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ano 2020 - volume 19 - número 2 ISSN 1677-8510

R e v i s t aB r a s i l e i r ad e

FISIOLOGIA
DO EXERCÍCIO
BrazilianJournalofExercisePhysiology
Órgão Ocial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

20 anos

• Exercício aquático e modulação autonômica cardíaca de mulheres


na pós-menopausa com diabetes tipo 2

• Exercício multicomponente associado a dupla tarefa: efeitos no desempenho físico


funcional e mobilidade de idosos

• Associação entre fragilidade e doença arterial periférica

• Intervenções cinesioterapêuticas na mobilidade diafragmática de pacientes


com doença pulmonar obstrutiva crônica: revisão sistemática

• Metabolismo dos ácidos graxos, complicações secundárias e efeitos do exercício físico

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - volume 19 - número 2

Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício


V. 19, n. 2 (2020)
ISSN: 1677-8510 (digital)/ DOI: http://dx.doi.org/10.33233/rbfe.v19i2

Sumário
Editorial
Importância da multidisciplinaridade na prescrição do exercício físico
Marvyn de Santana do Sacramento, Victor Barbosa dos Santos, Jefferson Petto................................... 80-81

Artigos em destaque
Exercício aquático e modulação autonômica cardíaca de mulheres na pós-menopausa
com diabetes tipo 2
Eduardo Federighi Baisi Chagas, Angélica Cristiane Cruz, Pedro Henrique Rodrigues,
Cristiano Sales Silva, Robison José Quitério..................................................................................................82-94

Artigos originais
Exercício multicomponente associado a dupla tarefa: efeitos no desempenho
físico funcional e mobilidade de idosos
Janine Carvalho Valentino Camargos, Milena Razuk, Kathisuellen Reis Assis, Alex Tomé,
Natalia Madalena Rinaldi................................................................................................................................95-103
Análise dos sistemas de controle do equilíbrio em idosos praticantes das modalidades
ioga, ginástica e alongamento do Serviço de Orientação ao Exercício de Vitória/ES
Jean Leite Cruz, Milena Razuk, Victor Anthony Mendes Ferreira, Leonardo Araujo Vieira,
Natalia Madalena Rinaldi..............................................................................................................................104-113
Efeito agudo de diferentes métodos de alongamento em crianças dançarinas clássicas
Renata Nascimento, Mariana Desiree, Estevão Rios Monteiro, Aline Ribeiro, Natália Reis,
Leandro Sant’Ana, Jeferson Vianna, Jefferson Novaes, Amanda Brown..............................................114-123
Associação entre fragilidade e doença arterial periférica
Sérgio Ribeiro Barbosa, Natália Rodrigues dos Reis, Henrique Novais Mansur.................................124-133
Relação entre variáveis antropométricas e hemodinâmicas em servidores públicos de Sergipe
Patrícia Morgana Ferreira Santos, Lúcio Marques Vieira Souza, Jymmys Lopes dos Santos,
Matheus Amarante do Nascimento, Clésio Andrade Lima, Ricardo Aurélio Carvalho Sampaio.....134-140
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - volume 19 - número 2

Revisões
Intervenções cinesioterapêuticas na mobilidade diafragmática de pacientes
com doença pulmonar obstrutiva crônica: revisão sistemática
Gilson Rosa de Jesus, Milena Santos Peixoto, Sidney de Souza Oliveira..............................................141-153
Metabolismo dos ácidos graxos, complicações secundárias e efeitos do
exercício físico: revisão integrativa
Djeyne Silveira Wagmacker, Alice Miranda de Oliveira, Edna Conceição de Oliveira, Alan Carlos Nery
dos Santos, Luiz Erlon Araújo Rodrigues, Ana Marice Teixeira Ladeia................................................154-171

Comentário
Comentário sobre: Bente Klarlund Peddersen, Atividade física e
interação-ação músculo-cérebro
Leandro Paim da Cruz Carvalho, Jorge Luiz de Brito Gomes...............................................................172-177
Como citar: Sacramento MS, Santos VB, Petto J. Importância da multidisciplinaridade na prescrição do exercício
open acess físico. Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):80-81. DOI: https://doi.org/10.33233/rbfe.v19i2.4063 80

RBFEx Revista Brasileira de


ISSN: 2675-1372 Fisiologia do Exercício
Editorial

Importância da multidisciplinaridade na prescrição


do exercício físico
Importance of multidisciplinarity in physical exercise prescription

Marvyn de Santana do Sacramento1,2,3, Victor Barbosa dos Santos1,3,


Jefferson Petto1,2,3,4,5
1. ACTUS CORDIOS Reabilitação Cardiovascular, Respiratória e Metabólica, Salvador, BA, Brasil.
2. Centro Universitário Social da Bahia, Salvador, BA, Brasil.
3. Fauldade do Centro Oeste Paulista, Bauru, SP, Brasil.
4. Faculdade Adventista da Bahia, Capoeiruçu, BA, Brasil.
5. Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil.

O exercício físico (EF) é um instrumento para a promoção de saúde que


apresenta como desfechos: melhora da capacidade funcional, prevenção e cor-
reção de agravos patológicos, melhora da percepção corporal, qualidade de vida
e outros. Porém, o alcance desses benefícios envolve o conhecimento sobre múl-
tiplos aspectos, muitas vezes não abordados na formação do profissional que
trabalha com o movimento corporal [1].
Deter conhecimento sobre as nuances do EF é um item capital para a
prescrição correta, mas, a contribuição de outras áreas define o nível de asser-
tividade da terapêutica. Se pensarmos no processo de reabilitação metabólica,
por exemplo, o paciente que apresenta quadro de obesidade central, Diabete
Mellitus tipo 2 e Dislipidemia possui grandes chances de ser beneficiado com
o EF. Mas, a realização de um acompanhamento multidisciplinar permitiria a
cobertura mais ampla dos aspectos clínicos deste paciente, agregando informa-
ções sobre a condição nutricional, endócrina e psicológica [1].
Pensando no aspecto nutricional, um dos elementos que poderiam in-
fluenciar o desfecho do EF é a orientação para uma dieta baseada em nutrientes
capazes de combater agravos instalados ou repor substâncias ausentes. Seguin-
do esta linha, uma das orientações possíveis seria o consumo de fitosterol, cuja
suplementação em 2g/dia vem sendo apontada como capaz de diminuir até 15%
das lipoproteínas de baixa densidade (LDL). Além de reduzir um fator de risco
independente para a doença aterosclerótica, outros cuidados podem ser toma-
dos sobre o controle do estresse oxidativo e redução de massa gorda [2].
Ao considerar o DM como a doença de base neste caso e a sua extensa
ligação com a função endócrina pancreática e metabólica, precisamos atentar
para o acompanhamento com o médico especialista. As decisões tomadas por
este profissional permitem manter as variáveis bioquímicas em nível ótimo,
com acréscimo ou redução de fármacos para controle glicêmico e perfil lipídico.
Porém, a janela terapêutica farmacológica deve ser compreendida pelo profis-
sional do movimento, a fim de evitar intercorrências como a hipoglicemia du-

Correspondência: Marvyn de Santana do Sacramento. Av. Anita Garibaldi, 1815 , CME, Sala 13. Ondina, Salvador
- BA, 40170-130. E-mail: marvynsantana@gmail.com
Sacramento et al. 81
Multidisciplinaridade na prescrição do Exercício

rante ou após o exercício físico. Em segundo lugar, ressaltamos que a tomada de


decisão em uma equipe não está isenta de ajustes para qualquer profissional,
podendo ser modificada constantemente em função do desenvolvimento do
paciente. Ainda sobre o exercício e a glicemia, o mesmo é capaz de aumentar a
captação de glicose, mediada pela translocação dos transportadores de glicose
(GLUT-4) do sarcoplasma para o sarcolema [3]. Desta forma, a aplicação de no-
vas doses de medicação hipoglicemiante amplifica esse efeito, então, por que
não discutir os horários de aplicação, dosagens, troca de fármacos ou quiçá sua
remoção completa?
Não distante desta realidade, o paciente do caso hipotético ainda pode
evadir o programa de reabilitação pela falta de acompanhamento família ou
traumas anteriores ligados à prática motora. Neste cenário, a permanência des-
te paciente depende quase exclusivamente do acompanhamento do psicólogo.
O estudo de Turner et al. [4] a respeito da opinião de pacientes e enfermeiros
sobre a participação destes profissionais no âmbito da reabilitação cardíaca, de-
monstra um posicionamento favorável à sua permanência. Porém, esta não é a
realidade nos sistemas de atendimento, e são “justificadas” pelo custo e tempo
reduzido em hospitais.
Esta ligação entre as diferentes profissões permite discutir as reais ne-
cessidades de medicações, dosagens do exercício, carências nutricionais e psi-
cológicas, o que diminui respectivamente o tempo de tratamento, riscos de in-
tercorrências e abandono às intervenções [5]. Logo, esta deveria ser à base dos
sistemas de atendimento especializados. Compreendemos que fatores adminis-
trativos possam implicar no funcionamento harmonioso desse sistema e até
torna-los mais onerosos, mas, considerando todas as implicações de um progra-
ma mal estruturado, um esforço nesta direção não seria a melhor opção? Seja
ela por implementação ou indicação profissional.
Ademais, o segredo para boa atuação profissional não reside em ter ple-
no conhecimento e habilitação para atuar em diversas áreas da saúde, mas, na
capacidade de identificar situações onde a terapêutica conjunta beneficie de
forma expressiva a vida de cada paciente.

Referências

1. Soukup T, Lamb BW, Arora S, Darzi A, Sevdalis N, Green JS. Successful strategies in imple-
menting a multidisciplinary team working in the care of patients with cancer: an overview
and synthesis of the available literature. J Multidiscip Healthc. 2018;11:49-61. https://doi.
org/10.2147/JMDH.S117945.
2. Berge KE, Tian H, Graf GA, Yu L, Grishin NV, Schultz J et al. Accumulation of dietary
cholesterol in sitosterolemia caused by mutations in adjacent ABC transporters. Science
2000;290(5497):1771-5. https://doi.org/10.1126/science.290.5497.1771
3. Vancea DMD, Vancea JN, Pires MIF, Reis MA, Moura RB, Dib AS. Efeito da frequência do exer-
cício físico no controle glicêmico e composição corporal de diabéticos tipo 2. Arq Bras Cardiol
2009;92(1):23:30. https://doi.org/10.1590/S0066-782X2009000100005
4. Turner KM, Winder R, Campbell JL, Richards DA, Gandhi M, Dickens CM et al. BMJ Open
2017;7:e017510. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2017-017510
5. Rosell L, Alexandersson N, Hagberg O, Nilbert M. Benefits, barriers and opinions on multi-
disciplinary team meetings: a survey in Swedish cancer care. BMC Health Serv Res 2018;18:249.
https://doi.org/10.1186/s12913-018-2990-4
Como citar: Chagas EFB, Cruz AC, Rodrigues PH, Silva CS, Quitério RJ. Exercício aquático e modulação
open acess autonômica cardíaca de mulheres na pós-menopausa com diabetes tipo 2. Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):82- 82
94. DOI: https://doi.org/10.33233/rbfe.v19i2.3120

RBFEx Revista Brasileira de


ISSN: 2675-1372 Fisiologia do Exercício
Artigo Original

Exercício aquático e modulação autonômica


cardíaca de mulheres na pós-menopausa com
diabetes tipo 2
Aquatic exercise and cardiac autonomic modulation of postmenopausal
women with type 2 diabetes

Eduardo Federighi Baisi Chagas1,2, Angélica Cristiane da Cruz2, Pedro Henrique


Rodrigues2, Cristiano Sales da Silva2,3, Robison José Quitério2
1. Universidade de Marilia (UNIMAR), Marília/SP, Brasil.
2. Programa de post-graduação em desenvolvimento humano e tecnologia, Insituto de Biociências (UNESP), Campus Rio
Claro, Rio Claro/SP, Brasil.
3. Universidade Federal do Piauí (UFPI), Departamento de Fisioterapia, Campus de Parnaíba/PI, Brasil.

RESUMO
Objetivo: Investigar o efeito de 12 semanas de um programa de exercícios aquáticos na
modulação autonômica cardíaca pelo índice de variabilidade da frequência cardíaca
(VFC) de mulheres com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) na pós-menopausa. Métodos:
Um ensaio clínico randomizado foi realizado em 25 mulheres com idade entre 51 e 83
anos, dividido em grupo de exercício (GE) (n = 13), submetido por 12 semanas a duas
sessões semanais de 50 minutos cada, e grupo controle (GC) (n = 12) sem exercício.
Resultados: Em relação à modulação autonômica cardíaca, foi observada interação sig-
nificativa para os valores de TINN (ms) indicando um pequeno aumento no GE, mas
principalmente uma redução no GC. A análise de regressão também apontou o efeito
do exercício aquático na redução da razão LF/HF, após o controle de covariáveis pres-
são arterial diastólica e dislipidemia. Conclusão: O exercício aquático teve um efeito
significativo na redução do risco cardiovascular, principalmente em relação à glicemia
e obesidade abdominal, o que pode representar um efeito protetor do exercício na pro-
gressão da disfunção autonômica, mas seu efeito na modulação autonômica parece
depender de maior volume e tempo com exercícios aquáticos.

Palavras-chave: diabetes, mulheres, menopausa, sistema nervoso autonômico.

ABSTRACT
Objective: Investigating the effect of 12 weeks of an aquatic exercise program on car-
diac autonomic modulation by heart rate variability index of postmenopausal women
with type 2 diabetes mellitus (T2DM). Methods: A randomized clinical trial was perfor-
med in 25 women aged 51 to 83 years, divided into exercise group (EG) (n = 13) submit-
ted for 12 weeks to two weekly sessions of 50 minutes each, and control group (CG) (n
= 12) without exercise. Results: Regarding cardiac autonomic modulation significant
interaction was observed for TINN values (ms), indicating a slight increase in EG, but
mostly a reduction in CG. The regression analysis also pointed effect of aquatic exercise
on reducing the LF/HF ratio, after controlling for covariates diastolic blood pressure
and dyslipidemia. Conclusion: The aquatic exercise had a significant effect on the re-
Recebido: 31 de julho de 2019; Aceito: 9 de março de 2020.
Correspondência: Eduardo Federighi Baisi Chagas, Rua Humaitá, 190 casa 8, 17513-160 Marília, SP. E-mail:
efbchagas@gmail.com
Chagas et al. 83
Exercício aquático e modulação autonômica

duction of cardiovascular risk, mainly in relation to glycemia and abdominal obesity,


which may represent a protective effect of exercise in the progression of autonomic
dysfunction, but its effect on autonomic modulation seems to depend on a greater
volume and time with aquatic exercise.

Key-words: diabetes, women, menopause, autonomic nervous system.

Introdução

As complicações no diabetes mellitus tipo 2 (DM2) são parcialmente de-


vidas ao estado hiperglicêmico das vias tóxicas ativas nos tecidos independen-
tes da insulina, causando dano celular, o que, por sua vez, aumenta o risco car-
diovascular [1]. Nas mulheres, as alterações dos hormônios esteróides sexuais
no período pós-menopausa estão associadas a um risco aumentado de doença
cardiovascular, além de afetar a frequência cardíaca e a regulação do sistema
nervoso autônomo (SNA) [2].
Nas células endoteliais, a hiperglicemia altera o fluxo sanguíneo dos ner-
vos, diminuindo a capacidade de tamponamento de radicais livres nos nervos e
esgotando as reservas de energia disponíveis, que resulta em necrose celular e
ativação de genes envolvidos no dano neuronal [3]. Assim, a hiperglicemia crô-
nica está envolvida no processo de destruição da bainha de mielina das fibras
nervosas, resultando em disfunção autonômica e diminuição da variabilidade
da frequência cardíaca (VFC) observada nas neuropatias [4].
O SNA é um componente importante no controle da homeostase e a
redução na sua capacidade tem sido relacionada a várias doenças do sistema
cardiovascular [5]. No caso do DM2, o dano ao SNA está diretamente relaciona-
do à duração da doença e, portanto, as aplicações clínicas de ferramentas que
permitem sua avaliação são de fundamental importância [6]. A análise da VFC
é um desses métodos e permite monitorar a progressão da doença e a eficácia
terapêutica das intervenções [7].
Quanto às estratégias de tratamento do diabetes tipo 2, o exercício é
amplamente recomendado, contribuindo para um melhor controle glicêmico
e reduzindo os fatores de risco cardiovascular [8,9]. No entanto, o estudo do
efeito terapêutico do exercício sobre a modulação autonômica cardíaca ainda é
recente e, embora haja evidências de que o exercício aeróbico e resistido tenha
um efeito positivo na modulação autonômica em populações de alto risco [10]
também existem estudos que não encontraram melhora significativa após exer-
cício combinado de treinamento aeróbico e resistido [11,12].
Além disso, ao considerar o exercício aquático, há pouca evidência sobre
o efeito desse tipo de exercício na melhoria da modulação autonômica cardíaca
[13,14] principalmente na população de mulheres na pós-menopausa com dia-
betes tipo 2. Assim, o objetivo do estudo foi analisar o efeito de um programa
de exercícios aquáticos na modulação autonômica cardíaca por meio da varia-
bilidade da frequência cardíaca em mulheres com diabetes mellitus tipo 2 na
pós-menopausa.
84
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):82-94

Material e métodos

População do estudo e casuística

O tamanho da amostra (n) foi determinado para analisar a interação


entre o grupo e o tempo de intervenção pela ANOVA de medidas repetidas. Para
um tamanho de efeito médio (0,30), uma margem de erro tipo I (α) de 5% e
um estudo de poder de 80%, foi estimado um tamanho mínimo da amostra de
24 elementos. O cálculo do tamanho da amostra foi realizado no software G *
Power, versão 3.1.9.2 (Franz Faul, Universidade de Kiel, Alemanha). A amostra
foi composta por 26 mulheres com idade entre 51 e 83 anos e amenorréia por
pelo menos 12 meses, diagnosticadas com diabetes tipo 2 por pelo menos três
anos e sedentárias (<150 minutos por semana de exercício moderado ou vigoro-
so nos últimos três meses).
Foi realizado um estudo de intervenção (tratamento), paralelo de dois
braços, mascaramento aberto e alocação randomizada controlada. A Figura 1
mostra o fluxograma de seguimento dos participantes do estudo. Os pacientes
foram submetidos a uma avaliação inicial com histórico de doença, terapia me-
dicamentosa, estado pós-menopausa e padrões de atividade física. Após a ava-
liação inicial, os voluntários incluídos no estudo foram submetidos a medidas
antropométricas, glicemia de jejum, pressão arterial e registro de intervalos RR
(intervalos RR) para análise da variabilidade da frequência cardíaca (VFC). Pos-
teriormente, os voluntários foram randomizados e alocados no grupo exercício
(GE) e grupo controle (GC). A alocação foi feita através de sorteio em envelope
lacrado. A coleta de dados foi realizada em dois dias não consecutivos e repetida
após 12 semanas do período de intervenção. As medidas pós-intervenção foram
realizadas sete dias após o final do período de intervenção. Após o final do es-
tudo, os pacientes alocados no GC foram convidados a participar do programa
de exercícios aquáticos nas mesmas condições do GE.
Foram incluídos inicialmente no estudo todos os pacientes com DM2 e
encaminhamento médico ao Laboratório de Avaliação Física e Prática do Espor-
te Unimar (LAFIPE-UNIMAR) para a prática de exercícios aquáticos. Não foram
incluídos no estudo os pacientes que: não pudessem entrar e sair de forma in-
dependente da piscina; incapacidade de entender e seguir comandos verbais;
amputações e/ou uso de membros protéticos; sequelas de acidente vascular ce-
rebral; Mal de Parkinson; fraturas dos membros inferiores e / ou coluna após 60
anos; labirintite incapacitante; otite; hidrofobia; lesões de pele; angina instá-
vel; hipertensão não controlada e deformidade do pé. Foram excluídos do estu-
do pacientes que não completaram o protocolo de avaliação e intervenção.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Marí-
lia-SP (UNIMAR) (protocolo n ° 1441220/2016 do CAAE: 53040116.2.0000.5496),
e seguiu os critérios estabelecidos na resolução do Conselho Nacional de Saúde
(CNS 466/12). O estudo foi registrado no Rebec (Registro Brasileiro de Ensaios
Clínicos) (Número do Registro: RBR-8btc25).
Chagas et al. 85
Exercício aquático e modulação autonômica

Figura 1 - Fluxograma de seguimento de voluntários.

Variáveis do estudo

A prevalência de doenças crônicas na população estudada foi obtida por


questionário de morbidade referida e confirmada pelo diagnóstico clínico no
encaminhamento médico. O questionário de morbidade obteve informações
sobre a presença ou ausência de doenças crônicas distribuídas em metabólica,
cardiovascular e reumatologia, além do tempo de diagnóstico da doença e in-
formações sobre o uso de medicamentos. O questionário foi complementado
com informações sobre o padrão de atividade física habitual nos últimos três
meses.

Fatores de risco cardiovascular

A glicemia de jejum (GL) foi realizada na refletância espectrofotomé-


trica do analisador bioquímico (Accutrend Plus, Roche Diagnostics, 2007) no
sangue venoso por punção cubital após jejum noturno de 8 horas. A pressão ar-
terial (PA) foi medida em decúbito dorsal após vinte minutos de descanso com
equipamento digital automático (Omron HEM-742-INT China).
Para a análise da composição corporal foram realizadas medidas antro-
pométricas de peso, estatura e circunferência da cintura (CC). Valores de circun-
ferência da cintura (CC) iguais ou superiores a 80 cm foram classificados como
86
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):82-94

obesidade central. Os valores do Índice de Massa Corporal (IMC) maior ou igual


a 30 (kg/m2) foram classificados como obesidade geral [15].

Variabilidade da frequência cardíaca

A frequência cardíaca (FC) e os intervalos RR instantâneos foram regis-


trados por 20 minutos na posição supina por um sistema de telemetria digital
(Polar RS800CX, Polar Electro Oy, Kempele, Finlândia). Os trechos estáveis foram
selecionados a partir de uma série de 256 pontos e posteriormente analisados
no Software Kubios (HRV versão 2.0, Universidade de Kuopio, Finlândia). No
domínio do tempo foram considerados os índices de: raiz quadrada das diferen-
ças quadráticas médias entre intervalos regulares sucessivos (RMSSD), expresso
em ms e histograma de largura base do intervalo RR (TINN). Para a análise no
domínio da frequência, foi utilizado o método autoregressivo, considerando o
sinal nas bandas de alta frequência (HF - 0,15 a 0,4 Hz) e baixa frequência (LF -
0,04 e 0,15 Hz) para o cálculo da razão LF / HF, que representa o simpato-vagal.
Também foram calculados os derivados SD1 e SD2 do gráfico de Poincaré [16].

Protocolo de intervenção

O período de intervenção foi de 12 semanas, com duas sessões sema-


nais com duração de 50 minutos cada para o grupo de exercícios (GE). O grupo
controle (GC) recebeu orientações para a manutenção dos hábitos de vida e
atividade física identificados na linha de base. As sessões de exercícios foram
realizadas em piscina aquecida a temperatura média de 28 ° C, 1,3 m de profun-
didade e em grupos de até seis voluntários.
Na fase inicial (cinco minutos) foram realizados exercícios de alonga-
mento ativo com duração de 30 segundos cada e exercícios dinâmicos em sé-
ries de 10 repetições para as articulações, pescoço, ombros, cotovelos, pulsos,
quadris, joelho e tornozelo. Na fase principal (40 minutos) foram realizados
exercícios de seis blocos com cinco minutos cada, combinando movimentos dos
membros superiores (MMS) e membros inferiores (MMI), totalizando 30 minu-
tos [17]. A intensidade alvo foi de moderada a vigorosa, controlada pela escala
de percepção de esforço entre 12 e 14 pontos, de acordo com a escala de Borg (6
a 20) [18]. A fase final teve duração de cinco minutos, na qual foram realizados
exercícios de alongamento semelhantes à fase inicial (deltóides, bíceps, tríceps,
peitorais, dorsais, quadríceps, isquiotibiais e panturrilha).

Análise estatística

As variáveis ​​quantitativas são descritas pela média e desvio padrão (DP).


As variáveis qualitativas
​​ são descritas pela distribuição da frequência absoluta
(f) e relativa (%). Para analisar a associação entre variáveis qualitativas
​​ foi
utilizado o teste exato de Fisher. A normalidade da distribuição foi verificada
pelo teste de Shapiro-Wilk com correção de Lilliefors. Para analisar o efeito da
intervenção entre os grupos (controle x exercício), uma ANOVA mista foi cons-
truída para medidas repetidas, seguida pelo teste post hoc de Bonferroni para
analisar o efeito dentro dos grupos. O tamanho do efeito foi determinado por
meio dos valores quadrados ETA (η2). A variação delta (Δ) (Δ = Pós-treinamen-
to - Pré-treinamento) entre os momentos pré e o pós-intervenção foi utilizada
Chagas et al. 87
Exercício aquático e modulação autonômica

para quantificar a variação das variáveis ​​quantitativas. A regressão linear múl-


tipla foi usada para analisar o efeito do grupo, valores basais e covariáveis ​​sobre
a variação delta dos índices de VFC. O R2 foi analisado para verificar a determi-
nação do coeficiente de variação percentual explicado pelo modelo. Para todas
as análises, foi utilizado o software SPSS versão 19.0 para Windows, adotando
um nível de significância de 5%.

Resultados

A adesão média do grupo de exercícios nas sessões de exercícios aquá-


ticos foi de 65% para um total de 24 sessões. Não foram observadas diferenças
significativas entre os grupos quanto à idade, tempo de diagnóstico de DM2,
morbidades e terapia medicamentosa (Tabela I). Em relação ao uso de beta-
bloqueadores (atenolol e propranolol), observou-se dosagem entre 20 e 50 mg
/ dia. Foi observada uma redução significativa na glicemia de jejum, no IMC e
no CC no grupo de exercício, mas não houve alteração significativa na pressão
sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD). No grupo controle, não houve
alteração significativa na composição corporal e pressão arterial, com exceção
dos valores de glicemia de jejum e da circunferência da cintura que apresenta-
ram um aumento significativo (Tabela II).
Tabela I - Comparação entre os grupos em relação a idade, tempo de diagnóstico de DM2 e pre-
sença de morbidades.

Controle (n = 12) Exercício (n = 13)

Média‡DP Média‡DP p-valor


Idade (anos) 65,6 ± 10,1 66,6 ± 6,7 0,764
Tempo diagnóstico DM2 (anos) 12,6 ± 9,1 8,2 ± 4,7 0,134
% % p-valor

Morbidade
Hipertensão 100,0 76,9 0,220
Obesidade abdminal (CC) 75,0 92,3 0,322
Obesidade global (IMC) 41,7 69,2 0,174
Osteoartrite 66,7 46,2 0,593
Dislipidemia 50,0 46,2 0,851
Osteoporose 25,0 15,0 0,645
Artrite 8,3 23,1 0,428
Medicação
Beta-bloqueador 33,3 38,5 0,794
ECA 66,7 53,8 0,688
BCC 25,0 7,7 0,322
Metformina 100,0 100,0 -
Insulina 8,3 15,4 0,595
Para comparação de média o p-valor foi calculado pelo teste t não pareado; para distribuição da
frequência relativa (%) p-valor foi calculado pelo teste exato de Fisher. BCC = Bloqueadores dos
canais de cálcio; CC = Circunferência da cintura; ECA = Inibidores da enzima de conversão da
angiotensina; IMC = Índice de massa corporal IMC.
88
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):82-94

Tabela II - Média e desvio padrão (DP) dos fatores de risco cardiovascular e índices de varia-
bilidade da frequência cardíaca para os grupos controle e intervenção nos momentos pré e
pós-intervenção.
Intera-  
Pré Pós Pré Pós Tempo Grupo
ção
Variáveis Média ±DP Média ±DP Média ±DP Média ±DP p-valor p-valor p-valor η2
0,002
GL (mg/dL) 158,6 ± 39 182,5± 44 † 135,5 ± 32 112,0 ± 15 † 0,973 0,0001 * 0,566
**
0,025
IMC (kg/m2) 29,9 ± 7,9 30,1 ± 8,0 31,0 ± 6,1 30,4 ± 3,9 † 0,784 0,0001 * 0,439
***
CC (cm) 88,0 ± 29 89,7 ± 30 † 99,6 ± 9,1 96,4 ± 8,1 † 0,071 0,303 0,0001 * 0,621
PAS (mmHg) 121,5 ± 13 123,5 ± 12 128,6 ± 22 130,8 ± 17 0,494 0,255 0,968 0,001
PAD (mmHg) 77,0 ± 14 73,3 ± 8,9 80,4 ± 8,6 75,3 ± 7,6 0,087 0,407 0,766 0,004
FC (bpm) 71,9 ± 10,7 71,8 ± 10,2 67,0 ± 11,1 68,6 ± 11,9 0,510 0,362 0,449 0,025
RMSSD (ms) 15,7 ± 11,2 13,9 ± 9,0 18,0 ± 8,5 20,2 ± 10,9 0,897 0,25 0,254 0,056
TINN (ms) 92,0 ± 50,1 62,5 ± 35,4 † 86,1 ± 55,2 90,3 ± 52,2 0,113 0,55 0,039 * 0,173
LF (ms )
2
111 ± 125 80,9 ± 69 289 ± 351 272 ± 225 0,565 0,031 0,876 0,001
LF/ HF (ratio) 1,79 ± 1,3 2,73 ± 2,8 2,96 ± 3,2 2,74 ± 2,8 0,495 0,541 0,271 0,052
SD1 (ms) 11,1 ± 8,0 9,9 ± 6,4 12,8 ± 6,0 14,3 ± 7,7 0,905 0,251 0,26 0,055

SD2 (ms) 30,3 ± 13,8 24,9 ± 12,8 39,1 ± 24,8 39,3 ± 17,9 0,409 0,093 0,378 0,034
p≤0,05 efeito significativo de interação entre grupo e tempo; **p≤0,05 diferença significativa
entre os grupos; ***p≤0,05 efeito significativo do tempo. †p = 0,05 diferenças significativas em
relação ao momento pré-intervenção dentro de cada grupo pelo teste Post-Hoc de Bonferroni.
η2 (tamanho do efeito); CC = Circunferência da cintura; FC = Frequência cardíaca (FC); GL =
Glicemia de jejum (GL); IMC = Índice de massa corporal (IMC); PAD = Pressão arterial diastóli-
ca; PAS = Pressão arterial sistólica.

Houve uma interação significativa entre o grupo e o tempo de inter-


venção para os valores de TINN (ms), indicando maior variabilidade geral da
frequência cardíaca no GE e redução no GC. Embora não seja significativo do
ponto de vista estatístico, houve um aumento nos valores de RMSSD e SD1 no
GE e redução no GC (Tabela II). Embora não signicativo, o GE apresentou redu-
ção nos valores de LF/HF e o GC aumento. No entanto, após o controle da PAD e
dislipidemia, houve efeito significativo da intervenção com exercício aquático
nos valores LF/HF pela análise de regressão (tabela III). Os valores basais mos-
traram efeito significativo, mas discreto, sobre as variações dos valores TINN e
SD2. O aumento dos valores de CC teve um efeito significativo na redução dos
valores de TINN. Embora o aumento da PAS tenha mostrado efeito significativo
sobre o aumento dos valores de RMSSD e SD1, como também o aumento da PAD
mostrou efeito significativo sobre a redução dos valores de LF/HF, estes foram
discretos e não demonstram significado clínico (tabela III).
Chagas et al. 89
Exercício aquático e modulação autonômica

Tabela III - Análise de regressão linear do efeito das covariáveis e do grupo sobre a a variação
delta (Δ) dos índices de variabilidade da frequência cardiáca.
    Coeficiente de regressão    

Variáveís IC 95% Modelo


Dependente Independente B Inf Sup p-valor R2 p-valor
Δ RMSSD (ms) Constante -0,3 -3,4 2,9 0,86
0,226 0,016 *
  Δ PAS (mmHg) 0,3 0,1 0,5 0,016 *
Δ TINN (ms) Constante 13,2 -13,5 39,8 0,317
Δ CC (cm) -6,5 -10,7 -2,3 0,004 * 0,506 0,0001 **
  TINN (ms) pré -0,3 -0,6 -0,1 0,010 *
Δ LF (ms2) Constante 72,1 8,6 135,7 0,027 *

LF (ms) pré -0,6 -0,8 -0,4 0,0001 * 0,653 0,007 *


  Δ CC (cm) -23,9 -40,8 -7 0,007 *
Δ LF / HF Constante 1,3 0,01 2,6 0,055
Δ PAD (mmHg) -0,1 -0,2 -0,1 0,0003 *
0,609 0,0001 **
Dislipidemia -1,7 -3,1 -0,2 0,029 *
  Grupo -1,4 -2,9 -0,01 0,050 *
Δ SD1 (ms) Constante -0,2 -2,4 2 0,848
0,229 0,015 *
  Δ PAS (mmHg) 0,2 0,1 0,4 0,015 *
Δ SD2 (ms) Constante 12,6 2,01 23,17 0,022
0,334 0,002 **
  SD2 (ms) pré -0,43 -0,69 -0,17 0,002 *
Coeficiente de regressão (B); Intervalo de confiança (IC) para o coeficiente de regressão; Limite
inferior (Inf); Limite superior (Sup); * p-valor ≤0,05 efeito significativo do coeficiente de regres-
são da variável independente; ** p≤0,05 efeito significativo do modelo para prever alterações na
variável dependente; R2 proporção de variação da variável dependente explicada pelas variáveis
independentes; CC = Circunferência da cintura; Dislipidemia (0 = ausente, 1 = presente); Grupo
(0 = controle / exercício = 1);PAD = Pressão arterial diastólica; PAS = Pressão arterial sistólica.

