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Núcleo de Educação a Distância
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DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor
Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio
Ferdinandi.
Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráico José Jhonny Coelho,
Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Revisão Textual
Meyre Barbosa da Silva, Ilustração Bruno Pardinho, Mateus Fotos Shutterstock.
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Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10
com princípios éticos e proissionalismo, não maiores grupos educacionais do Brasil.
somente para oferecer uma educação de qualidade, A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão soluções inteligentes para as necessidades de todos.
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- Para continuar relevante, a instituição de educação
nos em 4 pilares: intelectual, proissional, emocional precisa ter pelo menos três virtudes: inovação,
e espiritual. coragem e compromisso com a qualidade. Por
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia,
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro do ensino presencial e a distância.
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, promover a educação de qualidade nas diferentes áreas
com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. do conhecimento, formando proissionais cidadãos
Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais que contribuam para o desenvolvimento de uma
de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos sociedade justa e solidária.
pelo MEC como uma instituição de excelência, com Vamos juntos!
boas-vindas
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
proissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e proissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível e construção do conhecimento deve ser apenas
com os desaios que surgem no mundo contemporâneo. geográica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
apresentação do material
Olá, prezado(a) acadêmico(a), é com grande satisfação que apresento a você a nossa
disciplina de Psicologia do Esporte e do Exercício como uma disciplina do curso
de Educação Física. A realização desta disciplina possibilitará a compreensão de
elementos da Psicologia que fazem parte do contexto esportivo.
Tendo conhecimento da importância de se compreender as características psi-
cológicas envolvidas na prática esportiva, seja ela proissional ou não, espero que
você se sinta inclinado a buscar uma qualiicação adequada que possa colaborar
com sua atuação proissional após a conclusão desta graduação.
Todo mecanismo de aprendizagem perpassa duas vias, uma delas é responsa-
bilidade do professor, que objetiva transmitir o conteúdo com a preocupação de
que este seja realizado com qualidade, a outra é a do aluno, que deve compreender
a importância de cada elemento a ele fornecido, pois trata-se de um processo em
construção constante.Veremos, aqui, elementos da Psicologia e sua contribuição
para o contexto esportivo de rendimento ou não.
Na Unidade I, temos como conteúdo um pouco da história da Psicologia do
Esporte e do Exercício no mundo e um pouco de sua história no Brasil. Este tópico
é importante para termos uma visão geral sobre como a área surgiu, compreen-
deremos as suas principais características e como ela pode ser importante para os
praticantes. Desmistiicaremos um dos principais mitos existentes sobre a área,
o mito de que a Psicologia do Esporte e do Exercício é importante apenas para
atletas proissionais. Ou seja, precisamos compreender que esta área de atuação
está presente em qualquer contexto que envolva o esporte e a atividade física.
Na Unidade II, após termos discutido um pouco do histórico, faremos uma
discussão sobre como o desenvolvimento humano e o desenvolvimento no con-
texto esportivo ocorrem concomitantemente. Veremos como o esporte pode ser
uma ferramenta importante para colaborar com o desenvolvimento de crianças
e adolescentes, além de veriicar como o desenvolvimento de um atleta ocorre,
quais fases e características são importantes ao longo do tempo.
Já na Unidade III, temos como tema principal as características individuais
que inluenciam o sujeito a iniciar, continuar ou parar uma prática esportiva. Al-
gumas variáveis psicológicas são muito discutidas no contexto da Psicologia do
Esporte e do Exercício, e teremos alguns tópicos relacionadas a elas. Teremos uma
discussão sobre a motivação do sujeito, como a autoconiança e as expectativas de
rendimento podem inluenciar a prática e também quais habilidades psicológicas
estão presentes neste contexto.
Após a discussão de variáveis individuais, teremos, na Unidade IV, uma apre-
sentação de características presentes na coletividade, ou seja, no trabalho com
grupos. A coesão de grupo é uma das variáveis mais discutidas quando se fala em
rendimento esportivo, mas não podemos deixar de discutir também o papel do
líder neste processo bem como a cooperação e a comunicação entre todos os que
fazem parte de uma mesma equipe, ou grupo.
Para inalizar, teremos, na Unidade V, a discussão sobre os elementos que
envolvem características de saúde e bem-estar psicológico. Estas características
são importantes tanto para trabalharmos com atletas proissionais como com
amadores ou pessoas que realizam atividades físicas com objetivo de melhorar
sua qualidade de vida. Falaremos um pouco sobre como as lesões, no esporte,
podem atrapalhar e até interromper uma carreira de sucesso, e também como a
prática excessiva do esporte pode vir a se tornar um vilão à saúde física e mental.
Espero que este enfoque dado a alguns elementos da Psicologia do Esporte
e do Exercício possam contribuir para sua formação de forma satisfatória e que
possa estimulá-lo a continuar seus estudos e sua busca por conhecimento sobre a
área. Com experiência em duas áreas que são fundamentais para esta disciplina,
formação interdisciplinar, quero, também, fornecer a você um pouco do que a
Psicologia do Esporte e do Exercício pode colaborar com a formação de um pro-
issional de Educação Física e em sua atuação proissional futura.
Desejo a você boa leitura e bons estudos!
INTRODUÇÃO
U
ma parcela signiicativa da população tem uma percepção
de que a Psicologia é uma área que se ocupa apenas de tra-
balhar com a área clínica e ainda considerando o estereóti-
po de “loucura”, termo já não utilizado para descrever pes-
soas que sofrem de transtornos mentais. Engana-se quem ainda tem esta
visão limitada em relação à área clínica da Psicologia, pois há diversos
outros campos de atuação em que a Psicologia se faz presente, entre eles
está o contexto esportivo, e é sobre isso que falaremos nesta Unidade I.
