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9978-88449-6-1101201727
Guedes MCR, São Bento PAS, Telles AC et al. A vacina do papilomavírus humano e o câncer do colo...
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(1):224-31, jan., 2017 224
ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.9978-88449-6-1101201727
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Aproximadamente 100 tipos de HPV foram Alguns fatores foram elencados para
encontrados e tiveram seu genoma mapeado. justificar a não aceitação da população em
Destes, é sabido que os subtipos mais relação à vacina contra o HPV, dentre eles, o
significantes são: genótipos de baixo risco – fato de não ser considerada uma vacina de
HPV-6 e HPV-11 (causadores de verrugas rotina, ou seja, não está introduzida no
genitais e lesões benignas de baixo grau); de calendário desde as primeiras consultas à
alto risco – HPV-16, HPV-18, HPV-31, HPV-33 e unidade de saúde. A baixa frequência dos
HPV-45. Os HPV-16 e HPV-18 são os mais adolescentes aos serviços de saúde surge
comumente associados ao câncer do colo do como uma primeira barreira para adesão à
útero, com 75% de incidência dos casos deste vacina.16
tipo de câncer.1,7,11 Considerando a contextualização acima,
Estudos confirmam a presença do HPV em apresenta-se como objetivo deste artigo:
quase 100% dos casos desses cânceres. A promover reflexões sobre a vacina contra o
maior parte dessas infecções é assintomática papilomavírus humano (HPV) relacionadas à
e transitória, tornando-se completamente baixa adesão.
indetectável dentro de um a dois anos, mas a Espera-se, com a apresentação desta
infecção persistente pelo vírus favorece o reflexão, uma ampliação e fortalecimento do
desenvolvimento de lesões pré-cancerosas e, debate relacionado à vacina contra o HPV,
posteriormente, da neoplasia.12 oferecendo também uma compilação de
Outro ponto importante é que o tratamento informações sobre o tema, disponíveis na
para a infecção do HPV não irá, literatura especializada nacional e
necessariamente, erradicar o vírus, contudo, a internacional. Uma inclinação teórica,
vacina quadrivalente, que será abordada reflexiva e informativa acerca das
adiante, também é capaz proteger contra os dificuldades relacionadas à campanha
condilomas (HPV-6 e HPV-11). Ela é capaz de ministerial, no que tange a adesão à
prevenir verrugas genitais em meninos estratégia. Que o artigo em tela possa
/homens e o câncer do colo do útero em contribuir, também, como instrumento
meninas.13 Este é um ponto delicado, pois, didático para o ensino de graduação e pós-
quando se fala em prevenção do HPV, precisa- graduação, como subsídio informativo,
se refletir sobre a prevenção das demais IST, bibliográfico e para o fomento de novas
mormente HIV/Aids e Hepatites, com o uso do iniciativas de pesquisa sobre o tema em
preservativo. questão.
Assim sendo, mediante a apresentação
MÉTODO
deste quadro relevante para a saúde pública,
além das ações já instauradas, o MS lança mão Estudo descritivo, tipo de análise reflexiva,
de mais uma estratégia: a prevenção por meio a partir de documentos oficiais do Ministério
da imunização, uma vez que a prevenção da Saúde do Brasil, livro de enfermagem de
primária do câncer do colo do útero está referência internacional (com adaptação à
relacionada à diminuição do risco de contágio realidade brasileira), artigos nacionais e
pelo HPV.7 internacionais, ambos encontrados na BVS e
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Esse resultado fica ainda mais notório Pontos de partida e reflexão acerca de
quando avaliado o primeiro semestre de 2015, questões culturais e de estudos sobre os
período em que houve uma ampliação da faixa efeitos adversos
etária para a administração do As vacinas contra o HPV foram pensadas
imunobiológico, visto que apenas 58,85% da para representar uma abordagem útil e
população-alvo foram vacinadas, com uma objetiva na luta contra o câncer do colo do