Discussão

Quanto às características da amostra, observou-se alta prevalência de


fatores de risco cardiovascular e osteoartrite, indicando os efeitos tanto do
processo de envelhecimento associado à condição pós-menopausa, quanto aos
efeitos deletérios do estado hiperglicêmico relacionados ao DM2 [19]. A alta
prevalência de comorbidades na amostra também sugere que os danos ao SNA
já devem estar presentes, principalmente devido à alta prevalência de pressão
alta (hipertensão) e tempo de diagnóstico de DM2 na amostra [20]. Embora o
uso de valores de referência para interpretação dos índices de VFC ainda seja
controverso [21], valores reduzidos dos índices de variabilidade global (SD2) e
de modulação parassimpática (RMSSD e SD1) na linha de base [22,23], sugerem
a presença de disfunção autonômica na amostra estudada.
Em relação ao efeito da intervenção com exercício aquático, foram ob-
servadas reduções significativas nos fatores de risco cardiovascular, mas não
houve efeito significativo do exercício aquático sobre pressão arterial e frequ-
ência cardíaca em repouso. Em relação ao índice de VFC, houve efeito de intera-
90
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):82-94

ção significativo apenas nos valores de TINN (ms), com discreto aumento no GE
e redução no GC. A análise de regressão indicou um possível efeito do exercício
aquático na redução dos valores da razão LF / HF, mas esse efeito foi dependente
da presença de dislipidemia e reduções na PAD.
Apesar do aumento da maioria dos índices lineares de VFC (RMSSD, SD1
e SD2) no GE, estes não foram confirmados por análise estatística. Isso ocorre
porque o efeito do exercício na modulação autonômica cardíaca parece ser de-
pendente da sobrecarga e o tempo de intervenção com exercício [24]. Portanto,
a baixa adesão (65%) da participação em sessões de treinamento pode ter in-
fluenciado o efeito do exercício aquático na modulação autonômica. Entretan-
to, ao considerar a alta prevalência de comorbidades na população de mulheres
na pós-menopausa com diabetes tipo 2, a baixa adesão aos programas de exercí-
cios reflete uma realidade clínica, pois esses pacientes precisam se afastar com
frequência para comparecer em consultas médicas, bem como para ajudar no
cuidado de familiares [25].
Entre os estudos que mostraram efeito significativo de 12 semanas de
exercício físico de intensidade moderada a vigorosa na modulação autonômi-
ca cardíaca, o uso de três sessões semanais mostra-se um aspecto importante
[12,26,27], o que indica que uma frequência semanal mais alta pode contribuir
positivamente para a melhoria da modulação autonômica. Deste modo, o au-
mento da frequência semanal tem relação com a amplitude da melhora da mo-
dulação autonômica cardíaca [28], indicando a importância desse componente
da carga de exercício nas adaptações observáveis na modulação autonômica
cardíaca. Porém, em nenhum desses estudos foi observado o uso de exercícios
aquáticos.
Assim, duas sessões semanais podem não ser suficientes para observar
um efeito significativo na modulação autonômica cardíaca após 12 semanas de
intervenção, com exercícios de moderado a vigoroso, principalmente quando há
baixa adesão às sessões de treinamento, conforme encontrado neste estudo. Por
outro lado, no caso de uma intervenção de exercício aquático [13,14] ou na terra
[11,29] em longo prazo, duas sessões semanais de intensidade moderada a vigo-
rosa foram observados efeitos significativos na melhora da modulação cardíaca
autonômica. Assim, o efeito do exercício de moderado a vigoroso na modulação
autonômica se mostra dependente da relação entre o tempo de intervenção e a
frequência semanal de sessões de exercício.
Outro fator que pode influenciar o efeito da intervenção com o exercício
aquático na adaptação da resposta da modulação autonômica cardíaca, são os
valores observados na linha de base, que também estão relacionados à condição
de saúde do paciente. Observou-se pela análise de regressão que os valores re-
duzidos na linha de base estavam relacionados a maiores variações dos valores
de TINN e SD2. Essa relação também pode ser observada em outros estudos de
intervenção com exercícios [30-32], nos quais os efeitos de maior amplitude na
modulação autonômica cardíaca ocorreram naqueles indivíduos com valores
reduzidos na linha de base e foram associados à presença de condições patoló-
gicas.
A análise de regressão também indicou que fatores como dislipidemia e
variações na CC, PAS e PAD também podem influenciar significativamente os
ajustes da VFC. Efeito significativo da dislipidemia na redução dos valores de LF
(nu) e da relação LF/HF. Embora a presença de dislipidemia e baixa VFC esteja
relacionada a um maior risco cardiovascular, a relação entre lipídios séricos e
Chagas et al. 91
Exercício aquático e modulação autonômica

VFC ainda é pouco estudada em pacientes com diabetes e doença cardiovascu-


lar [33]. No entanto, a presença de dislipidemia é uma condição desfavorável à
saúde e, portanto, pode estar relacionada à redução da VFC, o que favorece seu
aumento em resposta à intervenção com exercício físico.
A obesidade central tem sido associada a uma pior modulação autonômi-
ca cardíaca e redução da VFC [10]. Observou-se que, pela análise de regressão, as
reduções na CC contribuíram para aumentar significativamente a variabilidade
geral representada pelo índice TINN (ms). Em relação ao efeito da redução da CC
na redução dos valores de LF (ms2), isso foi observado apenas em pacientes com
valores de LF (ms2) maiores no início do estudo. Por outro lado, para pacientes
com valores de LF (ms2) reduzidos, observou-se que a redução da CC contribuiu
para o aumento dos valores de LF (ms2). No entanto, naqueles pacientes com
valores de LF (ms2) reduzidos no início, os aumentos em seus valores devem ser
interpretados como uma adaptação positiva [30], porque valores muito baixos
de LF (ms2) estão relacionados à disfunção autonômica [31,34].
Embora o efeito significativo da variação do PAS nos valores de RMSSD
e SD1 pela análise de regressão tenha sido pequeno, é necessária uma grande
variação na PAS para produzir um efeito considerável nesses índices de VFC.
O efeito significativo da redução da PAD na redução do LF/HF parece ser mais
evidente nos pacientes com dislipidemia. Assim, os pacientes com dislipidemia
submetidos a exercício aquático e diminuição da PAD apresentaram as maiores
reduções nos valores da razão LF / HF. Esse efeito pode estar relacionado à me-
lhora da sensibilidade barorreflexa, que, por sua vez, está relacionada a melho-
rias na VFC [35,36].
Embora o exercício aquático de 12 semanas tenha produzido um peque-
no efeito na modulação autonômica cardíaca de mulheres na pós-menopausa
com diabetes tipo 2, diminuições na composição corporal e glicemia de jejum
indicam um efeito protetor do exercício aquático na progressão da disfunção
autonômica [4,32]. Do ponto de vista clínico, a manutenção do equilíbrio au-
tonômico cardíaco ou progressão da disfunção autonômica está diretamente
relacionada ao controle glicêmico e condições de saúde do paciente, que podem
ser influenciadas pelo exercício [37].
Uma limitação do estudo está relacionada ao método utilizado para con-
trolar a intensidade do exercício físico. Embora o uso da escala de percepção do
esforço de Borg seja amplamente aceito, esse método isolado pode não ser pre-
ciso. Uma alternativa interessante para o controle da intensidade do exercício
seria o uso do monitoramento da frequência cardíaca juntamente com a escala
de percepção do esforço. O uso da frequência cardíaca e da escala de percepção
de esforço de maneira combinada é importante, pois, na população idosa com
diabetes, tanto a disfunção autonômica quanto o uso de medicamentos beta-
bloqueadores podem alterar a resposta da frequência cardíaca.
Quanto ao tipo de exercício, poucos estudos examinaram a relação entre
exercício aquático e modulação autonômica cardíaca [13,14], e nenhum deles
é analisado em relação à população de mulheres na pós-menopausa com DM2.
Assim, este estudo contribui à pesquisa sobre a relação entre exercício aquático
e modulação autonômica cardíaca de pacientes com DM2 na pós-menopausa.
Além disso, existem evidências de que o exercício na água pode promover maior
adesão aos programas de exercícios, além de permitir a realização de exercícios
vigorosamente intensos por mais tempo, mesmo em pacientes com sintomas de
dor, doenças osteoarticulares e capacidade funcional reduzida [38,39].
92
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):82-94

Conclusão

Embora o efeito do programa de exercícios aquáticos no aumento dos


valores de TINN (ms) tenha sido leve e o efeito na redução da razão LF / HF te-
nha sido dependente da redução da PAD e da presença de dislipidemia, fatores
como baixa aderência (65%), curto tempo de intervenção e baixa frequência
semanal das sessões de exercício parecem explicar em parte os resultados obser-
vados. Embora os resultados não permitam a confirmação de um grande efeito
do exercício aquático na melhora da modulação autonômica cardíaca, a redu-
ção significativa dos fatores de risco cardiovascular indica que esse é o modo de
exercício que pode pelo menos representar um fator protetor para a progressão
da disfunção autonômica cardíaca em mulheres na pós-menopausa com diabe-
tes tipo 2.

Declaração de conflito de interesse


Os autores declaram não haver conflito de interesses.

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Como citar: Camargos JCV, Razuk M, Assis KR, Tomé A, Rinaldi NM. Exercício multicomponente associado a
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RBFEx Revista Brasileira de


ISSN: 2675-1372 Fisiologia do Exercício
Artigo Original

Exercício multicomponente associado a dupla


tarefa: efeitos no desempenho físico funcional e
mobilidade de idosos
Multi-components exercise associated with dual task: Effects on physical
functional performance and mobility of the older adults

Janine Carvalho Valentino Camargos1, Milena Razuk1, Kathisuellen R. Assis1, Alex


Tomé1, Natalia M. Rinaldi1.
1. Laboratório de Análise Biomecânica do Movimento Humano, Centro de Educação Física e Esportes, Universidade Federal de
Espirito Santo, Brasil.

RESUMO
Objetivo: O objetivo deste estudo foi verificar o efeito da dupla tarefa em um proto-
colo de treinamento nos componentes de Desempenho físico Funcional e mobilida-
de de idosos Métodos: Trinta idosos (vinte e três mulheres e sete homens; 66,48 ± 3,85
anos) foram distribuídos em três grupos randomizados: grupo de atividade física
multicomponente (AM), grupo de tarefas duplas (DT) e grupo controle (GC). Os par-
ticipantes foram avaliados antes do treinamento e após 12 semanas de treinamento
com os seguintes testes: Mini Exame do Estado Mental, para avaliação das funções
cognitivas, bateria de teste AAHPERD - American Alliance for Health, Physical Edu-
cation, Recreation and Dance, para avaliação de cinco capacidades funcionais, Timed
Up and Go, para avaliação da mobilidade funcional e o questionário de Baecke para
avaliar o nível de atividade física. Os grupos AM e DT realizaram o mesmo protocolo
de treinamento de múltiplos componentes, no entanto, o grupo DT realizou simul-
taneamente com uma segunda tarefa cognitiva. Resultados: Os grupos que realiza-
ram o protocolo de treinamento melhoraram alguns aspectos do desempenho físico
funcional e da mobilidade em comparação ao GC (p < 0,01). Não foi encontrada dife-
rença entre os grupos DT e AM. Conclusão: A realização de duas tarefas simultâneas
em um protocolo de treinamento não parece influenciar a capacidade funcional e a
mobilidade..

Palavras-chave: Treinamento com dupla tarefa, Treinamento multi-componentes, Desempe-


nho físico funcional.

ABSTRACT
Objective: The aim of this study was to verify the effect of dual task in a training
protocol in the components of physical Functional Performance and mobility of ol-
der adults Methods: Thirty older adults (twenty-three female and seven males; 66.48
±3.85 years) were distributed into three randomized groups: Multi-component phy-
sical activity group (MC), Dual Task Group (DT) and Control Group (CG). Participants
were assessed before training and after 12 weeks of training with the following tests:
Mini Mental State Examination, for evaluation of cognitive functions, AAHPERD test
battery - American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance,
for evaluation of five physical Functional Performance components, Timed Up and
Recebido em: 13 de Dezembro de 2019; Aceito em: 16 de Março de 2020.
Correspondência: Janine Carvalho Valentino Camargos, Centro de Educação Física e Desportos, Av. Fernando Fer-
rari, 514,Goiabeiras 29075-910 Vitória/ES. E-mail: janinevalentino@hotmail.com
Camargos et al. 96
Exercício multicomponentes e dupla tarefa

Go, for evaluation of functional mobility and The Baecke Questionnaire to assess the
level of physical activity. Both MC and DT groups performed the same multi-compo-
nents training protocol, however DT group performed simultaneously with a second
cognitive task. Results: The groups that performed the training protocol improved
some aspects of physical Functional Performance and mobility compared to the CG
(p < 0.01). No difference was found between the DT and MC groups. Conclusion: Per-
forming two simultaneous tasks in a training protocol does not seem to influence the
functional capacity.

Key-words: Dual task training, Multi-components training, Physical functional performance.

Introdução

O envelhecimento é um processo natural, no qual ocorrem alterações


caracterizadas por modificações físicas e cognitivas, bem como declínio em
todo o sistema corporal, levando à deterioração estrutural e funcional que po-
dem afetar o nível de atividade física, a qualidade de vida e o desempenho físico
funcional (DF) [1,2]. A população de idosos geralmente apresenta baixos níveis
no desempenho físico devido à deterioração de importantes sistemas corporais
como o sistema osteomuscular, cardiorrespiratório e nervoso [3,4]. DF pode ser
definida como a eficiência dos idosos em realizar com segurança as demandas
físicas nas atividades de vida diária, seja em tarefas simples ou complexas [5,6].
Esse DF é composto por seis componentes: força, agilidade/equilíbrio dinâmi-
co, flexibilidade, coordenação e resistência aeróbica [6].
O nível de DF pode definir o sucesso ou fracasso da atividade realiza-
da, estando diretamente conectado à autonomia [7]. No entanto, uma variável
altamente analisada em combinação com o DF e que está relacionada com a
autonomia dos idosos nas atividades da vida diária é a mobilidade, que é ca-
racterizada por estímulos mais específicos para agilidade e equilíbrio, a partir
da combinação de tarefas. Na avaliação funcional, a mobilidade se estabeleceu
como um ponto essencial devido às relações com o DF [8].
Perdas estruturais e funcionais são inevitáveis durante o processo de
envelhecimento, porém estudos científicos mostram que existe a possibilidade
de melhorar ou manter as funções do sistema corporal através da prática de
atividade física [9,10]. A atividade física é importante para preservar o DF e a
independência dos idosos [11]. Estudos relatam que a prática regular de ativi-
dade física produz benefícios nos aspectos cognitivos e motores, proporcionan-
do controle da composição corporal, manutenção e aumento da força muscular,
melhora da flexibilidade e efeitos positivos no metabolismo da população de
idosos, sendo importante instrumento de promoção da saúde [12,11].
Com o aumento da população e a necessidade de oferecer melhores con-
dições de vida, foram criados protocolos de exercícios para entender os diferen-
tes efeitos da atividade física no desempenho físico ou em seus componentes e
o que eles trazem como benefícios [10]. Por exemplo, Pauli et al. [13] relataram
maior flexibilidade, menor tempo para o teste de coordenação e agilidade em
um grupo de idosos que praticavam diferentes tipos de atividade física de in-
tensidade moderada em comparação com um grupo de idosos que não praticava
atividade física. Resultados semelhantes foram encontrados por Scarabottolo
[7] em um grupo de indivíduos mais velhos que combinaram treinamento de
força com treinamento funcional por 12 semanas, tendo melhoria significativa
na agilidade e força.
97
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):95-103

Alguns protocolos usaram exercícios de dupla tarefa (executar duas ta-


refas simultaneamente) para avaliar seus efeitos em alguns aspectos do DF. De
acordo com Hisayo Yokoyama [14], o protocolo de treinamento associado à tare-
fa dupla (cognitiva ou motora) é mais benéfico do que o treinamento com tarefa
única, com melhora das funções cognitivas e da força muscular. O protocolo de
treinamento com componentes de dupla tarefa mostrou-se eficaz no aumento
da mobilidade dos idosos [15]. Além disso, estudos indicam que o treinamento
que associa duas tarefas parece beneficiar a mobilidade dos idosos, apresentan-
do um aumento na velocidade da marcha após o treinamento [16,17]. Embora
existam numerosos estudos que investigaram os efeitos de protocolos de trei-
namento para idosos, ainda não está totalmente elucidado o efeito da dupla
tarefa sobre os componentes do DF e da mobilidade de idosos, convertendo-os
em uma lacuna importante. Além disso, muitos estudos realizaram a avaliação
do DF de forma separada, e não de todos os componentes [7,14,15]. Portanto, o
objetivo do presente estudo foi verificar o efeito da dupla tarefa em um proto-
colo de treinamento em todos os componentes do desempenho físico funcional
e na mobilidade de idosos.

Metodos

Participantes

Trinta idosos participaram deste estudo (23 mulheres e sete homens;


66,48 anos ± 3,85). Os participantes foram distribuídos em três grupos randomi-
zados: 1) Grupo de atividade física multicomponente (MC), 2) Grupo de Tarefa
Dupla (DT) e 3) Grupo de Controle (GC). Como critério de inclusão, os partici-
pantes deveriam apresentar idade entre 60 e 80 anos e andar sem assistência ou
dispositivos de marcha.
Os critérios de exclusão foram: presença de distúrbio neurológico ou
musculoesquelético que impossibilitou a realização do protocolo e testes de
treinamento; participar de um programa sistemático de atividade física (mais
de duas vezes por semana) ou no período de três meses antes do início do estu-
do. Pontuação <24 pontos com base na escala cognitiva Mini Exame do estado
mental [18]. Além disso, duas faltas consecutivas ou um total de três ou mais
faltas durante as doze semanas de treinamento. O Comitê de Ética Institucional
da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil aprovou o protoco-
lo do estudo (71272817.0.0000.5542). Além disso, todos os procedimentos foram
realizados com o entendimento adequado e consentimento por escrito de todos
os participantes.

Procedimentos

Todas as coletas de dados e os treinamentos foram realizados no Ginásio


Fitness Station da cidade de Serra / ES. Os participantes foram avaliados antes
do início do treinamento (pré-treinamento) e após 12 semanas de treinamento
(pós-treinamento). Foram utilizadas as seguintes ferramentas de avaliação: 1)
Anamnese para caracterizar o perfil dos participantes com informações como
idade, peso, altura e histórico patológico atual e passado. 2) Mini Exame do
Estado Mental, para avaliação das funções cognitivas relacionadas à orientação
temporal / espacial, memória, linguagem, atenção e cálculo; A pontuação no
Camargos et al. 98
Exercício multicomponentes e dupla tarefa

Mini Mental varia de 0 a 30 pontos [18]. 3) Bateria de teste AAHPERD - Ame-


rican Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance, para ava-
liação de cinco componentes de Desempenho Físico: Agilidade / equilíbrio di-
nâmico - tempo para concluir dois circuitos que envolvem a tarefa de levantar
de uma cadeira, caminhar por cones e retornar à cadeira; Coordenação - tempo
para concluir uma tarefa que exige uma manipulação precisa de doze latas de
refrigerante; Resistência de força - Número de repetições de flexão do cotovelo
associadas à resistência em 30 s; Teste de flexibilidade de sentar e alcançar; Re-
sistência aeróbica - Caminhada de 880 jardas [19]. 4) Timed Up and Go (TUG),
para avaliação da mobilidade funcional. Os participantes sentaram-se em uma
cadeira firme e foram instruídos a levantar-se sem usar os apoios para os bra-
ços e caminhar uma distância de 3 m em seu ritmo normal, girar 180º em torno
de um cone e retornar à cadeira para se sentar [20]. Para aumentar o nível de
dificuldade do teste, foi associada uma segunda tarefa motora (segurando uma
bandeja com duas xícaras) e associada a uma segunda tarefa cognitiva (conta-
gem regressiva), denominado TUG motor e TUG cognitivo, respectivamente. 5)
O Questionário Baecke para avaliar o nível de atividade física em três domínios
específicos: atividades domésticas, atividades esportivas e lazer. As pontuações
são obtidas através de perguntas específicas e a relação entre tipo, frequência e
intensidade da atividade. O nível de atividade física é proporcional à pontuação
[21].

Protocolo de treinamento

Ambos os grupos realizaram o mesmo protocolo de treinamento que


incluiu diferentes componentes do Desempenho Físico, como flexibilidade,
agilidade, equilíbrio, força, resistência aeróbica e coordenação. Todos os exer-
cícios foram realizados em três séries de 10 a 12 repetições. Cada sessão durou
50 minutos e foi supervisionada por um profissional qualificado. A primeira
e a segunda semana de exercícios corresponderam à fase adaptativa, que vi-
sava proporcionar reeducação de tarefas funcionais como caminhar, sentar e
levantar. As sessões foram divididas em três partes: aquecimento (5 minutos),
com caminhada na velocidade autosselecionada; treinamento físico (35 minu-
tos) e alongamento estático (10 minutos). O grupo DT realizou o protocolo de
treinamento simultaneamente com uma segunda tarefa cognitiva. Os exercí-
cios cognitivos foram baseados na escala Mini Mental, envolvendo orientação
temporal e espacial (horário aproximado, dia da semana, mês etc.), memória
(memória de curto prazo, que dura aproximadamente 30 segundos), atenção
e cálculo (realizar cálculos matemáticos) evocação (memória recente com mi-
nutos, semanas ou meses), idioma (leitura, repetição e nomeação de objetos),
repetição (discriminação auditiva). As variáveis dependentes calculadas foram:
Agilidade / equilíbrio dinâmico (s), coordenação (s), resistência (número de
repetições), resistência aeróbica (s), flexibilidade (cm) e TUG (s) TUG motor (s)
e TUG cognitivo (s).

Análise estatística

Após a normalidade dos dados e as suposições de homogeneidade de


variância terem sido testadas e cumpridas, foi empregada uma MANOVA-one-
-way com medidas repetidas (Grupo [GC, AM e DT]) para todas as variáveis de
99
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):95-103

DF e mobilidade. Todas as variáveis dependentes foram calculadas utilizando o


cálculo Delta (Δ = pós-treinamento - pré-treinamento) para verificar possíveis
efeitos do protocolo de treinamento físico entre os grupos, com fator de grupo
(MC, DT, GC) para análise das seguintes variáveis de teste AAHPERD: agilidade/
equilíbrio dinâmico, coordenação, resistência de força, flexibilidade e resistên-
cia aeróbica e TUG: Mobilidade Funcional (tempo de execução da tarefa). Aná-
lises univariadas de acompanhamento apropriadas foram realizadas, quando
aplicável, com o nível de significância geral fixado em 0,05. Todas as análises
foram realizadas usando o SPSS (SPSS for Windows 10.0). A análise de variância
unidirecional (ANOVAs) foi calculada para comparar idade, antropometria (al-
tura e massa corporal) e características clínicas (escores Mini Mental e Baecke)
entre os grupos.

Resultados

Características da amostra

Os grupos foram semelhantes em idade (GC = 66,1 anos | MC = 67 anos


| DT = 65,8 anos), cognição e nível de atividade física (Tabela I). Os voluntários
obtiveram frequência total nos programas de exercício físico.

Tabela I - Média e desvio padrão (entre parênteses) da idade e características clínicas dos gru-
pos controle (GC), atividade multicomponente (AM) e dupla tarefa (DT).
Características CG MC DT P-valor
Idade (anos) 66,1 (3,4) 67 (4.29) 65,8 (4,1) 0,7
Questionário de Baeke (pontos) 1.58 (0,51) 1,45 (0.59) 1,69 (0,38) 0,6
Mine exame do estado mental (pontos) 24 (1,56) 24,7 (1,33) 24,2 (1,47) 0,55

Variáveis do desempenho físico

MANOVA mostrou um efeito significativo do grupo (Wilks ‘Lambda =


0,232, F10,46 = 4,955, p <0,01). A ANOVA mostrou efeito significativo de agilida-
de / equilíbrio dinâmico (F2.27 = 4.373, p = 0.023), coordenação (F2.27 = 10.572, p
<0.001), flexibilidade (F2.27 = 9.936, p = 0.001) e resistência aeróbica (F2,27 = 3,9,
p = 0,03), mas nenhum efeito da resistência à força (F2,27 = 2,787, p = 0,079). Os
testes post hoc mostraram que os grupos MC e DT apresentaram maior flexibili-
dade (3,0 cm / 3,7 cm, respectivamente) e menos tempo no teste de coordenação
(-9,9 s / - 1,3 s, respectivamente) em comparação ao GC (0,10 s / 0,4 s, respecti-
vamente). Além disso, os testes post hoc mostraram que o grupo DT apresentou
menor tempo para o teste de agilidade / equilíbrio dinâmico que o GC (-2,79 s /
-2,1 s, respectivamente), e o MC mostrou menor tempo para o teste de resistên-
cia aeróbia que o GC (-1,376 s / -6,2 s, respectivamente) (Figura 1).

Variáveis de mobilidade funcional

A ANOVA mostrou efeito significativo no grupo (Wilks ‘Lambda = 0,519,


F6,50 = 3,234, p = 0,009). Os testes post hoc revelaram que os grupos MC e DT
apresentaram menor tempo para realizar o teste TUG (-7600 / -7900 ) compa-
rado ao GC (-2600) (p = 0,033 / p = 0,023, respectivamente). Dessa forma, testes
post hoc mostraram que o grupo DT apresentou menor tempo no teste TUG M
(-6000) do que o GC (0,1000) (p = 0,025) (Figura 2).
Camargos et al. 100
Exercício multicomponentes e dupla tarefa

*p ≤ 0,05

Figura 1 - Média e desvio padrão dos grupos controle (GC), multicomponentes (MC) e dupla
tarefa (DT) nas seguintes variáveis de desempenho funcional físico: flexibilidade (A), coorde-
nação (B), agilidade / equilíbrio dinâmico (C), resistência à força (D) e resistência aeróbica (E).

*p ≤ 0,05
Figura 2. Média e desvio padrão dos grupos controle (GC), multicomponente (MC) e dupla tare-
fa (DT) na variável mobilidade, TUG (A), TUG cognitivo (B) e TUG motor (C). *

Discussão

O objetivo do presente estudo foi verificar o efeito da dupla tarefa em


um protocolo de treinamento em todos os componentes do Desempenho Físico
Funcional e da mobilidade de idosos. No geral, a dupla tarefa não teve efeito
sobre as variáveis de Desempenho Físico, porque ambos os grupos apresenta-
ram melhor desempenho em alguns aspectos da DF e mobilidade. Isso pode
ser explicado pelo fato de que a atividade física promove impactos positivos
em aspectos funcionais, como aumento da capacidade aeróbica, preservação da
massa muscular, funcionalidade e autonomia nas atividades [3,7,12].
101
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):95-103

Além disso, a execução de duas tarefas simultâneas aumenta a demanda


de processamento do sistema nervoso central quando comparada a uma única
tarefa, e quanto mais atenção é dada à execução de uma tarefa, maior é o nível
de interferência na tarefa secundária [22,23]. Essa interferência pode ser apri-
morada com treinamento, aumentando o desempenho durante a tarefa dupla
[22]. Portanto, a adição da dupla tarefa no protocolo de treinamento pode não
ter afetado as variáveis do Desempenho Físico devido ao baixo nível de dificul-
dade e complexidade da tarefa secundária, não sendo desafiadora o suficiente
para gerar impacto nas variáveis de DF.
Em relação ao DF, ambos os grupos (MC e DT) apresentaram diferenças
para as variáveis de flexibilidade e coordenação, corroborando os resultados
encontrados por Pauli et al. [13], que encontraram diferença para coordenação
e flexibilidade de idosos que praticaram diferentes tipos de atividade física em
intensidade moderada, utilizando a escala AAHPERD como ferramenta de aná-
lise. No presente estudo, a única variável que não apresentou efeito foi a força
muscular, o que pode ser explicado pelo fato das atividades não terem sido di-
recionadas ao treinamento sistemático de fortalecimento muscular. Carvalho et
al. [24] compararam a força muscular dos idosos antes e após 24 semanas de dois
tipos de treinamento (multicomponentes e resistência). Não foram encontradas
diferenças para a força muscular no grupo de atividade física multicomponen-
te. O estudo conclui que o treinamento com múltiplos componentes não parece
influenciar a força muscular; no entanto, o treinamento resistido no protocolo
de exercícios com múltiplos componentes melhora a força muscular nos idosos.
Além disso, no presente estudo, o grupo de atividade física multicompo-
nente apresentou melhor desempenho na resistência aeróbica, o que pode ser
explicado pelo fato de estarem apenas se dedicando à tarefa única. Além disso,
os protocolos de exercícios do presente estudo favorecem o impacto dessa va-
riável, devido ao número de exercício aeróbico no protocolo de treinamento. A
magnitude da melhoria da resistência aeróbica é determinada pela intensidade
e frequência do exercício [25].
Em relação à mobilidade, Menezes et al. [26] encontraram melhora da
mobilidade, com diminuição do tempo para realizar o teste TUG dos idosos
após quatro meses de intervenção com protocolo multicomponente, Lorca e
Lepe [27] também descobriram que os idosos realizam o teste TUG mais rápido
após um ano de treinamento de força muscular, flexibilidade e equilíbrio. Além
disso, estudos relatam que o treinamento em dupla tarefa leva a um melhor
desempenho na mobilidade dos idosos, como menor tempo para realizar o teste
TUG [14,15] e aumento da velocidade da marcha [16,17]. No presente estudo,
resultados similares foram encontrados, porque ambos os protocolos de trei-
namento melhoraram o desempenho durante o teste TUG, com menor tempo
de teste após o treinamento. Esse resultado foi esperado, uma vez que a prática
de atividade física melhora ou mantém a mobilidade dos idosos [28]. No teste
de mobilidade associado a uma segunda tarefa motora, o grupo DT apresentou
menor tempo de teste e melhor desempenho do que o GC. Hisayo Yokoyama
[14] avaliou o efeito do treinamento de dupla tarefa nas funções executivas e
concluiu que o treinamento de dupla tarefa cognitivo-motora era mais bené-
fico do que o treinamento de uma tarefa para melhorar domínios mais amplos
das funções cognitivas de idosos. A melhoria da função executiva pode ser uma
possível explicação para o melhor desempenho do grupo DT no teste de mobi-
lidade, quando comparado ao GC.
Camargos et al. 102
Exercício multicomponentes e dupla tarefa

A segunda tarefa proposta no protocolo deste estudo pode não ter sido
suficientemente complexa para gerar um efeito no desempenho físico. O pro-
cesso de envelhecimento causa deterioração no sistema nervoso central; no en-
tanto, essas alterações são limitadas a processos mais complexos, como a fun-
ção executiva, que se refere à capacidade de planejar estratégias [29], portanto,
talvez a diferença entre os protocolos não tenha sido encontrada porque a se-
gunda tarefa não foi complexa o suficiente para gerar respostas. Uma possível
limitação do estudo foi a baixa complexidade da segunda tarefa no protocolo de
treinamento e o tempo de treinamento. Assim, para estudos futuros, sugerimos
uma maior complexidade da segunda tarefa e um aumento no tempo total de
treinamento.

Conclusão

Ambos os protocolos de treinamento melhoram o desempenho físico


dos idosos, independentemente da dupla tarefa no treinamento.

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Como citar: Cruz JL, Razuk M, Ferreira VAM, Vieira LA, Rinaldi NM. Análise dos sistemas de controle do equilíbrio
open acess em idosos praticantes das modalidades ioga, ginástica e alongamento do Serviço de Orientação ao Exercício de 104
Vitória/ES. Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):104-13. DOI: https://doi.org/10.33233/rbfe.v19i2.3642

RBFEx Revista Brasileira de


ISSN: 2675-1372 Fisiologia do Exercício
Artigo Original

Análise dos sistemas de controle do equilíbrio em idosos


praticantes das modalidades ioga, ginástica e alongamento
do Serviço de Orientação ao Exercício de Vitória/ES
Analysis of the systems of balance in elderly practitioners of modalities
of yoga, gymnastics and stretching of the Exercise Orientation Service in
Vitória/ES

Jean Leite Cruz1, Milena Razuk1, Victor Anthony Mendes Ferreira1, Leonardo Araujo
Vieira1,2, Natalia Madalena Rinaldi1
1. Laboratório de Análise Biomecânica do Movimento (Bio.Mov), Centro de Educação Física e Desportos, Universidade Federal
do Espírito Santo – CEFD/UFES, ES, Brasil.
2. Prefeitura Municipal de Vitória, ES, Brasil.