A Psicologia enquanto ciência é jovem quando comparada a outras
áreas, e por mais que o foco inicial tenha sido a saúde mental das pessoas
com transtornos mentais, as demais áreas da Psicologia também surgi-
ram em paralelo. Os primeiros estudos da área de Psicologia do Esporte
e do Exercício que se tem conhecimento datam do inal do século XIX,
mesmo período em que a Psicologia passa a ser reconhecida enquanto
ciência e área especíica de atuação.
Com isso, estudaremos alguns elementos do início da área, compre-
enderemos como ela se desenvolveu ao longo do tempo e quais caracte-
rísticas ainda hoje estão presentes e garantem sua permanência no ce-
nário atual. Um ponto importante a ser discutido também é sobre como
a Psicologia do Esporte e do Exercício pode ser ferramenta importante
não apenas para psicólogos, mas também para proissionais de Educação
Física. Basta compreendermos qual a função de cada proissional dentro
de suas características especíicas, sabendo quais os limites de atuação e
como estas duas áreas podem atuar em conjunto.
O objetivo principal desta Unidade é fornecer uma visão geral sobre a
área e sobre como utilizar estes conhecimentos na atuação proissional, seja
no esporte de rendimento, seja no esporte amador, seja, inclusive, no contex-
to escolar, pois este também é um contexto em que o esporte está presente.
EDUCAÇÃO FÍSICA
realizar, levando em consideração todos os pos- Com estas deinições, podemos perceber que
síveis resultados deste planejamento. A sua com- a Psicologia do Esporte e do Exercício é uma área
preensão sobre como a Psicologia do Esporte e do que pode abranger diversos contextos, não apenas
Exercício surgiu, como se desenvolveu e como está o do esporte proissional, de rendimento, em que os
atualmente será mais adequada se você também se atletas fazem do contexto esportivo a sua principal
planejar, estabelecer um plano de leitura, estudo e, atividade proissional. Basta considerarmos que em
principalmente, se buscar outras fontes de infor- qualquer local em que o esporte esteja envolvido, e
mação, pois este livro dará apenas uma explicação que tenhamos pessoas praticando, a Psicologia po-
geral sobre a área. derá também estar lá, levando seus conhecimentos
Feito este planejamento, começaremos com o e proporcionando aos praticantes uma busca mais
que se conhece, de início, como Psicologia do Es- adequada aos resultados.
porte e do Exercício, e que suscitou as primeiras Sendo assim, podemos considerar dois objetivos
discussões sobre a área. Para isso, precisamos dei- principais da área. O primeiro seria voltado ao con-
nir o que pretendemos estudar. O que seria, então, texto esportivo proissional, pois visa a compreender
Psicologia do Esporte e do Exercício? Weinberg e como os fatores psicológicos dos atletas podem afe-
Gould (2017) dão-nos uma deinição que nos leva tar o seu desempenho físico. Já o segundo objetivo
a compreender a área como o estudo cientíico do seria voltado ao público não proissional, mas que
comportamento das pessoas quando estão envolvi- está, de alguma forma, envolvido no contexto espor-
das em atividades esportivas, em atividades físicas tivo, ou seja, compreender como a prática esportiva
e, principalmente, na aplicação prática deste co- e de exercícios de um sujeito pode afetar o seu de-
nhecimento. Ou seja, não basta apenas estudarmos senvolvimento psicológico, a sua saúde e o seu bem-
os principais conceitos e as características, é preci- -estar (WEINBERG; GOULD, 2017).
so colocá-los em prática. Partindo destes dois objetivos, pode-se imagi-
Uma deinição ainda mais abrangente e que nos nar como os pesquisadores começaram a inserir os
permite ter uma visão geral da área é apresentada conhecimentos da Psicologia no contexto esportivo.
pela American Psychological Association - APA, Após compreendermos quais os objetivos da Psico-
principal organização cientíica e proissional que logia do Esporte e do Exercício, precisamos saber
representa a Psicologia, nos Estados Unidos, e que da sua história, como começou e como chegou até
serve de base para muitos outros países. Segundo os dias atuais. A história remete-nos à Grécia Anti-
o site da própria organização, a Psicologia do Es- ga, considerada o berço dos estudos sobre a relação
porte é a capacidade de se utilizar conhecimentos mente e corpo. Avançando no tempo, o inal do sé-
e habilidades psicológicas para atender ao ótimo culo XIX ica marcado pelos primeiros estudos e as
desempenho e ao bem-estar dos atletas, aos as- pesquisas sobre as questões psicológicas, no contex-
pectos sociais e de desenvolvimento de praticantes to esportivo (SAMULSKI, 2009). Este desenvolvi-
de esportes, e às questões sistêmicas associadas a mento da Psicologia do Esporte e do Exercício pode
conigurações e a organizações esportivas ([2018], ser dividido em seis períodos, e alguns dos princi-
on-line)1. pais fatos estão destacados a seguir.
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PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
Primeiros anos
1893-1920 1921-1938
Após este período do inal do século XIX, o início do século XX é marcado pelo desen-
Destaques do Período 2
Até então, alguns estudos isolados eram realizados, porém o americano Coleman Gri-
ith passa a dedicar sua carreira aos estudos da Psicologia, no contexto esportivo. En-
quanto psicólogo da University of Illinois, foi nomeado diretor, em 1925, do laboratório
intitulado Research in Athletics Laboratory, o que lhe confere reconhecimento como o pai
da Psicologia do Esporte, na América do Norte (GOULD; VOELKER, 2014). Entre os anos
de 1921 e 1931, Griith publicou 25 artigos oriundos de pesquisas realizadas sobre
Psicologia do Esporte.
