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NEOPLASMAS MAMÁRIOS EM GATAS

breast neoplasms in cats

Letícia de França GOTHISCHALK¹


Giovanna Rossi VARALLO²

RESUMO
Como a doença assume um caráter bastante agressivo nessas pacientes, o
diagnóstico e a abordagem precoce podem alterar o curso da doença. Assim,
preconiza-se a mastectomia bilateral e a quimioterapia anti-neoplásica adjuvante para
todos os subtipos histológicos. É evidente que o correto estadiamento influencia na
escolha da conduta terapêutica. Estágios avançados podem implicar na medicina
paliativa. As metástases são as principais causas de óbitos dessas pacientes e,
infelizmente, muitas já são detectadas no momento do diagnóstico. O objetivo do
trabalho é fazer uma revisão de literatura sobre os neoplasmas mamários em gatas,
trazendo uma perspectiva mais atual sobre o manejo da doença.

Palavras-chave: mastectomia; malignidade; metástases.

ABSTRACT
As the disease is very aggressive in these patients, early diagnosis and approach can
alter the course of the disease. Thus, bilateral mastectomy and adjuvant antineoplastic
chemotherapy are recommended for all histological subtypes. It is evident that the
correct staging influences the choice of therapeutic approach. Advanced stages may
imply palliative medicine. Metastases are the leading causes of death in these patients
and, unfortunately, many are already detected at the time of diagnosis. The aim of this
paper is to review the literature on breast neoplasms in cats, bringing a more current
perspective on the management of the disease.

Keywords: mastectomy; malignancy; metastases.

1. INTRODUÇÃO

1
¹ Discente do Curso de Medicina Veterinária – Centro Universitário do Norte Paulista – UNORP
² Docente do Curso de Medicina Veterinária – Centro Universitário do Norte Paulista – UNORP
Os neoplasmas mamários são a terceira causa mais comum de tumores nas
gatas. Cerca de 80% são malignos. Caracterizam-se por apresentarem um
comportamento biológico agressivo, caracterizado pelo crescimento rápido em virtude
da velocidade alta de proliferação, bem como pela capacidade de gerar metástase à
distância. Os órgãos que ocorrem as metástases normalmente são os linfonodos,
pulmões, pleura, fígado, diafragma, glândula adrenal e rins (ORDÁS et al. 2007).
Daleck et al (2016) diz que aproximadamente 80 a 93% dos tumores mamários
são malignos, e a invasão linfática é muito comum.
A etiologia sobre o processo carcinogênico mamário não está completamente
elucidada. Entretanto, além dos distúrbios moleculares, foram relatados fatores de
risco que podem facilitar a tumorigênese. A suscetibilidade genética é um deles.
Inúmeros relatos apontam o siamês como uma raça suscetível ao desenvolvimento
dos tumores de mama acometendo principalmente entre 10 e 12 anos de idade
(MISDORP et al.1991).
O mais importante desses fatores é a influência hormonal. Os hormônios
estrógeno e progesterona são tidos como os elementos etiológicos principais da
doença. Haja vista que a ovariohisterectomia precoce reduz cerca de 91% o
desenvolvimento das neoplasias mamárias nas gatas. Além disso, (MISDORP et
al.1991) verificou que o uso exógeno de estrógeno e progestágenos promove o
desenvolvimento de tumores mamários benignos e malignos. Foi realizado um estudo
hormonal, no qual dados sobre idade, história de castração, paridade e administração
de progestágeno foram comparados em gatos com tumores mamários malignos ou
benignos, de um lado, e um grupo sem alteração tumoral, de outro. Porém o estudo
mostrou que o uso prolongador regular está relacionado com o aparecimento de
tumores malignos segundo (MISDORP et al.1991). A sensibilização das células
mamárias por tais hormônios, sob condições propícias, pode incitar mutações nas
células da glândula mamária e, assim, instalar o processo oncológico (MISDORP et
al. 1991).

2. ANATOMIA DA GLÂNDULA MAMÁRIA


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As gatas possuem quatro pares de glândulas mamárias, dois pares são
glândulas torácicas t1 e t2 e dois pares de glândulas abdominais a1 e a2. Em algumas
gatas podem estar presentes glândulas adicionais na região inguinal (RAHARISON et
al 2006).
Existe um consenso de que as glândulas mamárias em gatas drenam
cranialmente em direção ao centro linfático axilar e caudalmente em direção ao centro
linfático superficial inguinal (SILVER et al. 1966).
As glândulas mamárias felinas ficam perto das artérias, exceto algumas veias
menores que se cruzam na linha média, elas podem ser responsável por disseminar
tumores mamários malignos (SILVER et al. 1966). A figura 1 mostra a representação
anatômica da glândula mamária em gatas.