RESUMO
Diferentes intervenções motoras têm sido amplamente investigadas no controle do
equilíbrio em idosos. Entretanto, ainda não está elucidado qual o tipo de interven-
ção motora que promove melhoras nos sistemas de controle do equilíbrio em idosos.
O objetivo do estudo foi comparar diferentes intervenções motoras do sistema de
controle do equilíbrio em idosos. Participaram do estudo 56 idosos, distribuídos em
grupo sedentário (SED), grupo ginástica (GG), grupo ioga (GI) e grupo alongamen-
to (GA). Os participantes foram avaliados através da ferramenta Balance Evaluation
System Test (BESTest), desenvolvida para avaliar seis itens do sistema de controle do
equilíbrio. As variáveis analisadas no estudo foram as pontuações obtidas em cada
um dos itens do BESTest. Os resultados mostraram que o GG e GI apresentaram va-
lores maiores no BESTest comparado ao grupo SED. Ainda, para os itens estabilidade
da marcha e limites de estabilidade apresentaram valores maiores comparados aos
demais itens do BESTest. A conclusão do estudo é que idosos praticantes de ginástica
e de ioga, modalidades oferecidas pelo Serviço de Orientação ao Exercício (SOE) tem
capacidade de promover benefícios ao sistema de controle do equilíbrio em idosos

Palavras-chave: BESTest, Equilíbrio, Idosos, Intervenção motora.

ABSTRACT
Different motor interventions have been widely investigated in balance control in
elderly. However, it is not yet clear which type of motor intervention promotes im-
provements in balance control systems in the elderly. The aim of this study was to
compare different motor interventions of the balance control system in elderly. Fif-
ty-six elderly people participated in the study, distributed in sedentary group (SED),
gymnastic group (GG), yoga group (GI) and stretching group (GA). Participants
were evaluated using the Balance Evaluation System Test (BESTest) tool, designed
to evaluate six items of balance control systems. The variables analyzed in the study
were the scores obtained in each of the BESTest items. The results showed that GG
and GI presented higher values in BESTest compared to the SED group. Even more,
for the item gait stability and stability limits presented higher values compared to
the other BESTest items. The conclusion of the study is that elderly gymnastics and

Recebido em: 19 de Dezembro de 2019; Aceito em: 19 de Fevereiro de 2020.


Correspondência: Natalia Madalena Rinaldi, Centro de Educação Física e Desportos, Universidade Federal do Espí-
rito Santo, Av. Fernando Ferrari, 514, 29075-910 Vitória ES, Brasil. E-mail natalia.rinaldi@ufes.br
Cruz et al. 105
Equilíbrio em idosos

yoga practitioners, modalities offered by the Exercise Guidance Service (SOE) can pro-
mote benefits to the balance control system in elderly.

Key-words: BESTest, Balance, Elderly, Motor intervention.

Introdução

O controle da estabilidade postural e a mobilidade funcional são fun-


damentais para a realização das atividades diárias. Durante o processo de enve-
lhecimento, pode-se observar alterações nestes dois aspectos, que podem trazer
consequências para o controle do movimento, por exemplo, histórico de quedas
[1]. A literatura tem mostrado que a instabilidade postural em adultos idosos
ocorre devido à deterioração dos sistemas sensoriais e do sistema motor [2,3].
Assim, mudanças nos sistemas sensoriais estão relacionadas a uma per-
cepção errônea sobre o posicionamento do corpo no espaço [3]. Com base nes-
tes dados, é importante desenvolver intervenções motoras para melhorar o con-
trole do equilíbrio estático e dinâmico em idosos para reduzir o risco de quedas
nesta população. Em relação ao controle do equilíbrio estático, Li et al. [4] veri-
ficaram melhora nos testes de alcance funcional, escala de equilíbrio de Berg e
Timed Up & Go (TUG) em idosos após um período de 26 semanas consecutivas
de treinamento com Tai Chi.
No entanto, Lelard et al. [5] avaliaram o controle do equilíbrio estático
por meio do centro de pressão com olhos abertos e fechados, e velocidade da
marcha em um percurso de 10 metros. Os autores compararam um programa de
Tai Chi com um programa de treinamento de equilíbrio durante três meses com
uma frequência de duas vezes por semana, e concluíram que o período de in-
tervenção foi insuficiente para verificar diferenças significativas na velocidade
da marcha ou nos parâmetros posturais nas condições de olhos abertos e olhos
fechados em ambas as intervenções.
Zettergen et al. [6] verificaram aumento na velocidade da marcha e au-
mento no escore da escala de Berg em idosos após uma intervenção de 8 sema-
nas de yoga. Ainda, Oken et al. [7] investigaram o efeito do treinamento de ioga
no controle do equilíbrio em idosos. Após o período de três meses, estes autores
verificaram que os idosos conseguiram permanecer em apoio unipodal por um
tempo maior. Estudo de Zhuang et al. [8] verificaram o efeito do treinamento
generalizado (equilíbrio e flexibilidade) no tempo do andar (TUG) e no teste de
alcance funcional. Após o período de intervenção motora, os idosos reduziram
o tempo do andar e aumentaram a distância no teste de alcance funcional. Des-
ta forma, os resultados mostraram efeitos benéficos do treinamento individua-
lizado e generalizado, entretanto, ainda não está totalmente elucidado qual é o
melhor tipo de modalidade motora (generalizada, alongamento ou ioga) para o
controle do equilíbrio estático e dinâmico em idosos.
Além disso, seria interessante que essas intervenções fossem de fácil
acesso à população fazendo com que fosse possível a discriminação dos bene-
fícios da atividade física. Nesse sentido, o Serviço de Orientação ao Exercício
(SOE) é um serviço pioneiro considerado modelo pela Sociedade Brasileira de
Medicina do Esporte na área de Atividade Física e Saúde desenvolvido na cidade
de Vitória/ES. Neste programa, atividades físicas são desenvolvidas em grupos
106
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):104-13

com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e na prevenção de doenças crô-


nicas. Existem vários módulos espalhados pela cidade, com professores capaci-
tados para atender à população. A ginástica, ioga e alongamento são atividades
usualmente ofertadas nos módulos do SOE.
Em relação à análise do equilíbrio e idosos, alguns estudos utilizaram
escalas de BERG, TUG, POMA, entre outros testes existentes, para avaliar o equi-
líbrio [9-12]. Pimentel e Scheicher [9], por exemplo, compararam o risco de que-
das entre idosos sedentários e ativos, verificando como a prática de exercício
físico pode refletir no desempenho dos sujeitos na escala de Berg. Os autores
encontraram um pior desempenho do grupo inativo sugerindo que a prática
regular de exercícios pode interferir nesse desempenho e que os sujeitos ativos
possuem menor chance de queda.
Souza et al. [10] utilizaram escala de Berg para avaliar o equilíbrio de
idosas após a realização de diferentes protocolos de exercício. As participantes
foram divididas em dois grupos: grupo A que realizou exercícios resistidos, e
grupo B, que realizou exercícios proprioceptivos. Os autores encontraram que
ambos os grupos apresentaram melhora no equilíbrio após intervenção, mos-
trando que os dois protocolos geraram diferença significativa no equilíbrio,
mas, quando comparados, não foi encontrada diferença entre os grupos. Desta
forma, não foi possível determinar se há um tipo específico de exercício para
melhorar o equilíbrio corporal.
Pavanate et al. [11] verificaram a relação do equilíbrio de idosas prati-
cantes de atividade física levando em conta diferentes idades utilizando o Ti-
med Up and Go (TUG). Os autores concluem que quanto menor a idade melhor
será o equilíbrio, o que evidencia ainda mais a perda da capacidade de manter
o equilíbrio com o envelhecimento. Carvalho, Pinto e Mota [12] analisaram a
relação entre o medo de cair, o equilíbrio e a prática de atividade física. A ava-
liação do equilíbrio foi realizada utilizando o Performance-Oriented Mobility
Assessment (POMA). Os autores concluíram que a prática de atividade física
está associada a um melhor desempenho do equilíbrio e a um menor medo de
cair. A partir destes pressupostos teóricos, pode-se concluir que a intervenção
motora promove benefícios para o controle do equilíbrio em idosos, entretanto,
algumas questões em relação às intervenções motoras e os tipos de avaliação
adotadas nestes estudos necessitam ser melhor elucidadas.
Nos estudos apresentados anteriormente, os autores utilizaram algumas
escalas que não avaliaram de maneira específica os sistemas envolvidos no con-
trole do equilíbrio. Desta forma, Horak et al. [13] desenvolveram uma ferramen-
ta clínica denominada Balance Evaluation System Test (BESTest) que tem como
principal finalidade avaliar seis diferentes sistemas envolvidos no controle do
equilíbrio, a fim de identificar as deficiências subjacentes que contribuem para
o prejuizo do equilíbrio.
A partir desta avaliação, é possível identificar quais são os sistemas de
controle do equilíbrio que podem estar afetados pelo processo de envelheci-
mento, ajudando o profissional da saúde, uma vez que seria mais fácil saber
onde intervir. Assim, uma investigação sobre os benefícios causados por di-
ferentes atividades/modalidades se mostra necessária e importante para que
seja possível traçar e planejar uma intervenção de qualidade capaz de produzir
alterações benéficas no controle do equilíbrio em idosos. Nesse contexto, o ob-
jetivo do estudo foi comparar as diferentes intervenções motoras do sistema de
controle do equilíbrio em idosos praticantes de atividade física pelo Serviço de
Cruz et al. 107
Equilíbrio em idosos

Orientação ao Exercício (ginástica, ioga e alongamento) com idosos não prati-


cantes de atividade física, fazendo uso de uma ferramenta de fácil manejo e de
baixo custo, chamada Balance Evaluation System Test (BESTest). A hipótese do
estudo é que os idosos que realizaram diferentes intervenções motoras (ginásti-
ca, ioga e alongamento) apresentem uma maior pontuação no BESTest compa-
rado aos grupos sedentários.

Material e métodos

Participantes

A população deste estudo foi composta por idosos participantes do mó-


dulo do SOE e do Centro de Convivência da Terceira Idade localizados no bairro
de Jardim da Penha, e que integram respectivamente o Sistema Único de Saúde
(SUS) e o Sistema Único da Assistência Social (SUAS) do município de Vitória/
ES. O SOE é um programa de promoção da atividade física em funcionamento
desde 1990, em que são ofertadas diferentes modalidades de exercícios realiza-
das em grupo, tais como: ginástica, ioga, alongamento, entre outras. A amostra
foi composta por 56 idosos distribuída em quatro grupos, sendo 1 grupo de
idosos inativos composto por 14 indivíduos (68,92 ± 6,53 anos) recrutados no
Centro de Convivência da Terceira Idade (Grupo Controle) e 3 grupos de idosos
ativos participantes das atividades ofertadas pelo SOE: Grupo Ginástica (GG)
com 14 participantes (67,36 ± 6,74 anos), Grupo Ioga (GI) com 13 participantes
(65,16 ± 5,14) anos e Grupo Alongamento (GA) com 15 participantes (73 ± 5,12
anos).
O estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Universida-
de Federal do Espírito Santo, CAAE 563154167.0000.5542. Todos os participantes
do estudo assinaram um termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
conforme as normas estabelecidas na Resolução n°466/12 do Conselho Nacio-
nal de Saúde. Como critério de inclusão, todos os participantes deveriam ter
idade entre 60 e 80 anos, apresentar marcha independente sem utilização de
dispositivos auxiliares, ausência de doenças cognitivas, neurológicas e muscu-
loesqueléticas que os impedissem de realizar as tarefas motoras. Ainda, para os
grupos de idosos ativos, foram incluídos apenas idosos que realizavam exercício
há pelo menos 3 meses com frequência semanal de 2 treinos por semana com
duração aproximada de 60 minutos por sessão, enquanto no grupo de idosos
inativos foram incluídos apenas idosos que não praticavam atividade física há
pelo menos 3 meses.

Procedimentos experimentais

O Questionário de Baecke Modificado para idosos [14] foi aplicado para


avaliar o nível de atividade física e os tipos de exercícios praticados pelos idosos
antes da participação no estudo. Além disso, o Mini-Exame do Estado Mental
[15] foi aplicado para verificar se as funções cognitivas dos idosos estão pre-
servadas. Para avaliação dos sistemas do controle do equilíbrio foi utilizado o
Balance Evaluation Test (BESTest) [16], que consiste em um teste clínico que
possibilita avaliar seis sistemas do controle do equilíbrio (Tabela I). Este teste
é composto por 27 itens, com um total de 36 tarefas divididas em seis sessões,
referentes aos sistemas de controle de equilíbrio. Cada tarefa é pontuada de 0 a
108
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):104-13

3 pontos, sendo 0 o pior desempenho possível e 3 o melhor possível, e o escore


final é calculado separadamente para cada sessão em forma de percentual [16].

Análise estatística

As análises estatísticas foram realizadas utilizando o software SPSS (Sta-


tistical Package for the Social Sciences), versão 21 (SPSS Inc., Chicago, Estados
Unidos). Para verificar a normalidade e homogeneidade dos dados foram em-
pregados respectivamente, o teste de Shapiro Wilk e o teste de Levene. Foram
realizadas 4 ANOVAs para comparar características antropométricas (estatura
e massa corporal), pontuação das avaliações do Baecke e Mini-Mental entre o
grupo sedentário (SED) e grupo ativo: ginástica (GG), ioga (GI) e alongamento
(GA). Ainda, foi realizada uma ANOVA two-way (grupo [SED, GG, GI, GA] x item
BESTest [restrição biomecânica; limites de estabilidade; ajustes posturais ante-
cipatórios; respostas posturais; orientação sensorial; estabilidade da marcha],
para verificar os possíveis efeitos das modalidades de exercício no controle do
equilíbrio. Quando necessário, testes post hoc com ajuste de Bonferroni foram
realizados e para todas as análises foi adotado um nível de significância de p ≤
0,05.

Tabela I - Descrição dos itens do Balance Evaluation Test (BESTest).


Itens Descrição e exemplos das tarefas
Avalia as restrições no equilíbrio na posição ereta, incluindo
Restrições biomecânicas alinhamento postural, amplitude de movimento do tornozelo e
força do quadril.
Avalia a capacidade de mover o corpo sobre sua base de suporte,
Limites de estabilidade/
inclinando-se para frente e lateralmente e avalia a capacidade de
verticalidade
retornar à posição vertical.

Avalia o movimento ativo do centro de massa em antecipação da


Ajustes posturais
execução do sentar e levantar, postura unipodal e toque no de-
antecipatórios
grau.

Avalia passo compensatório a perturbações externas de frente,


Respostas posturais
lateral e traseira.
Avalia o aumento da oscilação postural sob diferentes condições
Orientação sensorial sensoriais, como ficar em terreno plano ou espuma com os olhos
abertos ou fechados.
Avalia a estabilidade ao caminhar sob diferentes condições, como
Estabilidade na marcha mudar velocidade, olhando de um lado para o outro e passando
por cima de um obstáculo.

Resultados

A Tabela II apresenta valores de média e desvio padrão das caracterís-


ticas antropométricas, nível de atividade física através do Questionário de Ba-
ecke Modificado para Idosos e MiniMental para o grupo ativo: alongamento
(GA), ginástica (GG), ioga (GI) e sedentário (SED). ANOVA one-way para Baecke
revelou diferença significativa para grupo F3,52 = (3,857, p < 0,014). Tests post
hoc revelaram que GG (5,26 ± 3,3) apresentou maior pontuação comparado ao
SED (2,39 ± 0,85). Ainda, ANOVA one-way para Mini-Mental revelou diferença
Cruz et al. 109
Equilíbrio em idosos

significativa para grupo F3,52 = (4,421, p < 0,008). Tests post hoc revelaram que
GG (27,14 ± 2,79) e GI (27,38 ± 2,46) apresentaram maior pontuação comparado
ao SED (23,85 ± 3,65).

Tabela II - Média e desvio padrão das características antropométricas, nível de atividade física
pelo Questionário de Baecke Modificado para Idosos e MiniMental para o grupo ativo: GA, GG
e GI e sedentário (SED).
Idade (anos) Massa (kg) Estatura (m) Baecke MiniMental
Grupo
(pontos) (pontos)
Alongamento (GA) 73,00±5,12 64,54±10,21 1,56±0,06 3,54±1,99 26,66±2,46
Ginástica(GG) 67,36±6,74 61,59±7,59 1,57±0,04 5,26±3,30 27,14±2,79
Ioga (GI) 65,16±5,14 61,51±6,52 1,61±0,03 4,35±3,30 27,38±2,46
Sedentário (SED) 68,92±6,53 77,71±18,37 1,61±0,09 2,39±0,85 23,85±3,65
Total 68,82±6,47 66,65±13,41 1,59±0,06 3,90±2,47 26,25±3,14

A Figura 1 apresenta valores de média e desvio padrão para os itens da


escala BESTest para o grupo ativo: alongamento (GA), ginástica (GG), ioga (GI)
e sedentário (SED). ANOVA two-way revelou diferença significativa para grupo
(F1,52 = 9,119; p<0,001) e para item BESTtest (F5,260 = (64,101, p<0,001). Testes
post hoc para grupo revelaram que GG (16,53 ± 0,48 ptos) e GI (16,21 ± 0,49 pon-
tos) apresentaram valores maiores comparado ao SED (13,32 ± 0,48 pontos).

Figura 1 - Média e desvio padrão dos itens do BESTest: restrições biomecânicas, limites da esta-
bilidade/verticalidade, ajustes posturais antecipatórios, respostas posturais, orientação senso-
rial, estabilidade da marcha para o grupo ativo: GA, GG e GI e sedentário (SED).

Discussão

O objetivo do presente estudo foi comparar as diferentes intervenções


motoras do sistema de controle do equilíbrio em idosos praticantes de ativi-
dade física pelo Serviço de Orientação ao Exercício (ginástica, ioga e alonga-
110
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):104-13

mento) com idosos não praticantes de atividade física sistematizada, fazendo


uso de uma ferramenta de fácil aplicação e de baixo custo, denominado Balan-
ce Evaluation System Test (BESTest). Os principais achados do presente estudo
foram que os grupos GG (16,53 ± 0,48) e GI (16,21 ± 0,49) apresentaram maior
pontuação no BESTest quando comparado ao grupo sedentário (SED) (13,32 ±
0,48). Ainda, os idosos apresentaram maior pontuação nos itens estabilidade na
marcha (18,37 ± 3), limites de estabilidade/verticalidade (16,66 ± 2,83) e ajustes
posturais antecipatórios (15,5 ± 2,64) comparado aos itens respostas posturais
(13,82 ± 3,51), orientação sensorial (13,76 ± 1,78) e restrições biomecânicas (13,32
± 2,53). O Questionário Baecke modificado para idosos revelou que o nível de
atividade do grupo GG foi maior comparado ao grupo SED, o que já era espera-
do. Entretanto, isso não foi observado nas modalidades de ioga e alongamento,
sugerindo que a intensidade de ambas não foi, por si, capaz de promover níveis
de atividade física significativos, ficando em um nível similar ao grupo SED.
Por fim, no Mini-Exame de Estado Mental, os idosos do grupo GG e GI apre-
sentaram valores maiores que o grupo GA e SED. Isso significa que a atividade
física, promovida por essas duas modalidades (ginástica e ioga), pode ser capaz
de atuar sobre as capacidades cognitivas do praticante, podendo ser uma boa
aliada durante o processo de envelhecimento.
O estudo de O’Hoski et al. [17] mostrou relação moderada a alta do Ba-
lance Evaluation System Test (BESTtest) com a atividade física em idosos. Sendo
assim, O’Hoski et al. [17] reforçam os achados do presente estudo, pois o grupo
ativo praticante de ginástica e ioga apresentou melhor desempenho no BESTest
quando comparado com os idosos não praticantes de atividade física sistemati-
zada. Assim, o resultado do presente estudo pode ser justificado devido ao fato
das aulas de ginástica e ioga contemplarem exercícios realizados em diferentes
bases de apoio (bipodal e unipodal), movimentos multidirecionais (andando
de frente, de costas e lateralmente), podendo, assim, contribuir para a melhora
no sistema de controle do equilíbrio postural. Nesse contexto, Shanahan et al.
[18] mostraram que idosos praticantes de dança de salão também apresentaram
melhor desempenho no Balance Evaluation System Test (BESTest) quando com-
parados com idosos não praticantes de dança. Os autores justificam que a dan-
ça, assim como qualquer programa de atividade física sistematizada, contempla
vários fatores que podem trazer benefícios ao sistema de controle do equilíbrio
postural, como movimentos multidirecionais repetitivos [18].
No presente estudo, os idosos ativos participantes da intervenção moto-
ra alongamento apresentaram comportamento similar no BESTest quando com-
parados ao grupo não praticante de atividade física sistematizada. Chiacchiero
et al. [19] avaliaram a amplitude de movimento para flexão, extensão, abdução,
adução, rotação interna e externa do quadril; flexão e extensão do joelho; e
flexão plantar, dorsiflexão, inversão e eversão do tornozelo com o uso de um
goniômetro. Embora os autores relatam a limitação do estudo em avaliar o sis-
tema de equilíbrio postural utilizando apenas dois testes funcionais (Timed Get
Up and Go e Functional Reach Test), não foi encontrada qualquer relação entre
amplitude de movimento das articulações avaliadas com o teste de equilíbrio
[19]. A partir desses resultados, sugere-se que a intervenção motora em que o
objetivo principal está apenas no ganho de amplitude de movimento não pro-
move benefícios no sistema de controle do equilíbrio postural.
Curiosamente, todos os idosos apresentaram pior desempenho em três
dos seis itens do Balance Evaluation System Test (BESTtest), sendo os itens:
Cruz et al. 111
Equilíbrio em idosos

restrições biomecânicas, respostas posturais e orientação sensorial. Assim, po-


de-se inferir que são as categorias com maior nível de dificuldade nas tarefas
avaliadas, pois envolve condições não vivenciadas no dia a dia, principalmente
para os idosos que com o avanço da idade apresentam alterações nos sistemas
sensorial e motor. Makey e Robinovitch [20] examinaram a importância relativa
da força (pico de torque angular) e da velocidade de resposta (tempo de reação)
na habilidade dos indivíduos em utilizar a estratégia do tornozelo para recupe-
rar o equilíbrio a partir de um determinado ângulo de inclinação corporal.
Ao compararem jovens e idosos, os resultados indicaram que tanto a
força quanto a velocidade de resposta são menores para os idosos. Os autores
sugeriram que o atraso no tempo de resposta ocorreu devido às diferenças na
percepção do estímulo e no processamento de comandos motores. Isso pode ser
explicado devido aos fatores neuronais como a redução no número de unidades
motoras, a diminuição no número de neurônios motores encontrados na me-
dula espinhal e a redução na capacidade do sistema nervoso central em enviar
impulsos nervosos e ativar as unidades motoras [21]. A diminuição de força e
aumento do tempo para produção de força máxima podem levar a uma incapa-
cidade de gerar torque adequado nas articulações responsáveis pela manuten-
ção da postura.
Com relação ao pior desempenho dos idosos no item orientação senso-
rial do Balance Evaluation System Test (BESTtest), pode ser devido as alterações
dos sistemas sensoriais, principalmente dos sistemas somatossensorial, visual
e vestibular decorrentes do processo de envelhecimento que podem fornecer
informação sensorial reduzida e inapropriada para o sistema de controle postu-
ral. Diversos estudos [22-25] têm investigado a contribuição do sistema visual
para o controle postural por meio de manipulações deste sistema e verificação
da resposta postural desencadeada por esta manipulação [25]. É simples mani-
pular o sistema visual, visto que o simples ato de fechar os olhos já é suficiente
para observarmos alterações no controle postural. De acordo com uma revisão
de literatura realizada por Maki e McIlroy [26], idosos apresentam redução da
acuidade visual, da sensibilidade ao contraste, da percepção de profundidade e
da adaptação em ambientes escuros.
Além disso, há uma diminuição na capacidade de detectar mudanças
de direção do fluxo óptico. Como consequência destas alterações, idosos apre-
sentam dificuldade em perceber mudanças no ambiente, tais como, alterações
nas características do piso, desníveis e obstáculos [27], que podem trazer con-
sequências para o controle do equilíbrio, como histórico de quedas. Assim, o
Balance Evaluation System Test (BESTest), por oferecer uma avaliação comple-
ta, englobando diferentes sistemas, torna mais fidedigno o rastreamento e a
identificação do sistema que mais está afetado e que quer maior atenção para
futuras intervenções direcionado para a melhora no equilíbrio postural. Assim,
esta ferramenta mostra grande potencial como aliada em avaliações do sistema
de controle do equilíbrio em idosos.
Pesquisas futuras devem, se possível, realizar uma investigação pré e
pós-treinamento das modalidades ofertadas pelo SOE, para que seja evidencia-
do com clareza, possíveis alterações causadas por cada uma das práticas e, ain-
da, observar o tempo de prática necessária para que os praticantes possam ser
beneficiados com tais alterações. Um importante limitante do serviço que deve
ser levado em consideração é o fato de não ser realizado o controle do treina-
mento no que concerne, por exemplo, a progressão (sobrecarga) e intensidade
112
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):104-13

do treinamento. Dessa forma, um treino que ofereça esse controle pode vir a
fornecer dados mais precisos sobre as alterações e adaptações promovidas aos
participantes.

Conclusão

No que se refere as modalidades avaliadas, podemos concluir que as mo-


dalidades ginástica e ioga, oferecidas pelo Serviço de Orientação ao Exercício do
município de Vitória/ES, realizadas duas vezes na semana com duração aproxi-
mada de 60 minutos por sessão, tem capacidade de promover ganhos positivos
nos sistemas de equilíbrio na população idosa praticante, reduzindo o risco de
quedas e, consequentemente, ajudando a aprimorar a qualidade de vida.

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Como citar: Nascimento R, Desiree M, Monteiro ER, Ribeiro A, Reis N, Sant´Ana L, et al. Efeito agudo de
open acess diferentes métodos de alongamento em crianças dançarinas clássicas. Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):114- 114
23. DOI: https://doi.org/10.33233/rbfe.v19i2.3266

RBFEx Revista Brasileira de


ISSN: 2675-1372 Fisiologia do Exercício
Artigo Original

Efeito agudo de diferentes métodos de alongamento


em crianças dançarinas clássicas
Acute effect of different stretching methods in classical dancer children

Renata Nascimento1, Mariana Desiree1, Estêvão Rios Monteiro1, Aline Ribeiro2,3, Natália
Reis2, Leandro Sant’Ana2, Jeferson Vianna2, Jefferson Novaes1,2, Amanda Brown1,3,4
1. School of Physical Education and Sports, Federal University of Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
2. Faculty of Physical Education and Sports, Federal University of Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil.
3. Faculty of Physical Education, UNIFAA - Center University of Valença, Brasil.
4. Faculty of Medicine, Federal University of Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

RESUMO
Introdução: Os dançarinos utilizam exercícios de alongamento na preparação e fi-
nalização de treinamentos e atividades para aumentar a flexibilidade. O objetivo do
presente estudo foi comparar dois métodos de alongamento na amplitude de movi-
mento passiva (AMP) da flexão do quadril no curso do tempo em crianças dança-
rinas clássicas. Métodos: Vinte e uma crianças do sexo feminino foram recrutadas
para o estudo e cada participante visitou o laboratório em duas ocasiões durante três
dias, com pelo menos 24 horas entre as visitas. As participantes foram distribuídas de
forma randomizada para investigar os efeitos de três condições: controle (GC), alon-
gamento estático (AE) e facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) aplicada
na posterior de coxa, unilateralmente, na flexão passiva do quadril por 60 segundos.
Resultados: Não houve diferença estatística para GC (F = 0,716; p = 0,552), AE (F =
0,536; p = 0,662) e FNP (F = 1,713; p = 0,191). Conclusão: Os resultados encontrados no
presente estudo indicam que diferentes métodos de alongamento podem promover
aumentos na flexão do quadril e AMP sem diferença entre os métodos.
Palavras-chave: Flexibilidade, Dança, Crianças.

ABSTRACT
Introduction: Dancers use to do stretching exercises to increase flexibility in the
preparation and completion of training and activities. The purpose of the present
study was to compare two methods of passive stretching of hip flexion in classical
dancer children. Methods: Twenty-one female’s children were recruited for the stu-
dy, and each participant visited the laboratory on two occasions during three-days
at least twenty-four hours between visits. A randomized within-subject design used
to investigate the effects of three conditions: control (CG), static stretching (SS),
and proprioceptive neuromuscular facilitation (PNF) applied to the posterior thi-
gh, unilaterally, on passive hip flexion (HF) with 60-seconds. Results: There were no
statistical differences for CG (F = 0.716; p = 0.552), SS (F = 0.536; p = 0.662) and PNF (F
= 1.713; p = 0.191). Conclusion: The results found in the present study indicate that
different stretching methods can promote increases in HF and PROM without diffe-
rence between methods.
Key-words: Flexibility, Dancing, Youngster.

Recebido em: 30 de Dezembro de 2019; Aceito em: 20 de April de 2020.


Correspondência: Amanda Brown, Federal University of Rio de Janeiro, 540 Carlos Chagas Filho Avenue 21941-599
RJ, Brasil. E-mail: amandafernandesbrown@gmail.com
Nascimento et al. 115
Alongamento em crianças dançarinas clássicas

Introdução

O balé clássico foi desenvolvido em meados do século XVI com o desen-


volvimento de gestos e padrões de movimento que, com o tempo, foram aprimo-
rados, exigindo um desempenho físico mais elevado que envolve sensibilidade,
musicalidade, percepção, coordenação neuromotora, equilíbrio, tônus muscu-
lar, lateralidade, sensibilidade espaço-temporal e controle respiratório [1]. Os
dançarinos adotaram exercícios de alongamento para aumentar a flexibilidade
na preparação e finalização de treinamentos e atividades [2,3].
Entre os diferentes métodos de treinamento de flexibilidade utilizados
antes da atividade esportiva, pode-se citar o alongamento estático (AE) e a fa-
cilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) [4,3]. Esse fato concorda com
o Colégio Americano de Medicina Esportiva [5], que recomenda exercícios de
alongamento em um programa de treinamento supervisionado para melhorar
os ganhos de flexibilidade. A flexibilidade é considerada parte dos cinco com-
ponentes necessários da aptidão relacionada à saúde e são necessários níveis
adequados para garantir a vida, a estabilidade postural, o equilíbrio e o desem-
penho esportivo [5-8].
Geralmente, exercícios de alongamento têm sido usados como parte da
rotina de aquecimento tanto para reabilitação como para desempenho atlético
para aumentar a amplitude de movimento passiva (AMP) [9-14], aumento do
desempenho muscular [13, 15, 16] e desempenho de resistência muscular loca-
lizada [17], mas nem sempre [18-21], aumenta a resposta cardiovascular [22] e
reduz a dor muscular tardia no início [23-25].
O balé clássico é baseado em movimentos humanos naturais e requer
ações que envolvam força e flexibilidade, saltos e apoios [26]. A flexibilidade é
considerada necessária para a execução adequada e suave dos exercícios. Parece
ser um componente essencial do treinamento físico para obter e manter saúde,
qualidade de vida e desempenho esportivo [7]. Vários fatores podem influenciar
os níveis de flexibilidade (ou seja, sexo, idade e especificidade do treinamento),
e poucos estudos são encontrados na literatura sobre esses fatores. Portanto,
o objetivo do presente estudo foi comparar dois métodos de alongamento na
amplitude de movimento passiva da flexão do quadril no curso do tempo em
crianças dançarinas clássicas.

Material e métodos

Participantes

Vinte e uma crianças do sexo feminino (Tabela I) foram recrutadas para


o estudo. Um cálculo a priori do tamanho da amostra (tamanho do efeito =
3,40; 1-β = 0,95; α = 0,05) usando G * Power [27] encontrou que 6 indivíduos
seriam adequados; no entanto, para aumentar o poder estatístico, 7 indivídu-
os em cada grupo foram recrutados [28]. Os dados antropométricos incluíram
massa corporal (Balança Digital Techline – 150, São Paulo, Brasil) e estatura (Es-
tadiômetro ES 2030 Sanny, São Paulo, Brasil). Foram excluídos os participantes
que não praticassem balé clássico, tivessem limitações potenciais ocasionadas
por lesões ou condições médicas pré-existentes, respondessem positivamente
ao Questionário de Prontidão para Atividade Física (PAR-Q). Antes do estudo,
116
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):114-23

todos os participantes receberam uma explicação verbal do estudo e leram e


assinaram o Termo de Consentimento Informado e o PAR-Q [29]. Todos os pro-
cedimentos seguiram a Declaração de Helsinque.
Table I - Characteristics of participants.
Characteristics
Idade (anos) 9,33 ± 1,65
Altura (m) 1,41 ± 0,11
Peso (Kg) 36,64 ± 11,24
Índice de Massa Corporal 17,73 ± 3,45
ICC pré – GC 0,991
ICC pré – AE 0,996
ICC pré – FNP 0,999
ICC = índice de correlação intraclasse; GC = grupo controle; AE = alongamento estático; FNP =
facilitação neuromuscular proprioceptiva.