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EDUCAÇÃO FÍSICA
1939-1965 1966-1977
Todos estes fatos que marcam o início da área fazem com que ela chegue às univer-
Destaques do Período 4
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EDUCAÇÃO FÍSICA
que, no Brasil, a disciplina de Psicologia do Espor- como Samulski (2009) e Weinberg e Gould (2017)
te e do Exercício não está presente em grande parte apontam que o proissional que atua hoje no cam-
dos cursos de graduação de Psicologia, ou está pre- po da Psicologia do Esporte tem a possibilidade de
sente apenas como uma disciplina eletiva. Fato que atuar em diversas carreiras. Porém há três papéis
não ocorre com os cursos de Educação Física, pois básicos que condensam as principais atividades,
a maioria destes apresenta a disciplina como parte são eles: o papel de pesquisador, o papel de profes-
obrigatória de sua matriz curricular (RUBIO, 2000). sor e o papel de consultor.
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PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
FUNÇÃO DE PESQUISA
A pesquisa é uma função muito importante no con- texto acadêmico, ministrando cursos universitários
texto da Psicologia do Esporte e do Exercício. Neste e compondo corpo docente em disciplinas de cursos
caso, o papel de pesquisador é aquele desenvolvido de graduação em Psicologia e Educação Física. Es-
no campo acadêmico e tem por objetivo aumentar tes transmitem seu conhecimento e suas habilidades
o conhecimento cientíico da área, por meio de pes- técnicas acerca da área, e é o principal momento em
quisas cientíicas. A maioria dos psicólogos e pro- que se pode compreender a relação entre fatores psi-
issionais de Educação Física que atuam na área e cológicos e a prática esportiva ou de atividade física.
que estão vinculados a alguma universidade empe- Samulski (2009) destaca algumas metas que de-
nham-se em desenvolver pesquisas para compreen- vem ser seguidas pelos professores neste contexto,
der melhor este contexto. Uma das vantagens da área ou seja, os principais pontos a serem transmitidos
acadêmica é a possibilidade de realizar pesquisas em aos alunos, como:
conjunto com outros proissionais, o que pode cola- • Princípios e fundamentos psicológicos presen-
borar para aumentar a interdisciplinaridade da área, tes nos processos de aprendizagem e de ensino.
fato este importante tendo em vista que o sujeito • Conhecimentos e capacidades psicológicas
que está inserido no contexto esportivo precisa ser para a educação prática nos diversos setores
de aplicação no esporte.
pensado enquanto um sujeito biopsicossocial, como
• Conhecimentos e técnicas em metodologia
já descrito por Urie Bronfenbrenner, na década de
da pesquisa psicológica.
1970 (ROSA; TUDGE, 2013).
Como já destacado, o papel desempenhado
neste caso é o de pesquisador, que pode desenvol- FUNÇÃO DE INTERVENÇÃO
ver teorias, procedimentos de avaliação de atletas e
pessoas envolvidas no contexto esportivo, além de Após um período de formação proissional, é pos-
compreender melhor as variáveis psicológicas que sível assumir uma posição de intervenção junto a
estão envolvidas no esporte e na atividade física. O atletas de esporte individual ou coletivo. O principal
conhecimento que é adquirido na pesquisa servirá objetivo, neste caso, é trabalhar para o desenvolvi-
de base para uma função que discutiremos em bre- mento de habilidades psicológicas para melhorar o
ve, que é o da intervenção. desempenho em competições e treinamento (VE-
ALEY, 2007).
FUNÇÃO DE ENSINO Esta seria, talvez, a função que mais necessita
de desenvolvimento no Brasil, tendo em vista a não
Talvez a área que mais se destaca no Brasil, a área existência de uma formação especíica e também a
do ensino é composta por professores que compar- falta de conhecimento sobre qual seria o papel de
tilham seu conhecimento com alunos interessados um psicólogo esportivo junto a uma equipe ou a
em conhecer melhor a área. Muitos especialistas em um atleta. Há muitas atividades que um psicólogo
Psicologia do Esporte e do Exercício estão no con- esportivo pode realizar junto a equipes esportivas,
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EDUCAÇÃO FÍSICA
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EDUCAÇÃO FÍSICA
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PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
Seguindo esta perspectiva, Vieira, Vissoci e Oli- Os dados obtidos nesta avaliação serão utili-
veira (2010) aprofundaram esta discussão no cam- zados no decorrer do trabalho, mas uma das ava-
po da intervenção psicológica e descreveram quatro liações que ocorre durante todo o trabalho é a
etapas que podem ser seguidas no acompanhamen- observação sistemática de treinamentos e competi-
to de atletas de rendimento. A proposta foi dividida ções, pois, quando realizada de maneira especíica,
no seguinte modelo: funciona como um instrumento que permite aos
• Etapa 1 - Contato inicial. proissionais da psicologia identiicarem padrões
• Etapa 2 - Levantamento das necessidades. de comportamentos dos atletas, da comissão téc-
• Etapa 3 - Programa de intervenção. nica, bem como relacionar estes padrões de com-
• Etapa 4 - Avaliação dos resultados. portamento dos atletas com o desempenho destes
(CILLO, 2003). As características psicológicas po-
As duas primeiras etapas do programa de inter- sitivas e negativas devem ser levadas em considera-
venção psicológica são as que ocorrem em menor ção a todo momento, pois, silenciosamente, podem
tempo. Isso porque devem ser realizadas logo nos levar os atletas a aumentarem ou diminuírem seu
primeiros momentos da intervenção. Durante o desempenho, muitas vezes, de forma silenciosa, e,
contato inicial, é preciso informar aos envolvidos ao serem negligenciadas, podem causar sérias con-
todas as etapas que serão realizadas bem como qual sequências no decorrer da temporada.
