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DO EXERCÍCIO
Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6513-4 E DO ESPORTE
Hugo Melo
Hugo Melo
IESDE
2019
© 2019 – IESDE BRASIL S/A.
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direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Orla/majcot/Shutterstock
Apresentação 7
Gabarito 85
Apresentação
Esta obra apresenta tópicos básicos sobre a fisiologia do exercício, tendo como objetivo
fomentar conteúdo específico sobre o assunto para estudantes e interessados por essa área.
O estudo da fisiologia do exercício está atrelado aos sistemas responsáveis pela geração
de energia e a um suporte adicional para a execução do movimento esportivo. Portanto, é
especialmente importante que o profissional da área compreenda as fontes energéticas necessárias
para que o exercício físico seja praticado e como o corpo humano consegue sintetizar os nutrientes
dos alimentos ingeridos.
Sendo assim, cada capítulo desta obra é destinado ao estudo funcional dos sistemas
responsáveis pela prática do exercício. Iniciamos com uma abordagem introdutória sobre a
célula e suas organelas citoplasmáticas, para, então, chegarmos à compreensão dos mecanismos
homeostáticos e à diferenciação entre homeostase e estado estável. Em seguida, trataremos das
principais fontes energéticas para o exercício físico, e, depois, dos diferentes sistemas funcionais e
suas respostas fisiológicas acerca do exercício físico. A fim de aplicar os conhecimentos adquiridos,
trazemos, ao fim de cada capítulo, atividades que relacionam os conteúdos estudados a situações
práticas.
Esperamos que este livro contribua de forma significativa para o aprendizado e para a
posterior prática do profissional da área de saúde.
Bons estudos!
1
Homeostase e estado estável
1.1.1 Mitocôndria
Não podemos iniciar o estudo do funcionamento de uma célula sem falar de energia, pois
todas as estruturas presentes na célula necessitam dela. E de onde ela vem? Da mitocôndria. O tipo
de energia fornecido é o trifosfato de adenosina (ATP), liberado por meio da respiração celular,
processo que tem início no citosol das células e termina no interior das mitocôndrias (ALBERTS;
JOHNSON; WALTER, 2017).
Figura 1 – Mitocôndria
Designua/ Shutterstock
A Figura 1 ilustra uma mitocôndria, na qual podemos visualizar seu próprio material
genético, o DNA, além de estruturas importantes para a função mitocondrial, como as membranas
(interna e externa) e a crista.
Junqueira e Carneiro (2012) afirmam que as mitocôndrias apresentam seu próprio material
genético, fazendo com que algumas doenças sejam decorrentes de defeitos nesse DNA. Vale
ressaltar que, em doenças como a disfunção muscular, as células musculares apresentam
metabolismo energético intenso, necessitando, assim, de maior disponibilidade energética, o
que as torna muito sensíveis aos defeitos mitocondriais. Um exemplo dos sinais dessa disfunção
é a queda da pálpebra superior, seguida de dificuldades para deglutir e fraqueza dos membros
inferiores (GUYTON; HALL, 2011).
Homeostase e estado estável 11
1.1.2 Ribossomos
Essas organelas são comuns a todos os tipos de células e originam-se no núcleo celular,
por meio da união de proteínas com o RNA ribossomal em um corpúsculo do interior do núcleo
chamado nucléolo. Essa união forma subunidades ribossomais que, unidas, formam o ribossomo.
Figura 2 – Ribossomo
Timonina/ Shutterstock
A função dessa organela é a síntese proteica. Para as células que necessitam de intensa
síntese dessa substância – como é o caso das células embrionárias, dos reticulócitos e das células
cancerígenas, que sintetizam intensa quantidade de proteínas para serem utilizadas internamente
–, os ribossomos se unem a uma molécula de RNA mensageiro, formando os polirribossomos. A
mensagem contida nesse RNA é o código para a sequência de aminoácidos na molécula proteica que
está sendo sintetizada, e os ribossomos exercem um importante papel na tradução da linguagem
genética (RNA mensageiro) para a linguagem proteica.
A Figura 2 mostra uma imagem ilustrativa de um ribossomo. Podemos observar duas
subunidades: uma maior e outra menor. É importante saber que essas subunidades contribuem
primordialmente para a síntese proteica.
Tefi/ Shuteerstock
A Figura 3 mostra o retículo endoplasmático liso e rugoso. Vale ressaltar aqui que, como
observado na figura, o retículo endoplasmático rugoso possui ribossomos aderidos à sua
membrana. Obviamente, os ribossomos associados irão executar a síntese proteica, como já
discutimos anteriormente.
Alberts, Johnson e Walter (2017) afirmam que o retículo endoplasmático rugoso tem
polirribossomos aderidos à sua membrana e, por isso, apresenta um aspecto granular ou rugoso.
Sua principal função é a síntese de proteínas, tanto para exportação quanto para uso interno
da célula. Células acinosas do pâncreas, fibroblastos e plasmócitos são células especializadas na
secreção de proteínas. As acinosas do pâncreas produzem e secretam enzimas digestivas, como
a amilase pancreática; os fibroblastos produzem o colágeno (proteína que confere resistência aos
tecidos); e os plasmócitos produzem os anticorpos (proteína da família das imunoglobulinas).
Nesses locais, o retículo endoplasmático rugoso se apresenta em grande quantidade.
Já o retículo endoplasmático liso não apresenta ribossomos aderidos à sua membrana. Mas
qual é a função dele, visto que não possui ribossomos aderidos? Sua principal função é a síntese de
lipídios, entre eles os esteroides e os fosfolipídios, que formam a membrana plasmática. As células
do tecido muscular estriado também apresentam excesso dessas organelas, porém, nesse local,
serão denominadas retículo sarcoplasmático e terão como função o armazenamento e a liberação
do íon cálcio, utilizado durante a contração muscular (ALBERTS; JOHNSON; WALTER, 2017).
Designua/ Shutterstock
Células glandulares, como glândulas salivares, glândulas mamárias, pâncreas, entre outras,
apresentam excesso dessa organela, que secretará as enzimas e substâncias produzidas pela glândula.
O complexo golgiense também é responsável pela formação de outra organela membranosa,
denominada lisossomos, conforme veremos a seguir.
A Figura 4 é uma imagem ilustrativa do aparelho de Golgi. Nela, conseguimos observar duas
faces (face cis e face trans), além de vesículas e da cisterna. Esse conjunto de estruturas no interior
do complexo de Golgi favorece a secreção e o transporte.
1.1.5 Lisossomos
A principal função dessas organelas é a digestão celular. Elas apresentam, em seu interior,
diversos tipos de enzimas digestivas, entre elas nucleases (enzimas que removem material nuclear,
ou seja, material genético), proteases (enzimas que digerem ou removem proteínas) e fosfatases
(enzimas que removem o fosfato).
Figura 5 – Lisossomo
Designua/ Shutterstock
14 Fisiologia do exercício e do esporte
Os lisossomos estão presentes em todas as células, porém, são mais numerosos nas células
fagocitárias de defesa, como os macrófagos (primeira linha de defesa contra as bactérias) e os
leucócitos, mais especificamente os neutrófilos segmentados, que constituem o maior número das
células sanguíneas de defesa e participam da luta contra bactérias.
A Figura 5 ilustra um lisossomo. Podemos ver claramente a presença de enzimas digestivas
além de proteínas de transporte no interior dessa organela, assumindo, assim, a função de digestão
celular.
1.1.6 Peroxissomos
Alberts, Johnson e Walter (2017) ressaltam que, assim como as mitocôndrias, os peroxissomos
utilizam grandes concentrações de oxigênio, mas não produzem ATP, ou seja, não participam
do metabolismo energético. São assim denominados porque oxidam substâncias orgânicas
específicas. Os peroxissomos contêm enzimas que promovem a reação do oxigênio com algumas
moléculas orgânicas. Nessa reação, a molécula orgânica perde hidrogênio e forma peróxido de
hidrogênio (H2O2), também conhecido como água oxigenada. O H2O2 é tóxico, porém, no interior
do peroxissomo, existe uma enzima denominada catalase, que decompõe o H2O2 em água (H2O)
e oxigênio (O2).
A atividade da catalase no nosso organismo é muito importante, principalmente do ponto
de vista clínico, pois as moléculas tóxicas, inclusive medicamentos que entram em contato com
nosso organismo, serão oxidadas, principalmente nos peroxissomos do fígado e dos rins, e boa
parte do álcool etílico ingerido será transformado em aldeído acético pelos peroxissomos desses
órgãos (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2012).
Figura 6 – Peroxissomo
Bananafish/Shutterstock
Homeostase e estado estável 15
A Figura 6 mostra um peroxissomo. Por meio dela, podemos observar a presença do core
cristaloide e da membrana que possui uma bicamada lipídica. Essas estruturas dão o suporte para
a organela conseguir, de maneira coesa, realizar as suas funções específicas, como, principalmente,
a oxidação de determinadas substâncias.
1.1.7 Centríolos
São organelas não membranosas formadas por microtúbulos proteicos que se organizam
formando um cilindro. Em cada célula eucariótica animal existe um par de centríolos, que participa
do processo de divisão celular duplicando-se durante a mitose (uma das etapas da divisão celular).
Para que as células se renovem, os tecidos se formem e o corpo se desenvolva, faz-se necessária a
duplicação dos centríolos no período que precede a divisão celular, migrando para os polos opostos
da célula, a fim de que as novas células que serão originadas também possuam centríolos.
Figura 7 – Centríolo
Designua/Shutterstock
Esse processo acontece de várias formas, por exemplo: os ajustes de equilíbrio dinâmico são
controlados por mecanismos de regulação inter-relacionados. De maneira geral, a autorregulação
é o processo que mantém o equilíbrio corporal, que pode ser determinante para a velocidade com
que a homeostase é atingida após o exercício, voltando ao repouso corporal. Ela é responsável pela
redução de consequências fisiológicas do estresse em relação ao exercício.
Ainda nesse sentido, não poderíamos deixar de falar sobre estado estável. Esse é mais um
fenômeno do organismo que se relaciona diretamente com o exercício. Podemos dizer que o estado
estável é um comportamento oposto à homeostase, referindo-se à estabilidade que é provocada em
alguns órgãos e músculos, mantendo o equilíbrio da produção de substratos energéticos, além da
manutenção da frequência cardíaca para a execução do exercício (GUYTON; HALL, 2011).
Baseado nisso, fica claro que o estado estável é atingido de acordo com a duração e a
intensidade do esforço físico. Para resumir e ficar mais fácil de entender, quando se eleva o grau
de dificuldade do esforço físico, o organismo se ajusta, demandando maior custo energético
para a realização do exercício (PEREIRA; SOUZA JÚNIOR, 2005). Com isso, o estado estável
é responsável pela continuidade do exercício em determinada intensidade, até atingir o limite,
ocorrendo, assim, a interrupção do esforço físico.
Agora que já conhecemos algumas das organelas celulares importantes na fisiologia do
exercício, bem como o estado estável e a homeostase, no próximo tópico falaremos sobre alguns
mecanismos para controle da homeostase.
Figura 8 – Difusão de líquido através dos espaços intersticiais e dos capilares sanguíneos
Vênula
Guyton e Hall (2011) afirmam que, em repouso, o sangue percorre todo o sistema circulatório
uma vez por minuto. Quando realizamos o exercício físico, essa frequência pode chegar a até seis
vezes por minuto. Além disso, quando o sangue percorre os vasos sanguíneos microscópicos,
chamados de capilares sanguíneos, ocorre uma troca continuada entre o plasma sanguíneo e o
líquido intersticial, localizado entre as células nos tecidos.
Com isso, o líquido se difunde em ambas as direções, entre o sangue e os espaços entre as
células, conforme ilustra a Figura 8. Esse processo de difusão é resultado do movimento cinético
das moléculas no líquido intersticial juntamente ao plasma sanguíneo. Portanto, podemos perceber
que o líquido extracelular – tanto no fluido intersticial quanto no plasma sanguíneo – está em
contínua mistura, mantendo-se, assim, em um estado quase que homogêneo.
