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INTRODUÇÃO

O câncer de cabeça e pescoço é um termo comum para designar um grupo


diferente de tumores classificados de acordo com sua localização: cavidade
oral, nasofaringe, orofaringe, hipofaringe, laringe, cavidade nasal, seios
paranasais e glândulas salivares. Esses locais são áreas diretamente
envolvidas com as funções de fala, deglutição, respiração, paladar, olfato entre
outras. (AMERICAS CENTRO DE ONCOLOGIA INTEGRADO, 2014). São
também os locais de maiores riscos para os pacientes, devido à frequente
presença de metástases cervicais (MILLON et al., 1994). Este tumor maligno é
o quinto mais comum no mundo (GALBIATTI et al., 2013) e representa a
segunda causa de óbito por câncer (PEREIRA et al., 2016). Segundo
estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), referente ao período 2016
e 2017, foram esperados cerca de 30 mil novos casos somente de cavidade
oral, laringe e tireoide no Brasil. Esse tipo de câncer da cavidade oral, possui
uma predominância em países em desenvolvimento, em especial na classe
social com níveis socioeconômicos mais baixos (PEREIRA et al., 2016). Para a
região sudeste a previsão para 2016 foi de 6030 novos casos de câncer na
cavidade oral para homens, e 2300 para mulheres (INCA). Em um estudo
realizado em Belo Horizonte, foram avaliados 740 prontuários de hospitais
locais e constatou que quase 83% dos pacientes eram do sexo masculino e o
restante do sexo feminino (GERVÁSIO et al., 1999). Na maioria das vezes o
tratamento de escolha para essas neoplasias é a cirurgia, associada ou não a
radio/quimioterapia (JHAM et al., 2006). A radioterapia tem por objetivo
principal curar ou diminuir o tamanho do tumor para facilitar a remoção
cirúrgica (INCA), mas como conseqüência dessa terapia existe danos
consideráveis as estruturas adjacentes, principalmente mucosa e glândulas
salivares, reduzindo substancialmente a qualidade de vida dos pacientes
acometidos por essa doença, e causando lesões como as mucosites,
candidose, disgeusia, cáries por radiação, osteorradionecrose, xerostomia e a
dor que talvez seja o sintoma mais temido da doença neoplásica (PIMENTA et
al., 2014). Por todas essas complicações do próprio tratamento, é importante
que o diagnóstico seja realizado precocemente, com objetivo de amenizar os
danos, já que a maioria desses tumores possui um prognóstico ruim
principalmente se o diagnóstico é tardio (CAMPANA et al., 2006). É de suma
importância que profissionais da área odontológica estejam familiarizados com
as complicações que podem aparecer com a doença, e o seu tratamento
(JHAM et al., 2006) para promover saúde intervindo na prevenção de
potenciais pacientes oncológicos, além de promover qualidade de vida e bem-
estar para pacientes já acometidos por ela. Com isso, esse trabalho objetiva
traçar um perfil epidemiológico e sociodemográfico do paciente atendido na
Extensão de Estomatologia do Centro Universitário Newton Paiva de Belo
Horizonte afim conhece – lo melhor, e poder determinar a forma de tratamento
mais indicada para cada caso.
REVISÃO DE LITERATURA