Procedimentos

Foi realizado uma randomização (https://www.randomizer.org/) dos


sujeitos para investigar os efeitos das condições: controle (GC), alongamento
estático (AE) e facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) aplicada na par-
te posterior da coxa, unilateralmente, com flexão passiva de quadril por 60 se-
gundos (Figura 1). Os participantes visitaram o laboratório em quatro ocasiões
durante sete dias, com pelo menos vinte e quatro horas entre as visitas.
Durante a primeira visita, os participantes foram submetidos a uma ava-
liação antropométrica. Cada sessão experimental incluiu duas medidas de fle-
xão do quadril em uma ordem aleatória e posteriormente foi calculado a média
para determinar as medidas iniciais. Após as medidas iniciais, os indivíduos fo-
ram randomizados para uma das três condições (GC, AE e FNP). A flexão de qua-
dril e a amplitude de movimento foi medida imediatamente após a intervenção,
10 e 20 minutos após cada intervenção para avaliar os efeitos do alongamento
na amplitude de movimento por um período prolongado. Para testar qual era
a perna dominante elas deveriam referenciar com qual perna chutariam uma
bola [30].

Figura 1 - Processo de randomização.


Nascimento et al. 117
Alongamento em crianças dançarinas clássicas

Inicialmente, os participantes chegaram ao laboratório e aguardaram


por 10 minutos para minimizar os efeitos térmicos do aquecimento muscular.
Imediatamente após esse período, foram realizados os procedimentos envolvi-
dos em cada protocolo experimental. No GC nenhuma técnica de alongamento
foi realizada, e apenas a flexão de quadril e a amplitude de movimento foram
medidas. Dois tipos de exercícios de alongamento (AE e FNP) foram aplicados
nas regiões posteriores da coxa.
Para cada protocolo de exercício de alongamento, o movimento foi le-
vado até uma posição de leve desconforto [7] para uma única série com um
volume de 60 segundos. As voluntárias foram instruídas a manter seu padrão
respiratório habitual em todos os protocolos de exercícios de alongamento. As
intervenções de exercícios de alongamento foram realizadas no mesmo horário
do dia para evitar possíveis variações diurnas. O AE foi realizado passivamente
com a perna dominante na posição de alongamento. Para procedimentos de
FNP, foi utilizada uma técnica de contrato-relaxamento [31]. Depois foi reali-
zada 1 série de 6 segundos de contração isométrica seguida de uma posição de
alongamento prolongada mantida por 24 segundos.
Este procedimento foi repetido duas vezes por um total de 60 segun-
dos. Para cada protocolo, o movimento foi conduzido até a posição de leve des-
conforto [7]. Nas duas técnicas, foram realizados alongamentos para a parte
posterior da coxa, os sujeitos ficaram em decúbito dorsal com braços e pernas
estendidos (Figura 2). A pesquisa levantou a perna, com o joelho estendido, re-
alizando a flexão de quadril até a posição máxima.

Amplitude de Movimento Passivo

A flexão de quadril passiva (Figura 3) na perna dominante foi medida


usando um goniometro manual (Trident, São Paulo, BRA) e os procedimentos
padronizados seguindo as recomendações de Norkin e White [32]. O AE foi ava-
liado em decúbito dorsal com o joelho dominante flexionado a 90 graus e o jo-
elho oposto estendido. Um manguito de pressão arterial colocado sob a coluna
lombar e depois inflado a 60 mmHg [33]. Essa pressão foi monitorada quando
a perna dominante foi abaixada passivamente até o final da amplitude de mo-
vimento, sem alterações associadas na posição pélvica ou pressão no manguito
de pressão arterial [33]. O pesquisador alinhou o eixo do goniômetro com o
trocanter maior, e os braços com o côndilo lateral do fêmur e a linha axilar
media ao eixo do goniômetro. Quando o tronco e a coxa estavam paralelos, o
AE e a amplitude de movimento foram definidos como 0 graus (amplitude de
movimento positiva, caracterizado pela flexão do quadril). Os braços relaxaram
ao lado do corpo durante os testes de amplitude de movimento. O mesmo pes-
quisador coletou todos os dados e a intervenção a qual os participantes haviam
sido submetidos foram mantidos às cegas.

Análise estatística

Os dados foram apresentados em média ± desvio padrão. Para testar a


normalidade dos dados e esfericidade foi usado teste de Shapiro-Wilk, para tes-
tar a homegeneidade foi confirmada por um teste de Mauchaly. A confiabili-
dade dos dados foram avaliados pelo cálculo do coeficiente intraclasse (CCI).
O cálculo pela equação: CCI = (MSb - MSw) / [MSb + (K-1) MSw), onde MSb =
118
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):114-23

média da diferença entre MSw = média da diferença dentro e K = tamanho mé-


dio do grupo. Uma ANOVA de medidas repetidas foi usada para testar a intera-
ção. Adicionalmente, foi calculado o tamanho do efeito (TE) usando a diferença
média padronizada para determinar a magnitude dos efeitos do tratamento.
O TE representa a mudança padronizada dentro do grupo para cada medição
em comparação com os valores de repouso (TE = [Média Pós - Média Pré] / DP
do repouso). A magnitude do TE foi interpretada usando a escala proposta por
Rhea [34] para indivíduos treinados em recreação foi <0,5; 0,50-1,25; 1,25-1,9 e >
2,0, representando efeitos triviais, pequenos, moderados e grandes, respectiva-
mente. Todas as análises foram realizadas utilizando o SPSS versão 21 (SPSS Inc.,
Chicago, IL, EUA) e um nível de significância de 5%.

Figura 2 - Demonstração do alongamento poste- Figura 3 - Demonstração passiva da flexão de


rior da coxa. quadril.

Resultados

Não foram encontradas diferenças estatísticas para GC (F = 0,716; p =


0,552), AE (F = 0,536; p = 0,662) e FNP (F = 1,713; p = 0,191) (Tabela II; Figura 4). Os
resultados referentes ao TE confirmam esses resultados, indicando que a maior
magnitude apresentou classificação trivial (Tabela II).

Table II - ES for each post-exercise


Pós-0 Pós-10 moment.
Pós-20
GC
Tamanho do -0.02 -0.45 -0.66
efeito Trivial Trivial pequeno
AE
Tamanho do 0.62 0.26 0.42
efeito pequeno Trivial Trivial
FNP
Tamanho do 1.00 0.94 0.40
efeito pequeno pequeno Trivial
GC = grupo controle; AE = alongamento estático; FNP = facilitação neuromuscular proprioceptiva;
Pós-0 = imediatamente após exercício; Pós-10 = 10-minutos após exercício; Pós-20 = 20-minutos após
exercício.
Nascimento et al. 119
Alongamento em crianças dançarinas clássicas

Figura 4 - Resposta entre condições nos diferentes tempos.

Discussão

O objetivo do presente estudo foi comparar dois métodos de alonga-


mento na amplitude de movimento passiva da flexão do quadril no curso do
tempo em crianças dançarinas clássicas. Não houve diferenças estatísticas para
GC (F = 0,716; p = 0,552), AE (F = 0,536; p = 0,662) e FNP (F = 1.713; p = 0,191). Os
resultados referentes ao TE confirmam esses resultados, indicando que a maior
magnitude apresentou classificação trivial. Os resultados encontrados no pre-
sente estudo estão de acordo com a literatura anterior [35], que encontrou um
aumento na flexibilidade dos dançarinos imediatamente após as técnicas de
alongamento (AE e FNP). Rubini et al. [35] investigaram os efeitos de AE e FNP
na flexibilidade de adutores de quadril em dançarinas de balé. Os autores equa-
lizaram o volume de alongamento e indicam aumento na TE (p <0,001; TE = 0,39)
e FNP (p<0,001; TE = 0,24) sem diferença entre as técnicas de alongamento. Além
disso, Melo et al. [36] verificaram aumento na flexibilidade da coxa posterior (p
= 0,05) no grupo FNP (8,78°) quando comparado ao grupo AE (6,99º). Wanderley
et al. [37] realizaram uma revisão sistemática que relatou baixa qualidade de
evidência sobre a eficácia do FNP em comparação com outros métodos de alon-
gamento, não permitindo declarar que um método fosse superior.
Ainda há controvérsias quanto à técnica e duração e como essas variá-
veis podem ter influenciado a frequência do alongamento ao propor ganho de
flexibilidade e os resultados dos presentes estudos. Em relação ao volume de
alongamento, Rubini et al. [35] aplicaram uma intervenção de quatro séries de
30 segundos com um intervalo de 30 segundos entre as séries, enquanto no pre-
sente estudo realizamos 60 segundos de alongamento. Tirlonil et al. [38] com-
pararam quatro volumes de AE (15, 60, 90 e 120 segundos) sobre a amplitude de
movimento na coxa posterior no ângulo do poplíteo. Os resultados encontrados
foram semelhantes ao presente estudo (embora não estatisticamente), que in-
dicou aumentos significativos em 60 segundos em comparação ao controle. Por
outro lado, os autores observaram uma melhor resposta à dose para volumes
mais altos (120 > 90 > 60 > 15 segundos), o que corrobora Decoster et al. [39],
Medeiros e Martini [40] e Wanderley et al. [37]. Os resultados encontrados por
120
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):114-23

Tirlonil et al. [38] diferem dos nossos em virtude das populações. Esse fato nos
leva a acreditar que intervenções com maiores volumes são necessárias para
crianças dançarinas clássicas. Dantas [1] indica que as crianças do sexo femini-
no são mais flexíveis quando comparadas aos homens ou quando comparadas
aos adultos.
Alguns estudos indicam que os ganhos de flexibilidade dependem do
número de séries por sessões realizadas [41,42]. Por exemplo, Gama et al. [41]
analisaram o número diferente de séries de FNP em três grupos de alongamen-
tos que receberam a intervenção cinco dias por semana, durante duas semanas
consecutivas, alternada em relação à frequência com uma, três e seis manobras
por sessão com a técnica de segurar-relaxar na flexibilidade posterior da coxa.
Os resultados indicaram que a flexibilidade aumenta em todos os protocolos
experimentais quando comparados ao grupo controle, mas não houve diferença
significativa entre os protocolos experimentais. No entanto, os sets múltiplos
(três e seis sets) foram melhores para os resultados da amplitude de movimento
passiva em comparação com o grupo de sets únicos, indicando dependência da
dose entre a flexibilidade e o número de sets.
Gama et al. [42] confirmam e indicam uma dependência de sessão para
flexibilidade. Os autores testaram dois intervalos diferentes entre as sessões,
24 horas (total de cinco sessões por semana) e 48 horas (total de três semanas
por sessão). Não observaram diferenças estatísticas entre os intervalos após 10
sessões de FNP para a coxa posterior.
No entanto, os resultados indicaram uma tendência de maiores volumes
serem mais eficientes para ganhos de flexibilidade, uma vez que o grupo que
realizou cinco sessões de alongamento por semana indicou ganhos com menos
sessões. Em contraste, Bandy et al. [43] avaliaram 93 participantes na frequên-
cia ideal de alongamento da musculatura posterior da coxa e não encontraram
diferenças significativas entre uma e três sessões de alongamento por dia.
Em nosso conhecimento, este é o primeiro estudo que avaliou a ampli-
tude articular passiva de crianças dançarinas, bem como o seu efeito do curso
de tempo dos ganhos de flexibilidade. No entanto, Škarabot et al. [30] compa-
raram o efeito do curso do tempo da AE e do foam rolling, tanto no desempe-
nho isolado quanto na combinação deles. Os autores encontraram aumentos
na amplitude de movimento passiva de dorsiflexão para todos os protocolos
experimentais, que permaneceram por até 20 minutos.
Da mesma forma, Monteiro et al. [44] compararam o efeito do curso do
tempo de foam rolling e massagem na amplitude de movimento passiva de fle-
xão e extensão do quadril e também encontraram aumentos na amplitude de
movimento do quadril por até 20 minutos. Embora sejam técnicas diferentes,
ambos os estudos estão de acordo com os achados do presente estudo, que ob-
servaram a tendência da amplitude de movimento passiva do quadril por até 20
minutos.
Diferentemente dos dois estudos, o presente estudo comparou a eficácia
de dois métodos e observou que a técnica de contrato-relaxamento (FNP) parece
ser mais eficiente para a amplitude de movimento passiva de flexão do quadril.
O efeito do curso do tempo é importante tanto para a reabilitação quanto para
a especificidade do balé, pois é necessário entender a duração dos resultados
encontrados após as técnicas de alongamento.
Ao longo do tempo, para verificar os efeitos diferentes dos exercícios de
alongamento nas atividades esportivas, os estudos testam diferentes técnicas
Nascimento et al. 121
Alongamento em crianças dançarinas clássicas

de aquecimento para aumentar a temperatura muscular, metabolismo energéti-


co, viscoelasticidade do tecido mole, taxa de pressão do produto e velocidade de
transmissão do impulso nervoso, melhorando a sensibilidade dos propriocepto-
res, recrutamento de unidades motoras, coordenação e capacidade de suportar
cargas. A literatura não é clara sobre o alongamento do desempenho do exercí-
cio durante a sessão de aquecimento, mas ainda assim é comum.
As técnicas de alongamento parecem modificar a viscosidade do siste-
ma musculotendinoso, redistribuir o fluxo sanguíneo e melhorar a difusão do
oxigênio disponível para os músculos [45,46]. Esse fato se torna importante na
especificidade da prática do balé e deve ser estimulado como uma forma de
aprimorar a amplitude de movimento passiva.
Há algumas limitações/delimitações a serem levadas em consideração
ao interpretar os resultados deste estudo. Primeiramente, a faixa etária avaliada
parece ter influenciado os resultados escolhidos, tendo em vista que as crianças
tendem a ser mais flexíveis que outras faixas etárias [1]. Em segundo lugar, a
prática esportiva parece influenciar diretamente a variável avaliada. Isso deve
ser levado em consideração que no balé e os dançarinos de jazz tendem a ser
mais flexíveis devido à funcionalidade de sua prática. Finalmente, séries únicas
com alongamento de 60 segundos podem ser ineficientes para promover uma
dose-resposta satisfatória na população estudada.

Conclusão

Os resultados encontrados no presente estudo indicam que diferentes


métodos de alongamento podem promover aumentos na FQ e na AMP sem di-
ferenças entre os métodos. Além disso, os resultados indicam uma diminuição
da FQ e da AMP após 10 minutos; esse fato permite aplicar as técnicas de alon-
gamento imediatamente antes do teste ou show, para otimizar a amplitude dos
movimentos do balé. Finalmente, os autores incentivam o desenvolvimento de
novos estudos com dançarinos e flexibilidade para indicar uma melhor resposta
à dose entre métodos e volumes de alongamento.

Agradecimentos
Os autores agradecem a todos os voluntários por sua participação

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00006
Como citar: Barbosa SR, Reis NR, Mansur HN. Associação entre fragilidade e doença arterial periférica. Rev
open acess Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):124-133. DOI: https://doi.org/10.33233/rbfe.v19i2.3891 124

RBFEx Revista Brasileira de


ISSN: 2675-1372 Fisiologia do Exercício
Artigo Original

Associação entre fragilidade e doença arterial


periférica
Association between frailty and peripheral arterial disease

Sergio Ribeiro Barbosa¹ , Natália Rodrigues dos Reis² , Henrique Novais Mansur³
1. Faculdade de São Lourenço, Departamento de Educação Física, São Lourenço, MG, Brasil.
2. Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil.
3. Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, Departamento Acadêmico de Educação – DAE, Núcleo de Educação Física e Saúde, Rio
Pomba, MG, Brasil.

RESUMO
Introdução: Fragilidade tem sido associada com hábitos de vida, doenças crônicas,
alterações genéticas e níveis elevados de proteínas pró-inflamatórias, justificando a
emergente relação proposta entre Fragilidade e doenças cardiovasculares. Objetivo:
Investigar fatores clínicos e sociodemográficos associados à Fragilidade, enfatizan-
do-se a relação com a doença arterial periférica. Métodos: Foram analisados pron-
tuários de 76 pacientes, considerando-se valores do Índice Tornozelo-Braquial (ITB),
Fragilidade, variáveis sociodemográficas e clínicas. Após análise descritiva, testou-
-se as diferenças pelo teste Qui-quadrado, t de Student e Post Hoc de Tukey, quan-
do apropriado. Considerou-se p < 0,05 para diferenças significativas. Resultados: A
prevalência de frágeis foi de 22,3% e de pré-frágeis 47,3%. Fragilidade associou-se
ao sexo feminino, hipertensão arterial, dislipidemia e ao analfabetismo funcional.
Alterações no ITB foram estatisticamente relacionadas à Fragilidade. Conclusão: Os
resultados dessa pesquisa alertam para necessidade de esforços direcionados a inter-
venções para prevenção e tratamento adequado da Fragilidade.

Palavras-chave: Doença arterial periférica, Doenças cardiovasculares, Doenças crônicas, Fragilidade.

ABSTRACT
Background: Frailty has been associated with lifestyle, chronic diseases, and genetic
alterations and with high levels of proinflammatory proteins, justifying the rela-
tionship proposed by the emerging literature that seeks associations between frailty
and cardiovascular diseases. Objective: To investigate clinical and sociodemogra-
phic factors associated with frailty, emphasizing the relationship with peripheral
arterial disease. Methods: Medical records of 76 patients were analyzed, considering
the results of the ankle-brachial index test, fragility, sociodemographic and clinical
variables. After the descriptive analysis, differences between groups were tested by
chi-square test, student’s t-test and Tukey’s post hoc test, when they were appropria-
ted. The value of p < 0.05 for statistically significant differences was considered. Re-
sults: The prevalence of frailty in the study sample was 22.3%, and 47.3% for pre-frail.
Frailty was associated with female gender, hypertension, dyslipidemia and level of
education. Changes in ankle-brachial index test were statistically associated with
frailty. Conclusion: The results of this research show the necessary targeted efforts
to prevent and treat frailty.

Key-words: Peripheral arterial disease, Cardiovascular disease, Chronic disease, Fragility.


Recebido em: 7 de Janeiro de 2020; Aceito em: 16 de Abril de 2020.
Correspondência: Natália Rodrigues dos Reis, Avenue José de Assis Vieira Journalist, 19, Jardim América, Rio Pomba
MG, Brasil. E-mail: natyrreis@hotmail.com
Barbosa et al. 125
Fragilidade e doença arterial periférica

Introdução

A Doença Arterial Periférica (DAP) compreende um grupo distinto de


doenças e síndromes que afetam o sistema arterial, venoso e linfático. Carac-
teriza-se pela estenose, oclusão aórtica ou oclusão arterial de membros, que
compromete o fluxo normal de sangue ou linfa [1]. O prognóstico relaciona-se
ao aumento da mortalidade, úlceras, risco de amputações, piora da capacidade
funcional e qualidade de vida. Apresenta-se também como forte preditora inde-
pendente para doença arterial coronariana e cerebrovascular [2].
A presença de DAP ou de outras comorbidades pode potencializar o sur-
gimento de complicações geriátricas, como a Fragilidade, que atualmente apre-
senta-se como um importante desafio para saúde pública [3]. A Fragilidade,
embasada pela tríade da sarcopenia, desregulação neuroendócrina e disfunção
imunológica, representa a perda de reservas funcionais e a diminuição da capa-
cidade de responder a estímulos estressores, sendo considerado o estado entre o
ideal de saúde e o declínio para a dependência e o óbito [4]. Todavia, acima dos
problemas relacionados à senescência, pesquisas apontam a relação da Fragili-
dade com hábitos de vida, doenças crônicas, alterações genéticas e com níveis
elevados de proteínas pró-inflamatórias [5], justificando, inclusive, a relação
proposta pela emergente literatura que busca associações entre Fragilidade e
doenças cardiovasculares [6].
A alta prevalência de doenças cardiovasculares e os desfechos adversos
da Fragilidade ratificam a necessidade de aprimorar o conhecimento da asso-
ciação entre os fatores, contribuindo para a elaboração de estratégias de pre-
venção de desfechos negativos, tais como, quedas, hospitalizações e morte [4].
Pelo exposto, o objetivo do presente estudo foi investigar fatores clíni-
cos e sociodemográficos associados à Fragilidade, enfatizando-se a relação com
a DAP.

Material e métodos

O presente estudo foi realizado no Núcleo Interdisciplinar de Estudo,


Pesquisa e Tratamento em Nefrologia da Universidade Federal de Juiz de Fora
(NIEPEN). Trata-se de uma investigação descritiva de coorte transversal, com
amostra composta por 76 indivíduos de ambos os sexos com idade média de
64,17 ± 11,2 anos.

Critérios de inclusão

Foram considerados para a pesquisa pacientes do Centro Hiperdia Mi-


nas de Atenção Secundária à Saúde que, de acordo com a análise do prontuário
clínico, apresentavam registro de realização de avaliação da Fragilidade e do
Índice Tornozelo-Braquial (ITB), com um intervalo máximo de seis meses para
mais ou para menos entre a realização de ambos.
Os critérios para a realização do ITB foram aqueles adotados pela uni-
dade onde os pacientes são atendidos, sendo: pacientes com idade superior a
65 anos e/ou diabéticos, hipertensos, tabagistas, com histórico familiar de DAP,
queixas sugestivas de claudicação intermitente, diminuição de pulso periférico,
alterações tróficas de pele e pelos hipercolesterolemia, hiper-homocisteinemia
126
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):124-133

ou presença de marcadores inflamatórios [7]. Já a avaliação da Fragilidade faz


parte do protocolo de atendimento da especialidade da Educação Física, no qual
os pacientes são selecionados de acordo com a demanda diária.
Não foram incluídos na pesquisa os pacientes que não realizaram a ava-
liação da Fragilidade e do Índice de Tornozelo-Braquial. A realização incomple-
ta ou de apenas um dos testes inviabilizou a participação do sujeito na amostra
do estudo.
A não realização da avaliação da Fragilidade pelos pacientes ou a reali-
zação parcial ocorreu por contraindicações médicas, sendo estas: amputações,
sequelas físicas graves de acidente vascular encefálico, doença de Parkinson,
gestação, neoplasias em estado avançado e contaminação pelo Vírus da Imuno-
deficiência Humana (HIV).

Dados clínicos e sociodemográficos

Os dados sociodemográficos e clínicos foram coletados através da análi-


se do prontuário do paciente, sendo selecionados: sexo, cor (autorrelatada), ní-
vel de escolaridade, tabagismo e etilismo, hipertensão arterial sistêmica, diabe-
tes, doença renal crônica, dislipidemia, obesidade (Índice de Massa Corporal),
hipertrofia ventricular esquerda, angina/infarto agudo do miocárdio, revascu-
larização do miocárdio/angioplastia, ataque isquêmico transitório, doença co-
ronariana, retinopatia e insuficiência cardíaca.

Fragilidade

Para determinação da Fragilidade utilizou-se a proposta de Fried et al.


[4]. Este é um constructo baseado na avaliação da força de preensão manual;
perda de peso maior que 5 kg, não intencional, no último ano; fadiga; velocida-
de de marcha e nível de atividade física. Considera-se como frágeis os indivídu-
os que pontuam em 3 ou mais critérios avaliados, pré-frágeis os indivíduos com
1 ou 2 pontos e não frágeis os indivíduos que não pontuaram.

Doença arterial periférica

Para verificação da presença de DAP aplicou-se o Índice Tornozelo-Bra-


quial (ITB). Para tal, divide-se o valor da pressão sistólica aferida na região ti-
bial pela pressão sistólica medida na região umeral [8].
Para a interpretação dos resultados, foi considerado o membro mais afe-
tado. Os valores menores que 0,90 referem-se à obstrução do fluxo periférico e
maiores que 1,30 são indicativos de rigidez arterial. Os resultados entre 0,90 e
1,30 são considerados como ausência de DAP percebida pelo teste, sendo pon-
derados como normais [8].

Análise estatística

O programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 20.0 foi
utilizado na interpretação dos dados.
Para análise exploratória dos dados da amostra em geral e das categorias
de Fragilidade empregou-se estatística descritiva, com frequência, média e des-
vio padrão, quando apropriado. As diferenças entre grupos foram testadas nos
Barbosa et al. 127
Fragilidade e doença arterial periférica

casos de proporção pelo teste do qui-quadrado, e no caso de variáveis contínuas


pelo teste t de student, seguido do teste Post Hoc de Tukey. Considerou-se para
o nível de significância entre as variáveis e grupos o valor de p < 0,05.

Aspectos éticos

Todos os princípios éticos foram respeitados, estando de acordo com a


Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O presente trabalho foi pre-
viamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da
Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora/MG, sob o parecer 566.668 (CAAE
25682813.4.0000.5139) (Anexo I).

Resultados

A Tabela I apresenta os resultados descritivos clínicos e sociodemográ-


ficos característicos da amostra total estudada e sua divisão entre os grupos de
Fragilidade.

Tabela I - Dados clínicos, laboratoriais e sociodemográficos divididos em grupos frágeis, pré-


-frágeis e não frágeis.
Variáveis Total Não Frágil Pre-Frágil Frágil P

n= 76 n = 23 n = 36 n = 17
Idade (anos), média ± DP 64,17 ± 11,2 63,09 ± 9,8 62,39 ± 11,0 69,41 ± 12,4 0,362
Sexo feminino, n (%) 45 (59,2) 8 (34,8) 26 (72,2) 11 (64,7) 0,035*
Índice de Massa Corporal (kg/ 31,04 ± 7,4 28,7 ± 6,8 32,9 ± 7,6 30,1 ± 7,1 0,522
cm²) média ± DP
Diabetes, n (%) 50 (65,8) 14 (60,9) 28 (77,8) 8 (47,1) 0,494
Hipertensão Arterial Sistêmica, 70 (92,1) 23 (100) 33 (91,7) 14 (82,4) 0,042*
n (%)
Doença Renal Crônica, n (%) 33 (43,4) 11 (47,8) 12 (33,3) 10 (58,8) 0,982
Dislipidemia, n (%) 10 (13,2) 5 (21,7) 5 (13,9) 0 (0,0) 0,049*
Hipertrofia Ventricular Esquerda, 13 (17,1) 4 (17,4) 9 (25,0) 0 (0,0) 0,212
n (%)
Angina/Infarto Agudo do 8 (10,5) 2 (8,7) 4 (11,1) 2 (11,8) 0,075
Miocárdio, n (%)
Insuficiência Cardíaca, n (%) 11 (14,5) 3 (13,0) 4 (11,1) 4 (23,5) 0,401
Ataque Isquêmico Transitório, n (%) 3 (3,9) 0 (0,0) 1 (2,8) 2 (11,8) 0,070
Hipotireoidismo, n (%) 9 (11,8) 2 (8,7) 5 (13,9) 2 (11,8) 0,728
Doença coronariana, n (%) 5 (6,6) 0 (0,0) 3 (8,3) 2 (11,8) 0,127
Revascularização do Miocárdio/ 4 (5,3) 1 (4,3) 2 (5,6) 1 (5,9) 0,823
Angioplastia, n (%)
Retinopatia, n (%) 9 (11,8) 3 (13,0) 3 (8,3) 3 (17,6) 0,728
Tabagismo, n (%) 25 (32,9) 7 (30,4) 13 (36,1) 5 (29,4) 0,895
Etilismo, n (%) 14 (18,4) 6 (26,1) 7 (19,4) 1 (5,9) 0,944
Analfabetismo funcional, n (%)o 30 (39,5) 2 (8,7) 17 (47,2) 11 (64,7) 0,001*
* diferença significa p < 0,05; º nível de escolaridade inferior a 4 anos (IBGE).
128
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):124-133

A alta prevalência de Fragilidade encontrada (22,3%) mostra-se estatisti-


camente significante associada ao sexo feminino, hipertensão arterial sistêmi-
ca, dislipidemia e ao nível de escolarização.
Na tabela II demonstram-se os resultados da análise da Fragilidade pe-
los resultados no teste de ITB. Os dados apresentam diferença estatisticamente
significante entre os grupos. Dos indivíduos com alteração no ITB, 32,3% eram
frágeis e 51,6% pré-frágeis.

Tabela II - Relação entre Fragilidade e os resultados no teste do ITB.


Variável Total Não Frágil Pré-Frágil Frágil P

n = 76 n = 23 n = 36 n = 17
ITB Normal, n (%) 45 (59,2) 18 (40) 20 (44,4) 7 (15,6) 0,017*
ITB Alterado, n (%) 31 (40,7) 5 (16,1) 16 (51,6) 10 (32,3)
*Diferença significativa p<0,05.

A relação entre os critérios de Fragilidade e ITB encontram-se na tabela


III. Verifica-se que em três dos cinco critérios avaliados para Fragilidade - ní-
vel de atividade física, força de preensão manual e velocidade de marcha - os
indivíduos com alteração no ITB pontuaram mais do que os pacientes sem alte-
ração. Para as variáveis de relato de exaustão e perda de peso não intencional,
nenhuma diferença significativa foi encontrada, todavia, é notória a elevada
prevalência em ambos os grupos.

Tabela III - Relação entre os critérios de Fragilidade e os resultados no teste do ITB.


Critérios de Fragilidade ITB Normal ITB Alterado P

n = 45 n = 31
Exhaustion report, n (%) 24 (53,3) 17 (54,8) 0,898
Physical activity level, n (%) 11 (24,4) 19 (61,3) 0,001*
Hand grip strenght, n (%) 7 (15,6) 12 (38,7) 0,023*
Walking speed, n (%) 3 (6,7) 7 (22,6) 0,045*
Weight loss, n (%) 9 (20,0) 6 (19,35) 0,945
*Diferença significativa p<0,05.

