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CRIPTOCOCOSE EM UM FELINO DOMÉSTICO: RELATO DE CASO.

Cryptococcosis in a domestic feline: case report.

SILVA, Larissa Tiburtino 1


SANCHES, Leonardo 2

RESUMO
A criptococose é uma doença fúngica que acomete gatos, cães, humanos, entre
outros mamíferos. O fungo causador da doença é o Cryptococcus neoformans,
geralmente encontrado em substratos orgânicos, fezes de pombos, entre outras
fontes ambientais. O objetivo deste estudo é relatar um caso de criptococose em um
felino doméstico macho, adulto, que apresentou lesão em membro torácico
esquerdo na região proximal do membro, lacrimejamento no olho direito e
esternutação frequente. Os métodos diagnósticos e terapêuticos adotados foram
extremamente importantes para a rápida intervenção e reversão do quadro clínico
do paciente. Devido o mesmo ser muito reativo às adversidades do ambiente e se
tratar de um fungo oportunista, quadros de recidivas foram observados. Portanto,
torna-se fundamental o acompanhamento médico periódico do paciente.

Palavras Chave: gato; Cryptococcus neoformans; zoonoses.

ABSTRACT
Cryptococcosis is a fungal disease that affects cats, dogs, humans, among other
mammals. The disease-causing fungus is Cryptococcus neoformans, usually found
in organic substrates, pigeon droppings, among other environmental sources. The
aim of this study is to report a case of cryptococcosis in an adult male domestic feline
that presented injury to the left thoracic limb in the proximal limb, tearing and edema
in the right eye glogo; and frequent sternutation. The diagnostic and therapeutic
methods adopted were extremely important for the rapid intervention and reversal of
the patient's clinical condition. Because it is very reactive to the adversities of the
environment, and is an opportunistic fungus, relapse was observed. Therefore,
periodic medical follow-up of the patient becomes essential.

Keywords: cat; Cryptococcus neoformans; zoonoses.

1 - Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário do Norte Paulista-UNORP.


2- Docente do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário do Norte Paulista-UNORP.
INTRODUÇÃO

A criptococose é uma doença fúngica que geralmente acomete gatos, cães,


humanos, entre outros mamíferos. O fungo causador da doença é o Cryptococcus
neoformans, geralmente encontrado em substratos orgânicos, fezes de pombos,
entre outras fontes ambientais (RAMOS, 2015).
O Cryptococcus neoformans pode ser encontrado no solo em densidades
altas e permanecer por vários anos quando há condições favoráveis (NELSON,
COUTO, 1994). Possui uma maior afinidade pelo sistema nervoso central (SNC),
sistema respiratório e tegumentar. A principal via de infecção é a inalatória e
posteriormente pode atingir o trato respiratório inferior, causando até mesmo
infecção pulmonar. A inoculação cutânea direta através de lesões pode ocorrer e
posteriormente se disseminar para o organismo, mesmo sendo rara (RAMOS, 2015).
No Brasil, a frequência da ocorrência de criptococose é maior em gatos
machos e acima dos quatro anos de idade e pode estar associado a
imunossupressão, que pode ser ocasionada por FIV, FELV ou outras doenças que
causem falhas no sistema imune dos animais (LIMA et al., 2018). Animais expostos
a doença podem não desenvolver a sintomatologia clínica, pois, contam com a
imunidade passiva, que será mediada por células específicas, o risco aumenta caso
o hospedeiro esteja imunossuprimido (NELSON, COUTO, 1994).
Os sinais respiratórios provocados pelo fungo em felinos domésticos são
secreções nasais serosas ou sanguinolentas, deformidades nasais, espirros
frequentes, sinusite e rinite. Pode ter envolvimento cutâneo, com a ocorrência de
nódulos, abscessos e pústulas, em cerca de 40% dos casos. O SNC pode ser
atingido, causando depressão, paresia, ataxia, convulsão e até cegueira (JULIANO
et al., 2006). No homem, a doença pode ocorrer na forma generalizada, enquanto
que nos gatos ocorre geralmente na forma localizada. Isso acontece pois os seios
nasais dos felinos possuem características que possibilitam que partículas dispersas
no ar sejam filtradas de maneira mais eficiente (LIMA et al., 2018).
O histopatológico e a cultura microbiológica são métodos utilizados para
fechar o diagnóstico da doença. A abordagem terapêutica está diretamente
relacionada com a localização da infecção, quadro clínico em que o paciente se
encontra e a disponibilidade do medicamento, sendo que geralmente é indicado o
uso de antifúngicos para o tratamento da doença (RAMOS, 2015).
O objetivo deste estudo é relatar um caso de criptococose em um felino
doméstico macho, adulto, atendido na Clínica São Lázaro, localizada na cidade de
São José do Rio Preto - SP.