1. O que é o câncer, prevalência, fatores de risco, fatores etiológicos


A cavidade oral e a orofaringe têm extrema importância em funções básicas
como respirar, conversar, mastigar, deglutir (HOSPITAL DE CÂNCER DE
BARRETOS) entre outros e, doenças que acometem essa região podem trazer
grandes prejuízos para o paciente tanto num contexto de saúde local quanto
em saúde geral. Como porta de entrada para o sistema digestivo, a cavidade
oral está sujeita a vários tipos de agressões (TANNOUS et al., 2007) e entre
elas pode – se destacar o câncer, que de acordo com o Instituto Nacional de
Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) é o nome dado ao aglomerado de
mais de 100 doenças que tem como característica o aumento da proliferação
celular desordenada e independente. Essas células se dividem rapidamente
tornando – as assim, agressivas e incontroláveis, gerando os tumores ou
neoplasias malignas que podem invadir tecidos vizinhos, vasos linfáticos ou
sanguíneos gerando as metástases.
No mundo, essa doença na região de cabeça e pescoço está entre as cinco
neoplasias mais comuns, com cerca de 900 mil casos diagnosticados por ano
(SILVEIRA et al., 2012), sendo que a cavidade oral (lábios, base da língua,
lábios, assoalho bucal, e palato duro) corresponde a cerca 40%
(DOBROSSYE, 2005), aproximadamente 90% são os chamados carcinomas
de células escamosas (DEDIVITIS et al., 2004), que tem origem das células
epiteliais e a porcentagem restante outros tipos de tumores mais raros. Nos
países em desenvolvimento, a incidência de câncer de boca varia de acordo
com a região do mundo, de acordo com o Hospital de Câncer de Barretos, é
uma doença mais comum na Hungria e Índia, por exemplo, do que nos Estados
Unidos e, muito raro no México. Esse fato pode ser explicado pelos fatores de
risco ambientais e comportamentais suportados pelos habitantes de diferentes
regiões. No Brasil, foram esperados para o ano de 2016 cerca de 15.490 novos
casos de câncer na cavidade oral, sendo 11.140 em homens e 4.350 em
mulheres. Na região sudeste é o quarto mais comum em homens, com cerca
de 14,58/100mil habitantes e o décimo mais comum em mulheres. Tanto no
estado de Minas Gerais em Belo Horizonte a incidência continua no mesmo
formato que o resto do mundo, maior no sexo masculino, atingindo 1130 novos
casos no estado e 170 na capital e para mulheres 480 e 80 no estado e na
capital respectivamente (INCA, 2016).
Na cavidade oral, a língua o lábio, principalmente inferior, e o assoalho da boca
são os locais mais freqüentemente afetados pelos tumores, com 26%, 23% e
16% dos casos respectivamente (HOSPITAL DE CÂNCER DE BARRETOS). O
câncer depende de muitos fatores para existir: genéticos, ambientais, sociais,
virais, dietéticos (DRUMOND, 2015) e comportamentais, principalmente
associados ao estilo de vida, onde existe um consumo diário de tabaco e álcool
(VECCHIA, 1997). A associação do álcool e do tabaco como fator de risco para
o câncer de boca está bem descrito na literatura (HADDAD, 2008; POSCHL,
2004; SANTOS et al., 2010), e a intensidade, quantos cigarros foram ou são
consumidos por dia, e por quanto tempo o habito foi mantido está diretamente
relacionado com o aumento do risco de câncer bucal (HASHIBE et al., 2007;
SHIMIDT et al., 2004; WAMAKULASURIYA et al., 2005). O hábito de fumar
cigarros, charutos, cachimbos ou mascar fumo pode causar reações que, de
uma maneira geral, produzem oxigênio reativo ou radicais livres que pode
danificar estruturas celulares principalmente do DNA, e assim resultar na
mutação da célula (ZAIN, 2001). A associação do álcool ao tabaco causa a
solubilização das toxinas do cigarro expondo mais a mucosa aos fatores
carcinogênicos além de aumentar a absorção dessas substâncias (SANTOS et
al., 2010).
Cada vez mais tem – se relacionado o câncer de boca e orofaringe com o
Papilomavírus Humano (HPV), um vírus encontrado principalmente em pele e
mucosa (OLIVEIRA et al., 2003). São conhecidos por volta de 100 tipos do
vírus HPV, e desses, em média 24 são associados a lesões na cavidade bucal
(KOJIMA et al., 2002; TERAI et al., 2001). O tipo de HPV mais encontrados em
lesões orais é o HPV 16 (HERRERO et al., 2003). O modo de transmissão do
vírus e a carcinogênese ainda não são muito claro, mas em um estudo
realizado por Herrero et al; em nove países percebeu que, o DNA do vírus foi
mais encontrado em pacientes que relataram ter mais de um parceiro sexual ao
longo da vida ou praticavam sexo oral e menos frequentemente naqueles que
não tinham esses hábitos e em pacientes fumantes, constatando que o
comportamento sexual foi associado ao risco aumentado de aparecimento do
câncer. Há quase unanimidade na literatura quando diz respeito à dieta rica em
gordura, como carne vermelha, bacon, carnes processadas entre outros como
fator de risco para o câncer bucal (FRANCESCHI et al., 1991; FRANCESCHI et
al., 1999; LEVI et al., 1998; TOPORCOV et al., 2004). Em contrapartida, há
redução do risco de câncer quando o individuo tem uma dieta rica em frutas e
vegetais principalmente com vitaminas A, C e E (MARCHIONI et al., 2011;
ZAIN, 2001) e com baixa ingestão de carnes vermelhas (CHUANG, 2012).
Outros fatores que também podem estar envolvido no estabelecimento da
doença é a exposição excessiva a luz ultravioleta ou agentes carcinogênicos
no geral, que tem condições de causar mutações nas células predispondo as
lesões neoplásicas (BLOCHING et al., 2007) e fatores genéticos, que podem
predispor uma herança no risco de câncer de cabeça e pescoço num
determinado grupo familiar (NEGRI et al., 2009) ou alterações no metabolismo
de toxinas e agentes carcinogênicos (GAUDET et al., 2010). De modo geral é
importante conhecer os fatores de risco para a doença com a finalidade de
potencializar a prevenção do câncer de cabeça e pescoço, principalmente na
região da cavidade oral (OLIVEIRA et al., 2006).