Em outra perspectiva, quando o sangue é ejetado pelo coração, também percorre o trato
gastrointestinal. Lá, diferentes nutrientes, como carboidratos, aminoácidos e ácidos graxos, são
absorvidos do alimento ingerido para o líquido extracelular do sangue, tornando-se nutrientes
cruciais para o corpo humano. Porém, nem todas essas substâncias absorvidas pelo trato
gastrointestinal podem ser usadas dessa forma; alguns órgãos têm a capacidade de as metabolizar.
O fígado, por exemplo, possui a capacidade de alterar, quimicamente, algumas substâncias,
transformando-as em formas mais utilizáveis pelo corpo. Outros exemplos incluem: glândulas
endócrinas, mucosa gastrointestinal e os rins, que possuem contribuição direta na modificação de
substâncias absorvidas ou até mesmo no armazenamento.
Quando nos referimos ao sistema musculoesquelético, qual é a sua real importância para o
controle da homeostasia? Sabemos que os músculos são responsáveis pelos movimentos corporais,
e esses movimentos estão diretamente envolvidos na locomoção. Se os músculos não existissem,
não teríamos como nos locomover para a obtenção dos alimentos necessários para nutrir o
organismo; além disso, eles estão diretamente ligados ao processo de mastigação.
Olga Bolbot/Shutterstock
Homeostase e estado estável 19
sensorial e parte de eferência motora. Primeiramente, vamos pensar na nossa função sensitiva, isto de fora para
dentro.
é, tudo que parte do sistema nervoso periférico para ser processado no sistema nervoso central. Por
exemplo, nossos olhos nos fornecem a imagem visual do ambiente e, assim como os ouvidos, são Eferência:
ação de que
considerados órgãos sensoriais. Além dos olhos e ouvidos, nós possuímos receptores sensoriais, vai de dentro
localizados na pele, que podem nos ajudar a processar a informação oriunda de um objeto tocando para fora.
o corpo.
O sistema nervoso central é composto por encéfalo e medula espinal. O encéfalo tem a
capacidade de gerar pensamentos, emoções, sentimentos, além de determinar as reações do corpo
humano em resposta às sensações (via sensitiva). Essas respostas, então, são transmitidas através
da parte de eferência motora do sistema nervoso para executar determinadas ações do indivíduo.
Já o sistema nervoso autônomo é uma parte do sistema nervoso com grande importância
para o organismo. Ele tem a função de comandar ações em um nível subconsciente, além de
controlar diversas funções dos nossos órgãos internos. Podemos citar aqui os movimentos do
trato gastrointestinal, a própria atividade do bombeamento de sangue pelo coração e a secreção de
inúmeras glândulas do organismo.
20 Fisiologia do exercício e do esporte
Quando nos referimos ao controle das funções corporais pelo sistema endócrino, fica clara
a necessidade de falarmos dos hormônios e das glândulas endócrinas. No corpo humano, existem
oito glândulas endócrinas capazes de secretar as substâncias químicas chamadas de hormônios.
Essas substâncias químicas são transportadas no líquido extracelular em todas as partes do corpo,
com um objetivo principal: participar da regulação da função celular.
A velocidade das reações químicas das células do nosso corpo é aumentada com o hormônio
da tireoide, por isso, o benefício está relacionado ao ritmo da atividade metabólica do organismo.
Por outro lado, o hormônio paratireoideo tem a capacidade de controlar o fósforo e o cálcio dos
ossos, e os hormônios adrenocorticoides buscam controlar os íons sódio e potássio, contribuindo
para o metabolismo proteico e a insulina, que, por sua vez, controla o metabolismo da glicose.
Com isso, fica claro que os sistemas nervoso e endócrino formam um casamento perfeito
para controle e regulação das nossas funções corporais. O sistema nervoso consegue regular muitas
atividades musculares e secretórias, enquanto o sistema endócrino regula e controla muitas das
nossas funções metabólicas.
Além desses sistemas abordados, o corpo humano possui milhares de sistemas de controle,
como o genético, que trabalha em todas as células objetivando o controle das funções extra e
intracelulares. Porém, o nosso organismo também possui sistemas de controle que realizam as suas
funções dentro dos órgãos, mantendo, assim, comunicação e resposta em todo o corpo.
Para exemplificar, vamos pensar no sistema respiratório, que trabalha em combinação
com o sistema nervoso, com o objetivo de controlar a concentração de dióxido de carbono no
líquido extracelular. Além desse exemplo, podemos perceber também que os rins controlam as
concentrações de sódio, potássio e hidrogênio, além de outros íons no ambiente extracelular. Por
sua vez, o pâncreas e o fígado agem na regulação da glicose no líquido extracelular.
Digamos que um estímulo externo ou interno fez com que a pressão arterial, nesse caso, a condição
controlada se elevasse. A partir daí, uma série de eventos acontece com o único objetivo de voltar
ao equilíbrio, ou seja, diminuir a pressão arterial.
Você já deve saber que na parede de alguns vasos sanguíneos há barorreceptores (células
nervosas ou receptores). Eles são sensíveis à pressão, ou seja, assim que há uma elevação da pressão,
esses receptores reconhecem o estímulo e enviam impulsos nervosos para o encéfalo (centro de
integração), que, por sua vez, tem a capacidade de interpretar os impulsos que chegam e enviar
outros impulsos nervosos para os efetores, nesse caso, o coração e os vasos sanguíneos.
Como resposta, os vasos sanguíneos aumentam seu diâmetro (vasodilatação), e a frequência
cardíaca diminui. Isso faz com que a pressão arterial diminua, retornando, assim, ao equilíbrio
homeostático. Por isso esse sistema de retroalimentação é chamado de negativo, pois inverte a
condição controlada: o estímulo inicial foi o aumento da pressão arterial e, como resposta, temos
a sua diminuição.
Figura 11 – Regulação da pressão arterial por feedback negativo
Considerações finais
Terminado o estudo deste primeiro capítulo, você já é capaz de relacionar as funções de cada
organela celular importante na fisiologia do exercício com o controle da homeostase e do estado
estável. Além disso, foram discutidos alguns sistemas e mecanismos que o corpo utiliza para o
controle do equilíbrio entre o meio externo e interno, permitindo que você tenha uma noção geral
das estruturas que os compõem e de suas funções, que são o objetivo inicial do estudo da fisiologia
do exercício. Com a leitura deste capítulo foi possível compreender também a importância do
sistema de retroalimentação para controle da homeostase.
Atividades
1. O organismo humano pode ser comparado a uma cidade com 100 trilhões de habitantes
chamados de células, que são organizados em aglomerados chamados de tecidos até se
tornarem um órgão com função predeterminada. Cada célula ou estrutura funcional
contribui para a manutenção da homeostase do corpo. Diante de tudo o que você aprendeu
no decorrer deste capítulo, responda: como as células e suas organelas podem contribuir
para a homeostase?
26 Fisiologia do exercício e do esporte
2. A homeostase é caracterizada pelo estado de repouso sem nenhum tipo de estresse (interno
ou externo), sendo que o organismo se mantém capaz de responder facilmente a mudanças
do meio externo, ou seja, essa condição não é permanente. Como os exercícios físicos podem
afetar a homeostase?
Referências
ALBERTS, B.; JOHNSON, A.; WALTER, P. Biologia Molecular da Célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
JUNQUEIRA, L. C. U.; CARNEIRO, J. S. F. Biologia celular e molecular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2012.
ROBERGS, R. A.; ROBERTS, S. O. Princípios fundamentais de fisiologia do exercício para aptidão, desempenho
e saúde. São Paulo: Phorte, 2002.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2018.
2
Fontes energéticas para o exercício físico
Para iniciarmos uma conversa sobre as fontes de energia usadas durante o exercício físico,
precisamos entender que o corpo humano é capaz de transformar os componentes absorvidos dos
alimentos em energia para ser utilizada durante a realização do exercício. Sabidamente, essas fontes
energéticas estão disponíveis em forma de proteínas, carboidratos e gorduras. Esses macronutrientes
são armazenados, no corpo humano, em reservas para serem utilizados, renovados e transformados
de energia química para energia mecânica. Essa transformação é de extrema importância, pois
devido a ela, o corpo humano consegue executar os movimentos e, consequentemente, o exercício
físico.
Mas, como isso acontece? Os alimentos que ingerimos, durante o processo de alimentação,
são transformados em um composto de energia chamado de trifosfato de adenosina (ATP). Durante
a síntese dos alimentos, o glicogênio hepático e muscular, juntamente à molécula de glicose, produz glicogênio:
polissacarídeo
esse ATP, que servirá como fonte de energia para as células. considerado a
principal reserva de
Neste capítulo abordaremos as diferentes formas do corpo humano utilizar a energia energia rápida do
organismo.
proveniente de determinada via para a realização dos exercícios físicos.
Designua/Shutterstock
Adenina
Grupo fosfato
Ribose
O ATP pode ser gerado a partir do difosfato de adenosina (ADP). A Figura 2 mostra o ciclo
do ATP-ADP ganhando e perdendo energia. Você deve estar se perguntando: como ocorre esse
processo? É muito simples, a energia necessária para ligar o ADP ao P (fosfato) pode ser obtida
por meio da reação anaeróbica ou aeróbica. Com isso, o ATP é decomposto em ADP e P, liberando
energia para ser utilizada nos processos celulares.
É importante sabermos que as moléculas de P, ADP e ATP não são destruídas nesses eventos.
Pelo contrário, as ligações químicas que mantêm os grupos de fosfato juntos são degradadas
para liberar energia, ou a energia é adicionada para reformar a ligação que une o P aos grupos
remanescentes na molécula de adenosina, formando novamente a molécula de ATP.
Figura 2 – Ciclo ATP-ADP
Adenina
Trifosfato
Fosfato
Energia Ribose
absorvida (dos
alimentos)
Energia liberada
Ciclo ATP-ADP (para célula)
Designua/Shutterstock
Fosfato
Adenina Difosfato
Ribose
Fontes energéticas para o exercício físico 29
Assumindo que 20 kg de músculo se tornam ativos durante uma atividade física, a energia
armazenada na forma de fosfagênio consegue acionar uma caminhada rápida por 60 segundos,
uma corrida com ritmo de maratona por 20 a 30 segundos, ou uma corrida com velocidade máxima
por 5 a 8 segundos. Provavelmente, a quantidade desses compostos de alta energia seja consumida
completamente em 20 a 30 segundos de exercício máximo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2017).
Dados da International Association of Athletics Federations mostram que o jamaicano Usain
Bolt, em agosto de 2009, por exemplo, bateu o recorde mundial na prova dos 100 metros rasos
do atletismo; atingiu um tempo de 9,58 segundos com uma velocidade média de 10,44m/s. Três
anos depois, em agosto de 2012, obteve, também, o recorde olímpico com um tempo de 9,63, em
uma velocidade de 10,38m/s. Com isso, é possível perceber que o corredor não consegue manter
a velocidade máxima durante toda a corrida; frequentemente, no fim da corrida, ele começa a
reduzir sua velocidade (IAAF, 2019).
Você deve estar se perguntando: mas e o processo de fadiga? Como ocorre? Quando esses
substratos energéticos cessam, o que ocorre no nosso corpo? Devemos ter muita calma ao abordar
essas questões, mas vamos tentar clarear as suas ideias. Se os substratos forem insuficientes, não
haverá energia gerada para contrair o músculo; assim, a energia gerada pela fosfocreatina é limitada
em um intervalo de tempo. Mas, a literatura atual ressalta a importância do metabolismo anaeróbico
alático poder ir além de 15 segundos. Além disso, ele continua sendo o sistema de geração de
energia mais importante para exercícios com duração de até 30 segundos (FISIOLOGIA, 2013).