o papel de cada envolvido neste processo, momento Com as informações coletadas, chega o mo-
de estabelecimento de rapport (vínculo entre psicó- mento de executar o programa de inter-
logos e equipe esportiva) e também de deinição de venção, que seguirá o calendário
metas/objetivos a serem atingidos, durante a tempo- esportivo da equipe e/ou do
rada. Os objetivos devem ser delimitados de acordo atleta. A intervenção psi-
com o cronograma da equipe, as competições alvo, cológica também deve se-
e também os objetivos individuais, tendo em vista guir uma periodização
que os atletas de esporte coletivo também têm suas especíica, isto porque
metas individuais (WEINBERG; GOULD, 2017). as exigências psico-
Após todas as apresentações e já com as dúvidas lógicas em cada
sanadas, é o momento de a equipe psicológica realizar etapa da tempo-
o levantamento das necessidades psicológicas para a rada esportiva se
equipe alvo. É preciso icar a par dos horários de trei- alteram e precisam
namentos, os tipos de treinamento e a rotina diária dos ser reguladas, dependendo
atletas, pois isto se torna uma ferramenta de conheci- das exigências. No traba-
mento individual e coletivo dos atletas. O foco princi- lho com atletas de mo-
pal é avaliar variáveis psicológicas da equipe e comissão dalidades individu-
técnica. São utilizados testes psicométricos individuais, ais, as sessões são
entrevistas e observações de conduta em treinamentos
e competições (VIEIRA; VISSOCI; OLIVEIRA, 2010).
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EDUCAÇÃO FÍSICA
realizadas de acordo com as necessidades destes, cos são levados em conta após o levantamento das
mas a periodicidade semanal é uma das priori- necessidades individuais. Cada equipe terá suas pró-
dades. Nos esportes coletivos, esta periodicidade prias características, e isso deve ser levado em conta.
também é preservada com atividades em grupo, O treinamento psicológico que é fornecido aos atle-
mas, neste caso, há uma especiicidade que deve tas torna-se importante, pois é uma das formas de
ser levada em conta, as intervenções individuais levá-los ao autoconhecimento e à maior capacidade
com os atletas, pois esta individualidade também de lidar de maneira eicaz com as exigências físicas
precisa ser trabalhada, não com tanta frequência e emocionais às quais são expostos (WEINBERG;
quanto às atividades em grupo, mas sempre que se GOULD, 2017).
achar necessário (SAMULSKI, 2009). A intervenção psicológica propriamente dita
As intervenções são realizadas de um lado dura o tempo necessário, de acordo com o crono-
com características pedagógicas, visando a levar grama da temporada em questão e, ao im, é pre-
os atletas a conhecerem os conceitos psicológicos ciso realizar uma avaliação de todo o processo, vi-
que os afetam diariamente, tais como ativação, an- sando a destacar os pontos positivos e negativos do
siedade, humor, motivação para a prática, entre trabalho. Uma forma de se fazer esta avaliação é
outros. Este conhecimento inicial tem por obje- pelos resultados da equipe ou dos atletas durante a
tivo fazer com que os atletas cheguem a um au- temporada, mas basear o sucesso ou o fracasso de
toconhecimento sobre suas características, um trabalho apenas pelos títulos alcançados pode
sendo capazes de resolver seus próprios ser uma estratégia não muito adequada (ÁLVAREZ
conlitos emocionais, principalmente, et al., 2013).
em momentos de tensão e competição É preciso reconhecer quais mudanças signii-
(LIDOR; BLUMENSTEIN; TE- cativas ocorreram durante este processo, como os
NENBAUM, 2007). atletas se percebem após todo o trabalho realizado,
Temas gerais de discus- a opinião da comissão técnica, ou seja, de todos os
são, como coesão de gru- envolvidos. Pois, apenas com esta avaliação inal
po, motivação para a é possível realizar uma reestruturação do trabalho
prática esportiva, para que no ano seguinte as atividades possam ser
melhora da comu- realizadas de forma mais especíica possível. O ob-
nicação entre os jetivo sempre será levar os atletas a melhorarem
membros e auto- seu desempenho esportivo, mas isso só será possí-
gestão da saúde vel se metas reais forem traçadas. Metas reais ten-
mental são es- dem a ser atingidas com trabalho e dedicação, mas
senciais em qual- metas que são deinidas sem uma avaliação correta
quer equipe. Mas tendem a não ser atingidas e podem gerar frus-
fatores especíi- tração, sendo um ponto muito negativo em qual-
quer trabalho que seja realizado (WEINBERG;
GOULD, 2017).
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EDUCAÇÃO FÍSICA
capacidades individuais dos alunos e os incenti- iniciação de uma criança no esporte é permeada de
varem a praticarem atividades que estimulem sua mudanças, novas interações sociais e a possibilidade
mente. Além disso, o desenvolvimento humano de se adaptar a novas realidades.
deve ser encarado como um processo que ocorre O esporte praticado nas escolas pode ser tam-
em diversas frentes: físico, cognitivo, afetivo, social bém um trampolim para a proissionalização. E este
e moral (SANTOS, 2016). aspecto envolve também um ponto importante, que
é o econômico. Quanto mais desigualdade social um
país apresenta, mais as pessoas buscam alternativas
para melhorar suas condições de vida, e o esporte
é uma destas ferramentas (MACHADO; MOIOLI;
PRESOTO, 2016). Por isso, as relações devem ser
estabelecidas sempre visando o desenvolvimento
natural das crianças, sem a obrigatoriedade de se re-
alizar uma atividade não desejada.
