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6. Complicações pós-tratamento
Os efeitos colaterais da radioterapia na região de cabeça e pescoço têm
impacto determinante na qualidade de vida do paciente (EMMI et al., 2009-
2017). Altas doses de radiação em extensos campos que irão incluir a cavidade
bucal, maxila, mandíbula e glândulas salivares freqüentemente resultam em
diversas reações indesejadas (JHAM et al., 2006).
Xerostomia: as glândulas salivares estão usualmente dentro da zona de
irradiação, provocando alterações morfofisiológicas e como conseqüente
a diminuição do fluxo salivar (EMMI et al., 2009-2017), tornando também
a saliva mais espessa, provocando a sensação de boca seca
(INSTITUTO ONCOGUIA, 2013) desconforto bucal, perda do paladar,
dificuldades na fala e deglutição (JHAM et al., 2006). A xerostomia pode
causar problemas dentários já que a saliva ajuda a manter o equilíbrio
das bactérias na boca, protegendo – a contra infecções e cáries. Na
ausência de saliva suficiente, as bactérias e outros organismos podem
crescer muito rapidamente proporcionando infecções e feridas
(INSTITUTO ONCOGUIA, 2013).
Mucosite: consiste em uma inflamação e ulceração da mucosa,
resultado do efeito citotóxico da radiação nas células derivadas do
epitélio basal da mucosa (POZZOBON et al., 2011) que, por
consequência do tratamento radioterápico desorganiza a estrutura
celular doente, bem como as estruturas adjacentes sadias (EMMI et al.,
2009-2017), causando ulcerações na mucosa que podem provocam dor
intensa, febre e aparecimento de infecções secundárias (POZZOBON et
al., 2011). Clinicamente observa-se sua instalação após a 2º semana do
início da radioterapia e também pode estar associada à dificuldade para
mastigar e para deglutir e é considerada a reação aguda mais debilitante
que surge durante o tratamento do câncer de cabeça e pescoço
(SANTOS et al., 2011).
Osteorradionecrose: essa complicação Se trata de uma necrose
isquêmica do osso decorrente da radiação, resultando em dor bem como
possíveis perdas substanciais da estrutura óssea (JHAM et al., 2006). A
osteorradionecrose é uma das mais severas e sérias complicações
bucais do tratamento radioterápico do câncer da cabeça e pescoço
(GRIMALDE et al., 2005). Tratamentos odontológicos invasivos ou
mutiladores, como, por exemplo, as exodontias, são consideradas de
alto risco em pacientes nessas condições, pois a falta de vascularização
advinda desta complicação afeta o potencial de cicatrização
(POZZOBON et al., 2011).
Candidose: a radiação frequentemente causa alterações no ambiente
oral que predispõe à colonização de microrganismos (SENA et al.,
2009), já que o paciente está passando por um quadro de
imunodepressão transitória (FLORENTINO et al., 2016). A candidose
constitui uma das infecções oportunistas mais frequentes em pacientes
oncológicos, gerada por diferentes espécies de cândida albicans (SENA
et al., 2009), causando um desequilíbrio responsável pela invasão do
tecido conjuntivo exposto pelas ulcerações decorrentes da mucosite, por
consequência, um significativo aumento na sintomatologia, tornando - a
mais resistente aos tratamentos convencionais (SIMÕES et al., 2010).
Disgeusia: a alteração de paladar é referida por grande parte dos
pacientes submetidos à radioterapia (EMMI et al., 2009-2017). Ela
ocorre já que os botões gustativos são radiossensíveis, ocorrendo
degeneração da arquitetura histológica normal dos mesmos (JHAM et
al., 2006). Se a mucosa olfatória estiver no campo de irradiação ou
receber irradiação secundária o paladar será ainda mais prejudicado
(EMMI et al., 2009-2017). Em uma elevada porcentagem dos casos, o
gosto volta gradualmente aos níveis normais ou quase normais após um
ano do tratamento radioterápico (BIGARANI, 2014). Devido a esta
característica transitória, normalmente não há necessidade de
tratamento (VISSINK et al., 2014). Esta alteração do paladar faz com
que o paciente apresente sinais de fraqueza, mal estar, desidratação,
perda de apetite, repercutindo negativamente em seu quadro geral
(BIGARANI, 2014).
Cárie por radiação: mesmo indivíduos que já há algum tempo não
apresentavam atividade cariosa podem desenvolver cáries de radiação
ao serem submetidos à radioterapia (JHAM et al., 2006), pois alterações
são produzidas na boca pelo tratamento radioterápico, principalmente
pela xerostomia, impedindo o controle adequado da placa bacteriana e
levam a modificações na dieta dos pacientes (WISSMANN, 2015). A
radiação exerce também um efeito direto sobre os dentes, tornando-os
mais susceptíveis à descalcificação (JHAM et al., 2006) e, somando a
isso existe o quadro de alterações de viscosidade e pH salivar, que
favorece esta especialidade de cárie (EMMI et al., 2009-2017).
Dor: a dor é o sintoma mais frequente das neoplasias malignas
(PIMENTA et al., 1997), por volta de 9 milhões de pessoas no mundo
sofrem a experiência de dor relacionada ao câncer, e cerca de 90%
podem ter alivio dessa dor através de tratamentos adequados (SASSE,
2008). A dor do câncer acomete 60% a 80% dos pacientes, sendo 25%
a 30% na ocasião do diagnóstico como sintoma inicial do câncer e 70%
a 90% em estágio de doença avançada e esses dados levaram a
Organização Mundial da Saúde a declarar, em 1986, a dor associada ao
câncer como uma emergência médica mundial (GUIMARÃES et al.,
2015). Esse tipo de complicação pode desenvolver – se após o
tratamento radioterápico e também desaparecer espontaneamente
(INSTITUTO ONCOGUIA, 2013). A classificação neurofisiológica da dor
é baseada nos mecanismos desencadeantes e divide - se em:
nociceptiva, neuropática e complexa ou mista e a natureza da dor do
câncer são múltiplas, podendo necessitar de vários procedimentos
terapêuticos (GUIMARÃES et al., 2015).