Discussão

O objetivo do presente estudo foi investigar fatores clínicos e sociode-


mográficos associados à Fragilidade, enfatizando-se a relação com a Doença
Arterial Periférica.
Dos 76 indivíduos avaliados, 22,3% foram considerados frágeis. Tais va-
lores são expressivamente superiores à média nacional que vem sendo apontada
em estudos com o mesmo protocolo de avaliação da Fragilidade, tal como de-
monstrado por Duarte et al. [9] que, ao avaliarem 1399 idosos do estudo SABE
na cidade de São Paulo, encontraram uma prevalência de idosos frágeis de 8,5%.
Quando comparado a estudos internacionais, os resultados ainda se mantêm
relevantes, estando superiores à média encontrada de 7,7% ao avaliar 60816 ido-
sos residentes em países europeus por Manfredi et al. [10] e de 6,9% em norte-a-
mericanos, verificados por Fried et al. [4].
Barbosa et al. 129
Fragilidade e doença arterial periférica

Também encontramos 47,3% dos avaliados como pré-frágeis. Nossos re-


sultados são superiores aos 41,5% apresentados em estudo multicêntrico brasi-
leiro [9], e em um estudo multicêntrico europeu, que encontrou prevalência de
42,9% de pré-frágeis [10]. Todavia, esses dados tornam-se ainda mais pertinen-
tes devido às características dinâmicas da Fragilidade. O indivíduo no estágio
pré-frágil apresenta reservas fisiológicas suficientes para responder adequa-
damente a alguns eventos estressores, contudo, a Fragilidade apresenta carac-
terísticas silenciosas e pode rapidamente agravar-se para um quadro frágil e
suas complicações associadas [11] e, em contrapartida, pode responder positi-
vamente ao tratamento e evoluir para uma classificação não frágil. Trevisan et
al. [12] mostraram a evolução negativa da síndrome em um estudo avaliando
2.925 idosos italianos. A transição do robusto para o pré-frágil e do pré-frágil
para o frágil aconteceu em 954 indivíduos, e 745 faleceram. Os indivíduos foram
reavaliados após 4,4 anos e a mortalidade foi de 2,4 vezes maior em indivíduos
frágeis [12]. Duarte et al. [9] encontraram uma evolução negativa da síndrome
de 11,8% indo a óbito, 0,3% sendo institucionalizados e 39,8% maior em indiví-
duos frágeis.
Respondendo ao objetivo principal do estudo, verificou-se que dentre
o total de frágeis, os indivíduos com ITB alterado, 32,3% foram classificados
como frágeis e 51,6% como pré-frágeis. Estes valores são expressivos, até mesmo
quando comparados a estudos que analisam Fragilidade associada a outras con-
dições clínicas. Por exemplo, Xue et al. [13] encontram uma prevalência de 21%
de Fragilidade em 171 pacientes internados e relataram que a aterosclerose foi
fator de risco para Fragilidade. No mesmo estudo [9], o ITB apresentou índices
menores em pacientes frágeis do que em pré-frágeis e não frágeis, indicando
correlação entre Fragilidade e doença cardiovascular.
Embora a fisiopatologia das doenças cardiovasculares e da Fragilidade
sejam complexas, ambas apresentam caminhos biológicos comuns que podem
explicar a associação encontrada entre as variáveis.
O estado inflamatório, representado por marcadores inflamatórios cir-
culantes, tais como interleucina-6 e proteína C-reativa, assim como marcado-
res trombóticos (VIII e D-dímeros) trazem forte associação entre a doença e a
Fragilidade. A inflamação sistêmica induz a ativação de placas ateroscleróticas
na doença cardiovascular através da oxidação de lipoproteínas, associando-se à
rigidez arterial e promovendo um estado neuro-hormonal catabólico muscular
[14], componente essencial no ciclo da Fragilidade. Ademais, permeia um dese-
quilíbrio potencializador de osteopenia, anorexia, declínio imunológico e cog-
nitivo, problemas hematológicos e metabólicos [6], que também se associam à
Fragilidade. Reforçando tal relação, já foi demonstrado que indivíduos frágeis
inflamados apresentam até 16% mais chances de desenvolver Fragilidade preco-
ce quando comparados a indivíduos não inflamados [15].
Outra possível associação entre Fragilidade e DAP é pelo estresse oxida-
tivo. Definido como um desequilíbrio entre a formação e remoção de agentes
oxidantes no organismo, o estresse oxidativo vem sendo relacionado à patogê-
nese vascular, associado à rigidez arterial e à redução da luz arterial [16]. Em
nível celular, o estresse oxidativo também tem sido postulado como um possível
mecanismo que leva à Fragilidade. Devido às alterações da divisão celular e à
produção de proteínas associadas a processos patológicos e/ou envelhecimen-
to, ocorre a perda de telômeros. Tal perda, mediada pelo desequilíbrio oxidativo,
mostra-se fortemente ligada ao declínio fisiológico em adultos mais velhos e ao
130
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):124-133

aumento da mortalidade. Contudo, até o momento, esses resultados não têm


sido extrapolados para relação com a Fragilidade, sugerindo-se novos estudos
[17].
Segundo Longo et al. [1], menos de 50% dos pacientes com DAP são sin-
tomáticos. Todavia, há de se considerar a sintomatologia na relação encontrada.
A claudicação intermitente associada a câimbras, cansaço, dor em repouso ou
durante o esforço, vincula-se à diminuição da velocidade e tempo de caminha-
da, piora da função musculoesquelética, baixa qualidade de vida e intolerância
ao exercício [18]. Assim, podem explicar a associação entre Fragilidade e DAP.
As demais variáveis clínicas e sociodemográficas analisadas e as associa-
ções encontradas com a Fragilidade também merecem especial atenção.
Verifica-se no estudo que 64,7% dos frágeis e 72,2% dos pré-frageis eram
mulheres, expressando uma diferença significativa quando comparada a ho-
mens com quadro clínico semelhante. Segundo Fried et al. [4], tal diferença é
devido ao menor percentual de massa magra e força muscular no sexo femini-
no, além da maior tendência à sarcopenia, anorexia e inadequações alimentares
entre as mulheres.
Em nossa amostra, 39,5% dos indivíduos eram analfabetos funcionais,
representando valores superiores à média nacional de 27% [18]. De acordo com
Ribeiro et al. [20], a baixa escolaridade é prevalente entre os usuários do Sistema
Único de Saúde (SUS), o que pode explicar a diferença com a média nacional,
que considera indivíduos atendidos pelo sistema público e privado. Da mesma
forma, o autor constata que os usuários do SUS com baixa renda apresentam
um pior estado de saúde autorreferido. Verifica-se também que a baixa escola-
ridade pode ser um fator dificultador para o conhecimento de doenças e ade-
são a tratamentos adequados, o que reflete na piora da saúde [21]. Ademais, a
associação entre Fragilidade e baixa escolaridade foi também encontrada por
Duarte et al. [9] que encontraram uma proporção de 15,4% maior de Fragilidade
em idosos analfabetos, e por Wanaratna et al. [22] que verificaram a Fragilidade
e foi 4,04% mais frequente em idosas com baixa escolaridade. Além das menores
oportunidades ao acesso aos cuidados de saúde, essa maior prevalência pode
ser explicada pela baixa ingestão nutricional [22]. A hipertensão arterial, dia-
betes e doença renal crônica também apresentaram prevalência elevadas. Con-
tudo, a predominância já era esperada por se tratar de um centro de referência
no atendimento à população com essas patologias. Apesar disso, apenas a hi-
pertensão arterial sistêmica foi considerada significante na incidência de Fragi-
lidade. A hipertensão arterial foi identificada por Beneto et al. [27], em revisão
de literatura, como apresentando taxas mais altas de morbidade e mortalidade
em indivíduos frágeis.
A Fragilidade está relacionada à diminuição das reservas fisiológicas,
causando dificuldades nas manutenções da homeostase [4], desta forma Buto
et al. [23] analisaram o barorreflexo, um dos mecanismos de homeostase cardio-
vascular, em pessoas frágeis. O barorreflexo apresentou desacoplamento entre
o período cardíaco e a pressão arterial sistólica em pessoas frágeis e pré-frá-
geis comparados a pessoas não frágeis [23]. Poucos foram os estudos que se
dedicaram a verificar a relação entre hipertensão arterial e Fragilidade. Den-
tre eles, Newman et al. [25] verificam que há um aumento de 15% no risco de
Fragilidade para cada aumento de 10 mmHg da pressão arterial sistólica. Para
Fattori [26], a hipertensão arterial potencialmente explica alterações de fluxo
sanguíneo para os tecidos, acelerando o processo de sarcopenia, sendo esta uma
Barbosa et al. 131
Fragilidade e doença arterial periférica

variável decisiva no quadro de Fragilidade. Benetos et al. [27] relataram em um


estudo longitudinal que o uso de terapia anti-hipertensiva pode trazer riscos a
idosos frágeis, aumentando o índice de mortalidade.
As dislipidemias são consideradas quaisquer alterações nos valores re-
ferenciais lipoproteicos, considerando o colesterol total, triglicerídeos, lipopro-
teína de baixa e alta densidade (LDL-c e HDL-c) e colesterol não-HDL [28]. A
associação encontrada em nosso estudo não aponta relação entre Fragilidade e
dislipidemia. Segundo Bastos-Barbosa et al. [24], poucos foram os estudos que
se dedicaram a verificar relações entre essas variáveis, e estes, até o momento,
também não apresentam associações positivas. A exceção parece ser com o HDL-
-c. Por exemplo, o trabalho denominado “iLSIRENTE study” avaliou 359 sujeitos
e demonstrou pior performance funcional e mortalidade por todas as causas
associada a menores valores de HDL em idosos frágeis [29]. Essas informações
foram confirmadas por Chanti-Ketterl et al. [30] que relataram menor capaci-
dade funcional em idosas com menores níveis de HDL. Apesar da importante
associação entre DAP, variáveis clínicas e sociodemográficas com a Fragilidade,
nosso trabalho possui limitações. A amostra insuficiente de pacientes com ITB
alterado inviabilizou a divisão em grupos com valores inferiores a 0,9 e superio-
res a 1,3. Contudo, os mesmos compartilham forte associação com inflamação,
estresse oxidativo, piora da função endotelial, além do prognóstico de doença
coronariana, cerebrovascular e elevadas taxas de mortalidade. Outro limitante
relaciona-se ao caráter transversal do estudo, o que nos impede determinar re-
lação causal entre as variáveis do estudo. Ainda, a coleta de dados via análise de
prontuário inviabiliza a melhor exploração das associações encontradas.

Conclusão

Verificamos que, dentre os indivíduos com alterações no ITB, há uma


alta prevalência de Fragilidade. O estado inflamatório, o estresse oxidativo e
piora na função endotelial são encontrados como os principais fatores que ori-
ginam a associação entre as duas síndromes. Alerta-se assim para necessidade
de esforços direcionados a detecção precoce da Fragilidade e intervenções ne-
cessárias, objetivando a melhoria de ambos os quadros. Os fatores clínicos e
sociodemográficos que tiveram associação foram hipertensão e dislipidemias,
sexo e nível de escolaridade, respectivamente, podendo ser indicativos de neces-
sidade de intervenção primária.
Dessa forma, a associação da Fragilidade a desfechos negativos signifi-
cantes de autonomia, qualidade de vida e mortalidade, reforçam a necessidade
da busca contínua da compreensão de suas bases fisiopatológicas.

Agradecimentos
Os autores agradecem ao Núcleo Interdisciplinar de Estudo, Pesquisa e Tratamento em Nefrolo-
gia da Universidade Federal de Juiz de Fora (NIEPEN) por disponibilizar espaço e informações
para realização do presente.

Financiamento
Essa pesquisa não contou com financiamento.
132
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):124-133

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RBFEx Revista Brasileira de


ISSN: 2675-1372 Fisiologia do Exercício
Artigo Original

Relação entre variáveis antropométricas e


hemodinâmicas em servidores públicos de Sergipe

Relação entre variáveis antropométricas e hemodinâmicas em servidores


públicos de Sergipe

Patrícia Morgana Ferreira Santos1, Lúcio Marques Vieira Souza1,2, Jymmys Lopes dos
Santos2, Matheus Amarante do Nascimento3, Clésio Andrade Lima2,
Ricardo Aurélio Carvalho Sampaio4
1. Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura de Sergipe - SEDUC, Aracaju/SE, Brasil.
2. Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, Universidade Federal de Sergipe - UFS, São Cristóvão/SE, Brasil.
3. Departamento de Educação Física, Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR, Campus Paranavaí, Paranavaí/PR, Brasil.
4. Departamento de Educação Física, Universidade Federal de Sergipe - UFS, São Cristóvão/SE, Brasil.

RESUMO
Atividades físicas têm importante efeito profilático contra doenças cardiovasculares,
pois promovem redução do peso corporal e níveis pressóricos, por exemplo. Indiví-
duos que desenvolvem trabalhos administrativos têm tendência ao sedentarismo,
com consequente risco de obesidade. No entanto, a relação entre medidas antropo-
métricas e hemodinâmicas ainda é inconsistente. Assim, o objetivo deste trabalho
foi analisar a correlação entre parâmetros antropométricos e hemodinâmicos de ser-
vidores públicos. É um estudo observacional e transversal com uma amostra de 147
indivíduos. Verificou-se que homens normotensos apresentaram maiores médias de
índice de massa corporal em relação aos hipertensos. Em contrapartida, esses indi-
víduos demonstraram maiores valores de frequência cardíaca em repouso. Notou-se
que nenhuma das variáveis antropométricas foi associada à pressão arterial sistólica
e diastólica, observando-se apenas associações das variáveis antropométricas entre si
(r = 0,738 - peso corporal e quadril; e r = 0,936 - abdômen e circunferência de cintura).
Portanto, não se observou associações entre variáveis antropométricas, índices pres-
sóricos e frequência cardíaca de repouso. Conclui-se que, apesar das variáveis antro-
pométricas serem boas preditoras de adiposidade corporal, não necessariamente são
relacionadas com variáveis hemodinâmicas. A prática de atividade física deve ser es-
timulada dentro das rotinas laborais, em momentos oportunos, buscando incentivo
a hábitos saudáveis e melhoria dos indicadores antropométricos..

Palavras-chave: Antropometria, Hemodinâmica, Servidores Públicos, Risco Cardiovascular,


Adiposidade.

ABSTRACT
Physical activities have an important prophylactic effect against cardiovascular
diseases, as they promote reduction in body weight and blood pressure levels, for
example. Individuals working on administrative functions tend to be sedentary,
with consequent risk of obesity. However, the relationship among anthropometric
and hemodynamic variables is still inconsistent. Thus, the aim of this study was to
Recebido em: 5 de Fevereiro de 2020; Aceito em: 9 de Abril de 2020.
Correspondência: Lúcio Marques Vieira Souza, Cidade Universitária “Prof. José Aloísio de Campos”, Av. Marechal
Rondon, s/n. Jardim Rosa Elze, 49100-000. São Cristóvão/SE. E-mail: profedf.luciomarkes@gmail.com
Santos et al. 135
Relação entre antropometria e hemodinâmica

analyze the correlation among anthropometric and hemodynamic parameters of pu-


blic servants. This is an observational and cross-sectional study with a sample of 147
individuals. It was verified that normotensive men had higher body mass index than
hypertensive men. In contrast, these individuals showed higher resting heart rate
values. It was noted that none of the anthropometric variables were associated with
systolic and diastolic blood pressure; the associations verified were among anthropo-
metric variables (r = 0.738 - body weight and hip; and r = 0.936 - abdomen and waist
circumference). Also, no associations among anthropometric variables, blood pressu-
re indices and resting heart rate were observed. In conclusion, although anthropome-
tric variables are good predictors of body adiposity, they are not necessarily related
to hemodynamic variables. The practice of physical activities should be encouraged
within work routines, at appropriate times, aiming to improve healthy habits and
anthropometric indicators.

Key-words: Anthropometry, hemodynamics, public servants, cardiovascular risk, adiposity.

Introdução

Sabe-se do efeito positivo do exercício físico regular sobre as reduções


dos riscos de doenças crônicas degenerativas, tais como a hipertensão e o dia-
betes [1,2]. Parte desses efeitos estão relacionados aos decréscimos dos níveis
pressóricos de indivíduos obesos [3], mulheres jovens acima do peso [4], exer-
cendo, assim, efeitos benéficos profiláticos sobre os perfis hiperinsulinêmicos
[5].
Encontra-se na literatura científica estudos que associam as altas taxas
de doenças cardiovasculares à hipertensão arterial [6-8], ao excesso de peso [9],
o que corroboram para a alta incidência em vários países no mundo. Há de se
considerar, também, que uma grande parcela da população passa parte de suas
vidas no ambiente laboral e muitos desses postos de trabalho são potenciais
despertadores do comportamento sedentário [10,11].
No estudo de Parry e Straker [12], os resultados apontaram que uma
parte dos indivíduos com vidas produtivas, incluindo as que envolvem ativida-
des laborais de escritórios, apresentaram comportamento sedentário em 82%
das horas; enquanto aqueles que não estavam no ambiente laboral tiveram 62%
das horas. Isso leva a necessidade de formulações de propostas que envolvem
mudanças de hábitos com o foco em reduzir comportamentos sedentários, vi-
sando a melhoria da saúde cardiometabólica dessas pessoas, com consequente
incremento na qualidade de vida [13].
Nesse contexto, ainda existe inconsistência na relação entre excesso de
peso e obesidade, por meio de aferições antropométricas, e aos riscos de hi-
pertensão em homens e mulheres no ambiente laboral em diversos segmentos
[14-16]. Evidências apontam que há uma relação estrita entre as variáveis an-
tropométricas e a saúde cardiometabólica a longo prazo [17], porém, no Brasil,
há uma escassez de estudos envolvendo o ambiente laboral, principalmente em
algumas regiões do país, como o Nordeste.
Poucos estudos analisaram as associações conjuntas entre variáveis an-
tropométricas relacionadas com os parâmetros da saúde cardiovascular dos in-
divíduos no ambiente laboral. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar as re-
lações entre variáveis antropométricas e pressão arterial em servidores públicos
de um órgão do poder executivo do Estado de Sergipe.
136
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):134-140

Materiais e Métodos

Delineamento e amostra

O presente estudo foi caracterizado como observacional transversal. A


amostra foi composta por 147 indivíduos de ambos os sexos, categorizados de
acordo com os valores de pressão arterial (idade: homens normotensos 38,87 ±
10,49 anos, hipertensos 41,64 ± 10,35 anos; idade: mulheres normotensas 44,57 ±
9,98, hipertensas 39,81 ± 15,47 anos). Os participantes foram escolhidos aleato-
riamente, dentre diversos setores de um órgão do poder executivo do Estado de
Sergipe. A critério de inclusão, a faixa etária proposta para o estudo foi de 19 a
61 anos, visando abranger o maior número possível dos participantes; no entan-
to, as médias de idade encontradas apontam os sujeitos próximos aos 40 anos de
idade. Os dados foram coletados por avaliadores treinados e equipamentos pre-
viamente calibrados. A coleta de dados ocorreu durante o horário do expediente
entre as 8h e 11h da manhã. As variáveis analisadas envolveram aspectos socio-
demográficos (idade e sexo); antropométricos (índice de massa corporal [IMC],
relação cintura/quadril [RCQ] e circunferência de cintura [CC]; hemodinâmicos
(pressão arterial sistólica [PAS], pressão arterial diastólica [PAD] e frequência
cardíaca de repouso [FCR]).
Os voluntários foram informados sobre os objetivos do estudo, bem
como todos os critérios da pesquisa envolvendo seres humanos, atendendo as
orientações da Resolução no 196/1996, atualizada na Resolução no 510/2016 do
Conselho Nacional de Saúde e assinaram o termo de consentimento livre e es-
clarecido. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Univer-
sidade Federal de Sergipe (UFS), por meio do processo nº 41225414.4.0000.5546.

Procedimentos

As variáveis idade e sexo foram registradas por meio de questionário,


sendo a idade disposta em anos, considerando escala decimal desde a data de
nascimento até a data da coleta.
A massa corporal foi mensurada em balança com capacidade máxima de
150 kg e precisão de 0,1 kg (G-Tech, modelo Glass Pro), enquanto a estatura foi
medida com estadiômetro de parede (Wiso®, Brasil), com precisão de 0,1 cm. A
CC foi obtida utilizando-se fita métrica não extensível, posicionada imediata-
mente acima da cicatriz umbilical e a leitura feita no momento da expiração,
conforme os padrões já realizados e recomendados [18].
A CQ foi aferida na região de maior perímetro entre a cintura e a coxa
[19]. A RCQ foi calculada por meio da razão entre CC e CQ e classificada de
acordo com os pontos de corte já descritos anteriormente na literatura [20]. O
estado nutricional foi estabelecido a partir do IMC, definido como a divisão da
massa corporal (kg) pelo quadrado da estatura (m).
Quanto às variáveis pressóricas foram aferidas PAS, PAD, bem como a
FCR. Para medida da pressão arterial foi utilizado o equipamento automático
e oscilométrico de medida da pressão arterial (Omron, modelo HEM-7200, São
José do Rio Preto, Brasil). A partir daí, foram realizadas três medidas consecu-
tivas de pressão arterial em que a diferença dos valores da PAS e PAD foram de
no máximo quatro milímetros de mercúrio (4 mmHg). Para tanto, foi respeitado
um mínimo de um minuto entre cada medida necessária. Foi considerado um
Santos et al. 137
Relação entre antropometria e hemodinâmica

valor ótimo de pressão arterial <120/80 mmHg e um valor alterado de ≥ 140/90


mmHg, os procedimentos seguidos estão contidos nas recomendações da Socie-
dade Brasileira de Hipertensão [21].

Análise estatística

Na análise estatística foram utilizados os métodos estatísticos descriti-


vos de frequências. Inicialmente, os dados foram analisados com base na com-
paração entre indivíduos normotensos e hipertensos. Dessa forma, foi adotado
o teste t independente para as variáveis paramétricas e o teste U de Mann-Whit-
ney para as não paramétricas.
Em seguida, correlação binária de Pearson e de Spearman, quando apro-
priadas, também foram realizados, buscando verificar a correlação entre as va-
riáveis antropométricas e hemodinâmicas da amostra. A diferença estatística
foi estabelecida como p< 0,05. Foi utilizado o SPSS versão 22.

Resultados

A tabela I apresenta a comparação entre indivíduos estratificados em


normotensos e hipertensos, por sexo. Não foram encontradas diferenças signifi-
cativas para quase todas as variáveis exceto, claramente, para PAS e PAD. Ainda,
homens normotensos apresentaram maiores médias relacionadas ao IMC em
relação aos hipertensos, que em contrapartida, demonstraram maiores valores
para a FCR.

Tabela I - Características antropométricas e hemodinâmicas.


Homens Mulheres
Variáveis Normotensos Hipertensos p Normotensos Hipertensos p
(n=31) (n=11) (n=84) (n=21)

Idade 38,87±10,49 41,64±10,35 0,457 44,57±9,98 39,81±15,47 0,400


Peso (kg) 87,87±14,36 79,16±12,07 0,080 68,35±12,11 64,78±10,74 0,221
Estatura (m) 1,74±0,70 1,74±0,08 0,816 1,60±0,061 1,61±0,79 0,421
PAS (mmHg) 120,39±10,48 150±8,56 0,000* 119,81±12,71 156,95±19,51 0,000*
PAD (mmHg) 76,32±7,14 95,45±6,47 0,000* 73,69±12,70 92,52±11,13 0,000*
Abdome (cm) 99,14±12,24 94,14±10,38 0,234 89,46±10,60 85,09±8,17 0,113
Cintura (cm) 95,69±12,15 88,64±10,74 0,97 81,85±9,88 79,33±8,75 0,288
Quadril (cm) 105,74±6,68 102,41±6,73 0,164 104,30±9,58 102,50±7,98 0,430
RCQ 0,90±0,83 0,86±0,86 0,205 0,78±0,65 0,77±0,70 0,526
IMC (Kg/m²) 29,14±4,83 25,97±3,06 0,049* 26,75±5,17 24,85±3,84 0,168
FCR 75,26±9,73 83,64±7,99 0,014* 73,86±11,14 74,33±9,89 0,849
Fonte: Autoria própria (2020); p≤0,05.

Table II shows the correlation analyzes between anthropometric and


hemodynamic variables. It was noted that despite the relationship among an-
thropometric variables, no association was found among anthropometry, SBP,
DBP and RHR.
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Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):134-140

Tabela II - Correlação bivariável de variáveis antropométricas e hemodinâmicas dos servidores


hipertensos.
Variáveis Idade Peso EST IMC AB CC Q PAS PAD FCR RCQ
Idade -- ,318 -,035 ,415* ,640** ,575** ,262 ,031 ,138 ,196 ,554**
Peso -- ,622** ,830** ,754** ,790** ,738** ,043 ,054 ,274 ,421*
Estatura -- ,131 ,398* ,386* ,187 -,113 -,070 ,236 ,293
IMC -- ,693** ,740** ,822** ,197 ,183 ,221 ,326
AB -- ,936** ,497** ,136 ,268 ,331 ,757**
CC -- ,523** ,192 ,284 ,348 ,807**
Quadril -- ,058 ,035 ,133 -,023
PAS -- ,502** ,056 ,171
PAD -- ,354* ,234
FCR -- ,303
RCQ --
Fonte: Autoria própria (2020); *Correlação significativa para p≤0,05; **Correlação significativa
para p≤0,01.

Discussão

No presente estudo, apesar de terem sido encontradas fortes correlações


entre as variáveis antropométricas entre si, não se observou relação entre vari-
áveis antropométricas e hemodinâmicas (i.e., PAS, PAD e FCR). No entanto, ou-
tros achados mostraram maior prevalência de sobrepeso, no caso de homens, no
grupo normotenso em comparação ao hipertenso. Estes, apresentaram maiores
níveis de FCR em relação aos primeiros.
O excesso de peso e obesidade são classificados como um grave pro-
blema de saúde pública de origem multifatorial, caracterizado pelo acúmulo
excessivo de gordura corporal, a qual tem exibido aumento na prevalência em
níveis internacionais [20]. O incremento não desejado do tecido adiposo, fre-
quentemente, é decorrente da hipocinesia e elevada ingestão calórica, o que,
consequentemente, proporciona efeitos negativos à saúde, como aumento no
risco de doenças crônicas degenerativas [22].
O estado nutricional na presente investigação foi representado pelo
IMC, foram identificados valores mais baixos de excesso de peso no grupo dos
hipertensos; porém, destaca-se plausivelmente que o acúmulo de tecido adipo-
so ao longo do tempo, está relacionado aos riscos de hipertensão em homens e
mulheres, como reportados em ensaios clínicos que analisaram indivíduos de
diversos setores laborais [14-16].
Em relação à FCR, os homens hipertensos demonstraram maiores índices
em repouso. Nesse contexto, outro estudo prospectivo analisou e descreveu as
diferenças de sexos dentre outras variáveis hemodinâmicas de referência como
a PAS e PAD, e observou a ocorrência dos valores mais elevados para o sexo mas-
culino em relação ao sexo oposto [18], a exequibilidade da proposta indica en-
tão que deve ser implementado nessa população um manejo adequado, novas
formulações e estratégias mais eficazes no enfrentamento dessas questões, no
tocante às diferenças de sexo para o controle dessas condições.
Outro estudo de coorte, porém, com uma amostra superior envolvendo
290 hipertensos (62,1% mulheres), verificou que mulheres hipertensas possu-
Santos et al. 139
Relação entre antropometria e hemodinâmica

íam maior controle dessas disfunções em comparação aos homens, apesar da


existência de variáveis biopsicossociais negativas que poderiam influenciar a
adesão ao tratamento [23].
Os indicadores de pressão arterial são fundamentais para a prevenção
e monitoramento de futuros eventos cardiovasculares. Os rastreamentos dessas
variáveis obtidas através de pesquisa básica e aplicada, resultam no desenvolvi-
mento de estratégias de saúde pública para as prevenções primárias e secundá-
rias em combate aos efeitos deletérios ao estado de saúde [24].
Nesse estudo, constatou-se fortes correlações entre os indicadores an-
tropométricos (r = 0,738 - para peso e quadril; e r = 0,936 - para abdômen e
circunferência de cintura), porém não foi possível observar essas associações
com as variáveis de desfecho (PAS e PAD), uma explicação plausível foi a baixa
quantidade amostral para que ocorressem as possíveis inferências.
Acredita-se que o local de trabalho é um cenário suscetível para inter-
venções no âmbito da redução e interrupção dos comportamentos sedentários
que visam à melhoria da saúde cardiometabólica e, consequentemente, quali-
dade de vida desses indivíduos [15,16].

Conclusão

Consideravelmente, há grande importância no monitoramento e ras-


treio de parâmetros antropométricos e cardiovasculares no cenário nacional,
em especial de estudos com amostras epidemiológicas que melhor representam
as condições culturais dos trabalhadores envolvidos em diversas funções labo-
rais de órgãos do poder executivo.
Até o presente momento, não se observou nenhuma intervenção condu-
zida no local de trabalho em servidores públicos do Estado de Sergipe, envol-
vendo variáveis como excesso de peso/obesidade obtidas através de diferentes
tipos de aferições antropométricas na saúde cardiovascular, refletindo assim
em possíveis parâmetros da qualidade de vida.
Acredita-se que encorajar pessoas a serem fisicamente ativas com imple-
mentações de programas de atividades físicas nos locais de trabalho, são ótimas
aproximações pertinentes para problemas relacionados a maus hábitos de saú-
de, tendo em vista os riscos associados entre obesidade, saúde cardiovascular e
mortalidade. Recomenda-se a prática de atividades físicas em momentos opor-
tunos, dentro das rotinas laborais e o incentivo às práticas fora dela, buscando
intervenções para melhoria de indicadores antropométricos.

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https://doi.org/10.5935/2359-4802.20150058
Como citar: Jesus GR, Peixoto MS, Oliveira SS. Intervenções cinesioterapêuticas na mobilidade diafragmática de
open acess pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica: revisão sistemática. Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):141- 141
53. DOI: https://doi.org/10.33233/rbfe.v19i2.4107

RBFEx Revista Brasileira de


ISSN: 2675-1372 Fisiologia do Exercício
Revisão Sistemática

Intervenções cinesioterapêuticas na mobilidade


diafragmática de pacientes com doença pulmonar
obstrutiva crônica: revisão sistemática
Kinesiotherapeutic interventions in diaphragmatic mobility of
patients with chronic obstructive lung disease: systematic review

Gilson Rosa de Jesus1, Milena Santos Peixoto1, Sidney de Souza Oliveira1,2,3


1. Faculdade de Ciências Empresariais (FACEMP), Santo Antônio de Jesus, BA, Brasil.
2. União Metropolitana de Educação e Cultura (UNIME), Lauro de Freitas, BA, Brasil.
3. Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil.

RESUMO
Este estudo analisou os impactos fisiopatológicos da Doença Pulmonar Obstrutiva
Crônica (DPOC) no sistema respiratório e os benefícios das intervenções cinesiotera-
pêuticas na mobilidade diafragmática em pacientes acometidos pela DPOC. Revisão
sistemática de literatura, realizada nas bases de dados Scielo, Medline, BVS, Lilacs e
PEDro, utilizando em cruzamentos os seguintes descritores: Doença Pulmonar Obstru-
tiva Crônica, Reabilitação Respiratória, Intervenções Cinesioterapêuticas e Disfunção
Diafragmática. Incluídos apenas artigos originais, publicados entre 2009 e 2019, que
versassem sobre os benefícios de diferentes programas de intervenções fisioterapêuti-
cas respiratórias. Dois examinadores analisaram as qualidades e evidências dos artigos
por meio da escala PEDro. Doze manuscritos compõem a discussão deste trabalho. O
presente estudo confirma os efeitos benéficos de diferentes programas de Intervenções
Cinesioterapêuticas sobre a saúde física e qualidade de vida, redução dos sintomas
respiratórios e do risco de mortalidade, aumento na mobilidade da caixa torácica, fun-
cionalidade diafragmática, capacidade funcional e da força muscular respiratória de
pacientes acometidos pela DPOC.

Palavras-chave: Doença pulmonar obstrutiva crônica, reabilitação respiratória, intervenções ci-


nesioterapêuticas, disfunção diafragmática.

ABSTRACT
This study analyzed the pathophysiological impacts of Chronic Obstructive Pulmonary
Disease (COPD) on the respiratory system and the benefits of kinesiotherapeutic inter-
ventions on diaphragmatic mobility in patients affected by COPD. Systematic literature
review, carried out in the Scielo, Medline, VHL, Lilacs and PEDro databases, using the
following keywords: Chronic Obstructive Pulmonary Disease, Respiratory Rehabilita-
tion, Kinesitherapeutic Interventions and Diaphragmatic Dysfunction. Only original
articles, published between 2009 and 2019, about the benefits of different respiratory
physical therapy intervention programs were included. Two examiners analyzed the
qualities and evidence of the articles using the PEDro scale. Twelve manuscripts make
up the discussion of this work. The present study confirms the beneficial effects of
different Kinesiotherapy Intervention programs on physical health and quality of life,
Recebido: 10 de Fevereiro de 2020. Aceito: 23 de Abril de 2020.
Correspondência: Sidney de Souza Oliveira, Praça Renato Machado, 10 Centro 44573-045 Santo Antônio de Jesus
BA, E-mail: sid_ney2011@hotmail.com
Jesus et al. 142
Cinesioterapia e mobilidade diafragmática

reduction of respiratory symptoms and risk of mortality, increased mobility of the rib
cage, diaphragmatic functionality, functional capacity and respiratory muscle streng-
th of patients affected by COPD.

Key-words: Chronic obstructive pulmonary disease, respiratory rehabilitation, kinesiothera-


peutic interventions, diaphragmatic dysfunction.

