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Microbiologia Clínica

1ª frequência

Licenciatura em Enfermagem

Elaborado por: Ana do Paço

Coimbra, 2021
Células eucariotas vs procariotas

Grupos Bactérias Algas, fungos e


protozoários
Tamanho 0,2/3 µm > 5 µm

Estruturas nucleares

Núcleo Sem membrana nuclear Com membrana nuclear

Cromossomas DNA circular Filamentos de DNA

Estruturas
citoplasmáticas

Mitocôndria Não Sim

Complexo de golgi Não Sim

Lisossomas Não Sim

Retículo endoplasmático Não Sim

Ribossomas 70S (50S + 30S) 80S (60S + 40S)

Membrana citoplasmática Sem esteroides Com esteroides

Parede celular Com peptidoglicano Ausente ou quitina

Reprodução Divisão binária Sexuada e assexuada

Morfologia bacteriana (Figura)


Cocos – redondos
Bacilos – bastonetes
Espirilos – forma curva. Dividem-se em vibrios (bastonete curvo), espirilos (bastonetes
com várias curvas) e espiroquetas (bastonetes em espiral).

Nota: Ao contrário dos cocos e bacilos os espirilos não agregam.

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Agregação bacteriana (figura)
Diplococos - 2 cocos
Estreptococos – cadeia de cocos
Tetrada – 4 cocos
Sarcinas – 8 cocos
Estafilococos – muitos cocos com organização aleatória
Diplobacilos – 2 bacilos
Estreptobacilos – cadeia de bacilos
Cocobacilos – junção de vários bacilos mais curtos.

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Tipos de agregação
Pares, cadeias, tétrada, sárcinas, agregação aleatória ou sem agregação.

Componentes célula procariota


- Genoma:
DNA cromossómico - nucleoide – molécula dupla de DNA
DNA extra-cromossómico – plasmídeos – Pequenas moléculas circulares de DNA que se
replicam de forma autónoma, possuem genes de resistência a antibióticos bem como outro
genes determinantes do fenótipo das células bacterianas.
Transposões - Sequências de DNA que se autotransportam para outras posições do genoma
(dentro da mesma célula). Podem causar mutações ao inserirem-se no genoma, podendo
também alterar o tamanho do genoma quando se copiam.

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- Citoplasma:
Ribossomas 70S – 2 subunidades - 30S (16S rRNA e 21 proteinas) e 50S (5S rRNA, 23S rRNA
e 34 proteínas).
Constituídos por 65% de rRNA e 35% por proteínas ribossomais. Promotores da síntese
proteica (são alvos preferenciais de antibióticos).
Vacúolos – reservatórios de substâncias formada por açúcares complexos (Ex.
Polissacarídeos).

Endósporo – formado só por algumas bactérias. A bactéria fica em estado de visa latente
enquanto as condições ambientais forem desfavoráveis e existir carência de nutrientes.
Principais géneros de bactérias formadoras de endósporo: Bacillus sp. e Clostridium sp. que
são Gram +. Ao Microscópio eletrónico os endósporos são identificados como uma zona
clara.

A formação do endósporo:
Não é um mecanismo de reprodução, mas sim um mecanismo de proteção da célula.
1º passo: Condensa o DNA e criam-se 2 cópias.

2º passo: Invaginação da membrana da célula mãe em torno do futuro espóro.

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3º passo: Nova invaginação da membrana da célula mãe em torno do futuro espóro.

4º passo: o espaço entre as membranas é preenchido


com peptidoglicano.

5º passo: Entram iões de cálcio o que faz sair a água.

6º passo: O endósporo é revestido com uma


proteína protetora (proteína coat)

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7º passo: Formação do exósporo só em algumas
bactérias

8º passo: lise da célula mãe e libertação do


espóro.

A resistência dos endósporos é devida:


- Presença de ácido dipicolínico no cerne do endósporo (15% do peso seco) – ajuda na
termoresistência.
- Presença de ácido dipicolínico + iões de cálcio (dipicolinato de cálcio) – Ajuda na
estabilização do DNA.
- Elevado grau de desidratação.
- Várias camadas – impermeável.

Germinação: processo em que o esporo dá origem à célula vegetativa.


3 Estágios:
1- Activação: processo que prepara o espóro para germinação (pode ser reversível)
2- Germinação: entumecimento devido à absorção de água do meio. Rutura ou
reabsorção da capa do espóro, perda de resistência e aumento da atividade
metabólica.
3- Crescimento: o metabolismo normal é retomado. Síntese dos constituintes
normais da célula. Inicia-se a divisão celular.

Membrana citoplasmática – separa a parede celular do citoplasma. Constituída por lípidos


(glicolípidos e dupla camada de fosfolípidos), e proteínas transmembranares ou intrínsecas.

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Função: funciona como 1 bactéria osmótica: permeabilidade seletiva da célula. Tem um papel
fundamental na divisão celular. Não apresenta esteróis na sua composição (exepção:
Mycoplasma e Ureaplasma).

Cápsula – Observada ao microscópio como uma zona mais clara em torno da bactéria.
Camada mais externa e viscosa, constituída por polissacarídeos e por vezes também
constituída por polipéptidos. Está relacionada com a virulência da bactéria, pois confere
resistência a fagocitose. Uma mesma espécie de bactéria pode ter cápsula ou não, estando
numa fase mais virulenta ou menos virulenta.

Quando as colónias são lisas existe cápsula em volta das bactérias (figura lado esquerdo),
quando são rugosas não tem capsula (figura lado direito)

Funções da cápsula:

1- Ligação das células ao hospedeiro


2- Fator de virulência

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3- Aumenta a resistência à desidratação
4- Proteção contra: infeção por bacteriófagos, anticorpos e antibióticos.
Ex: Principal agente da cárie dentária, Streptococus mutans, sintetiza uma cápsula
composta por glucano (homopolissacarídeo). O glucano ajuda a sua adesão ao esmalte,
favorecendo a colonização (divisão).

Flagelos: são organelos de locomoção, constituídos por uma estrutura proteica a flagelina.

Têm 3 partes:
1- Basal: Composta por vários anéis
que ancora o flagelo à membrana
plasmática.
2- Gancho: permite rotatividade
3- Longo filamento helicoidal: permite
o impulso.

Fímbrias: organelos filamentosos mais curtos e delicados que os flagelos. Estão presentes
principalmente nas bactérias Gram + .

Função: Favorece a aderência às mucosas.

Pili: fímbria que sofreu diferenciação em pili.

Função: troca de material genético durante a conjugação bacteriana.

