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CUIDADO

INTEGRAL À
SAÚDE DO
ADULTO I

Renata de Paula Fara Rocha


Técnicas e cuidados
de enfermagem no
paciente oncológico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Fornecer dados epidemiológicos e de impacto na assistência em


saúde, abordando os principais tipos de câncer que atingem as mu-
lheres e os homens.
„„ Descrever as técnicas cirúrgicas especiais para o tratamento do câncer.
„„ Identificar a técnica de punção por hipodermóclise no tratamento
do câncer.

Introdução
Nos últimos anos, tem-se observado uma alteração da pirâmide etária no
Brasil e no mundo: há um aumento da expectativa de vida da população,
o que faz com que ocorra um aumento da população idosa. Nessa po-
pulação, há a prevalência das doenças crônicas não transmissíveis, entre
as quais se destaca o câncer.
Por isso, esforços vêm sendo envidados para o controle e a prevenção
dessa doença, que se manifesta em diversos tipos, mas com fatores de
risco em comum, já bem evidenciados pelas pesquisas científicas. Nesse
contexto, o enfermeiro é o profissional da equipe de saúde que atua em
todos os estágios da doença, desde a prevenção até os cuidados paliati-
vos. Assim, a assistência de enfermagem exerce um papel fundamental
para a qualidade de vida do paciente oncológico.
Neste capitulo, você vai conhecer os dados epidemiológicos do câncer
e seu impacto na assistência em saúde, vendo os principais tipos de câncer
que atingem as mulheres e os homens, aprendendo sobre as técnicas
cirúrgicas especiais para o tratamento do câncer e identificando a técnica
de punção por hipodermóclise no cuidado do paciente com essa doença.
2 Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico

Dados epidemiológicos e seu impacto na


assistência em saúde: os principais tipos
de câncer em mulheres e homens
O câncer é uma patologia na qual ocorre um crescimento anormal e desor-
denado de células com potencial de invadir outros órgãos e tecidos (INCA,
2019). Essa doença pode ter diversas causas, que podem ser classificadas
em externas (presentes no meio ambiente, em hábitos e estilos de vida), as
maiores responsáveis, ou internas (como hormônios, condições imunológicas
e mutações genéticas).
Essa patologia apresenta números importantes para a saúde pública: estima-
-se que cerca de 13% de todas as causas de óbito no mundo estejam relacionadas
ao câncer. Anualmente, mais de 7 milhões de pessoas morrem devido a essa
doença (BRASIL, 2009).
Em 2012, ocorreram 14,1 milhões de casos novos de câncer no mundo e
8,2 milhões de óbitos. O sexo masculino apresenta um predomínio de câncer
tanto na incidência (53%) quanto na mortalidade (57%) (INCA, 2018).
Quanto ao impacto na saúde, o câncer e seu tratamento representam um alto
custo para o sistema de saúde. Dados mostram que, entre 1999 e 2015, os gastos
com o tratamento do câncer ficaram em torno de R$ 3,3 bilhões de reais — 70%
desse valor foi gasto somente com o tratamento quimioterápico (INCA, 2018).
Quanto mais tardiamente o câncer for diagnosticado, maiores serão os
gastos, daí a importância de estratégias de prevenção e rastreamento.
No estudo de Ferlay et al. (2015), os tipos de câncer mais incidentes no
mundo foram os de pulmão (1,8 milhão), mama (1,7 milhão), intestino (1,4
milhão) e próstata (1,1 milhão). Nos homens, os mais frequentes foram de
pulmão (16,7%), próstata (15,0%), intestino (10,0%), estômago (8,5%) e fígado
(7,5%). Em mulheres, as maiores frequências foram encontradas na mama
(25,2%), no intestino (9,2%), pulmão (8,7%), colo do útero (7,9%) e estômago
(4,8%) (FERLAY et al., 2015).
A incidência de câncer no Brasil é estimada em 600 mil casos novos a
cada ano.