Bogdanis et al. (1995) afirma que é extremamente importante o planejamento do exercício
físico. Essa importância está relacionada ao controle de cada estímulo, em cada sessão de treino,
objetivando a preservação do estoque de ATP. Por isso, todo estímulo de treinamento necessita de
um período de descanso para, posteriormente, iniciar outro estímulo.
agonista: todo
de sistema de energia do ácido lático, pois nesse processo há a formação do lactato. Isso quer dizer músculo que
que, no sistema glicolítico, a produção do trifosfato de adenosina segue uma relação de 1:1 com o dá origem a um
movimento; músculo
ácido lático, ou seja, para cada ATP formado, é necessário 1 ácido lático. principal.
Porém, vale ressaltar que o lactato sanguíneo não se acumula em todos os níveis de atividade
física. Durante a atividade leve e moderada – até 50% da capacidade aeróbica –, a formação de
lactato sanguíneo é igual à sua eliminação. Com isso, a energia gerada proporciona o “combustível”
predominante (ATP) para a atividade muscular.
Todo lactato, formado em uma parte de um músculo ativo, acaba sendo oxidado pelas
células musculares com alta capacidade oxidativa no mesmo músculo ou em músculos adjacentes
menos ativos, como coração e outros tecidos. Quando a oxidação do lactato é igual à sua produção,
o nível sanguíneo de lactato permanece estável, mesmo que ocorram aumentos na intensidade do
movimento e no consumo de oxigênio.
Mcardle, Katch e Katch (2017) ressaltam, ainda, que enquanto o lactato é formado no
músculo em repouso e durante a atividade física moderada, cerca de 70% do lactato é oxidado, 20%
é convertido em glicose no músculo e no fígado, e 10% é convertido em aminoácidos. Portanto,
não há acúmulo efetivo de lactato; o lactato sanguíneo se mantém estável. O acúmulo de lactato
sanguíneo ocorre somente quando sua diminuição por oxidação ou conversão do substrato não
acompanha sua produção. Quando a intensidade do exercício aumenta, o acúmulo e a produção
de lactato também aumentam.
32 Fisiologia do exercício e do esporte
Lactato Glicose
sanguíneo sanguínea
Lactato Glicose
ATP
As reações celulares que envolvem o oxigênio, isto é, as reações oxidativas, têm a capacidade
de permitir, principalmente, a continuidade do catabolismo. Essa continuidade é proveniente do
piruvato: composto
piruvato, produzido pelo sistema glicolítico, além dos lipídios e das proteínas. orgânico originado ao
fim da glicólise.
É importante ressaltar que o piruvato é produzido pela combinação entre enzima e o
composto acetil-coenzima A (acetil-coA). Esse composto tem ação direta no ciclo de Krebs, o
qual é uma série completa de 11 reações químicas. A principal função do ciclo de Krebs é remover
hidrogênio e elétrons dos substratos, em um processo chamado de oxidação, além de fabricar
alguns ATPs (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2013).
Para exemplificar de maneira mais coesa e compreendermos esses processos na prática, é
importante salientar que a degradação de glicose pode produzir 38 ATPs, e mais de 100 outras
moléculas, pela ressíntese dos ácidos graxos em um ciclo completo (IDE, 2010). Com isso, fica
claro que essa forma de geração de energia suprirá atividades esportivas de longa duração, como
corridas de rua de longa distância. Devido ao avanço científico nessa área específica, é sabido que
a maioria dos atletas que participam dessas provas mostra uma maior predominância de fibras do
tipo I (alta predominância de metabolismo aeróbico).
Ainda nesse sentido, devemos ter claro que o treinamento de atletas é composto de
períodos, e cada período deve ter um objetivo específico acerca da prática esportiva em questão,
sempre levando em consideração os metabolismos glicolítico e anaeróbico; mas, a utilização do
metabolismo aeróbico deve ser estimulada, também, em momentos específicos. O que precisamos
34 Fisiologia do exercício e do esporte
entender mais minuciosamente é que tudo isso objetiva favorecer a recuperação mais enfática e o
cessamento de ATP e das demais substâncias envolvidas durante o esforço, para a realização de um
novo gesto esportivo.
Desde o início da abordagem deste capítulo, com foco nas fontes energéticas para o exercício,
trouxemos explanações individualizadas de cada sistema gerador de energia para a prática de
atividade física. Porém, precisamos entender que os sistemas ATP-CP, glicolítico e oxidativo
trabalham de maneira conjunta na produção de energia, bem como na prática de movimentos
musculares e na interrupção desse movimento, a qual é provocada pela menor disponibilidade de
ATP e relacionada à baixa quantidade dessa molécula ressintetizada.
Por isso, é de extrema importância, no estudo da bioenergética, compreender o funcionamento
conjunto dos sistemas que o corpo utiliza para produzir energia. Esse entendimento será importante
no sentido de planejar e prescrever um treino em diferentes etapas da vida do atleta.
Vamos recapitular para entender melhor. O metabolismo energético é composto pelos
processos de liberação e armazenamento de energia dos nutrientes, eventos realizados por meio de
reações químicas distintas. Para que haja a contração muscular e, consequentemente, a prática de
exercício físico, precisamos hidrolisar a molécula de ATP; porém, a concentração de ATP é muito
baixa nos músculos, sendo suficiente apenas para suprir atividades por poucos segundos.
Sendo assim, quando a duração do exercício aumenta, obrigatoriamente necessitamos mais
da ressíntese do ATP. Com isso, o fornecimento da ressíntese do ATP depende da duração e da
intensidade geral da prática esportiva. Embora exista uma predominância de uma determinada
fonte de energia sobre determinado gesto esportivo, os sistemas energéticos agem simultaneamente.
Vamos exemplificar para facilitar o entendimento: pensemos em provas de atletismo, 100
metros rasos, 800 metros rasos e 1.500 metros rasos. Na corrida de 100 metros rasos, que é uma
corrida de extrema velocidade, a produção de ATP pela degradação da fosfocreatina representa
80%; pela glicólise anaeróbica, 15%; e os 5% restantes referem-se ao sistema oxidativo. Por outro
lado, na corrida de 800 metros há um equilíbrio, cada sistema de geração de energia representa
33,3%. Já na corrida de 1.500 metros, o sistema oxidativo representa 67% da energia gerada, a
glicólise representa 23% e os 10% restantes se referem ao sistema ATP-CP. (FISIOLOGIA, 2013).
Assim, podemos concluir que todos os sistemas estão sendo ativados no início do exercício
físico, sendo que a sua predominância será determinada pela duração e intensidade do exercício.
Observando ainda a contribuição energética dos sistemas estudados, o sistema ATP-CP representa a
principal fonte de energia para exercícios de intensidade máxima em até 10 segundos. Obviamente,
dependente da contribuição da fosfocreatina para gerar energia.
Após esse período, a glicólise assume o protagonismo nos esforços máximos em até 90
segundos, e o sistema oxidativo garante taxas superiores de 70% do gasto energético nas atividades
superiores a 90 segundos.
Fontes energéticas para o exercício físico 35
Considerações finais
Vimos neste capítulo todos os pontos mais importantes no que se refere às fontes de energia
para o exercício. Com isso, esperamos ter esclarecido que as células musculares armazenam
quantidades limitadas de ATP.
Para a realização da atividade física é necessário um suprimento constante do trifosfato
de adenosina para geração de energia celular e, com isso, a promoção da contração muscular.
Logicamente, a célula necessita de uma ou mais vias metabólicas capazes de gerar essa energia
necessária. Essas vias são: geração de ATP pela fosfocreatina; geração do ATP pela degradação
da glicose ou glicogênio (glicólise); e, por último, a geração oxidativa do ATP (com a presença do
oxigênio).
A formação de ATP pelas vias de CP e glicólise não envolve o uso de oxigênio; essas vias são
denominadas vias anaeróbicas. A formação oxidativa de ATP pelo uso de oxigênio é denominada
metabolismo aeróbico.
Como este capítulo remete à bioenergética de modo geral, indicamos a leitura do livro
de Powers e Howley, principalmente no que se refere ao ciclo de Krebs e ao processo
de glicólise, a fim de aprofundarmos o entendimento desses processos importantíssimos
inerentes à bioenergética.
Atividades
1. O sistema fosfagênio, também conhecido como anaeróbio alático ou sistema ATP-CP,
representa uma fonte de energia rápida para o trabalho muscular envolvido na atividade
física. Considerando os conhecimentos adquiridos na leitura deste capítulo, responda: qual
a real importância da fosfocreatina (CP) para essa forma de geração de energia?
100 Creatina-fosfato
Porcentagem de contribuição de energia
Glicolítica
75 Respiração mitocondrial
50
25
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4
Tempo (min)
3. A adenosina trifosfatase (ATPase) é uma enzima específica que objetiva a quebra do ATP,
transformando-o em uma molécula de adenosina difosfato (ADP). Essa reação ocorre no
sistema ATP-CP e essa quebra gera uma energia aproximada entre 7,3 e 7,6 kcal/mol. Diante
disso, qual é a importância da quebra do ATP em ADP para o sistema ATP-CP?
Referências
BOGDANIS, G. C. et al. Recovery of power output and muscle metabolites following 30s of maximal sprint
cycling in man. Journal of Physiology, n. 482, pt. 2, p. 467-480, 1995.
FISIOLOGIA do exercício. Brasília: Fundação Vale; Unesco, 2013. Disponível em: https://docplayer.com.
br/7060572-Fisiologia-do-exercicio.html. Acesso em: 30 ago. 2019.
IDE, B. N.; LOPES, C. R.; SARRAIPA, M. F. Fisiologia do treinamento esportivo: força, potência, velocidade,
resistência, periodização e habilidades psicológicas. São Paulo: Phorte, 2010.
IAAF – International Association of Athletics Federations. Usain Bolt: athlete profile. Disponível em: https://
www.iaaf.org/athletes/jamaica/usain-bolt-184599. Acesso em: 19 set. 2019.
KRAEMER, W. J.; FLECK, S. J.; DESCHENES, M. R. Fisiologia do exercício: teoria e prática. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2013.
Fontes energéticas para o exercício físico 37
MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho
humano. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
ROBERGS, R. A.; ROBERTS, S. O. Princípios fundamentais de fisiologia do exercício para aptidão, desempenho
e saúde. São Paulo: Phorte, 2002.
VOLEK, J. S., DUNCAN, N. D., MAZZETTI, S. A. et al. Performance and muscle fiber adaptations to
creatine supplementation and heavy resistance training. Medicine and Science in Sport and Exercise, v. 31, n.
8, p. 1147-1156, 1999.
3
Sistema neuromuscular e exercício físico
joshya/Shutterstock
dendrito músculo
esquelético
axônio
núcleo
bainha de mielina
junção
neuromuscular
Neurônio supraespinal
Interneurônio
Neurônio motor
Fibras
musculares
Quando nos referimos aos mecanismos neuromusculares, precisamos ter ciência de alguns
pontos específicos desse conteúdo. Para que o músculo se contraia por estímulo do SNC, é
necessário que ocorra uma série de eventos a nível neuromuscular. Antes de entendermos esses
eventos, precisamos conhecer dois componentes de extrema importância para a realização de
movimentos: o fuso muscular e o órgão tendinoso de Golgi (OTG).
O fuso muscular é um receptor localizado nos músculos capaz de reconhecer/controlar
o comprimento desse músculo específico. De modo geral, ele monitora qualquer alteração no
comprimento e na flexibilidade, fornecendo uma via de transmissão para a medula espinal,
que responde instantaneamente. Essa resposta advinda da medula é transformada em excitação
das células musculares. Além disso, permite que um músculo no estado de repouso permaneça
contraído. Mas como um músculo em repouso permanece contraído? Essa contração se chama
tônus muscular e representa um leve estado de contração do músculo em repouso (MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2017).
Já sabemos que o fuso muscular está localizado no músculo. A partir dessa analogia com a
nomenclatura, podemos dizer que o OTG está localizado nos tendões? Sim, o OTG está localizado
na junção entre as fibras musculares e os tendões. O órgão tendinoso de Golgi é uma terminação
nervosa situada no interior de fibras de colágeno, as quais possuem a capacidade de responder
instantaneamente a estímulos da flexibilidade, comprimento e tensão do músculo (POWERS;
HOWLEY, 2017).
