barras indicando a prevalência de adultos homens com DM nas capitais do país, sendo Salvador a capital com
menor incidência e Rio de Janeiro a maior, em porcentagens.

14

12

10

8 8
8 8
7 7 8 8
% 8 7 7 7
7 7
6 6 7 7 7
6 6 6
6 6 6
6 5 5 5

Campo Grande
Distrito Federal

Natal
Salvador

Aracaju
Vitória
Boa Vista
Cuiabá
Recife

João Pessoa

Curitiba

Rio Branco

Palmas
Porto Velho
Teresina
São Luís

São Paulo

Fortaleza
Rio de Janeiro
Maceió

Porto Alegre
Goiânia

Florianópolis

Belém

Belo Horizonte
Macapá

Manaus
Figura 1 - Percentual de homens (≥ 18 anos) que referiram diagnóstico médico de diabetes, nas capitais brasileiras e Distrito Federal
Fonte: Brasil (2019, p. 94).

Descrição da Imagem: gráfico de barras indicando a prevalência de adultos mulheres com DM nas capitais do país, sendo Rio Branco a capital com
menor incidência e Rio de Janeiro a maior, em porcentagens.

14

12

10

8 8 8 8 8 8
8 7 7 8
% 7 7 7
7 7 7 7

5 6 6 6
6 5
4
4
4

0
Campo Grande

Distrito Federal

Natal
Aracaju
Rio Branco
Palmas
Boa Vista

São Luís
Porto Velho
Teresina

Rio Branco

Salvador
Palmas

São Paulo
João Pessoa

Cuiabá

Vitória
Recife

Fortaleza
Rio de Janeiro
Porto Alegre
Florianópolis

Goiânia

Belo Horizonte

Maceió
Macapá

Manaus

Figura 2 - Percentual de mulheres (≥ 18 anos) que referiram diagnóstico médico de diabetes, nas capitais brasileiras e Distrito Federal
Fonte: Brasil (2019, p. 94).

86
EDUCAÇÃO FÍSICA

Desde a implantação desse sistema, em 2006, destaca-se acidente vascular encefálico, insuficiência cardíaca, do-
o crescimento da prevalência de diabetes ao longo dos ença arterial periférica e renal (ACSM, 2016) e de maior
anos, tanto em mulheres como em homens. As maio- chance de mortalidade (PESCATELLO et al., 2004).
res prevalências são, sistematicamente, encontradas em Na análise do Global Burden Disease Study (Estudo
adultos com mais de 40 anos (ADA, 2010), especialmen- Global de Carga de Doenças), a hipertensão arterial foi
te nos idosos (65 anos ou mais de idade), que possuem responsável por 924.7 mil (intervalo de confiança de 95%:
além do DM outras comorbidades que aumentam o 681.4 a 994.9) mortes em 2017, sendo que esse valor foi
risco cardiovascular. Considerando que o DM repre- 46,6% maior na comparação entre 2007 e 2017 (ROTH
senta um agravo que maximiza o surgimento de outras et al., 2018). As estimativas da OMS destacam que níveis
doenças crônicas, o desenvolvimento de estratégias des- elevados de pressão arterial foram responsáveis por cerca
tinadas a esse grupo especial torna-se relevante, prin- de 57 milhões de mortes em todo o mundo (WHO, 2009).
cipalmente com ações de prevenção e tratamento, por A prevalência global de HA foi estimada em 1,13 bi-
intermédio de um estilo de vida ativo e saudável. lhão em 2015, com mais de 150 milhões de hipertensos
na Europa Central e Oriental. Assim, a prevalência geral
HIPERTENSÃO ARTERIAL de HA em adultos é de cerca de 30 a 45%, sendo que a HA
se torna progressivamente mais comum com avanço da
A hipertensão arterial (HA) é caracterizada por níveis idade, chegando a prevalências maior que 60% em pesso-
elevados de pressão arterial sistólica (PAS) e/ou diastóli- as com idade superior a 60 anos (WILLIAMS et al., 2018)
ca (PAD), decorrentes de modificações estruturais e/ou Nos Estados Unidos da América, a prevalência,
funcionais de órgãos, como coração e rins, e alterações observada por meio da pesquisa NHANES (National
metabólicas (SBC, 2016). A pressão arterial é a força Health and Nutrition Examination Survey - Pesquisa
contra as artérias que transportam o sangue do coração Nacional sobre Exame de Saúde e Nutrição, 2005-2008),
para as células corporais, sendo mediada pelo débito foi de 29,9%, e as características associadas às maiores
cardíaco (quantidade de sangue bombeada pelo cora- prevalências de HA foram: homens, adultos mais velhos
ção e frequência de batimentos do coração) e resistência com idade maior ou igual a 65 anos, menor nível de es-
encontrada nas artérias. A definição da pressão arterial colaridade e renda familiar, com diabetes e incapacidade
sistólica (PAS) reside na pressão da artéria no momento para o trabalho (CDC, 2011).
em que o sangue foi bombeado pelo coração, enquanto Como apresentado pela 7ª Diretriz Brasileira de
que a pressão arterial diastólica (PAD) é definida pela Hipertensão Arterial, a prevalência no território brasi-
pressão da artéria no momento em que o coração está leiro de HAS varia de acordo com as características da
relaxado após uma contração. população estudada e do método de avaliação. Picon et
Portanto, a HA é uma condição clínica, que tem ori- al. (2012) realizaram uma meta-análise de 40 estudos
gem multifatorial e se caracteriza pela elevação sustentada transversais e de corte com amostra brasileira de 1980
dos níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg (SBC, 2016). a 2010. Os resultados mostraram uma tendência à dimi-
Pessoas com HA não controlada apresentam maiores nuição da prevalência em 6% nas últimas três décadas,
chances do risco de desenvolver doença cardiovascular, embora ainda se aproxime de 30%.

87


Nesse sentido, nos resultados do estudo ELSA-Bra- No VIGITEL, com base na pergunta “Algum médico
sil que incluiu 15.103 servidores públicos de seis capitais já lhe disse que o(a) Sr.(a) tem pressão alta?” foi estimada
brasileiras, foi utilizado para estimar a prevalência de a prevalência de HA em adultos brasileiros. Neste estudo
HA medida objetivamente. No estudo, foi encontrado de vigilância, foi encontrado a frequência de adultos que
prevalência em 35,8% de HA, sendo que os homens de- referiram diagnóstico médico de HA entre 15,9% em
monstraram maior predomínio comparado às mulheres São Luís e 31,2% no Rio de Janeiro, com variações signi-
(40,1% vs 32,2%). ficativas entre os sexos e as regiões brasileiras, conforme
apresentadas nas Figuras 3 e 4 (BRASIL, 2019).

Descrição da Imagem: gráfico de barras indicando a prevalência de adultos homens com HA nas capitais do país, sendo Porto Velho a capital com
menor incidência e Campo Grande a maior, em porcentagens.

40

35

30
27
26 26
24
25 23 23 24
21 22 22
% 20 20 20 21 21 21 21 21 21
19 19 19 19 19 19
20
16
15
15

10

Campo Grande
Teresina
Distrito Federal
Natal

Aracaju
Porto Velho
São Paulo

Vitória
Palmas

Curitiba
Boa Vista

Rio Branco
Fortaleza
Cuiabá

Salvador

São Paulo
Recife

João Pessoa
Rio de Janeiro
Porto Alegre
Florianópolis

Belém

Belo Horizonte

Maceió
Macapá

Manaus

Goiânia

Figura 3 - Percentual de homens (≥ 18 anos) que referiram diagnóstico médico de hipertensão arterial (HA), nas capitais brasileiras e Distrito Federal
Fonte: Brasil (2019, p. 88).

88
EDUCAÇÃO FÍSICA

Descrição da Imagem: gráfico de barras indicando a prevalência de adultos mulheres com HA nas capitais do país, sendo São Luís a capital com
menor incidência e Rio de Janeiro a maior, em porcentagens.

40
35
35
30
29 29 30
30
26 27 27 27 27
26 26
24 25 25 25
25 23 23 23 23 24
22 22
21
%
20 18 18
16
15

10

Campo Grande
Distrito Federal

Natal
Aracaju
São Luís

Boa Vista
Palmas
Porto Velho

Fortaleza
Curitiba

Rio Branco
Cuiabá

Cuiabá
João Pessoa
São Paulo

Recife

Vitória
Rio de Janeiro
Porto Alegre
Belém
Florianópolis
Goiânia

Belo Horizonte
Belo Horizonte

Maceió
Macapá

Figura 4 - Percentual de mulheres (≥ 18 anos) que referiram diagnóstico médico de hipertensão arterial (HA), nas capitais brasileiras e Distrito Federal Manaus
Fonte: Brasil (2019, p.88).

Embora essa abordagem seja alvo de críticas e limita- tos socioeconômicos elevados. Contudo dados do do
ções, o diagnóstico médico referido é utilizado também Sistema Único de Saúde (SUS) demonstram significa-
em outros estudos de abrangência nacional, como no tiva redução da tendência de internação por HA, de
Center of Disease of Control and Prevention (Centro 98,1/100.000 habitantes em 2000 para 44,2/100.000
de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Uni- habitantes em 2013. As taxas históricas de hospi-
dos da América. Vale ressaltar que os valores estimados talização por doenças cardiovasculares por região
pelo VIGITEL (BRASIL, 2019) foram semelhantes aos são apresentadas na Figura 5, elas mostram a redu-
estudos que realizaram o diagnóstico objetivo, a partir ção para HA e manutenção da redução para aciden-
da medida da pressão arterial. tes vascular encefálicos, ainda que indique aumento
As doenças cardiovasculares são responsáveis por das internações por doenças isquêmicas do coração
elevada frequência de internações e promovem cus- (MALACHIAS et al., 2016).

89


Descrição da Imagem: gráfico de barras indicando taxas de variação das doenças DH, DIC, AVE nas diferentes regiões do país.
2010
Geral 2011
2012

2010
Norte 2011
2012

2010
Nordeste 2011
2012

2010
Sudeste 2011
2012

2010
Sul 2011
2012

2010
Centro-Oeste 2011
2012
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

DH DIC AVE
Figura 5 - Evolução da taxa de internações por 10.000 habitantes no Brasil por região entre 2010 e 2012 (DH: doenças hipertensivas. DIC: doenças
isquêmicas do coração. AVE: acidente vascular encefálico) / Fonte: SBC (2016).

Conhecer a definição e a epidemiologia da DM e de casos de diabetes e hipertensão. Portanto, as medi-


HA é importante para que você consiga identificar das cabíveis de serem implementadas com estilos de
o tamanho do problema em saúde e onde ele ocor- vida mais saudáveis devem ser foco das intervenções.
re para pensar nas possíveis formas de intervenção. Além disso, conhecer a etiologia e os fatores de risco
A ênfase sobre o assunto é pertinente, considerando para DM e HA pode favorecer a escolha de estratégias
o crescente aumento do excesso de peso e o envelhe- mais adequadas para o manejo de pacientes com estas
cimento da população, isto irá provocar o aumento doenças crônicas.

90
EDUCAÇÃO FÍSICA

Etiologia, fatores de risco


e consequências à saúde
Neste tópico, vamos conhecer um pouco mais sobre produz insulina ou não consegue utilizar a insulina pro-
a etiologia (a gênese), os fatores de risco (condições duzida de maneira adequada. A insulina é um hormônio
que aumentam a chance) e as consequências à saú- produzido pelas células β localizadas no pâncreas, sua
de do Diabetes Melito e Hipertensão Arterial. função é facilitar a entrada da molécula de glicose (açú-
car) na célula para ser utilizada na produção de energia,
DIABETES MELITO ou para o armazenamento em forma de gordura. Quan-
do há pouca ou nenhuma produção de insulina, o nível
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), o de glicose no sangue eleva-se acima do normal (hiper-
Diabetes Melito é uma doença crônico-degenerativa glicemia), o que gera consequências prejudiciais ao or-
causada pela desordem endócrina, na qual o corpo não ganismo (NIH, 2008).

91


Como a insulina trabalha


Glicose
canal de glicose abre,
Insulina glicose entra na célula

Receptor canal de insulina desbloqueia


de insulina glicose o canal de glicose

Fechado aberto

células

A Associação Americana de Diabetes (ADA) classifica a doença DM (Quadro 1):


Deficiência de insulina devido à destruição autoimune das células β
Diabetes Melito tipo 1 (DM1) do pâncreas.
Idiopático.
Produção insuficiente de insulina pelas células β.
Diabetes Melito tipo 2 (DM2) Resistência à insulina: hormônio tem menor capacidade de colocar a
glicose dentro da célula.

Diabetes Gestacional DM diagnosticado entre o 2º e o 3º trimestre da gravidez.

Outras causas: induzido por fármacos, doenças do pâncreas, síndro-


Outros tipos
mes genéticas, endocrinopatias etc.
Quadro 1 - Classificação Etiológica da Diabetes Melito / Fonte: adaptado de ADA (2018).

O DM1 é também conhecido como diabetes insulino- DM1 ocorre principalmente em crianças, adolescente e
-dependente, devido à necessidade de doses sintéticas e adultos jovens até 30 anos e os principais sinais e sinto-
exógenas de insulina. Isso ocorre porque as células de mas são sede, fome, vontade de urinar em excesso, fadi-
defesa do próprio organismo atacam as células β pan- ga, lentidão no processo de cicatrização de ferimentos e
creáticas em um processo auto-imune, que acarreta a visão turva (MARASCHIN et al., 2010; NIH, 2008).
produção insuficiente de insulina ao indivíduo; entre- O DM2 é a forma mais comum de Diabetes Meli-
tanto também pode ser de origem idiopática (sem causa to e acomete principalmente adultos e idosos, apesar de
definida ou conhecida) (MARASCHIN et al., 2010). O ser cada vez mais frequente em crianças e adolescentes,

92
EDUCAÇÃO FÍSICA

• Mulher que deu à luz criança com mais de 4kg;


principalmente relacionado ao aumento exagerado de
• Diabetes gestacional;
gordura corporal. Neste caso, apesar de haver produção
• Síndrome de ovários policísticos;
de insulina pelo pâncreas, ocorre a resistência dos teci-
• Uso de medicamentos da classe dos glicocorti-
dos em captar este hormônio por meio de seus recepto-
cóides.
res, o que torna a ação da insulina ineficaz; com o tempo,
ocorrem falhas na secreção de insulina pelas células β do Uma vez diagnosticado o DM, o acompanhamento mé-
pâncreas (NIH, 2008). O DM2 está associado à heredi- dico e o gerenciamento da taxa de glicemia são funda-
tariedade, sedentarismo, dietas ricas em gorduras, obesi- mentais. Quando este controle não é realizado correta-
dade e envelhecimento. Apesar de ser conhecido como mente, o DM pode evoluir e desencadear complicações
diabetes não insulino-dependente, alguns pacientes crônicas mais sérias à saúde do indivíduo. Estas compli-
diagnosticados com DM2 podem necessitar de insulina cações são classificadas em microvasculares (retinopa-
exógena (ADA, 2018). Os principais sintomas deste tipo tia, nefropatia e neuropatia) e macrovasculares (doença
de DM são sede, fome constante, formigamento nos pés arterial coronariana, doença cerebrovascular e vascular
e nas mãos, poliúria, visão embaçada, demora no pro- periférica). A seguir, veremos detalhes das complicações
cesso de cicatrização e infecções frequentes. mais comuns no indivíduo com DM.
A diabetes gestacional é o DM diagnosticado duran-
te a gravidez, causada pelo aumento dos níveis de glicose
no sangue devido aos hormônios da gravidez ou pela
escassez de insulina durante esse período e possibilita,
posteriormente, maiores chances de desenvolvimento
do DM2 na mulher (NIH, 2008). Em relação aos outros
tipos de diabetes, estão aqueles provenientes de certos
tipos de doenças genéticas, relacionadas a doenças ou a
utilização de drogas que modificam a produção de insu-
lina pelo pâncreas.
Algumas condições aumentam a probabilidade de
ocorrência dessa doença, como os fatores genéticos,
ausência de hábitos saudáveis, sobrepeso e obesidade,
parentesco em 1º grau (por exemplo, pai ou irmã que
possuem diagnóstico de DM) (MEISINGER et al., 2002;
NIH, 2008). Entretanto outros fatores de risco para o
DM incluem (NIH, 2008):
• Diagnóstico de pré-diabetes.
• Hipertensão arterial.
• Colesterol alto ou alterações na taxa de triglicé-
rides no sangue.
• Doenças renais crônicas.

93


DOENÇA CARDIOVASCULAR
As doenças cardiovasculares são mais precoces e mais frequentes em
indivíduos com DM, como é o caso da hipertensão arterial, que deve
ter seu controle intensificado neste caso. Além disso, a dislipidemia
(elevação de colesterol e triglicerídeos no plasma sanguíneo)
também é outro fator que aparece com mais frequência em
pacientes com DM, o que contribui para a manifestação da doença
arterial coronariana.

RETINOPATIA DIABÉTICA
É a principal forma de cegueira irreversível no Brasil e é classificada
em não-proliferativa e proliferativa. Na sua forma não-proliferativa,
causa visão embaçada devido ao edema macular que pode ser
tratado e o quadro revertido. Após algum tempo, desenvolve-se a
forma proliferativa da doença, que pode desencadear em
hemorragia vítrea, descolamento da retina e glaucoma.

NEFROPATIA DIABÉTICA
O alto nível de açúcar no sangue sobrecarrega a atividade de
filtração dos rins, o que acarreta em perda de moléculas de proteína
na urina, que em outra situação seriam utilizadas pelo organismo. A
evolução desse quadro consiste em síndrome nefrótica e
insuficiência renal, o que leva o indivíduo à necessidade de realizar
hemodiálise e até transplante, em casos mais graves.

NEUROPATIA DIABÉTICA
Trata-se de uma lesão neural devido à glicemia elevada, que pode se
manifestar por meio de alguns sinais como sensação de queimação,
cãimbras, agulhadas, formigamentos, fraqueza, dor, dificuldade na
percepção do calor e do frio. Estes sinais podem se ocorrer em
repouso, com exacerbação à noite e melhora com movimentos.

PÉ DIABÉTICO
É uma complicação do DM que ocorre a partir de uma ferida ou
machucado que pode evoluir à úlcera devido à neuropatia e má
circulação, no qual em níveis graves, pode levar à amputação de
extremidades.

Figura 6 - Infográfico complicações em indivíduos com DM / Fonte: adaptada de Brasil (2006).

94
EDUCAÇÃO FÍSICA

HIPERTENSÃO ARTERIAL refere-se às características dos vasos sanguíneos, como


o seu comprimento, se estão mais ou menos contraídos
A Hipertensão arterial (HA) foi definida pela Socieda- ou dilatados, e o seu diâmetro, que pode estar diminuído
de Brasileira de Cardiologia como uma condição clínica como no casos em que placas de gordura estão aderidas
multifatorial representada pela elevação dos níveis pres- às paredes dos vasos (POWERS; HOWLEY, 2000).
sóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg (MALACHIAS, 2016). Aumento do volume
sanguíneo
SAIBA MAIS
Aumento da frequência
cardíaca
Após ser bombeado pelo coração, o sangue circula Aumento do volume de Aumento da
por artérias e suas ramificações para chegar em todos ejeção pressão arterial
os tecidos. Para tal, é necessário que o sangue exerça Aumento da viscosida-
uma determinada força. A pressão arterial é esta força de sanguínea
da qual falamos, do sangue contra a parede das arté-
rias por onde circula, exercendo um ritmo contínuo. Aumento da resistência
Porém a medida em que o calibre dos vasos sanguí- periférica
neos diminui, como por acúmulo de gordura em suas Quadro 2 - Agentes que influenciam a pressão arterial
paredes, a resistência à passagem do sangue aumenta Fonte: adaptado de Powers; Howley (2000).
e a força com que o sangue é bombeado precisa ser
mais forte, aumentando assim a pressão arterial.
Mecanismos complexos fazem a regulação da pressão
Fonte: o autor. arterial, adaptando esta às necessidades fisiológicas do
momento. O sistema nervoso simpático é um dos meca-
nismos reguladores de ação rápida - forma aguda - res-
São diversos os agentes fisiológicos causadores do au- ponsável pela vasoconstrição, que diminui o diâmetro
mento da pressão arterial (PA), que podem levar à con- do vaso e, consequentemente, aumenta a PA.
dição hipertensiva (Quadro 2): débito cardíaco, volume Existem outros reguladores com ação mais lenta e
sanguíneo, resistência ao fluxo e a viscosidade sanguí- a longo prazo, como os rins que controlam o volume
nea. O aumento de qualquer um desses fatores, acarre- sanguíneo. Por este motivo, qualquer anormalidade nos
ta no aumento da PA; enquanto que a diminuição de mecanismos que controlam a PA provocam aumentos
qualquer um deles leva à redução da PA (POWERS; agudos e/ou sustentados da PA, criando um quadro de
HOWLEY, 2000). hipertensão (POWER; HOWLEY, 2000). Durante a prá-
O débito cardíaco é a quantidade de sangue bom- tica de exercícios físicos, ocorre o aumento da PA, como
beado pelo coração às artérias, por minuto; depende do resposta aguda; contudo os mecanismos de adaptação
volume de sangue circulante, da frequência cardíaca e cardiovascular promovem a redução em repouso (nor-
do grau de contracção do miocárdio (músculo do cora- motensão pós-exercício), o que sugere o potencial do
ção). A viscosidade do sangue é influenciada pela carac- mesmo, como o tratamento não medicamentoso.
terística do plasma e das células - quanto maior a visco- Os principais fatores de risco para o desenvol-
sidade, maior a dificuldade do sangue em fluir através do vimento HA são: envelhecimento, excesso de peso
sistema circulatório. Por sua vez, a resistência periférica e obesidade, consumo excessivo de sódio, consumo

95


crônico e elevado de álcool, dislipidemias, diabetes dismo ou hipertireoidismo e doença da artéria aorta
não controlada, sedentarismo e genética (MALA- (CHIANG et al., 2010).
CHIAS et al., 2016; SBC, 2016; CHIANG et al., 2010). Em longo prazo, a HA não controlada danifica os
Todavia a HA pode originar-se, também, de causas vasos sanguíneos, prejudicando a circulação sistêmi-
secundárias como patologias relacionadas aos rins, ca ofertada aos tecidos e acarreta sérias consequên-
disfunções endócrinas que ocasionam em hipotireoi- cias ao organismo:

Acidente Vascular Encefálico (AVE), popularmente


conhecido como derrame cerebral, por causa de um
rompimento ou bloqueio de uma veia no cérebro.
Infarto Agudo do Miocárdio.

Arritmias.

Insuficiência cardíaca.

Diminuição da visão, que pode evoluir para baixa


visão ou cegueira.

Insuficiência e paralisação renal.

Figura 7 - Infográfico riscos de uma HA não controlada / Fonte: o autor.

Atualmente, utilizamos o nosso celular para diversas finalidades, não é? A


European Society of Cardiology (Sociedade Européia de Cardiologia) também
pensou nisso. A instituição desenvolveu um aplicativo para a ser uma “diretriz
de bolso”, contendo diversos conteúdos, funcionalidades e interações sobre
diabetes, pré-diabetes e doenças cardiovasculares. Vamos aproveitar a opor-
tunidade e utilizar nosso celular ao nosso favor, na prática profissional?
Link: https://www.escardio.org/Guidelines/Clinical-Practice-Guidelines/Gui-
delines-derivative-products/ESC-Mobile-Pocket-Guidelines
Para acessar, use o seu leitor de QR Code.