Introdução

De acordo com o Departamento de Informática do Sistema Único de Saú-


de do Brasil [1], três indivíduos morrem a cada hora em decorrência da Doença
Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), isso corresponde a aproximadamente 40
mil mortes por ano no país. Devido ao aumento do consumo de tabaco princi-
palmente nos países em desenvolvimento e o envelhecimento populacional nos
países com alta renda, a prevalência deve aumentar em todo o mundo, com a
expectativa de 4,5 milhões de mortes anuais em 2030, no entanto, atualmente os
sub diagnósticos impactam na precisão dos dados de mortalidade relacionados
a patologia [2].
A DPOC é uma doença prevenível e tratável, caracterizada por sintomas
respiratórios persistentes e limitação do fluxo aéreo devido a anormalidades
das vias aéreas ou alveolares geralmente causadas por exposição significativa
a partículas ou gases nocivos, que causam uma resposta inflamatória crônica
e que pode produzir alterações nos brônquios resultando em bronquite crô-
nica (definida como a presença de tosse e produção de muco por pelo menos
três meses em dois anos consecutivos) e enfisema pulmonar (caracterizada pela
destruição dos alvéolos) [2,3].
O aumento da resistência nas vias aéreas pode provocar, ao longo do
processo evolutivo da doença, outras alterações pulmonares identificadas pelo
aumento dos volumes pulmonares estáticos. Tal processo progressivo é reconhe-
cido como aprisionamento aéreo e tem sido considerado como um importante
fator limitante da função diafragmática em pacientes portadores de DPOC [4].
O sistema respiratório possui alguns músculos, sendo diafragma, o principal
músculo da ventilação e anatomicamente separa o tórax da cavidade abdomi-
nal, apresentando diferenças entre as hemicúpulas diafragmáticas, sendo a
direita mais elevada que a esquerda [5]. A movimentação craniocaudal desse
músculo promove a perfeita atuação da mecânica pulmonar, realizando altera-
ções morfológicas e funcionais na cavidade torácica e abdominal, resultando na
entrada de ar nos pulmões, é essencial que o diafragma se movimente em sua
totalidade e com a relação comprimento-tensão ideal para que ocorra sinergia
com os músculos abdominais [6,7].
Ao longo dos anos, estudos têm demonstrado que a diminuição da mo-
bilidade diafragmática (MD) ocorre pela redução dessa relação na zona de apo-
sição e no raio de curvatura do músculo diafragmático [8], além de promover
alterações de volumes e da capacidade pulmonar, interferem na atuação, mobi-
lidade e conformidade do diafragma, que perde seu formato de cúpula e tende
a se retificar, diminuindo sua zona de aposição e limitando a ação ventilatória,
normalmente mais evidente na porção inferior da caixa torácica, podendo levar
o paciente a uma respiração paradoxal decorrente da desordem entre os com-
partimentos torácicos e abdominais [9].
143
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):141-53

Em alguns estudos foi observado que pacientes classificados com DPOC


de grau leve apresentaram maior MD quando comparados aos pacientes clas-
sificados com grau severo. Os mesmos autores também observaram relações
entre a MD com a capacidade vital funcional (CVF) e capacidade vital lenta
(CVL). Esses resultados fortalecem a hipótese de que a redução da MD pode
estar relacionada com a gravidade da DPOC [10]. A atuação das Intervenções
Cinesioterapêuticas é de fundamental importância auxiliando na recuperação e
reabilitação, buscando interferir nesses mecanismos, melhorando a capacidade
funcional do paciente e restituindo sua independência [11].
Com base nessas informações, esta revisão buscou evidências cientifi-
cas que demonstrem e/ou comprovem os benefícios da Intervenções Cinesio-
terapêuticas na melhora da mobilidade diafragmática em pacientes acometi-
dos pela DPOC, justificado pela alta incidência de indivíduos acometidos pela
DPOC, levando em consideração os impactos fisiopatológicos provocados no
sistema respiratório e a necessidade de condutas fisioterapêuticas mais bem
elucidadas e comprovadas cientificamente quanto a sua eficácia, facilitando as-
sim a adesão e reabilitação desses pacientes.

Material e métodos

O presente estudo caracteriza-se como uma revisão sistemática de li-


teratura, realizada com artigos originais publicados em periódicos científicos
indexados nas bases de dados Pubmed, Scielo, Medline, BVS, PEDro e Lilacs, no
período de 2009 a 2019, utilizando os descritores de saúde: doença pulmonar
obstrutiva crônica, reabilitação respiratória, intervenções cinesioterapêuticas e
disfunção diafragmática e seus correlatos em inglês.
Foram selecionados os estudos que se encaixaram nos critérios de inclu-
são: a) estudos originais; b) Estudos nos quais os participantes apresentavam
apenas o diagnóstico de DPOC; c) Estudos clínicos que aplicaram programas
de intervenções fisioterapêuticas como forma de intervenção; Foram excluídos
os estudos: a) cujos participantes apresentavam doença crônica além da DPOC;
b) estudos que descreviam apenas recomendações clinicas; c) estudos que não
descreveram a intervenção realizada com os participantes; d) estudos duplica-
dos; e) relatos de caso, tese de doutorado e dissertação de mestrado. Seleção e
extração de dados.
O processo de triagem dos estudos foi realizado inicialmente pela leitura
dos títulos. Posteriormente, foram excluídos artigos duplicados e lidos títulos
e resumos para verificar se atendiam aos critérios de elegibilidade do presente
estudo. Os artigos que atenderam aos critérios estabelecidos foram recupera-
dos para leitura do texto completo, reavaliação dos critérios de elegibilidade
e extração de dados referentes ao a) autor e ano de publicação, b) objetivos, c)
amostra e método de avaliação da força muscular, d) intervenção e e) resultados
da força muscular (Tabela I). Por fim, foram avaliadas as referências dos princi-
pais estudos incluídos nesta revisão, com o objetivo de verificar a existência de
artigos elegíveis não identificados nas buscas nas bases de dados selecionadas.
A Figura 1 resume o processo de triagem e seleção dos estudos.
Os estudos selecionados foram submetidos por dois examinadores, a
uma avaliação qualitativa da metodologia empregada por intermédio da escala
de PEDro e foram avaliados de acordo com os indicadores de qualidade eviden-
ciada na escala. A aplicação da escala PEDro na avaliação de cada artigo resulta
Jesus et al. 144
Cinesioterapia e mobilidade diafragmática

em um escore final que pode variar de 0 (zero) a 10 (dez), e somente os artigos


que obtiveram pontuação igual ou maior que 3 (três) pontos foram utilizados
no presente estudo (Tabela I).
As informações disponibilizadas nos artigos incluídos nesta revisão fo-
ram extraídas e resumidas de forma padronizada, com base nos seguintes tópi-
cos: autores/ano de publicação, escore Qualis, título do estudo, tipo do estudo/
número amostral, tipo de intervenção, tempo total da intervenção e uma breve
descrição dos resultados obtidos. Depois de extraídos, os dados foram alocados
em um quadro resumo para facilitar a análise dos resultados (Tabela II).

Resultados

A busca nas bases de dados identificou inicialmente 561 estudos dos


quais 207 foram excluídos por serem artigos de revisão, tese de doutorado, dis-
sertação de mestrado e relato de caso, 122 artigos foram excluídos por aborda-
rem outras patologias além da DPOC, 188 artigos foram excluídos por não abor-
darem diretamente o tema e 32 estudos foram excluídos por não descreverem
as intervenções fisioterapêuticas aplicada, restando 12 artigos como potencial-
mente relevantes para esta revisão, como mostra fluxograma abaixo (Figura 1).

Figura 1. Fluxograma de triagem e seleção dos estudos.


145
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):141-53

Os 12 artigos selecionados foram avaliados na escala de PEDro de acordo


com os seguintes indicadores de qualidade da evidência apresentada: 1. especi-
ficação dos critérios de inclusão (item não pontuado); 2. alocação aleatória; 3.
sigilo na alocação; 4. similaridade dos grupos na fase inicial ou basal; 5. mas-
caramento dos sujeitos; 6. mascaramento dos responsáveis pela intervenção; 7.
mascaramento do avaliador; 8. medida de pelo menos um desfecho primário em
85% dos sujeitos alocados; 9. análise da intenção de tratar; 10. comparação entre
grupos de pelo menos um desfecho primário; e 11. relato de medidas de varia-
bilidade e estimativa dos parâmetros de pelo menos uma variável primária, que
receberam um ponto atribuído (em relação à presença) ou nenhum ponto atri-
buído (em relação à ausência) dos indicadores. Os artigos selecionados neste
estudo estão apresentados na Tabela I.

Tabela I - Apresentação da pontuação dos artigos selecionados, de acordo com a escala PEDro.
Referencias
^ C C C C C C C C C Pontuação
2 3 4 5 6 7 8 9 10
Trevisan E - + - - - + + - + 4/10
et al . (2010)
Fernandes M - + - - - + + + + 6/10
et al. (2011)
Nohama P - + - - - + + - + 4/10
et al. (2012)
Wellington P - + - - - + + + + 6/10
et al. (2012)
Cancelliero -Gaiad et - + - - - + + - + 4/10
al. (2013)
Cancelliero -Gaiad et - + - - - + - - + 3/10
al. (2014)
Abdelaal AM - + - + - + + + + 7/10
et al . (2015)
Beaumont M - + - - - + + + + 6/10
et al. (2015)
Rocha T + + - + - + + + + 8/10
et al . ( 2015)
Elmorsi S - - + - - - - - + 3/10
et al . (2015)
Martinelli, B - + - - - + - - + 3/10
et al. (2016)
Nair A + + - - - + + + + 7/10
et al. (2019)
C = Critério de Pontuação.
Jesus et al. 146
Cinesioterapia e mobilidade diafragmática

Tabela II - Características clínicas dos estudos selecionados para esta revisão.


Referências Objetivos Amostra e avaliação Intervenção Resultados
Trevisan Verificar a eficácia de 09 indivíduos portadores TMR e MMII. Melhora em todas
um treinamento da de DPOC com idades entre as variáveis avalia-
et al., (2010) musculatura respirató- 49 e 76 anos. Avaliação: das, com diferença
ria e de quadríceps no PImáx, PEmáx, 1RM de significativa na
desempenho funcional membros inferiores, TC6 e PImáx.
de indivíduos com qualidade de vida SF-36.
DPOC.
Fernandes Investigar os efeitos 44 voluntários, distribuí- Respiração dia- Melhora do padrão
da respiração diafrag- dos em GC = 15 pacien- fragmática. respiratório e da
et al., (2011) mática na ventilação e tes saudáveis, sendo 7 eficiência ventilató-
no padrão respiratório, homens e idade (60 + 7), ria sem causar disp-
buscando identificar Grupo DPOC moderado neia em pacientes
preditores de sua efi- = 14, sendo 11 homens e cujo sistema mus-
cácia em pacientes idade (63 + 7) e cular respiratório
com DPOC. foi preservado.
Grupo DPOC grave = 1,
sendo 14 homens e idade
(60 + 8).

Avaliação: VP, espirome-


tria, PImáx, PEmáx e MD.
Wellington Investigar os efeitos 30 pacientes alocados Programa de Maior mobilidade
de um programa de aleatoriamente em GT treinamento da diafragmática,
et al., (2012) treinamento em res- = 15) e GC = 15 pacien- respiração dia-
piração diafragmática tes todos portadores de fragmática melhora no TC6 e
no movimento tora- DPOC. Avaliação: Relação na qualidade de
coabdominal e na ca- RC / ABD, mobilidade vida no GT. Maior
pacidade funcional de diafragmática, TC6 e qua- participação do
pacientes com DPOC. lidade de vida relacionada diafragma durante
à saúde. a respiração natural
e melhora na capa-
cidade funcional.
Nohama Avaliar quali-quantita- 06 voluntários portadores Estimulação Aumento da força
tivamente os efeitos da de DPOC, de ambos os se- elétrica contro- muscular inspira-
et al., (2012) estimulação diafrag- xos, com idade entre 56 e lado pelo sinal tória, melhora da
mática transcutânea 71 anos. Avaliação: PImáx, respiratório. qualidade de vida e
sincronizada em por- PEmáx, teste de função diminuição dos sin-
tadores de DPOC pulmonar e aplicação do tomas.
questionário de qualidade
de vida SGRQ-C.
Cancelliero et al., Avaliar o efeito da esti- 08 pacientes portado- Estimulação Melhora na força
(2013) mulação diafragmática res de DPOC, com idade diafragmática muscular respirató-
elétrica transcutânea (68,5±6,2), sendo 6 ho- elétrica transcu- ria e na expansibi-
sobre a força e endu- mens. tânea. lidade toracoabdo-
rance muscular respi- minal.
ratória, expansibilida- Avaliação: PImáx, PEmáx,
de toracoabdominal e cirtometria axilar, xifoi-
variáveis espirométri- deana e abdominal e espi-
cas. rometria.
147
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):141-53

Tabela II - Características clínicas dos estudos selecionados para esta revisão (continuação).
Referências Objetivos Amostra e avaliação Intervenção Resultados
Cancelliero Comparar parâmetros GE = 15 pacientes com Respiração RD aumentou os
ventilatórios durante DPOC moderada a grave, Diafragmática VP, movimentos
et al., (2014) Respiração Diafrag- sendo 8 homens e e Respiração respiratórios, SpO2
mática e Respiração Pilates. e diminuiu a FR.
Pilates em pacientes GC = 15 pacientes homens
com DPOC e adultos e mulheres saudáveis com RP aumentou os VP
saudáveis. idades entre 40 e 80 anos. nos pacientes sau-
Avaliação: Tempo, volume dáveis ​​e aumentou
e coordenação toracoab- a SpO2 nos dois
dominal. grupos.
Abdelaal Explorar as respostas 195 pacientes do sexo Manipulação Aumento da FV e
das FV e da CF à mani- masculino, divididos diafragmática e da FC.
et al., (2015) pulação diafragmática aleatoriamente em grupo das costelas
ou costal ou ambas em de manipulação diafrag-
pacientes com DPOC mática (grupo A; n = 46),
grupo de costela (grupo B;
n = 53), ambos os procedi-
mentos (grupo C; n = 50)
e grupo controle (grupo
D; n = 46). Avaliação: CVF,
VEF1, FC, TC6.
Beaumont Demonstrar a eficácia 32 pacientes randomiza- TMI e programa Melhora na inten-
do TMI na dispnéia dos, com DPOC sem fra- de reabilitação sidade sensorial da
et al., (2015) usando a escala de queza muscular inspirató- Pulmonar pa- dispneia em todos
Borg e o questionário ria (PImáx>60cmH2O) dronizado. os pacientes e do
de perfil multidimen- MDP em pacientes
sional da dispnéia ao Avaliação: Dispneia, Borg. com VEF1<50%.
final de um TC6 em MDP, TC6 e PImáx.
pacientes com DPOC
com PImax=85cm H2O
(95% do valor previsto
(predito.
Elmorsi Avaliar a efetivida- 60 pacientes do sexo mas- TMI e treina- TMI + TMP melhora
de do treinamento culino, distribuídos igual- mento muscular a PImáx, PEmáx e
et al., (2015) muscular inspiratório mente em 3 grupos, GA: periféricos. distância percorri-
como parte do treina- Treinamento dos MMII + da no TC6 quando
mento físico em pa- TMI, GB: Treinamento dos comparado ao TMP
cientes com DPOC MMII e GC: sem treina- isolado. Ambos me-
mento. lhoram a dispneia,
índice BODE e SGR-
Avaliação: PImáx, PEmáx, Q-C.
dispnéia, TC6, índice
BODE e SGRQ-C.
Rocha Avaliar se a Técnica de 20 pacientes portadores Liberação Melhora a mobili-
liberação manual do de DPOC estável, com ida- dade diafragmática,
et al., (2015) diafragma melhora de acima de 60 anos, dis- manual do dia- capacidade de exer-
a mobilidade dia- tribuídos aleatoriamente fragma cício e capacidade
fragmática após um em GE=10 pacientes (Téc- inspiratória.
único tratamento ou nica de liberação manual
cumulativamente e se do diafragma e GC=10
melhora a capacidade pacientes (tratamentos
de exercício, as PRM e simulados
a cinemática da parede
torácica e do abdome. Avaliação: mobilidade
diafragmática, TC6, PI-
máx, PEmáx, cinemática
abdominal e da parede
torácica.
Jesus et al. 148
Cinesioterapia e mobilidade diafragmática

Tabela II - Características clínicas dos estudos selecionados para esta revisão (continuação).
Referências Objetivos Amostra e avaliação Intervenção Resultados
Martinelli Identificar as altera- 13 pacientes com DPOC Estimulação Melhora respirató-
ções após estimulação grau III e IV, sendo 11 do ria e funcional.
et al., (2016) diafragmática elétrica sexo masculino, brancos elétrica trans-
transcutânea pela cor- com idade de 68,46 ± 11,11 cutânea dia-
rente russa. anos fragmática pela
corrente russa.
Avaliação: Medidas antro-
pométricas, respiratórias
e funcionais.
Nair Comparar os efeitos do 20 pacientes com DPOC Técnica de Melhora na excur-
alongamento diafrag- leve e moderada, alocados alongamento são diafragmática
et al., (2019) mático e da técnica de ao grupo A ou grupo B diafragmático e antes e após o trata-
liberação manual do por randomização. Ava- técnica manual mento.
diafragma na excursão liação: Excursão expansão de liberação do
diafragmática em pa- diafragmática diafragma
cientes com DPOC.
DPOC = Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica; GC = Grupo Controle; GT = Grupo Treinamento; GDM = Grupo DPOC
Moderado; GDG = Grupo DPOC Grave; TMR = Treinamento Muscular Respiratório; TMP = Treinamento Muscular
Periféricos; MMII = Músculos dos Membros Inferiores; TC6 = Teste de Caminhada de 6 minutos; 1RM = 1 repetição
Máxima; PImáx = Pressão Inspiratória Máxima; PEmáx = Pressão Expiratória Máxima; PRM = Pressões Respiratórias
Máximas; Índice BODE = Índice Body Mass-Index; Airflow Obstruction, Dyspnea and Exercise Capacity, SGRQ-C =
St George’s Respiratory Questionnaire for COPD Patients; SF-36 = Questionário Short Form-36; VEF1 = Volume Ex-
piratório Forçado no primeiro segundo; RD = Respiração Diafragmática; RP = Respiração Pilates; MD = Mobilidade
Diafragmática; VP = Volume Pulmonar; FV = Funções Ventilatórias; CF = Capacidade Funcional; CVF = Capacidade
Vital Forçada; SpO2 = Saturação Periférica de Oxigênio; FR = Frequência Respiratória; FC = Frequência Cardíaca; DP
= perfil multidimensional da dispneia; RC/ABD = Relação entre a caixa torácica e o movimento abdominal.

Discussão
Segundo os estudos, a redução da mobilidade diafragmática (MD) apre-
senta-se como um dos principais fatores de risco para o aumento da mortalida-
de em pacientes portadores de DPOC. Dessa forma, intervenções que estimu-
lem a utilização de técnicas específicas que visem aumentar a mobilidade do
diafragma e do gradil costal devem ser priorizadas [9]. Os resultados encon-
trados nesta revisão sistemática apontam para os benefícios agudos e crôni-
cos das diversas técnicas de Intervenções Cinesioterapêuticas na mobilização
diafragmática de pacientes com DPOC, mostrando a imensa importância que
a mesma tem para a reabilitação desses pacientes [12]. Os estudos mostraram
que técnicas como respiração diafragmática [19-21,23,24], estimulação elétrica
[13-15] e treinamento muscular inspiratório [16-18] promoveram melhoras na
mobilidade diafragmática [14,20,22,24] dentre outros benefícios como aumento
da força muscular inspiratória [13,14,16,17].
Sobre as técnicas de estimulação elétrica, o estudo de Nohama et al.
[13], mostrou que após 10 sessões com duração de 20 minutos de estimulação
diafragmática transcutânea sincronizada, um sistema de estimulação elétrica
controlado pelo sinal respiratório, gerou aumento na força muscular inspira-
tória em todos os pacientes, melhora da qualidade de vida e diminuição dos
sintomas. Da mesma forma, Cancelliero-Gaiad et al. [14] avaliaram 08 pacientes
portadores de DPOC, utilizando a estimulação diafragmática elétrica transcutâ-
nea, mostrando que após 12 sessões com duração de 30 minutos cada, houve
aumento da PImáx, PEmáx e expansibilidade toraco-abdominal sem interferir
nas variáveis espirométricas, mostrando ainda que esses aumentos se mantive-
149
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):141-53

ram nas quatro semanas após a conclusão da intervenção. Corroborando com


os estudos acima, Martinelli et al. [15] objetivando identificar alterações após
estimulação diafragmática elétrica transcutânea pela corrente russa em 13 indi-
víduos portadores de DPOC, verificou-se que após 30 sessões com duração de 30
minutos, os pacientes apresentaram melhora no volume minuto, índice BODE
(Body Mass-Index, Airflow Obstruction, Dyspnea and Exercise Capacity) que é
um sistema multigraduado utilizado primariamente como preditor do risco de
mortalidade em pacientes com DPOC e na distância percorrida no Teste de Ca-
minhada de 6 minutos (TC6). Embora esses sejam estudos sem grupo controle,
é possível inferir que a eletroestimulação pode ser uma alternativa terapêutica
viável para recuperar a condição clínica de fraqueza muscular inspiratória e li-
mitações na mobilidade toraco-abdominal observada em pacientes com DPOC.
Outra técnica que pode ser utilizada na melhora da mobilidade dia-
fragmática em pacientes acometidos pela DPOC, é o treinamento muscular ins-
piratório (TMI) que pode ou não ser associado ao treinamento de músculos
dos membros inferiores (MMII). Nesse sentido, Trevisan et al. [16] verificaram
a eficácia de um treinamento da musculatura respiratória e de quadríceps no
desempenho funcional de 09 indivíduos com DPOC constatando que após 16
sessões, os pacientes apresentaram melhora na PImáx, distância percorrida no
TC6, força muscular de quadríceps, capacidade funcional e qualidade de vida.
O treinamento da musculatura inspiratória e de quadríceps mostrou-se
benéfico ao desempenho funcional de indivíduos com DPOC, sugerindo a utili-
zação do fortalecimento muscular respiratório e periférico como recurso coad-
juvante no tratamento desses indivíduos. Seguindo esse raciocínio, Elmorsi et
al. [17] avaliaram a eficácia do treinamento muscular inspiratório como parte
do treinamento físico em 60 pacientes do sexo masculino com DPOC, divididos
em 3 grupos.
Após 8 semanas de intervenção, notou-se que o TMI associado ao trei-
namento da musculatura periférica levaram a uma melhora significativa na
PImáx, PEmáx e distância percorrida no TC6 em comparação ao treinamento
de exercício muscular periférico isolado. Porém ambos melhoraram a dispneia,
o índice BODE (Body Mass-Index, Airflow Obstruction, Dyspnea and Exercise
Capacity) que é um sistema multigraduado utilizado primariamente como pre-
ditor do risco de mortalidade em pacientes com DPOC e o SGRQ-C (St George’s
Respiratory Questionnaire for Copd Patients) uma versão mais curta derivada
da versão original SGRQ (St George’s Respiratory Questionnaire) após análise
detalhada de dados de grandes estudos em DPOC e aborda os aspectos rela-
cionados a três domínios: sintomas, atividade e impactos psicossociais que a
doença respiratória inflige ao paciente sem diferenças significativas entre os
dois grupos. O estudo mostrou que o TMI oferece benefícios adicionais quando
associado ao treinamento da musculatura periférica aos pacientes com DPOC e
com fraqueza dos músculos inspiratórios.
Porém, nos pacientes sem fraqueza da musculatura inspiratória (PImáx
≥ 60 cmH2O) ao se avaliar a dispneia, PImáx e TC6, Beaumont et al. [18], com-
parou o TMI com exercícios aeróbicos associado ao treinamento dos músculos
superiores e inferiores em 34 pacientes divididos em 2 grupos, com DPOC e sem
fraqueza muscular inspiratória (PImáx ≥ 60 cmH2O), após 15 sessões de 30 mi-
nutos, o TMI melhorou o VEF1 < 50% do valor predito, enquanto nenhum bene-
fício foi observado em pacientes com VEF1 > 50% predito. O TMI não melhorou
a dispnéia ou o parâmetro funcional em pacientes com DPOC com PImax ≥ 60
Jesus et al. 150
Cinesioterapia e mobilidade diafragmática

cmH2O, no entanto, no subgrupo de pacientes com VEF1 < 50% predito, esses
itens foram significativamente melhorados. Dessa forma, podemos sugerir que
o TMI é mais efetivo para melhorar a dispneia e a tolerância ao esforço quando
utilizado em pacientes com DPOC e PImáx < 60 cmH2O.
A respiração diafragmática (RD) é também uma técnica bastante uti-
lizada na reabilitação pulmonar de pacientes com DPOC, com o objetivo de
melhorar o movimento abdominal e reduzir o tempo de excursão torácica e a
atividade dos músculos respiratórios da caixa torácica, porém tem sido pouco
estudada na literatura científica. Sendo assim, ao abordar sobre os padrões res-
piratórios que objetivam conscientizar os movimentos toraco abdominais da
respiração, melhorar o movimento da caixa torácica, otimizar a funcionalidade
da musculatura respiratória e promover a melhora da ventilação pulmonar Fer-
nandes et al. [19] investigaram os efeitos da respiração diafragmática (RD) na
ventilação pulmonar e no padrão respiratório de 44 pacientes com DPOC mo-
derada e grave. Os autores aplicaram RD todos os dias (4 minutos de respiração
natural + 2 minutos de RD + 4 minutos de respiração natural) e após 4 sessões,
a RD foi associada a aumento significativo no volume corrente (VC) e redução
na frequência respiratória (FR), proporcionando maior ventilação e saturação
de oxigênio (SPO2), redução na ventilação do espaço morto e no equivalente
ventilatório do dióxido de carbono.
Apesar da pouca quantidade de sessões, a respiração diafragmática pôde
melhorar o padrão respiratório e a eficiência ventilatória sem causar dispneia
em pacientes com DPOC grave e moderada cujo sistema muscular respiratório
está preservado. Seguindo essa ideia, Wellington et al20 objetivando identificar
os benefícios do treinamento da respiração diafragmática na mobilidade abdo-
minal, avaliaram 30 pacientes divididos 2 grupos. Os resultados mostraram que
após 12 sessões, o grupo intervenção quando comparado ao grupo controle,
mostrou maior movimento abdominal durante a respiração natural, redução na
relação entre a caixa torácica e o movimento abdominal, aumento da distância
percorrida no TC6, melhora no SGSQ-C.
O programa de treinamento em respiração diafragmática para pacientes
com DPOC induziu aumento da participação do diafragma durante a respiração
natural, resultando em uma melhora na capacidade funcional dos pacientes.
Esses resultados, ressaltam a importância da RD como intervenção cinesiote-
rapêutica de tratamento adjuvante para pacientes com DPOC. Com o objetivo
de comparar parâmetros ventilatórios durante a RD e a respiração pilates (RP),
Cancelliero-Gaiad et al. [21] avaliaram 15 pacientes acometidos pela DPOC e
15 saudáveis, realizando respiração natural, RD e RP. Os resultados mostraram
que a RD apresentou efeitos positivos, como aumento dos volumes pulmonares,
movimento respiratório e SpO2 e redução da frequência respiratória. Embora
não houvesse alterações nas medidas de volume e tempo durante a PB na DPOC,
esse padrão respiratório aumentou os volumes nos indivíduos saudáveis e au-
mentou a oxigenação nos dois grupos. Nesse contexto, os benefícios agudos do
DB são enfatizados como um tratamento de suporte em programas de reabili-
tação respiratória.
Ao falarmos de técnicas manuais, a técnica de liberação manual do dia-
fragma melhora a mobilidade diafragmática, capacidade inspiratória e a capa-
cidade de exercício em pessoas com DPOC, diante disso, Rocha et al. [22] ava-
liaram a eficácia da técnica de liberação manual do diafragma em 10 pacientes
com DPOC e compararam com 10 pacientes que realizaram tratamentos simula-
151
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):141-53

dos, num total de 6 sessões. Após a intervenção, a técnica de liberação manual


do diafragma apresentou aumento significativo da mobilidade diafragmática
com diferença entre os grupos. O grupo liberação manual do diafragma teve
aumento significativo da PEmax e PImax. O estudo sugere que a técnica de li-
beração manual do diafragma melhora a mobilidade diafragmática, capacidade
de exercício e capacidade inspiratória em pessoas com DPOC. Em outro estudo,
Abdelaal et al. [23] investigaram os benefícios da manipulação diafragmática
e das costelas nas funções ventilatórias (FV) e capacidade funcional (CF) em
pacientes portadores de DPOC. Foram avaliados 195 homens divididos aleato-
riamente em (GA =46 pacientes) que realizaram manipulação diafragmática e
(GB = 53 pacientes) realizando elevação da costela, (GC = 50 pacientes) que re-
alizaram ambos os procedimentos e (GD = 46 pacientes como controle), todos
os participantes receberam tratamentos medicamentosos. Após a intervenção
que durou 24 sessões, os resultados mostraram que houve aumento significati-
vo nos valores médios do TC6 nos Grupos A, B e C sendo que o Grupo C obteve
diferenças mais significativas. Dessa forma as manipulações diafragmáticas e
costais são técnicas terapêuticas eficazes para melhorar a FV e a CF em pacien-
tes com DPOC especialmente se aplicado em conjunto.
Paralelo as técnicas citadas, o alongamento muscular respiratório é ou-
tra intervenção cinesioterapêutica utilizada na tentativa de quebrar o ciclo en-
curtamento-contração-encurtamento, do músculo diafragma, presente nos pa-
cientes com DPOC. Em um recente estudo randomizado Nair et al. [24], no qual
foram alocados 20 pacientes em GA = 10 pacientes submetidos à técnica de alon-
gamento diafragmático e GB = 10 pacientes submetidos à técnica de liberação
manual do diafragma, mostraram que ambos os grupos apresentaram melhora
significativa na excursão diafragmática e na expansão torácica, entretanto, não
houve diferença estatística significante entre as técnicas. Esse resultado aponta
que ambas podem ser efetivas na melhora da mobilidade diafragmática. Melhor
seria se os autores incluíssem um grupo placebo para avaliar se existiria dife-
rença entre as interveções cinesioterapêuticas e o grupo placebo.
Apesar dos resultados se mostrarem positivos, alguns pontos devem ser
elencados. 1) A avaliação de intervenções em pacientes adultos pode não repre-
sentar adequadamente jovens e idosos; 2) a ausência de padronização das téc-
nicas faz com que os protocolos flutuem e não possam ser comparados adequa-
damente; 3) analisar os resultados com base apenas em preceitos estatísticos,
limita as inferências clínicas e, portanto, a aplicabilidade dos resultados na prá-
tica clínica; 4) o período de acompanhamento dos protocolos pode não ter sido
suficiente para promover respostas do ponto de vista clínico, sendo necessários
estudos com maior tempo de acompanhamento; e 5) os descritores referentes à
mobilização diafragmática e seus sinônimos apresentaram baixa sensibilidade
e especificidade, limitando as buscas nas bases de dados eletrônicas. Embora os
aspectos descritos precisem ser mais discutidos, não diminuem a importância
dos resultados encontrados.
Portanto, mesmo frente as limitações acima expostas podemos entender
que as intervenções cinesioterapêuticas trazem benefícios para pacientes aco-
metidos pela DPOC, devendo, pois, ser consideradas efetivas como tratamen-
to coadjuvante dessa enfermidade, especialmente no que tange a mobilidade
diafragmática. Mesmo assim, não descartamos a necessidade de estudos mais
robustos como ensaios clínicos com grupo controle, para melhor avaliar os be-
nefícios de cada intervenção cinesioterapêutica.
Jesus et al. 152
Cinesioterapia e mobilidade diafragmática

Conclusão
Os resultados apontam que as intervenções cinesioterapêuticas condu-
zem a melhora significativa da mobilidade diafragmática em indivíduos com
DPOC. Outros benefícios incluem redução dos sintomas respiratórios e do risco
de mortalidade, melhora significativa na qualidade de vida relacionada à saúde
física, aumento na mobilidade da caixa torácica, da funcionalidade, da capaci-
dade funcional e da força muscular respiratória.
Este trabalho corrobora para a importância de incorporar ao tratamento
convencional da DPOC programas regulares de condutas respiratórias, como
exemplos: técnicas de liberações manuais, aparelhos de incentivo respiratório,
eletroestimulação e técnicas de padrões respiratórios, direcionadas ao aumento
da mobilidade da caixa torácica melhoram a expansibilidade torácica e a capa-
cidade de exercício nesses pacientes.

Contribuições dos autores


Jesus GR, Oliveira SS conceberam o estudo e desenho da pesquisa. Jesus GR, Oliveira SS, Peixoto
MS analisaram e interpretaram os dados. Jesus GR, Oliveira SS redigiram o manuscrito. Oliveira
SS fiz a revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante.

Potencial conflito de interesse


Nenhum conflito de interesse em potencial relevante para este artigo foi relatado.

Fontes de financiamento
Não houve fontes de financiamento externas para este estudo.