42 Fisiologia do exercício e do esporte
Mas qual é a real necessidade de o corpo humano possuir esses componentes relacionados
ao sistema neuromuscular? Além de outras funções relacionadas ao movimento humano, que
veremos a seguir, esses componentes servem como um fator de proteção para o seu órgão específico
(músculos e tendões). Por exemplo: quando há uma tensão acima do normal, os receptores do órgão
tendinoso de Golgi geram potenciais de ação para as fibras aferentes dos neurônios sensitivos/
sensoriais e daí para a membrana plasmática da fibra muscular (sarcolema). A partir disso, é
gerada uma resposta inibitória nos neurônios motores, que são responsáveis por relaxar o músculo
envolvido, aliviando, assim, a tensão em excesso (KRAEMER, 2013).
Baseado em tudo o que foi exposto, fica evidente que precisamos falar de contração
muscular, pois é um evento primordial do macrossistema neuromuscular. Pois bem, a base da
contração muscular é a unidade motora, e nós já sabemos que a unidade motora é uma junção
neuromuscular, ou seja, uma sinapse entre um neurônio e uma fibra muscular. Mas o que ocorre a
nível celular e molecular para que o músculo se contraia e, consequentemente, haja o movimento
humano e o gesto esportivo?
Para responder a essa pergunta, observemos a Figura 3. A imagem ilustrativa de uma junção
neuromuscular mostra a sinapse entre o botão terminal do axônio e a membrana plasmática da
fibra muscular. Essa sinapse química conta com três componentes: a região pré-sináptica, que
fica na terminação nervosa; a fenda sináptica; e a região pós-sináptica (KRAEMER, 2013). Nós já
sabemos que a fenda sináptica é o espaço entre as membranas pré e pós-sináptica.
A figura também nos mostra a vesícula sináptica, composta por moléculas de acetilcolina
(ACh), o neurotransmissor envolvido na contração muscular. Nesse caso, se a célula pré-sináptica
libera ACh, a célula pós-sináptica necessita de receptores específicos para ACh. A liberação da
ACh acontece quando o potencial de ação chega no botão terminal, ativando, assim, os canais de
cálcio. Vale ressaltar que esses canais são dependentes de voltagem, isto é, abrem-se por estímulos
elétricos de voltagem (POWERS; HOWLEY, 2017).
Com isso, o cálcio do meio extracelular flui para o interior do botão terminal do axônio,
provocando uma afinidade/fusão entre as vesículas sinápticas e a membrana pré-sináptica,
fazendo que a ACh seja liberada por exocitose na fenda sináptica. Logo após, a ACh se liga aos
receptores colinérgicos – tipo de receptores ativados por ligantes –, promovendo a despolarização
do sarcolema da fibra muscular, propagando, assim, o potencial de ação da fibra a fim de gerar a
contração muscular (PITHON-CURI, 2013).
E o que acontece após a ligação da ACh com o seu receptor? Ocorre a ação da acetilcolinesterase
(AChE), enzima que possui a capacidade de finalizar cada ciclo de transmissão sináptica quebrando
a ACh em duas moléculas: ácido acético e colina. Isso é importante, pois promove o início de
um novo ciclo de despolarização. Vale ressaltar ainda que a ação da AChE promove a queda da
concentração de ACh na fenda sináptica, causando o fechamento dos poros dos receptores da ACh
(IDE; LOPES; SARRAIPA, 2010).
Sistema neuromuscular e exercício físico 43
ACh
Ca2+
Acetilcolinesterase
Como nós já conhecemos os principais componentes de uma unidade motora, bem como
os mecanismos inerentes ao sistema neuromuscular, não poderíamos deixar de reunir essas
informações e exemplificar, facilitando, assim, o entendimento geral dos mecanismos desse
macrossistema. Com isso, precisamos falar de propriocepção. Mas o que seria propriocepção?
Pithon-Curi (2013) afirma que propriocepção objetiva estabelecer a relação do corpo com
o espaço em torno de si, ou seja, é uma modalidade sensorial responsável por captar informações
do aparelho locomotor. Antes de o corpo iniciar um movimento, as aferências proprioceptivas
informam a posição do corpo humano ao SNC, com o objetivo do próprio SNC entender em
que posição deve partir o movimento. Logo, quando está acontecendo o movimento, o músculo
também produz informações a nível de propriocepção que se integram ao SNC, tornando possível
corrigir um erro ou imprevisto na execução do movimento planejado. Por exemplo: pense que
você está caminhando em um terreno com uma falha no nivelamento; normalmente, quando você
percebe a falha, rapidamente corrige o movimento da marcha para evitar a queda. Isso acontece
porque enquanto você está caminhando, o plano motor é executado normalmente, porém, quando
você tropeça, a informação da posição corporal é rapidamente utilizada pelo SNC para restabelecer
o equilíbrio corporal. Esse fato mostra claramente que há o registro proprioceptivo de caráter
involuntário para controle corporal.
44 Fisiologia do exercício e do esporte
Studio BKK/Shutterstock
sangue
actina tropomiosina
CA2+
período de contração
miosina
troponina
Diante de tudo o que foi exposto em relação às ações musculares, precisamos entender
que elas dependem do grau do estímulo e, principalmente, da força desenvolvida pelo músculo
diante da resistência externa (sobrecarga). Ainda nesse sentido, as ações musculares podem ser
classificadas em três tipos:
1. contração concêntrica;
2. contração excêntrica;
3. contração isométrica.
Para entendermos de uma forma geral as ações musculares do músculo esquelético, observe
a Figura 5. Na imagem ilustrativa, é possível visualizar os três tipos de contração.
Sistema neuromuscular e exercício físico 47
contração contração
contração
VectorMine/Shutterstock
excêntrica isométrica
concêntrica
o músculo se contrai, mas não
diminui seu comprimento
movimento
sem movimento
A ação muscular concêntrica ocorre quando um músculo esquelético produz uma força
maior que do que a sobrecarga (resistência externa), com o objetivo de encurtar o seu comprimento.
Vale ressaltar ainda que esse encurtamento é promovido pelo deslizamento das moléculas de actina
e miosina (KRAEMER, 2013).
Já a contração muscular excêntrica possui uma característica típica. McArdle (2017)
afirma que ela também pode ser designada como alongamento ativo, porque a força produzida
pelo músculo é menor do que a sobrecarga, promovendo, assim, o alongamento do músculo. Em
relação aos filamentos de actina e miosina, eles se deslizam como na contração concêntrica? A
resposta é sim, porém, com uma diferença: o deslizamento ocorre na direção inversa, no sentido
do alongamento do músculo envolvido.
Por fim, mas não menos importante, precisamos falar sobre a contração isométrica. A ação
muscular de caráter isométrico ocorre quando a força produzida pelo músculo é exatamente igual
à sobrecarga. Mas se a força do músculo é igual à sobrecarga, significa que não há movimento?
Sim, a contração isométrica possui essa característica, há uma tensão muscular, porém não há
movimento articular. E com relação aos filamentos de actina e miosina, o que acontece? Nesse
caso, há a formação das ligações transversas, porém não há o deslizamento, o que reforça a ideia de
contração muscular sem movimento (IDE; LOPES; SARRAIPA, 2010).
Pois bem, já entendemos todos os processos relacionados ao sistema neuromuscular. Assim,
chegamos a um ponto de extrema importância para este capítulo, que é a resposta fisiológica acerca
do exercício físico.
48 Fisiologia do exercício e do esporte
Para finalizar nossos estudos sobre as respostas fisiológicas a nível neuromuscular, vamos
tentar expor de uma maneira mais prática a contribuição do exercício físico. Nós já entendemos
que o tipo do exercício ditará o tipo e a quantidade de fibras musculares ativadas e que apenas as
fibras musculares ativadas pelo sistema nervoso podem receber benefícios de um programa de
treinamento.
Precisamos compreender também que as unidades motoras recrutadas no músculo
dependerão das demandas do exercício e das posições biomecânicas utilizadas no exercício em
destaque. Vamos exemplificar, para ficar mais claro: pensemos no exercício do agachamento. Se
posicionarmos os pés em diferentes posições, serão recrutadas diferentes unidades motoras, pois a
ativação das fibras musculares será distinta, de acordo com os princípios da biomecânica.
Sendo assim, Kraemer (2013) afirma que a magnitude do recrutamento de diferentes porções
do músculo quadríceps são biomecanicamente diferentes, mesmo exercitando o mesmo músculo
em questão. Por exemplo: o agachamento e o leg press são dois exercícios em que o motor primário
será o quadríceps, porém, com recrutamento de diferentes unidades motoras.
Esse é um ponto de extrema importância na periodização e no planejamento do treino de
um atleta, pois as variações, tanto na ordem quanto na magnitude do recrutamento, são fatores
cruciais no ganho de força e potência do músculo em destaque. Com isso, pode ocorrer de um
atleta ser um bom velocista e ter um excelente salto vertical, e outro atleta ter um salto vertical
maior e não ser um bom velocista, por exemplo.
Considerações finais
Com base no conteúdo abordado neste capítulo, podemos ter ciência de que o sistema
nervoso interage com cada sistema fisiológico do corpo humano. Isso não é diferente quando nos
referimos ao sistema muscular. Impulsos nervosos são apresentados na forma de atividade elétrica,
que emite informações para os músculos, para que eles se movimentem (contração e relaxamento).
O desempenho de todas as atividades esportivas requer o recrutamento adequado das
unidades motoras, gerando, assim, a força necessária para promover o movimento. As adaptações
do sistema neuromuscular representam o pilar do treinamento físico, visto que essas adaptações
promovem benefícios inerentes à prática do exercício em questão.
• JUNÇÃO neuromuscular. 29 ago. 2017. 1 vídeo (12 min.). Publicado pelo canal Fisiologia
3D. Disponível em: https://youtu.be/MpFpRIM44zA. Acesso em: 23 out. 2019.
A contração muscular é um evento com inúmeros detalhes e várias especificidades, além
de extremamente importante para o entendimento coeso da fisiologia do exercício. Para
que você entenda cada detalhe e cada peculiaridade dessa atividade, sugerimos que assista
a esse vídeo. Nele, há uma abordagem geral sobre a junção neuromuscular, bem como a
descrição e o detalhamento da contração muscular.
Atividades
1. Sabemos que, entre inúmeros mecanismos neuromusculares, a fadiga muscular e a
propriocepção são eventos importantes no que se refere ao macrossistema chamado de
sistema neuromuscular. De acordo com o que vimos neste capítulo, conceitue fadiga muscular
e propriocepção e explique como esses eventos corroboram a excelência na contração
muscular.
3. A placa motora é o ponto de encontro entre um neurônio e uma fibra muscular. Sabendo
que essas duas células promovem a contração muscular, descreva os eventos que acontecem
na placa motora, tanto nos neurônios quanto na fibra muscular.
Referências
BOGDANIS, G. C. Effects of physical activity and inactivity on muscle fatigue. Front Physiol, n. 3, p. 142, 18
maio 2012. [1 Epub].
IDE, B. N.; LOPES, C. R.; SARRAIPA, M. F. Fisiologia do treinamento esportivo: força, potência, velocidade,
resistência, periodização e habilidades psicológicas. São Paulo: Phorte, 2010.
Sistema neuromuscular e exercício físico 51
KRAEMER, W. J.; FLECK, S. J.; DESCHENES, M. R. Fisiologia do exercício: teoria e prática. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan. 2013.
MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho
humano. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
STEWART, D. et al. Muscle fiber conduction velocity during a 30-s Wingate anaerobic test. J Electromyogr
Kinesiol, v. 21, n. 3, p. 418-422, 2011.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2018.
4
Sistema respiratório e exercício físico
A atividade conjunta entre esses sistemas fornece uma complexidade de eventos que
acontecem a fim de realizar a respiração. O primeiro é a ventilação pulmonar, que, conforme Ide,
Lopes e Sarraipa (2010), é o movimento de ar para dentro e para fora dos pulmões, coloquialmente
chamado de respiração.