A prática esportiva na infância não deve ser en-
carada apenas como um trampolim social, tampou-
co como uma obrigatoriedade de que estas crianças
venham a se tornar atletas proissionais. Mesmo que
Há sempre um foco maior em atletas proissionais a etapa escolar seja um momento de desligamento
quando o assunto é esporte, mas estes mesmos atle- das questões familiares, a família continua com um
tas tiveram seu período de aprendizagem e de de- papel fundamental no desenvolvimento das crian-
senvolvimento antes de se tornarem os atletas que ças, motivo este pelo qual as discussões sobre a rela-
são. O comportamento humano adapta-se de acor- ção cada vez mais próxima das famílias com o con-
do com as características do ambiente em que está texto escolar são importantes.
inserido e, durante seu desenvolvimento, há com- Toda atividade que o ser humano realiza pre-
portamentos que são inatos (ligados aos fatores bio- cisa ser um momento que lhe cause prazer, e com
lógicos) e os que são moldados pela atividade cultu- as crianças e os adolescentes não é diferente. Este
ral das pessoas com as quais se relaciona. Berger e início da carreira esportiva pode ser um momento
Luckmann (2012) descrevem que o indivíduo nasce não tão agradável assim, tendo em vista as diversas
e se torna membro de uma sociedade, ou seja, é um variáveis envolvidas neste processo. Estas variáveis
ser social, que vive em grupo. terão sua parcela de inluência na continuidade da
Ao sair do seio da família e adentrar ao contexto prática esportiva, mas também na possibilidade de
escolar, a criança passa a se relacionar com pessoas abandono da prática.
de outras culturas e locais, rompendo com o modelo Algumas pesquisas têm sido conduzidas com o
de educação que vinha recebendo em casa, e, assim, intuito de compreender o que se chama de dropout,
passa a receber inluência deste novo núcleo de con- um fenômeno para nomear o abandono esportivo
vivência (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). A (PIRES; BRANDÃO; MACHADO, 2005). Há di-
29
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
versas causas para o abandono precoce da prática visa a uma relexão por parte dos envolvidos de que
esportiva, tais como as elevadas exigências técnicas, o futuro é incerto, e o trabalho a ser realizado neste
os treinos exaustivos e a não adaptação psicológica momento é o de direcionar o jovem a ter a capacida-
às demandas do contexto (FONSECA; ZECHIN; de de decidir o que fará com sua vida ao longo dos
MANGINI, 2014). anos que virão.
A intervenção psicológica, no contexto do início É preciso icar atento, pois o esporte com
da carreira esportiva, perpassa também o contexto crianças e adolescentes também tem um caráter
escolar e deve ser realizada de forma adequada, ten- recreativo e formativo. Não necessariamente se
do em vista sua complexidade, pois envolve múlti- tornarão grandes atletas do esporte mundial, mas,
plas responsabilidades. Estas responsabilidades são claro, os exemplos dos adultos devem ser utiliza-
referentes aos próprios atletas jovens, aos pais, aos dos também, tendo em vista que as crianças e os
técnicos, aos professores, aos árbitros e, até mesmo, jovens seguem seus passos, e a responsabilidade
aos torcedores que acompanham o desenvolvimen- destes chamados “exemplos” cresce a cada com-
to dos jovens atletas. A intervenção, neste momento, portamento realizado.
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considerações inais
Para encerrar, faremos uma retomada do assunto que foi discutido nesta Unidade
cuja estrutura foi elaborada com o intuito de que você, aluno(a), fosse apresenta-
do(a) aos elementos iniciais da Psicologia do Esporte e do Exercício.
Foram apresentados quatro tópicos principais para a compreensão inicial da
área. Iniciamos falando um pouco sobre como começaram as discussões relacio-
nadas à importância da Psicologia ao ser utilizada no contexto esportivo para
ajudar os atletas a melhorarem seu desempenho. Este início foi marcado por ex-
periências especíicas, em determinados países que ainda hoje são os grandes
produtores cientíicos da área.
Em seguida, entramos nas discussões sobre como a Psicologia do Esporte e
do Exercício está na atualidade, as relações entre a Educação Física e a Psicolo-
gia, como grandes áreas precisam se estreitar cada vez mais, sempre buscando
o desenvolvimento dos interesses em comum. Só com a união dos proissionais
é que poderemos ter mais destaque no trabalho com o contexto esportivo e a
atividade física.
Finalizamos a Unidade I apresentando duas formas de pensar a atuação da
Psicologia do Esporte e do Exercício hoje. A intervenção no esporte de rendi-
mento, que é o campo de trabalho em que as pessoas mais acreditam estar inseri-
da a Psicologia. Mas não devemos nos esquecer de que os grandes atletas inicia-
ram suas carreiras em locais e equipes com características diferentes. O início da
carreira e seu desenvolvimento, que será discutido de forma mais especíica na
Unidade II, precisa ser considerado e, muitas vezes, o esporte escolar é o início
de muitas carreiras de sucesso.
Espero que esta explicação inicial tenha despertado em você o interesse por
compreender melhor quais as contribuições que a Psicologia pode trazer para o
contexto esportivo. Cada área com suas especiicidades pode e deve contribuir
para o desenvolvimento humano e, assim, levar os atletas a melhores desempe-
nhos, dentro de suas próprias possibilidades.