96
EDUCAÇÃO FÍSICA

Diagnóstico do diabetes
melito e da hipertensão arterial
O diagnóstico do diabetes melito e da hipertensão ar- percebidos pelos indivíduos acometidos e, por isso, é con-
terial é extremamente importante, dada que ambas as siderado uma doença silenciosa. Por este motivo, muitas
condições de agravo à saúde são silenciosas e crônicas, pessoas não sabem que possuem DM, o que pode acarre-
levando muito tempo para manifestar sintomas clíni- tar em complicações graves devido a presença silenciosa
cos relevantes. Portanto, é fundamental aprender como da doença por muito tempo. Neste sentido, consultas e
ocorre o diagnóstico destas doenças crônicas. exames periódicos são fundamentais e capazes de iden-
tificar um estado de risco aumentado para o desenvolvi-
DIABETES MELITO mento de DM2, que é conhecido como pré-diabetes.
Em uma condição de pré-diabetes, os níveis de gli-
Na maioria das vezes, o DM não apresenta muitos sinais cemia são superiores ao normal, mas ainda não repre-
e sintomas evidentes, ou seus sintomas podem não ser sentam valores suficientes para o diagnóstico de DM;

97


contudo é considerado um sinal de alerta e uma condi- de Diabetes (ADA, 2020) e têm sido utilizados em
ção que ainda pode ser revertida. todo o mundo com o objetivo de prevenir as compli-
Os parâmetros para diagnóstico da pré-diabetes cações decorrentes da doença, utilizando os seguin-
e DM foram definidos pela Associação Americana tes métodos:

1 - Glicemia em jejum de 8 horas.


2 - Glicemia 2 horas após a ingestão de 75g de glicose, por meio
do Teste de Tolerância Oral à Glicose.
3 - Teste de Hemoglobina Glicada (A1C).

Figura 8 - Infográfico método para diagnóstico de pré-diabetes e DM / Fonte: adaptada de ADA (2020).

Os critérios de diagnóstico de pré-diabetes e DM podem ser verificados no quadro abaixo (quadro 3):
Glicemia em jejum Teste de Tolerância Teste de Hemoglobina Glicemia casual (com
de 8 horas Oral à Glicose Glicada (A1C) sintomas clássicos)*
Glicemia normal ≤ 100 mg/dL ≤ 140 mg/dL ≤ 5,7 % -
≥ 100 mg/dL e ≥ 140 mg/dL e ≥ 5,7 % e
Pré-diabetes -
≤ 125 mg/dL ≤ 199 mg/dL ≤ 6,4 %
Diabetes Melito ≥ 126 mg/dL ≥ 200 mg/dL ≥ 6,5 % ≥ 200 mg/dL
* Glicemia medida a qualquer momento do dia, considerando um paciente com sintomas clássicos de hiperglicemia ou em crise hiperglicêmica.
Quadro 3 - Critérios de diagnóstico da diabetes em função dos valores de glicemia (mg/dL), ADA, 2020 / Fonte: adaptada de ADA (2020).

HIPERTENSÃO ARTERIAL nômetros manuais, semi-automáticos ou automáti-


cos (SBC, 2016), que devem ser validados e com a
Observamos para prescrição do exercício físico em calibração atualizada (MALACHIAS, 2016).
pessoas com HA, é necessário avaliar a pressão ar- Para orientá-lo, quanto à medida da pressão arterial,
terial durante a estratificação de risco e compreen- os procedimentos recomendados pela Diretriz Brasilei-
der as particularidades de cada categoria (ACSM, ra de Hipertensão Arterial (MALACHIAS et al., 2016)
2016). A medida da pressão arterial deve ser reali- estão descritos a seguir, no Quadro 4, como um passo a
zada de forma padronizada, utilizando esfigmoma- passo que você pode utilizar sempre que precisar!

98
EDUCAÇÃO FÍSICA

PREPARAÇÃO PRÉVIA À MEDIDA DA PRESSÃO ARTE- Se os batimentos persistirem até o nível zero,
RIAL determinar a PAD no abafamento dos sons
11
(fase IV de Korotkoff) e anotar valores da PAS/
Paciente deve estar em repouso 3 a 5 minutos
1 PAD/zero.*
antes da aferição.
Realizar pelo menos duas medições, com
Paciente não deve conversar ou se movimen-
intervalo em torno de um minuto. Medições
tar durante o exame assim como não deve
2 12 adicionais deverão ser realizadas se as duas
ter realizado exercício físico nos últimos 60
primeiras forem muito diferentes. Caso julgue
minutos.
adequado, considere a média das medidas.
Posicionamento do paciente:
Medir a pressão em ambos os braços na pri-
Sentado, com pernas descruzadas e pés
13 meira consulta e usar o valor do braço onde
apoiados no chão.
foi obtida a maior pressão como referência.
3 Dorso encostado na cadeira e relaxado.
Braço posicionado na altura do coração, Anotar os valores exatos sem “arredondamen-
14
apoiado, com a palma da mão voltada para tos” e o braço em que a PA foi medida.
cima. * Itens realizados exclusivamente na técnica auscultatória. PAS: pressão
arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; mmHg: milímetros de
PASSO A PASSO DA MEDIDA DA PRESSÃO ARTERIAL
mercurio.
Determinar a circunferência do braço e sele- Quadro 4 - Etapas para a Medição da Pressão Arterial
1 cionar o manguito de tamanho adequado ao Fonte: adaptado de MALACHIAS (2016).
braço do indivíduo.
Colocar o manguito sem deixar folgas, 2 a 3 Os valores fisiológicos e normais de PA, conhecidos
2
cm acima da fossa cubital. como condição de normotensão, são medidas menores
Centralizar o meio da parte compressiva do ou iguais a 120/80 mmHg para PAS e PAD, respectiva-
3
manguito sobre a artéria braquial.
mente. Valores considerados aceitáveis são até <130/85
Estimar o nível da PAS pela palpação do pulso
4 mmHg. A Hipertensão Arterial (HA) estágio I é consi-
radial.*
derada quando ≥140/90 mmHg são obtidos em, pelo
Palpar a artéria braquial na fossa cubital e co-
5 locar a campânula ou o diafragma do estetos- menos, três aferições em dias diferentes. A HA estágio 2
cópio sem compressão excessiva.* e 3 possuem valores de PAS e PAD entre 160-179 e 100-
Inflar rapidamente até ultrapassar 20 a 30 109 mmHg e ≥180 e ≥110, respectivamente.
6 mmHg o nível estimado da PAS obtido pela Em termos gerais, essa informação é muito impor-
palpação.*
tante para o profissional de Educação Física estabelecer
Proceder à deflação lentamente (velocidade
7 os níveis de intervenção segura com exercício físico ou
de 2 mmHg por segundo).*
mesmo contraindicar qualquer prática de atividade físi-
Determinar a PAS pela ausculta do primeiro
8 som (fase I de Korotkoff) e, após, aumentar ca. No tratamento não medicamentoso da HA, a aborda-
ligeiramente a velocidade de deflação.* gem multiprofissional é recomendada sempre que pos-
Determinar a PAD no desaparecimento dos sível e inclui o profissional da educação física, que deve
9
sons (fase V de Korotkoff).* estar apto a trabalhar em equipe, reconhecendo os seus
Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do limites de atuação e compartilhando informações clíni-
último som para confirmar seu desapareci-
10 cas (SBC, 2016; SILVA et al., 2010).
mento e, depois, proceder à deflação rápida e
completa.*

99


Tratamentos medicamentosos e não


medicamentosos
da diabetes melito e da hipertensão arterial
Veremos, a seguir, que há diferentes abordagens para DIABETES MELITO
tratar o diabetes melito e a hipertensão arterial, sendo
ela baseada em medicamentos (fármacos) ou não medi- O plano terapêutico em DM, normalmente, envolve dois
camentosa, ou seja, baseada em mudanças significativas aspectos. O primeiro, e fundamental, é o controle glicê-
no estilo de vida (alimentação e atividades físicas) que mico realizado por meio de fármacos hipoglicemiantes
possam provocar alterações na evolução da doença. e do autocuidado, que envolve adquirir conhecimentos

100
EDUCAÇÃO FÍSICA

e habilidades no monitoramento da glicemia e na mu- bagismo e controle do estresse (psicoterapia, yoga, “tai chi
dança do estilo de vida. O segundo aspecto trata-se da chuan” etc.) (MALACHIAS et al., 2016; KOHLMANN et
prevenção de complicações crônicas, por meio de inter- al., 1999). Neste sentido, ressalta-se a importância da aten-
venções preventivas metabólicas e cardiovasculares; e ção à saúde numa abordagem multiprofissional.
na detecção e tratamento das complicações crônicas do A partir do momento em que evidencia-se a ne-
DM (BRASIL, 2006; MILECH et al., 2016). cessidade de tratamento medicamentoso para a HA, o
Para tanto, é necessário manter uma alimenta- paciente deve ser orientado quanto à importância do
ção saudável, prática regular de atividades físicas, uso contínuo dessas medicações bem como o eventu-
evitar o fumo e manter parâmetros clínicos envolvi- al ajuste de doses, troca ou associação de fármacos. Os
dos no cenário adequados : glicemia em jejum, he- anti-hipertensivos comumente utilizados são os diuré-
moglobina glicada, triglicerídeos, colesterol e pres- ticos, inibidores adrenérgicos, vasodilatadores diretos,
são arterial (BRASIL, 2006; MILECH et al., 2016). inibidores da enzima conversora da angiotensina, anta-
gonistas dos canais de cálcio e antagonistas do receptor
HIPERTENSÃO ARTERIAL da angiotensina II.
No III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arte-
O tratamento não medicamentoso da HA tem como rial, realizado em 1998, foi definida a decisão terapêu-
meta a mudança no estilo de vida que propicie a redu- tica para HA baseada na estratificação de risco e nos
ção da pressão arterial; abrange o controle de peso, terapia níveis de pressão arterial, verifique a seguir, na Tabela 1
nutricional, prática de atividades físicas, abandono do ta- (KOHLMANN, 1999):

Pressão Arterial Grupo A Grupo B Grupo C


Normal limítrofe Modificações no estilo de Modificações no estilo de
Modificações no estilo de
(130-139 mmHg/85-89 vida vida
vida*
mmHg)
Modificações no estilo de Modificações no estilo de
Hipertensão leve
vida (até 12 meses) vida (até 6 meses)**
(140-159 mmHg/90-99 Terapia medicamentosa
mmHg)

Hipertensão moderada e Terapia medicamentosa Terapia medicamentosa


severa
Terapia medicamentosa
(> 160 mmHg/> 100
mmHg)

Grupo A: sem fatores de risco e sem lesões em órgãos-alvo.


Grupo B: presença de fatores de risco (não incluindo diabete melito) e sem lesão em órgão-alvo.
Grupo C: presença de lesão em órgãos-alvo, doença cardiovascular clinicamente identificável e/ou diabetes melito.
* Tratamento medicamentoso deve ser instituído na presença de insuficiência cardíaca, insuficiência renal, ou diabete melito.
** Pacientes com múltiplos fatores de risco podem ser considerados para o tratamento medicamentoso inicial.
Tabela 1 - Decisão terapêutica baseada na estratificação do risco e nos níveis de pressão / Fonte: adaptada de Kohlmann et al. (1999).

101


Prescrição do exercício físico para pessoas


com diabetes melito e hipertensão arterial
Agora, vamos conhecer um pouco mais sobre o processo cios físicos, é necessário a realização de uma avaliação
de prescrição de exercício físico para pessoas com Diabetes diagnóstica detalhada, especialmente sobre o levanta-
Melito e Hipertensão Arterial assim como perceber alguns mento dos parâmetros relacionados à própria diabetes,
cuidados essenciais que devemos ter com estas populações. além de outros fatores de risco para as doenças crônicas
(ADA, 2010). Entre os testes realizados, cita-se a análi-
DIABETES MELITO se do consumo máximo de oxigênio, força e resistência
muscular e indicadores antropométricos relacionados à
Exercícios físicos tem potencial para promover altera- obesidade. Ainda, vale ressaltar a necessidade de utiliza-
ções positivas para o controle da DM (ADA, 2010); con- ção de protocolos de avaliação e exercício apropriados
tudo, para a implementação de um programa de exercí- para esse grupo (ADA, 2010).

102
EDUCAÇÃO FÍSICA

Os benefícios do exercício físico regular para in- contínua. Devem-se enfatizar as atividades que utili-
divíduos com DM tipo II e pré-diabetes impactam di- zem os grandes grupos musculares de modo rítmico e
retamente no quadro clínico e evolução da doença. Os contínuo. Além disso, devem ser levados em conside-
benefícios incluem a melhora da intolerância à glicose, ração os interesses pessoais e objetivos desejados para
o aumento da sensibilidade à insulina e a diminuição o programa de exercícios do paciente com DM. Em
da hemoglobina glicosilada que tem como reflexo a termos de progresso do programa, a maximização do
otimização da homeostase do metabolismo dos carboi- gasto energético sempre será grande prioridade; por-
dratos (MILECH et al., 2016). Em indivíduos com DM1 tanto, deve-se aumentar progressivamente a duração
e naqueles com DM2 que utilizam insulina exógena, dos exercícios. Conforme os indivíduos aumentam o
o exercício físico regular impõe adaptações orgânicas seu condicionamento físico, pode ser desejável adi-
que reduz as necessidades de administração de insulina cionar exercícios de maior intensidade para promover
exógena (ACSM, 2016). Além disso, ocorre simultane- adaptações benéficas (ACSM, 2016).
amente a redução dos fatores de risco para doença car- Adicionalmente, o exercício resistido deve ser en-
diovascular como a melhora no perfil lipídico, redução corajado quando não houver contraindicações, como a
da pressão arterial e peso corporal, além da otimização retinopatia e os tratamentos, utilizando cirurgia a laser,
da capacidade funcional de pessoas com DM. consideradas complicações comuns nos pacientes com
As recomendações do American College of Sports DM avançada. Embora as orientações sejam semelhan-
Medicine (ACSM) para a prescrição de exercícios físicos tes aos indivíduos saudáveis (frequência em 2 a 3 dias.
aeróbicos e resistidos ao indivíduo com DM se suportam semana-1; exercício de cada grande grupo muscular;
nos princípios FITT (ACSM, 2016). Deve-se lembrar de intensidade 60 a 70% 1-RM; 8 a 12 repetições em 2 a
que os princípios FITT se referem à frequência, intensi- 4 séries), pode ser necessário algumas adaptações in-
dade, tipo, tempo da sessão de exercícios. Um programa dividuais devido a presença de comorbidades. Existem
de exercícios para pessoas com DM deve incluir exer- evidências, sugerindo que a combinação dos exercícios
cícios aeróbios e resistidos. A seguir, serão descritos os aeróbicos e resistidos melhora o controle da glicemia
parâmetros da sessão de cada tipo de exercício. comparado às mesmas modalidades aplicadas de forma
Na prescrição de exercícios aeróbicos, a frequên- isolada (ACSM, 2016).
cia de exercícios na semana pode variar de 3 a 7 dias, A prescrição do exercício em pessoas com DM exi-
enquanto que a intensidade corresponde de 40 a <60% ge algumas considerações especiais. A hipoglicemia é o
do consumo máximo de oxigênio ou da frequência problema mais sério e de maior complicação para indi-
cardíaca de reserva (ou 11 a 13 da percepção subjeti- víduos com DM, exercitar-se, portanto, é uma preocu-
va de esforço). Pode ser alcançado um controle melhor pação principalmente para indivíduos que administram
da glicemia com intensidades superiores (>60%), de insulina exógena ou tomam medicamentos hipoglice-
modo que indivíduos em exercícios regulares pode-se miantes que aumentam a secreção da insulina (ACSM,
considerar aumentar a intensidade. O tempo de uma 2016). A hipoglicemia, considerada quando < 70 mg.
sessão de exercício físico é de 20 a 60 minutos, consi- dL-1, é relativa, podem ocorrer quedas rápidas sem
derando blocos de no mínimo 10 minutos de atividade sintomas ou o indivíduo apresentar tremores, fraqueza,

103


suor anormal, nervosismo, ansiedade, formigamento na cardíaca e pressão arterial. Nesses casos, deve-se: (1) mo-
boca e nos dedos e fome. Os sintomas neuroglicopêni- nitorar os sinais e sintomas de hipoglicemia, de isquemia
cos incluem a dor de cabeça, distúrbios visuais, confusão silenciosa (encurtamento da respiração ou dor nas cos-
mental, convulsões e coma. A hipoglicemia ainda pode tas); (2) monitorar a pressão arterial antes e após o exer-
ocorrer de modo atrasado e aparecer em até 12 horas cício para administrar a hipotensão e hipertensão asso-
após o exercício (ACSM, 2016). ciadas ao exercício; (3) avaliar a percepção subjetiva de
Portanto, o monitoramento da glicemia, antes da esforço. No caso de neuropatia periférica (pé diabético),
sessão de exercício e horas após o exercício findar, pare- o cuidado deve ser com os pés para evitar a ulceração du-
ce ser prudente, ainda mais pela escassez de informações rante o exercício, para isto recomenda-se utilizar de calça-
sobre o efeito combinado de exercícios e hipoglicemian- dos e meias confortáveis. Para indivíduo com nefropatia,
tes. Assim, o ajuste do consumo de carboidratos e / ou embora não haja evidências sobre aceleração da taxa de
medicamentos, antes e após o exercício com base nos va- progresso da doença renal em função da intensidade vi-
lores de glicemia e de intensidade do exercício, é neces- gorosa, é prudente aplicar intensidades moderadas.
sário para evitar a hipoglicemia. Por todas essas razões Em linhas gerais, a prática regular de exercícios físicos
supracitadas que visam reduzir os eventos de hipoglice- contribui para o controle glicêmico, assim como auxilia
mia, a supervisão dos exercícios por um profissional de para uma maior sensibilidade da insulina nos receptores
Educação Física, qualificado no trabalho com este grupo das células. Associado a um estilo de vida ativo, uma ali-
especial, é fundamental. mentação equilibrada é fundamental, esses aspectos pos-
No outro extremo, a hiperglicemia é uma preocu- sibilitam a manutenção não somente da glicemia corpo-
pação para os indivíduos com DM tipo II que não tem ral, mas o nível de gordura corporal (ADA, 2010).
controle glicêmico. Os sintomas comuns associados à
hiperglicemia incluem a poliúria (urina frequentemente HIPERTENSÃO ARTERIAL
“adocicada”), fadiga, fraqueza, sede exacerbada e hálito
cetônico. Pessoas com hiperglicemia, desde que se sin- A prática regular de atividade física pode ser benéfi-
tam bem e não apresentem corpos cetônico no sangue ca tanto na prevenção quanto no tratamento da HA,
ou urina, podem se exercitar; porém deve-se avaliar a reduzindo ainda a morbimortalidade cardiovascular
sua glicemia frequentemente e evitar o exercício vigoro- (MALACHIAS et al., 2016). Ao tratar de pessoas que
so até que percebam a glicemia diminuir. A desidratação possuem diagnóstico de HA, a literatura demonstra que
resultante da poliúria pode prejudicar a resposta ter- sessões de exercícios físicos possuem potencial efeito hi-
morregulatória. Indivíduos com DM tipo II e que apre- potensor da pressão arterial, isto sugere que o exercício
sentaram retinopatia estão em risco de descolamento deva ser considerado no manejo destes pacientes.
da retina e hemorragia vítrea associada ao exercício de Classicamente, vários ensaios clínicos controlados
intensidade vigorosa. Para minimizar este risco pode se demonstraram um efeito hipotensor dos exercícios ae-
utilizar de exercícios que não causem elevação significa- róbios, que podem ser complementados pelos resistidos,
tiva da pressão arterial. sobre as reduções de PA, estando indicados para a pre-
A neuropatia autonômica pode causar incompetên- venção e o tratamento da HA (MALACHIAS et al., 2016;
cia cronotrópica a atenuar os incrementos da frequência ACSM, 2016). O exercício físico aeróbico leva a reduções

104
EDUCAÇÃO FÍSICA

da pressão arterial de repouso 5 a 7 mmHg, como efei- tendo em vista a modificação no diâmetro dos vasos e
to agudo e crônico em pessoas com HAS, com reduções associados à diminuição da atividade nervosa simpática
permanecendo em até 22 horas depois do exercício (PES- - que atua na vasoconstrição dos mesmos, considerando
CATELLO et al., 2004). Esses valores também ficam re- esta uma notável adaptação positiva em hipertensos ao
duzidos em cargas submáximas de esforço como uma exercício físico (PESCATELLO et al., 2004).
adaptação orgânica crônica ao exercício (ACSM, 2016). O A prescrição do exercício físico pelo ACSM é orien-
efeito hipotensor do exercício físico aeróbico também foi tada por princípios que incluem a frequência, intensida-
observado em meta-análise de 54 estudos clínicos rando- de, tempo, tipo volume e progressão – princípio FITT
mizados, em que se observou uma redução de 3,84 e 2,58 (ACSM, 2016). Para a pessoa com HA, o ACSM reco-
mmHg na PAS e PAD, respectivamente (WHELTON et menda exercícios aeróbicos e de resistidos. O exercício
al., 2002). A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), na aeróbico podem ser praticados, preferencialmente, to-
sua 7ª Diretriz de Hipertensão Arterial, recomenda o trei- dos os dias da semana, sendo que os exercícios resistidos
namento aeróbico como forma preferencial de exercício podem ter frequência de 2 a 3 dias na semana. A inten-
para a prevenção e o tratamento da HA. sidade do exercício aeróbico deve ser moderada (40 a
Há certa controvérsia sobre os resultados do exercí- 60% do consumo máximo de oxigênio ou frequência
cio resistido sobre a pressão arterial. Segundo a SBC, o cardíaca de reserva; ou de 11 a 13 na percepção subjetiva
exercício resistido reduz a pressão arterial de pré-hiper- de esforço). O exercício resistido pode ser suplementa-
tensos, mas não tem em hipertensos (MALACHIAS et do em intensidade de 60 a 80% de 1-RM. O tempo de
al., 2016) . Porém poucos estudos randomizados e con- atividade de uma sessão deve ser entre 30 a 60 minutos,
trolados foram desenvolvidos com esse tipo de exercício realizados de exercício aeróbico, de forma contínua ou
na HA. Em uma revisão, encontrou-se que o exercício fí- intermitente, neste último, deve-se acumular no mínimo
sico resistido dinâmico e isométrico promoveu redução 10 minutos para atingir o total diário.
na PAS de 1,8 e 10,9 mmHg, respectivamente, enquanto O exercício resistido deve consistir em, pelo menos,
que na PAD reduções semelhantes foram observadas uma série de 8 a 12 repetições para cada um dos princi-
(3,2 e 6,2 mmHg) (CORNELISSEN; SMART, 2013). pais grupos musculares. O exercício aeróbico deve ser
Os mecanismos responsáveis pela redução da pressão o principal tipo, como caminhadas, corridas, ciclismo e
arterial como efeito crônico do exercício aeróbio estão as- natação. O exercício resistido, utilizando equipamentos
sociados às modificações estruturais, vasculares e neuro- com carga ou carga livre, deve suplementar o programa
-humorais bem como pela redução síntese de catecolami- de exercícios aeróbicos. A progressão do exercício físi-
nas e da resistência periférica, concomitante ao aumento co aeróbico deve ser gradual no volume com ajustes da
da sensibilidade à insulina e agentes vasodilatadores e ar- duração, frequência e/ou intensidade, porém deve ser
térias (PESCATELLO et al., 2004). A redução da pressão levado em consideração o nível de controle da pressão
arterial de forma sustentada em consequência do exer- arterial, alterações na terapia medicamentosa anti-hi-
cício físico é mediada pelo débito cardíaco e resistência pertensiva, nos efeitos colaterais dos medicamentos, na
periférica; contudo esse último componente parece ser o presença de doenças em órgãos-alvo e outros comorbi-
responsável primário pela diminuição da pressão arterial, dades e os ajustes devem ser feitos de acordo. A progres-

105


te e ao final da sessão de exercício físico (SILVA


são deve ser gradual, evitando grandes incrementos em
et al., 2010).
qualquer componente do FITT, especialmente, na inten-
sidade (ACSM, 2016). Como visto anteriormente, o indivíduo com HA pode
Na prescrição de exercícios para pessoas com doen- ter outras morbidades como a DM ou ter idade avança-
ças crônicas, várias considerações especiais devem ser da. Recomenda-se que pessoas com HA e DM iniciam
assumidas. No caso da HA: os exercícios físicos com intensidade leve a moderada e,
1. As pessoas com hipertensão no estágio III de- caso sintam-se confortáveis e não apresentem nenhu-
vem adicionar os exercícios ao plano terapêuti- ma contra indicação, podem evoluir para atividades
co, apenas, após passarem por avaliação médica e de maior intensidade (SBC, 2016). Ainda, em idosos, a
terem a prescrição de medicamentos anti-hiper-
prática regular de exercícios físicos aeróbios e de contra
tensivos.
resistidos contribuem para a diminuição da pressão ar-
2. Nos casos de doença cardiovascular documenta-
da, o exercício de intensidade vigorosa é melhor terial. Contudo em crianças e adolescentes as evidências
realizado em centros de reabilitação sob super- não sustentam que o exercício físico atue na redução
visão médica. da pressão arterial, minimizando o papel do exercício
3. PAS acima de 200 mmHg e / ou PAD acima de como tratamento não-farmacológico nesse grupo etário
110 mmHg é uma contraindicação relativa ao (PESCATELLO et al., 2004).
exercício físico. Por fim, para ambos os indivíduos com DM e HA,
4. Os anti-hipertensivos, como os betabloquea- vale considerar a participação de um mínimo de 150
dores, podem reduzir a capacidade de exercício minutos por semana de exercícios de intensidade mo-
máxima e submáxima, assim como os alfa blo-
derada à vigorosa. As atividades aeróbicas devem ser
queadores, podem levar a reduções excessivas
súbitas após o exercício, para tanto usar a per- realizadas, por no mínimo, 10 minutos. O exercício de
cepção de esforço e um resfriamento adequado intensidade moderada, totalizando 150 minutos por se-
parecem ser útil numa sessão de exercício. mana, está associado à redução da morbidade e da mor-
5. No exercício resistido, deve-se evitar a manobra talidade em estudos observacionais em todas as popula-
de valsalva (ACSM, 2016). O Conselho Federal ções. São alcançados benefícios adicionais, aumentando
de Educação Física (CONFEF) inclui a necessi- até ≥ 300 minutos por semana de atividade física de in-
dade de aferição da pressão arterial antes, duran- tensidade moderada à vigorosa (ACSM, 2016).