Além da ventilação pulmonar, precisamos compreender o mecanismo do movimento do ar
nos pulmões para o sangue, e do dióxido de carbono do sangue para o ar nos pulmões, chamado
de difusão pulmonar. Além disso, precisamos conhecer a troca gasosa capilar, que se refere à troca
de oxigênio e dióxido de carbono entre o sangue e os tecidos corpóreos.
Para finalizar a abordagem sobre esses eventos que compõem a respiração, precisamos
saber diferenciar a respiração pulmonar da respiração celular. A própria nomenclatura nos ajuda
a diferenciar. Powers e Howley (2017) ressaltam que a respiração pulmonar é o resultado da
ventilação e da difusão pulmonar, pois os dois processos acontecem nos pulmões, já a respiração
celular se refere ao uso do oxigênio no metabolismo aeróbico e à produção de dióxido de carbono.
Para melhor compreender, observe a Figura 1. Nela, é possível observar a estrutura de
um alvéolo pulmonar, bem como a troca gasosa que acontece entre ele e o capilar sanguíneo.
Observamos também que o sangue circulante no capilar passa pelo alvéolo pobre em oxigênio e
sai rico em oxigênio.
Figura 1 – Estrutura e troca gasosa de um alvéolo pulmonar
Sangue rico
em oxigênio
Sangue pobre
em oxigênio
O2
CO2
Capilar
sanguíneo
Alvéolo
Alila Medical Media/Shutterstock
O2
CO2
O2
Membrana
respiratória
CO2
Sistema respiratório e exercício físico 55
Durante a prática de exercícios físicos, a troca gasosa capilar nos alvéolos e no tecido
muscular se eleva para alcançar as altas demandas do fornecimento de oxigênio e da remoção de
dióxido de carbono. Para essa troca gasosa capilar se elevar, a ventilação pulmonar aumenta sob o
controle de todos os fatores citados anteriormente, e o fluxo sanguíneo nos capilares dos alvéolos e
dos tecidos também deve aumentar (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2017).
Consequentemente, para que o fluxo sanguíneo aumente, devem ocorrer eventos
associados ao sistema cardiovascular, como o débito cardíaco aumentado e a redistribuição
do sangue para fora do tecido inativo e na direção do tecido ativo. Com isso, fica evidente
que, embora estejamos discutindo as respostas do exercício perante o sistema respiratório,
devemos compreender que para que a troca gasosa aumentada ocorra, o fluxo sanguíneo
aumentado, devido aos efeitos agudos do exercício no sistema cardiovascular, também deve
ocorrer (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2013).
Além disso, precisamos ter em mente que o exercício físico é um estímulo que gera
desarmonia no sistema respiratório de modo geral. Segundo Powers e Howley (2017), a duração,
a intensidade e o volume do exercício provocam transformações importantes no que se refere às
características basais, tanto da respiração pulmonar, quanto no nível da respiração celular. Esses
fatores tendem a modificar as características da energia aeróbica produzida em repouso.
Tratando-se especificamente da intensidade do estímulo físico, esse tende a aumentar a
atividade das trocas gasosas de oxigênio e dióxido de carbono, com isso, os sistemas responsáveis
por transportar esses gases tendem a aumentar a atividade de funcionamento. Kraemer, Fleck
e Deschenes (2013) afirmam que esse aumento na atividade refere-se ao restabelecimento do
suprimento do oxigênio e do dióxido de carbono nas respirações pulmonar e celular. E se esse
aumento for muito intenso? Nesse caso, haverá a atividade da produção anaeróbica, gerando uma
acidose lática e interrompendo o exercício (IDE; LOPES; SARRAIPA, 2010).
Para que possamos entender a base da respiração e o que acontece com o sistema respiratório
antes, durante e depois do exercício físico, devemos compreender a mecânica da respiração. Ela
pode ser resumida em alguns eventos descritos a seguir.
Observe a Figura 2 para entender a mecânica da respiração relacionada à pressão atmosférica.
O movimento do ar do meio ambiente para dentro dos pulmões é chamado de ventilação pulmonar
e ocorre por meio de um processo conhecido como fluxo de massa (bulk flow). O fluxo de massa
refere-se ao movimento das moléculas ao longo de uma passagem, em decorrência de uma
diferença de pressão entre as duas extremidades dessa via. Na ilustração, observamos claramente
que a inspiração ocorre porque a pressão no interior dos pulmões (intrapulmonar) cai a níveis
inferiores à pressão atmosférica, enquanto a expiração ocorre quando a pressão dentro dos pulmões
ultrapassa a pressão atmosférica (POWERS; HOWLEY, 2017).
56 Fisiologia do exercício e do esporte
Pressão intrapulmonar
(760 mmHg)
758 mmHg
Pressão intrapleural
(756 mmHg)
754 mmHg
Expiração
c)
Diafragma
763 mmHg
756 mmHg
Esses eventos estão relacionados à duração do exercício além da atividade de contração dos
músculos respiratórios (PITHON-CURI, 2013).
O aumento imediato da ventilação ocorre rapidamente por ser uma resposta às alterações
metabólicas ou aos gases sanguíneos. Esse componente neural consiste em fibras colaterais ao
centro respiratório de neurônios do córtex motor. Essas células nervosas se ligam aos músculos
esqueléticos que estão sendo excitados ao centro respiratório e são responsáveis por um reflexo
combinado, representando uma resposta ao exercício (POWERS; HOWLEY, 2017).
Durante a prática do exercício, a demanda metabólica tende a aumentar a produção de
dióxido de carbono, o consumo máximo de oxigênio, a pressão intrapleural, a força da musculatura
inspiratória e o fluxo inspiratório (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2013).
Além disso, McArdle, Katch e Katch (2017) afirmam que o nível de aptidão para o exercício
físico pode influenciar a variação do padrão respiratório em resposta ao exercício. Atletas e
indivíduos bem treinados mostram valores bem reduzidos de frequência cardíaca em repouso,
a chamada bradicardia, além de menor elevação da frequência cardíaca no início do exercício.
Já no exercício máximo, a ventilação se mostra aumentada com o aprimoramento na captação
máxima de oxigênio.
Essas adaptações relacionadas à ventilação são específicas para cada tipo de exercício; por
exemplo, em exercícios que utilizam os membros superiores, o equivalente metabólico tende a ser
maior do que em exercícios com os membros inferiores, pois o ajuste ventilatório ao treinamento
resulta de adaptações neurais e químicas locais nos músculos específicos (IDE; LOPES; SARRAIPA,
2010).
Na literatura científica atual, inúmeros estudos mostram o VO₂ máx como uma das principais,
ou, até mesmo, a principal medida para mostrar a capacidade do sistema cardiorrespiratório. A
união entre o sistema respiratório e circulatório utiliza algumas variáveis importantes, tais como,
diferença arteriovenosa de O₂ (diferença entre a quantidade de oxigênio entre as artérias e veias) e
débito cardíaco (PITHON-CURI, 2013).
Como determinamos o consumo máximo de oxigênio? A ciência atual nos oferece inúmeras
possibilidades de calcular o VO₂ máximo de um indivíduo. Kraeme, Fleck e Deschenes (2013)
ressaltam que esses protocolos variam, podendo ser realizados testes diretos ou indiretos. Os testes
indiretos são compostos de protocolos realizados mediante avaliações máximas ou até submáximas,
e o resultado é gerado por meio de fórmulas matemáticas entre o consumo de oxigênio e a frequência
cardíaca. Já nos testes diretos se faz necessária a avaliação dos gases expirados no momento do
exercício físico.
Vale ressaltar que nos testes diretos as variáveis relacionadas são controladas. Mas quais
são essas variáveis? A capacidade física do indivíduo, o nível de sedentarismo, lesões e limitações
articulares, entre outras (POWERS; HOWLEY, 2017). Ademais, podemos compreender que com o
aumento da intensidade do exercício o consumo de oxigênio também tende a aumentar. Mas existe
um limite para esse aumento, esse limite é chamado de VO2 pico.
Sabemos que cada pessoa difere-se da outra, em todos os parâmetros fisiológicos, conforme
visto na ciência do treinamento desportivo. Mas é importante que saibamos, neste momento, que
as necessidades de cada indivíduo variam consideravelmente de acordo com a sua composição
corporal – quantidade de massa magra, percentual de gordura, entre outros – e que, com essa
oscilação de variáveis, o consumo máximo de oxigênio também tende a mudar. Por isso, o VO2
máximo é definido por uma unidade de ml O2/kg/min (IDE; LOPES; SARRAIPA, 2010).
Quando nos referimos ao consumo máximo de oxigênio, além de levar em consideração o
peso corporal, devemos observar as diferenças de idade e sexo. Por exemplo, os adultos mostram
valores de consumo máximo de oxigênio maiores do que as crianças; porém, os meninos apresentam
valores similares aos dos homens, depois dos valores corrigidos pelo peso corporal. Já no sexo
feminino, as mulheres adultas apresentam valores menores do que as meninas, mesmo depois da
correção pelo peso corporal (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2017).
Essa variável importantíssima no entendimento da fisiologia do exercício, obviamente, sofre
uma grande influência da idade e do nível de sedentarismo do indivíduo. Por exemplo, nos adultos
sedentários há um grande decréscimo no consumo máximo de oxigênio. Quando pensamos de
modo geral, o consumo máximo de oxigênio é, aproximadamente, 20% maior nos homens, quando
comparado às mulheres. Essa diferença se deve, basicamente, à composição corporal, visto que os
homens têm massa muscular superior à das mulheres (PITHON-CURI, 2013).
Vale frisar também a importância do débito cardíaco no consumo máximo de oxigênio. Em
exercícios de caráter submáximos, o aumento do VO₂ é dependente por aproximadamente 45% do
débito cardíaco. Os outros 55% se referem à diferença entre a quantidade de oxigênio nas artérias
e nas veias, ou seja, à diferença arteriovenosa.
Sistema respiratório e exercício físico 61
Nessa mesma perspectiva, quando o exercício tem a sua intensidade aumentada, o débito
cardíaco se torna protagonista no aumento do VO2, principalmente pelo aumento da frequência
cardíaca (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2017). Em relação aos exercícios de caráter máximo, o
débito cardíaco é extremamente importante, representando aproximadamente 80% do aumento do
consumo de oxigênio (IDE; LOPES; SARRAIPA, 2010).
Com base em tudo o que foi exposto, fica claro que a mensuração do consumo máximo
de oxigênio acarreta uma gama de variáveis acerca do exercício, portanto, elas podem ajudar a
determinar um melhor rendimento esportivo.
Considerações finais
Neste capítulo, compreendemos a importância do sistema respiratório para a ciência da
fisiologia do exercício associada diretamente ao rendimento esportivo do atleta ou indivíduo
normal. Além disso, algumas variáveis que conhecemos aqui são de extrema importância para o
planejamento e o treinamento de qualquer indivíduo, seja ele um atleta ou um indivíduo com alto
nível de sedentarismo, pois remetem, principalmente, à capacidade e à aptidão para a prática de
atividade física. Sendo assim, devemos dar a devida atenção à respiração durante o exercício, pois
ela é uma das principais vias de substrato energético para a prática do gesto esportivo.
Atividades
1. No estudo do sistema respiratório associado ao exercício físico há alguns termos importantes,
que são parâmetros para quantificar, principalmente, a capacidade de inspiração (entrada do
ar nos pulmões) e expiração (saída de ar dos pulmões). Cite e explique esses termos, bem
como a sua importância para o estudo da fisiologia do exercício.
2. Quando nos referimos ao termo VO₂, estamos falando da capacidade do ser humano de usar
oxigênio, absorção, transporte e substrato energético. Porém, a literatura apresenta outro
termo similar, que é o VO₂ pico. O que caracteriza o VO₂ pico?
Referências
BAUMANN, C. W. et al. Anaerobic work capacity contributes to 5-km race performance in female runners.