Mulheres
Segundo o INCA (2018), o câncer de mama apresenta maior incidência em
mulheres e é seguido do de cólon e reto e do de colo do útero. No Quadro 1,
a seguir, você pode conferir a incidência, no Brasil, dos diferentes tipos de
câncer nas mulheres no ano de 2018.
Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico 3

Quadro 1. Incidência, no Brasil, dos diferentes tipos de câncer nas mulheres em 2018

Localização primária Casos novos %

Mama feminina 59.700 29,5%

Cólon e reto 18.980 9,4%

Colo do útero 16.370 8,1%

Traqueia, brônquio e pulmão 12.530 6,2%

Glândula tireoide 8.040 4,0%

Estômago 7.750 3,8%

Corpo do útero 6.600 3,3%

Ovário 6.150 3,0%

Sistema nervoso central 5.510 2,7%

Leucemias 4.860 2,4%

Linfoma não Hodgkin 4.810 2,4%

Cavidade oral 3.500 1,7%

Pele melanoma 3.340 1,7%

Bexiga 2.790 1,4%

Esôfago 2.550 1,3%

Laringe 1.280 0,6 %

Linfoma de Hodgkin 1.050 0,5%

Todas as neoplasias, exceto pele não melanoma 202.040

Todas as neoplasias 282.450

Fonte: Adaptado de INCA (2018).

O câncer de mama tem diversos fatores de risco, como: idade (incidência


maior em mulheres com mais de 50 anos), obesidade, sedentarismo, consumo
de bebida alcóolica, exposição a radiações ionizantes, menarca precoce, nuli-
paridade, gravidez após os 30 anos, uso de contraceptivos hormonais e história
familiar. Esse tipo de câncer pode ser detectado precocemente e a principal
estratégia é o autoexame das mamas (Figura 1).
4 Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico

Leitores do material impresso, para visualizar as figuras


deste capítulo em cores, acessem o link ou o código QR
a seguir.

https://qrgo.page.link/4nW4

Figura 1. Autoexame das mamas.


Fonte: Adaptada de YURII MASLAK/Shutterstock.com.
Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico 5

Alimentação não saudável, sedentarismo, tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas


são reconhecidos como fatores de risco comuns a qualquer tipo de câncer. Assim, a
prevenção do câncer passa por estratégias de prevenção desses fatores.

No autoexame, a mulher pode identificar a presença de nódulos, retração


na pele, alterações no mamilo, nódulos na região axilar ou saída de líquido
pelo mamilo. A detecção precoce possibilita a realização de tratamentos menos
agressivos e com grande chance de cura (INCA, 2018). Além do autoexame,
o Ministério da Saúde recomenda a realização de mamografia como forma
de rastreamento para mulheres entre 50 e 69 anos.
O câncer colorretal, ou cólon e reto, é o segundo tipo de câncer mais
frequente nas mulheres e o terceiro nos homens. Se detectado precocemente,
tem altas chances de cura. Seus fatores de risco são: idade maior de 50 anos,
obesidade, alimentação não saudável (consumo de carnes processadas e carne
vermelha aumenta o risco para este câncer), radiação ionizante, história fa-
miliar, tabagismo e consumo de bebidas alcóolicas. Seus principais sinais e
sintomas são: sangue nas fezes, alteração de hábito intestinal, dor, fraqueza
e perda de peso (PRONIN, 2018). Os principais exames diagnósticos são a
pesquisa de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia.
O terceiro tipo de câncer mais frequente nas mulheres é o câncer de colo
de útero, que é causado pela infecção por tipos oncogênicos do papilomavírus
humano (HPV). Os fatores de risco são relacionados principalmente à atividade
sexual, como o início precoce e a multiplicidade de parceiros (ARRUDA et
al., 2013). Dessa forma, o uso de preservativos é uma excelente forma de
prevenção. O tabagismo e o uso de contraceptivos hormonais também são
indicados como fatores de risco.
Desde 2014, o Ministério da Saúde disponibilizou à população a vacina
contra o HPV. Atualmente, a recomendação é que a vacina seja aplicada nas
meninas de 9 a 14 anos e nos meninos de 11 a 14 anos.
A detecção é feita pelo exame colpocitológico ou papanicolau.
6 Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico

Homens
Nos homens, os órgãos mais atingidos pelo câncer são a próstata, o trato
respiratório (traqueia, brônquio e pulmão) e o cólon e o reto. O Quadro 2, a
seguir, apresenta a incidência, no Brasil, dos diferentes tipos de câncer nos
homens no ano de 2018.