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Parede celular
Estrutura rígida que rodeia a membrana citoplasmática
O principal constituinte é o peptidoglicano

Função:
- Confere forma às células
- Proteção da célula
- Barreira osmótica: mantém a pressão osmótica, impedindo o rompimento da célula devido à
entrada de água.
- Papel importante na divisão celular

De acordo com a parede celular as bactérias são classificadas como:


Gram+: maior quantidade de peptidoglicano o que torna a parede espessa e rígida.

Gram -: parede menos espessa, mais frágil e mais complexa que nas Gram+. Uma parede
estratificada, com uma camada de peptidoglicano e 1 membrana interna.

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Gram +
Camada espessa de peptidoglicano
Ácido teicoíco, e ácido lipoteicoíco perpendiculares ao peptidoglicano.

Gram –
Camada fina de peptodoglicano
Membrana externa de lipopolissacarideos (LPS) lipoproteínas e fosfolípidos.

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LPS- (1) contribuem para a integridade estrutural da bactéria, (2) protege a bactéria de certos
tipos de ataques químicos, (3) constituídos por uma endotoxina.

Os LPS são constituídos por:


- Antigénio O, reconhecido pelo sistema imunitário do hospedeiro.
- Core polissacarídeo, mais próximo da membrana externa.
- Componente tóxico lípido A – endotoxina (provoca resposta imunológica de pessoas e animais)

Peptidoglicano
Heteródimo rígido e insolúvel na H2O, constituído por cadeias lineares de 2 açúcares aminados
(ácido n-acetilglucosamida (NAG) e ácido acetilmurânico (MAM)).
O NAG e o NAM estão ligados entre si por ligações por ligações glicosídicas (β1-4).
As cadeias lineares de NAG e NAM ligam-se entre si através de cadeias de 4 aminoácidos –
cadeias peptídicas.

Ligações glicosídicas: entre as esferas

Ligações peptídicas: entre linhas de esferas

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Técnica de coloração Gram:
Permite detetar e identificar os 2 tipos de parede celular.

Exemplos de Gram+: Staphylococcus aureus, Lactobacillus bulgaricus, Streptococcus


thermophiles.
Exemplos de Gram - : E. coli e Neisseria

Método: (1) fixação, (2) violeta cristal, (3) iodo, (4) descloração, (5) safranina.

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Bactérias com parede celular atípica

Exemplos: Mycoplasma, Ureaplasma, Chlamydia, Rickettsia


Sem verdadeira parede celular. Técnica de Gram não aplicável

Ou

Mycobacterium
Com parede celular mas ácido/álcool resistentes (coloração de Ziehl-Neelsen)

Mycoplasma e Ureaplasma
- Sem parede celular
- Algumas espécies são parasitas obrigatórios (apenas sobrevivem no interior de outras células)
- Podem viver e crescer fora das células nos fluídos corporais (parasitas não obrigatórios)
- São apenas controláveis por antibióticos como a tetraciclina e a eritromicina.
- Mycoplasma spp. e Ureaplasma spp. fazem parte microbiologia urogenital
- Bactérias associadas com infeções urogenitais – DST. Transmitidas sexualmente

Chlamydia e Rickettsia
- Parasitas intracelulares obrigatórios
- Bactérias associadas com infeções urogenitais. Transmitidas sexualmente.
- A Chlamydia tem uma parede celular sem peptidoglicano mas com LPS

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- A Rickettsia tem uma parede celular onde a quantidade de peptidoglicano é mínima e o LPS
tem fraca atividade como endotoxina.

Mycobacterium
- Parede mais espessa os que as torna mais resistentes a antibióticos e desinfetantes
- Tem que se tratar com um cocktail de antibióticos.

Genética Microbiana
- Genoma
DNA cromossómico: nucleoide
DNA extra-cromossómico: Plasmídeos, Transposões, e DNA de bacteriófagos

DNA: contém a informação genética da célula. Tem desoxirriboses, grupos fosfato e bases
nitrogenadas e é uma cadeia dupla. A sua replicação é feita de forma contínua e descontínua.
Continua: 1 cadeia é sintetizada na direção da origem de replicação 5’-3’.
Descontinua: cadeia sintetizada na direção contrária à origem de replicação formando-se os
fragmentos de okazaki.

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Tripleto de iniciação: local da cadeia onde se inicia a replicação.
Helicases: abrem a cadeia de DNA quebrando as ligações de hidrogénio entre as bases
complementares e dado origem a uma bolha de replicação.
Topoisomerases: evitam o enrolamento da cadeia durante a síntese.

DNA polimerase III: liga-se à zona do primer (sintetizado pela DNA primase) e continua o
processo de síntese (adição de nucleótidos) da cadeia que ocorre no sentido 5’-3’.

- RNA
-1 ribose, 1 grupo fosfato e 1 base nitrogenada. Difere do DNA por apresentar ribose em vez de
desoxirribose, Uracilo em vez de Timina (bases nitrogenadas) e cadeia simples.

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Existem 3 tipos de RNA:
- RNA mensageiro (mRNA)
- RNA de transferência (tRNA) – forma uma estrutura secundária
- RNA ribossómico (rRNA)

O tRNA transporta um aminoácido


específico de acordo com o seu
anticodão. Este anticodão é
complementar a um codão do mRNA.
Como a leitura do mRNA por tRNA no
ribossoma, vai-se formando uma cadeia
polipeptídica com uma sequência de
aminoácidos específica.

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Tabela que relaciona codões com aminoácidos.

Transcrição: processo de formação de uma cadeia de mRNA a partir de uma cadeia molde
de DNA. Este processo é catalisado pela enzima RNA polimerase.

Tradução: ocorre no ribossoma. Processo em que o mRNA é lido nos ribossomas originando-
se uma cadeia de aminoácidos.

Gene de resistência: codificam enzimas capazes de neutralizar determinados antibióticos


(vantagem para a célula bacteriana). Com a utilização generalizada de antibióticos, os
plasmídeos evoluíram de forma a conferir multirresistência às bactérias, o que está na origem
de doenças de difícil tratamento.

Transposões

- São sequencias de DNA capazes de se movimentar de 1 região para outra no genoma da célula.

- Têm muita influência na evolução de genomas dos organismos.

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Bacteriófagos

Os bacteriófagos podem ser benéficos para a bactéria (adição de novas funções ao genoma da
bactéria.

Exemplo: a inofensiva bactéria vibrio torna-se Vibrio cholera (causadora de cólera).

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Ciclo Lítico: as bactérias hospedeiras são infetadas e são destruídas rapidamente. Não há
inserção do DNA viríco no genoma da bactéria). O DNA viríco entra e as funções normais da
célula são interrompidas. O DNA viral é processado pela célula hospedeira. Formam-se
capsídeos que envolvem as novas moléculas de DNA viral. São produzidos novos vírus, ocorre
a lise celular e estes são libertados, infetando novas células.