2. RELATO DE CASO

No dia 15 de junho de 2018 foi atendido na clínica veterinária São Lázaro,


situada na cidade de São José do Rio Preto, SP, um felino doméstico SRD de quatro
anos. Durante a anamnese foi relatado pelo tutor que o paciente se alimentava,
defecava e urinava normalmente. Quanto ao comportamento do paciente, o tutor
informou que não tinha acesso à rua, somente ao quintal e ao telhado da casa,
apresentava o hábito de rolar no chão e também apresentava estresse excessivo na
ausência do tutor.
Segundo o tutor, o paciente apresentava uma lesão em membro torácico
esquerdo na região proximal do membro (Figura 1 - a) há sete dias, que não
cicatrizava e evoluiu com o passar dos dias aumentando o seu tamanho, o tutor fez
o uso de pomada a base de alantoína e óxido de zinco, sem sucesso. Foi relatado
também que o bulbo ocular direito do paciente lacrimejava consideravelmente.
Também apresentava uma lesão nodular acima da pálpebra, que aumentou com o
tempo. Apresentava esternutações frequentes.
Durante o exame físico foi possível observar que se tratava de um macho
adulto. O paciente apresentava-se agitado, com lacrimejamento e espirros, além de
apresentar lesões cutâneas características de dermatite fúngica (figura 1 - b).

Figura 1. (A) Lesão localizada em membro torácico esquerdo, próximo a região de cotovelo. (B)
Lesão sugestiva de dermatite fúngica. (Fonte: OLIVEIRA, 2018)
No primeiro momento foi solicitado pelo médico veterinário responsável a
realização de um hemograma completo e imprint da lesão, ambos autorizados pelo
tutor. O hemograma estava dentro dos padrões da normalidade, porém o imprint foi
inconclusivo. Solicitou-se, então, uma biópsia incisional da lesão para a realização
do histopatológico. O resultado foi sugestivo de dermatite fúngica leveduriforme.
Optou-se pelo tratamento clínico do paciente. Foi utilizado um antiinflamatório
não esteroidal (meloxicam, 0,1 mg/kg) e um opióide (tramadol, 1 mg/kg) após a
realização da biópsia. Para o tratamento da doença foi utilizado o antifúngico
Itraconazol 100mg/animal, durante 60 dias, BID; juntamente com anti-histamínico
(ranitidina) 2mg/kg, BID, ambos por via oral.
O paciente não foi mantido internado por opção do tutor. Foram solicitados
retornos semanais para avaliação do mesmo e acompanhamento da evolução do
quadro. Quatro dias após a realização da biópsia observou-se deiscência das
suturas, por se tratar de uma área contaminada, próxima a articulação e de fricção
constante. Foi indicado então a cicatrização por segunda intenção (figura 3).
Sessenta dias após a realização do procedimento cirúrgico o local da lesão estava
completamente cicatrizado.

Figura 3. Lesão após a deiscência das suturas. (Fonte: OLIVEIRA, 2018)


O paciente apresentava esternutações frequentes quando exposto a estresse.
Oito meses após o início do tratamento houve recidivas das lesões cutâneas acima
do olho direito, sendo realizado Itraconazol 100mg/animal por mais 30 dias. Após
doze meses do início do tratamento foram observadas novamente recidivas das
lesões cutâneas, porém na mucosa nasal, além de lacrimejamento no olho direito,
sendo indicado novamente o uso de Itraconazol 100 mg/animal por 30 dias.
O paciente continua sendo acompanhado pelo veterinário mensalmente.