Quadro 2. Incidência, no Brasil, dos diferentes tipos de câncer nos homens em 2018

Localização primária Casos novos %

Próstata 68.220 31,7%

Traqueia, brônquio e pulmão 18.740 8,7%

Cólon e reto 17.380 8,1%

Estômago 13.540 6,3%

Cavidade oral 11.200 5,2%

Esôfago 8.240 3,8%

Bexiga 6.690 3,1%

Laringe 6.390 3,0%

Leucemias 5.940 2,8%

Sistema nervoso central 5.810 2,7%

Linfoma não Hodgkin 5.370 2,5%

Pele melanoma 2.920 1,4%

Glândula tireoide 1.570 0,7%

Linfomas de Hodgkin 1.480 0,7%

Todas as neoplasias, exceto pele não melanoma 214.970

Todas as neoplasias 300.140

Fonte: Adaptado de INCA (2018).


Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico 7

O câncer mais frequentemente encontrado na população masculina é o câncer


de próstata. É mais comum na população acima de 65 anos, de modo que a
idade é um importante fator de risco. Outros fatores de risco são história familiar,
obesidade e exposição a agentes carcinogênicos (arsênio, aminas, entre outros).
Quanto à sintomatologia, o paciente pode ser assintomático nas suas fases
iniciais, sendo importante, portanto, o seu rastreamento, que é realizado pelo
exame de toque retal e da dosagem do antígeno prostático específico (PSA).
Nos quadros mais avançados, o paciente pode apresentar dificuldade para
urinar, diminuição do jato de urina ou hematúria. A detecção precoce favorece
a obtenção de um melhor prognóstico.
O segundo tipo de câncer mais frequente nos homens é o que envolve órgãos
do trato respiratório, como traqueia, brônquios e pulmões. O tabagismo e
a exposição ao cigarro são os principais fatores de risco desse câncer, mas
também se destacam fatores como idade, exposição a agentes químicos ou
físicos e história familiar. As manifestações clínicas mais frequentes são tosse,
dispneia, hemoptise, rouquidão e cansaço, e o diagnóstico é feito a partir de
exames clínicos e radiológicos.

Técnicas cirúrgicas especiais


para o tratamento do câncer
Para o tratamento do câncer, usualmente, são utilizadas três estratégias: a qui-
mioterapia, a radioterapia e a cirurgia. A quimioterapia consiste na adminis-
tração de drogas antineoplásicas e tem como objetivo impedir a multiplicação
da célula tumoral. A radioterapia consiste no uso de radiação para destruição
das células tumorais. Já a cirurgia consiste na remoção do tumor. Existem
diversas técnicas cirúrgicas, mas as mais modernas são menos invasivas,
utilizam diferentes tipos de instrumentais cirúrgicos, são menos dolorosas e
favorecem um tempo de recuperação menor.
Atualmente, as técnicas cirúrgicas especiais utilizadas no Brasil são: ci-
rurgia a laser, eletrocirurgia, criocirurgia, cirurgia de Mohs, ablação por
radiofrequência e cirurgias por vídeo.

Cirurgia a laser
As cirurgias desse tipo utilizam o laser, que é um feixe de energia altamente
concentrado, para destruir as células tumorais. O uso do laser pode ser cirúrgico
ou para biópsia (INSTITUTO ONCOGUIA, 2018).
8 Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico

Como o laser pode ser direcionado para a lesão tumoral, destruindo o tumor
com precisão, sem a necessidade de uma grande incisão, considera-se esse
tipo de cirurgia como menos invasiva do que a cirurgia tradicional. O laser
também pode ser usado em cirurgias de fotoablação ou fotocoagulação — neste
caso, ele é utilizado para destruir tecidos ou selar tecidos e vasos sanguíneos.
A Figura 2, a seguir, ilustra o laser na célula cancerígena.

Figura 2. Cirurgia a laser no câncer.


Fonte: Kateryna Kon/Shutterstock.com.