Ciclo lisogénico: as células hospedeiras infetadas podem ser destruídas muito tempo depois
do bacteriófago infetar à célula. Este ciclo encaixa-se no lítico, pois acaba por terminar com
a lise bacteriana. Quando a célula mostra sinais de stress ou devido a fatores como radiações,
quimioterapia, os fagos endógenos tornam-se ativos novamente e iniciam o ciclo lítico,
resultando na destruição da célula hospedeira.

O DNA viríco inserido no genoma bacteriano


(profago) destaca-se e inicia-se o ciclo lítico.

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Mutações

- Alteração da sequência de DNA de um organismo.

- Podem ocorrer “erros” durante a replicação devido por exemplo a fatores externos físico
ou químicos.

- Muitas vezes esses erros são corrigidos pelas polimerases, caso contrário perpetuam-se nas
mutações.

- A taxa de mutação é baixa, no entanto, é fundamental para a evolução, pois é através desses
erros que novos alelos (formas variáveis do mesmo gene) se formam.

Classificação das mutações

1- Quanto à ocorrência: induzidas ou espontâneas


Induzida: ocorre pela ação de agentes mutagénicos, físicos (ex: raios X) (ex: substância
cancerígena) que destroem ligações químicas entre nucleótidos ou químicos.
Espontâneas: ocorrem naturalmente.

2- Quanto ao tipo de modificação: Silenciosa (alteração de uma base de DNA sem alterar
a cadeia de aminoácidos que se traduziu), missense (alteração de uma base de DNA com
alteração da cadeia de aminoácidos que se produziu) ou nonsense (substituição de uma
base de DNA originando 1 codão stop e consequentemente uma proteína truncada e
inativa).

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Mutação deleção/inserção

Uma base foi eliminada na cadeia de DNA (Ex: mRNA foi alterado originando o codão STOP
originando-se uma proteína inativa).

Recombinação
- Processo no qual elementos genéticos de um organismo se incorporam no genoma do
outro.

- As bactérias não apresentam reprodução sexuada, mas podem ocorrer misturas de genes
entre espécies diferentes, por 3 formas: conjugação, transformação e transdução.

Conjugação: mecanismo de transformação de genes com bactérias mediadoras por


um plasmídeo.

- Bactéria dadora F+

- Bactéria receptora F-

- Só há transferência de plasmídeos conjugativos (fator F).

- Ocorrência de conjugação é diretamente proporcional à proximidade taxionómica


ou genética dos conjugantes.

- Os plasmídeos passam a DNA linear aquando da conjugação.

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Transformação:

- Os genes são transferidos de uma bactéria para outra na forma de fragmentos de


DNA (ex: provenientes de células mortas).

- As bactérias transformadas passam a ter novas características hereditárias


condicionadas pelo DNA incorporado.

- Um fragmento de DNA capturado só será introduzido no cromossoma bacteriano


se for semelhante ao DNA da bactéria recetora.

Transdução:
- Transferência indireta dos segmentos de moléculas de DNA de uma bactéria para
outra.

- Se não ocorrer destruição da bactéria, ela pode multiplicar-se e originar 1


linhagem transduzida com novas características, adquiridas de outras bactérias
via fago.

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ANTIBIÓTICOS

Substâncias obtidas por um organismo (bactérias, fungos, actinomicetes ou plantas) ou obtidas


sinteticamente, o qual destrói ou inibe o crescimento de bactérias e outros microrganismos.

Um antibiótico para ser viável deve:

- Ter um efeito antimicrobiano de baixa concentração;

- Ser tóxico para o agente infecioso e não ter qualquer efeito prejudicial para as células do corpo.

- Usados de modo incorreto leva ao aparecimento de patogénicos resistentes, leva à


necessidade de novos fármacos e maiores custos de assistência médica.

Em 1929, Alexander Fleming, observou


que quando colónias de fungos
filamentosos Penicillum notatum
apareciam como contaminantes na
superfície de seus meios de cultura,
ocorria uma inibição no
desenvolvimento de colónias de
Staphylococcus aureus (isolado de
lesões e infeções da pele).

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Classificação dos antibióticos quanto à natureza

Naturais: moléculas produzidas a partir de metabolismo secundário de microrganismos (como


forma de inibir o crescimento ou mesmo de destruir outros organismos concorrentes.

Semi-sintéticos: são antibióticos naturais, modificados pela adição de grupos pela adição de
grupos químicos (potenciando a sua acçao tornando-os menos suscetíveis à inativação

por microrganismos (ex. Ampicilina, metacilina, etc…..).

Sintéticos: substâncias totalmente sintetizadas em laboratório (ex. Sulfonamidas, cloranfenicol,


antivirais, antiprotozoários, etc…).

Classificação dos antibióticos quanto ao espectro de atividade


Espectro amplo: Quando o antibiótico tem efeito em uma gama alta de microrganismos (Ex.
Tetraciclinas e Cloranfenicol).

Espectro restrito: Quando o antibiótico tem efeito sobre um grupo específico de bactérias.
Atualmente, nos laboratórios procura-se essencialmente isolar e purificar
antimicrobianos de espectro restrito.

Classificação dos antibióticos quanto ao tipo de efeito


Bacteriostático: O crescimento é inibido, não ocorre morte celular. Os antibióticos são
inibidores da síntese proteica (ex: Sulfonamidas, tetraciclinas, Cloranfenicol e
eritromicina, etc…).

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Bactericida: ocorre morte mas não lise celular.

Bacteriolítico: ocorre morte celular por lise.

Classificação dos antibióticos quanto ao modo de ação


1- Inibidores da síntese de Parede celular

1.1- β-lactâmicos
a) Penicilinas, metacilinas, ampicilinas
b) Cefalosporina
c) Carbapenemos
d) Ácido clavulâmico (inibe as β-Lactamases)

Só são bactericidas contra bactérias em crescimento, inibindo a síntese do peptidoglicano.


Penetram na célula e vão ligar-se às enzimas transglicosidases e transpeptidases designadas de
PBP (penicilina binding proteins), intervindo na síntese de peptidoglicano, inativando estas
enzimas. Ocorre assim uma ação descontrolada das autolisinas endógenas e consequente lise
bacteriana.