2 - Perfil epidemiológico desses pacientes no mundo/Brasil


Conhecer o perfil epidemiológico do câncer de cabeça e pescoço é
extremamente relevante para o entendimento dos aspectos etiológicos
concernentes a cada tipo específico de neoplasia, haja vista que a prevalência
e o prognóstico desse tipo de câncer são condicionados de múltiplas variáveis,
tais como exposição aos fatores de risco, características moleculares do tumor,
estadiamento clínico (extensão e localização), comorbidades (patogênica,
diagnóstica e prognóstica), tratamento realizado, entre outros .
O perfil epidemiológico é fortemente influenciado pelos padrões de
comportamento social, em função dos hábitos de tabagismo e álcool desses
pacientes.
Os estudos epidemiológicos mostram que o câncer de cabeça e pescoço tem
sido crescente nas mulheres com o passar dos anos, mas que possui uma
maior prevalência em indivíduos do sexo masculino (BLOT, 1998).
O câncer de cabeça e pescoço tem maior incidência em pacientes masculinos
por serem potencializados tabagismo e etilismo, principalmente em pessoas
que que fazem uso exagerado de bebidas destiladas. No caso das mulheres a
prevalência desse tipo de câncer é nas tireoides.
Dentre os homens, a faixa etária mais comum é entre 50 e 60 anos, enquanto
nas mulheres varia entre 60 e 70 anos (ABDO, et al. 2002; OLIVEIRA et al.
2006).
Tanto no Brasil como no mundo, o alcoolismo e o tabagismo são fatores que
influenciam diretamente no câncer de boca, o tabagismo está associado ao
aumento do risco de câncer bucal (ARAÚJO, et al., 1998), enquanto o álcool
estima-se que potencializa outros agentes etiológicos (FRANCO, et al. 1989).
Além disso, a ingestão de alimentos gordurosos também pode ter relação com
o desenvolvimento do câncer (TOPORCOV, et al. 2004).
Por ser uma doença multifatorial, além dos fatores de risco citados acima,
ainda existem os relacionados com a dieta (LEITE, et. al. 2005). Segundo
estudos de Alvarenga (2007), a cor de pele predominante nos resultados é a
branca.
E as ocupações profissionais são diferentes para homens e mulheres, sendo
atividade rural mais frequente para os homens e atividades domésticas mais
frequente para as mulheres. No caso da atividade rural, o indivíduo fica em
constante exposição ao sol e em contato com substâncias agrotóxicas, por
serem carcinogênicas contribuem para o desenvolvimento de câncer.
Como pesquisado por Sousa et al. (2016), o principal sintoma relatado foi a dor
local, seguida por disfonia e disfagia. A localização do câncer foi predominante
na laringe, seguida por câncer de boca e de faringe.