Figura 1 – Representação esquemática das glândulas mamárias em gatas


Fonte: (GIMÉNEZ et al. 2010)

3. CONCEITO

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Segundo Hanahan et al (2000), as neoplasias são classificadas em seis
características - estas capacidades distintas e complementares permitem o
crescimento de tumores e disseminação metastática – fornecem uma base solida para
compreensão da biologia neoplásica, suas característica principais são: sinalização
proliferativa, supressores de crescimento, ativação de invasão e metástases,
permissão de imortalidade replicativa, induzindo angiogênise, resistindo á morte
celular.

4. EPIDEMIOLOGIA
Os neoplasmas mamários são tidos como a terceira causa mais comum de
afecção oncológica nas gatas (MACEWEN et al. 1984). Segundo Misdorp et al (1991),
a maior incidência da doença é observada entre 10 e 11 anos de idade em fêmeas
não castradas. No Brasil, não há uma predisposição racial devido a cruzamentos de
gatos gerando gatos mestiços, ao contrario de um estudo anterior que encontrou uma
predisposição de gatos siameses a desenvolver tumor mamário (CUNHA et al. 2016).
O status reprodutivo é determinante na carcinogênese. Gatas não castradas
têm o risco sete vezes maior de desenvolver tumores mamários em relação a gatas
castradas, segundo Waldrow (2001). Segundo Overley et al (2005) o risco de
desenvolvimento mamário em gatas castradas antes do seis meses de idade reduz o
risco em 91%%, já em gatas não castradas antes de completar um ano de idade o
risco é de 86%%, em contra partida as gatas castradas entre 13 e 24 meses de idade,
este risco é reduzidos para apenas 11%.
A maior incidência da doença é observada em gatas idosas (HAYES et al.
1985).

5. SINAIS CLÍNICOS
As gatas que apresentam esta doença mostram formações nodulares palpáveis
no exame físico e de diferentes tamanhos. Os tumores podem ser ulcerados ou não,
soltos ou aderidos, eritematoso de consistência firme e de crescimento progressivos
(STRATMANN et al. 2008)
A paciente ainda pode apresentar hipertemia, ascite, anorexia e caquexia.

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6. DIAGNÓSTICO
6.1 Diagnóstico Presuntivo
Devem ser realizados exames hematológicos, bioquímico sérico (função renal
e hepática), dosagem da concentração sérica de T4, urinálise e exames de imagem
(LAVALLE et al. 2009).

6.2 Diagnóstico Citológico


Em caso de diagnóstico diferencial é solicitado citologia aspirativa com agulha
fina (LAVALLE et al. 2009).

6.3 Diagnóstico Histopatológico


O diagnóstico final, só é obtido através do exame histopatológico, para
determinar o tipo e grau de malignidade tumoral e invasão linfática (LAVALLE et al.
2009).

6.4 Diagnóstico Imunohistoquímico


Os exames imuno-histoquímico de amostras histológicas sempre podem
fornecer informações úteis para o prognóstico (FOSSUM et al. 2008).

7. ESTADIAMENTO DA DOENÇA
O objetivo de avaliar o tamanho do tumor primário, o envolvimento dos gânglios
linfáticos regionais (axilar e inguinal) e presença de metástases distantes, que
permitem um bom prognóstico e um planejamento de tratamento. Os diagnósticos por
imagem que são utilizados : radiografia torácica, ultrassonografia abdominal e
tomografia (BORREGO et al. 2009).

8. TRATAMENTO
Um dos tratamentos utilizado é a excisão cirúrgica, porém a cirurgia isolada
pode não proporcionar a cura da paciente em virtude da possibilidade de
micrometastase no momento do diagnóstico, já nos pacientes com metástases este
tipo de tratamento nem sempre é utilizado (ELSTON et al. 1998).
Cirurgias agressivas em tumores precoces podem aumentar o tempo de vida
das gatas em estágio inicial (ELSTON et al.1998).
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A mastectomia bilateral simultânea não é sempre indicada, variando bastante
do estadiamento da doença e do quadro clínico da paciente, caso contrário, a
mastectomia unilateral pode ser realizada em dois tempos cirúrgicos, associado ou
não ovariohisterectomia (KARAYANNOPOULOU et al. 2001).
A quimioterapia sempre é indicada, pois o comportamento natural dos tumores
de mama em gatas é muito agressivo, em situações que gatas apresentam tumores
irressecáveis ou metastático. Alguns autores indicam que á quimioterapia adjuvante
deve ser proposta para pacientes com tumores malignos com mais de três centímetros
(cm) de diâmetro (BORREGO et al. 2009)
Segundo Mcneill, C.J. et al.(2009) gatas tratadas com cirurgia e quimioterapia
tiveram uma sobrevida superior as gatas tratadas apenas com cirurgia.

9. CONCLUSÃO
Com o estudo bibliográfico realizado no presente trabalho, conclui-se que as
neoplasias mamárias em felinos é uma doença altamente letal, que se deve como
prevenção realizar a ovariohisterectomia, vulgarmente conhecida como castração. Em
casos de aparecimento de tumores nas glândulas mamárias deve-se encaminhar a
felina ao médico veterinário para remoção e tratamento.

10. REFERÊNCIAS
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