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Table II - Clinical characteristics of the studies selected for this review.
References Objective Sample and Assessment Intervention Results
Trevisan To verify the 9 individuals with COPD TMR e MMII. Improvement in all
et al. (2010) effectiveness of aged between 49 and 76 evaluated
respiratory muscle and years. variables, with
quadriceps training on the Assessment: MIP, MEP, significant
functional performance of 1RM of lower limbs, 6MWT difference in MIP.
individuals with COPD. and quality of life SF-36.
Fernandes To investigate the effects 44 volunteers, distributed in Diaphragmatic Improvement of
et al. (2011) of diaphragmatic CG = 15 healthy patients, 7 breathing. breathing pattern
breathing on ventilation men and age (60 + 7), and ventilatory
and breathing pattern, moderate COPD group = efficiency without
seeking to identify 14, 11 men and age (63 + causing dyspnea in
predictors of its 7) and Severe COPD group patients whose
effectiveness in patients = 1, with 14 men and age respiratory muscle
with COPD. (60 + 8). system has been
Assessment: PV, MIP, preserved.
MEP, spirometry and MD.
Wellington To investigate the effects 30 patients randomly Training program Increased mobility
et al. (2012) of a training program in allocated to GT = 15) and of diaphragmatic diaphragm,
diaphragmatic breathing CG = 15 patients all with breathing improvement in the
on thoracoabdominal COPD. 6MWT and quality
movement and on the Assessment: CR/ABD of life in the TG.
functional capacity of ratio, diaphragmatic Greater
patients with COPD. mobility, 6MWT and health- participation of the
related quality of life. diaphragm during
natural breathing
and improved
functional capacity.
Nohama To assess qualitative and 06 volunteers with COPD, Electrical Increased
et al. (2012) quantitative effects of of both sexes, aged stimulation inspiratory muscle
transcutaneous between 56 and 71 years. controlled by the strength, improved
synchronous Assessment: MIP, MEP, respiratory signal. quality of life and
diaphragmatic stimulation pulmonary function test and decreased
in patients with COPD. application of the SGRQ-C symptoms.
quality of life questionnaire.
Cancelliero et al. To evaluate the effect of 8 COPD patients, aged Transcutaneous Improvement in
(2013) transcutaneous electrical (68.5 ± 6.2), 6 men. electrical respiratory muscle
diaphragmatic stimulation Assessment: MIP, MEP, diaphragmatic strength and
on the strength and axillary, xiphoid and stimulation. thoracoabdominal
respiratory muscle abdominal cirtometry and expandability.
endurance, spirometry.
thoracoabdominal
expandability and
spirometric variables.
Cancelliero To compare ventilatory EG = 15 patients with Diaphragmatic DB increased PV,
et al. (2014) parameters during moderate to severe COPD, Breathing and breathing
Diaphragmatic Breathing 8 men and Pilates Breathing. movements, SpO2
and Pilates Breathing in CG = 15 healthy male and and decreased RF.
COPD patients and female patients aged PB increased PV in
healthy adults. between 40 and 80 years. healthy patients
Assessment: Time, and increased
volume and SpO2 in both
thoracoabdominal groups.
coordination.
Abdelaal To explore the responses 195 male patients randomly Diaphragm and Increase in VF and
et al. (2015) of VF and FC to divided into a ribs manipulation HR.
diaphragmatic or costal diaphragmatic manipulation
manipulation or both in group (group A; n = 46), rib
patients with COPD group (group B; n = 53),
both procedures (group C;
n = 50) and control group
(group D; n = 46).
Assessment: FVC, FEV1,
FC, 6MWT.
Beaumont To demonstrate the 32 randomized patients IMT and Improvement in the
et al. (2015) effectiveness of IMT in with COPD without standardized sensory intensity of
dyspnea using the Borg inspiratory muscle pulmonary dyspnea in all
scale and the weakness (MIP> rehabilitation patients and MDP
multidimensional dyspnea 60cmH2O) program. in patients with
profile questionnaire at Assessment: Dyspnea, FEV1 <50%.
the end of a 6MWT in Borg. MDP, 6MWT and
COPD patients with MIP.
PImax = 85cm H2O (95%
of the predicted value
(predicted.
Elmorsi To evaluate the 60 male patients, equally IMT and IMT + PMT
et al. (2015) effectiveness of divided into 3 groups, GA: peripheral muscle improves MIP,
inspiratory muscle Training of lower limbs + training. MEP and distance
training as part of IMT, GB: Training of lower covered on the
physical training in COPD limbs and CG: without 6MWT when
patients training. compared to
Assessment: MIP, MEP, isolated TMP. Both
dyspnea, 6MWT, BODE improve dyspnea,
index and SGRQ-C. BODE index and
SGRQ-C.
Rocha To evaluate whether the 20 patients with stable Diaphragm Improves
et al. (2015) Manual Diaphragm COPD, aged over 60 years, manual release diaphragmatic
Release Technique randomly assigned to EG = mobility, exercise
improves diaphragmatic 10 patients (Manual capacity and
mobility after a single diaphragm release inspiratory
treatment or cumulatively technique and CG = 10 capacity.
and whether it improves patients (simulated
exercise capacity, MRP treatments
and the kinematics of the Assessment:
chest wall and abdomen. diaphragmatic mobility,
6MWT, MIP, MEP,
abdominal and chest wall
kinematics.
Martinelli To identify the changes 13 patients with COPD Transcutaneous Improves
et al. (2016) after transcutaneous grade III and IV, 11 of diaphragmatic respiratory and
electrical diaphragmatic whom were male, white, electrical functional.
stimulation by the aged 68.46 ± 11.11 years stimulation by the
Russian current. Assessment: Russian current.
Anthropometric, respiratory
and functional
measurements.
Nair To compare the effects of 20 patients with mild and Diaphragmatic Improvement in
et al. (2019) diaphragmatic stretching moderate COPD, allocated stretching diaphragmatic
and manual diaphragm to group A or group B by technique and excursion before
release technique on randomization. manual and after treatment.
diaphragmatic excursion Assessment: excursion of diaphragm
in patients with COPD. diaphragmatic expansion release technique
COPD = Chronic Obstructive Pulmonary Disease; CG = Control Group; GT = WG = Training Group; GDM = Moderate COPD
Group; GDG = DPOC Grave Group; TMR = Respiratory Muscle Training; PMT = Peripheral Muscle Training; LL = Muscles of the
Lower Limbs; 6MWT = 6-minute walk test; 1RM = 1 Maximum repetition; MIP = Maximum Inspiratory Pressure; MEP = Maximum
Expiratory Pressure; PRM = Maximum Respiratory Pressures; BODE Index = Body Mass-Index; Airflow Obstruction; Dyspnea and
Exercise Capacity; SGRQ-C = St George's Respiratory Questionnaire for COPD Patients; SF-36 = Short Form-36 Questionnaire;
FEV1 = Forced Expiratory Volume in the first second; RD = Diaphragmatic Breathing; RP = Pilates breathing; MD = Diaphragmatic
Mobility; PV = Lung Volume; PV = Ventilatory Functions; CF = Functional Capacity; FVC = Forced Vital Capacity; SpO2 =
Peripheral Oxygen Saturation; FR = Respiratory Rate; HR = Heart Rate; PD = multidimensional profile of dyspnea; RC / ABD =
Relationship between the rib cage and abdominal movement.
Como citar: Wagmacker DS, Oliveira AM, Oliveira EC, Santos ACN, Rodrigues LEA, Ladeia AMT. Metabolismo
open acess dos ácidos graxos, complicações secundárias e efeitos do exercício físico: revisão integrativa. Rev Bras Fisiol 154
Exerc 2020;19(2):154-71. DOI: https://doi.org/10.33233/rbfe.v19i2.4085

RBFEx Revista Brasileira de


ISSN: 2675-1372 Fisiologia do Exercício
Artigo de Revisão

Metabolismo dos ácidos graxos, complicações


secundárias e efeitos do exercício físico: revisão
integrativa
Metabolism of fatty acids, secondary complications and effects of physical
exercise: integrative review
Djeyne Silveira Wagmacker1,2, Alice Miranda de Oliveira3,
Edna Conceição de Oliveira2, Alan Carlos Nery dos Santos4,
Luiz Erlon Araújo Rodrigues1, Ana Marice Teixeira Ladeia1.
1. Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA, Brasil.
2. Faculdade Adventista da Bahia, Cachoeira, BA, Brasil.
3. Centro Universitário Social da Bahia, Salvador, BA, Brasil.
4. Grupo de Pesquisa Ciências da Saúde em Fisioterapia. Universidade Salvador - UNIFACS, Feira de Santana, BA. Brasil.

RESUMO
Introdução: A dieta é um conjunto complexo de exposições que interagem fre-
quentemente e cujos efeitos cumulativos influenciam os resultados da saúde. Isso
inclui efeitos nos marcadores de inflamação sistêmica em distúrbios metabóli-
cos e doenças cardiovasculares. Vários estudos foram apresentados relacionan-
do o efeito do exercício físico sobre lipídios, no entanto, os resultados ainda são
controversos. Objetivo: Descrever o metabolismo dos ácidos graxos e o efeito do
exercício físico nas complicações secundárias. Métodos: Foi realizada uma revisão
integrativa dos assuntos nas bases de dados Medline, Pubmed, Web of Science e
Scopus, publicadas até o ano de 2017. Resultados: Os ácidos graxos, dependendo
de suas características bioquímicas e configuração espacial, têm efeito diferen-
ciado na saúde cardiovascular, no entanto, estudos ainda apresentam resultados
contraditórios sobre o uso terapêutico de certos ácidos graxos. O exercício físico
parece beneficiar o metabolismo dos ácidos graxos e atenuar as complicações se-
cundárias ao consumo de certos ácidos graxos, além de potencializar os efeitos po-
sitivos de diferentes ácidos graxos. Conclusão: No entanto, variantes do exercício
físico, como intensidade, duração, tempo de observação dos efeitos dos resultados,
limitam os autores a concluir, com certo grau de certeza, sobre o efeito do exercí-
cio físico sobre ácidos graxos e complicações secundárias, uma vez que estudos na
literatura continuam sendo contraditórios.

Palavras-chave: Ácidos Graxos, Exercício, Inflamação, Estresse Oxidativo.

ABSTRACT
Introduction: Diet is a complex set of exposures that frequently interact, and
whose cumulative effects influence the results of health. This includes effects on
systemic inflammation markers in metabolic disturbances and cardiovascular di-
seases. Various studies have been presented relating the effect of physical exercise
on lipids, however, the results are still controversial. Objective: To describe fatty
acid metabolism and the effect of physical exercise on secondary complications.
Methods: An integrative review was conducted on topics in the Medline, Pub-
med, Web of Science and Scopus databases, published up to the year 2017. Results:
Recebido em 15 de Março de 2020; Aceito em 5 de April de 2020.
Correspondência: Alice Miranda de Oliveira, Centro Universitário Social da Bahia, Av. Oceânica, 2717, Ondina,
40170-010, Salvador, BA.
Wagmacker et al. 155
Metabolismo de ácidos graxos

Fatty acids, depending on their biochemical characteristics and spatial configura-


tion, have differentiated effect on cardiovascular health, however, studies still pre-
sent contradictory results about the therapeutic use of certain fatty acids. Physical
exercise appears to benefit fatty acid metabolism and attenuate the complications
secondary to the intake of certain fatty acids, and potentializes the positive effects
of distinct fatty acids. Conclusion: However, variants of physical exercise, such as
intensity, duration, time of observation of effects of the results, limit the authors to
concluding, with a certain degree of certainty, about the effect of physical exercise
on fatty acids and secondary complications, since the studies in the literature conti-
nue to be contradictory.

Key-words: Fatty Acids, Exercise, Inflammation, Oxidative Stress.

Introdução

As doenças cardiovasculares continuam sendo a principal causa de mor-


bimortalidade no mundo, apesar das melhorias nos resultados [1,2]. No en-
tanto, fatores de risco como obesidade e diabetes mellitus (DM) aumentaram
substancialmente e aumentaram as desigualdades entre os países. Não apenas
o fator de risco prevalente causa preocupação com essas doenças, mas também
o baixo nível de implementação de medidas preventivas, como dieta de baixa
qualidade e inatividade física [3].
Grande parte dos distúrbios cardiovasculares tem origem na ateroscle-
rose, caracterizada por alterações na camada íntima, representadas pelo acú-
mulo de lipídios, componentes do sangue, células, matéria intercelular e car-
boidratos [4].
Os lipídios sempre estiveram presentes nas dietas. A dieta é um conjun-
to complexo de exposições que interagem frequentemente e cujos efeitos cumu-
lativos influenciam os resultados da saúde. Isso inclui efeitos em marcadores
de inflamação sistêmica, em distúrbios metabólicos e doenças cardiovasculares
[5].
A gordura consumida é composta por ácidos graxos (AG) e glicerol. A
maior parte das AGs em seres humanos é do tipo de cadeia longa, dividida em
tipos saturados e insaturados que podem apresentar uma configuração cis ou
trans [6]. A composição dos AGs provenientes da dieta é um fator importante,
pois causa diferentes alterações metabólicas [7].
Atualmente, foi observado um aumento no consumo de gordura trans
por indivíduos. Isso despertou o interesse da comunidade científica, porque o
consumo de ácidos graxos trans tem sido relacionado ao aumento do risco de
doenças coronárias [8], alterações nas lipoproteínas e triglicerídeos plasmáti-
cos, aumento do risco de DM [9], elevação de soro dos marcadores inflamató-
rios [5], estresse oxidativo e disfunção endotelial, bem como piora da resposta
vasodilatadora mediada por óxido nítrico [10]. As características físico-quími-
cas dos AGs, como ponto de fusão, tamanho da cadeia carbônica, presença de
ligações duplas e configurações geométricas são aspectos importantes que po-
dem interferir na absorção de ácidos graxos pelos tecidos, principalmente os
tipos adiposo e vascular, e o desenvolvimento de problemas de saúde.
Vários estudos foram apresentados relacionando o efeito do exercício
físico sobre lipídios, no entanto, os resultados ainda são controversos [11-14].
Nas últimas décadas, foi possível observar evidências crescentes de que o exer-
156
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;ahead print:PP.0-0

cício físico agudo poderia ter uma influência benéfica aguda no perfil lipídico
[15,16]. A dificuldade de análise e interpretação desses estudos reside no uso de
diferentes protocolos de atividade física estabelecidos.

Ácidos graxos: definição e classificação

Os lipídios são elementos distintos entre eles, apresentando diferentes


características químicas e funcionais. Os AGs, são elementos constituintes dos
lipídios, estão presentes em qualquer estrutura lipídica.
Os AGs são componentes orgânicos que contêm carbono e hidrogênio
em suas moléculas. Dependendo do tipo de combinação entre os AGs e seus
constituintes, eles formarão diferentes tipos de lipídios. Com base nessas combi-
nações, eles podem ser classificados como tipos simples ou complexos. Lipídios
simples são aqueles em que o AG se combina com apenas um outro elemento
(por exemplo: triglicerídeos), enquanto lipídeos complexos são aqueles em que
o AG se combina com mais de um elemento (por exemplo: lipoproteínas) [17].
Entre as características que distinguem os AGs está o tamanho da cadeia
carbonatada. Os AGs também podem ser classificados como tipos de cadeia
curta e longa. O tipo de cadeia curta possui entre 4 e 16 moléculas de carbono
e, quando não são supridas pela dieta, são sintetizadas, principalmente no ci-
toplasma das células do tecido hepático e adiposo. Os AGs de cadeia longa têm
16 ou mais moléculas de carbono e, quando não são fornecidos pela dieta, são
formados pelo alongamento de ácidos graxos preexistentes [18]. Além disso, os
AGs podem ser classificados com base no tipo de ligação entre suas moléculas,
diferindo entre os tipos saturados ou insaturados. Os AGs insaturados têm liga-
ções duplas entre suas moléculas de carbono, enquanto o tipo insaturado não
possui essas ligações [19]. Os AGs insaturados são quimicamente mais instáveis
e podem ser do tipo monoinsaturado, quando possuem apenas uma ligação
dupla, ou poliinsaturados quando possuem duas ou mais ligações duplas [20].
Os AGs insaturados podem apresentar uma configuração cis ou trans.
Eles são caracterizados como um AG cis quando as moléculas de hidrogênio em
sua configuração geométrica são apresentadas no mesmo plano que o da liga-
ção dupla de carbono. Eles são caracterizados como um AG insaturado do tipo
trans quando suas moléculas de hidrogênio estão no lado oposto da ligação
dupla de carbono. O AG trans é um isômero geométrico do AG cis original; isto
é, apresenta a mesma quantidade de moléculas de carbono, oxigênio e hidrogê-
nio, mas com uma configuração espacial diferente [19].

Figura 1 - Ilustração de um ácido graxo cis-insaturado e de um ácido graxo trans-insaturado.


Fonte: Lima [21].
Wagmacker et al. 157
Metabolismo de ácidos graxos

Os dois tipos de AGs podem ser encontrados na natureza; no entanto, a


configuração cis é mais comum, porque as enzimas que sintetizam os AGs têm
preferência por essa configuração. Os AGs trans encontrados na natureza estão
presentes, de maneira reduzida, nas carnes e no leite. Ocorreu uma incorpora-
ção mais expressiva de ácidos trans na dieta humana com o processo de hidro-
genação de óleos vegetais, principalmente pela indústria de alimentos. O aque-
cimento de óleo vegetal também induz a formação de isômeros geométricos de
AGs poliinsaturados, assim como a irradiação de alimentos [22].
Os AGs trans são mais estáveis que os AGs cis e, portanto, menos ener-
géticos. Como os isômeros cis são mais energéticos, eles estariam envolvidos na
síntese de diferentes lipídios celulares. A mudança na estrutura dos AGs para a
forma trans modifica o ponto de fusão, aumenta a plasticidade e a estabilidade
oxidativa dessas gorduras. O ácido elaídico, por exemplo, (9trans-18: 1) apresen-
ta um ponto de fusão de 440C, enquanto o ácido oleico (9cis-18: 1) possui um
ponto de fusão de 130C [23].
O ponto de fusão é uma característica importante dos AGs. Quanto
maior o ponto de fusão, maior a quantidade de energia térmica necessária para
quebrar seus arranjos moleculares. Isso permite uma maior impregnação nos
tecidos, como no endotélio vascular, e particularmente no tecido adiposo. À
medida que o comprimento da cadeia carbonatada aumenta, o ponto de fusão
também aumenta. No entanto, a presença de ligações duplas faz o ponto de
fusão cair. Devido à configuração geométrica, o ponto de fusão dos AGs trans
também é maior [24].
Quando os AGs trans são ingeridos e absorvidos, eles podem alterar a
composição e a atividade bioquímica das membranas celulares, alterando assim
as propriedades físicas da membrana e, finalmente, alterar suas funções [20,24].
A composição de fosfolipídios na membrana plasmática tem uma influência
crucial no crescimento celular e na atividade metabólica. Nas últimas duas dé-
cadas, estudos sugeriram que a composição lipídica na dieta influencia o perfil
de AGs no soro e o conteúdo lipídico da membrana plasmática. De fato, o com-
primento das cadeias de AGs e o grau de saturação ou insaturação demonstra-
ram alterar a fluidez e a atividade de várias proteínas associadas à membrana
[25].
Com a mudança nos processos fisiológicos como consequência da incor-
poração desses AGs nos diferentes tecidos, evidências de diferentes situações
clínicas adversas foram demonstradas na literatura. Entre estes, por exemplo,
aumento de triglicerídeos, alteração de lipoproteínas, como aumento de LDL,
VLDL, redução da concentração de HDL [26], aumento da resistência à insulina,
aumento do risco de DM [27], aumento da produção de pró fatores trombóticos,
aumento de espécies reativas de oxigênio [28], aumento do risco de DAC, prin-
cipalmente infarto agudo do miocárdio [29], entre outras patologias [23].
Estudos como o de Chajés et al. [30] sugeriram que a alta ingestão de
AGs trans industriais poderia causar um aumento no peso corporal, principal-
mente em mulheres. Além disso, como mecanismo de prevenção da obesida-
de, sugeriram que a limitação do consumo de alimentos altamente processados
deva ser considerada, pois são a principal fonte de AGs trans produzidos indus-
trialmente [31].
Por outro lado, AGs insaturados com configuração cis têm sido relacio-
nados a efeitos favoráveis no metabolismo. Foram demonstradas evidências de
associação entre o consumo de gordura não saturada e aspectos como redução
158
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;ahead print:PP.0-0

na: viscosidade do sangue e triglicerídeos plasmáticos; maior nível de relaxa-


mento do endotélio [32]; melhora na sensibilidade à insulina [33], entre outros.
Foram demonstradas evidências de que os produtos intermediários do
metabolismo dos AGs são importantes para a sobrevivência, proliferação, dife-
renciação e fusão dos mioblastos. Estudos sugeriram que os metabólitos lipídi-
cos derivados dos AGs poliinsaturados aceleraram a síntese proteica e a fusão e
crescimento das células musculares em diferentes modelos animais [34].
Fostok et al. [35] demonstraram que a suplementação com ácido oleico
(cis, AG insaturado) atenuou ações de reparo incompletas, otimizando a capaci-
dade regenerativa e a função contrátil do músculo lesionado.
Apesar do conjunto de evidências apresentado até agora, a substitui-
ção de gorduras saturadas por gorduras poliinsaturadas nas dietas como forma
de prevenir doenças cardiovasculares continua sendo questionável. Segundo
Hamley [36], em uma metanálise publicada em 2017, as evidências disponíveis
nos ensaios clínicos randomizados até agora sugeriram que a substituição de
AGs saturados por AGs poliinsaturados (n-6) nas dietas não era suficiente para
reduzir os eventos doenças cardiovasculares, mortalidade por doença corona-
riana ou mortalidade total. Além disso, ele sugeriu que seus resultados têm
implicações no presente aconselhamento dietético, no qual as recomendações
para reduzir a gordura saturada e/ou substituir AGs saturados por AGs poliin-
saturados não devem ser enfatizadas, porque a manutenção dessas recomenda-
ções provavelmente não teria o objetivo efeito e poderia reduzir os esforços para
(encorajar) as pessoas a adotar outras mudanças no estilo de vida que provavel-
mente seriam mais benéficas.
O quadro abaixo apresenta o resumo dos estudos citados acima, sobre o
efeito dos ácidos graxos nos sistemas cardiovascular e metabólico.
Quadro 1 - Resumo dos estudos sobre ácidos graxos e efeito sobre os sistemas cardiovascular e
metabólico.
Autores Ano Tipo de População Resultados
estudo
Sandres TA, Oakley 2003 Ensaio clínico 29 homens A dieta trans reduziu o coles-
FR, Crook D, Coper randomizado terol HDL, mas não alterou os
JA, Miller GJ [26] fatores de risco hemostáticos
Zapolska-Downar 2005 Controlado Células Aumento da apoptose e indu-
D, Kośmider A, umbilicais ção da produção intracelular
Naruszewicz M [28] de espécies reativas de oxigê-
nio
Sun Q, Ma J, Cam- 2007 Controle de 493 casos e O maior conteúdo total de áci-
pos H, Hankinson caso controles dos graxos trans nos eritrócitos
SE, Manson JE, foi associado a um risco eleva-
Stampfer MJ et al. do de doença cardiovascular
[29]
Chajès V, Biessy C, 2015 Prospectivo 1949 O alto consumo de ácidos gra-
Ferrari P, Romieu I, participantes xos trans induziu um aumento
Freisling H, Huybre- no peso
chts I et al. [30]
Ford PA, Jaceldo, 2016 Coorte trans- 8771 Menor ingestão de ácidos gra-
Siegl K, Lee JW, Ton- versal participantes xos trans na dieta teve efeitos
stad S [31] benéficos no estado emocional
Wagmacker et al. 159
Metabolismo de ácidos graxos

Quadro 1 - Continuação...
Autores Ano Tipo de População Resultados
estudo
Abbott SK, Else PL, 2010 Experimental Ratos jovens Consumo de ácidos graxos
Hulbert AJ [33] trans interferiu na composição
dos ácidos graxos fosfolipídios
dos músculos esqueléticos de
ratos
Fostok SF, Ezzed- 2009 Experimental Ratos jovens Ácidos graxos
dine RA, Homaidan monoinsaturados na
FR et al. [35] configuração cis aumentaram
os efeitos anti-inflamatórios
2017 Meta-análise Estudos As evidências disponíveis em
do tipo de ensaios clínicos randomizados
Hamley S [36] ensaio clínico controlados adequadamente
randomizado sugeriram que a substituição
de ácidos graxos saturados
pela maioria dos ácidos graxos
poliinsaturados n-6 dificil-
mente reduziria os eventos de
doença cardiovascular, morta-
lidade por doença coronariana
ou mortalidade total

Absorção do ácido graxo e metabolismo

Aproximadamente 90% dos lipídios consumidos estão na forma de tri-


glicerídeos (TG). Os 10% restantes estão na forma de colesterol, ésteres de coles-
terol, fosfolipídios e AGs livres. A digestão lipídica começa na boca e no estôma-
go com a ação das lipases linguais e gástricas. Eles degradam os TGs em ácidos
graxos de cadeia média e curta. Após a ação das lipases, elas sofrem a ação dos
sais biliares e substâncias produzidas pelo pâncreas, como a lipase pancreática,
que degradará os TGs formados por AGs de cadeia longa [37].
Em sequência, os AGs livres de cadeia curta e média são absorvidos di-
retamente pelos enterócitos da mucosa intestinal e liberados na corrente san-
guínea venosa. Eles são então transportados para o fígado pela albumina, pela
circulação hepática porta ou para os tecidos periféricos nos quais são direta-
mente absorvidos e usados como substrato energético. Visto que os AGs livres
de cadeia longa, colesterol não esterificado, fosfolipídios, juntamente com seus
sais biliares e as vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), formam os micélios, que
são partículas hidrofílicas que facilitam o transporte lipídico e essas lipossolú-
veis vitaminas, através da membrana dos enterócitos [38].
Depois de atravessar a mucosa intestinal, os compostos dos micélios,
juntamente com a apolipoproteína B-48, formarão a lipoproteína primária -
quilomícra ou quilomícrons. Nesse ponto, os AGs são novamente sintetizados
em triglicerídeos e o colesterol livre é esterificado. Portanto, os quilomicrons
transportam principalmente triglicerídeos e colesterol esterificado [39].
Os quilomicrons são então transportados para os tecidos periféricos,
para os quais são liberados principalmente AGs para produção de energia. Para
permitir sua liberação, esses AGs devem ser clivados do glicol. A lipase lipopro-
teína é a enzima que cliva os triglicerídeos provenientes dos quilomicrons e
posteriormente do VLDL. Os AGs livres são então absorvidos pelo tecido adipo-
so ou muscular, ou então transportados para outros tecidos pela albumina [37].
160
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;ahead print:PP.0-0

A lipólise compreende quatro estágios: clivagem dos triglicerídeos no


sangue; oxidação beta dos ácidos graxos; o ciclo do ácido cítrico e a cadeia de
transporte de elétrons. O primeiro estágio, como descrito anteriormente, ocorre
no sangue, onde os triglicerídeos presentes nas lipoproteínas de baixa densida-
de são clivados pela lipoproteína lipase. Nesse processo, os AGs são liberados do
glicerol e transportados até o sarcolema (membrana plasmática da célula mus-
cular) pela albumina. Ao entrar na célula, o segundo estágio - beta-oxidação
- ocorre. Nesse estágio, os AGs sofrem ação de enzimas, como a tioquinase, pre-
sentes na membrana externa das mitocôndrias. As mitocôndrias têm duas mem-
branas - interna e externa - e um espaço entre essas membranas. A oxidação
beta é finalizada na membrana externa da mitocôndria, local onde se encontra
a tioquinase, que finalizará esse processo. Entretanto, os AGs de cadeia longa,
diferentemente dos tipos de cadeia média e curta, não são permeáveis à mem-
brana interna das mitocôndrias e requerem a ação da carnitina, transportadora
de nutrientes da AcetylCoA, resultante do catabolismo dos AGs da cadeia longa
através da membrana interna das mitocôndrias [40].
O metabolismo oxidativo permite obter energia a partir de AGs em uma
localização intramitocondrial. Assim, para permitir que o acil-CoA seja usado
por ele (metabolismo oxidativo), é necessário superar a impermeabilidade da
membrana externa e citoplasmática das mitocôndrias para atingir o acil-CoA. A
enzima responsável por este transporte é a Carnitina-CoA aciltransferase (Car-
nitina O-Palmitoiltransferase). Essa enzima apresenta maior especificidade
para Palmitoyl-CoA, no entanto, catalisa o transporte de AGs com um compri-
mento de cadeia carbonatada entre C4 e C18. Cadeias de AGs maiores que estas
são mais difíceis de serem transportadas. Uma vez dentro das mitocôndrias, o
acil-CoA pode ser usado no metabolismo lipolítico do LYNEN [41].
A carnitina palmitil transferase foi historicamente vista como o único
regulador da oxidação de AGs. No entanto, outros translocadores de ácido gra-
xo (AGT), como AGT/CD36, foram identificados. Especificamente, o AGT/CD36
parece ter um mecanismo de ação diferenciado em relação à oxidação de AGs
durante o exercício, influenciando o transporte lipídico através da membrana
sarcolemal e para as mitocôndrias [42].
Diferentemente dos músculos estriados, o tecido adiposo permite a en-
trada e saída de AGs. Os AGs só entram nos músculos com o objetivo de produ-
zir energia, enquanto que, ao entrar no tecido adiposo, os AGs podem produzir
energia e também podem ser acumulados. Quando necessário, os AGs acumu-
lados na forma de triglicerídeos podem ser hidrolisados e, assim, liberam AGs
na corrente sanguínea, sendo transportados pela albumina para serem usados
em outros tecidos para a produção de energia. O principal consumidor desses
AGs liberados pelo tecido adiposo são os músculos cardíacos e esqueléticos es-
triados [40].

Metabolismo de ácido graxo durante o exercício

O processo de captação e oxidação de AGs é importante para a ressíntese


de ATP [43]. Uma vez que os AGs entram na fibra esquelética, eles têm destinos
diferentes, dependendo do estado metabólico das células. Em condições de re-
pouso, os AGs plasmáticos são conduzidos para a síntese de TGs como o primei-
ro destino, em vez de serem movidos para as mitocôndrias para oxidação [43].
À medida que o exercício avança, os AGs de cadeia longa, fornecidos
Wagmacker et al. 161
Metabolismo de ácidos graxos

pelo sangue ou pela hidrólise de triacilgliceróis intramusculares, são metabo-


lizados para gerar energia. O suprimento de AGs da hidrólise de triacilgliceróis
intramusculares é limitado e durante o exercício; os miócitos consomem apro-
ximadamente 90% dos AGs livres derivados do plasma sanguíneo [41].
Pequenas quantidades dos TGs são armazenadas dentro das gotículas
lipídicas no músculo esquelético e podem ser hidrolisadas para produzir AGs
para a produção de energia por meio de oxidação β e fosforilação oxidativa.
Embora tenha havido alguma controvérsia sobre a importância quantitativa do
intramiocelular (IMTG) como substrato metabólico, estudos recentes demons-
traram uma contribuição substancial do IMTG para a produção de energia [45].
Existem três lipases expressas no músculo esquelético, responsáveis
pela degradação do TG: lipase de monoacilglicerol; Lipase triglicerídica adiposa
(ATGL) e lipase sensível a hormônios (HSL).
ATGL é o primeiro passo da lipólise do TG no músculo esquelético de
humanos e camundongos, resultando na liberação de uma molécula de AG. A
monoacilglicerol lipase é responsável pela hidrólise do monoacilglicerol, libe-
rando glicerol e AGs. O HSL catalisa a hidrólise de TG para liberar AG no cito-
plasma [41]. O HSL está altamente presente nas fibras oxidativas do tipo I do
músculo esquelético e é ativado pela estimulação e contração adrenérgica. O
ATGL é ativado pela identificação comparativa dos genes-58 (CGI-58). Essas pro-
teínas estão localizadas na superfície das mitocôndrias e são preferencialmente
expressas no músculo oxidativo, como os músculos cardíaco e sóleo [45]. O trei-
namento resistido leva ao aumento dos níveis de ATGL, aumentando a lipólise
intramuscular, particularmente nas fibras oxidativas tipo I [46]. Estudos como
o de Roepstorff et al. [47] demonstraram que o exercício desencadeou a rápida
ativação do HSL dependente de proteínas quinases em seres humanos, promo-
vendo a liberação de AG.
Os mecanismos que regulam a lipólise induzida pelo exercício no mús-
culo esquelético ainda não foram completamente elucidados e podem ser mais
complexos do que a lipólise no tecido adiposo [48].
Estudos também sugeriram que o exercício físico realizado de maneira
aguda promove alterações nos genes de transporte de AGs, precedendo aumen-
tos na expressão de RNAm [53]. Isso permitirá maior metabolização dos ácidos
graxos, embora a última possibilidade ainda não tenha sido testada [50].
De acordo com a pesquisa de Kim et al. [51], o exercício físico também é
capaz de aumentar significativamente a expressão de componentes da via me-
tabólica e os componentes relacionados ao sinal redox induzem um aumento
semelhante no conteúdo de AGT/ CD36 da membrana celular do músculo es-
quelético em ratos.
Em um ensaio clínico randomizado publicado em 2017, a resposta dos
TGs pós-prandiais foi atenuada por exercícios periodizados de intensidade bai-
xa a moderada, quando medidos após 24 horas [52].
O uso de lipídios é modulado pela disponibilidade de AGs no plasma.
Em indivíduos obesos, os níveis plasmáticos de AG são mais elevados. A ativida-
de glicolítica é alterada nessa população e o metabolismo lipídico pode ser uma
via preferencial. Em indivíduos obesos, as respostas metabólicas da mobilização
de AGs parecem ser menos favorecidas pela atividade aeróbica, no entanto, as
respostas ainda não são conclusivas [11].
Estudos recentes reforçaram as diferenças nos padrões de estimulação
da lipólise entre indivíduos magros e obesos durante o exercício físico. A dife-
162
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;ahead print:PP.0-0

rença na taxa lipolítica parece ser devida a diferenças na quantidade ou ativida-


de das lipases presentes no músculo esquelético, especialmente ATGL, e não nos
níveis de mRNA [53].