106
considerações finais

Atualmente, as doenças crônicas representam um problema de saúde pública em escala mundial.


No Brasil, as prevalências de Diabetes Melito (de 5,2 a 9,8%, dependendo da capital) e Hipertensão
Arterial (de 15,9% a 31,2%, dependendo da capital). Estas prevalências indicam a necessidade
de abordagens imediatas de promoção da saúde.
O Diabetes Melito (DM) e a Hipertensão Arterial (HA) são doenças crônicas que levam tempo
para manifestar sintomas clínicos. Quando plenamente instauradas, o DM e HA podem causar
várias complicações de saúde, sempre em direção de múltiplas comorbidades e aumento da
mortalidade. Portanto, há necessidade de compreender e estar apto a realizar o diagnóstico do
DM e HA, para precocemente identificar novos casos e mudar rapidamente o curso da doença.
Sobre o manejo não farmacológico, é importante que a prescrição de exercícios físicos ao indi-
víduo com DM e HA seja orientada pelos princípios FITT, o que inclui o ajuste individualizado
dos parâmetros de frequência, intensidade, tempo e tipo de atividades. Além disso, um cuidado
especial deve ser tomado em relação às particularidades de cada doença crônica, para que eventos
cardiovasculares e metabólicos indesejáveis sejam evitados.
O profissional de Educação Física deve estar a par da etiologia, fisiopatologia, monitoramento e
cuidados especiais para a condução de exercícios em pessoas com doenças crônicas bem como
estar apto a atuar em equipes multidisciplinares de saúde. A prevenção do DM e da HA é extre-
mamente importante para a contenção de novos casos, a partir de um estilo de vida saudável que
pode ser orientado por todos os profissionais de saúde. Em especial, o profissional de Educação
Física, deve perceber e interagir com demais profissionais da saúde para detectar, precocemente,
os casos de pré-diabetes e pré-hipertensão. A atividade física, nesses casos, terá grande valor para
a redução ou interrupção do processo de evolução da doença crônica.

107
atividades de estudo

1. Sabe-se da relevância da epidemiologia do diabetes melito (DM) e da hiper-


tensão arterial (HA), em termos de ocorrência e distribuição da doença. Nesse
aspecto, assinale as alternativas corretas.
a. A prevalência do DM é maior no tipo 1 comparado ao tipo 2.
b. A HA foi responsável por mais de 900 mil mortes em 2017.
c. Cerca de 1,13 bilhões de pessoas vivem com HA no mundo.
d. A prevalência do DM é mais elevada comparada à HA em adultos.
e. No Brasil, a prevalência de HA é de no máximo 10% da população.

2. Vimos que são muitos os fatores que expõem o indivíduo ao maior risco de
desenvolver doenças. Nesse sentido, considere os fatores de risco envolvidos
no desenvolvimento da DM e HA e assinale a resposta correta .
I. Os principais fatores de risco para o desenvolvimento HA são o envelhecimen-
to, excesso de peso e obesidade, consumo excessivo de sódio, consumo crô-
nico e elevado de álcool, dislipidemias, diabetes não controlada, sedentarismo
e genética.
II. Causas secundárias como patologias relacionadas aos rins, disfunções endó-
crinas que ocasionam em hipotireoidismo ou hipertireoidismo e doença da
artéria aorta podem causar HA.
III. O DM2 está associado à hereditariedade, sedentarismo, dietas ricas em gor-
duras, obesidade e envelhecimento.
IV. Diagnóstico de pré-diabetes, hipertensão arterial, colesterol alto ou alterações
na taxa de triglicérides no sangue, doenças renais crônicas, diabetes gestacio-
nal, síndrome de ovários policísticos, uso contínuo de medicamentos da classe
dos glicocorticóides aumentam a chance de DM.
Assinale a alternativa correta:
a. Apenas, I e II estão corretas.
b. Apenas, II e III estão corretas.
c. Apenas, I está correta.
d. Apenas, II, III e IV estão corretas.
e. Todas as alternativas estão corretas.

108
atividades de estudo

3. Sabe-se que o DM e a HA são doenças crônicas que possuem sérias consequ-


ências. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) sobre as afirmações a seguir:
( ) HA não controlada danifica os vasos sanguíneos, o que prejudica a circulação
sistêmica e causa acidente vascular encefálico e infarto agudo do miocárdio.
( ) O DM pode desencadear complicações crônicas mais sérias à saúde do indi-
víduo, como as microvasculares (retinopatia, nefropatia e neuropatia) e as macro-
vasculares (doença arterial coronariana, doença cerebrovascular e vascular peri-
férica).
( ) HA não controlada é benéfica ao organismo, que apesar dos aumentos abrup-
tos da pressão arterial, consegue manter saudáveis os vasos sanguíneos.
Assinale a alternativa correta:
a. V, V, F.
b. F, F, V.
c. V, F, V.
d. F, F, F.
e. V, V, V.

4. É fundamental que o profissional de saúde pondere entre os riscos e benefí-


cios de qualquer intervenção. Nesse aspecto, Liste os três principais cuidados
que o profissional de Educação Física precisa ter com o indivíduo que vive com
o DM e a HA na prática de atividades físicas.
5. Consolidar o conhecimento e traduzir, de forma breve e simples, para a comu-
nicação entre profissionais e no trato com a população é muito importante.
Assim, defina o DM e a HA.

109
LEITURA
COMPLEMENTAR

INFLUÊNCIA DO EXERCÍCIO FÍSICO NOS INDIVÍDUOS PORTADORES DE


DIABETES MELLITUS TIPO II E HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
O exercício físico é aceito como agente preventivo e terapêutico de diversas enfermida-
des. No tratamento de doenças cardiovasculares e crônicas, a atividade física tem sido
apontada como principal medida não farmacológica,
assumindo aspecto benéfico e protetor. A inatividade física e o baixo nível de condicio-
namento têm sido considerados fatores de risco para a mortalidade prematura tão im-
portante quanto fumo, dislipidemia, diabetes e hipertensão arterial. (POLLOCK, 1993).
Análises Epidemiológicas demonstraram que muitos indivíduos morreram simples-
mente por serem sedentários, isto fez com que a atividade física fosse vista em di-
versos países como uma questão de saúde pública (GHORAYEB, 1999). O conceito de
sedentarismo não é associado necessariamente à falta de uma atividade esportiva, o
sedentário é o indivíduo que não atinge gastos calóricos superiores a 1500 Kcal por
semana relacionadas a atividades ocupacionais (NETO, 2005).
Existe uma associação entre as mudanças nos hábitos de atividade física e o risco de
mortalidade, onde indivíduos que adotaram uma atividade física moderadamente vi-
gorosa (intensidade > 4,5 MET’s) em comparação com aqueles que nunca participaram
deste tipo de atividade, demonstrando um risco de 41% menor de morte por Doença
Cardíaca Coronariana (DCC), e o aumento no despendido total de energia superior a
1500 Kcal/semana durante as horas de lazer; promoveu uma redução de 28% no risco
de mortalidade por todas as causas (ACSM, 2003.) A melhora na saúde do indivíduo
que pratica exercício físico regularmente é devido a exposição repetida do organismo
a uma situação que requer uma reação mais forte do que a correspondente a sua ativi-
dade orgânica normal (VASCONCELLOS, 1992).

110
LEITURA
COMPLEMENTAR

Tal estresse gerado pela pratica regular de exercício físico, produz algumas alterações
morfofuncionais no organismo também conhecidas como efeitos crônicos do exercício,
a fim de adaptar o individuo a situação ao qual está sendo submetido (GHORAYEB,
1999). Uma das principais adaptações que o exercício físico promove, podem ser
observadas no tecido muscular que sofre um aumento de sua secção transversa deno-
minado “hipertrofia”. Sendo acompanhada de alguns fenômenos como aumento nos
estoques de glicogênio, aumento do número e tamanho das miofibrilas, maior quanti-
dade de água dentro das fibras, maior capacidade da via oxidativa, que é refletida por
incrementos na densidade mitocondrial e na atividade máxima de enzimas do processo
mitocondrial de respiração celular, aumento da vascularização e capilarização (RAMOS,
2000). Estas adaptações reduzem a resistência vascular melhorando o fluxo sangüíneo
e ocasionado um maior transporte de glicose e lipídios para o metabolismo dos tecidos,
e ainda potencializando a ação da insulina devido o aumento da proteína quinase AMP-
-ativada (AMPK) fosforilada apontada como mediadora da estimulação da captação de
glicose induzida pela contração muscular. Alguns defeitos ou desusos (sedentarismo)
do sistema de sinalização da AMPK poderiam resultar em muitas das perturbações do
(DMNID). Onde o aumento da ultilização desta via de sinalização AMPK por exercícios
poderia ser efetivo em corrigir a resistência à insulina (GAZOLA, 2001).
Além de melhorar o transporte e captação de insulina os exercícios tanto aeróbicos
quanto os resistidos, promovem um aumento do metabolismo basal conhecido como
metabolismo de repouso, que é responsável por 60% a 70% do gasto energético total,
contribuindo para a perda de peso, e diminuição do risco de desenvolver diabetes,
hipertensão, e outras doenças (CIOLAC, 2004). A fim de acompanhar e suprir as neces-
sidades de adaptação do tecido muscular, o sistema cardiovascular evolui de forma a
suprir as exigências crescentes (CARNEIRO, 2002), ocasionando uma hipertrofia das fi-

111
LEITURA
COMPLEMENTAR

bras cardíacas, tornando o coração maior e mais forte, melhorando assim a capacidade
contrátil do miocárdio (BIBLIOTECA SAÚDE, 1996).
Esta ação é seguida de um aumento do volume de ejeção, diminuição da freqüência
cardíaca de repouso (bradicardia), decorrente de uma redução do tônus simpático e
um aumento do tônus parassimpático, resultando em uma dilatação arteríola e ve-
nodilatação. (MAUGHAN, 2000), contribuindo para uma queda da pressão arterial sis-
têmica, melhorando a eficácia do sistema circulatório, e gerando um aumento do Vo-
2MÁX.(BIBLIOTECA SAÚDE). O Vo2MÁX é o melhor preditor para o condicionamento
físico (CARPENTER, 2002). FOX & MATHEWS apud HERNANDES JR (2002), relatam que
o treinamento anaeróbio não altera significativamente o Vo2MÁX, enquanto o aeróbio
produz grande aumento do Vo2MÁX. Sendo os exercícios aeróbios superiores no que
diz respeito as adaptações hemodinâmica como maior aumento das câmaras cardíacas
eficácia do sistema de transporte de oxigênio (SANTARÉM 1998).
Basicamente os exercícios resistidos produzem maior hipertrofia das paredes do cora-
ção e menor aumento de câmaras cardíacas, comparativamente aos exercícios aeró-
bios. Sendo esta maior hipertrofia do miocárdio fisiológica produzida pelos exercícios
com pesos, não se acompanhando das complicações da hipertrofia patológica produ-
zida pela hipertensão arterial crônica. As câmaras cardíacas podem aumentar ou não
durante o treinamento resistido, mas nunca diminuem, como pode ocorrer na doença
hipertensiva (SANTARÉM, 1998).
Esta resposta fisiológica do treinamento resistido em promover aumento nas paredes
do miocárdio favorecendo a execução das atividades anaeróbias, sendo que estas es-
tão presentes em grande parte das atividades vinculadas ao cotidiano (ACSM, 2003).
Segundo Silva, a adoção de um estilo de vida não sedentário, calçado na prática regu-
lar de atividade física, encerra a possibilidade de desenvolvimento da maior parte das

112
LEITURA
COMPLEMENTAR

doenças crônicas degenerativas, além de servir como elemento promotor de mudan-


ças com relação a fatores de risco para inúmeras outras doenças. Sugere-se inclusive,
que a prática regular de atividade física pode ser, na tentativa de controle das doenças
crônicas degenerativas, o equivalente ao que a imunização representa na tentativa de
controle das doenças infecto-contagiosas (SILVA, 1999).
Com isso, a prática de exercícios tanto aeróbios como resistidos são fundamentais para
indivíduos saudáveis como para diabéticos e hipertensos, melhorando a saúde e a qua-
lidade de vida destes mantendo as respectivas doenças controladas.

Fonte: Krinski et al. (2006).

113
material complementar

Indicação para Ler

Tratado de Cardiologia do Exercício e do Esporte


Nabil Ghorayeb e Giuseppe S. Dioguardi
Editora: Atheneu
Sinopse: obra essencial para o aprofundamento na cardiologia do esporte, cobrin-
do as diversas questões relacionadas à hipertensão arterial. O livro em questão é
uma referência para os profissionais da saúde no que se refere a cardiologia e o
exercício, assumindo a perspectiva de medicação não-farmacológica, associado à
alimentação saudável e a educação para prevenção de doenças ganha espaço de
maior importância na clínica cardiovascular.

Indicação para Acessar

Página oficial da Sociedade Brasileira de Hipertensão.


A Sociedade Brasileira de Hipertensão foi criada em 1991 com o objetivo de estimular o intercâmbio de
informações e pesquisas sobre hipertensão arterial, educar médicos e profissionais da saúde e promover
a detecção, controle e prevenção da doença na população brasileira. A página tem vários conteúdos, como
congressos, notícias e publicações entre as diretrizes da sociedade aos artigos comentados.
Web: http://www.sbh.org.br/

Página oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes.


A Sociedade Brasileira de Diabetes existe de 1970 e, desde então, contribui para a prevenção e tratamen-
to adequado do diabetes, disseminando conhecimento técnico-científico entre os profissionais de saúde,
além de ter conteúdo para conscientizar a população a respeito da doença. Na página, pode-se encontrar
várias informações sobre a sociedade (eventos e notícias), mas também material educativo como aulas
médicas, ações de educação em Diabetes, além do tópico Diabetes, Exercício e Esporte, que pode agregar
ainda mais informação.
Web: https://www.diabetes.org.br/

114
referências

ACSM. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2016.
ADA. Classification and Diagnosis of Diabetes: Standards of Medical Care in Diabetes
- 2020. Diabetes Care, [online], v. 43, n. 1, p.14-31, jan. 2020.
ADA. Standards of Medical Care in Diabetes – 2018. Clinical Diabetes, [online], v. 36,
n.1, p. 14-37, jan. 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Diabetes Mellitus: cadernos de Atenção Básica – n. 16.
Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
BRASIL. Ministério da Saúde. Vigitel Brasil 2018: vigilância de fatores de risco e
proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e
distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas
capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2018. Brasília: Ministério
da Saúde, 2019.
CAMPAIGNE, B. N. Exercício e Diabetes Melito. In: ACSM. Manual de pesquisa: das
diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. Rio de Janeiro: Guana-
bara Koogan, 2003.
CDC. Health Disparities and Inequalities Report – United States. Morbidity and Mor-
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CHIANG, C. et al. Guidelines of the Taiwan Society of Cardiology for the management
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CORNELISSEN, V. A.; SMART, N. A. Exercise training for blood pressure: a system-
atic review and meta-analysis. Journal of the American Heart Association, [online],
v. 2, n. 1, 2013.
KOHLMANN, O. et al . III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial. Arq Bras
Endocrinol Metab, São Paulo, v. 43, n. 4, p. 257-286, ago. 1999.
KRINSKI, K. et al. Efeitos do exercício físico em indivíduos portadores de diabetes e
hipertensão arterial sistêmica. Revista Digital Efdeportes, Buenos Aires, a. 10, n. 93,
fev. 2006.

115
referências

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MARASCHIN, J. F. et al. Arquivos Brasileiros de Cardiologia: Classificação do diabete
melito. Sociedade Brasileira de Cardiologia, São Paulo, v. 95, n. 2, p. 40-46, 2010.
MEISINGER, C. et al. Sex differences in risk factors for incident type 2 diabetes melli-
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the Global Burden of Disease Study 2017. The Lancet, [online], v. 392, n. 10159, p.
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116
referências

SBC. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arquivos brasileiros de cardiologia,


São Paulo, v. 95, n. 1, supl.1, p. 1-51, 2016.
SILVA, F. M. da et al. Recomendações sobre condutas e procedimentos do profission-
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WHELTON, S. P. et al. Effect of aerobic exercise on blood pressure: a meta-analysis of
randomized, controlled trials. Annals of Internal Medicine, [online], v. 136, n. 7, p.
493-503, 2002.
WHO. Global health risks: mortality and burden of disease attributable to selected
major risks. Genebra: WHO, 2009.
WHO. World health statistics 2008. Genebra: WHO, 2008.
WILD, S. et al. Global prevalence of diabetes: estimates for the year 2000 and projec-
tions for 2030. Diabetes Care, [online], v. 27, p 1047-53, 2004.
WILLIAMS, B. et al. Guidelines for the management of arterial hypertension: The Task
Force for the management of arterial hypertension of the European Society of Cardiol-
ogy (ESC) and the European Society of Hypertension (ESH). European Heart Journal,
[online], v. 39, n. 33, p. 3021-3104, 2018.

117
gabarito

Questão 1 - Resposta: alternativa “b” e “c”.


Questão 2 - Resposta: alternativa “e”.
Questão 3 - Resposta: alternativas “c”.
Questão 4 - Resposta: Principais cuidados com a prática de atividades físicas em
pessoas com DM: (1) o monitoramento da glicemia, antes da sessão de exercício e
horas após o exercício finalizar, para evitar a hipoglicemia, mas também a hipergli-
cemia; (2) no caso de neuropatia periférica (pé diabético), deve-se cuidar dos pés
para evitar a ulceração durante o exercício, utilizando calçados e meias confortá-
veis. Principais cuidados com a prática de atividades físicas em pessoas com HA:
(1) monitorar a PAS e PAD antes da sessão de exercício, pois PAS acima de 200
mmHg e / ou PAD acima de 110 mmHg são contraindicações relativas ao exercício
físico; (2) No exercício resistido, deve-se evitar a manobra de valsalva.
Questão 5 - Resposta: O diabetes é uma doença endócrino-metabólica caracteri-
zada por um estado de hiperglicemia em jejum, que está associada às complica-
ções, disfunções e insuficiência de vários órgãos. A hipertensão arterial é caracte-
rizada por níveis elevados de pressão arterial sistólica e/ou diastólica, decorrentes
de modificações estruturais e/ou funcionais de órgãos, como coração e rins, e
alterações metabólicas.

118
UNIDADE
IV
DISLIPIDEMIAS E SÍNDROME METABÓLI-
CA: DAS DEFINIÇÕES À PRESCRIÇÃO DO
EXERCÍCIO FÍSICO

Professor Dr. Luiz Rodrigo Augustemak de Lima

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Epidemiologia das Dislipidemias e da Síndrome Metabólica
• Etiologia, Fatores de Risco e Consequências à Saúde
• Diagnóstico das Dislipidemias e da Síndrome Metabólica
• Tratamentos das Dislipidemias e da Síndrome Metabólica
• Prescrição do Exercício Físico para Pessoas com
Dislipidemias e/ou Síndrome Metabólica

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer os conceitos e a epidemiologia das Dislipidemias
e da Síndrome Metabólica.
• Descobrir a gênese e os fatores de risco das Dislipidemias
e da Síndrome Metabólica.
• Utilizar ferramentas de diagnóstico das Dislipidemias e da
Síndrome Metabólica.
• Conhecer os tratamentos das Dislipidemias e da Síndrome
Metabólica
• Utilizar os princípios básicos da prescrição do exercício
físico para pessoas com Dislipidemias e/ou Síndrome
Metabólica
unidade

IV
INTRODUÇÃO

N
esta disciplina, já discutimos sobre os temas obesidade, dia-
betes melito e hipertensão, desde os conceitos, complicações
à saúde e diagnósticos, até a intervenção aplicada ao profis-
sional de educação física. Nesta unidade, abordaremos nova-
mente sobre estes aspectos de forma integrada e adicionaremos o tema
das dislipidemias. Esse aglomerado de fatores de risco cardiovasculares é
descrito como síndrome metabólica.
Inicialmente, conheceremos a epidemiologia das dislipidemias e da
síndrome metabólica, compreendendo o potencial e abrangência dessas
condições crônicas, assim como a interpretação da etiologia, os aspectos
biológicos e bioquímicos básicos também serão revisitados, para a melhor
leitura sobre os fatores de risco aos que estão associados e às potenciais
consequências à saúde.
Veremos também como ocorre o diagnóstico das dislipidemias e da
síndrome metabólica, apesar das divergências de critério e pontos de
corte para a síndrome, muitos avanços na tecnologia de investigação
clínica permitirão, nos próximos anos, a predição precisa das anormali-
dades metabólicas e cardiovasculares.
Os últimos tópicos apresentarão os tratamentos medicamentosos e
não medicamentosos das dislipidemias e da síndrome metabólica, ba-
seados em farmacoterapia e mudanças no estilo de vida, que provocam
benefícios subsequentes na perda e manutenção do peso, assim como
no perfil lipídico. A prescrição do exercício físico para pessoas com dis-
lipidemias e/ou síndrome metabólica se suporta na manipulação dos
princípios FITT-VP, assumindo mais atenção aos cuidados relaciona-
dos às múltiplas complicações crônicas que podem estar presentes no
mesmo indivíduo.