A síntese de novo peptidoglicano para permitir a células bacterianas alongarem e depois se


dividirem envolve 3 enzimas acima referidas:
a) Autolisinas: Quebram as ligações glicosídicas entre os monómeros (NAG e NAM) e as
ligações peptídicas entre as cadeias. Assim, novos monómeros podem ser adicionadas
à cadeia – autólise.
b) Transglicosidases: Inserem e ligam novos monómeros na zona das ligações glicosídicas.
c) Transpeptidases: refazem as ligações peptídicas. Transpeptidação alvo da penicilina.

Ligações glicosídicas: entre as esferas (NAM e


NAG)

Ligações peptídicas: entre linhas de esferas

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β-Lactamases: enzimas produzidas por algumas bactérias para inibir o antibiótico.

Lisozima: É encontrada nas lágrimas e no muco dos seres humanos, sendo também
produzida pelas bactérias e por outros organismos. A lisozima destrói o
esqueleto glicosídico do peptidoglicano, ou seja, destrói a camada protetora de muitas
bactérias. Semelhante às Autolisinas.

1.2- Cefalosporinas
Classificação em:

1ª geração: têm atividade contra Gram + e pouca atividade contra Gram –

2ª geração: apresentam atividade eficiente contra Gram + e Gram –

3ª geração: apresentam menor actividade contra Gram + porém com mais atividade
contra membros da família Enterobacteriacae.

4ª geração: têm um espectro de atividade semelhante ao da 3ª geração, mas com


maior estabilidade à hidrólise por β-lactamases.

1.3- Glicopeptideos (ex. Vancomicina)


Interrompem a síntese da parede de bactérias Gram +, especificamente, quebram a
ponte peptídica que liga as cadeias de peptidoglicano. Em virtude de seu grande
tamanho molecular, são incapazes de penetrar na membrana externa de bactérias
Gram -.

Antibióticos bactericidas

Ativos contra Estafilococos, Clostridium dificile, e outras bactérias Gram + resistentes


a antibióticos.

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1.4- Bacitracina
Eficiente contra bactérias Gram +, inibindo a fase final da síntese da parede celular (impede a
formação das ligações peptídicas ou destrói as já existentes).
Antibióticos de elevada toxicidade pelo que o seu uso é restrito a aplicações tópicas (pomadas).
Nefrotóxicos.

1.5- Isoniazida e etambutol (usados juntos)


Antibióticos usados no tratamento das infeções causadas por Mycobacterium (Micobactérias).
Bloqueiam a síntese de componentes da parede celular (Isoniazida para os ácidos micólicos e
etambutol para o arabinogalactano).

1.6- Fosfomicina

Espectro largo – infeções graves do trato urinário, cistites (inflamação na bexiga), causadas por
Gram – e do trato respiratório causadas por Gram +

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Antibióticos bacteriostáticos – bactericida

Inibe irreversivelmente a transferase enolpyruvate, o que impede a formação de ácidos N-


acetilmurâmico (NAM), 1ª etapa da formação da parede celular.

2- Alteração das membranas celulares

2.1- Polimixinas e daptomicinas

Destroem as membranas citoplasmáticas e membrana externa (Gram -). Possuem uma reação
tipo detergente e consequentemente leva à perda de material citoplasmático.

Efeito bactericida

Polimixinas: ativas contra bactérias Gram – em particular Pseudomonas. Antibióticos


nefrotóxicos.

Daptomicina: além de ter atividade contra bactérias Gram - tem também contra Gram + (Ex. S.
aureus MRSA e enterococos VRE).

Nota: a sigla MRSA significa Staphylococcus Aureus Resistente à Meticilina, e a sigla VRS
corresponde a Enterococos resistentes à vacomicina).

Para a infeção da pele e tecidos moles (músculos, tendões e ligamentos).


Administrada por via parenteral (injeção ou infusão) 1 vez/dia.

3- Inibição da síntese proteica

3.1- Aminoglicosídicos (ex: Gentamicina e estreptomicina)

Efeito bactericida e largo espectro

Ativos contra bacilos Gram – e algumas bactérias Gram + (Estafilococos anaeróbios são
resistentes).

Ligam-se irreversivelmente à subunidade 30S dos ribossomas, originando uma leitura errada do
mRNA.

Uso prolongado: nefrotóxicos e ototóxicos.

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3.2- Tetraciclinas (ex. tetraciclina)

Efeito bacteriostático e de largo espectro, incluindo Chlamydia, Mycoplama, e Ureaplasma.


Ligam-se à subunidade 30S, impedindo a ligação codão – anticodão.

3.3- Macrólidos (ex. eritromicina)


Efeito bacteriostático, largo espectro, ativos contra bactérias Gram + (usado em pacientes
alérgicos à penincilina), Chlamydia, Mycoplasma e Legionella.

Ligam-se a subunidades 50S dos ribossomas e bloqueiam o movimento de translocação do


ribossoma.

3.4- Fenicol (clorofenicol)


Efeito bacteriostático e de largo espectro

Antibiótico tóxico – inibe a síntese das proteínas nas células da medula óssea, podendo originar
anemia.

Administração limitada, apenas na febre tifoide

Liga-se à subunidade 50S ribossomal bloqueando o alongamento do polipeptídeo.

3.5- Licosamidas (Ex: Lincomicina)

Efeito bacteriostático

Ativo contra Staphylococus e bacilos Gram –

Anaeróbios (é indicado contra bactérias Gram – aeróbias)

3.6- Acido fusídico


Antibióticos ativo apenas para Staphylococos aureus (infeções cutâneas).
Liga-se à subunidade 50S, bloqueando o alongamento do polipeptídeo.

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4- Inibidores da síntese de ácidos nucleicos

4.1- Quinolonas

Efeito bactericida

Ativos contra bactérias Gram+ (1ª geração – ácido nalidíxico), gram+ e gram- (2ª geração –
cipofloxacina), bloqueiam a ação das topopoisomerases (ou DNA girase).

4.2- Rifampicinas: rifampicinas

Efeito bactericida

Ativo contra cocos Gram+ aeróbios e Mycobacterium tuberculosis

Bloqueiam a ação da RNA polimerase, não havendo síntese do mRNA.

4.3- Sulfonamidas e trimetroprim

Efeito bacteriostático e de largo espectro

Interferem na síntese dos percursores das bases de DNA

Impedem a síntese de ácido fólico (importante para a síntese de DNA e RNA)

Antibióticos de última opção - anti-metabolitos e inibidores de co-fatores

Linezolide e estreptograminas

Ativos contra Sthapilococus aureus metacilina resistentes (MRSA), Enterococus faecalis e E.


faecium resistentes à vancomicina (VRE)

Usados em infeções nosocomiais: pneumonias, infeção da pele e ósseas, infeções docorrentes


do uso de cateteres.