2.1 – Perfil epidemiológico x Condição Social do Paciente


As taxas de incidência e mortalidade para o câncer de cabeça e pescoço
variam de região para região, sendo os fatores socioeconômicos relacionados
diretamente com a iniquidade existente. Como mostra nos estudos de Leite et
al. (1999), que a maioria dos portadores do câncer tem renda inferior e baixo
grau de instrução. É relatada pela maioria das pesquisas que as piores
condições sociodemográficas têm associação com o câncer de cabeça e
pescoço (BOSETTI et al. 2001).
A maior carga da doença se encontra em grupos com piores condições
socioeconômicas, sendo as pessoas mais pobres, com baixo nível de
escolaridade e profissionais menos qualificadas, apresentando maior incidência
e mortalidade. Há evidências também de que pessoas com piores condições
socioeconômicas utilizam menos os serviços de saúde e são menos expostos a
informações sobre prevenção (FAGGIANO, 1997), o que torna essas pessoas
mais susceptíveis aos hábitos deletérios.

2.2 - Tipo de câncer x Dor relatada


Conforme a pesquisa de Sommerfeld et al. (2012), os problemas mais
relatados pelos pacientes foram: diminuição da saliva, mastigação, deglutição,
fala e dor. Enquanto os estudos de Araújo et al. (2009) demonstram que os
sintomas são constituídos dos seguintes itens: fadiga, náusea e vômito, dor,
dispneia, insônia, perda de apetite, constipação, diarreia e dificuldades
financeiras.
Mas esses sintomas variam de acordo com a localização do câncer, como o
carcinoma de pele, que sua barreira de proteção é perdida e
consequentemente é gerada uma ulceração, causando coceira e dor (SGARBI,
2007).
Na cavidade oral, devido a necessidade de uma radioterapia, o paciente pode
relatar boca seca e disfagia. (CAMPANA, GOIATO, 2013). A perda de audição,
obstrução e sangramento nasal, dor facial e dificuldade para abrir a boca, são
alguns dos sintomas encontrados no carcinoma de nasofaringe (AMERICAN
CANCER SOCIETY, 2015).
As glândulas salivares contêm muitos tipos de células que podem tornar-se
cancerosas, dessa forma pode-se identificar diferentes tipos de cânceres de
glândulas salivares. Na fase inicial, os tumores podem não apresentar
sintomas, mas à medida que vão se desenvolvendo podem causar o
aparecimento de nódulos, mancas brancas na boca, lesões com cicatrização
demorada, dor de garganta, dificuldade para engolir e mudança ou rouquidão
na voz.
Foi constatada que a alta incidência de disfonia se deu pela predominância da
localização laríngea. O primeiro sintoma, a dor de garganta é o indicativo da
localização da lesão, sugere tumor supraglótico que pode ser acompanhado de
outros sinais e sintomas como a alteração na qualidade da voz, disfagia leve e
sensação de caroço na garganta. Já a rouquidão indica tumor glótico e
subglótico, nas lesões avançadas das cordas vocais, pode ocorrer dor na
garganta, disfagia e dispneia. (SOUSA et al, 2016; SABAS et al, 2012).

2.3 –Tipo de câncer x Fatores de Risco


Segundo Sgarbi (2007) a incidência dos carcinomas de pele aumenta devido à
excessiva exposição à radiação ultravioleta (UV) solar. A cavidade oral
compreende lábio, língua, gengiva, assoalho bucal, palato, glândulas salivares,
amígdala e faringe.
Os fatores extrínsecos associados ao câncer dessas regiões incluem
tabagismo, etilismo, dieta pobre, exposição aos raios ultravioleta, infecção viral
e má higienização (INCA, 2009). Enquanto os fatores intrínsecos envolvem
idade, raça, sexo e genética (SOUZA, 2006).
A patogênese do câncer na região de nasofaringe está relacionada com
condições ambientais, como produtos químicos, fumaça, mas também com
hábitos pessoais, como má higienização (VIEIRA, et al. 2012).
A etiologia das neoplasias de glândulas salivares ainda é desconhecida, mas
existem fatores determinantes para o desenvolvimento de lesões malignas,
como a exposição a elementos radioativos (MAGRIN et al., 2002).
Segundo Noronha (1989), a ação sinérgica do álcool e do fumo potencializa o
surgimento do câncer laríngeo. Além disso, existem outras etiologias, como o
papiloma vírus humano (HPV), as hipovitaminoses e o refluxo gastroesofágico.