3. DISCUSSÃO

A anamnese e o exame físico foram fundamentais para guiar o médico


veterinário quanto à conduta diagnóstica e terapêutica.
Por se tratar de um fungo oportunista (LIMA et al., 2018), provavelmente o
fator determinante para o desenvolvimento do agente foram os momentos de
estresse no qual o paciente foi submetido durante a ausência do tutor, uma vez que
estresse é um dos principais fatos imunossupressores (NELSON, COUTO, 1994).
Além disso, o acesso a áreas externa da residência, como o quintal e o telhado,
certamente ofereceram condições para que o paciente entrasse em contato com o
fungo e desenvolvesse as lesões cutâneas e a sinais respiratórios, o que corrobora
com os dados descritos na literatura (JULIANO et al., 2006). Segundo Ramos (2015)
a principal via de infecção é a inalatória, porém pode ocorrer a inoculação cutânea,
mesmo sendo rara.
Apesar de ser felino macho adulto com histórico de imunossupressão, que
segundo Lima (2018) apresentam uma maior chance de adquirir a doença, o
diagnóstico definitivo apenas pode ser obtido por meio do exame histopatológico. O
histopatológico, juntamente com a cultura microbiológica são os métodos mais
indicados para se alcançar o diagnóstico da doença (RAMOS, 2015).
A conduta terapêutica adotada baseou-se no uso de antifúngicos indicados
pela literatura (RAMOS, 2015). Após o procedimento cirúrgico para coleta de
material para o histopatológico, foi prescrito um antiinflamatório não esteroidal e um
opioide, uma vez que foi necessária a cicatrização por segunda intenção. Essa
associação medicamentosa atua no bloqueio da dor e reduz a inflamação (ALEIXO
et. Al., 2017).
Apesar da regressão dos sinais respiratórios e das lesões após 60 dias de
tratamento, pode se observar quadros de recidivas ao longo de um ano. Este fato
pode ser justificado por se tratar de um fungo intracelular facultativo, reduzindo
assim a sua exposição aos agentes antifúngicos. Segundo a literatura, é indicado a
manutenção terapêutica por no mínimo seis meses com antifúngicos adequados
(SOUZA, 2016).
Segundo Ferreira (2012) algumas medidas de prevenção podem contribuir
para o controle desta doença, como não oferecer água, alimento e abrigo a pombos
e realizar limpeza diária de excrementos, restringir o acesso dos felinos a rua e
telhados, e promover atividades educativas que informem os aspectos
epidemiológicos da doença para a população.

4. CONCLUSÃO

Os métodos diagnósticos e terapêuticos adotados pelo médico veterinário


foram extremamente importantes para a rápida intervenção e reversão do quadro
clínico do paciente. Porém, devido o mesmo ser muito reativo às adversidades do
ambiente, o que provoca o estado de estresse, e se tratar de um fungo oportunista,
quadros de recidivas foram observados. Portanto, torna-se fundamental o
acompanhamento médico periódico do paciente, a reavaliação da conduta
terapêutica, a adoção de medidas preventivas no ambiente em que o animal vive,
bem como a conscientização do tutor.
REFERÊNCIAS

ALEIXO, Grazielle A. et. al. Tratamento da dor em pequenos animais: classificação,


indicações e vias de administração dos analgésicos (revisão de literatura: parte II).
2017. 12 p. Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRP; Centro Universitário
Maurício de Nassau - UNINASSAU. Jun. 2017. Recife - PE.

FERREIRA, Fernanda P. Criptococose e sua importância em Saúde Pública -


Revisão de Literatura. 2012. Disponível em:
https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/veterinaria/criptococose-e-sua-
importancia-em-saude-publica-revisao-de-literatura/58018. Acesso em: 26. fev.
2019.

JULIANO, Raquel S.; SOUZA, Alda I.; SCHEIDE, Renata. Criptococose Felina.
Relato de caso. 2006. 70 p. REVISTA DE PATOLOGIA TROPICAL. Vol. 35. Jan –
Abr. 2006. Goiânia – GO. 2006.

LIMA, Patrícia Q.; OLIVEIRA, Fernanda P.; MARCIANO, José A. Criptococose em


Gato – Relato de Caso. 2018. REVISTA CIENTÍFICA DE MEDICINA VETERINÁRIA
- ISSN 1679-7353 Ano X - Número 30 – Janeiro de 2018 – Periódico Semestral.
Adamantina – SP. 2018

NELSON, Richard W; COUTO, C. Guilhermo. Fundamentos de Medicina Interna de


Pequenos Animais. 1. Ed. Rio de Janeiro – RJ. Guanabara Koogan S. A. 1994.

RAMOS, Danielle L. Criptococose em gatos. 2015. 53 p. Trabalho de Conclusão de


Curso (Bacharel em Medicina Veterinária). Universidade de Tuiuti do Paraná – UTP.
Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde. Curitiba. 2015.

SOUZA, Mary’Anne R. Criptococose em Felinos - Relato de Caso. 2016. 31 p.


Trabalho de Conclusão de Pós Graduação em Clínica Médica de Felinos. Centro
Universitário CESMAC. São Paulo - SP. 2016.

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