31
atividades de estudo
1. Mário sempre quis ser professor de Educação Física, no entanto ele se sente frus-
trado porque seus alunos do Ensino Médio têm pouco interesse em desenvolver
capacidades e em aprender habilidades básicas. O objetivo de Mário é motivar
os alunos sedentários a engajarem-se em atividades físicas. Neste sentido, é im-
portante que Mário conheça alguns elementos principais da área chamada Psi-
cologia do Esporte (WEINBERG; GOULD, 2008). Considere as assertivas a seguir:
I - O psicólogo do esporte e do exercício identiica princípios e diretrizes que
os proissionais podem usar para ajudar adultos e crianças a participarem
e se beneiciarem de atividades esportivas e de exercícios.
II - Entender como os fatores psicológicos afetam o desempenho físico de um
indivíduo pode ser considerado um dos objetivos da Psicologia do Esporte.
III - Entender como a participação em esportes e exercícios afeta o desen-
volvimento psicológico, a saúde e o bem-estar de uma pessoa pode ser
considerado um dos objetivos da Psicologia do Esporte.
IV - A Psicologia do Esporte aplica-se a uma ampla parcela da população.
32
atividades de estudo
4. Muitas discussões são realizadas atualmente sobre esta área de atuação, conhe-
cida como Psicologia do Esporte e do Exercício, por isso, é importante conhecer
qual o propósito desta área. Baseando-se nas discussões de Weinberg e Gould
(2007), descreva o que é (deinição) Psicologia do Esporte e do Exercício, ressal-
tando quais os dois objetivos principais desta área de atuação.
5. A atuação proissional mais conhecida no contexto da Psicologia do Esporte e do
Exercício está relacionada aos esportes de alto rendimento, mas não é só isso o
foco do psicólogo do esporte. Os psicólogos do esporte modernos seguem car-
reiras variadas, desempenhando três papéis básicos em suas atividades prois-
sionais. Explique quais são os três campos de atuação de um psicólogo esportivo,
abordando seus papéis principais.
33
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36
material complementar
Referência on-line:
1
Em: <http://www.apadivisions.org/division-47/index.aspx>. Acesso em: 30 jul. 2018.
37
INTRODUÇÃO
Todo proissional que trabalha diretamente com inserida é a família (LEME et al., 2016), o que nos
pessoas deve ter conhecimento básico sobre como leva a compreender que as principais características
elas se comportam, como elas chegaram até ali, en- que apresentamos atualmente foram também in-
im, é preciso conhecê-las. A Psicologia, enquanto luenciadas por esta família.
uma ciência, fornece elementos essenciais para que A Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Hu-
as pessoas possam se relacionar de forma eiciente e mano, uma proposta consistente de Bronfenbrenner
em busca de atingir os objetivos traçados em algum (2011), leva-nos a compreender, por exemplo, quais
contexto, no nosso caso, o esportivo. motivos levam as pessoas a se envolverem em de-
Todas as decisões que tomamos ao longo de nos- terminadas atividades, entre elas, as atividades es-
sas vidas são baseadas na nossa história (passado), portivas. Esta teoria oferece-nos a possibilidade de
levando em consideração as pessoas com quem con- compreender o desenvolvimento humano a partir
vivemos diariamente (presente) e, principalmente, de sistemas que inluenciam o desenvolvimento, ao
pensando nos objetivos que pretendemos alcançar mesmo tempo em que são inluenciados.
(futuro). Começamos, então, a nos questionar sobre Para começarmos a discutir essa teoria, precisa-
o porquê de algumas pessoas escolherem se dedicar mos entender sua principal característica. Segundo
ao esporte e, dentro deste contexto, se dedicarem a Bronfenbrenner (2011), o desenvolvimento humano
modalidades esportivas especíicas (ALVES, 2015; é resultado da interação entre o indivíduo e o am-
SENA et al., 2017). biente em que ele está inserido. Essa interação dá-
Antes de falarmos em desenvolvimento do atle- -nos a perspectiva de compreender as características
ta, precisamos compreender o desenvolvimento do deste indivíduo, bem como as suas relações com as
ser humano, pois, antes de escolher ser atleta, o in- outras pessoas e com o ambiente. Além disso, é por
divíduo precisa aprender a ser um sujeito posto em meio dela que as atividades são realizadas e, tam-
um contexto. As relações humanas são estabeleci- bém, sua história é construída.
das, e o primeiro núcleo social em que a criança é
45
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
As pesquisas sobre o desenvolvimento de atletas multidimensional que esta abordagem nos fornece,
apresentam bastante semelhança com as caracterís- implicando respeitar o espaço de todos os proissio-
ticas da abordagem bioecológica, pois compreen- nais envolvidos no processo.
dem os processos que são gerados ao longo do tem- A representação gráica do modelo bioecológico
po e o desenvolvimento biopsicossocial do sujeito/ pode ser uma das principais formas de compreen-
atleta que está dentro deste ambiente (ROTHER; dermos o seu signiicado. Isso pode ser ilustrado na
MEJIA, 2015). Isto nos leva a considerar toda a ótica Figura 1.
A partir do que se observa na Figura 1, podemos com- o Processo, a Pessoa, o Contexto e o Tempo (BRON-
preender a divisão do desenvolvimento humano em FENBRENNER, 2011). Estas interações constantes
etapas, ou melhor dizendo, em sistemas. O desenvolvi- ocorrem ao longo do desenvolvimento humano, que é
mento humano é considerado um processo que depen- tanto produto quanto produtor do seu processo. Veja-
de de uma interação sinérgica de quatro componentes: mos as características de cada um destes componentes:
46
EDUCAÇÃO FÍSICA
PROCESSO
47
EDUCAÇÃO FÍSICA
51
EDUCAÇÃO FÍSICA
55
EDUCAÇÃO FÍSICA
57
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
Ordem Social
1. Orientação
Pré-Convencional “Punição-obediência”
Os mais fracos devem obediência
aos mais fortes.