3 – Localização e tipo histológico


É comum se referir ao câncer de células escamosas como carcinoma de
células escamosas de cabeça e pescoço. Observa-se que é nas células
escamosas que revestem as superfícies úmidas da região que a maioria dos
cânceres de cabeça e se inicia, podendo localizar na cavidade oral, na laringe
e nas glândulas salivares. Nos estudos de Sousa (2016), constatou-se que em
relação às regiões anatômicas mais acometidas, a maior parte dos CCP
ocorrem na cavidade oral.
Para Sabas et al (2012), os cânceres da cavidade oral representam cerca de
30% dos cânceres de território de cabeça e pescoço. O carcinoma epidermóide
é o tipo histológico mais frequente entre as neoplasias malignas da cavidade
oral.
Assim como o câncer da cavidade oral, a incidência é maior no sexo masculino
em relação ao feminino. O tipo histológico mais comum do carcinoma de
laringe é o de células escamosas. (CAMPANA; GOIATO, 2013, p. 23).
A maioria dos cânceres de laringe é de origem epitelial e do tipo carcinoma
epidermóide (carcinoma de células escamosas)
O tecido glandular salivar alterado é capaz de produzir expressões
histopatológicas tão diversificadas, que causa grandes dificuldades para uma
classificação universalmente aceita pelos estudiosos do assunto e, por vezes
para o diagnóstico de algumas neoplasias. (SOARES et al, 2005, p. 336).
O tipo histológico mais frequente é representado por neoplasias epiteliais do
tipo carcinoma espinocelular, ou conforme Sousa et al (2016) também
chamado epidermóide ou carcinoma de células escamosas e que pode se
classificar como: bem diferenciado, moderadamente diferenciado e pouco
diferenciado. Podem ser encontrados também os adenocarcinomas de origem
salivar menor, os tumores neoroendócrinos, os mesenquimais e os melanomas
(OLIVEIRA, 1997).