International Journal of Sports Physiology and Performance, 29 nov. 2011.
IDE, B. N.; LOPES, C. R.; SARRAIPA, M. F. Fisiologia do treinamento esportivo: força, potência, velocidade,
resistência, periodização e habilidades psicológicas. São Paulo: Phorte, 2010.
JAMISON, J. P.; MEGARRY, J.; RILEY, M. Exponential protocols for cardiopulmonary exercise testing on
treadmill and cycle ergometer. European Journal of Applied Physiology, v. 108, n. 1, p. 167-175, 2010.
KRAEMER, W. J.; FLECK, S. J.; DESCHENES, M. R. Fisiologia do exercício: teoria e prática. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2013.
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humano. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2018.
5
Sistema circulatório e exercício físico
para o pulmão) e da aorta (levando o sangue para ser distribuído para todo o organismo). Vale
destacar ainda que o lado direito do coração corresponde ao circuito pulmonar, e o lado esquerdo,
ao circuito sistêmico.
Figura 1 – Fluxo de sangue no coração
artéria pulmonar
veia pulmonar
átrio esquerdo
valva mitral
átrio direito
valva da aorta
valva do tronco pulmonar
valva tricúspide
ventrículo esquerdo
ventrículo direito
Mari-Leaf/Shutterstock
Você deve estar se perguntando sobre a diferença de calibre dos vasos sanguíneos, pois
sabemos que há distinções entre veias, artérias e capilares sanguíneos. O diâmetro do vaso gera uma
diferença no transporte de sangue? E na pressão? A resposta é sim. Segundo Tortora e Derrickson
(2018), o diâmetro do vaso interfere diretamente na pressão exercida, e esse princípio remete ao
estudo da física, pois o volume e a pressão são relacionados.
Você já deve ter escutado as expressões pressão sistólica e pressão diastólica. Pois bem,
devemos entender que a pressão é a força exercida pelo sangue contra as extremidades dos vasos
sanguíneos durante um ciclo cardíaco e é determinada pela quantidade de sangue bombeado e
pela intensidade da resistência ao fluxo sanguíneo. Classifica-se em: pressão arterial sistólica (PAS)
e pressão arterial diastólica (PAD). As pressões arteriais sistólica e diastólica se referem à maior
pressão que ocorre durante a sístole e à menor pressão que ocorre durante a diástole (TORTORA;
DERRICKSON, 2018).
esfigmomanômetro: Geralmente a pressão arterial é aferida com o uso de um esfigmomanômetro. Vale citar que
instrumento que
mede a pressão perante a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2016), a pressão arterial normal de um homem
sanguínea (arterial).
adulto é de 120/80, e nas mulheres adultas, 110/70. A pressão sistólica é o maior número expresso
em milímetros de mercúrio (mmHg), já a pressão diastólica é o menor número na proporção,
também em mmHg.
Sistema circulatório e exercício físico 65
Podemos citar alguns processos que contribuem para isso, tais como: redução da hiper-
reatividade simpática, redução do estado inflamatório crônico, aumento de substâncias
vasodilatadoras (adenosina), melhora da função renal, entre outros (MCARDLE; KATCH;
KATCH, 2017).
Além da pressão arterial sistólica e diastólica, precisamos compreender a pressão arterial
média. Para Tortora e Derrickson (2018), a pressão arterial média é determinada por dois fatores
de extrema importância para o sistema circulatório: o débito cardíaco e a resistência vascular total.
Discutiremos o débito cardíaco no decorrer desta seção, porém, aprofundaremos o assunto
em uma seção específica. De antemão, precisamos saber que o débito cardíaco é a quantidade de
sangue bombeado do coração, e a resistência vascular total se refere à soma da resistência ao fluxo
de sangue exercido por todos os vasos sanguíneos sistêmicos.
Podemos calcular a pressão arterial média por meio da seguinte fórmula:
Observando mais atentamente essa equação, fica evidente que um aumento do débito cardíaco
ou da resistência vascular resultará em um aumento da pressão arterial média. Vale ressaltar que
no organismo humano a pressão arterial média depende de inúmeros fatores fisiológicos, tais
como: volume sanguíneo, viscosidade sanguínea, débito cardíaco e resistência ao fluxo (POWERS;
HOWLEY, 2017).
Da mesma maneira como ocorre a diminuição desses fatores, também tende a diminuir a
pressão arterial. Podemos citar também que alguns processos ajudam a regulá-la, e essa regulação
pode ser aguda ou crônica. A regulação da pressão arterial aguda, a curto prazo, é devida à atividade
do sistema nervoso simpático, enquanto a regulação a longo prazo (crônica) é função primordial
dos rins, que regulam controlando, principalmente, o volume do sangue (PITHON-CURI, 2013).
Nesse mesmo sentido, vamos abordar um pouco sobre as adaptações do sistema cardiovascular
perante o treinamento físico. Para isso, não podemos deixar de falar sobre hipertrofia cardíaca. A
hipertrofia cardíaca se refere ao aumento do tamanho das câmaras cardíacas ou da espessura da
parede muscular, especialmente do ventrículo esquerdo, que tem a função de ejetar o sangue para
a circulação sistêmica, isto é, do corpo todo. Porém, essa hipertrofia não se refere ao tamanho do
órgão em questão e tem a característica de não perder a funcionalidade (MCARDLE; KATCH;
KATCH, 2017).
Vale citar ainda que a hipertrofia cardíaca em resposta ao treinamento físico é diferente da
hipertrofia patológica, por exemplo, causada pela Doença de Chagas e pela hipertensão arterial. Na
hipertrofia relacionada com a hipertensão arterial, há um aumento no tamanho do coração, porém
não há aumento da força de contração, tornando, assim, uma contração insuficiente para ejetar
sangue da maneira adequada para a irrigação de órgãos e tecidos do corpo humano (TORTORA;
DERRICKSON, 2018).
Sistema circulatório e exercício físico 67
Por isso, devemos ter claro que a hipertrofia cardíaca está relacionada ao tipo do treinamento
executado. Por exemplo, o treinamento aeróbico provoca hipertrofia ventricular relacionada à
sobrecarga volêmica. Como em uma prova de longa distância no atletismo. Nesse caso, o aumento
venoso proporciona um maior volume diastólico final (POWERS; HOWLEY, 2017).
Além disso, o estresse mecânico provocado pelo enchimento dos ventrículos com maior
volume de sangue induz a uma sobrecarga de volume, que pode promover um aumento das
câmaras cardíacas se esse estímulo for repetido com caráter crônico. Essa hipertrofia referida
provoca um aumento no volume sistólico e na força de ejeção, pois o ventrículo esquerdo possui
a maior capacidade volumétrica. Diante disso, o volume sistólico de repouso, em valores médios,
ultrapassa 70 e chega a 100 ml em homens e se altera de 60 para 80 ml em mulheres (IDE;
LOPES; SARRAIPA, 2010).
Já a hipertrofia cardíaca promovida por exercícios de caráter resistido, como é o caso da
musculação, por exemplo, ocorre na parede ventricular esquerda. McArdle, Katch e Katch (2017)
afirmam que quando estamos realizando exercícios resistidos, ocorrem picos de pressão arterial.
Com isso, a força de contração ventricular deve ser maior do que a pressão da aorta, objetivando
ejetar o sangue para o corpo. Esse processo gera um espessamento do septo interventricular, além
de um espessamento da parede ventricular.
Diante de tudo o que está sendo exposto, a prática de atividades se faz muito importante no
combate da hipertensão arterial, visto que o exercício físico vem se mostrando um grande aliado
tanto na prevenção quanto no tratamento da doença. Assim, a compreensão dos mecanismos que
controlam a pressão arterial é de suma importância para sua vida acadêmica.
Então, a frequência cardíaca máxima se refere à maior frequência cardíaca alcançada durante
a realização de um exercício de caráter máximo. Vale ressaltar também outra fórmula comumente
utilizada na aferição da frequência cardíaca máxima, que se mostra mais fidedigna e precisa, pois
utiliza um padrão mais fisiológico: a frequência cardíaca de reserva, que diz respeito à diferença
entre a frequência cardíaca máxima e a de repouso (KARVONEN; KENTALA; MUSTALA, 1957).
Vale ressaltar aqui que a frequência cardíaca de reserva se refere à frequência cardíaca ao
acordar, porém, antes de se levantar, pois nesse caso o indivíduo permaneceu entre seis e oito horas
em repouso. Essa medida é importante, pois tem a capacidade de detectar inúmeras patologias
associadas ao aparelho cardiovascular. Os valores médios para essa variável estão entre 60 e 65 bpm
(TORTORA; DERRICKSON, 2018).
Sistema circulatório e exercício físico 69
Por outro lado, quando falamos em atletas, vimos que eles possuem valores médios de
frequência cardíaca mais baixos do que os de indivíduos sedentários. Pois bem, nas pessoas
bem‑treinadas fisicamente, essa medição pode chegar a 40 bpm. Com isso, fica cada vez mais
claro que quanto mais baixa for a frequência cardíaca, seja ela em repouso ou no exercício, a o
coração terá menos trabalho para realizar sua atividade (IDE; LOPES; SARRAIPA, 2010).
Nesse sentido, precisamos falar de um parâmetro de suma importância, a variabilidade de
frequência cardíaca. Segundo McArdle, Katch e Katch (2017), ela é regulada pelo sistema nervoso
autônomo em resposta ao equilíbrio entre a divisão simpática e a parassimpática do sistema
nervoso. A variabilidade de frequência cardíaca é a variação do intervalo de tempo decorrido
entre os batimentos cardíacos.
Pithon-Curi (2013) afirma que o intervalo de tempo decorrido entre dois batimentos cardíacos
é expresso em milissegundos e pode ser medido como o intervalo RR no ecocardiograma. Com
isso, a variabilidade de frequência cardíaca é calculada como um desvio-padrão do intervalo de
tempo RR em um período predeterminado. Uma grande variabilidade de frequência cardíaca pode
ser considerada uma variável satisfatória de equilíbrio entre a divisão simpática e parassimpática
do sistema nervoso.
Por outro lado, Powers e Howley (2017) dizem que a baixa variabilidade pode indicar a
existência de um desequilíbrio, principalmente na regulação autônoma do corpo humano. Mas
por que a variabilidade de frequência cardíaca é importante? Essa medida é de suma importância
porque a variação de tempo entre os batimentos cardíacos pode refletir um equilíbrio autônomo
e ser um excelente parâmetro para doenças relacionadas ao sistema cardiovascular. Ainda nesse
sentido, uma baixa variabilidade vem se mostrando preditiva de problemas circulatórios futuros,
como a morte súbita (IDE; LOPES; SARRAIPA, 2010).
Qual pode ser a causa de uma baixa variabilidade de frequência cardíaca? Para Kraemer,
Fleck e Deschenes (2013), o sistema nervoso autônomo possui a função de regular inúmeros
eventos cardiovasculares, como a frequência cardíaca e sua variabilidade. Podemos ressaltar aqui
que a frequência cardíaca pode se elevar devido ao aumento da atividade simpática, ou diminuir,
devido ao aumento da atividade parassimpática.
O equilíbrio entre as divisões simpática e parassimpática reflete alterações nos batimentos
de um ciclo cardíaco. Inúmeros fatores podem influenciar esse equilíbrio e promover impactos
importantes na variabilidade da frequência cardíaca, como o aumento da idade e condições
patológicas relacionadas. Isso resultaria em uma resposta nessa variabilidade. Algumas doenças
se relacionam com a diminuição da variabilidade da frequência cardíaca, tais como: depressão,
cardiopatia, hipertensão arterial, e casos mais graves como um evento de infarto agudo do
miocárdio (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2017).
A literatura atual vem mostrando que o comportamento sedentário associado à inatividade
física é um grande contribuinte para a diminuição da variabilidade de frequência cardíaca. Por
outro lado, a prática regular de atividade física, principalmente do exercício de caráter aeróbico,
vem se mostrando positiva nesse quesito.