58
EDUCAÇÃO FÍSICA
59
EDUCAÇÃO FÍSICA
61
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
REFLITA
(Geraldine M. Murphy)
66
considerações inais
67
atividades de estudo
68
atividades de estudo
69
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74
gabarito
1. A
2. D
3. E
4.
• Fase de Iniciação - é característica de crianças que se envolvem em ativi-
dades esportivas com o intuito principal de se divertir. As atividades lúdicas
sem preocupação com a performance é o principal ponto a ser observado.
• Fase de Desenvolvimento - os adolescentes começam a se identiicar
com uma prática mais especíica. Nesta fase, geralmente, optam por uma
determinada modalidade esportiva e passam a participar de competições
regulares, e o nível de comprometimento passa a ser crescente, deman-
dando mais organização.
• Fase de Excelência - com a dedicação mais especíica em uma modali-
dade esportiva, é possível que os atletas venham a se tornar proissionais
e assumam o desejo de investir em sua carreira esportiva. O seu estilo de
vida passa a ser muito dedicado à performance esportiva.
• Fase de Aposentadoria - considerada uma das fases mais complicadas,
a aposentadoria representa diminuição do envolvimento do atleta em trei-
namentos e competições esportivas. Esta diminuição é experienciada de
forma gradual, e cada atleta terá seu momento individual.
5.
As crianças participam:
• Para aprender novas habilidades.
• Por diversão.
• Para ailiação.
• Pelas emoções e pela excitação.
• Pelo exercício e condicionamento.
• Pelo desaio da competição/vencer.
As crianças desistem por:
• Falha em aprender novas habilidades.
• Falta de diversão.
• Falta de ailiação.
• Falta de emoções e excitação.
• Falta de exercício e condicionamento.
• Falta de desaio/fracasso.
75
INTRODUÇÃO
Motivação Para a
Prática do Esporte
Atletas que já são considerados consagrados em situações. Já a intensidade signiica o quanto essa
uma modalidade, pessoas que praticam atividade pessoa (atleta) se esforça ou quanto de esforço co-
física há anos sem interrupção prolongada e que loca nesta situação. Alguns autores consideram
se sentem bem, geralmente, são consideradas pes- que a motivação é um fator indispensável para o
soas motivadas para determinada atividade. Isso sucesso esportivo, por isso, dividem as discussões
já nos leva a pensar sobre o que vem a ser exata- acerca da motivação, baseando-se em determina-
mente esta motivação. A motivação é toda ener- das características. Essa divisão se justiica pelo
gia dispensada em uma direção e com intensidade fato de que os estágios de desenvolvimento espor-
suiciente para atingir um objetivo (WEINBERG; tivo diferentes exigem tipos diversos de motiva-
GOULD, 2017). ção. Há, porém, certa discussão mais comum de
Esta direção signiica o quanto uma pessoa, no que a motivação intrínseca seria crucial para o su-
caso o atleta, sente-se atraída por determinadas cesso em todos os níveis. (VISSOCI et al., 2008).
80
EDUCAÇÃO FÍSICA
A motivação intrínseca é uma variável que nas características de personalidade da pessoa, nas
está presente em uma das teorias da motivação suas necessidades e nos seus objetivos, isso permite
mais utilizadas no contexto esportivo nas últi- a ideia de que a pessoa pode ser predisposta, ou não,
mas três décadas, a Teoria da Autodeterminação ao sucesso. Um pensamento contrário a este primei-
(DECI; RYAN, 1985; HAGGER; CHATZISA- ro é da “Visão centrada na situação”, que discute que
RANTIS, 2007). Mas nem sempre o pensamento a motivação é determinada, primariamente, pela
de autodeterminação foi consenso. Weinberg e situação, independentemente das características do
Gould (2017) apresentam três visões que foram sujeito. Por im, a “Visão interacional” traz-nos uma
surgindo ao longo do tempo e que tentaram, de percepção que é considerada a mais aceita, atual-
alguma forma, compreender o que signiica essa mente, no contexto esportivo, pois leva em conside-
motivação humana. ração tanto as questões do sujeito quanto as questões
A primeira destas visões é a chamada “Visão da situação que o ideal é examinar a forma como
centrada no traço”, que apresenta a ideia de que o estes dois elementos interagem para pensar no com-
comportamento humano motivado ocorre baseado portamento das pessoas (Figura 1).
MOTIVAÇÃO DO PARTICIPANTE
81
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
A partir destas abordagens, surgem teorias, como a Te- gulatórios que dão nome aos diferentes tipos de mo-
oria da Autodeterminação, que aponta para a natureza tivação, que vão desde uma ausência de motivação,
e a função da motivação com base nos aspectos psico- até o que se chama autodeterminação. Esses tipos de
lógicos e propõe a motivação dentro de um continuum motivação são (PELLETIER; SARRAZIN, 2007):
regulatório (DECI; RYAN, 1985; WILSON et al., 2006). • Amotivação.
Esta teoria tem como base conceber o ser humano com • Motivação Extrínseca de Regulação Externa.
um organismo ativo que é voltado ao crescimento e a • Motivação Extrínseca de Regulação Introjetada.
um desenvolvimento mais integrado do sentido do self • Motivação Extrínseca de Regulação Identi-
e no sentido da integração com as estruturas sociais. icada.
Como é uma teoria que tem sua base em um con- • Motivação Extrínseca de Regulação Integrada.
tinuum, apresenta, também, diferentes processos re- • Motivação Intrínseca.