Eletrocirurgia
Esta técnica utiliza a corrente elétrica de alta frequência para destruir as
células (INSTITUTO ONCOGUIA, 2018). A corrente elétrica é produzida
por um gerador, chega ao órgão alvo através de um eletrodo e sai por um
eletrodo neutro (TRINDADE; GRAZZIOTIN; GRAZZIOTIN, 1998). Quando
essa corrente elétrica encontra uma resistência, produz calor, que exerce seus
efeitos terapêuticos de corte ou coagulação.
A principal complicação relacionada a essa técnica cirúrgica é a queima-
dura. Um cuidado fundamental nesse tipo de cirurgia é a retirada de adornos
metálicos, que podem oferecer um caminho alternativo para a saída da corrente
elétrica do corpo do paciente, o que pode produzir queimaduras.
Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico 9

Veja, no link a seguir, uma exemplificação da eletrocirurgia.

https://qrgo.page.link/PZjMS

Criocirurgia ou crioablação
Esta técnica cirúrgica consiste na introdução de uma sonda de metal resfriada
com nitrogênio líquido diretamente no tumor, de modo que as células anormais
são destruídas por congelamento (INSTITUTO ONCOGUIA, 2018).
Os mecanismos que estão envolvidos na destruição celular são a desidrata-
ção osmótica, a desnaturação enzimática, a disfunção e a ruptura da membrana
celular e alterações estruturais vasculares.
A criocirurgia pode ser realizada por meio de cirurgia aberta, laparoscopia
ou por via percutânea. A cirurgia aberta raramente é utilizada, pois a crioci-
rurgia (Figura 3) prevê ser minimamente invasiva.

Figura 3. Criocirurgia.
Fonte: Tarantino (2009, documento on-line).
10 Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico

Cirurgia de Mohs
A técnica de Mohs é utilizada no tratamento de câncer de pele. A retirada
tecidual é feita por camadas, que são avaliadas ao microscópio imediatamente.
Essas camadas são retiradas até que não seja identificado tecido tumoral na
amostra retirada a partir de mapeamento cirúrgico e histológico.
A cirurgia de Mohs (Figura 4) é utilizada quando não se conhece a extensão
da doença ou quando é necessário preservar o máximo de tecido saudável.
Geralmente, utiliza-se anestesia local.

Figura 4. Cirurgia de Mohs.


Fonte: Maurício Paixão Dermatologia (2016, documento on-line).

Ablação por radiofrequência


A ablação por radiofrequência (ARF) (Figura 5) é a técnica em que se utiliza
calor no local do tumor com o objetivo de causar coagulação e destruição das
células tumorais por meio do aquecimento.
Um eletrodo especial para ARF é introduzido de forma percutânea na
lesão e um gerador de corrente de radiofrequência é conectado. Dessa forma,
a energia é liberada, causando a destruição celular.
Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico 11

Esta técnica é utilizada, por exemplo, em tumores hepáticos maiores que


2 cm e pode ser aplicada para tratamento de tumores nos rins, pulmões e
outros órgãos.
A introdução do eletrodo para ARF pode ser via percutânea, laparoscópica
ou intraoperatória. A indicação depende da acessibilidade da lesão, porém,
na maioria dos casos, utiliza-se a técnica percutânea (CÂMARA..., 2010).

Figura 5. Ablação por radiofrequência.


Fonte: Ridolfi (2018, documento on-line).

Cirurgias por vídeo


Nas cirurgias por vídeo, um tubo fino e flexível com uma pequena câmera na
extremidade é inserido dentro de uma cavidade (INSTITUTO ONCOGUIA,
2018). Dessa forma, é possível a visualização do interior do órgão por um
monitor, o que permite a avaliação do tumor e dos órgãos adjacentes.
A cirurgia por vídeo é utilizada em vários tipos de tumores, como no câncer
de cólon, reto, fígado, próstata, útero e rim. O melhor prognóstico nos casos
de câncer ocorre quando o diagnóstico é feito precocemente e a remoção total
do tumor é realizada.
12 Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico

A Figura 6, a seguir, apresenta o esquema de uma laparoscopia.

Vídeo
Instrumentos
Câmera laparoscópicos

Intestino

Frente do paciente Visão lateral do paciente


Figura 6. Laparoscopia.
Fonte: Adaptada de VectorMine/Shutterstock.com.