Sal bacteriostático

Inibem a síntese proteica, atuam na subunidade 50S

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Uma bactéria fica resistente à metacilina pois altera as PBPs e antibióticos β-lactâmicos não
conseguem inibi-las.

Antibiótico Ação Alvos


Inibidores da síntese de Parede celular
β-lactâmicos Bactericidas contra bactérias em crescimento Gram + e Gram -
Inibem transglicosidades e transeptidases
1ª geração: Inibem Gram + e pouca atividade Gram + e Gram -
contra Gram -
2ª geração: inibem Gram + e Gram - Gram + e Gram -
3ª geração: menor atividade contra Gram + Gram + e Gram – e
Cefalosporinas porem com mais atividade contra enterobactérias
enterobactérias
4ª geração: semelhante a 3ª geração mas Gram + e Gram – e
com maior estabilidade para a hidrólise das β- enterobactérias
lactamases
Glicopéptideos: Bactericidas contra Gram + Gram +
Vancomocina
Bacitracina Impede a formação de ligações peptídicas ou Gram +
destrói as já existentes
Isoniazida e Tratamento contra micobactérias Micobactérias
etambutol (usados A isoniazida atua contra os ácidos micólicos e
juntos) o etambutol contra o arabinogalactano
Fosfomicina Impede a formação de ácido-acetilmurâmico Gram + e Gram -
(NAM)
Alteração das membranas celulares
Polimixinas e Atuam como detergente na membrana Polimixinas Gram –
daptomicinas plasmática (Pseudomonas)
Daptomicinas: contra
MRSA e VRE
Inibidores da síntese proteica
Aminoglicosídicos: Ligam-se à subunidade 30S originando uma Gram + e Gram -
Gentamicina e leitura errada do mRNA
estreptomicina

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Tetraciclinas Efeito bacteriostático Largo espectro inclui
Ligam-se à subunidade 30S impedindo a Chlamydia,
ligação codão - anticodão Mycoplasma e
Ureaplasma
Macrólidos: Efeito bacteriostático Largo espectro inclui
eritromicina Ligam-se à subunidade 50S impedindo a a Chlamydia,
translocação do ribossoma Mycoplasma e
Legionella
Efeito bacteriostático Largo espectro
Tóxicos: administração limitada só em febre
Fenicol: clorofenicol tifoíde
Ligam-se à subunidade 50S bloqueando o
alongamento do peptídeo.
Licosamidas: Efeito bacteriostático Gram + anaeróbias
lincomicina
Ácido fusídico Ligam-se à subunidade 50S bloqueando o Staphylococcus
alongamento do peptídeo. aureus
Inibidores da síntese de ácidos nucleicos
Quinolonas Efeito bactericida Gram + (1ª geração)
Gram + ou Gram – (2ª
geração)
Rifampicinas Efeito bactericida Gram + aeróbicos
Bloqueio da RNA polimerase não havendo do
mRNA
Sulfonamidas e Efeito bacteriostático e de largo espectro
trimetroprim Interferem na síntese de percussores de
ácidos nucleicos
Antibióticos anti-metabolitos e inibidores de co-fatores
Linezolide e Infeções nosocomiais
estreptograminas
Sal bacterióstico Inibe na síntese proteica, atuam na MRSA e VRE
subunidade 50S

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MECANISMOS DE RESISTÊNCIA DAS BACTÉRIAS AOS ANTIBIÓTICOS

Resistência natural

Inerentes à própria bactéria

Componentes estruturais da célula

Especifica para alguns antibióticos

Resistência adquirida

Alterações genéticas

Mutações espontâneas ou aquisição de genes


exógenos por mecanismos de recombinação genética
transformação (conjugação, transdução e
transformação)

Mecanismos

1- Naturais / intrínsecos

Inativação do antibiótico: produção de enzimas que degradam/inativam a molécula do


antibacteriano (ex: β-lactamases).

Alteração do local de ação (alvo) do antibacteriano (ex: PBPs).

Diminuição da permeabilidade (alteração estrutural das porinas.

Expulsão do antibacteriano – bombas de fluxo (após entrar o antibiótico elas expulsam-


no).

2- Adquiridos

Transferência horizontal de genes (conjugação, transdução e transformação)


Relação parasita/hospedeiro (co-evolução)

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Os parasitas estão constantemente em evolução para maximizar a infeção e otimizar a
virulência
Os hospedeiros têm de evoluir rapidamente para minimizar infeção e virulência dos
parasitas.

Infeção/doença

1- Infeção: acontece quando o microrganismo se instala num hospedeiro


2- Doença: resulta do estado infecioso com a produção de sintomas

Poder patogénico = virulência – resistência

Dose infeciosa

Portadores assintomáticos

Portadores em fase de incubação

Portadores crónicos

Transmissão direta e indireta

Período de incubação

34
Hospedeiro – suscetibilidade e resistência

- Fatores genéticos

- Estado nutricional

- Idade

- Sexo

- Status imunológico

Agente – patogenicidade

- Dose infetante

- Tempo de exposição

- Local de entrada

- Adesão

- Multiplicação

- Virulência

Meio ambiente

- Condições climáticas (temperatura, humidade…..)

- Condições sócio – económico – Culturais

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Patogenicidade

Capacidade de causar doença superando as defesas de um hospedeiro.

Virulência

Grau ou intensidade da patogenicidade medida pela mortalidade produzida.

PROCESSO DE INFEÇÃO

1- Aderir e invadir o hospedeiro


2- Combater os mecanismos de defesa do hospedeiro (evasão)
3- Colonização e multiplicação (crescimento ou finalização do ciclo de vida no hospedeiro)

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a) Adesão:
Feita através de proteínas específicas (ex. adesinas) ou qualquer estrutura ou molécula
bacteriana envolvida na adesão aos tipos de hospedeiro.
Fimbrias – exemplo: Neisseria gonorrhoeae
Cápsula – exemplo: Streptococcus pneumoniae

b) Invasão (fator de virulência):


- Entrada facilitada: Lesões, úlceras, feridas e queimaduras
- Mecanismos de invasão bacteriana: enzimas extracelulares que facilitam a invasão
dos tecidos (hialuronidases que hidrolisam o ácido hialurónico, lecitinases lisam vários
tipos de células devido à hidrólise dos fosfolípidos da MC, colagenases destroem o
colagénio (ligação dos tecidos).
- Mecanismos de evasão bacteriana: Cápsula e enzimas extracelulares bacterianas
(hemolisinas lisam os glóbulos vermelhos, coagulases, protéases)
- Mecanismos da inibição da quimiotaxia das células do sistema imunitário
- Mecanismos de inibição do fagolisossoma (não sendo destruídas dentro dos
macrófagos).
- Mecanismo de inibição do sistema complemento

c) Colonização (fator de virulência):


- Exotoxinas, proteínas libertadas extracelularmente pela bactéria à medida que cresce
produzindo danos imediatos à célula hospedeira. Produzidas principalmente por
Gram+ e sensíveis ao calor. Ex: Clostridium tetáni (neurotoxina) e Vibrio cholarae
(enterotoxina)
- Endotoxinas, componentes da parede celular (LPS- Lipido A) de determinadas bactérias
as quais são libertadas por lise celular. Têm uma natureza lipopolissacaridea, são
produzidas por Gram-, resistentes ao calor, menos toxicas que as exotoxinas. Ex:
Salmonela e E. coli.