70 Fisiologia do exercício e do esporte
O volume diastólico final pode ser referido como pré-carga e possui influência direta no volume
sistólico. A chamada Lei Frank-Starling do coração demonstra que a força de contração ventricular
aumenta junto ao volume diastólico final.
Vamos abordar mais minuciosamente o assunto, para que você compreenda melhor. O
aumento do volume diastólico final é resultado do alongamento das fibras musculares cardíacas e,
com isso, há melhora na força de contração, pois as fibras musculares possuem um certo nível de
flexibilidade. Segundo o mecanismo que explica a influência do comprimento das fibras sobre a
contratilidade cardíaca, um aumento do comprimento das fibras cardíacas aumenta o número de
interações de ponte cruzada de miosina com actina, resultando em aumento da produção da força.
Uma elevação da contratilidade cardíaca resulta em aumento da quantidade de sangue bombeado
por batimento (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2017).
Powers e Howley (2017) afirmam ainda que a principal variável que consegue influenciar
o volume diastólico final é a taxa de retorno venoso para o coração. Ou seja, um aumento do
retorno venoso pode resultar em uma elevação do volume diastólico final, e, consequentemente,
no aumento do volume sistólico. Mas quais são os fatores que interferem no aumento do retorno
venoso no exercício? Podemos destacar três eventos relacionados: venoconstrição, bomba muscular
e difusão respiratória.
A venoconstrição nada mais é do que a constrição das veias. Ela aumenta o retorno venoso
ao diminuir a capacidade de volume das veias de armazenamento de sangue. Com isso, o resultado
de uma capacidade de volume reduzida nas veias é, exatamente, a movimentação do sangue de
volta para o coração. Ide, Lopes e Sarraipa (2010) afirmam que a venoconstrição ocorre devido a
uma constrição simpática reflexa da musculatura lisa nas veias.
Por outro lado, a bomba muscular é a ação bombeadora da musculatura esquelética em
contração. Ela é resultado da ação mecânica de contrações musculares esqueléticas de caráter
rítmico. Com isso, os músculos contraídos durante o exercício tendem a comprimir as veias, e
essa compressão impulsiona o sangue de volta para o coração. Entre cada conjunto de contração
rítmica, o sangue volta a encher as veias, e isso acontece repetidamente enquanto houver o estímulo
de contração. Vale frisar que durante as contrações isométricas, a bomba muscular fica inoperante
e o retorno venoso para o coração diminui (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2013).
Quando nos referimos à difusão respiratória, precisamos entender que ela é a ação
bombeadora do sistema respiratório, ou seja, o padrão rítmico da respiração também tem uma
atuação na bomba mecânica, promovendo o retorno venoso. Vamos relembrar sobre a difusão
respiratória. Quando estamos respirando, há uma diferença de pressão. A pressão do tórax tende
a diminuir e a pressão na região abdominal tende a aumentar. Como resposta, há a criação de
um fluxo sanguíneo proveniente de sangue venoso da região do abdômen na direção do tórax,
contribuindo para o retorno venoso (POWERS; HOWLEY, 2017).
A literatura atual vem mostrando cada vez mais que o papel da difusão respiratória é,
obviamente, exacerbado quando estamos realizando algum exercício físico, sendo resultado da
maior frequência e profundidade respiratória.
72 Fisiologia do exercício e do esporte
Vale ressaltar que o débito cardíaco aumenta durante o exercício proporcionalmente à taxa
metabólica necessária à realização do exercício. Devemos compreender também que, durante a
realização dos exercícios, há um aumento do débito cardíaco, e esse aumento é mediado por um
aumento do volume sistólico, juntamente a um aumento da frequência cardíaca (MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2017).
Considerações finais
Chegamos ao fim de mais um capítulo de extrema importância para o nosso entendimento
acerca da ciência da fisiologia do exercício. O que precisa ficar claro no nosso entendimento é
exatamente a repercussão fisiológica do exercício perante o sistema cardiovascular. Esse sistema
possui uma importância direta na qualidade do exercício praticado, pois sabemos que o nosso
organismo precisa de um substrato energético para a realização do gesto esportivo, e o sistema
circulatório contribui de maneira direta para esses substratos.
Além disso, as variáveis que são mais importantes nesse quesito são: pressão arterial,
frequência cardíaca e débito cardíaco. Essas variáveis se associam com a intensidade do exercício e
existem outras variáveis dependentes dessas principais, como volume sistólico, a própria força de
contração miocárdica, viscosidade sanguínea, entre outras.
Portanto, esse é um conteúdo com o qual devemos ter bastante cautela no que se refere à
prescrição de exercício; além disso, pode ser importantíssimo para medidas de segurança durante
o exercício, bem como para o controle da sua intensidade, buscando os objetivos traçados na
periodização.
• GELEILETE, T. J. M.; COELHO, E. B.; NOBRE, E. Medida da pressão arterial. Rev. Bras.
Hipertens., v. 16 n. 2, p. 118-122, 2009. Disponível em: http://departamentos.cardiol.br/
dha/revista/16-2/13-medida.pdf. Acesso em: 3 out. 2019.
Sistema circulatório e exercício físico 73
Atividades
1. A pressão arterial é uma variável de extrema importância para o estudo e entendimento da
fisiologia do exercício. Descreva essa importância e, principalmente, como a pressão arterial
se comporta durante o exercício e quais são as devidas respostas fisiológicas no sistema
circulatório.
3. O volume sistólico é uma variável importantíssima para o débito cardíaco. Por sua vez, ele
pode ser alterado no organismo por meio de três processos. Cite e explique esses processos,
relacionando-os com a fisiologia do exercício.
Referências
ANUNCIAÇÃO, P. G.; POLITO; M. D. A review on post-exercise hypotension in hypertensive individuals.
Arq. Bras. Cardiol., Londrina, v. 96, n. 5, p. 100-109, 4 mar. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2011000500019&lng=pt&nrm=iso&tlng=en. Acesso em: 3 out.
2019.
IDE, B. N.; LOPES, C. R.; SARRAIPA, M. F. Fisiologia do treinamento esportivo: força, potência, velocidade,
resistência, periodização e habilidades psicológicas. São Paulo: Phorte, 2010.
KARVONEN, M. J.; KENTALA, E.; MUSTALA, O. The effects of training on heart rate a longitudinal study.
Ann. Med. Exp. Biol. Fenn., Finland, v. 35, n. 3, p. 307-315, 1957. p. 307-315.
74 Fisiologia do exercício e do esporte
KRAEMER, W. J.; FLECK, S. J.; DESCHENES, M. R. Fisiologia do exercício: teoria e prática. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2013.
MCARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho
humano. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
SBC - Sociedade Brasileira de Cardiologia. VII Diretriz brasileira de hipertensão arterial. v. 107, n. 3, supl. 3,
set. 2016.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2018.
6
Sistema endócrino e exercício físico
Chegamos ao último capítulo, no qual versaremos sobre o sistema endócrino que, junto
ao sistema nervoso, compõe os principais sistemas de comunicação do organismo humano,
pois ambos enviam sinais ou mensagens para influenciar respostas e adaptações fisiológicas. O
sistema endócrino envia um sinal na forma de hormônio, substância química liberada na corrente
sanguínea por uma glândula endócrina.
Entende-se como glândula um grupo organizado de células que funciona como um órgão
secretando substâncias químicas. Vale frisar que cada hormônio é liberado por uma glândula e
direcionado especificamente para um receptor em uma determinada célula. Logo, o termo receptor-
-alvo está relacionado com o conceito hormonal de um conjunto específico de destinos celulares
para o sinal enviado pela glândula.
Neste momento, é importante sabermos que um hormônio pode afetar muitas células
diferentes, mas apenas aquelas que possuem seu receptor específico. Além disso, o sistema
endócrino modula uma ampla gama de atividades corporais, como a função celular, o metabolismo, os
processos sexuais e reprodutores, o crescimento do tecido, a regulação dos líquidos corpóreos, a
síntese e degradação de proteínas e até os estados de humor.
Quando nos referimos ao comportamento do sistema endócrino relacionado ao exercício
físico, precisamos ressaltar que aumentos nas concentrações hormonais com o exercício são
de suma importância para a modulação das funções fisiológicas, bem como para o reparo e o
remodelamento dos tecidos corpóreos.
Mais especificamente, os hormônios produzidos e secretados pelas glândulas endócrinas
têm a capacidade de ativar os sistemas enzimáticos. Eles conseguem alterar a permeabilidade
das membranas celulares, modificar o transporte através da membrana plasmática e o ritmo da
atividade enzimática, induzindo à secreção.
Mas qual é a contribuição desses eventos para o exercício físico? De uma forma geral,
contribuem para a contração e o relaxamento dos músculos, além de estimular a síntese das
proteínas e gorduras.
Com base nisso, a partir de agora vamos abordar a relação do sistema endócrino no repouso
e no exercício, além de ressaltar as mudanças desse sistema com a indução do exercício físico.
76 Fisiologia do exercício e do esporte
repouso, associa-se positivamente à concentração de GH. Além disso, o exercício físico vigoroso
induz o aumento do íon hidrogênio (H+) na corrente sanguínea e pode estimular a secreção de GH.
Esse mecanismo é suportado pelo fato de que a alcalose induzida durante a prática de
exercício físico tende a reduzir a resposta aguda de GH. Por outro lado, o hormônio do crescimento
também é secretado devido à hipoglicemia. Assim, durante o exercício e sua recuperação, o
hormônio do crescimento consegue estimular a lipólise, ou seja, a oxidação dos ácidos graxos,
aumentando a sensibilidade da ação das catecolaminas e a síntese adicional de receptores beta-
-adrenérgicos no tecido adiposo (IDE; LOPES; SARRAIPA, 2010).
É de suma importância que entendamos que as concentrações mais altas do hormônio do
crescimento na corrente sanguínea tendem a contribuir para a recuperação pós-exercício. Essa
recuperação se refere à “economia” de glicose, ao glicogênio muscular em níveis mais altos e a um
aumento na quebra de lipídios dos músculos esqueléticos.
Vale relembrar que cada tipo de exercício físico tem uma peculiaridade no que se refere ao
hormônio do crescimento. Por exemplo, um atleta de prova de 100 metros rasos atinge valores
mais altos de secreção de GH do que atletas de maratona. Isso se explica devido às adaptações
necessárias, que envolvem maiores níveis de síntese tecidual em comparação com o atleta de
maratona (POWERS; HOWLEY, 2017).
Nesse mesmo sentido, Pithon-Curi (2013) ressalta que também há uma diferença no que
se refere ao nível de aptidão física do indivíduo. Pessoas com menores níveis de aptidão física
mostram uma secreção maior de GH do que aquelas com maiores níveis de aptidão física. A
literatura mostra que os indivíduos com maior aptidão física necessitam de uma menor síntese
tecidual do que os sedentários, em termos de massa muscular.
De acordo com McArdle, Katch e Katch (2017), a secreção do hormônio do crescimento
também está relacionada com a intensidade e a duração do exercício. Maiores secreções de
GH induzidas pelo exercício ocorrem quando a intensidade da atividade é superior ao limiar
anaeróbico (entre 70% e 90% VO2 máx).
O auge da secreção do hormônio do crescimento durante o exercício tende a ocorrer
mais tardiamente. Uma única sessão de exercício de caráter aeróbico de alta intensidade durante
10 minutos pode prover um aumento na secreção de GH somente no período de recuperação
(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2017).
Quando esse mesmo estímulo é estendido para 45 minutos, por exemplo, o pico de
secreção do GH ocorre durante a prática do exercício. Esse modelo lento pode promover um
pico de secreção, geralmente no término da atividade física, que coincide com o pico de liberação
e utilização dos ácidos graxos do tecido adiposo (PITHON-CURI, 2013).