Epidemiologia das dislipidemias


e da síndrome metabólica
O estudo da epidemiologia permite compreender as- DISLIPIDEMIAS
pectos sobre a doença em questão, como a frequência, a
distribuição e os determinantes do seu processo. Ao lon- Em poucas palavras, dislipidemia representa uma desre-
go deste tópico, você aprenderá informações epidemio- gulação no metabolismo dos lipídios e lipoproteínas no
lógicas importantes para o manejo do indivíduo com organismo, ou seja, alterações que superam as variações
dislipidemia e/ou síndrome metabólica, que permitirá fisiológicas e representam anormalidades que podem
maior compreensão do cenário atual, vislumbrando os desenvolver desfechos negativos à saúde. A Sociedade
contextos mais vulneráveis. Brasileira de Cardiologia SBC, (2016) define dislipide-

124
EDUCAÇÃO FÍSICA

mia como alterações no metabolismo de lipídios que mias. Contudo, alguns de larga abrangência podem nos
repercutem nos níveis séricos de lipoproteínas. dar a luz de heterogeneidade existente.
Na perspectiva fisiológica e clínica, os lipídios que De acordo com o Observatório de Saúde Global, da
têm maior significado e relevância biológica são os fos- Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2008, a preva-
folípides, o colesterol total e frações (principalmente, lência global de colesterol total elevado entre adultos foi
lipoproteína de colesterol de baixa densidade [LDL-c] de 39% (37% para homens e 40% para mulheres). Global-
e de alta densidade [HDL-c]), os triglicérides (TG) e os mente, o colesterol total médio mudou entre 1980 e 2008,
ácidos graxos (AG) (XAVIER et al., 2013). O papel de caindo menos de 38,0 mg/dL por década em homens e
cada um deles na interação do metabolismo lipídico e na mulheres. Dados da OMS revelam que a prevalência de
contribuição no processo de desenvolvimento de doen- colesterol total elevado foi mais alta na região da Europa
ça cardiovascular será aprofundado no próximo tópico. (cerca de 54%), seguida pela região das Américas (cer-
A prevalência de dislipidemia irá variar de acordo ca de 48%). Enquanto que a região Africana e sudeste
com o analito em questão, ou seja, variações genéticas e da Ásia apresentaram os menores percentuais (22,6% e
fenotípicas que podem influenciar o TG, colesterol total 29,0%, respectivamente) (OMS, [2020], on-line)1. De for-
(CT) e as suas frações (HDL-c e LDL-c) determinarão ma geral, a Figura 1 demonstra a prevalência de colesterol
ampla variação na prevalência e incidência de dislipide- total elevado em diferentes regiões no mundo.

Descrição da Imagem: A imagem apresenta o mapa global, enfatizando em diferentes cores a prevalência de colesterol elevado, sendo que o norte
da europa e europa central possuem os maiores valores, seguido do leste europeu, américa do norte e Austrália.

Prevalência de colesterol total elevado

Dados não disponíveis


Não se aplica

Figura 1 - Prevalência de colesterol total elevado (>= 5.0 mmol/L 90 mg/dL) em pessoas com idade superior a 25 anos, padronizado por idade, de
ambos o sexos / Fonte: Organização Mundial da Saúde (2011, on-line)2.

125


Recentemente, uma revisão sistemática, de 18 estudos SÍNDROME METABÓLICA


originais que compreendem uma amostra de 387.825
participantes chineses, demonstrou que a prevalência de O termo síndrome metabólica (SM) foi colocado pela
hipercolesterolemia (colesterol total elevado) foi 10,1% primeira vez por Haller e Hanefeld, em 1975, (O’NEILL;
(IC95%: 5,8 a 16,9%), enquanto a prevalência de hiper- O’DRISCOLL, 2015). Segundo a I Diretriz Brasileira de
trigliceridemia (triglicérides elevado) foi na ordem de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica, ela
17,7% (IC95%: 14,0 a 22,1%). O fenótipo misto de hi- pode ser definida como transtorno complexo na com-
perlipidemia (elevações simultâneas em dois lípides / binação de fatores risco cardiovascular usualmente re-
lipoproteínas) foi 5,1% (IC95%: 3,1 a 8,2%). Os níveis lacionado à deposição central de gordura e à resistência
reduzidos de HDL-c e elevados de LDL-c, ambos repre- à insulina (CARVALHO et al., 2005). Este agrupamento
sentando desfechos negativos, foram de 11,0% (IC95%: de fatores de risco para a doença cardiovascular coexiste
8,0 a 15,0%) e 8,8% (IC95%: 4,1 a 17,8%), respectiva- de forma complexa muito mais esperado do que ao aca-
mente. Uma análise adicional no mesmo estudo, de sen- so (HARDMAN; STENSEL, 2009).
sibilidade, demonstrou que homens têm maior preva- A epidemiologia da síndrome metabólica, geral-
lência de dislipidemia que as mulheres (43.2% vs. 35.6%) mente, tem a apresentação dos indicadores diluídos nos
(ZHANG et al., 2017). fatores de risco cardiovascular, além disso há diferentes
O aumento do colesterol total aumenta os riscos de critérios utilizados para a definição da síndrome, o que
doenças nas artérias coronárias e cerebrais. Globalmente, dificulta a comparação direta dos dados. Contudo, al-
um terço das doenças cardíacas isquêmicas são atribuí- guns estudos demonstraram que, há alguns anos, dados
veis ao colesterol total elevado. Ainda, estima-se que o co- de populações, como a mexicana, a norte americana e a
lesterol total elevado cause 2,6 milhões de mortes (4,5% asiática, revelam prevalências elevadas variando as taxas
do total) e 29,7 milhões de anos de vida perdidos por in- de 12,4% a 28,5% em homens e de 10,7% a 40,5% em
capacidade, ou 2,0% do total deste indicador. O aumento mulheres (CARVALHO et al., 2005).
do colesterol total é uma das principais causas de carga de Dados epidemiológicos mais recentes, dispostos numa
doenças nos países desenvolvidos e em desenvolvimento ampla revisão sobre o tema (O’NEILL; O’DRISCOLL,
como um fator de risco para doenças cardíacas e cerebrais 2015), compreendeu 56 estudos em adultos com ampla va-
isquêmicas (OMS, [2020], on-line)1. riabilidade de aspectos étnicos, culturais, de estilo de vida
Por outro lado, foi relatado que uma redução de 10% e regiões no mundo. Os dados analisados mostraram me-
no colesterol total no sangue em homens com cerca de nores prevalências na Coréia do Sul (5,2% homens e 9,0%
40 anos pode resultar em uma redução de 50% nas do- mulheres), China (9,8% homens e 17,8% mulheres) e Índia
enças cardíacas em 5 anos; sendo que esta mesma redu- (17,1% homens e 19,4% mulheres), seguidos valores mais
ção de colesterol em homens com 70 anos pode resultar elevados na Dinamarca (18,6% homens e 14,3% mulhe-
em uma redução média de 20% na ocorrência de doen- res), Austrália (24,4% homens e 19,9% mulheres), Irlanda
ças cardíacas nos próximos 5 anos. Isto aventa o poten- (21,8% homens e 21,5% mulheres), sendo os valores mais
cial que estratégias de prevenção e tratamento de dislipi- elevados no Estados Unidos da América (33,7% homens
demias têm na redução da morbidade e mortalidade de e 35,4% mulheres). Contudo, esta revisão não incluiu ne-
uma população (OMS, [2020], on-line)1. nhum estudo da America Latina.

126
EDUCAÇÃO FÍSICA

Em estudo recente da população brasileira (59.402 a complexidade da logística do estudo, permite maior
adultos e idosos), da Pesquisa Nacional de Saúde - 2013 abrangência e ainda possui concordância com os valores
(RAMIREZ et al., 2018) identificou uma prevalência de mensurados objetivamente.
8,9% (IC95% 8,4 a 9,5%), sendo maior nas mulheres que Outro dado interessante do mesmo estudo foi a pre-
nos homens (7,5 vs 10,3%, respectivamente). A principal valência do agrupamento de fatores de risco, descritos
limitação do estudo reside no fato de que a diabetes e na Tabela 1. Isto mostra que apenas 23,8% da população
hipercolesterolemia foram autorreferidas e não mensu- não apresenta qualquer um dos componentes da síndro-
radas a partir de amostras de sangue, embora a pressão me metabólica, porém quase 70% apresenta entre um a
arterial e circunferência da cintura tenham sido medi- dois componentes. Embora menos de 10% dos partici-
das. Apesar de não ser a melhor abordagem, o autorre- pantes apresentaram 3 ou mais fatores de risco, é im-
lato de diagnóstico de doenças é uma estratégia comu- portante lembrar que tal agrupamento aumenta muito
mente utilizada em estudos epidemiológicos, pois reduz o risco de doença arterial coronariana.

Total Masculino
Feminino
N = 59.402 N = 25.920
Componentes da Síndro- N = 33.482
me Metabólica
% (IC 99) % (IC 99)
% (IC 99)

0 23,8 (22,9 - 24,7) 28,0 (26,7 - 29,4) 19,9 (18,8 - 21,1)

1 38,1 (37,2 - 39,0) 34,8 (33,5 - 36,2) 41,0 (39,8 - 42,3)

2 29,2 (28,3 - 30,1) 29,7 (28,4 - 31,0) 28,7 (27,6 - 29,9)

3 7,5 (7,1 - 8,1) 6,5 (5,8 - 7,3) 8,5 (7,8 - 9,3)

4 1,4 (0,9 - 1,2) 1,0 (0,7 - 1,3) 1,8 (1,5 - 2,2)


Tabela 1 - Prevalência (%) das do fatores de risco para síndrome metabólica, por sexo, dos adultos e idosos brasileiros /
Fonte: adaptada de Ramirez et al. (2018).

A seguir serão apresentadas informações sobre a etio-


logia, os fatores de risco para desenvolvimento das
dislipidemias e síndrome metabólica, assim como as
consequências deletérias à saúde, ainda mais na agre-
gação de fatores de risco que exponencia a chance de
doenças cardiovasculares.

127


Etiologia, fatores de risco


e consequências à saúde
Antes de entrar, especificamente, no tema da etiologia, DISLIPIDEMIAS
fatores de risco e consequências à saúde relacionado às
dislipidemias e síndrome metabólica, é necessária uma Numa perspectiva fisiológica e do pontos de vista
construção do saber relacionado aos aspectos básicos clínico, os lipídeos biologicamente relevantes são os
dos lipídios e lipoproteínas. Aspectos fisiopatológicos e fosfolípides, colesterol total (CT) e frações (HDL-c,
de consequências à saúde do excesso de peso e gordura LDL-c e VLDL-c), triglicérides (TG) e os ácidos graxos
central, diabetes melito e hipertensão já foram descritos (XAVIER et al., 2013). Numa perspectiva da bioquími-
anteriormente; portanto, serão apresentadas as consequ- ca básica, sobre a estrutura e função, os fosfolipídios
ências da combinação destes fatores no desenvolvimen- são reconhecidos por formarem a estrutura básica das
to da doença aterosclerótica, considerando processos membranas celulares, o precursor de hormônios este-
inflamatórios e de disfunção endotelial. roides, ácidos biliares e vitamina D, além disso é cons-

128
EDUCAÇÃO FÍSICA

tituinte de membrana e influencia a sua fluidez e ativa- celular induzida pelo excesso de lipídios e desregulação
ção de enzimas (NELSON; COX, 2002). lipídica (FONSECA-ALANIZ et al., 2007).
Os TGs são formados por três ácidos graxos liga- As lipoproteínas permitem a solubilização e o trans-
dos ao glicerol, juntos eles constituem uma forma oti- porte dos lipídios - tendo em vista que eles são hidrofó-
mizada de armazenamento de energia importantes no bicos e formam micelas em meio polar como a corrente
organismo, alocados nos tecidos adiposo e muscular, sanguínea (NELSON; COX, 2002). Portanto, as lipopro-
comumente lembrado nas reflexões sobre intensidade e teínas são compostas por lipídios e proteínas denomi-
volume de exercício físico (POWERS; HOWLEY, 2009). nadas apolipoproteínas (Apos). As Apos têm funções no
De forma geral a maioria dos TG de ocorrência natural metabolismo das lipoproteínas desde a formação intra-
são mistos e cerca de 98% dos lipídeos são TG, em uma celular das partículas lipoproteicas (Apo B100 e B48) à
dieta “habitual” (NELSON; COX, 2002). atuação como ligantes a receptores de membrana (Apo
Os ácidos graxos são classificados como saturados B100 e E) ou mesmo cofatores enzimáticos (Apo CII,
(sem duplas ligações entre seus átomos de carbono), CIII e AI). De forma geral, existem quatro grandes clas-
mono ou poli-insaturados, de acordo com o número de ses de lipoproteínas divididos em dois grupos: 1) ricas
ligações duplas na cadeia (NELSON; COX, 2002). Os em TG, maiores e menos densas, representadas pelos
ácidos graxos saturados mais frequentemente presentes quilomícrons, de origem intestinal, e pelas lipoproteínas
em nossa alimentação são: láurico, mirístico, palmítico e de densidade muito baixa (VLDL), de origem hepática;
esteárico (que variam de 12 a 18 átomos de carbono). En- 2) as ricas em colesterol, incluindo as densidade baixa e
tre os ácidos graxos monoinsaturados, o mais frequente alta, como o LDL-c e HDL-c, respectivamente. Embora
é o ácido oleico, que contém 18 átomos de carbono. Ain- existam outras lipoproteínas como a intermediária e “a”,
da há ácidos graxos poli-insaturados, classificados como os papéis no organismo não estão bem definidos (XA-
ômega-3 (eicosapentaenóico, docosahexaenoico e lino- VIER et al., 2013).
lênico) ou ômega-6 (linoleico), de acordo com a presen- O LDL-c tem a função de transportar o colesterol,
ça da primeira dupla ligação (XAVIER et al., 2013). sendo 3/4 do total, até os tecidos corporais. O LDL-c
Os ácidos graxos têm muitas funções no nosso orga- ainda regula a taxa de produção e remoção determinada
nismo, desde a manutenção de energia em forma de TG na concentração no sangue. As dietas contendo alta con-
nos adipócitos (células especializadas em estocar gordu- centração de gordura saturada e colesterol reprimem as
ra), como a providência de energia ao exercício físico, retirada do LDL-c, o que afeta os seus receptores no fí-
além da sinalização celular relacionada à lipotoxicida- gado. Há, também, variantes genéticas no receptor de
de. Portanto, é sensato o raciocínio de que o excesso de LDL-c, que causam redução de sua expressão na mem-
gordura corporal em forma de energia irá permitir uma brana e deformações na sua estrutura e função.
maior quantidade de lipídios circulantes e de processos Enquanto o HDL-c transporta o colesterol das arté-
de sinalização celular entre os órgãos. Assim, o acúmu- rias (tecidos periféricos) até o fígado, em que é captado
lo de TG em células não adipócitos leva à produção de por receptores específicos, isto é frequentemente deno-
ceramidas, que ativa a óxido nítrico sintase induzível e minado “transporte reverso do colesterol”, tem variações
promove apoptose pela ativação do NFkB, ou seja, morte na apolipoproteínas (Apo A-I e Apo A-II), que são im-

129


plicações clínicas importantes. O HDLc faz a remoção à causas genéticas manifestadas em função da influência
de lípides oxidados da LDL-c - moléculas de grande po- ambiental, devido à dieta inadequada e/ou ao elevado
tencial aterogênico. O HDL-c também reduz o proces- comportamento sedentário. As dislipidemias primárias
so aterogênico pela inibição da fixação de moléculas de englobam as hiperlipidemias (de ordem genética, apre-
adesão e monócitos ao endotélio, reduzindo a chance de sentadas no Quadro 1) e hipolipidemias que causam
disfunção endotelial. Além disso, estimula a liberação de diminuição de LDL-C (abetalipoproteinemia e hipobe-
óxido nítrico, importante vasodilatador, que contribui talipoproteinemia) e diminuição de HDL-C (hipoalfa-
para a saúde cardiovascular (WOOLF-MAY et al., 2006). lipoproteinemia e deficiência familiar de apo A) (SAN-
A etiologia das dislipidemias pode ter classificação TOS et al., 2001).
primária e secundária. As primárias são consequências

Doenças Fenótipo Causa


IIa poligênica: múltiplos fatores genéticos e / ou ambien-
Hipercolesterolemia comum
tais
Hipercolesterolemia familiar: homozi- IIa, IIb ausência total ou parcial dos receptores de LDL-c; mu-
gótica e heterozigótica tações que diminuem a função do receptor de LDL-c
IV poligênica: múltiplos fatores genéticos e / ou ambien-
Hipertrigliceridemia comum
tais
Hipertrigliceridemia familiar IV, V desconhecida
Hipertrigliceridemia familiar combinada IIa, IIb, IV aumento da síntese de Apo B-100
III expressão genética modificada de Apo E; alteração
Disbetalipoproteinemia genética ou adquirida do metabolismo das VLDL e / ou
das LDL
Síndrome de quilomicronemia I, V deficiência de LLP ou Apo C-II
Hiperalfalipoproteinemia - deficiência de CETP
LLP: lipase lipoproteica; CETP: proteína de transferência de ésteres de colesterol; VLDL-c: lipoproteína de colesterol de densidade muito baixa; LDL-c:
lipoproteína de colesterol de baixa densidade.
Quadro 1 - Principais tipos de hiperlipidemia primária / Fonte: adaptada de Santos et al. (1999).

Nas bases fisiopatológicas das dislipidemias primárias, o nados às doenças cardiovasculares e resulta em quadro
acúmulo de quilomícrons e/ou de VLDL-c na corrente clínico de hipercolesterolemia. Como dislipidemia pri-
sanguínea resulta em hipertrigliceridemia e decorre da mária, o acúmulo de LDL-c pode ocorrer por doenças
diminuição da hidrólise dos TGs destas lipoproteínas monogênicas, por defeito no gene do receptor do LDL-c
pela lipase lipoprotéica (LLP) ou do aumento da síntese ou no gene da Apo B100. Muitas mutações no gene do
de VLDL-c. Isto pode ter origem nas variações genéticas receptor do LDL-c foram detectadas em pessoas com hi-
das enzimas ou apolipoproteínas relacionadas, causando percolesterolemia familiar (XAVIER et al., 2013).
aumento de síntese ou redução da hidrólise. O acúmulo As dislipidemias secundárias vem se tornando mais
de lipoproteínas ricas em colesterol, como a LDL-c, na comum pela maior experiência acumulada na investiga-
corrente sanguínea, é um dos principais fatores relacio- ção etiológica das alterações lipídicas no metabolismo.

130
EDUCAÇÃO FÍSICA

Além disso, o crescimento da população idosa vem se as- medicamentos; e 3) Dislipidemias secundárias a hábitos
sociando a maior frequência de dislipidemias secundá- de vida inadequados que incluem, principalmente, a die-
rias, devido à elevada incidência de comorbidades pre- ta, tabagismo e etilismo (SANTOS et al., 2001). O Qua-
sentes nas faixas etárias mais avançadas. Assim, há três dro 2 resume as dislipidemias secundárias decorrente de
grupos de dislipidemias secundárias: 1) Dislipidemias estilo de vida inadequado, de certas condições mórbidas
secundárias a doenças; 2) Dislipidemias secundárias a ou de medicamentos.

Doenças de base e Estilo de Vida CT HDL-c TG


Insuficiência Renal Crônica Síndrome Nefrótica + * +
Hepatopatia Crônica + a ++++ ++ ou - Normal ou leve +
Diabetes Melito tipo II * - +
Síndrome de Cushing + * ++
Hipotireoidismo ++ + ou - +
Obesidade + - ++
Bulimia + * +
Anorexia + * *
Tabagismo * - *
Etilismo * + +
Ingesta excessiva de gorduras trans + - +
Sedentarismo + - +
Medicamentos CT HDL-c TG
Diuréticos * - +
Beta bloqueadores * - +
Anticoncepcionais + * +
Corticosteróides + * +
Anabolizantes + - *
Inibidores de protease + * +++
Isotretinoína + + +
Ciclosporina + + ++
Estrógenos * /- /+
Progestágenos * /- /+
Tibolona * -- *
+: aumenta; -: diminui; /: mantém; * sem efeito; CT: colesterol total; TG: triglicerídeos; HDL: lipoproteína de colesterol de alta densidade.
Quadro 2 - Dislipidemia secundária: doenças, estilo de vida e medicamentos / Fonte: adaptada de Faludi et al. (2017).

131


As dislipidemias representam um dos principais fatores mento de placas de ateromas na camada médio intimal das
de risco para a doença aterosclerótica, afetando artérias artérias. A hipercolesterolemia, nesse caso, pode ter efeito
de grande e médio porte e, consequentemente, causando primário nos vasos e tônus vascular, bem como promover
isquemia no cérebro, coração ou pernas. Como conse- a disfunção do endotélio, também presente de forma inicial
quência, doença arterial coronariana, com eventos fatais na hipertensão arterial (MARTE; SANTOS, 2007).
e não fatais de infarto no miocárdio e acidente vascular Como definido por alguns pesquisadores, a síndro-
encefálico podem ocorrer. me metabólica é uma constelação de fatores de risco
para doenças cardiovasculares. Este agrupamento inclui
SÍNDROME METABÓLICA a obesidade central (Unidade II), hipertensão arterial e
diabetes melito (Unidade III), e dislipidemias - especifi-
Entre os mecanismos fisiopatológicos envolvidos na gênese camente elevado TG e baixo HDL-c, que ganham com-
da hipertensão e da dislipidemia, sabe-se do compartilha- plexidade nesta unidade. Como principal consequência,
mento de anormalidades metabólicas comuns a ambas as o aglomerado da síndrome metabólica aumenta o risco
condições. Estas alterações podem agir sinergicamente ou de doença arterial coronariana, como demonstrado na
até mesmo acelerar processo de aterogênese - desenvolvi- Figura 2 (HARDMAN; STENSEL, 2009).

Descrição da Imagem: A figura demonstra que a soma de fatores de risco, expresso por barras brancas (homens) ou azuis (mulheres), aumenta o
risco relativo de doenças de cardiovasculares.

8 Homem
Mulher
Risco relativo de doença arterial coronariana

0
0 1 2 3 ou mais
Soma de fatores de risco
Figura 2 - Risco relativo de doença arterial coronariana e soma dos fatores de risco que caracterizam a síndrome metabólica /
Fonte: adaptada de Hardman e Stensel (2009).

O desenvolvimento da doença aterosclerótica é intima- sencialmente, uma doença inflamatória crônica de origem
mente relacionado ao desenvolvimento dos fatores de ris- multifatorial, que acomete a camada médio-intimal das
co, presentes na síndrome metabólica. A aterosclerose é, es- artérias de médio e grande calibre (FALUDI et al., 2017).