Técnica de punção por hipodermóclise


no tratamento do câncer
Quando o tratamento é incapaz de combater o câncer e não há mais possi-
bilidade de cura, inicia-se o cuidado paliativo com o paciente. Esse tipo de
cuidado tem uma proposta multiprofissional e o objetivo de controlar sintomas
que causam sofrimento físico, psíquico ou espiritual e apresentam um impacto
negativo na qualidade de vida dos pacientes.
O cuidado paliativo sugere a realização de cuidados de forma holística e
que atenda às necessidades do paciente nas várias dimensões: física, psíquica,
social ou espiritual (SILVA; SANTOS, 2018).
Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico 13

Pacientes com câncer fora de possibilidade terapêutica apresentam alte-


rações clínicas, como vômitos incoercíveis, disfagia, obstrução intestinal,
dispneia, desidratação, astenia, delírio e dor (PONTALTI et al., 2016).
Para controle dessas manifestações clínicas, é necessária a instalação de
uma via parenteral para administração de medicamentos, uma vez que a via
oral pode não estar disponível.
Vale ressaltar que a maioria dos pacientes em cuidados paliativos apre-
sentam uma rede venosa periférica precária, o que ocorre em decorrência de
múltiplas punções, déficit nutricional, ação esclerosante dos quimioterápicos
e condições clínicas do paciente (SILVA; SANTOS, 2018).
Sendo assim, uma possibilidade é a utilização da via subcutânea para a
infusão de medicamentos. Essa via apresenta a mesma eficácia da via en-
dovenosa e tem como vantagem o fato de ser menos dolorosa e com raros
eventos adversos. Além disso, está de acordo com os princípios dos cuidados
paliativos, pois visa o menor sofrimento e a maior eficácia.
A administração de drogas pela via subcutânea é denominada hipoder-
móclise. Veja, na Figura 7, as camadas da pele e o espaço subcutâneo.

Epiderme

Derme

Tecido subcutâneo
Músculo

Figura 7. Camadas da pele.


Fonte: Adaptada de Yevgenij_D/Shutterstock.com.
14 Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico

A pele é composta por três camadas: a epiderme, a derme e a hipoderme


(tecido subcutâneo). A epiderme é a camada mais externa e tem como função
a proteção do organismo. A derme é a camada intermediária e é composta
por tecido fibroso, fibras de colágeno reticulares e elásticas. A hipoderme
é a camada mais profunda e sua principal função é o depósito nutritivo de
reserva, que funciona como isolante térmico e proteção mecânica (PAULA
et al., 2016). O tecido subcutâneo possui capilares sanguíneos, o que o torna
uma boa via para a administração de fluidos.
A Figura 8 apresenta a punção subcutânea diferenciada da punção
intramuscular.

Injeção subcutânea Injeção intramuscular

Pele
levantada
Epiderme
Derme
Tecido Pele esticada
subcutâneo

Músculo Músculo

Figura 8. Punção subcutânea e punção intramuscular.


Fonte: Adaptada de Blamb/Shutterstock.com.

São indicações para o uso da hipodermóclise: impossibilidade de uso da via


oral, impossibilidade de acesso venoso e possibilidade de cuidado domiciliar.
As contraindicações são: distúrbios de coagulação, edema, risco de sobrecarga
volêmica (BRASIL, 2009).
Os medicamentos e fluidos administrados por meio da hipodermóclise
são absorvidos através do mecanismo da difusão capilar. A farmacocinética
dos medicamentos administrados por via subcutânea é semelhante à dos
Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico 15

medicamentos administrados pela via intramuscular, mas a via subcutânea


apresenta tempo de ação prolongado (BRUNO, 2015). Além disso, drogas
isotônicas e hidrossolúveis são bem toleradas por essa via de administração.
Veja, no Quadro 3, as vantagens e desvantages da hipodermóclise.