Em relação ao treinamento resistido, Ide, Lopes e Sarraipa (2010) ressaltam que esse tipo
de treino promove um aumento na concentração do hormônio do crescimento na corrente
sanguínea, tanto em homens quanto em mulheres. Esse fato está relacionado a: quantidade de
músculo ativo durante o exercício; intensidade do exercício; volume do exercício; intervalo
78 Fisiologia do exercício e do esporte
de repouso entre as séries; tipo de ação muscular; maior resposta observada em protocolos
envolvendo ações concêntricas comparadas às excêntricas; e nível de treinamento.
Outro fator importantíssimo é a secreção de GH durante o sono e em condições climáticas
adversas. No período de sono, a liberação de GH é maior, e em condições climáticas adversas a
secreção desse hormônio também pode passar por modificações (POWERS; HOWLEY, 2017).
Agora precisamos falar sobre outro hormônio: o cortisol. Sabemos que qualquer estímulo
que perturbe a homeostase do corpo, como é o caso do exercício físico, tem uma resposta de
liberação do hormônio cortisol. Tortora e Derrickson (2018) afirmam que esse hormônio é
secretado pelo eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA).
Um exercício físico praticado intensamente ou com um caráter submáximo tende a
promover um aumento na atividade do eixo HHA e, consequentemente, na concentração
plasmática de cortisol (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2013). Isso significa que o hormônio
do cortisol tende a estimular a lipólise no tecido adiposo, além da degradação de proteínas nos
tecidos mais periféricos.
No músculo esquelético, por exemplo, o cortisol consegue reduzir a síntese de proteínas,
estimulando o catabolismo proteico no fígado. Como resposta a isso, ocorre um aumento de ácidos
graxos e aminoácidos na circulação durante o exercício físico. Já no período de recuperação, o
cortisol tende a facilitar a ressíntese de glicogênio no fígado, e o aumento na concentração de
lactato é um dos grandes fatores que ativam o eixo HHA durante a prática do exercício (IDE;
LOPES; SARRAIPA, 2010).
Kraemer, Fleck e Deschenes (2013) ressaltam que a ativação simpática é um estímulo
importante para a elevação da secreção de cortisol no exercício. Alterações no volume plasmático
e osmolaridade induzidas pelo exercício também estimulam a liberação do ACTH (hormônio
adrenocorticotrófico ou corticotrofina) e do cortisol.
É importante ressaltar que, durante a prática de exercício, ocorre um aumento da atividade
adrenérgica, a qual representa a atividade elétrica de nervos simpáticos, além da concentração de
epinefrina e norepinefrina na corrente sanguínea. Entende-se que a epinefrina e norepinefrina
correspondem a catecolaminas (TORTORA; DERRICKSON, 2018), mas o que esse aumento
significa para o exercício físico? O aumento da atividade adrenérgica no exercício pode resultar
em um aumento da frequência cardíaca, do débito cardíaco, além da vasoconstrição da
circulação esplâncnica, formada pelos vasos do sistema gastrointestinal.
Por outro lado, Kraemer, Fleck e Deschenes (2013) afirmam que as catecolaminas tendem
a atuar no metabolismo energético de algumas formas, tais como: estimulando a atividade de
glicogenólise (degradação de glicogênio por meio da retirada de moléculas de glicose) no músculo
esquelético; aumentando a liberação da glicose hepática; ativando os receptores β para liberação
de ácidos graxos do tecido adiposo; ativando os receptores α no pâncreas endócrino, inibindo
a secreção de insulina; estimulando a liberação de glucagon; aumentando a secreção de GH,
testosterona e cortisol.
Sistema endócrino e exercício físico 79
Nessa mesma linha de raciocínio, não podemos nos esquecer dos hormônios tireoidianos.
Para entender melhor a relação dos hormônios tireoidianos com o exercício físico, precisamos
compreender que o treinamento aeróbico de longa duração, ou seja, o treinamento de endurance,
tende a induzir uma maior produção de T4 e maior taxa de renovação, mantendo a concentração
de T4 em valores estreitos (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2017).
O aumento na taxa de renovação e o subsequente incremento na produção de T4 requerem
maior estimulação da glândula tireoide pela ação do seu hormônio estimulante (TSH). Por sua vez,
as peculiaridades do exercício também produzem alterações importantes nesse aspecto.
Exercícios com intensidade de leve a moderada não produzem alteração nas concentrações de
TSH; porém, quando são praticados em uma intensidade maior que 75% do VO2 máx, há elevação
de concentração de TSH após o exercício. Dessa maneira, fica claro que deve haver uma resposta
coordenada do eixo hipotálamo-hipófise-tireoide para a renovação de T4 nos exercícios intensos. Já
nos exercícios prolongados, os hormônios da tireoide e as catecolaminas atuam concomitantemente
na mobilização e oxidação de ácidos graxos (IDE; LOPES; SARRAIPA, 2010).
Para finalizar nosso estudo sobre as respostas hormonais atreladas ao exercício, precisamos
nos remeter ao glucagon e à insulina. De modo parecido com a ação da insulina, a prática de
exercício físico tende a estimular a captação de glicose, a síntese de proteína, a transcrição de genes,
a hipertrofia e o crescimento celular no músculo esquelético (TORTORA; DERRICKSON, 2018).
No início do exercício físico, a glicemia é mantida, e essa manutenção ocorre por um
aumento na descarga simpática, elevação da concentração de glucagon na corrente sanguínea e
redução da insulinemia (taxa de insulina sanguínea). O decréscimo na concentração de glicose
durante o exercício não é o fator que causa redução da concentração plasmática de insulina;
Kraemer, Fleck e Deschenes (2013) afirmam que essa resposta é resultado da estimulação alfa-
-adrenérgica nas células-beta pancreáticas.
A redução da concentração de insulina no plasma durante o exercício favorece a
glicogenólise hepática, além da lipólise no tecido adiposo, levando à oxidação de ácidos graxos
no músculo esquelético. O efeito primário do glucagon durante o exercício é a estimulação da
glicogenólise hepática. O sistema nervoso simpático e as catecolaminas estimulam a secreção
de glucagon via receptores beta-adrenérgicos das células-alfa pancreáticas, e essa resposta pode
ocorrer mesmo sem alteração na concentração de glicose no sangue (POWERS; HOWLEY, 2017).
Conforme vimos, a relação dos principais hormônios envolvidos no exercício físico e
a regulação deles depende, entre outros fatores, da intensidade do exercício. Na próxima seção,
abordaremos as principais regulações baseadas na intensidade do exercício.
80 Fisiologia do exercício e do esporte
resistência, ou um treinamento de alto volume (quantidade total) com múltiplas séries e/ou uma
atividade física com pequenos intervalos.
Pithon-Curi (2013) afirma que o aumento dos níveis de testosterona, promovido pelo
treinamento resistido em homens, correlaciona-se positivamente com o aumento da força muscular.
Considerações finais
Com base na leitura e compreensão deste capítulo, fica evidente a importância do sistema
endócrino no que se refere à prática do exercício físico – importância esta que muito se relaciona
com o tipo e a intensidade do exercício praticado. Portanto, é de suma relevância que você
compreenda objetivamente a relação entre quais tipos de hormônios e quais tipos e intensidades
de exercícios podem nos trazer benefícios ou até prejuízos no rendimento esportivo.
Neste capítulo, abordamos de maneira sucinta e objetiva as respostas hormonais inerentes
ao exercício, bem como a regulação do sistema endócrino com o incremento do exercício físico.
Atividades
1. Sabe-se que o sistema endócrino é responsável pela liberação de determinadas substâncias
químicas na corrente sanguínea por glândulas endócrinas. Essas substâncias são chamadas
de hormônios e têm a função determinada no que se refere ao exercício físico. Explique como
o sistema endócrino pode contribuir para o rendimento do esporte.
2. Alguns hormônios têm atividade essencial para o sistema endócrino e para a manutenção
da vida, enquanto outros se associam também com exercício físico, como é o caso da
testosterona, que possui uma relação primordial no que se refere aos exercícios de resistência.
Explique as relações da testosterona com os exercícios de resistência.
Referências
IDE, B. N.; LOPES, C. R.; SARRAIPA, M. F. Fisiologia do treinamento esportivo: força, potência, velocidade,
resistência, periodização e habilidades psicológicas. São Paulo: Phorte, 2010.
KRAEMER, W. J.; FLECK, S. J.; DESCHENES, M. R. Fisiologia do exercício: teoria e prática. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2013.
MCARDLE, W. D.; KATCH, F., I.; KATCH, V., L. Fisiologia do exercício: nutrição, energia e desempenho
humano. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Princípios de anatomia e fisiologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2018.
Gabarito
3. A reação das diferentes enzimas ocorre com a liberação de energia durante o processo de
quebra da molécula original. A energia livre liberada nessas reações é responsável pelos
processos de contração muscular e pelos estímulos elétricos neurais que controlam os
movimentos corporais e a regulação hormonal. Portanto, quando se pensa em qualquer
atividade que utilize movimentos, ou mesmo o repouso, é possível compreender que se está
liberando energia pela quebra de moléculas de ATP, as quais estão sendo utilizadas para a
realização de tal atividade.
2. O músculo esquelético possui três formas de se contrair: pode gerar uma contração
concêntrica, excêntrica ou isométrica. Do ponto de vista celular e molecular, a contração
concêntrica promove o encurtamento do músculo, deslizando os filamentos de actina
e miosina na direção do centro do sarcômero. Por outro lado, na contração excêntrica,
ocorre o inverso: o músculo se contrai, aumentando o seu comprimento, fazendo com
que o deslizamento dos filamentos ocorra no sentido inverso, na direção das extremidades
do sarcômero. Por fim, na contração isométrica, o músculo se contrai, porém não gera
deslizamento nos filamentos de actina e miosina.
Gabarito 87
• Volume de reserva expiratório (VRE): refere-se ao volume de ar que consegue sair dos
pulmões depois de uma expiração corrente.
• Volume de reserva inspiratório (VRI): trata-se do volume de ar que consegue entrar nos
pulmões depois de uma inspiração corrente.
• Volume de ar corrente (VAC): aborda o volume de ar que consegue entrar e sair dos pulmões
em um ciclo ventilatório. Entende-se que o ciclo ventilatório é inspiração mais expiração.
• Volume pulmonar residual (VPR): refere-se ao volume de ar que persiste dentro dos
pulmões depois de uma expiração máxima.
• Capacidade vital forçada (CVF): é a soma do volume de ar corrente com o volume de
reserva inspiratório e o volume de reserva expiratório.
• Capacidade residual funcional (CRF): é a soma do volume de reserva expiratório com o
volume pulmonar residual.
• Capacidade pulmonar total (CPT): refere-se à soma dos volumes pulmonares (VRE
+ VRI + VAC + VPR).
2. O VO₂ pico nada mais é do que o ponto mais alto do consumo máximo de oxigênio durante
um teste ergoespirométrico, por exemplo. Com o aumento da intensidade do treino, o VO₂
tende a aumentar também, chegando a um limite, chamado de VO₂ pico. Após o VO₂ pico, o
consumo de oxigênio tende a fazer um gráfico decrescente, interrompendo, assim, o exercício
ou diminuindo as fontes energéticas.
3. O limiar 1 está associado ao ponto onde o lactato aumenta sua produção, mas a grande ca-
racterística é que, mesmo com o aumento na produção, o corpo ainda consegue equilibrar
com o processo de remoção. O limiar 2 se associa especificamente ao ponto onde o lactato
tem a sua produção aumentada e gera uma consequência, relacionada à fonte aeróbica de
produção de energia, fazendo com que outras fontes energéticas sejam ativadas. Esse traba-
lho conjunto faz com que mais lactato seja acumulado, gerando a fadiga precoce do músculo.
2. A testosterona pode ser aumentada na corrente sanguínea devido a alguns estímulos, entre
eles se destaca o exercício de resistência. Mais precisamente, os exercícios que envolvem
grandes agrupamentos musculares promovem um aumento na secreção da testosterona.
Somado a esse processo, o exercício resistido sendo crônico (longo prazo) também consegue
aumentar os níveis de testosterona em repouso.
DO EXERCÍCIO
Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6513-4 E DO ESPORTE
Hugo Melo