132
EDUCAÇÃO FÍSICA

que têm sinais claros de febre, vermelhidão, inchaço, dor


e perda de função (WEISS, 2008). São várias as condi-
ções pró-inflamatórias de forma crônica e baixo grau de
intensidade que contribuem para a doença ateroscleró-
tica, como a obesidade. O balanço energético positivo e
armazenamento do excesso de energia no tecido adipo-
so conduz o organismo à exposição crônica às concen-
trações supra-fisiológica (valores anormais) de substra-
tos energético. Subsequentemente, ocorre a disfunção
do tecido adiposo a partir de alterações intrínsecas e
Resumidamente, a inflamação crônica desenvolve extrínsecas (HOTAMISLIGIL, 2006; ODEGAARD;
um amplo papel em todas as fases do processo aterogê- CHAWLA, 2013). Entre os fatores, pode-se citar:
nica. A lesão endotelial surge como evento precoce e rele- Desregulação intrínseca do tecido adiposo:
vante para a fisiopatologia, que estabelece a formação da • Desregulação lipídica (aumento do diacilglice-
placa aterosclerótica. Diversos fatores contribuem para a rol, ácido graxos livres saturados e ceramidas).
fisiopatologia da aterosclerose, entre eles a diminuição do • Modificação de proteínas (anormais).
óxido nítrico que desencadeia aumento de fatores pró- • Disfunção mitocondrial e aumento do estresse
-trombóticos, moléculas de adesão pró-inflamatórias, ci- oxidativo.
tocinas pró-inflamatórias e fatores quimiotáxicos. • Estresse do retículo endoplasmático.
O depósito de lipoproteínas na parede arterial, que Desregulação extrínseca do tecido adiposo:
significa um processo fundamental no início da atero- • Deposição de lipídio ectópico (concentração
gênese, ocorre de maneira proporcional à concentração anormal de gordura em regiões do corpo).
dessas lipoproteínas na circulação sanguínea. Do ponto • Modificação de proteínas (glicosilação da
de vista topográfico, a aterogênese pode ocorrer nas co- HbA1c).
ronárias e/ou artérias periféricas, nas quais se desenvolve • Desregulação de adipocinas (mensageiras do te-
cido adiposo).
espessamento da camada médio-íntima, podendo ocasio-
nar obstrução parcial ou total. Assumindo os fatore pró- Nesse aspecto, pode-se perceber relação que a inflama-
-trombóticos citados acima, coágulos podem se formar e ção tem com o metabolismo de lipídios e carboidratos,
obstruir o fluxo sanguíneo, provocando a angina, infarto revelando a presença silenciosa da inflamação crônica
do miocárdio, insuficiência cardíaca e / ou morte súbita nos estados de diabetes melito e dislipidemia, o que con-
(ROSS,1999; SPANOLI et al., 2007; FALUDI et al., 2017). tribui para o desenvolvimento da doença ateroscleróti-
É importante destacar que a inflamação crônica ca. Odegaard e Chawla (2013) sumarizam, na Figura 3,
nessa perspectiva cardiovascular é considerada uma que inflamação crônica e a resistência à insulina - de-
resposta prolongada, desregulada e mal-adaptativa, que finida por alguns pesquisadores como eixo central da
envolve uma inflamação ativa, destruição tecidual e ten- síndrome metabólica - são elementos fundamentais do
tativa de reparação tecidual, diferentemente da inflama- desenvolvimento de doenças cardiovasculares com sig-
ção aguda relacionada à injúria física, vírus e bactérias, nificado clínico relevante.

133


Descrição da Imagem: A figura demonstra, através de um fluxograma, as relações causais no processo de saúde-doença, do excesso de ingestão
de energia (comumente observado na obesidade), que passa pelo estresse celular e resistência à insulina (como marcador central da desregulação
metabólica) ao estabelecimento de doença com significado clínico relevante.

Excesso de ingestão de nutrientes

Adaptativo
Saúde Depósitos fisiológicos
(hipertrofia dos adipócitos)
Ingestão excessiva
continuada
Aumento translocação de LPS
Estresse Celular Ativação de receptores
de imunidade inata

Ácidos Graxos
Saturados Resistência à Insulina Inflamação tecidual
séricos
aumentados

Glicose sérica aumentada Recrutamento de leucócitos


Prejudicial

Doença Doença metabólica estabelecida

Consequências clínicas
(doença cardiovascular, diabetes, câncer, etc.)
Figura 3 - Inflamação crônica e resistência à insulina como elementos centrais no desenvolvimento de doenças metabólicas que têm desfechos cardio-
vasculares / Fonte: adaptada de Odegaard e Chawla (2013).

Em condições de desequilíbrio agudo da ingestão de processo inicial de lesões no endotélio, denominadas


energia, os tecidos metabólicos armazenam excesso de estrias gordurosas, que se forma ainda na infância e ca-
nutrientes para uso futuro. Contudo, no desequilíbrio racterizam-se por acúmulo de colesterol em macrófagos
crônico, a capacidade fisiológica de armazenamento é (BERENSON et al., 1998).
excedida, o que ativa sinalização do estresse celular para Entre os marcadores de inflamação crônica utili-
tentar conter o influxo adicional de nutrientes, inibin- zados nesse contexto, a proteína C-reativa (PCR) tem
do a sinalização da insulina e promovendo a inflama- se mostrado marcador útil com capacidade preditora
ção (Figura 3). Na doença metabólica induzida pela de desfechos cardiovasculares, aumentada com o agre-
obesidade, pelo desequilíbrio contínuo de nutrientes, há gamento de fatores da síndrome metabólica. Nesse
impulsionamento desse processo, levando à inflamação sentido, foram demonstradas as inter-relações entre
crônica e resistência à insulina e, finalmente, ao diabe- PCR, síndrome metabólica e eventos cardiovasculares
tes, doenças cardiovasculares (HOTAMISLIGIL, 2006; (miocárdio infarto, acidente vascular cerebral, revas-
ODEGAARD; CHAWLA, 2013). Portanto, a doença cularização coronariana ou morte cardiovascular) in-
aterosclerótica se configura como um dos principais cidentes em 14.719 mulheres aparentemente saudáveis​​
desfechos destas pró-inflamatórias e metabólicas, num que foram acompanhadas por um período de 8 anos

134
EDUCAÇÃO FÍSICA

(RIDKER et al., 2003). Pesquisadores encontraram que eram mais elevados conforme o maior agrupamento
24% do grupo investigado apresentava síndrome me- de componentes da síndrome metabólica, como apre-
tabólica no início do estudo, no qual os níveis de PCR sentado na Figura 4.

Descrição da Imagem: A figura demonstra que a soma dos componentes da síndrome metabólica, expresso por caixas brancas, estão associadas
ao aumento da concentração de proteína C-reativa, considerado um marcador de inflamação relevante para as doenças cardiovasculares,.

(N=170)

(N=1135)
C-reative protein (mg/L)

6 (N=2292)

4 (N=3152)

5.75 mg/L
(N=3884)
2
(N=4086) 3.88 mg/L
3.01 mg/L
1.93 mg/L
0 0.68 mg/L 1.09 mg/L

0 1 2 3 4 5
Numbers os Components of the Metabolic Syndrome
Figura 4 - Distribuição dos níveis de PCR entre 14.719 mulheres de acordo com a presença de componentes da síndrome metabólica /
Fonte: adaprada de Ridker et al. (2003)

Após oito anos de acompanhamento, os pesquisado-


res encontraram: 1) a PCR adicionou informações
prognósticas sobre o risco de eventos cardiovascu-
lares; 2) taxas de sobrevivência livre de eventos car-
diovasculares com base nos níveis de PCR acima ou
abaixo de 3,0 mg / L foram semelhantes; 3) a presença
de cada componente da síndrome metabólica aumen-
ta os níveis de PCR (RIDKER et al., 2003), como ob-
servado no Quadro 3.

135


Componente isolados da Síndrome Metabólica Presença Ausência


Obesidade 3,13 (1,57–5,63) 0,95 (0,43–2,04)
Hipertrigliceridemia 2,56 (1,24–4,84) 1,11 (0,48–2,57)
Baixo HDL-c 2,02 (0,88–4,26 1,00 (0,44–2,31)
Elevada pressão arterial 2,38 (1,06–4,78) 1,14 (0,48–2,56)
Elevada glicemia 4,30 (2,51–7,48) 1,39 (0,57–3,16)
3 ou + componentes 3,38 (1,76–6,01) 1,08 (0,47–2,37)
Valores medianos em mg/L.
Quadro 3 - Valores medianos de proteína C-reativa (interquartis 25 e 75) de 14.719 mulheres de acordo com a presença e ausência de cada componente
da síndrome metabólica / Fonte: adaptada de Ridker et al. (2003).

Como observado, a PCR é marcador útil de inflamação síndrome metabólica, mas continua sendo um marcador
que apresenta valores alterados na presença de componen- importante de risco de eventos cardiovasculares e de atero-
tes isolados e agrupados da síndrome metabólica. Contu- gênese. Adiante, veremos os critérios utilizados para o diag-
do, a medida da PCR não é considerada no diagnóstico da nóstico de dislipidemias e síndrome metabólica.

A Khan Academy traz um vídeo curto que irá ampliar o seu conhecimento
sobre aterosclerose, consolidando aspectos fisiopatológicos e consequên-
cias à saúde das dislipidemias e síndrome metabólica.
https://www.youtube.com/watch?v=WVGMCCNSuW8 .
Para acessar, use o seu leitor de QR Code.

136
EDUCAÇÃO FÍSICA

Diagnóstico das dislipidemias


e síndrome metabólica
Neste tópico, você irá aprender como identificar alterações te sanguínea ligados a proteínas específicas que formam
metabólicas relevantes no contexto clínico das dislipide- os complexos de lipoproteínas, a avaliação a partir de
mias e síndrome metabólica, assim como perceber que há amostras do plasma e soro é o único caminho para aná-
diferentes ferramentas utilizadas para o diagnóstico. lise. Nesse aspecto, para a avaliação de dislipidemia, con-
sidera-se que o conteúdo das lipoproteínas e lípides de-
DISLIPIDEMIAS monstrem características de flutuação em gradientes de
densidade específica e de mobilidade eletroforética pró-
O diagnóstico das dislipidemias se baseia na avaliação pria que as diferenciam entre si (FALUDI et al., 2017).
laboratorial dos parâmetros lipídicos e das apolipopro- A precisão da dosagem dos lipídios e lipoproteínas é
teínas. Considerando que os lípides circulam na corren- influenciada principalmente em dois momentos no pro-

137


cesso laboratorial: 1) fase pré-analítica, que está relacio- colorimétrico. Para reduzir os custos, a maior parte dos
nada aos procedimentos de coleta de sangue, ao preparo laboratórios realiza a estimativa assumindo a equação de
das amostras ou fatores do indivíduo, como estilo de vida, Friedewald, descrita em 1972, sendo: LDL-c = CT – HDL-
uso de medicamentos e doenças de base; e 2) fase analíti- -c –TG/5. Ainda, o valor de TG/5 é uma estimativa da
ca, que está relacionada aos protocolos, técnicas, equipa- VLDL-c e todas as concentrações são expressas em mg/
mentos e procedimentos utilizados nos laboratórios. Em dL. Deve-se assumir que os valores estimados de LDL-c
termos gerais, ambas há ampla padronização das duas são confiáveis quando os valores de TG estão entre 100 e
etapas, com certa variabilidade nos fatores intrínsecos ao 400 mg/dL (FALUDI et al., 2017). Recentemente, a comu-
indivíduo que podem atingir de 10% para o CT, LDL-c e nidade científica tem estimado também o conteúdo não
HDL-c e 25% para o TG (FALUDI et al., 2017). HDL-c, ou seja, um parâmetro de avaliação das dislipide-
Vale destacar também que para a dosagem de lípi- mias que é produto da subtração do HDL-c dos valores de
des e lipoproteínas não é necessário jejum, pois o esta- CT, sendo: (não HDL-c = CT - HDL-c).
do pós-prandial pouco interfere na concentração destes Devido à portabilidade e possível aplicação no con-
analitos. Assim, recomenda-se manter o estado meta- texto do monitoramento de lípides e lipoproteínas, a
bólico estável e a dieta habitual (FALUDI et al., 2017). microtécnica ou técnica de punção capilar da polpa do
Certamente, os procedimentos de coleta de amostras de dedo deve ser considerada. Esta técnica comumente é
sangue é resguardado como atividade profissional de utilizada de forma remota no acompanhamento das
médicos, enfermeiros e farmacêuticos. dislipidemias no início precoce do tratamento farmaco-
Na fase analítica, propriamente dita, há vários mé- lógico, além de prevenir as consequências das doenças
todos passíveis de dosagem dos lípides e lipoproteínas, cardiovasculares e suas intervenções clínicas, especial-
como a ultracentrifugação, a espectroscopia por resso- mente na hipercolesterolemia familiar (FALUDI et al.,
nância magnética espectroscopia de massas e eletrofore- 2017). Nessa técnica, pode-se dosar diretamente CT, os
se que comumente são utilizados em estudos científicos TG e HDL-c tiras de reagentes, utilizando o sangue to-
(FALUDI et al., 2017). tal de punção capilar, e o resultado é obtido em poucos
Entretanto, o método colorimétrico enzimático tal- minutos. Faludi et al. (2017) indica que são imprescindí-
vez seja o mais amplamente utilizado na rotina laborato- veis a assepsia do dedo com álcool isopropílico 70% e a
rial para a determinação do CT, HDL-c e TG. Atualmente, calibração da pipeta que fará a transferência do material
os valores de lipídeos e lipoproteínas de diferentes labo- biológico para a tira de teste.
ratórios podem ser comparáveis devido à boa correlação A partir da disposição dos valores de lípides e lipopro-
entre os resultados e baixa variação entre eles (FALUDI et teínas, a interpretação pode ser realizada através de distin-
al., 2017). Assim, método colorimétrico enzimático repre- tas referências e pontos de corte. A atualização da Diretriz
senta a melhor opção devido à boa sensibilidade e especi- Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose,
ficidade, simplicidade operacional, baixo custo e possibi- de 2017 (FALUDI et al., 2017), recomenda que os valores
lidade de automação em laboratórios clínicos. de referência e de alvo terapêutico do perfil lipídico em
No caso do LDL-c, existe a opção de realizar um adultos (em jejum e com jejum de 12 horas) estejam indi-
cálculo de estimativa ou a dosagem direta por ensaio cados no exame, como apresentado no Quadro 4.

138
EDUCAÇÃO FÍSICA

Com Jejum Sem Jejum Dislipidemia Critério


Lípides Categoria
(mg/dL) (mg/dL)
aumento isolado dos triglicérides
Colesterol < 190 < 190 Hipertrigliceride- (TG ≥ 150 mg/dL ou ≥ 175 mg/
Desejável
Total* mia isolada dL, se a amostra for obtida sem
HDL-c > 40 > 40 Desejável jejum)

Triglicéri- < 150 < 175** aumento do LDL-c (LDL-c ≥ 160


Desejável mg/dL) e dos TG (TG ≥ 150 mg/
des
dL ou ≥ 175 mg/ dL, se a amostra
< 130 < 130 Risco Baixo for obtida sem jejum). Se TG ≥
Hiperlipidemia
< 100 < 100 Risco Inter- 400 mg/dL, o cálculo do LDL-c
mista
mediário pela fórmula de Friedewald é ina-
LDL-c dequado, devendo-se considerar
< 70 < 70 Risco Alto a hiperlipidemia mista quando o
< 50 < 50 Risco Muito não HDL-c ≥ 190 mg/dL
Alto redução do HDL-c (homens <
< 160 < 160 40 mg/dL e mulheres < 50 mg/
Risco Baixo HDL-c baixo
dL) isolada ou em associação ao
< 130 < 130 Risco Inter- aumento de LDL-c ou de TG
mediário Quadro 5 - Classificação laboratorial das dislipidemias /
Não HDL-c Fonte: adaptado de Faludi et al. (2017).
< 100 < 100 Risco Alto
< 80 < 80 Risco Muito
Alto
A avaliação das dislipidemias é importante na análise
*colesterol total > 310 mg/dL há probabilidade de hipercolesterolemia fa- global do risco cardiovascular, contudo é limitada aos
miliar; ** Quando os níveis de triglicérides estiverem > 440 mg/dL (sem je- componentes dos lípides e lipoproteínas. A seguir, será
jum) nova avaliação de triglicérides com jejum de 12 horas será necessária.
Quadro 4 - Valores de referência e alvo terapêutico do perfil lipídico de apresentado o processo utilizado para o diagnóstico da
adultos / Fonte: adaptado de Faludi et al. (2017). síndrome metabólica, que incorpora análise dos lípides,
mas também de outros componentes que aumentam a
Como visto no tópico anterior, a classificação etiológica predição do risco cardiovascular.
das dislipidemias consideram as causas primárias ou se-
cundárias. Sendo as causas primárias aquelas nas quais SÍNDROME METABÓLICA
o distúrbio lipídico é de origem genética, e as causas
secundárias as dislipidemias oriundas do estilo de vida A avaliação dos componentes da síndrome metabólica
inadequado, comorbidades e/ou de uso contínuo de me- deve seguir um rigor e padronização no que se refere
dicamentos (FALUDI et al., 2017). Contudo, a classifica- à medida do perímetro da cintura, da glicemia em je-
ção laboratorial das dislipidemias considera os valores jum e ausculta da pressão arterial, assim como seguir
das determinações dos lípidos e lipoproteínas de acordo a descrição realizada previamente sobre a dosagem de
com a fração alterada, como indicado no Quadro 5. lipídios e lipoproteínas.
Segundo a I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tra-
Dislipidemia Critério
tamento da Síndrome Metabólica, o diagnóstico de sín-
Hipercolestero- aumento isolado do LDL-c (LDL-c
lemia isolada ≥ 160 mg/dL). drome metabólica requer a combinação de, pelo menos,

139


três dos critérios expostos no Quadro 6, de acordo com Embora alguns critérios de síndrome metabólica
o National Cholesterol Education Program’s Adult Tre- estabelecem a necessidade de incluir a obesidade
atment Panel III (NCEP - ATP III), adotado nos Estados central e resistência à insulina como componen-
Unidos da América. tes fundamentais de caracterização, a definição do
Critério Definição
NCEP-ATP III foi desenvolvida para uso clínico
e não exige estes elementos, facilitando a sua uti-
Obesidade Abdominal
lização. Ainda, apesar de não fazerem parte dos
Homens > 102 cm critérios diagnósticos da síndrome metabólica, al-
Mulheres > 88 cm gumas condições clínicas e fisiopatológicas estão
Dislipidemias associadas a ela, tais como a síndrome de ovários
Triglicérides ≥ 150 mg/dL policísticos, acanthosis nigricans, doença hepática
HDL-c
gordurosa não alcoólica, microalbuminúria, esta-
dos pró-trombóticos, hiperuricemia, estados pró-
Homens < 40 mg/dL
-inflamatórios e de disfunção endotelial (CAR-
Mulheres < 50 mg/dL
VALHO et al., 2005); sendo que estes dois últimos
Hipertensão Arterial
contribuem fortemente para o desenvolvimento
Sistólica, ou ≥ 130 mmHg da doença aterosclerótica.
Diastólica ≥ 85 mmHg
Diabetes Melito
Glicemia de jejum ≥ 110 mg/dL
Quadro 6 - Critérios diagnósticos para síndrome metabólica /
Fonte: NCEP - ATP III (CARVALHO et al., 2005).

140
EDUCAÇÃO FÍSICA

Tratamentos das dislipidemias


e da síndrome metabólica
Neste tópico você irá aprender sobre as formas de tra- triglicerídeos séricos, além da redução de outros fatores
tamento das Dislipidemias e Síndrome Metabólica. de risco cardiovascular. O tratamento não medicamen-
Você verá que o tratamento farmacológico e aborda- toso engloba a terapia nutricional, a prática regular de
gens mais amplas são as principais estratégias estabe- atividades físicas e a cessação do tabagismo (FALUDI et
lecidas atualmente. al., 2017; XAVIER et al., 2013).
Com relação à terapia nutricional, as Diretrizes Bra-
DISLIPIDEMIAS sileiras (FALUDI et al., 2017; XAVIER et al., 2013) apon-
tam a necessidade da redução da ingestão de gordura,
O objetivo principal da abordagem no tratamento da como ácidos graxos saturados encontrados na gordura
dislipidemia é a redução dos níveis de lipoproteínas e/ou animal (carnes gordurosas, pele de aves, embutidos, lei-

141


te integral) e de gorduras saturadas (óleo, produtos in- plo), os fibratos (prevenção de eventos cardiovasculares
dustrializados, manteiga, queijo), substituindo parcial- maiores em pacientes com hipertrigliceridemia e HDL-
mente pelas insaturadas (castanhas, amêndoas, azeite -c baixo), o ácido nicotínico (prevenção de eventos car-
de oliva, abacate, chia); além de Incluir carnes magras, diovasculares maiores) e a ezetimiba (redução da absor-
frutas, grãos, fibras e hortaliças na dieta. Ressalta-se que ção do colesterol no intestino delgado) (FALUDI et al.,
o modo de preparo de alguns alimentos é primordial no 2017; XAVIER et al., 2013).
teor de gordura dos alimentos. Portanto, a importância
da terapia nutricional não está apenas na seleção e subs- SÍNDROME METABÓLICA
tituição dos alimentos, como também no modo de pre-
paro e na quantidade, que devem estar em sintonia com Os principais fatores para o desenvolvimento da síndro-
diversos aspectos da mudança do estilo de vida. me metabólica são: predisposição genética, alimentação
De forma geral, quanto à prática de atividades fí- inadequada e sedentarismo. Além disso, é importante
sicas, recomenda-se 30 minutos de atividade contínua salientar a alta prevalência de obesidade no Brasil e no
leve à moderada na maioria dos dias de semana, além da mundo como um todo. Portanto, o tratamento da Sín-
adesão de hábitos mais ativos, como subir escadas e usar drome Metabólica tem como alvo principal a obesidade.
menos o carro, por exemplo. Contudo, em relação aos A perda de peso reduz o risco de doença aterosclerótica,
exercícios físicos, mais detalhes serão observados nos uma vez que contribui para o controle da pressão arte-
próximos tópicos. rial e da glicemia, melhora a sensibilidade à insulina e o
Nestas pacientes, a cessação do tabagismo é primor- perfil lipídico. Para tanto, modificações no estilo de vida
dial, pois este hábito está associado à redução dos níveis são necessários, com ênfase na atividade física e alimen-
de HDL-c. Destaca-se que o tratamento do tabagismo é tação saudável, além do tratamento dos fatores de risco
assegurado pela rede do Sistema Único de Saúde (SUS), associados à doença cardiovascular – o que pode incluir
na Atenção Básica de Saúde do Brasil. farmacoterapia (ACMS, 2016; CORNIER et al., 2008).
O tratamento farmacológico é necessário quando o Para orientar a intervenção primária e secundária
risco cardiovascular do paciente é alto risco. Os princi- no tratamento da síndrome metabólica, a Internatio-
pais fármacos utilizados são as estatinas (prevenção de nal Diabetes Federation (IDF) e a Sociedade Brasileira
eventos cardiovasculares maiores, como infarto agudo de Cardiologia estabeleceram as seguintes diretrizes
do miocárdio e acidente vascular encefálico, por exem- (ACMS, 2016; CARVALHO et al., 2005):

142
EDUCAÇÃO FÍSICA

INTERVENÇÃO PRIMÁRIA
• Alimentação
Restrição moderada de ingestão energética, para redução de
peso de 5 a 10% em um ano.
Adesão de um plano alimentar individualizado, visando
alterações na composição dos macronutrientes para modificar
os fatores de risco de doenças cardiovasculares específicas.
Aumento da ingestão de frutas, hortaliças e leguminosas.
Redução da ingestão de açúcar e sódio.
• Exercício físico
Aumento moderado de atividade física, conforme as
recomendações de saúde pública: 30 minutos de atividade
física de moderada à vigorosa na maioria dos dias da semana.
• Controle do estresse
• Cessação do fumo
• Controle da ingestão de álcool

INTERVENÇÃO SECUNDÁRIA
Quando as mudanças no estilo de vida não são suficientes para
a melhora do quadro da síndrome metabólica, o tratamento
medicamentoso é considerado para reduzir o risco de doença
aterosclerótica. Como não existe nenhuma medicação
específica para a síndrome metabólica, as recomendações são
seguir a farmacologia necessária para o tratamento dos fatores
de risco da doença cardiovascular, considerando a hipertensão
arterial, diabetes melito, obesidade e dislipidemia, observado
nesta unidade e nas anteriores.