Quadro 2 - Efeito do exercício no metabolismo dos ácidos graxos..


Autores Ano Tipo de estudo População Resultados
Turnbull PC, 2016 Experimental 10 ratos machos O treinamento resistido au-
Longo AB, Ra- Randomizado por controle e mentou o TGLA, aumentan-
mos SV et al. grupos experi- do a lipólise intramuscular,
[46] mentais particularmente nas fibras
oxidativas tipo I
Roepstorff 2004 Autocontrolado 8 homens mode- O exercício desencadeou
C, Vistisen B, radamente trei- uma rápida ativação do LHS
Donsmark M et nados dependente das proteínas
al. [47] quinases, promovendo a
liberação de AG
Barres R, Yan J, 2012 Autocontrolado 14 participantes O exercício físico agudo pro-
Egan B, Treebak sedentários e sau- moveu alteração nos trans-
JT et al. [49] dáveis portadores de genes de AGs
Kim J, Lee K-P, 2017 Experimental 18 Ratos O exercício induziu aumen-
Lee D-W, Lim K to significativo na expressão
[51] de componentes da via me-
tabólica lipídica e compo-
nentes relacionados ao sinal
redox
Homer AR, Fen- 2017 Ensaio clínico 36 participantes A resposta triglicerídea pós-
emor SP, Perry randomizado adultos -prandial foi atenuada com
TL et al. [52] o exercício físico
Jabbour G, Ian- 2015 Comparativo 45 adolescentes Maior mobilização lipídica
cu H-D, Paulin obesos em adolescentes com peso
A et al. [11] alterado quando compara-
dos com aqueles com peso
normal
Petridou A, 2017 Comparativo 16 adultos dividi- Não foi encontrada alte-
Chatzinikolaou dos em dois gru- ração nos níveis de mRNA
A, Avloniti A et pos: 7 magros e 9 durante o exercício, mas os
al. [53] obesos obesos apresentaram níveis
mais baixos de mRNA, ATGL
e HSL, em comparação com
os adultos com peso normal

Consumo de ácido graxo, estado inflamatório e de disfunção endotelial



Existem vários mecanismos pelos quais a dieta aumenta ou diminui o
risco de doenças cardiovasculares. A investigação dos mecanismos que deter-
minam a aterosclerose sugeriu que um processo inflamatório desempenha um
papel central em seu desenvolvimento, progressão e resultados. Esse processo
inflamatório causa alterações estruturais e funcionais nas paredes dos vasos
sanguíneos, o que leva à disfunção endotelial e ao desenvolvimento de lesões
ateroscleróticas [54]. Sabe-se que dietas com restrição calórica reduzem os ní-
veis circulantes da proteína C reativa (PCR), que é um marcador de inflamação
sistêmica que também pode desempenhar seu próprio papel no processo infla-
matório, e muitos estudos demonstraram que ela evitava eventos cardiovascu-
lares [55]. Dietas ricas em ácidos graxos ômega-3 parecem reduzir a ateroscle-
Wagmacker et al. 163
Metabolismo de ácidos graxos

rose por meio do processo de regulação negativa de mecanismos intracelulares


que levam à expressão de genes pró-aterogênicos [5].
O endotélio vascular é considerado um tecido dinâmico, um “órgão”
que controla funções importantes, como coagulação, manutenção da circulação
sanguínea, tônus vagal, fluidificação e respostas inflamatórias. Dentre essas
várias funções, o endotélio também é responsável pela produção de vasodila-
tadores e substâncias vasoconstritoras. O óxido nítrico (ON) é o principal fator
nas respostas vasodilatadoras e está diretamente envolvido na disfunção endo-
telial [56].
O termo “disfunção endotelial” refere-se a um desequilíbrio na produ-
ção endotelial de mediadores que regulam o tônus vascular, agregação plaque-
tária, coagulação e fibrinólise. A disfunção endotelial também é frequentemen-
te relatada como piora do relaxamento dependente do endotélio, causada pela
perda de biodisponibilidade do ON, embora também tenham sido encontradas
alterações em outras substâncias vasoativas [57].
O óxido nítrico possui diversas funções antiaterogênicas, entre elas ini-
bição da produção de células musculares lisas, inibição da agregação plaque-
tária e propriedades antioxidantes. Sua liberação é estimulada pela força de ci-
salhamento exercida no endotélio pelo sangue; esse fato é demonstrado pelo
maior nível de NO liberado pelas artérias, em comparação com as veias [56].
No estado pós-prandial, um longo período de tempo durante o qual os
níveis de lipoproteínas ricas em TG permanecem elevados, pode levar à disfun-
ção endotelial. Isso resulta em aumento da resposta inflamatória, menor nível
de disponibilidade de ON e aumento do estresse oxidativo - alterações envolvi-
das na gênese da aterosclerose [58].
Após uma refeição com alto teor de gordura, indivíduos saudáveis apre-
sentam um aumento significativo nas concentrações de citocinas pró-inflama-
tórias, TNF-α, IL-6 e moléculas de adesão (molécula de adesão intercelular-1 -
ICAM-1 e molécula de adesão celular vascular-1 - VCAM-1), quando comparado
a uma refeição com alto teor de carboidratos. Essas alterações também podem
ser evitadas com o uso de vitamina E, sugerindo que o estresse oxidativo regula
o aumento de citocinas e moléculas de adesão. Estudos demonstraram que os
níveis de TGs pós-prandiais, e não os provenientes de adipócitos em jejum, são
marcadores mais sensíveis da aterosclerose [59,60].
A elevação da PCR começa cerca de 6 horas após a estimulação inflama-
tória; tem meia-vida de aproximadamente 19h e seu valor máximo é atingido
em 24 a 72 horas. Sua concentração plasmática é constantemente baixa e não
apresenta variações circadianas, em contraste com algumas proteínas de coa-
gulação e outras do estágio inflamatório agudo. Concluída a estimulação, os
valores retornam ao normal após 7 dias.

Exercício, resposta inflamatória e disfunção endotelial

Embora estudos tenham demonstrado evidências de que a prática de


atividade física impede a gênese e a progressão da doença aterosclerótica, os
mecanismos para explicar esse efeito ainda não foram completamente eluci-
dados. Ghisi et al. [56] sugeriram que o fator responsável por esse efeito está
relacionado à alteração no tônus vascular e na função endotelial.
O desenvolvimento e progressão da aterosclerose dependem parcial-
mente da migração de monócitos para os vasos sanguíneos, para se tornar ativo
164
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;ahead print:PP.0-0

e iniciar a liberação de citocinas. Segundo Vuorimaa et al. [61], as primeiras ci-


tocinas na cascata são o fator de necrose tumoral (TNF-α) e a interleucina1 (IL1)
consideradas citocinas pró-inflamatórias. Após uma sessão de exercício agudo,
não há aumento nas citocinas pró-inflamatórias, sugerindo que a atividade fí-
sica suprime a entrada dessas citocinas no plasma.
Paton et al. [62], após um estudo com indivíduos saudáveis e sedentá-
rios, concluíram que o exercício realizado com intensidade de 50% a 70% con-
tinuamente por 6 meses era capaz de melhorar a resposta inflamatória, a coa-
gulação e o potencial fibrinolítico, reduzindo o risco de doença cardiovascular.
Os efeitos do exercício físico na função endotelial foram demonstra-
dos em experimentos com animais e humanos, no entanto, a literatura ainda é
controversa em relação à intensidade do esforço necessário para causar efeitos
protetores. A intensidade mais testada em humanos e animais é o nível mode-
rado, no entanto, existem evidências de que o exercício aeróbico agudo de alta
intensidade aumentou a chance de eventos cardiovasculares, mas quando reali-
zado cronicamente, estava associado à diminuição da ocorrência desses eventos
e mortalidade [58].
MacEneaney et al. [63], em um estudo sobre o efeito da lipemia pós-
-prandial nos marcadores inflamatórios e na ativação endotelial em adolescen-
tes, descobriram que o exercício físico não alterou os valores da PCR, TNF-α,
IL-6 e moléculas de adesão em circulação, mostrando que, apesar de reduções
significativas na hiperlipemia, o exercício não alterou a resposta inflamatória
em 6 horas de observação. Os achados deste estudo corroboram os de Dekker et
al. [64], nos quais o exercício físico não alterou significativamente os valores de
IL-6, embora uma tendência à redução tenha sido percebida quando comparada
ao grupo controle.
No estudo de Tyldum et al. [65], quando estudaram a vasodilatação me-
diada pelo fluxo após sobrecarga lipídica, com e sem exercício físico, mostraram
evidências de que, com alta intensidade, atividade física periodizada, o diâme-
tro do vaso aumentou quando comparado ao controle, demonstrando vasodila-
tação secundária à atividade física.
O exercício físico tem sido associado a um aumento da enzima óxido
nítrico sintase, com influência no aumento do ON, proporcionando um efeito
protetor contra a disfunção endotelial através do exercício físico. O exercício
físico também induz a liberação de superóxido dismutase extracelular que, se-
gundo Vuorimaa [61], é uma enzima que atua no processo antioxidante.
Estudos demonstraram evidências de que a suplementação alimentar
com AGs poliinsaturados atuou na redução da resposta inflamatória [66]. Os
efeitos benéficos da suplementação dietética com AGs poliinsaturados no de-
sempenho do exercício e no equilíbrio oxidativo da atividade física também
foram demonstrados em outros estudos [67], embora os efeitos associados à
atividade física intensa na resposta imune ainda sejam contraditórios [68].
Segundo Capó et al. [69], o exercício aumentou os níveis ativados da
resposta anti-inflamatória, aumentando a expressão gênica anti-inflamatória
após o exercício, principalmente no grupo de indivíduos jovens. Estudos recen-
tes reforçaram a ideia de que o exercício físico atenua a resposta inflamatória
[70].
Wagmacker et al. 165
Metabolismo de ácidos graxos

Ácidos graxos e estresse oxidativo

A formação do estresse oxidativo, segundo Ghisi [56], seria um dos prin-


cipais fatores responsáveis pelo desencadeamento da aterogênese, e que o ânion
superóxido (O2-) e o LDL oxidado seriam os principais radicais livres envolvidos
nesse processo. Além disso, as espécies reativas de oxigênio (ERO) poderiam in-
teragir com o ON e formar o ânion peroxinitrito (ONOO-) e o dióxido de nitro-
gênio (NO2), responsáveis por potencializar a lesão inflamatória, favorecendo
a progressão da aterosclerose [61].
A sobrecarga lipídica induz um aumento da lipoproteína rica em trigli-
cerídeos - TRLp, redução do HDL e hiperinsulinemia. Essa condição metabólica
leva à formação de radicais livres, que são reduzidos, de acordo com a capacida-
de antioxidante (endógena e / ou exógena) presente, determinando o estresse
oxidativo. Os radicais livres estimulam os tecidos a secretarem citocinas (TNF-
-α, IL-1 e IL-6), provavelmente através dos macrófagos, estimulando a formação
de moléculas de adesão. A geração de espécies reativas de oxigênio diminui a
biodisponibilidade do ON livre, resultando em menor nível de vasodilatação
dependente do endotélio e também na formação de peroxinitrito (ONOO-), um
oxidante potente e duradouro. Esses processos estão associados à gênese e pro-
gressão das lesões ateroscleróticas [71].
No corpo humano, existem linhas de defesa contra o processo ateros-
clerótico, entre elas as enzimas antioxidantes óxido nítrico (ON) e óxido nítrico
endotelial sintetase (eNOS); superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT) e glu-
tationa peroxidase (GPX). O ON é um fator importante responsável pelo rela-
xamento dos vasos arteriais: dependendo do meio em que isso possa funcionar
como oxidante ou redutor, sua oxidação produz nitritos e nitratos. Suas fun-
ções anti-ateroscleróticas incluem: inibição da adesão e migração de leucócitos,
impedindo a agregação plaquetária, redução da permeabilidade endotelial às
macromoléculas de lipoproteínas, impedindo o acúmulo subendotelial de LDLc
e sua oxidação, entre outros. Esses fatores, entre outros, estão relacionados à
modulação da resposta inflamatória [72].
Segundo os dados do estudo de Tyldum [65], os efeitos de uma dieta rica
em gorduras na redução da capacidade antioxidante aparecem, em média, 30
minutos após a ingestão.

Exercício e estresse oxidativo

O exercício físico leve a moderado, realizado regularmente, é recomen-


dado para a manutenção da saúde e prevenção de inúmeras doenças. Também
reduz a produção de oxidantes e a ocorrência de danos oxidativos; melhora o
sistema de defesa antioxidante; aumenta a resistência dos órgãos e tecidos con-
tra a ação prejudicial da ERO e diminui a inflamação sistêmica [69]. No entanto,
há um conjunto de evidências sugerindo que o exercício físico, particularmente
os tipos mais intensos, está associado ao dano muscular e à produção elevada
de ERO [68].
No estudo de Jong-Shyan et al. [73], quando testaram diferentes intensi-
dades de exercício físico em indivíduos sedentários com 40% de VO2máx, 60% de
VO2máx e 80% de VO2máx por 40 minutos, verificaram que, na forma aguda, a
maior intensidade resultou em maior produção de LDL oxidado. Isso causou um
aumento nas espécies reativas de oxigênio nos monócitos, quando comparadas
166
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;ahead print:PP.0-0

às intensidades leve e moderada. Eles concluíram que em seu estudo, o exercício


físico agudo de alta intensidade causou maior estresse oxidativo em indivíduos
sedentários.
No estudo de Tyldum et al. [65] sobre o efeito do exercício agudo de dife-
rentes intensidades na capacidade antioxidante, eles mostraram que exercícios
de intensidade moderada e alta interferiram positivamente na redução da ca-
pacidade antioxidante influenciada pela dieta, no entanto, os resultados foram
mais expressivos para os exercícios de alta intensidade.
De acordo com Tyldum et al. [65] exercício e função antioxidante revela-
ram um paradoxo interessante; na forma aguda, ocorre um aumento nos níveis
de radicais livres no sangue e nos músculos, que podem ser responsáveis pela
inatividade de grandes quantidades de óxido nítrico e alterar negativamente o
impacto endotelial mediado pela vasodilatação. No entanto, os resultados do
estudo revelaram um aumento na capacidade antioxidante na fase aguda do
exercício. Os autores sugeriram que, durante o estágio agudo do exercício, ocor-
ra uma transferência de antioxidantes entre o músculo e a vasculatura, favore-
cendo o equilíbrio em direção a uma inclinação a favor do efeito antioxidante,
proporcionando efeito semelhante ao oferecido por uma dieta contendo antio-
xidantes.
Sureda et al. [72] mostraram evidências de que o exercício físico agudo,
realizado em altas intensidades, induziu danos oxidativos nas células sanguíne-
as, como eritrócitos e linfócitos, mas não nos neutrófilos.
O exercício habitual de intensidade baixa a moderada é responsável por
um aumento do sistema de defesa antioxidante celular; redução na peroxidação
lipídica e efeito protetor contra doenças associadas à inflamação crônica [69].
Alguns estudos apontam que exercícios intensos estão associados ao
aumento da formação de radicais livres. Em outros estudos, exercícios agudos e
intensos apresentaram respostas significativas e rápidas na função endotelial.
No entanto, a intensidade do exercício necessário para causar respostas antio-
xidantes ainda é controversa na literatura.
No quadro abaixo, há quatro resumos dos artigos apresentados nesta
seção, com referência ao efeito do exercício físico na resposta inflamatória, dis-
função endotelial e estresse oxidativo.

Quadro 3 - Efeito do exercício físico na resposta inflamatória, disfunção endotelial e estresse


oxidativo.
Autores Ano Tipo de estudo População Resultados
Paton CM et 2006 Prospectivo Participantes Resposta inflamatória melhorada,
al. [62] saudáveis coagulação e potencial fibrinolítico,
risco reduzido de doença cardiovas-
cular
MacEne- 2009 Comparativo 18 adolescen- O exercício moderado antes de uma
aney JO et tes divididos refeição com alto teor de gordura re-
al. [63] em: 10 eu- duziu efetivamente as concentrações
tróficos e 8 de TG pós-prandiais em adolescentes
obesos com peso normal e peso alterado,
mas não reduziu o aumento pós-
-prandial concomitante de glóbulos
brancos ou IL-6
Dekker MJ 2010 Autocontrolado 9 homens O exercício físico alterou significati-
et al. [64] obesos vamente os valores de IL-6
Wagmacker et al. 167
Metabolismo de ácidos graxos

Quadro 3. Continuação...
Autores Ano Tipo de estudo População Resultados
Tyldum GA 2006 Autocontrolado 8 homens sau- O exercício agudo promoveu um
et al. [65] dáveis efeito clinicamente protetor sobre a
vasculatura, dependente da intensi-
dade do exercício e fortemente rela-
cionado à capacidade antioxidante
induzida pelo exercício
Vuorimaa, 2005 Autocontrolado 10 homens A intensidade da luz e o exercício
Ahotupa saudáveis e físico de longa duração suprimiram
M, Irjala K, treinados agudamente as cargas de estresse
Vasankari T oxidativo e estavam inversamente
[61] relacionados ao processo aterogênico
Garcia JJ, 2011 Revisão 10 artigos Embora as respostas à PCR tenham
Bote E, Hin- sistemática sido inconsistentes, um único ata-
chado MD, que de exercício poderia aumentar a
Ortega E atividade e a contagem de IL-6 circu-
[68] lante e a contagem de neutrófilos em
adultos não treinados
Capó X et al. 2016 Comparativo 5 atletas adul- O exercício aumentou os níveis ati-
[69] tos jovens e 5 vados da resposta anti-inflamatória,
atletas idosos aumentando a expressão gênica anti-
-inflamatória após o exercício, prin-
cipalmente no grupo de indivíduos
jovens
Rocha-Ro- 2017 Experimental Ratos dividi- O exercício induziu alterações espe-
drigues S et Controlado dos em Gru- cíficas nos AGs, independentemente
al. [70] pos Controle, da composição destes na dieta, mas
Atividade apenas o exercício resistido atenuou
Física Livre e a resposta inflamatória
Exercício de
Resistência
Sureda A et 2005 Autocontrolado 9 atletas O exercício induziu danos oxidati-
al. [72] vos nas células sanguíneas, como
eritrócitos e linfócitos, mas não nos
neutrófilos
Jong-Shyan 2006 Autocontrolado 25 homens Exercícios de alta intensidade au-
W, Lee T, saudáveis e mentaram a produção de EROs de
Chow S [73] sedentários monócitos induzidos por LDL, no
entanto, exercícios leves e moderados
protegeram os indivíduos contra a
supressão da capacidade antioxidan-
te do monócito por LDL

Conclusão

Os ácidos graxos, dependendo de suas características bioquímicas e con-


figuração espacial, têm efeito diferenciado na saúde cardiovascular, no entanto,
estudos ainda apresentam resultados contraditórios sobre o uso terapêutico de
certos ácidos graxos. O exercício físico parece beneficiar o metabolismo dos áci-
dos graxos e atenuar as complicações secundárias ao consumo de certos ácidos
graxos, além de potencializar os efeitos positivos de diferentes ácidos graxos.
Entretanto, variantes do exercício físico, como intensidade, duração, tempo de
observação dos efeitos dos resultados, limitam os autores a concluir, com certo
168
Rev Bras Fisiol Exerc 2020;ahead print:PP.0-0

grau de certeza, o efeito do exercício físico sobre ácidos graxos e complicações


secundárias, uma vez que estudos na literatura continuam sendo contraditó-
rios.

Contribuição autoral
Concepção e desenho da pesquisa: Wagmacker DS, Ladeia AMT. Coleta de dados: Wagmacker
DS, Oliveira AM, Oliveira EC, Santos ACN. Análise e interpretação dos dados: Wagmacker DS,
Oliveira AM, Santos ACN, Rodrigues LEA. Redação do manuscrito: Wagmacker DS, Oliveira AM,
Oliveira EC, Rodrigues LEA. Revisão crítica do manuscrito quanto a conteúdo intelectual im-
portante: Ladeia AMT.

Vinculação acadêmica
Este artigo representa um trabalho honesto e a validade de seus resultados pode ser certificada.
Além disso, este artigo faz parte da tese de mestrado de Djeyne Silveira Wagmacker no curso de
pós-graduação da Faculdade de Medicina e Saúde Pública da Bahia. E todos os autores declaram
não ter interesse concorrente. Este trabalho foi apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvi-
mento Científico e Tecnológico (CNPQ).

Potencial conflito de interesses


Não possui nenhum potencial conflito de interesses

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Como citar: Carvalho LPC, Gomes JLB. Comentário sobre: Bente Klarlund Peddersen, Atividade física e
open acess interação-ação músculo-cérebro. Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):172-177. DOI: https://doi.org/10.33233/ 172
rbfe.v19i2.4111

RBFEx Revista Brasileira de


ISSN: 2675-1372 Fisiologia do Exercício
Artigo Comentado

Comentário sobre: Bente Klarlund Peddersen,


Atividade física e interação-ação músculo-cérebro
Comment on: Bente Klarlund Peddersen, Physical activity and muscle-
brain crosstalk

Leandro Paim da Cruz Carvalho1, Jorge Luiz de Brito Gomes1


1. Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina, PE, Brasil.

No recente artigo publicado na Nature Reviews Endocrinology, “Physi-


cal activity and muscle-brain crosstalk” [1], o autor - Bente Klaurlund Pedder-
sen, grande referência no estudo da biologia celular do músculo esquelético,
contextualiza o tema citando grandes filósofos do passado e suas percepções
sobre o elo da atividade física e a mente. Com destaque para a frase do filósofo
alemão Friedrich Nietzsche: “Todos os grandes pensamentos são concebidos
caminhando”.
Assim, desde os nossos ancestrais, ao iniciar a deambulação de forma
bípede, os seres humanos utilizam grande quantidade de músculos esquelé-
ticos como agentes propulsores para esta ação. Os músculos, correspondem a
~40% da massa corporal de adultos saudáveis, com alterações percentuais ao
longo da vida. Apresentam funções que vão além da mecânica do movimento,
por exemplo, endócrina. Desse modo, a estimulação desse tecido por meio do
exercício físico (EF) promove grande impacto sistêmico [2,3].
Dentre esses impactos, Peddersen BK [1] destaca o crescente volume
de evidências convergindo que o EF promove benefícios na saúde cerebral.
Em humanos, o EF aumenta o fluxo sanguíneo para a região do hipocampo
e até mesmo o tamanho do hipocampo [4]. O autor aponta que o EF também
é fundamental para promoção de ativação e aumento das conexões neurais,
além de exercer impactos nas funções cognitiva, motora e fisiológicas básicas
envolvidas com a saúde mental, como o apetite, o sono e o humor [5-9].
Para os efeitos do EF no cérebro acontecerem, dois fatores podem estar
envolvidos: a) neurotrofinas produzidas dentro do cérebro e b) fatores peri-
féricos circulantes na corrente sanguínea que podem ser advindas da intera-
ção-ação músculo-cérebro [10]. Uma categoria desses fatores circulantes que
permitem a interação-ação entre os músculos ativos e a função cerebral, são
as miocinas. As miocinas são citocinas produzidas e secretadas pelo músculo
esquelético, podendo atuar de forma autócrina, endócrina ou parácrina (fo-
ram batizadas com esse nome pelo próprio Peddersen em 2003) [11].
Entre as vias de interação-ação abordadas no trabalho, separamos três
para detalhar nesse artigo: 1) Via catepsina B – BDNF, 2) Via PGC1α – FNDC5
– BDNF e 3) Via PGC1α – Eixo quinurenina.
Recebido em: 8 de Maio de 2020; Aceito em: 9 de Maio de 2020.
Correspondência: Av. José de Sá Maniçoba, S / N, Departamento de Educação Física, CEP: 56304-917, Centro,
Petrolina, PE, Brasil. E-mail: leandroopaim@hotmail.com
Carvalho & Gomes 173
Artigo Comentado

I - Via da catepsina B – BDNF

A catepsina B trata-se de uma miocina que está envolvida na melhora


dos processos de neurogênese, cognição e memória mediados pelo EF na região
do hipocampo. O consumo energético promovido pelo EF ativa a proteína ki-
nase ativada por AMP (AMPK), que promove a expressão do gene Ctsb. O gene
codifica a catepisina B, que é secretada no músculo esquelético e liberada na
corrente sanguínea [10].
A catepsina B consegue atravessar a barreira hematoencefálica (BHE),
onde estimula a expressão do ácido ribonucleico mensageiro (RNAm) do fator
neurotrófico derivado do cérebro (BDNF). O BDNF possui papel neuroprotetor
contra ansiedade e depressão [10,12]. Além disso, a partir do exercício, de forma
concomitante também ocorre aumento dos níveis de doublecortina, que junta-
mente com o BDNF estimulam a neurogênese [10,13].
As evidências tratam majoritariamente do exercício aeróbico de intensi-
dade moderada a alta em modelos animais e em humanos. No artigo de Moon et
al. [10], os níveis de catepsina B aumentaram significativamente em humanos
que realizaram treinamento de endurance intervalado em esteira a 70-90% da
frequência cardíaca máxima durante 16 semanas.
Por outro lado, ao analisar indivíduos praticantes de rugby amador de
forma crônica (35±15 anos de prática), De la Rosa et al. [14] encontraram menor
concentração sérica de catepsina B em indivíduos treinados, em comparação
a não treinados, o que pode sugerir adaptação crônica ao EF e maior eficiên-
cia da sinalização da catepsina em indivíduos treinados. No mesmo trabalho
também houve dosagem do BDNF, encontrando resposta semelhante, menor
concentração sérica em indivíduos treinados do que em não treinados. Nesse
caso, os autores consideram que a menor concentração se deve além da melhor
sinalização, ao fato de que o BDNF também é utilizado para reparação tecidual,
regulando a diferenciação de células satélites e a regeneração muscular [15].
Apesar da robusta evidência na literatura, sobre a capacidade do exercí-
cio resistido em promover aumento de BNDF em humanos [16,17], não há evi-
dência sobre a eficiência do mesmo na promoção de neurogênese em humanos,
e em modelo animal, há controvérsias [18,19]. Ainda assim, em nossa opinião,
esse método de exercício deve ser estimulado para melhora e manutenção da
saúde mental, uma vez que promove ganhos cognitivos consideráveis em hu-
manos. Para isso, o volume parece ser uma variável importante, como eviden-
ciado no estudo de Fortes et al. [20], que ao investigar o controle inibitório, um
componente da cognição, em indivíduos jovens (18-31 anos), demonstrou que
maior volume (3 séries) foi melhor que menor volume (1 série) para estimular
adaptações no controle inibitório.

II - Via PGC1α – FNDC5 – BDNF

Maiores níveis do co-ativador-1 ‘alfa’ do receptor ativado por prolifera-


dor de peroxissoma (PGC1α) aumentam no músculo a expressão da proteína de
membrana fibronectina tipo III de domínio contendo 5 (FNDC5), presente tam-
bém em tecidos altamente oxidativos como o coração e o cérebro. O FNDC5 du-
rante o EF sofre clivagem proteolítica por uma protease ainda não identificada,
e é secretado na circulação na forma da miocina irisina [17]. A irisina é mais co-
nhecida por seu efeito modulador sobre o tecido adiposo branco, aumentando a
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Rev Bras Fisiol Exerc 2020;19(2):172-177

termogênese e o gasto energético, além de melhorar a tolerância a glicose [22].


Um interessante estudo demonstrou que o exercício aeróbico cíclico
promove elevação da expressão do gene FNDC5 no hipocampo de modelos ani-
mais [23]. Outro estudo demonstrou que a entrega de FNDC5 ao fígado, elevou
a concentração de irisina circulante e induziu a expressão do gene do BNDF
no hipocampo [22]. Esse achado levantou a hipótese de que a irisina consegue
atravessar a BHE para estimular a produção de BDNF no cérebro e desempenhar
um papel neurogênico, de aprendizagem e de motivação à recompensa.
A primeira pergunta a ser feita é: Após o EF, a irisina lançada na corrente
sanguínea seria de fato capaz de atravessar a BHE para estimular a expressão de
BDNF? A segunda, considerando que o FNDC5 é expresso não apenas no mús-
culo esquelético, mas também em outros tecidos oxidativos, se a primeira per-
gunta for verdadeira: Qual tecido contribuiria mais para a expressão de BDNF
no sistema nervoso central?
É importante ressaltar que a descoberta da relação entre exercício e
FNDC5/irisina é recente [22], inclusive houveram questionamentos se a irisina
de fato era uma miocina existente em humanos ou um mito proveniente da fra-
ca especificidade de anticorpos durante as análises por métodos como western
blot e ELISA [24]. A polêmica foi solucionada após estudos demonstrarem a
detecção da irisina circulante por meio de espectrometria de massa, um método
robusto que independe da qualidade de anticorpos [25,26].
Dois estudos em humanos encontraram correlação entre concentração
sérica de irisina e cognição [21,26], entretanto, um terceiro estudo não encon-
trou correlação positiva [27]. Apesar de o autor apontar que o aumento de iri-
sina no sangue é controverso, ao nosso ver, a irisina parece ser uma miocina
promissora devido a sua ação diversificada. Porém, são necessárias mais pesqui-
sas analisando irisina, EF e seus possíveis efeitos no cérebro, especialmente em
humanos após exercícios aeróbicos cíclicos e resistido, nos diferentes volumes e
intensidades de treino.

III - Via PGC1α – Eixo quinurenina

O triptofano é um aminoácido essencial para a síntese proteica, além


de ser o precursor do neurotransmissor serotonina, sendo fundamental para o
bom funcionamento do cérebro e estando envolvido nos processos de regulação
do humor, ansiedade e cognição. Sua deficiência está ligada ao desenvolvimen-
to de depressão e, por isso, a prescrição do exercício físico é extremamente im-
portante para pessoas com problemas de saúde mental [28].
A maior parte (~95%) do triptofano biodisponível é metabolizada em
quinurenina, uma proteína neurotóxica, que comumente encontra-se elevada
em indivíduos com depressão [29]. Essa proteína consegue atravessar a BHE,
acumulando-se no sistema nervoso central e pode estar relacionada com morte
neuronal e neuroinflamação. Uma enzima chamada quinurenina aminotrans-
ferase converte quinurenina em ácido quinurênico, esse por sua vez não é capaz
de atravessar a BHE, exercendo assim papel neuroprotetor [30].
O EF promove aumento da expressão de PGC1α no músculo esquelético,
essa proteína media os efeitos metabólicos do exercício no músculo e também
é um co-ativador transcricional de biogênese mitocondrial e do metabolismo
lipídico [31]. A expressão aumentada de PGC1α estimula a produção de quinure-
nina aminotransferase no músculo esquelético, elevando a taxa de conversão de
Carvalho & Gomes 175
Artigo Comentado

quinurenina em ácido quinurênico, consequentemente reduzindo os níveis de


quinurenina no sistema nervoso central, promovendo equilíbrio entre as subs-
tâncias neurotóxicas e neuroprotetoras, apresentando um efeito antidepressivo.
A literatura aponta que mulheres produzem mais quinurenina do que os
homens, esse fator poderia ajudar a explicar a taxa duas vezes maior de depres-
são no sexo feminino. Além disso, mulheres que fazem uso de contraceptivos
orais, apresentam maior índice de depressão e menor concentração de ácido
quinurênico do que mulheres que não fazem uso [32].
Assim como na primeira via apresentada, as evidências se concentram
no exercício cíclico aeróbico, sendo necessários mais estudos analisando o efei-
to do exercício resistido nessa via, uma vez que este ativa a PGC1α1, enquanto o
exercício cíclico aeróbico ativa outra isoforma, a PGC1α4, podendo, desse modo,
apresentar resultados distintos. Indivíduos obesos e diabéticos tipo 2 apresen-
tam baixa expressão de PGC1α [33]. O mesmo acontece em indivíduos idosos, e,
por isso, estudos avaliando o equilíbrio quinurênina/ácido quinurênico nessas
populações seriam de grande importância.

Conclusão

No artigo, o autor apresenta algumas vias importantes de interação-a-


ção entre o músculo esquelético e o cérebro. Entre as quais estão as três vias
destacadas no presente artigo, que através de miocinas liberadas pelo músculo
esquelético a partir do estímulo do EF, são transportadas ao sistema nervoso
central e podem atuar promovendo melhora cognitiva, da memória, além de
estimular o processo de neurogênese e promover efeito neuroprotetor.
As pesquisas visando desvendar os mecanismos periféricos de intera-
ção-ação músculo-cérebro e a capacidade do exercício de modular o funciona-
mento cerebral, apresentam grandes perspectivas para o futuro. O conhecimen-
to mais aprofundado dos processos moleculares dessas e de outras vias, podem
ajudar a direcionar a prescrição do EF de maneira mais assertiva como preven-
ção e tratamento de doenças que afetam o sistema nervoso central, bem como
para outros efeitos benéficos em diferentes populações.

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