Quadro 3. Vantagens e desvantagens da hipodermóclise

Vantagens Desvantagens

Baixo custo Tempo de infusão 1 ml/min

Mais confortável que a Volume máximo de 3 l/dia


via endovenosa fracionados em sítios diferentes

Maior facilidade de sítio de punção Pode causar edemas locais

Pode ser feita no domicílio, Administração de eletrólitos limitada


reduzindo, assim, as hospitalizações

Baixo índice de flebite Suplementos ou soluções


hipertônicas não são indicados

Não provoca infecções ou sepse Pode causar reações locais

Fácil manipulação Não é indicada em caso de


urgência e emergência

Não exige materiais complexos Não é indicada para tratamento


de infecções graves

Fonte: Adaptado de Bruno (2015).

Os locais mais indicados para a hipodermóclise são: a face externa das


coxas, a região escapular, a face anterolateral do abdome e a região torácica
superior, entre o 4º e 5º espaços intercostais. Esta última região deve ser evitada
nos pacientes com caquexia devido ao risco de pneumotórax (BRASIL, 2009).
A Figura 9 apresenta os locais de punção para administração de medica-
mentos pela via subcutânea.
16 Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico

Epiderme

Derme
Tecido
subcutâneo
Músculo

1. Parte externa
superior dos braços
2. Abdome
3. Nádegas
4. Parte externa
superior das coxas

Figura 9. Locais de punção para administração de medicamentos pela via subcutânea.


Fonte: Adaptada de Studio BKK/Shutterstock.com.

Os medicamentos mais já utilizados para essa via são os opioides, antibi-


óticos, antieméticos e sedativos. Eles devem ter pH próximo à neutralidade
e são hidrossolúveis.
Os principais medicamentos utilizados são: sulfato de morfina; brome-
tazida; ondansetrona; metadona; midazolan; prometazina; octreotide; me-
toclopramida; fenobarbital; escopolamina; dexametasona; clorpromazina;
clonidina; brometo de n-butil; ranitidina; garamicina; tramadol (FAIA, 2015).
Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico 17

Assista ao vídeo no link a seguir, que apresenta a técnica de administração de fluidos


por hipodermóclise.

https://qrgo.page.link/VYtDW

Técnica passo a passo


Veja o passo a passo da hipodermóclise segundo Santos (2012).

„„ Materiais necessários:
■■ solução preparada para ser instalada (soro, medicamentos);
■■ escalpes número 23, 25, 27;
■■ equipo com dosador ou bomba de infusão;
■■ solução antisséptica;
■■ gaze, luva de procedimento;
■■ filme transparente para fixar.
„„ Técnica:
■■ lavar as mãos;
■■ certificar-se de que o medicamento ou solução é compatível com
essa via;
■■ explicar ao paciente/família sobre o procedimento;
■■ escolher o local para a punção;
■■ preencher o circuito intermediário do escalpe com soro fisiológico
0,9%;
■■ fazer antissepsia e prega cutânea;
■■ introduzir o escalpe num ângulo de 45º abaixo da pele na prega
cutânea;
■■ fixar o escalpe com filme transparente;
■■ aspirar cuidadosamente de forma a garantir que nenhum vaso seja
atingido;
■■ aplicar o medicamento ou conectar o escalpe ao equipo da solução
e calcular o gotejamento;
■■ identificar a punção com data, horário, calibre do dispositivo, nome
do medicamento administrado e o nome do profissional que realizou
o procedimento.
18 Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico

A Figura 11, a seguir, mostra a fixação do acesso venoso subcutâneo para


hipodermóclise.

Figura 11. Escalpe de hipodermóclise fixado.


Fonte: Adaptada de Santos (2012).

Cuidados de enfermagem
„„ Recomenda-se a troca do sítio de punção a cada 48 ou 96h.
„„ A cada utilização da via, realizar desinfecção do lúmen de acesso e das
conexões com álcool 70%.
„„ Inspecionar o local da punção diariamente, observando sinais de irri-
tação, inflamação ou qualquer outro desconforto.
„„ Avaliar a presença de hematomas ou edemas, pois a sua presença pode
influenciar na absorção dos fluidos.
„„ Avaliar as características da solução a ser infundida e sua compatibi-
lidade com a via subcutânea. Soluções muito ácidas ou muito básicas
causam irritação local e precipitação.
Técnicas e cuidados de enfermagem no paciente oncológico 19

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