Figura 5 - Infográfico Diretrizes para tratamento da síndrome metabólica / Fonte: o autor.

143


Prescrição do exercício físico para pessoas


com dislipidemias e/ou síndrome metabólica
Vamos conhecer um pouco mais sobre o processo de DISLIPIDEMIAS
prescrição de exercício físico para pessoas com Dis-
lipidemias e Síndrome metabólica; contudo, inicial- Embora não haja plano consenso sobre os efeitos do
mente, é importante compreender o potencial e os exercício físico sobre todos os lipídios e lipoproteínas, os
possíveis mecanismos que o exercício físico utiliza programas de exercícios têm impacto significativo nas
para melhorar o perfil lipídico e lipoproteico. Você dislipidemias do ponto de vista clínico. Entre os possí-
vai perceber alguns cuidados essenciais que devemos veis mecanismos para mitigar a dislipidemia pelo exer-
com estas populações. cício físico estão:

144
EDUCAÇÃO FÍSICA

• Alterações em sub partículas de LDL. Exercícios Aeróbicos que tenham o objetivo de ma-
• Utilização de estoques de TG intramuscular. nutenção do peso corporal
• Desequilíbrio e aumento da limpeza da taxa de O principal tipo deve ser aeróbico,
TG e VLDL. que envolva grandes grupos muscu-
• Alterações positivas na LCAT. lares.
Tipo
Incluir exercícios de flexibilidade e
• Aumento da Oxidação dos NEFAs. resistidos para ter um programa
• Redução da adiposidade corporal total e visceral. equilibrado.
• Aumento da expressão gênica de receptores de Aumento progressivo na duração do
LDL-c e lipases. exercício (contínuo ou acumulado),
Progresso
seguido da intensidade.
Programas efetivos de 9 a 12 meses.
O exercício físico sempre foi recomendado pelas Dire-
Quadro 7 - Recomendações de exercícios físicos aeróbicos para pessoas
trizes Brasileiras sobre Dislipidemias, com frequência com dislipidemias / Fonte: ACSM (2016).
semanal de três a seis vezes e duração das sessões em
média de 40 minutos de atividade física aeróbia. Assim, De forma geral, os exercícios de flexibilidade e força são
as recomendações estabelecem que zona alvo do exer- sugeridos para fazerem parte do programa de exercícios
cício aeróbio deve ficar na faixa de 60% a 80% da fre- para pessoas com dislipidemias. Os exercícios de força
qüência cardíaca máxima, obtida em teste ergométrico, e flexibilidade não tem orientações específicas e se-
mesmo na vigência dos medicamentos de uso corrente guem as mesmas orientações preconizadas aos adultos
(SANTOS et al., 2001). A seguir estão descritas as re- saudáveis, assumindo os princípios FITT-VP. No que se
comendações do American College of Sports Medici- refere ao exercício resistido, a frequência semanal reco-
ne (ACSM) para a prescrição do exercício físico para mendada é duas a três vezes na semana, com exercícios
pessoas com dislipidemias, considerando os princípios realizados numa intensidade de 40 a 70% de uma repe-
de frequência, intensidade, tipo, tempo, volume e pro- tição máxima (1-RM), enquanto que não há evidência
gressão (FITT-VP). conclusiva sobre o tempo suficiente de cada sessão de
exercício. O tipo de exercício recomendado é para cada
Exercícios Aeróbicos que tenham o objetivo de ma-
nutenção do peso corporal grupo muscular principal, em movimentos multiarticu-
≥ 5 dias na semana de forma a ma- lares, utilizando equipamentos ou próprio peso corpo-
ximizar o gasto calórico (dos valores ral. O número de repetições é de 8 a 12 num sistema de
Frequência
mínimos [1.000 a 1.200 kcal] ao nível 2 a 4 séries, assumindo intervalos de 2 a 3 minutos e 48
ótimo [2.000 a 3.500 kcal]).
horas entre as sessões. O progresso do programa deve
Exercícios físicos de intensidade mo-
Intensidade ser gradual de maior volume, assumindo mais repeti-
derada (ex: 40 a 75% da FCreserva).
ções por série (ACSM, 2016).
30 a 60 minutos por dia de atividade.
Para a redução de peso corporal Num estudo de revisão sistemática e meta-análise
simultaneamente, 50 a 60 (ou mais) de ensaios clínicos randomizados - o melhor tipo de
Tempo minutos por dia.
pesquisa para determinar a causa e o efeito - o efeito
Exercícios intermitentes, em blocos
de no mínimo 10 minutos, podem exercício físico resistido sobre os lipídios e lipoproteínas
ser uma alternativa. foi investigado. Após avaliarem 29 estudos de interven-

145


ção, os autores observaram que o exercício resistido pro- REFLITA


move redução média do CT (-5,5 mg/dL), não HDL-c
(-8,7 mg/dL), LDL-c (-6,1 mg/dL), TG (-8,1 mg/dL) e da Será que devemos nos preocupar com o tipo
razão aterogênica CT/HDL-c (-0,5 mg/dL), mas aumen- de exercício realizado por alguém com disli-
tou o HDL-c (0,7 mg/dL) de forma significativa (KEL- pidemia? Certamente, no campo da pesquisa
científica, é necessário; contudo, na prática,
LEY, G.; KELLEY, K., 2009). Estes resultados são impor- eles precisam se exercitar de forma segura
tantes, pois demonstram que o exercício resistido que, e prazerosa que, inevitavelmente, a melhora
predominantemente, é utilizado no desenvolvimento do perfil lipídico ocorrerá!

de força e hipertrofia muscular, também tem aplicações


clínicas na redução e controle do perfil lipídico. Embora Entre os cuidados nos programas de exercícios físicos
nenhum estudo analisado tenha sido realizado exclusi- com pessoas dislipidêmicas, deve-se considerar os se-
vamente com adultos com dislipidemias, a maioria dos guintes aspectos:
estudos inclui pessoas com alguma hiperlipidemia, dia- 1. Pode ser necessário modificar o programa de
betes, histórico de doença cardiovascular e excesso de exercícios e as variáveis de manipulação do
peso, o que permite a extrapolação dos achados, inclusi- exercício (FITT-VP) em função da presença de
outras complicações: hipertensão, diabetes, obe-
ve para a síndrome metabólica.
sidade, como é o caso da síndrome metabólica.
Mais recentemente, Mann et al. (2014) descreve-
2. Medicamentos hipolipemiantes (estatinas, ini-
ram uma dose-resposta linear entre níveis de atividade
bidores de HMG-CoA redutase, ácido fíbrico)
física e HDL-c. Diante dos estudos revisados pelos au- podem ter efeitos colaterais de dano muscular e,
tores, o exercício físico vigoroso foi eficaz em melhorar consequentemente, mialgia.
o perfil lipídico e isto superou o efeito inicial de redu- 3. Atenção à saúde em equipes multidisciplinares
ção no LDL-c e triglicerídeos comumente observados são mais seguras e efetivas.
na corrente sanguínea, o que sinaliza a importância
da intensidade sobre as dislipidemias. Contudo, a de- SÍNDROME METABÓLICA
claração de maior impacto foi descrever que a relação
de dose-resposta entre perfil lipídico e gasto energé- Em revisão realizada por Ciolac e Guimarães (2004),
tico transcende o modo de exercício físico. Assim, as exercício físico aeróbico e resistido tem potencial de
mudanças, tanto na intensidade quanto no volume do modificar, simultaneamente, todos os componentes da
exercício físico aeróbico, influenciam positivamente a síndrome metabólica, como descrito no Quadro 8.
lipase lipoprotéica, os níveis de HDL-c e perfil lipídico
Componente da Exercício Exercício
num todo. Por fim, destacaram que o maior volume no Síndrome Metabólica Aeróbio Resistido
exercício resistido (aumento das séries e/ou repetições Metabolismo da glicose
tem grande impacto no perfil lipídico comparado ao Tolerância à glicose -- --
aumento da intensidade). Sensibilidade à insulina ++ ++

146
EDUCAÇÃO FÍSICA

Componente da Exercício Exercício


sença desses fatores de risco cardiovasculares
Síndrome Metabólica Aeróbio Resistido associados e nos objetivos do participante e / ou
do profissional de Educação Física.
Lipídios séricos
2. Para reduzir os fatores de risco associados à
HDL-c +* +*
doença cardiovascular e diabetes melito deve
LDL-c -* -* ser realizado um programa inicial de exer-
Pressão Arterial de cícios de intensidade moderada (40 a <60%
Repouso da reserva de consumo máximo de oxigênio
SIstólica -* * [VO2R] ou da reserva da frequência cardíaca
Diastólica -* -* [FCR]) e, quando for adequado, progredir até
uma intensidade mais vigorosa (>60 VO2R ou
Composição Corporal
FCR) totalizando um mínimo de 150 minutos
Percentual de Gordura -- -
por semana ou 30 minutos na maioria dos dias
Massa Corporal Magra * ++ da semana (WHO, 2010) para alcançar as me-
+ = aumento nos valores; - = redução nos valores; * = valores não alte- lhor condicionamento físico.
ram; + ou - = pequeno efeito; ++ ou -- = médio efeito.
Quadro 8 - Alterações nos componentes da síndrome metabólica espe- 3. Para reduzir o peso corporal, a maioria dos indi-
rados com o exercício aeróbio e resistido / Fonte: adaptado de Ciolac e víduos com síndrome metabólica pode se bene-
Guimarães (2004). ficiar do aumento gradual dos seus níveis de ati-
vidade física até, aproximadamente, 30 minutos
Em relação à resistência à insulina, à intolerância à gli-
por semana ou 50 a 60 minutos em cinco dias da
cose e à obesidade, parecem haver somatório dos efeitos semana, quando for adequado. Essa quantidade
das duas atividades, o que pode ser importante para a de atividade física pode ser acumulada em múl-
pessoa com síndrome metabólica. Embora haja con- tiplas sessões diárias com duração de pelo menos
tínua construção de conhecimento nesta área, a dose 10 minutos ou por meio de aumentos em outros
mínima de exercício necessária para alcançar muitos tipos de atividade física de intensidade mode-
rada incorporada ao estilo de vida. Para alguns
dos benefícios à saúde é dependente da complexidade e
indivíduos promoverem / manterem a perda de
gravidade da síndrome metabólica. Assim, a dose ótima
peso pode ser necessário progresso até 60-90 mi-
e tipo de exercício físico para o tratamento da maioria nutos diários.
das alterações dos componentes e do impacto sobre o
agrupamento dos fatores de risco ainda é desconhecida. O valor preciso do exercício físico como tratamento
O ACSM (2016) considera que para pessoas com não medicamentoso na síndrome metabólica tem sido
síndrome metabólica, os princípios FITT-VP devam ser influenciado pela complexidade da doença, heteroge-
combinados e readequados à condição de cada caso, de- neidade das pessoas e suas condições de saúde-doença,
vido ao impacto que cada doença crônica pode causar e além de características dos estudos de intervenção com
os problemas de saúde consequentes, considerando: exercícios, como intensidade, volume, frequência, tipo,
1. Indivíduos com síndrome metabólica possivel- concomitante à intervenção nutricional. Uma recente
mente apresentarão múltiplos fatores de risco revisão sistemática avaliou oito intervenções com 1218
para doenças cardiovasculares e diabetes melito. participantes (JOSEPH et al., 2019). Entre os principais
Deve ser dada atenção especial às recomenda-
resultados, os pesquisadores destacam que quanto mais
ções de princípios FITT-VP com base na pre-

147


longo o programa, em termos de semanas, maior será


a perda de peso, chegando a redução média de 6,5 kg
em 12 meses. Além disso, os componentes da síndrome
metabólica que parecem ter recebido maior efeito dos
programas de exercício físico foram o perímetro da cin-
tura (6 em 6 estudos), pressão arterial (4 em 6 estudos)
e HDL-c (3 em 6 estudos). Os pesquisadores levantam
ainda a possibilidade de que programas que combi-
nam exercício físico e nutrição têm maior efeito sobre
os componentes da síndrome metabólica, embora seja
necessário mais estudos sobre o tema.
Entre os cuidados para a prática de atividade física
em pessoas com síndrome metabólica, Ciolac e Gui-
marães (2004) lembram que há recomendação de teste
ergométrico para avaliação cardiovascular global reali-
zado por cardiologista. Devemos lembrar que no pro-
cesso de triagem e estratificação de risco, é considerado
em alto risco os indivíduos com doença cardiovascular,
pulmonar ou metabólica conhecida - como é o caso da
síndrome metabólica. Assim, todos os cuidados conside-
rados até o momento para pessoas com excesso de peso,
hipertensas, diabéticas e dislipidêmicas devem ser con-
siderados. Ainda, como observamos que o agrupamento
destes fatores, especialmente quando estão simultanea-
mente presentes, o risco de doença arterial coronariana
aumenta; portanto, toda cautela no ajuste de intensidade
e volume é prudente.
Ciolac e Guimarães (2004) lembram as recomen-
dações gerais de atenção à vestimenta adequada à prá-
tica de exercícios físicos, considerando o uso de rou-
pas leves e confortáveis (camiseta, shorts ou calças de
tactel ou cotton). Além de calçados confortáveis para
caminhadas e/ou corridas e que tenham solado macio
e boa absorção de impacto, particularmente para pes-
soas com diabetes melito. Nessa mesma população, re-
dobrar atenção para o controle da hidratação antes de
iniciar e durante a sessão de exercício.

148
considerações finais

Inicialmente, verificamos que as dislipidemias podem ter origem genética, assim como a origem
pode ser secundária e adquirida, principalmente, pelo estilo de vida e outras doenças de base,
como o diabetes melito e obesidade. A Síndrome Metabólica é considerada uma “constelação” de
fatores de risco que inclui a obesidade central, alterações na glicemia, pressão arterial e nos lípides.
Pudemos ver que as alterações no metabolismo criam alterações cardiovasculares significativas,
do ponto de vista clínico. Discute-se atualmente a causa e efeito de cada componente da síndro-
me metabólica, assim como o papel de cada um sobre a inflamação crônica, considerado pilar
da doença aterosclerótica. O diagnóstico das Dislipidemias baseia-se na análise de colesterol
total e frações (LDL-c e HDL-c), triglicérides. A Síndrome Metabólica necessita de atender as
padronizações de um protocolo - como o NCEP ATP III - para a avaliação de cada componente.
Entre os tratamentos das Dislipidemias e da Síndrome Metabólica foi considerado muito do que
já foi visto anteriormente, suportado em 1) mudança no estilo de vida em termos de alimentação
saudável e prática de atividade física como parte da vida em diferentes contextos; 2) tratamentos
de controle do estresse, cessação do tabagismo e controle da ingestão de álcool; e 3) perda de
peso de, aproximadamente 5 a 10%. A farmacoterapia se aplica, principalmente, nas dislipidemias
primárias e intervenções secundárias da síndrome metabólica.
Por fim, aprofundamos, o exercício físico aeróbio e resistido, que são importantes moduladores
do perfil lipídico, assim como sobre os componentes da síndrome metabólica. Ainda, o exercício
é importante na redução da gordura abdominal, da pressão arterial e da normalização da glice-
mia em jejum. Contudo, esse é um campo de conhecimento em plena construção que poderá
assumir novas informações num futuro próximo.

149
LEITURA
COMPLEMENTAR

Aprimore-se na compreensão de como a espectroscopia por ressonância magnética


nuclear tem ajudado na predição e análise do risco de doenças cardiovasculares.
A Ressonância Magnética Nuclear por Espectroscopia (RMN) é uma das técnicas ana-
líticas utilizada na metabolômica, que permite identificar metabólitos por mudanças
químicas na frequência de ressonância quando submetidas a um campo magnético.
Assim, dentro de um forte campo magnético, os núcleos absorvem a radiação eletro-
magnética em uma frequência característica que pode ser usada para atribuir estrutura
molecular. As vantagens da RMN incluem a robustez, reprodutível, requer preparação
mínima da amostra, baixo custo e não destrutivo das amostras. Em uma amostra bio-
lógica, a tecnologia atual permite a quantificação precisa de aproximadamente 100 dos
metabólitos mais abundantes.
Portanto, a técnica RMN é uma ferramenta de alta tecnologia aliada na pesquisa do
metaboloma, que abrange uma imensa variedade de pequenas moléculas endógenas,
incluindo os lipídios, como estudado neste capítulo, mas também aminoácidos ácidos,
açúcares, ácidos nucleicos, aminas, orgânicos ácidos e ciclo da ureia e transferência de
metila metabólitos, bem como uma infinidade de produtos químicos exógenos, como
agentes farmacológicos, toxinas e xenobióticos. Considerando nosso organismo, a
ampla gama de concentrações e a diversidade bioquímica de metabólitos impedem
a medição de todos usando uma única técnica ou plataforma analítica. Porém, em vez
disso, as análises de RMN são combinadas utilizando várias plataformas de perfil meta-
bolômico. Isto é possível assumindo que as vias metabólicas são altamente conserva-
das entre as espécies, o que permite a avaliação mecanicista e funcional dos achados
metabolômicos humanos (USSHER et al., 2016).
A aplicação na investigação de fatores de risco para doenças cardiovasculares é ampla.

150
LEITURA
COMPLEMENTAR

O metaboloma representa um dos produtos finais da interação entre o ambiente com


o complexo genoma-transcriptoma-proteoma, isto permite uma compreensão muito
mais ampla das alterações moleculares, celulares e funcionais que ocorrem nas doen-
ças cardiovasculares, bem como realizar previsões de como essas alterações podem
influenciar o metabolismo intermediário. Vários dos metabólitos identificados podem
ter utilidade clínica em relação à previsão (triagem de biomarcadores) e detecção de
doenças (biomarcadores diagnósticos), avaliando progressão ou mesmo remissão da
doença (biomarcadores prognósticos) e avaliação da eficácia terapêutica. Portanto, a
metabolômica é uma ferramenta emergente importante que pode ajudar os profissio-
nais da saúde a compreender melhor a patogênese da doença cardiovascular, criando
previsões e mais preciso diagnóstico, com o potencial de alterar significativamente o
manejo de pacientes com estas condições, mesmo em estágios iniciais, como no caso
de dislipidemias e síndrome metabólica.

Fonte: Ussher et al. (2016).

151
atividades de estudo

1. Sobre a epidemiologia das dislipidemias e síndrome metabólica, é evidente a


grande variabilidade das alterações por várias razões. Nesse aspecto, assinale
as alternativas corretas.
a. A prevalência de colesterol total e triglicerídeo são as mais elevadas.
b. A prevalência de colesterol total é mais elevada no Brasil comparado ao aos
países da Europa e América do norte.
c. Estima-se que o colesterol total elevado cause 2,6 milhões de mortes.
d. A prevalência de síndrome metabólica, normalmente, é mais elevada nos ho-
mens.
e. Existe apenas um critério para a definição da síndrome metabólica, o que faci-
lita a sua análise e comparação.

2. Conhecendo a etiologia e os fatores de risco para desenvolvimento das dislipi-


demias, considere as afirmações a seguir e assinale a correta.
I. As dislipidemias têm origem apenas em defeitos genéticos que causam au-
mento do LDL-C e diminuição de HDL-C.
II. As dislipidemias primária e secundárias vem se tornando mais comum pela
maior experiência acumulada na investigação etiológica das alterações lipídi-
cas no metabolismo.
III. Os três grupos de dislipidemias secundárias incluem as secundárias a doen-
ças; secundárias aos medicamentos; e secundárias aos hábitos de vida inade-
quados, como dieta, tabagismo e etilismo.
IV. As dislipidemias representam um dos principais fatores de risco para a doen-
ça aterosclerótica, afetando artérias de grande e médio porte e, consequente-
mente, causando isquemia no cérebro, coração ou pernas.

152
atividades de estudo

Assinale a alternativa correta.


a. Apenas I e II estão corretas.
b. Apenas II e III estão corretas.
c. Apenas III e IV estão corretas.
d. Apenas II, III e IV estão corretas.
e. Todas as alternativas estão correta.

3. É complexa interação entre os fatores de risco da síndrome metabólica, que


inclui como novo fator a inflamação. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) sobre
as afirmações a seguir:
( ) O desenvolvimento da doença aterosclerótica é intimamente relacionado ao
desenvolvimento dos fatores de risco, presentes na síndrome metabólica.
( ) Entre os marcadores de inflamação crônica utilizados, a proteína C-reativa tem
se mostrado útil e capaz de predizer desfechos cardiovasculares.
( ) A presença de componentes da síndrome metabólica está associada à ele-
vação da proteína C-reativa, marcador de inflamação, e isto revela baixo risco de
desenvolver doença cardiovascular.
( ) A inflamação crônica na perspectiva cardiovascular é considerada uma respos-
ta prolongada, desregulada e mal-adaptativa, que envolve uma inflamação ativa,
destruição tecidual e tentativa de reparação tecidual, diferentemente da inflama-
ção aguda relacionada à injúria física, vírus e bactérias, que tem sinais claros de
febre, vermelhidão, inchaço, dor e perda de função.
Assinale a alternativa correta:
a. V, V, F, V.
b. F, F, F, V.
c. V, F, V, V.
d. F, F, F, F.
e. V, V, V, V.

153
atividades de estudo

4. Sobre a classificação laboratorial das dislipidemias, relacione o tipo de dislipi-


demia ao critério de classificação de cada, assumindo as informações a seguir:
a. Hipercolesterolemia isolada
b. Hiperlipidemia mista
c. HDL-c baixo
d. Hipertrigliceridemia isolada
( ) Aumento do LDL-c (LDL-c ≥ 160 mg/dL) e dos triglicerídeos (TG) (TG ≥ 150 mg/
dL ou ≥ 175 mg/ dL, sem jejum). Se TG ≥ 400 mg/dL, o cálculo do LDL-c pela fór-
mula de Friedewald é inadequado, devendo-se considerar a hiperlipidemia mista
quando o não HDL-c ≥ 190 mg/dL.
( ) Aumento isolado dos triglicérides (TG ≥ 150 mg/dL ou ≥ 175 mg/dL, sem jejum).
( ) Redução do HDL-c (homens < 40 mg/dL e mulheres < 50 mg/dL) isolada ou em
associação ao aumento de LDL-c ou de TG.
( ) Aumento isolado do LDL-c (LDL-c ≥ 160 mg/dL).

5. O exercício físico sempre foi recomendado pelas Diretrizes Brasileiras sobre


Dislipidemias. Nesse aspecto, cite três possíveis mecanismos pelos quais o
exercício pode atenuar as dislipidemias.

154
material complementar

Indicação para Ler

Manual de Pesquisa Das Diretrizes do Acsm Para Os Testes de Esfor-


ço e Sua Prescrição - 4ª Ed
American College Of Sports Medicine
Editora: Guanabara Koogan
Sinopse: considerado como umas das maiores coletâneas sobre o exercício físico
e avaliação, principalmente em grupos especiais e doenças crônicas. Tem o título
de “Manual de Pesquisa”, pois os diversos autores endossados pelo ACSM apro-
fundam os conceitos fisiológicos práticos e teóricos e correlaciona os exemplos
aos testes de esforço, treinamento e programação, fornecendo uma perspectiva
completa da aptidão física e da fisiologia do exercício.