redução de 23,71% que retornaram para dar útero, assim como outras vacinas que já vêm
continuidade ao esquema.22 sendo utilizadas e que apresentam um
Alguns fatores foram elencados para resultado satisfatório, onde os efeitos
justificar a não aceitação da população em positivos ultrapassam os efeitos relacionados
relação à vacina contra o HPV, dentre eles, o às reações adversas que podem ocorrer.17,23
fato de não ser considerada uma vacina de Discutir as fragilidades do cenário
rotina, ou seja, não está introduzida no anteriormente apontado permite refletir
calendário desde as primeiras consultas em sobre alguns aspectos que precisam ser
puericultura na unidade de saúde. A baixa abordados quando o tema é a vacina contra o
frequência dos adolescentes aos serviços de HPV. Por ser uma vacina que protege contra
saúde surge como uma primeira barreira para um vírus sexualmente transmissível, alguns
adesão à vacina.16 pais associam a vacina como estimulo para a
Deve-se ressaltar também que o amplo sexualidade, aquilo que consideram como
acesso às redes de comunicação e a precocidade. Abordar questões sobre
disseminação em massa de informações, sexualidade, início da vida sexual,
muitas vezes errôneas, aumentam a principalmente em meninas, e a prevenção
resistência relacionada à vacina. A divulgação das IST, é esbarrar em tabus da sociedade
dos eventos adversos pós-vacinação (EAPV) brasileira, principalmente quando atreladas a
assume papel de destaque na mídia, questões religiosas sensíveis que se opõem à
dificultando ainda mais a percepção da administração da vacina.16
população acerca dos benefícios da Em estudos mais recentes, realizados sobre
vacinação.16 Ao mesmo tempo, precisa-se a sexualidade de mulheres que receberam ou
reconhecer que o conhecimento de efeitos não a vacina contra o HPV, observou-se que a
adversos das vacinas pela população é um vacina não está associada com o aumento da
aspecto positivo quando observado pelo atividade sexual. Os resultados mostram que a
ângulo de que as pessoas são capazes de média de idade da primeira relação sexual não
buscar informação e tomar decisões, ainda sofreu grandes alterações entre os diferentes
que sem o julgamento se acertadas ou não. grupos.15,24
Dentre os fatores de resistência à vacina É preciso ponderar, com efeito, que
contra o HPV, não se pode deixar de incluir, qualquer estratégia relacionada à prevenção
neste entendimento, uma particularidade no de IST, seja ela qual for (neste caso, contra o
procedimento vacinal. Ela deve ser HPV), irá encontrar obstáculos de gênero no
administrada com a menina/adolescente que se refere à sexualidade feminina.
sentada e, após a administração, a mesma Obstáculos que precisam ser pensados e
deve permanecer em observação por alguns enfrentados, a partir de uma educação sexual
minutos, antes de ser liberada da unidade. responsável, que considere que a sexualidade
Este evento não ocorre com a aplicação dos das mulheres não é objeto de repressão e
demais imunobiológicos e o tempo de espera controles masculinos, seja da família,
para a observação de reações gera medo e, sociedade ou do Estado. A responsabilidade
nem sempre, a equipe de saúde consegue relacionada à prevenção de IST significa
tempo para realizar o adequado acolhimento a discutir as estratégias disponíveis e,
esta população.16-7 consequentemente, de livre escolha, no
Apesar de a vacina já ter sido estudada, sentido de se evitar as IST e as doenças que
assim como qualquer outro fármaco, pode podem gerar, independente dos conceitos,
apresentar eventos inusitados, sendo tabus, mitos, dogmas, entre outros aspectos
necessário que haja qualificação profissional que estão imbricados no delicado (e caro)
para o manejo correto das situações, tema, que é o início das relações sexuais de
notificação e investigação de todos os eventos mulheres, isto é, a aludida ‘perda da
que venham a ocorrer.16-7 Todavia, no que virgindade feminina’.