37
RESISTÊNCIA DO HOSPEDEIRO À INFEÇÃO

1. Não especifica (ou natural)


Mecanismos de defesa que protegem o hospedeiro de qualquer parasita (agente
patogénico)

Com ou sem exposição

2. Especifica (Imunidade)
Mecanismos de defesa em resposta a um determinado parasita (agente patogénico)

Após exposição ao agente patogénico


Resposta não especifica ou imunidade inata Resposta específica ou imunidade
específica
Barreiras naturais Resposta inflamatória, Imunidade humural, produção de
células fagocitárias, anticorpos, imunidade celular, células
febre, sistema B e T
complemento,
interferão, Natural
Killers (NK)

IMUNIDADE INATA

1ª linha de defesa

Barreiras naturais (barreiras mecânicas e físicas)

- Mecanismos externos: pele e pelos, secreções, mucosas da boca e nariz, muco e cílios da
nasofaringe.

- Mecanismos internos: pH do estomago e urina, células epiteliais intestinais

Barreiras Biológicas: microbioma do hospedeiro

Barreiras químicas: lisozima nas lágrimas e na saliva

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Processo de infeção Fatores de virulência
Adesão Adesinas, cápsula e fimbrias

Invasão/evasão Enzimas extracelulares, cápsula


Inibição dos mecanismos de defesa do
hospedeiro
Colonização/crescimento Exotoxinas e endotoxinas

Fatores de resistência dos hospedeiros: 2ª linha de defesa

1- Resposta inflamatória local: sequência complexa de acontecimentos que visam inativar


ou destruir agentes invasores.
A inflamação é a reação aguda ou crónica de um tecido perante uma agressão local. A
inflamação aguda caracteriza-se por uma rápida vasodilação local (rubor e calor),
aumentando a permeabilidade vascular e a acumulação de células fagocitárias.
Aumento da pressão osmótica intersticial - Edema.

Nota: A presença de um agente patogénico no interior do hospedeiro indica falha na 1ª


linha de defesa.

a) Mastócitos e basófilos produzem histamina e difundem-se para os capilares


b) Ocorre vasodilatação: aumento do fluxo sanguíneo na região afetada – rubor e calor
(aumenta da temperatura no local que provoca um aumento do metabolismo das
células)
c) Aumento da permeabilidade dos capilares: saída de plasma e fagócitos (neutrófilos
e monócitos) – Diapedese – para a zona infetada.

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d) A saída do plasma faz com que aumente a concentração do fluido intersticial na
zona provocando o edema (inchaço) e a dor.
e) Migração das células fagocitárias por quimiotaxia (as células são atraídas por
substâncias químicas libertadas pelos microrganismos) para os locais infetados.

Ocorre fagocitose: ingestão e digestão dos microrganismos pelos fagócitos.

Células fagocitárias (leucócitos):

- neutrófilos

- monócitos/macrófagos

- Fagossoma – forma-se aquando da fusão das membranas dos pseudópodes,


originando um vacúolo.

- Lisossomas: grânulos com enzimas digestivas que se fundem com os fagossomas.

- Digestão do microrganismo (fagolisossomas).

40
Dentro dos fagolisossomas o pH varia entre 3,5 a 4

Contem lisozima e outras enzimas hidrolíticas

Diminuição do oxigénio

Produção de radicais superóxido e peróxido

Morte dos microrganismos 10 a 30 min depois

2- Resposta inflamatória sistémica: febre ou pirexia


As toxinas produzidas pelos agentes patogénicos levam a que compostos pirogénicos
(interleucinas 1 a 6) sejam produzidas pelos glóbulos brancos do hospedeiro.

Nota: A febre muito alta é perigosa, mas uma febre moderada é benéfica pois diminui
o efeito de toxinas, estimula a fagocitose e a resposta imune, inibindo a multiplicação
de muitos patogénicos. Exemplos de patogénicos eliminados pela febre: Neisseria
gonorrhaeae e Treponema pallidum.

3- Interferão (só para infeções por vírus)


Ativa a produção de proteínas antivirais. Mecanismos não específicos de defesa que
protege as células contra a infeção por vírus (RNA). As células atacadas reagem
produzindo glicoproteínas – interferões – que induzem a produção de proteínas
antivirais que inibem a tradução do RNA viral.

4- Sistema complemento
Constituído por cerca de 20 proteínas (produzidas por hepatócitos e monócitos).

41
Ao serem ativadas (pela presença de bactérias) ocorre uma reação em cascata e estas
proteínas reagem entre si (por exemplo: para opsonizar (sinalizar) os patogénicos) e
induzir uma série de respostas inflamatórias que auxiliam no combate à infeção.

Função: lise, opsonização, ativação da resposta inflamatória, induz e potencia a resposta


humural (produção de anticorpos).

a) Lise: fixa-se à membrana das bactérias criando poros (formação do complexo de


ataque à membrana – MAC) levando à saída do conteúdo capsular.
b) Opsonização: este processo torna as bactérias mais sensíveis à fagocitose. Recobre
os agentes patogénicos, dificultando a sua mobilidade e permitindo que a fagocitose
ocorra mais facilmente.
c) Ativação da resposta inflamatória: Atração dos fagócitos até ao local da infeção –
quimiotaxia.

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5- Células NK (“natural killers”)
Reconhecem células infetadas ou anómalas. São citotoxinas – por desgranulação
originam a morte das células infetadas ou anómalas. Os grânulos libertados são a
perforina e granenzimas, semelhantes às proteínas do sistema complemento. Formam
poros na membrana da célula alvo.

3ª linha de defesa

Órgãos linfoides primários (centrais)

Órgãos linfoides secundários (periféricos): baço, linfonódos (ou gânglios linfáticos), e tecido
linfoide associado às moléculas.

Os gânglios linfáticos: existem em diversos pontos da rede linfática. Atuam na defesa do


organismo humano e produzem anticorpos.