4. Diagnostico e cuidados pré-tratamento


No Brasil, 70% dos pacientes diagnosticados com câncer de cabeça e pescoço
já estão em um estágio avançado da doença devido à clara falta de informação
(CAMPOS; 2015). É necessária a conscientização das pessoas sobre o câncer
de cabeça e pescoço e a importância de se fazer a prevenção e ficar atento
aos sinais de alerta da doença (COUTINHO; 2017) que pode apresentar
sintomatologia variada, dependendo do local e do tumor (VIEIRA et al., 2012).
Os sintomas de câncer de cabeça e pescoço podem incluir um nódulo ou uma
ferida que não cura, uma dor de garganta que não desaparece, dificuldade em
engolir e uma alteração ou rouquidão na voz (NATIONAL CANCER INSTITUTE
2017). As apresentações mais comuns de câncer de cabeça e pescoço na
cavidade oral são as tumefação palpável ou úlcera que não cicatriza (VIEIRA et
al., 2012), manchas brancas ou vermelhas na gengiva, língua ou no
revestimento da boca, inchaço na região mandibular tornando as dentaduras
desconfortáveis, hemorragias ou dor na boca (INSTITUTO ONCOGUIA, 2017),
estridor, rouquidão persistente, dificuldade para respirar ou falar, dor ao engolir,
dor no pescoço ou garganta que não cura, dores de cabeça freqüentes, dor ou
zumbido nos ouvidos ou problemas de audição (INSTITUTO ONCOGUIA,
2017; VIEIRA et al., 2012), sinusites, infecções crônicas dos seios maxilares
que não respondem ao tratamento com antibióticos, sangrando pelo
nariz, dores de cabeça freqüentes, inchaço ou outros problemas com os
olhos, dor nos dentes superiores, problemas com próteses dentárias
(CENAPRO, 2017; NATIONAL CANCER INSTITUTE, 2017). O diagnóstico dos
tumores das glândulas salivares maiores e menores é clínico, sinais como a
presença de paralisia facial, inchaço embaixo do queixo ou ao redor da
mandíbula, entorpecimento ou dor no rosto, no queixo ou no pescoço que não
desaparece (INCA, 2002; NATIONAL CANCER INSTITUTE, 2017). A
radiografia simples de tórax foi utilizada, por vários anos, para a
complementação diagnóstica e estadiamento do câncer de cabeça e pescoço
(PAIVA et al., 2015), porém o diagnóstico definitivo é realizado por meio de
biópsia da lesão (VIEIRA et al., 2012), o patologista examinará o material
coletado do paciente no microscópio à procura de células malignas compatíveis
com o provável diagnostico (AMERICAS CENTRO DE ONCOLOGIA
INTEGRADO; 2014). Vale ressaltar que, em lesões pequenas, a tomografia
computadorizada (TC) tem uma boa capacidade de diferenciar as lesões com
padrão metastático ou lesões sem significado oncológico (PAIVA et al., 2015).
O tratamento de câncer de boca consiste em uma equipe multidisciplinar, onde
o cirurgião dentista deve fazer parte (BARROS et al., 2002), pois a odontologia
desempenha hoje um papel importante nas diferentes fases terapêuticas contra
o câncer sendo que uma avaliação prévia poderá reduzir de forma efetiva
complicações oriundas de processos infecciosos ou inflamatórios crônicos, de
origem bucal pós radio/quimioterapia(CARDOSO et al., 2005). Assim, os
programas preventivos devem começar antes do início da radioterapia
(GRIMALDI et al., 2005), preparando o paciente para o tratamento através de
medidas preventivas, como a adequação do meio bucal, melhorara das
condições de higiene bucal do indivíduo é fundamental (GRIMALDI et al.,
2005). Então é necessária uma articulação entre o dentista e o médico para
manter o paciente com um bom nível de higiene bucal, a fim de minimizar o
risco de complicações (VARELLIS, 2005). Devem ser removidos dentes com
grande destruição por cárie, doença periodontal, dentes com comprometimento
pulpar e restos radiculares (GRIMALDI et al., 2005), além disso há necessidade
de um tratamento profilático que amenize as manifestações bucais em
decorrência do tratamento oncológico (BARBOSA et al., 2010), devem ser
realizados raspagem e alisamento coronoradicular, restaurações e próteses
devem ser bem adaptdas para que não traumatizem a mucosa (GRIMALDI et
al., 2005) . O dentista também deve incentivar o compromisso do paciente com
o uso de fluoretos tópicos, restrições dietéticas e visitas regulares
(GOURSAND et al., 2006). A realização de um protocolo de cuidados
odontológicos antes, durante e após o tratamento do câncer é muito importante
para propiciar uma melhor qualidade de vida a esses pacientes (GOURSAND
et al., 2006).