Indicação para Acessar

Página da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, no qual há diversas informações para o


público geral e para o profissional de saúde.
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18 abr. 2020.

158
gabarito

Questão 1 - Resposta: alternativa “a” e “c”.


Questão 2 - Resposta: alternativa “c”.
Questão 3 - Resposta: alternativas “a”.
Questão 4 - Resposta: “b”, “d”, “c”, “a”, nesta ordem.
Questão 5 - Abaixo, qualquer afirmação assinalada como respostas é correta:
Alterações em sub partículas de LDL;
Utilização de estoques de triglicerídeos (TG) intramuscular;
Desequilíbrio e aumento da limpeza da taxa de TG e VLDL;
Alterações positivas em transportadores;
Aumento da oxidação dos ácidos graxos não esterificados;
Redução da adiposidade corporal total e visceral;
Aumento da expressão gênica de receptores de LDL-c e lipases.

159
GESTAÇÃO E ATIVIDADE FÍSICA

Professor Dr. Luiz Rodrigo Augustemak de Lima

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Alterações anatômicas e fisiológicas durante a gestação
• Benefícios da atividade física para gestantes
• Contraindicações do exercício físico em gestantes
• Análise de risco para o exercício físico durante a gestação
• Prescrição da atividade física durante a gestação e pós-parto

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer as alterações anatômicas e fisiológicas durante a
gestação.
• Compreender os benefícios da atividade física durante a
gestação.
• Conhecer as contraindicações relativas e absolutas à
prática de exercícios físicos.
• Avaliar os riscos e benefícios de exercícios físicos durante a
gestação e após o parto.
• Prescrever e orientar exercícios físicos de forma segura
para gestantes.
unidade

V
INTRODUÇÃO

P
ossível reconhecer que a atividade física regular promove alte-
rações fisiológicas favoráveis à saúde geral do indivíduo, mes-
mo que este possua alguma condição especial. Observamos di-
versos benefícios da atividade física para grupos com doenças
crônicas e condições especiais (idosos, por exemplo), como as alterações
favoráveis nas concentrações plasmáticas de lipídios, pressão arterial,
controle glicêmico, função endotelial, prevenindo a doença cardíaca co-
ronária e controlando diabetes melito, entre outras condições. C o n t u -
do, não foi observado nada a respeito de mulheres gestantes. Quais os
benefícios e as recomendações para a prática de atividade física nessa po-
pulação? São as mesmas da população especial ou com doença crônica?
Como prescrever atividade física à gestante, sem promover risco à saúde
do feto e da mulher?
Para começar, até o século 20, acreditava-se que a atividade física poderia
causar algum malefício durante a gestação, sendo assim, as gestantes eram
orientadas a reduzirem ou, até mesmo, interromperem as atividades físicas
recreativas e ocupacionais, presumindo que aumentaria o risco de parto pre-
maturo. Entretanto, a partir da década de 90, o American College of Obs-
tetricians and Gynecologists (ACOG) adotou diretrizes, nas quais a prática
da atividade física deveria ser incentivada durante a gestação, desde que a
gestante apresentasse condições adequadas (BATISTA et al., 2003).
A gestação é um período único de profundas alterações físicas, psico-
lógicas e hormonais na mulher. A preocupação com a saúde do feto e em
manter uma gestação saudável faz com que muitas mulheres procurem ati-
vidades físicas, tanto para controlar o ganho de peso, quanto para melhorar
a flexibilidade, relaxar e melhorar a qualidade de vida. Esta unidade irá
abordar as modificações anatômicas e fisiológicas do corpo feminino du-
rante a gestação, os benefícios da atividade física e quando ela é contraindi-
cada, a avaliação do risco da atividade física para a gestante e, finalmente, as
orientações para a atividade física durante a gestação e o pós-parto.


Alterações anatômicas e
fisiológicas durante a gestação
A gestação é responsável por várias alterações anatômi- ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS
cas e fisiológicas no organismo feminino com o objetivo A implantação da placenta na parede uterina de-
de acomodar e nutrir o feto, disponibilizando desenvol- sencadeia diversas respostas endócrinas, como a sín-
vimento pleno e saudável. Não apenas o ganho ponderal tese de dois tipos de hormônios: os peptídicos (entre
ocorre, como também modificações hormonais, car- eles, o hormônio gonadotropina coriônica - HCG) e os
diorrespiratórias e, inclusive, musculoesqueléticas para esteroides (a progesterona, estrógeno e os andrógenos).
o melhor desenvolvimento neste processo. A prática de Esses hormônios são essenciais para o desenvolvimento
exercícios físicos durante a gestação requer atenção es- e crescimento adequado do feto e para impedir que o
pecial e deve levar em consideração todas as mudanças organismo da mulher o rejeite. Na gestante, estes hor-
que ocorrem durante o processo, que serão descritas nos mônios provocam alterações na metabolismo da glicose,
tópicos a seguir. cuja molécula passa a ser destinada em maior parte ao

164
EDUCAÇÃO FÍSICA

feto e, por este mesmo motivo, a mulher passa a usar os a musculatura uterina relaxada, dessa forma, permite a
ácidos graxos como principal fonte de energia (CARO- manutenção da gravidez e previne abortos espontâne-
MANO, 2018). os. Em contrapartida, a redução da tonicidade muscular
dos músculos lisos provocada pela progesterona, resul-
Descrição da Imagem: Desenho de um útero seccionado indicando
trompas, vagina, cervix, ovários e outros elementos que o definem.
ta em alterações hemodinâmicas (aumento do volume
sanguíneo, da frequência cardíaca, do volume sistólico
e do débito cardíaco; e diminuição da resistência vascu-
Trompa de falópio Útero Fundo Tuba uterina
lar sistêmica) (CAROMANO, 2018) responsáveis por
alguns dos sintomas gravídicos considerados, muitas
vezes, desconfortáveis, como a náusea, constipação, di-
latação de veias, tontura e hiperventilação.
As modificações na circulação sanguínea citadas
Ovário Endométrio
Fímbria precisam ser ponderadas durante as sessões de exer-
Miométrio
cícios físicos, especialmente aqueles que requerem a
Vagina
Colo do útero
posição decúbito dorsal (de costas para o chão), o que
pode resultar em episódios importantes de hipotensão,
particularmente, após a vigésima semana de gravidez
(ACOG, 2020).
Figura 1 - Sistema reprodutor feminino
Ainda é importante considerar o efeito do estróge-
SAIBA MAIS no, que age no desenvolvimento da musculatura uterina,
mas também é o responsável pela frouxidão ligamentar.
Após a fecundação, que ocorre nas trompas Isto pode causar possíveis distensões musculares e le-
de falópio, o óvulo fecundado passa por di- sões articulares, como entorses. Neste sentido, os alon-
versas transformações enquanto percorre o gamentos são indispensáveis durante a gestação, bem
caminho até alcançar o útero. Nesta fase, o
óvulo fecundado é chamado de blastocisto como o cuidado com a intensidade das atividades e para
e adere-se à parede interna do útero - o en- não sobrecarregar as articulações, além do tipo de ativi-
dométrio -, este processo é conhecido como dades e do terreno com vistas ao risco de queda (CARO-
implantação.
Fonte: adaptado de Vieira e Fragoso (2006). MANO, 2018; FONSECA; ROCHA, 2012).
Após o primeiro trimestre da gravidez, as modifica-
ções na síntese hormonal da glândula tireoide aumentam
Entre outras funções, a progesterona exerce um papel em até 25% o metabolismo basal da gestante e do feto, o
fundamental na preparação do endométrio para rece- que pode gerar aumento dispêndio energético em, apro-
ber a placenta e na inibição das contrações ao manter ximadamente, 300 quilocalorias por dia. Outros sintomas,

165


também são considerados desconfortáveis; causados pe- A compressão causada pelo grande volume abdo-
las alterações na tireoide e paratireoide, são o aumento da minal de gestantes sobre a veia cava inferior, na posição
frequência cardíaca, dispneia, redução da tolerância ao supina, reduz o retorno venoso ao coração e, consequen-
calor, cãibras e ansiedade (CAROMANO, 2018). temente, reduz o fluxo de sangue no cérebro. Isto resulta
em um quadro de hipotensão, tontura, náusea e, inclusive,
ALTERAÇÕES CARDIORRESPIRATÓRIAS síncope, conhecido com Síndrome da Hipotensão Supina
(ACOG, 2020; CAROMANO, 2018). Caso isso ocorra,
Ao longo da gestação, ocorrem algumas modificações é necessário ação imediata, posicionando a gestante em
anatômicas no sistema cardiovascular. Devido à com- decúbito lateral para o lado esquerdo, aliviando a pressão.
pressão causada pelo útero, o músculo do diafragma se A elevação na posição do diafragma também reflete
eleva e, como resultado, ele modifica a posição do cora- na alteração anatômica da caixa torácica que aumenta
ção. Como demanda da gestação, a quantidade de ener- em decorrência da compressão dos pulmões. Assim, a
gia que o coração transfere para a circulação sanguínea partir da 12ª semana de gestação, a capacidade para pra-
aumenta 40% neste período devido ao aumento de vo- ticar exercícios anaeróbicos é prejudicada, a disponibili-
lume sanguíneo, do débito cardíaco (de 27 a 64%) e do dade de oxigênio para exercícios aeróbicos é menor e a
aumento de peso materno (entre 10 a 12 kg, dentro de mulher passa a apresentar cansaço e falta de ar durante
uma faixa de ganho de peso saudável) (CAROMANO, a prática de atividades físicas rotineiras. Isso ocorre por-
2018). Portanto, neste sentido, é comum a gestante sen- que a ventilação por minuto aumenta 50% neste período
tir-se mais cansada e o coração mais acelerado. para compensar o aumento do fluxo sanguíneo. Em ati-
vidades físicas intensas, a alcalose fisiológica respiratória
pode não ser suficiente para compensar a acidose meta-
bólica (ACOG, 2020).
Primeiro Segundo Terceiro
Trimestre Trimestre Trimestre
Débito
Cardíaco + 50 a 10% ++ 35 a 40%

Frequ-
ência +3a5% + 10 a 15 % + 15 a 20%
Cardíaca
Pressão
Arterial - 10 % - 5% +5%

Volume
+ ++ 40 a 50%
Plasmático
+: aumenta; - diminui.
Quadro1- Principais alterações cardiovasculares durante gravidez nor-
mal / Fonte: ACOG (2020).

166
EDUCAÇÃO FÍSICA

ALTERAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS Neste sentido, ressalta-se a importância do fortale-


cimento dos músculos abdominais e das costas, que têm
O ganho de peso e o aumento do volume abdominal de- o potencial de diminuir esse desconforto. A alteração do
vido ao crescimento do útero durante a gestação promove centro de gravidade aumenta o risco de perda de equi-
a rotação anterior da pelve e a mudança no centro de gra- líbrio, que pode resultar quedas; por essa razão, é acon-
vidade que, somados à frouxidão ligamentar, resultam em selhável a seleção de terrenos e superfícies planas e sem
lordose progressiva (CAROMANO, 2018). A lombalgia irregularidade para a prática de exercícios.
pode ou não irradiar aos membros inferiores. Essas mo- Ainda, com uma alteração musculoesquelética, é pos-
dificações devem ser consideradas para a prescrição da sível que, durante a gravidez, seja observada uma linha es-
atividade física, pois levam a sobrecarga nas articulações cura que se estende verticalmente do púbis até a cicatriz
e na coluna para a sustentação do peso e, em decorrência umbilical ou acima dele. Esta linha é conhecida como
disso, a maior parte das mulheres apresenta lombalgia na “Linha Alba”, decorrente do estiramento das fibras mus-
gestação, ou algum tipo de desconforto musculoesquelé- culares da região abdominal e da dilatação dos músculos
tico (ACOG, 2020; LIMA;OLIVEIRA, 2005). retos do abdomen que se afastam (CAROMANO, 2018).

167


Benefícios da atividade
física para gestantes
Níveis insuficientes de atividade física, assim como tes posturais decorrentes desse período, prevenindo lom-
comportamentos sedentários em excesso são fatores as- balgias, além de realizar com mais facilidade as atividades
sociados a maior probabilidade de desenvolver doenças da vida diária (LIMA; OLIVEIRA, 2005; MATSUDO, V.;
crônicas e complicações durante a gestação. De maneira MATSUDO, S., 2000; NÓBREGA et al., 1999).
oposta, a prática regular da atividade física inclui diversos A atividade física aeróbia beneficia significativa-
benefícios. Em geral, exercício resistido de intensidade leve mente o controle de peso e a preservação do condicio-
à moderada melhora a resistência e flexibilidade muscular, namento físico durante a gestação. Observa-se também
sem aumento ou com pouco risco de lesões e/ou compli- melhora na circulação sanguínea, o que reduz o estresse
cações à gestante e ao feto. Como resultado, a mulher passa cardiovascular e a retenção de líquidos (MATSUDO, V.;
a suportar melhor o aumento de peso e desenvolve o ajus- MATSUDO, S., 2000).

168
EDUCAÇÃO FÍSICA

Outro fator importante é que a atividade física apre- cesáreo e do tempo de recuperação pós-parto, redução
senta um fator protetor em relação ao desenvolvimen- da incidência de parto prematuro em mulheres com so-
to de diabetes melito gestacional, inclusive em mulhe- brepeso e obesidade e proteção da mulher em desenvol-
res com sobrepeso e obesidade. A ativação dos grandes ver depressão pós-parto (ACOG, 2020).
grupos musculares possibilita que a glicose seja melhor PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA DU-
utilizada pelos tecidos devido a maior a sensibilidade à RANTE A GESTAÇÃO
insulina (ACOG, 2020; ARTAL et al., 2003; NÓBREGA • Prevenção de ganho excessivo de peso gestacional
et al., 1999). Os benefícios se estendem também sobre a • Melhora na postura e alívio da lombalgia
• Menor incidência de diabetes melito gestacional
menor incidência de hipertensão gestacional, ajudando
• Menor chance de desenvolver transtornos hiper-
a prevenir a pré-eclâmpsia (ACOG, 2020). tensivos gestacionais
Diversos estudos, sumarizados pelo American Col- • Facilidade na recuperação após o parto
• Menor incidência de parto cesáreo
lege of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) apon-
• Menor incidência de depressão pós-parto
tam demais benefícios da atividade física regular para a Quadro 2 - Principais benefícios da atividade física durante a gestação /
gestação, como a diminuição da probabilidade de parto Fonte: adaptado de ACOG (2020); Fonseca e Rocha (2012).

169


Contraindicações ao
exercício físico em gestantes
Embora a atividade física habitual sejam um elemento a prática de atividade física (ACOG, 2020; FONSECA;
importante para a vida saudável da gestante, algumas ROCHA, 2012; ACSM, 2016).
condições são consideradas contraindicações relativas e Contraindicações Relativas
absolutas à prática de exercícios físicos. • Anemia grave.
Segundo o ACOG, caso a gestante seja saudável e a • Arritmia cardíaca maternas não avaliada.
gravidez se desenvolva dentro da normalidade, é segu- • Bronquite crônica.
ro e também importante continuar ou iniciar exercícios • Diabetes melito tipo 1 pouco controlado.
físicos em sessões regulares. Nessa situação, a atividade • Obesidade mórbida.
física em si não aumenta risco de aborto, baixo peso ao • Subpeso extremo .
nascer ou parto prematuro. Entretanto, algumas con- • Histórico de estilo de vida extremamente seden-
dições e/ou complicações na gestação contraindicam tário.

170
EDUCAÇÃO FÍSICA

• Restrição de crescimento intrauterino na gravi-


Adicionalmente, o American College of Sports Medi-
dez atual.
cine acrescenta que a hipertensão induzida pela gra-
• Hipertensão pouco controlada.
videz, a ruptura prematura das membranas, o trabalho
• Limitações ortopédicas.
de parto prematuro durante uma gravidez precedente
• Distúrbios convulsivos pouco controlados.
ou atual, o colo do útero incompetente, o sangramento
• Hipertireoidismo pouco controlado.
persistente no segundo ou terceiro trimestre e o retar-
• Tabagismo grave.
do de crescimento intrauterino são condições de con-
Contraindicações Absolutas traindicação para o exercício físico, especialmente do
• Cardiopatia com repercussão hemodinâmi- tipo resistido (ACSM, 2003).
ca grave.
• Doença pulmonar restritiva.
• Insuficiência cardíaca congestiva.
• Insuficiência cervical ou cerclagem.
• Gestação múltipla com risco de trabalho de
parto prematuro.
• Sangramento uterino.
• Placenta prévia após 26 semanas de gravidez.
• Pré-eclâmpsia ou pressão alta induzida pela
gravidez.
Durante a prática de atividades físicas por gestantes, é
importante que o Profissional de Educação Física esteja
atento aos sintomas que são sinais de alerta para descon-
tinuar a atividade física em questão. Portanto, se alguns
destes sintomas ocorrer, é imprescindível a suspensão
imediata da atividade física e o encaminhamento para
avaliação médica (ACOG, 2020; FONSECA; ROCHA,
2012; ACSM, 2016):
• Sangramento da vagina.
• Perda de líquido amniótico.
• Sensação de tontura.
• Dispneia.
• Dor de cabeça.
• Dor no peito.
• Fraqueza muscular.
• Dor ou edema nas pernas.
• Diminuição da movimentação fetal.
• Contrações dolorosas regulares do útero.

171


Análise de risco para o exercício


físico durante a gestação
Já estudamos que o PAR-Q é um questionário de pronti- zação de um instrumento específico. Nesse aspecto, o
dão para atividade física que, de maneira simplificada, é PARmed-X é considerado o guia para a triagem inicial de
capaz de identificar condições crônicas de saúde e a ne- saúde da gestante, antes da prescrição de atividades físi-
cessidade de avaliação médica prévia ao exercício físico cas, desenvolvido pela Sociedade Canadense de Fisiologia
para a população em geral. Contudo, as particularidades do Exercício e recomendado pelo Colégio Americano de
do processo que ocorre durante a gestação exige a utili- Medicina do Esporte (ACSM, 2016). Confira a seguir:

172
EDUCAÇÃO FÍSICA

173


Figura 2 - PARmed-X / Fonte: CSEP/SCPE (2020, on-line).

É importante lembrar que o PARmed-X, assim como O teste de esforço máximo não é indicado para
o PARQ, são instrumentos de triagem inicial de con- gestantes, salvo recomendações médicas específicas.
dições de saúde que buscam contraindicações e/ou si- Assim, quando necessário, o teste de esforço deve ser
nais e sintomas de doença oculta, que podem impedir realizado sob supervisão médica direta após avaliação
ou evoluir complicações com a prática de exercícios minuciosa de condições de contraindicação. A orien-
físicos. Portanto, a avaliação e o parecer médico de- tação declarada do ACSM é de que mulheres grávidas
vem ser obtidos antes da prática segura de quaisquer sedentárias antes da gestação ou que tenham alguma
atividades físicas, bem como o treinamento aeróbio e contraindicação mencionada na aula anterior, recebam
resistido na gestação. avaliação médica do seu obstetra antes de iniciar um
programa de exercícios (ACSM, 2016).

174
EDUCAÇÃO FÍSICA

Prescrição da atividade física e


exercícios durante a gestação e pós-parto
Devido ao interesse das gestantes na proteção e promo- gicas ao exercício agudo (durante a sessão) na gravidez
ção do desenvolvimento saudável do feto, a gestação pa- em relação ao estado não grávido (ACSM, 2016):
rece ser o momento ideal para a inclusão de práticas de • Aumento da captação de oxigênio (em exercícios
atividades físicas e mudanças de hábitos. A adoção de dependente de peso).
hábitos saudáveis, além da prática de atividades físicas • Aumento da frequência cardíaca.
regulares, incluem alimentação equilibrada e a melhor • Aumento do débito cardíaco.
percepção da imagem corporal. • Aumento do débito sistólico.
Com foco no exercício físico, ou seja, da manifesta- • Aumento do volume corrente.
ção de atividade física com gasto energético acima dos • Aumento da ventilação-minuto.
níveis de repouso, de forma sistematizada e orientada • Aumento do equivalente ventilatório para oxigê-
com objetivos predefinidos, vamos às respostas fisioló- nio (VE/VO2).

175


• Aumento do equivalente ventilatório para o dió-


Exercícios Aeróbicos
xido de carbono (VO2/VCO2).
• Não se altera / Diminui a pressão sistólica. Frequência ≥ 3 a 4 dias por semana.

• Não se altera / Diminui da pressão diastólica. Como o teste de esforço


máximo não é recomenda-
do, a zona de frequência
Portanto, devido às alterações fisiológicas respirató-
cardíaca para exercícios de
rias e cardiovasculares, como observadas também nos intensidade moderada em
primeiros tópicos desta aula, a prescrição do exercício gestantes de baixo risco
pode ser consultado no
físico deverá considerar mudanças nos parâmetros tra-
Quadro 4.
dicionais, reconhecendo os desconfortos, as potencia- A intensidade moderada
Intensidade
lidades da mulher na gestação, orientados numa abor- é recomendada para mu-
lheres com o índice de IMC
dagem conservadora e de riscos minimizados (ACSM,
<25 kg/m2 anteriormente à
2003; ACSM, 2016). gestação.
Pesquisas sugerem, por exemplo, que a frequência A intensidade leve é reco-
mendada para mulheres
do exercício físico é um determinante do peso do bebê
com o índice de IMC ≥ 25
ao nascer e sugerem uma frequência ideal de 3 a 4 dias kg/m2 anteriormente à
por semana (ACSM, 2016). Entretanto, há estudos apon- gestação.
tam que as mulheres que se exercitam acima da frequ- ≥ 15 minutos por dia, com
ência recomendada apresentam risco aumentado de aumento progressivo até,
no máximo, 30 minutos
baixo peso do filho no nascimento (ACSM, 2016). Dado por dia de exercício de
a praticidade da percepção subjetiva de esforço, como intensidade moderada,
instrumento de verificação e controle da carga interna acumulado 120 minutos
por semana.
de intensidade de exercícios, apresentada na Unidade I, a O aquecimento e o res-
recomendação ideal é de que gestantes permaneçam na friamento deve ter de 10 a
faixa 12 a 14 (um pouco intenso). 15 minutos cada uma das
partes, incluindo exercí-
Embora haja necessidade e particularidades da ges- cios calistênicos de baixa
tante, a prescrição de exercícios físicos tem similaridades Tempo intensidade, alongamento
com as recomendações para a população em geral. O e relaxamento.
Mulheres com IMC ≥ 25
Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM) ela- kg/m2 antes da gestação e
borou as recomendações FITT (frequência, intensidade, que apresentem alguma
tempo e tipo de exercício) do exercício aeróbico adequa- condição médica podem se
exercitar com intensidade
das para gestantes e você pode conferir no Quadro 3. leve, iniciando com 25 mi-
nutos por dia e adicionan-
do 2 minutos por semana,
progressivamente, até
alcançar 40 minutos em 3
a 4 vezes por semana.