A medula óssea produz as células do sistema imunitário.

Imunidade específica ou adquiridas

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Imunidade humural: produção de anticorpos específicos para antigénios. Os antigénios são
qualquer substância (proteínas, nucleoproteínas, lipoproteínas e polissacarídeos) que induzem
a produção de anticorpos. Os anticorpos são proteínas produzidas pelos linfócitos em resposta
à presença de um antigénio.

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IMUNIDADE ESPECÍFICA OU ADQUIRIDA: IMUNIDADE ATIVA

Proteção contra futuras infeções pelo mesmo microrganismo. Dura vários anos ou toda a vida.

Imunização artificial ativa:

a) Vacinas vivas atenuadas: compostas por microrganismos vivos atenuados em


laboratório, capazes de se multiplicarem no organismo hospedeiro para que possa
ocorrer estimulação de uma resposta imune.
Exemplos: vacina do sarampo e rubéola

b) Vacinas inativadas: compostas por microrganismos inativos, não vivos, logo incapazes
de se multiplicarem.
Exemplos: vacina contra hepatite A, B e raiva.

Nota: As vacinas vivas conferem uma imunidade mais duradoura do que as inativadas,
pois causam uma infeção subclínica. As vacinas vivas não podem ser administradas em
imunocomprometidos, pois podem causar doença.

c) Toxoides: toxinas bacteriana inativas - a ação tóxica é destruída (por calor ou ação de
químicos), mantêm a capacidade antigénicas mas perdem a toxicidade
Exemplos: Vacinas contra o tétano e difteria.

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Inata

Vacinas de 3ª geração/vacinas do DNA/ vacinas génicas

Diferentes das vacinas tradicionais pois neste tipo de tecnologia são usados genes ou
fragmentos de genes com potenciais imunogénicos inseridos em plasmídeos de expressão
eucariotas, para a inoculação num individuo, em vez de inocular diretamente o antigénio.

Vantagens

 As vacinas de DNA têm capacidade de gerar respostas imunocelulares e humural através do


uso de sequências de material genético do agente que se quer combater.

 São mais fáceis de produzir em quantidade

 Estimulam a produção de linfócitos T, responsáveis por identificar e matar as células


infetadas.

EX. vacinas contra covid-19

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IMUNIDADE ESPECÍFICA OU ADQUIRIDA: IMUNIDADE PASSIVA

Imunização Passiva

Proteção rápida e eficiente, mas temporária (dura em média poucas semanas ou meses)

Artificial: administração de imunoglobulinas ou de imunosoros

Nota: anticorpos de origem humana – imunoglobulinas

Ex: imunoglobulinas contra a varicela, hepatite A, B….

Nota: anticorpos de origem animal - imunosoros

EX: a transfusão de sangue é outra forma de imunidade passiva. Os produtos sanguíneos (tem
anticorpos): sangue total, plasma, concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas, etc…

Vacinas vs imunosoros

As vacinas contêm antigénios e induzem o organismo a produzir anticorpos.

Os imunosoros já contêm anticorpos.

As vacinas estimulam a resposta humural, isto é a produção de anticorpos e células de memória,


garantindo uma imunidade duradoura. Os imunosoros curam a doença proporcionando
proteção rápida mas temporária.

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Linfócitos T

 Sofrem maturação no timo (diferenciam-se em linfócitos T maturos os quais expressam


moléculas funcionalmente importantes TCD4+ e TCD8+.

 Destroem células infetadas ou anómalas.

 Têm um recetor específico – TCR – permite grande variedade de reconhecimento de


antigénios.

O TCR está associado ao CD3, um complexo de cadeias polipeptídicas

a) Linfócitos T CD8+ ou citotóxicos (TC)


Atuam por lise direta (libertam substâncias que criam poros na membrana das células
alvo);
Atuam por apoptose (TNF)
Interferões gama

- Agem sobre as células que se tornam anómalas, geralmente tumorais ou infetadas por
vírus- Patrulham os sistema imune para verificar se algum antigénio infetou alguma
célula. Ao encontrar células infetadas libertam substâncias que criam um poro na
membrana lisando (rompendo osmoticamente) as células. Ou em alternativa, atuam
através de mediadores (proteínas) que induzem a célula a realizar apoptose.

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b) Linfócitos T CD4+ ou auxiliares (T helper) – MHCII – complexo maior de
histocompatibilidade II
Células Alvo - Células apresentadoras de antigénio (APCs), nomeadamente macrófagos,
células dendríticas e células B.

Libertam citocinas. Resposta não específica: resposta inflamatória, sistema


complemento, quimiotaxia de neutrófilos, ativam macrófagos.
Ativação de linfócitos T – ligam-se a macrófagos infetados

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Ativação dos linfócitos B – produzem anticorpos e células B memória

São intermediários da resposta imune, proliferam após o contato com o antigénio


apresentado pelas APC (células apresentadoras de antigénio) para ativar outro tipo de
células que iram agir de forma direta (Ex: células B apresentadoras de anticorpos).

Existem 2 subtipos de linfócitos T auxiliares: TH1 e Th2

Função: papel modulador da imunidade celular através da libertação de citocinas

- Sistema complemento

- Quimiotaxia de neutrófilos

- Ativam macrófagos

- Ativam a diferenciação de células B

50
Citocinas

São secretadas por diversas células


e atuam como mediadores
intercelulares.

Moléculas (proteínas,
glicoproteínas) envolvidas na
emissão de sinais entre células
durante o desenvolvimento das
respostas imunes (imunidade inata
adquirida).

Categorias

- interleucinas (produzidas por TCD4+, macrófagos e células teciduais)

- interferão (produzidos por TCD8+, fagócitos, mastócitos e células NK)

- fator de necrose tumoral (TNF)

- outros …..

Linfócitos T CD4+– MHCII – complexo maior de histocampatibilidade classe II,


reconhecem apenas proteínas associadas a moléculas MHCII. Poucas células expressam
MHCII

Linfócitos T CD8+– MHCI – complexo maior de histocampatibilidade classe I,


reconhecem apenas proteínas associadas a moléculas MHCI. A grande maioria das
células expressa MHCI.

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Células dendríticas

São um tipo de leucócito, localizam-se na pele abaixo do epitélio, sangue e tratos


digestivo e respiratório. Principal função: capturar e transportar os antigénios para os
linfonódos (local onde estão os linfócitos T).

Linfócitos B ou células B

Fazem parte do sistema imunitário específico. Nos órgãos linfoides secundários as


células B são ativadas (pelo antigénio), proliferam e diferenciam-se em plasmócitos
(produção de anticorpos ou células B memória.

Têm recetor BCR.