tange à vacina contra o HPV, não se podem Sobre os EAPV, o MS espera, entre eles, as
ignorar outros pontos de reflexão, mostrando reações locais (dor no local da aplicação,
que o assunto está longe de esgotar suas edema e eritema de intensidade moderada) e
possibilidades de discussão. reações sistêmicas (cefaleia, febre de 38ºC ou
mais, síncope e reações de
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hipersensibilidade). Por se tratar de uma adjuvante (qualquer substância que age para
vacina nova, com um grande público-alvo, a acelerar, prolongar ou aumentar uma resposta
vigilância ativa dos EAPV, composta por imune antígeno-específico), e que pode trazer
identificação, registro e manejo apropriado, é efeitos tóxicos para diversos órgãos e
imprescindível para avaliar a segurança do sistemas. Citam também a síndrome
produto.15 Percebe-se, contudo, que, por se inflamatória induzida por adjuvantes como um
tratar de um ato voluntário, nem sempre é efeito pós-vacinal e indutor da POI. Conclui,
possível estimar a frequência das reações, contudo, que os casos relatados de POI não
para se estabelecer uma relação causal com a podem ainda ser considerados exclusivamente
vacina.23 como efeito adverso da vacinação contra o
Nesse cenário, é necessário que os HPV e que estudos futuros devem trazem mais
profissionais envolvidos nesta estratégia elucidações acerca dos efeitos dos
estejam preparados para atuar nas diversas adjuvantes.25
situações que possam surgir e, especialmente, Um caso-controle de avaliação dos efeitos
que realizem as notificações dos EAPV não adversos, notificados em uma base de dados
graves e graves, para posterior investigação, americana da vacina quadrivalente, estudou
confirmação ou descarte dos casos.17 Somente 48.852 eventos num recorte temporal de 2006
analisando os dados reais já existentes é que a 2014. Os autores concluem que seu estudo
se torna possível avaliar o custo-efetividade epidemiológico fornece evidências que apoiam
de uma determinada terapêutica,2 entretanto, a significativa relação entre a administração
este é um assunto que carece de maior da vacina quadrivalente HPV4 e o surgimento
atenção, uma vez que têm surgido pesquisas de sérios eventos adversos autoimunes.
mostrando eventos adversos graves Dentre os desfechos específicos examinados,
relacionados à administração da vacina. Não é estão: gastroenterite; artrite reumatoide;
objeto do artigo em tela discutir ou refutar as trombocitopenia; lúpus eritematoso sistêmico;
estratégias ministeriais, mas cumpre lançar vasculites; alopecia; condições
luz nestes estudos. São pontos de partida. desmielinizantes do sistema nervoso
Afinal, para uma vacina recém-inserida no (esclerose múltipla; neurite óptica; mielite
calendário vacinal, os eventos adversos, que transversa); síndrome do intestino irritável.
podem surgir em longo prazo, devem ser alvo Com relação a danos ovarianos, estes incluem:
de observação atenta. atrofia; cistos; abscessos; falência; necrose;
Uma pesquisa retratou uma síndrome entre outros.26
denominada síndrome inflamatória induzida O desenvolvimento de uma vacina capaz de
por adjuvantes (ASIA). Trata-se de uma controlar o câncer associado ao HPV traz
síndrome que surge após uma estimulação do perspectivas interessantes em relação ao real
sistema imune por agentes com características benefício em termos de controle da doença.
adjuvantes e sinaliza que fenômenos Sua disponibilização gera uma expectativa
autoimunes pós-vacinais vêm sendo citados sobre uma futura redução de novos casos da
como causas possíveis, incluindo a vacina doença. Porém, de fato, o maior impacto das
quadrivalente contra o HPV. Este mesmo formulações vacinais foi econômico, produzido
estudo correlaciona a insuficiência ovariana pelas companhias farmacêuticas. O custo
primária (POI, sigla em inglês para primary elevado da vacina tem proporcionado lucros
ovarian insufficiency) como consequência da significativos aos fabricantes, despertando o
ASIA, trazendo para a discussão três casos interesse de muitos laboratórios. E o objetivo
clínicos, onde três jovens mulheres receberam principal – redução dos casos de câncer do
as três doses da vacina quadrivalente contra o colo do útero - permanece como uma dúvida,
HPV e desenvolveram as reações comumente pois as pessoas atendidas são as menos
esperadas, mas também a POI. Eles propensas a sentir os porvires graves da
descrevem ainda a POI como uma condição doença.11
clínica de etiologia complexa na qual cerca de CONCLUSÃO
20 a 30% dos casos estão associados a
mecanismos autoimunes.23 As considerações que encerram este artigo
Um estudo mais recente descreve a POI mais direcionam para pontos de partida, do
como uma condição multifatorial e que que para conclusões. O câncer do colo do
atualmente vem sendo associada à vacina útero é um grande problema de saúde
quadrivalente contra o HPV devido ao pública, sendo necessária a intensificação das
aumento de casos relatados após a vacinação. estratégias para detecção precoce, bem como
Nesta pesquisa, os autores fazem referência das medidas preventivas para controle da
ao alumínio, um metal presente na infecção por HPV. Independente da discussão
composição da quadrivalente, considerado um relacionada à vacina contra o HPV, permanece
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Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(1):224-31, jan., 2017 229
ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.9978-88449-6-1101201727
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.php Núcleo Interno de Regulação (NIR)
23. Colafrancesco S, Perricone C, Tomljenovic Avenida Rui Barbosa, 716, 5.º andar
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