176
EDUCAÇÃO FÍSICA

Atividades físicas que Os exercícios de fortalecimento muscular, também


envolvam grandes grupos
Tipo musculares de maneira denominados aqui de exercícios resistidos são igual-
rítmica e dinâmica, como mente indicados para gestantes com o objetivo de pro-
caminhadas e pedaladas. mover boa postura e controle urinário, e na prevenção
A recomendação é que o da lombalgia, diástase do reto, incontinência urinária e
progresso seja realizado a
partir do 2º trimestre (> 12
veias varicosas.
semanas) devido ao risco Recomenda-se um treinamento de força, a partir de
reduzido da gestação após exercícios resistidos que utilizem todos os grandes gru-
este período.
Iniciar com 15 minutos pos musculares com resistência externa suficiente para
por sessão, 3 vezes por a gestante tolerar repetições submáximas (12 a 15 repe-
Progresso
semana até o máximo tições) até a fadiga moderada (ACSM, 2016). Após a 16ª
de, aproximadamente,
30 minutos por sessão, 4 semana de gestação, a isometria muscular e a manobra
vezes por semana. Respei- de Valsalva devem ser evitadas. Destacam-se exercícios
tando a zona apropriada resistidos que demandem ações motoras dos seguintes
de frequência cardíaca ou
de percepção subjetiva de grupos musculares:
esforço. • Parte superior das costas (torácica): elevação de
Quadro 3 - Recomendações FITT de exercícios físicos para gestantes / ombros, aproximação das escápulas.
Fonte: adaptado de ACSM (2016).
• Parte inferior das costas (lombar): elevação da
FAIXA DE perna e braço em oposição na posição bípede.
FREQUÊNCIA • Abdômen: contração abdominal, flexões de
IDADE MATERNA NÍVEL DE APTI-
CARDÍACA tronco.
(anos) DÃO FÍSICA
(batimentos
por minuto) • Assoalho pélvico: elevação da pelve no solo em
decúbito dorsal.
< de 20 - 140 a 155
• Membros superiores: rotações de ombro, flexões
Baixo 129 a 144
de braço modificados contra a parede.
Ativa 135 a 150
20-29 • Glúteos e membros inferiores: contração de glú-
Apta 145 a 160
se IMC > 25kg/m2 102 a 124 teos, elevação da perna para frente, para trás ou
Baixo 128 a 144 para os lados em pé, permanecer na ponta dos
Ativa 130 a 145 pés.
30-39
Apta 140 a 156
se IMC > 25kg/m2 101 a 120
Algumas precauções devem ser tomadas para o condicio-
Quadro 4 - Faixas ideais de intensidade de exercícios físicos, baseada na
frequência cardíaca, para gestantes / Fonte: adaptado de Mottola et al. namento muscular, elas estão resumidas no Quadro 5.
(2006); Davenport et al. (2008) e ACSM (2016).

177


EFEITO DA GESTAÇÃO MODIFICAÇÕES NOS EXERCÍCIOS


Decúbito dorsal (deitado de costas): o útero Após o 4º mês de gestação, exercícios nesta
Posição corporal aumentado pode levar à obstrução venosa. posição devem ser realizados deitado em
decúbito lateral ou em pé.
Ligamentos passam a ficar mais flácidos e as O alongamento deve ter seus movimentos
Frouxidão liga-
articulações são propensas à lesão. controlados. Evitar mudanças drásticas de
mentar
direção durante os exercícios.
Ondulações do tecido conectivo ao longo da
Musculatura Exercícios abdominais são contraindicados
linha média do abdômen são observadas na
abdominal em caso de diástase do reto.
gestação.
Mudança do centro de gravidade e lordose, Dar ênfase na postura correta durante os
com projeção dos ombros para a frente para exercícios. Promover alinhamento pélvico.
compensar o ganho de peso. O alinhamento pélvico neutro encontra-se
Postura flexionando os joelhos, pés separados na lar-
gura dos ombros e alinhando a pelve entre a
lordose acentuada e a posição de inclinação
pélvica posterior.
Quadro 5 - Precauções para o condicionamento muscular durante a gestação /
Fonte: adaptado de CSEP/SCPE (2020, on-line).

Em relação ao tipo do exercício, comumente fonte de dificados), exercícios de resistência (com faixas elásticas
dúvida aos Profissionais de Educação Física, são consi- e pesos) e hidroginástica (ACOG, 2020). Exercícios na
derados seguros e benéficos pela literatura científica a água são mais recomendados quando a gestante apre-
caminhada, ciclismo estacionário, dança, exercícios ae- senta lombalgia, além da redução significativa do im-
róbicos, exercícios de alongamento (yoga e pilates mo- pacto das movimentações.

O Ministério da Saúde do Brasil, no seu canal de comunicação, dispõe de


um exemplo de sessão de exercício físico, do aquecimento, sessão pro-
priamente dita e resfriamento. Acesse em: https://www.youtube.com/
watch?v=fpsHMw6iHYE
Para acessar, use o seu leitor de QR Code.

178
EDUCAÇÃO FÍSICA

Em contrapartida, alguns tipos de exercícios necessitam


de recomendações especiais ou devem ser contraindica-
dos no período da gravidez, como: esportes de contato,
atividade competitiva ou que possuem risco de lesão no
abdome (boxe, futebol, basquete, esportes com raquete);
atividades que possuem risco de queda com movimen-
tos repentinos e saltos (ginástica, ciclismo, surf); mergu-
lho, pelo risco de embolia fetal na descompressão; evitar
exercícios em situações e/ou ambientes quentes e úmi-
dos e em altitudes elevadas (ACOG, 2020; BATISTA et
al., 2003; ACSM, 2016).
Em geral, o exercício no período pós-parto
pode iniciar gradualmente de 4 a 6 semanas após
o parto normal, e de 8 a 10 semanas (com liberação
médica) após a cesariana. Normalmente, durante o
puerpério, ocorre perda do condicionamento físi-
co da mulher, o que requer o retorno gradual das
atividades físicas. A prática de exercícios nesta fase
colabora para o bem-estar da mulher e diminui o
risco de trombose venosa profunda, assim como na
recuperação do peso.
O exercício físico também é seguro para lactan-
tes e os estudos científicos relatam que não há dife-
renças no volume e na composição do leite materno
em mulheres que realizaram atividades aeróbicas
realizadas a 60-70% da frequência cardíaca de re-
serva, durante 45 minutos, cinco vezes por semana
(LEITÃO et al., 2000).

179
considerações finais

Observamos ao longo desta unidade que a atividade física regular é um importante


fator para a promoção e manutenção da saúde da mulher na gestação e na fase pós-
-parto. Os benefícios são variados e incluem o controle de peso e a preservação do
condicionamento físico, além da proteção de diabetes melito e hipertensão gestacional,
ajudando a prevenir a pré-eclâmpsia. A diminuição da probabilidade de parto cesáreo
e do tempo de recuperação pós-parto, e redução da incidência de parto prematuro
são efeitos positivos comumente observados.
A avaliação do risco para as gestantes de realizar exercícios físicos devem ser conside-
rado, avaliando condições que podem, inclusive, apresentar-se como contraindicativas
absolutas. O PARmed-X, nesse caso, foi apresentado como uma possível ferramenta
de triagem inicial de saúde da gestante. Além disso, foi declarado que é extremamente
importante a avaliação e o parecer médico, antes do desenvolvimento das sessões de
exercício físicos. Assumindo que os objetivos da prática de atividade física em gestantes
são a preservação da aptidão física e da saúde, a diminuição de sintomas observados
durante a gravidez e a recuperação mais rápida no pós-parto. A segurança para a mãe
e o bebê deve ser a principal preocupação.
Profissionais de educação Física que busquem trabalhar com gestantes devem propor-
cionar a elas uma atividade física agradável e segura, respeitando a individualidade
e, principalmente, obedecendo o processo que ocorre durante a gestação e que pro-
voca profundas alterações fisiológicas, metabólicas e hormonais, e que, por sua vez,
modifica as respostas às atividades físicas. Por fim, a utilização dos princípios FITT
para a manipulação das variáveis agudas de exercícios físicos permitirá um maior
controle e racionalização das sessões e, consequentemente, maior êxito no programa
com mulheres gestantes.

180
atividades de estudo

1. A gestação é responsável por várias alterações anatômicas e fisiológicas no


organismo feminino, assinale a alternativa que melhor define as alterações
cardiovasculares ao longo da gestação.
a. O débito cardíaco aumenta e a frequência cardíaca diminui em todos os tri-
mestres.
b. A pressão arterial e a frequência cardíaca aumentam em todos os trimestres.
c. O volume plasmático diminui em todos os trimestres.
d. O débito cardíaco aumenta e o volume plasmático, diminui em todos os tri-
mestres.
e. A pressão arterial diminui nos dois trimestres iniciais e reduz no último trimes-
tre. A frequência cardíaca aumenta em todos os trimestres.

2. A prática regular da atividade física inclui diversos benefícios para a gestante.


Assuma as afirmações e assinale a alternativa correta.
I. Diminui a probabilidade de parto cesáreo e o tempo de recuperação pós-par-
to, além da redução da incidência de parto prematuro.
II. A mulher passa a suportar melhor o aumento de peso e desenvolve o ajustes
posturais decorrentes desse período, prevenindo lombalgias.
III. Melhora na circulação sanguínea, o que reduz o estresse cardiovascular e a
retenção de líquidos .
IV. Protege a mulher do desenvolvimento de diabetes melito gestacional.
Assinale a alternativa correta.
a. Apenas I e II estão corretas.
b. Apenas II e III estão corretas.
c. Apenas I está correta.
d. Apenas II, III e IV estão corretas.
e. Todas as alternativas estão corretas.

181
atividades de estudo

3. Embora a atividade física habitual seja um elemento importante para a vida


saudável da gestante, algumas condições são consideradas contraindicações
relativas e absolutas à prática de exercícios físicos. Assinale Verdadeiro (V) ou
Falso (F) para as contraindicações absolutas.
( ) Insuficiência cardíaca congestiva.
( ) Pré-eclâmpsia ou pressão alta induzida pela gravidez.
( ) Sangramento uterino.
( ) Tabagismo grave.
( ) Limitações ortopédicas.
( ) Doença pulmonar restritiva.
Assinale a alternativa correta.
a. V; V; V; F; F; V.
b. F; F; V; V; F; V.
c. V; F; V; F; F; V.
d. F; F; F; F; V; V.
e. V; V; V; V; V; V.

4. Há vários benefícios do exercício físico na gestação, assinale a alternativa que


melhor seleciona o tipo, intensidade e frequência de exercício físico para o
trabalho ao longo da gestação.
a. A frequência diária e intensidade vigorosa são recomendadas.
b. A frequência semanal de 3 a 4 dias e a intensidade moderada a um pouco
intensa (12 a 14 na percepção subjetiva de esforço) são recomendadas.
c. O tipo de atividade deve incluir exercícios que transportem o próprio peso e
que tenham impacto.
d. As atividades aeróbias prolongadas que visem o maior gasto energético possí-
vel são preferenciais, especialmente em terrenos irregulares.
e. Exercícios resistidos isométricos e que incluem a manobra de valsalva são re-
comendados.

182
atividades de estudo

5. Considerando que a maior partes das mulheres serão gestantes e que os be-
nefícios da prática de atividades físicas nessa população especial está bem
documentado, redija um parágrafo que responda aos assuntos a seguir, co-
nectando-os no processo de prescrição de exercícios físicos de uma mulher
com gestação normal e ganho de peso normal (25 anos), sem qualquer doen-
ça diagnosticada, que busca melhorar a sua função física e qualidade de vida.
1) Avaliação de riscos.
2) Componentes comuns numa sessão de exercício físico.
3) Aplicação dos princípios FITT-VP recomendados pelo ACSM.

183
LEITURA
COMPLEMENTAR

Será que a atividade física durante a gestação exerce algum tipo de influência sobre
desfechos de saúde materno-infantil? Essa hipótese não foi completamente comprova-
da ao longo do tempo. Contudo a partir de uma metodologia elegante e bem estrutu-
rada, Shana Ginar, da Universidade Federal de Pelotas, conduziu três estudos sobre o
tema que se complementam em termos de evidência científica nesta temática e trazem
subsídios para prática profissional.
No primeiro estudo, foi realizada uma revisão sistemática com meta-análise dos dados
(padrão-ouro de sumarização da evidência científica) sobre efeito da atividade física
durante a gestação sobre desfechos maternos e do recém-nascido em dois diferentes
tipos de pesquisa epidemiológica, estudos de coorte (de acompanhamento ao longo do
tempo, sem intervenção do pesquisador) e ensaios controlados randomizados (tipo de
pesquisa sofisticado com experimentação, ou seja, o pesquisador intervém no estudo,
manipulando-o em um grupo [grupo experimental], mas não em outro [grupo contro-
le]). Os resultados da meta-análise dos ensaios controlados randomizados indicaram
que atividade física realizada no lazer foi associada à redução no ganho de peso e me-
nor incidência de diabetes na gestação, além da maior probabilidade do bebê nascer
dentro dos padrões normais de crescimento. Ainda, a meta-análise dos estudos de co-
orte reafirmou as evidências para ganho de peso e diabetes gestacional, e demonstrou
que a atividade física realizada no lazer esteve relacionada à redução na incidência de
partos prematuros.
No segundo estudo, a atividade física foi mensurada de forma objetiva (utilizando sen-
sores de movimento) e os fatores associados a esse comportamento foram conside-
rados numa amostra com mais de 2.000 gestantes, entrevistadas durante o acompa-
nhamento pré-natal da coorte de nascimentos de 2015 da cidade de Pelotas-RS. Os
resultados do segundo estudo apresentou baixos níveis de atividade física das gestan-

184
LEITURA
COMPLEMENTAR

tes, mostrando que esta população despende, em média, 15 minutos em atividades físi-
cas moderadas a vigorosas (AFMV) e menos de 1 minuto em atividades físicas vigorosas
por dia. Diferenças no tempo de atividade física foram encontradas quando comparado
às médias em relação às características sociodemográficas, comportamentais e de his-
tória reprodutiva. Especificamente, acumularam menos tempo em AFMV as gestantes:
com cor da pele branca, que viviam sem a presença do companheiro, que passavam
pela primeira gestação, com maior nível de escolaridade e econômico, e que receberam
aconselhamento médico para não fazer atividade física na gestação.
O terceiro estudo sobre a temática foi composto por um ensaio controlado randomi-
zado. Portanto, um grupo experimental, com 213 gestantes realizou um programa de
exercícios físicos por 16 semanas, enquanto o grupo controle com 426 gestantes, rece-
beu o tratamento conservador de cuidados da gestante sem a intervenção com exercí-
cios. O foco do ensaio controlado randomizado era testar se o programa de exercícios
físicos tinha desfechos de saúde materna-infantil, como pré-eclâmpsia, ganho de peso
e diabetes gestacional e do recém-nascido, como o peso ao nascer, prematuridade e
crescimento fetal. Após a análise dos dados, foi concluído que o exercício físico não
afeta negativamente a saúde do recém-nascido como prematuridade e baixo peso ao
nascer. Contudo, o programa de exercícios não confirmou os benefícios do exercício
físico em termos de prevenir o ganho de peso, diabetes gestacional e pré-eclâmspia.
Assim, os achados realizados pela Shana Ginar trouxeram evidências importantes, re-
visadas e meta-analisadas, além de dados sobre o padrão de atividade física e seus
determinantes na gestação, além de evidenciar que o exercício físico não impacta ne-
gativamente na saúde do bebê.

Fonte: adaptado de Silva (2017).

185
material complementar

Indicação para Ler

Atividade Física na Gravidez e No Pós-parto


Marcelo Zugaib e Marco Antonio Borges Lopes
Editora: Rocca
Sinopse: o livro é uma obra interdisciplinar de interesse aos profissionais que
possam se envolver com a atividade física com mulheres gestante e no período do
pós-parto. A obra aborda modalidades em atividades físicas voltadas para a qua-
lidade de vida, visando ao controle do peso e alívio do estresse emocional. Ainda,
contém orientações específicas às gestantes previamente ativas e, também, para
as sedentárias; contraindicações e recomendações esclarecidas e ilustradas; ma-
nutenção e limites de duração e intensidade. O livro traz exercícios específicos
para o assoalho pélvico na preparação para o parto, cuidados e recomendações
com a atenção voltada à preparação para a gravidez, período gestacional, parto e
o pós-parto.

Indicação para Acessar

Página da Revista Brasileira de Obstetrícia e Ginecologia, canal de comunicação da Federação Brasileira


das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia, no qual há diversas informações científicas sobre o tema,
particularmente importante para o profissional de saúde.
Web: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0100-7203&lng=en&nrm=iso/.

Indicação para Acessar

Página da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), fundada em 1959,
que tem como objetivo de promover, apoiar e zelar pelo aperfeiçoamento técnico, científico e aspectos éti-
cos do exercício profissional de ginecologistas e obstetras. Nesta páginas, você irá encontrar muitas infor-
mações úteis para a população e para os profissionais de saúde, para o melhor conhecimento da gestação.
Web: http://www.febrasgo.org.br/pt/

186
referências

ACOG. American College of Obstetricians and Gynecologists. Physical Activity and Exer-
cise During Pregnancy and the Postpartum Period: ACOG Committee Opinion, Number
804. Obstetrics & Gynecology, 135, n. 4, p. e178-e188, 2020.
ACSM. American College of Sports Medicine. Diretrizes do ACSM para os testes de es-
forço e sua prescrição/ American College of Sports Medicine. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan 2016.
ACSM. American College of Sports Medicine. Manual de pesquisa: das diretrizes do
ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. Guanabara Koogan, 2003.
ARTAL, R. et al. Guidelines of the American College of Obstetricians and Gynecologists
for exercise during pregnancy and the postpartum period. British journal of sports me-
dicine, v. 37, n. 1, p. 6-12, 2003.
BATISTA, D. C. et al. Atividade física e gestação: saúde da gestante não atleta e crescimen-
to fetal. Revista brasileira de saúde materno infantil, v. 3, n. 2, p. 151-158, 2003.
CAROMANO, F. A. Adaptações fisiológicas do período gestacional. Fisioterapia Brasil,
v. 7, n. 5, p. 375-380, 2018.
CSEP/SCPE. PARmed-x para gestação atividade física com facilidade. 2020. Disponível
em: https://www.csep.ca/CMFiles/publications/parq/PARmedXPOR_prefinal.pdf. Aces-
so em: 05 ago. 2020.
DAVENPORT, M. H. et al. Development and validation of exercise target heart rate zones
for overweight and obese pregnant women. Applied Physiology, Nutrition, and Metabo-
lism, v. 33, n. 5, p. 984-989, 2008.
FONSECA, C. C.; ROCHA, L. A. Gestação e atividade física: manutenção do programa
de exercícios durante a gravidez. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 20, n. 1,
p. 111-121, 2012.
LEITÃO, M. B. et al. Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Es-
porte: atividade física e saúde na mulher. Revista brasileira de medicina do esporte, v. 6,
n. 6, p. 215-220, 2000.

187
referências

LIMA, F. R.; OLIVEIRA, N. Gravidez e exercício. Revista brasileira de reumatologia, v.


45, n. 3, p. 188-190, 2005.
MATSUDO, V.; MATSUDO, S. Atividade física e esportiva na gravidez. A grávida. São
Paulo: Atheneu, p. 53-81, 2000.
MOTTOLA, M. F. et al. VO2peak prediction and exercise prescription for pregnant wo-
men. Medicine & science in sports & exercise, v. 38, n. 8, p. 1389-1395, 2006.
NÓBREGA, A. C. L. da et al. Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Medicina
do Esporte e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia: atividade física e saúde
no idoso. Revista brasileira de medicina do esporte, v. 5, n. 6, p. 207- 211, 1999.
SILVA, S. G. Atividade física na gestação e desfechos de saúde materno-infantil: coorte
de nascimentos de 2015. Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação em Epidemio-
logia, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Pelotas, 2017.
VIEIRA, F.; FRAGOSO, I. Morfologia e Crescimento. 2. ed. Cruz Quebrada: Faculdade
de Motricidade Humana-Universidade Técnica de Lisboa, 2006.

188
gabarito

Questão 1 - Resposta: alternativa “e”.


Questão 2 - Resposta: alternativa “e”.
Questão 3 - Resposta: alternativas “a”.
Questão 4 - Resposta: alternativa “b”.
Questão 5 - A avaliação do risco é fundamental para as gestantes, antes de realizar
exercícios físicos, pois pode-se encontrar condições contraindicativas relativas e
absolutas. O PARmed-X foi apresentado como uma possível ferramenta de tria-
gem inicial de saúde da gestante. A sessão clássica de exercício físico com esta
gestante incluirá o aquecimento e alongamento um pouco mais prolongado (10
a 15 minutos); a parte principal de condicionamento físico é composta de exer-
cícios aeróbicos e resistidos e o resfriamento em intensidade moderada à baixa,
próxima aos níveis de repouso. Os princípios FITT-VP recomendados pelo ACSM
estão declarados para os exercícios aeróbios: a frequência de três a quatro dias na
semana, de intensidade moderada (monitorada pela percepção de esforço subje-
tiva nos escores de 12 a 14). O tempo das sessões será maior que 15 minutos por
dia, com aumento progressivo até, no máximo, 30 minutos por dia de exercício de
intensidade moderada, acumulado 120 minutos por semana. As atividades físicas
que envolvam grandes grupos musculares de maneira rítmica e dinâmica, como
do tipo caminhadas e pedaladas. Os exercícios resistidos são importantes para
a gestante, destaque para os exercícios que utilizem todos os grandes grupos
musculares com resistência externa suficiente para a gestante tolerar repetições
submáximas (12 a 15 repetições) até a fadiga moderada. Após a 16ª semana de
gestação, a isometria muscular e a manobra de Valsalva devem ser evitadas. Exer-
cícios na água são mais recomendados quando a gestante apresenta lombalgia,
além da redução significativa do impacto das movimentações.

189
conclusão geral
Caro(a) aluno(a), seguimos juntos nesta jornada e aprendemos muito. Ao longo
do livro re-isitamos as definições dos elementos importantes a serem utilizados
em relação à atividade física e à prescrição de exercícios físicos. Ficou evidente
o potencial do exercício físico como tratamento não farmacológico em doenças
crônicas, atuando de forma coadjuvante aos tratamentos convencionais.
Vimos as recomendações para a prática da atividade física e a manipulação
da “dose” de exercício a partir dos princípios básicos do treinamento físico (so-
brecarga, especificidade e variabilidade) e variáveis FITT-VP (frequência, inten-
sidade, tipo, tempo, volume progressão/padrão). Lembre-se: não há “receita de
bolo” e a prescrição de exercícios físicos para pessoas com doenças crônicas ou
em grupos especiais deve ser racional e individualizada.
Aprendemos que a obesidade é uma doença crônica complexa de caráter mul-
tifatorial. O exercício físico pareceu uma ferramenta adicional para o tratamento
dela, especialmente com foco no aumento do gasto energético com impacto em
balanço energético negativo, para a redução de peso de forma contínua e susten-
tável, em médio e longo prazo.
Estudamos que o Diabetes Melito, Hipertensão Arterial, Dislipidemia e a Sín-
drome Metabólica são doenças crônicas, que levam tempo para manifestar sin-
tomas clínicos relevantes e podem causar múltiplas comorbidades e mortalidade
precoce. Portanto, o exercício físico bem planejado e individualizado pode ter
importante significado clínico e de qualidade de vida.
Em todos os casos, sempre será necessário cuidado especial em relação às parti-
cularidades de cada doença crônica ou grupo especial, evitando os desfechos nega-
tivos à saúde. Vimos alguns aspectos importantes sobre isso relacionados à gravidez.
Bem, chegamos ao final e espero que tenha sido uma jornada agradável para
você, e que tenha aproveitado todos os elementos e oportunidades criados, para
que fortaleça a sua formação e agregue ferramentas à sua futura prática profissional.

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