5. Tratamento mais comum para essa patologia


De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS 1990/2002), o
tratamento para o câncer na região de cabeça e pescoço, pode ter a intenção
curativa quando visa à exterminação completa do tumor ou apenas intenção
paliativa quando visa uma melhoria na qualidade de vida do paciente e dos
familiares, diante da doença que coloca a vida em risco, aliviando a dor e
sofrimento e tratando sintomas físicos, socias, psicológicos e espirituais.
Esses tratamentos podem ser feito através de cirurgia, que ocorre quando
remove cirurgicamente o tumor, da radioterapia que por meio de feixes de
radiação ionizante destroem o tumor ou impedem o seu crescimento ou pela
quimioterapia, que utiliza – se medicamentos na circulação sanguínea por via
endovenosa ou oral para ajudar a combater o câncer impedindo que essas
células neoplásicas se espalhem (INCA). Essas técnicas de tratamento podem
ser usadas associadas ou não (JHAM et al., 2006) e vão depender de fatores
associados ao tumor, como estágio da doença, localização,tipo histológico e
associados ao paciente como estado de saúde geral, idade entre outros
(AMERICAS CENTRO DE ONCOLOGIA INTEGRADO, 2014). A maior parte
das excisões cirúrgicas é feitas com margem de segurança devido à
malignidade das neoplasias, isso pode causar um prejuízo significativo na
qualidade de vida dos pacientes. Isso se deve ao fato de que muitas vezes pelo
tamanho do tumor ou área de localização o paciente fica mutilado,
apresentando dificuldades na mastigação, fala, deglutição e dificuldades nas
interações sociais (HANQUE et al., 2006) e, para contornar essa situação,
algumas vezes são utilizadas a radioterapia e quimioterapia comitantemente ao
tratamento cirúrgico (GALBIATTI et al., 2013). A radioterapia pode ser aplicada
pré, durante ou pós cirurgia e/ou quimioterapia, com o objetivo curativo, quando
busca a cura total do tumor, remissiva quando espera – se a redução tumoral,
profilática quando ainda não há volume tumoral mas pode existir células
neoplásicas diversas e paliativa quando busca apenas redução da
sintomatologia e melhora da sobrevida do paciente (INCA). Nos dias atuais a
Radioterapia Modulada por Intensidade (IMRT) é considerada o padrão ouro
para tratamentos na região de cabeça e pescoço (PFISTER et al., 2015), pois
permite que os feixes de radiação sejam direcionados para a área alvo
preservando estruturas adjacentes como glândulas salivares e mucosa,
reduzindo maiores complicações pós operatórias (AGÊNCIA NACIONAL DE
SAÚDE COMPLEMENTAR, 2009; DUARTE et al., 2014). É importante que o
cirurgião dentista atue antes, durante e depois do tratamento do câncer, e seja
utilizadas opções de tratamentos que ofereçam mais conforto ao paciente,
como a IMRT para reduzir as complicações do tratamento e proporcionar uma
melhora na qualidade de vida dos pacientes acometidos pela doença (EMMI et
al., 2009).