Recetor BCR

- Proteínas transmembranares compostas por uma imunoglobulina e dois


heterodímeros dissulfido ligados Ig-α e Ig-β.

- As caudas dos aminoácidos de ambas as cadeias dissulfido são longas e entram na


membrana das células B. Traduzindo o sinal do antigénio.

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- As células T só reconhecem o antigénio associado a moléculas MHC das células
apresentadoras de antigénio (APCs).

- As células B reconhecem e ligam-se ao antigénio na sua forma nativa.

Estrutura das Igs – anticorpos e imunoglobulinas

- Composto por uma unidade básica de quatro cadeias polipeptídicas

2 cadeias leves (L) e 2 cadeias pesadas (H), ligadas covalentemente por pontes dissulfido.

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As cadeias leves e pesadas são divididas em 2 regiões:

- Variáveis (região V): determinar a especificidade

- Constantes (região C): determinar a função de anticorpos

Na espécie humana reconhecem-se 5 classes químicas e fisicamente distintas de


anticorpos: IgG, IgA, IgM, IgD e IgE. Diferem na cadeia de aminoácidos na região C das
cadeias H (pesadas).

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IgA

Presente em forma de dímero nas secreções na saliva, lágrimas, leite materno, e nas
mucosas do trato gastrointestinal, respiratório e urogenital (barreiras naturais, 1ª linha
de combate).

Presente na forma de monómero no soro.

Atuam na 1ª linha de defesa contra microrganismos invasores das superfícies das


mucosas.

IgM

É o primeiro anticorpo a ser produzido na resposta primária e também o primeiro a ser


produzido pelos recém-nascidos.

É o primeiro anticorpo expresso na superfície das células B, sob a forma de monómero,


(faz parte do recetor BCR).

No sangue a IgM é composta por 5 cadeias polipeptídicas – pentâmero (secretada


durante a resposta imune adaptativa).

É capaz de ativar (na forma de pentâmero) o sistema complemento.

IgG

É a imunoglobulina mais abundante no sangue (80%) em particular na resposta


secundária a um antigénio.

São capazes de passar pela placenta e providenciar imunidade humoral ao feto.

Ativam o sistema complemento.

Estrutura: monómeros.

IgD

Função principal do antigénio nos linfócitos B (faz parte do recetor BCR dos linfócitos B).

Está presente no plasma em concentrações muito baixas.

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IgE

Função importante no início da resposta inflamatória aguda, na proteção contra


parasitas e nas reações alérgicas.

A IgE medeia reações de hipersensibilidade: asma, febre dos fenos, etc….

As alergias estão associadas com uma produção de IgE: após estímulo (presença de
antigénio), plasmócitos produzem IgE a qual se liga a recetores específicos nos
mastócitos e basófilos induzindo a libertação de agentes ativos: histamina.

Anticorpo Estrutura Função


IgA Monómeros Plasma
Dímeros Saliva e lágrimas
IgM Monómeros Recetor BCR
Pentâmeros Sangue
IgG Monómeros Sangue
IgD Monómeros Recetor BCR/plasma
IgE Monómeros Superfície de mastócitos e
Basófilos

Resposta primária e secundária

Resposta primária

-IgM é a primeira imunoglobulina a ser produzida, seguida da IgG (produção gradual)

- Longo período lag (5 a 7 dias), um aumento logarítmico da imunoglobulina, um curto plateau


e o declínio

- Formação de células B memória

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Resposta secundária

Fase lag mais curta (1 a 3 dias), fase log rápida atingindo níveis elevados de anticorpos, uma
longa fase de plateau e um declínio mais lento, há pouca produção de IgM e muita produção de
IgG.

Leucócitos polimorfonucleados ou granulócitos

- Células do sistema imune inato (resposta não especifica).

- Fabrico na medula óssea a partir das células mieloides

- Possuem inúmeros grânulos no citoplasma

- Núcleo irregular

Circulam pela via sanguínea onde são levados a zonas de inflamação através da aderência do
endotélio - acumulando-se na zona afetada.

- Neutrófilos – fagocitose

- Eosinófilos – defesa contra parasitas

- Basófilos – Alergias

- Mastócitos – Alergias

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Definição de alergia

Resposta imunológica excessiva e inapropriada do organismo a uma substancia inócua.

Contacto do individuo com o alergénico (sensibilização)

Resposta imunológica (humoral ou celular)

Sintomas: inflamação sistémica ou local

Tipo de reação Mecanismo de imunologia


I (imediata) IgE – basófilos e/ou mastócitos
II (citotóxica) IgG e IgM – alergénicos das membranas das células
III (imunocomplexos) IgG e IgM – alergénicos solúveis
IV (tardia) Células T

Hipersensibilidade tipo I

Primeira sensibilização ao alergénico

1- Ligação do alergénico aos linfócitos TCD4+


2- Ativação de linfócitos B que passam a produzir IgE
3- As IgE produzidas ligam-se à superfície de mastócitos e basófilos – produção de
histamina.

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Segunda sensibilização ao alergénico

1- Ligação do alergénico às moléculas da IgE presentes na superfície dos mastócitos e


basófilos,
2- Desgranulação de mastócitos e basófilos: libertação de mediadores químicos (histamina
e prostaglandinas;
3- Responsáveis pelos sintomas alérgicos

Devido a libertação de prostaglandinas

- Secreção de muco

- Edema e inchaço

- Prurido, exantema, erupção cutânea.

Desgranulação sistémica dos mastócitos

- Angioedema. Sintoma: pápulas em redor dos olhos, lábios, podendo ainda afetar mãos,
pés e garganta.

Hipersensibilidade tipo II

Efeito citopático (alteração da morfologia celular) resultante da ação de anticorpos (IgG ou IgM),
dirigidos contra alergénicos (agentes químicos exógenos, drogas que se ligam à superfície das
células ou que se acumulam na matriz celular).

Reação citotóxicas porque resultam na destruição das células hospedeiras (lise celular ou
mediadores tóxicos).

Hipersensibilidade tipo III

Alergénicos solúveis não ligados a nenhum órgão ou tipo celular.

Depósito de complexos alergénicos-anticorpos em determinados tecidos.

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A reação pode ser geral (ex: Doença do soro, Lúpus eritematoso) ou envolve órgãos individuais
(ex: Lúpus cutâneo).

Hipersensibilidade tipo IV

Resposta imune tardia (8-10h) mediada por células T específicas para alergénicos exógenos
inócuos (linfócitos TCD4+ e TCD8+).

A resposta celular induz lesões nos locais onde a alergénico penetra.

Exemplos: picada de insetos, dermatite de contato.

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