6. Complicações pós-tratamento
Os efeitos colaterais da radioterapia na região de cabeça e pescoço têm
impacto determinante na qualidade de vida do paciente (EMMI et al., 2009-
2017). Altas doses de radiação em extensos campos que irão incluir a cavidade
bucal, maxila, mandíbula e glândulas salivares freqüentemente resultam em
diversas reações indesejadas (JHAM et al., 2006).
 Xerostomia: as glândulas salivares estão usualmente dentro da zona de
irradiação, provocando alterações morfofisiológicas e como conseqüente
a diminuição do fluxo salivar (EMMI et al., 2009-2017), tornando também
a saliva mais espessa, provocando a sensação de boca seca
(INSTITUTO ONCOGUIA, 2013) desconforto bucal, perda do paladar,
dificuldades na fala e deglutição (JHAM et al., 2006). A xerostomia pode
causar problemas dentários já que a saliva ajuda a manter o equilíbrio
das bactérias na boca, protegendo – a contra infecções e cáries. Na
ausência de saliva suficiente, as bactérias e outros organismos podem
crescer muito rapidamente proporcionando infecções e feridas
(INSTITUTO ONCOGUIA, 2013).
 Mucosite: consiste em uma inflamação e ulceração da mucosa,
resultado do efeito citotóxico da radiação nas células derivadas do
epitélio basal da mucosa (POZZOBON et al., 2011) que, por
consequência do tratamento radioterápico desorganiza a estrutura
celular doente, bem como as estruturas adjacentes sadias (EMMI et al.,
2009-2017), causando ulcerações na mucosa que podem provocam dor
intensa, febre e aparecimento de infecções secundárias (POZZOBON et
al., 2011). Clinicamente observa-se sua instalação após a 2º semana do
início da radioterapia e também pode estar associada à dificuldade para
mastigar e para deglutir e é considerada a reação aguda mais debilitante
que surge durante o tratamento do câncer de cabeça e pescoço
(SANTOS et al., 2011).
 Osteorradionecrose: essa complicação Se trata de uma necrose
isquêmica do osso decorrente da radiação, resultando em dor bem como
possíveis perdas substanciais da estrutura óssea (JHAM et al., 2006). A
osteorradionecrose é uma das mais severas e sérias complicações
bucais do tratamento radioterápico do câncer da cabeça e pescoço
(GRIMALDE et al., 2005). Tratamentos odontológicos invasivos ou
mutiladores, como, por exemplo, as exodontias, são consideradas de
alto risco em pacientes nessas condições, pois a falta de vascularização
advinda desta complicação afeta o potencial de cicatrização
(POZZOBON et al., 2011).
 Candidose: a radiação frequentemente causa alterações no ambiente
oral que predispõe à colonização de microrganismos (SENA et al.,
2009), já que o paciente está passando por um quadro de
imunodepressão transitória (FLORENTINO et al., 2016). A candidose
constitui uma das infecções oportunistas mais frequentes em pacientes
oncológicos, gerada por diferentes espécies de cândida albicans (SENA
et al., 2009), causando um desequilíbrio responsável pela invasão do
tecido conjuntivo exposto pelas ulcerações decorrentes da mucosite, por
consequência, um significativo aumento na sintomatologia, tornando - a
mais resistente aos tratamentos convencionais (SIMÕES et al., 2010).
 Disgeusia: a alteração de paladar é referida por grande parte dos
pacientes submetidos à radioterapia (EMMI et al., 2009-2017). Ela
ocorre já que os botões gustativos são radiossensíveis, ocorrendo
degeneração da arquitetura histológica normal dos mesmos (JHAM et
al., 2006). Se a mucosa olfatória estiver no campo de irradiação ou
receber irradiação secundária o paladar será ainda mais prejudicado
(EMMI et al., 2009-2017). Em uma elevada porcentagem dos casos, o
gosto volta gradualmente aos níveis normais ou quase normais após um
ano do tratamento radioterápico (BIGARANI, 2014). Devido a esta
característica transitória, normalmente não há necessidade de
tratamento (VISSINK et al., 2014). Esta alteração do paladar faz com
que o paciente apresente sinais de fraqueza, mal estar, desidratação,
perda de apetite, repercutindo negativamente em seu quadro geral
(BIGARANI, 2014).
 Cárie por radiação: mesmo indivíduos que já há algum tempo não
apresentavam atividade cariosa podem desenvolver cáries de radiação
ao serem submetidos à radioterapia (JHAM et al., 2006), pois alterações
são produzidas na boca pelo tratamento radioterápico, principalmente
pela xerostomia, impedindo o controle adequado da placa bacteriana e
levam a modificações na dieta dos pacientes (WISSMANN, 2015). A
radiação exerce também um efeito direto sobre os dentes, tornando-os
mais susceptíveis à descalcificação (JHAM et al., 2006) e, somando a
isso existe o quadro de alterações de viscosidade e pH salivar, que
favorece esta especialidade de cárie (EMMI et al., 2009-2017).
 Dor: a dor é o sintoma mais frequente das neoplasias malignas
(PIMENTA et al., 1997), por volta de 9 milhões de pessoas no mundo
sofrem a experiência de dor relacionada ao câncer, e cerca de 90%
podem ter alivio dessa dor através de tratamentos adequados (SASSE,
2008). A dor do câncer acomete 60% a 80% dos pacientes, sendo 25%
a 30% na ocasião do diagnóstico como sintoma inicial do câncer e 70%
a 90% em estágio de doença avançada e esses dados levaram a
Organização Mundial da Saúde a declarar, em 1986, a dor associada ao
câncer como uma emergência médica mundial (GUIMARÃES et al.,
2015). Esse tipo de complicação pode desenvolver – se após o
tratamento radioterápico e também desaparecer espontaneamente
(INSTITUTO ONCOGUIA, 2013). A classificação neurofisiológica da dor
é baseada nos mecanismos desencadeantes e divide - se em:
nociceptiva, neuropática e complexa ou mista e a natureza da dor do
câncer são múltiplas, podendo necessitar de vários procedimentos
terapêuticos (GUIMARÃES et al., 2015).

Quando se fala em câncer de cabeça e pescoço

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