Motivação Motivação
Desmotivação
Extrínseca Intrínseca
82
EDUCAÇÃO FÍSICA
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PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
84
EDUCAÇÃO FÍSICA
85
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
Autoconiança e Expectativas
de Rendimento
Durante o desenvolvimento da carreira esportiva, o Com o passar do tempo e de acordo com as experi-
atleta depara-se com diversas situações que exigem ências vividas, as tomadas de decisão tornam-se mais
dele tomada de decisão rápida, mas nem sempre ela eicientes, exigindo menos esforço, tornando-se, tam-
precisa ser imediata. Em momentos especíicos, du- bém, mais intencional e consciente (TENENBAUM;
rante uma partida, por exemplo, exige-se mais ra- LIDOR, 2005). Um elemento importante no processo
pidez, e as opções nem sempre são vastas. Cada de- de tomada de decisão é a autoconiança, que também
cisão tomada, a partir de um número especíico de é adquirida ao longo do tempo.
opções, carrega possíveis consequências positivas e/ As pesquisas mostram a relação direta entre ter
ou negativas (GRECO, 2009). autoconiança e sucesso esportivo, tendo em vista o
86
EDUCAÇÃO FÍSICA
quanto os atletas de sucesso demonstram-se mais se- bém a quantidade e a duração do esforço realizado
guros de si e acreditam que suas capacidades podem na busca desse objetivo, no caso, sua persistência
lhes direcionar para o êxito (WEINBERG; GOULD, (STEFANELLO, 2007).
2017). A autoconiança, então, seria o grau de certe- Como já descrito, a autoconiança é uma variá-
za que uma pessoa tem em suas capacidades para ser vel multidimensional e, com isso, precisamos pensar,
bem-sucedido(a) em uma situação especíica, ou em individualmente, sobre os casos com os quais tra-
diversas situações (VEALEY, 2005). Mas é preciso balhamos. Mas é preciso, também, pensar em como
pensar na autoconiança como um elemento dinâ- a autoconiança pode, em certa medida, ser um fa-
mico, e não estático, pois se manifesta em determi- tor negativo para o desempenho esportivo. Este fa-
nadas situações e varia, substancialmente, no tempo tor nos leva a pensar em uma autoconiança ideal
e em resposta a novas experiências. (WEINBERG; GOULD, 2017). Esta autoconiança
Weinberg e Gould (2017) descrevem uma pes- ideal pode ser melhor compreendida na Figura 3,
quisa realizada por Vealey e Knight (2002) em que que mostra a relação em U invertido com o topo da
os autores consideram a autoconiança como uma curva inclinado um pouco mais para a direita.
variável multidimensional, podendo haver diver-
Alto
sos tipos de autoconiança, que serão apresenta-
dos a seguir.
Desempenho
e na condição de treinamento, e, para fechar, a auto- Figura 3 - Relação entre autoconiança e desempenho no esporte
coniança no potencial de aprendizagem e na possi- Fonte: adaptada de Weinberg e Gould (2017).
87
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
Falta de coniança signiica que o sujeito duvida isso faz com que o desempenho piore, como conse-
de si próprio. Um atleta pode apresentar grandes quência da crença do sujeito de que não precisa se
habilidades físicas para obter sucesso mas não tem preparar ou se esforçar para conseguir o que deseja.
tanta coniança em suas capacidades em realizar No entanto o excesso de coniança ainda é menos
determinada atividade, principalmente em situa- prejudicial do que a falta de coniança, mesmo que
ções de grande pressão. Isso ocorre também com ambos possam causar queda de rendimento (MIL-
praticantes de exercício e de atividade física, em LER; GERACI, 2011).
que a falta de coniança em relação à sua aparência Vealey e Chase (2008) apresentam um modelo
ou à capacidade de permanecer na atividade pode conceitual de autoconiança no esporte, que apre-
gerar a interrupção desta forma (FELTZ; ÖNCÜ, senta quatro elementos principais:
2014). 1. Fatores que inluenciam a coniança esportiva.
O excesso de coniança pode ser interpretado 2. Fontes de coniança no esporte.
também como uma falsa coniança. Neste caso, a 3. Construtos de coniança esportiva.
coniança é maior do que a própria capacidade, e 4. Consequências da coniança esportiva.
Afeto Comportamento
Cognição
88
EDUCAÇÃO FÍSICA
89
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
Muitos atletas, técnicos e demais proissionais en- A excelência no esporte não ocorre por acaso, e
volvidos no contexto esportivo ainda têm dúvidas mesmo grandes atletas podem ser vítimas de aba-
sobre o papel da psicologia para os atletas. Mas é timentos mentais e de erros, porém o segredo não
preciso compreender que, assim como os atletas está em evitar estes problemas, e sim, em conseguir
treinam e aprimoram suas habilidades físicas, suas reverter a situação. O autoconhecimento sobre suas
habilidades psicológicas também podem e o devem habilidades e características torna-se o grande trun-
ser (SAMULSKI, 2009). fo para que o atleta saiba respeitar seus limites e
O que vem a ser, então, o Treinamento de Habi- evitar que seu desempenho piore (HAGTVET; HA-
lidades Psicológicas? “Refere-se à prática sistemática NIN, 2007). A resistência mental é, muitas vezes,
e consistente de habilidades mentais ou psicológicas traduzida em como o atleta tem capacidade de con-
com o objetivo de melhorar o desempenho, aumentar centração, de recuperação frente a um fracasso, de
o prazer ou alcançar maior satisfação na atividade es- saber lidar com a pressão e persistir, mesmo em mo-
portiva e física” (WEINBERG; GOULD, 2017, p. 231). mentos de adversidade (BULL et al., 2005; CRUST;
Há diversos métodos para se trabalhar com estes ele- CLOUGH, 2012).
mentos que visam a modiicação do comportamento Clough, Earle e Sewell (2002) apresentam um
com o intuito de melhorar o estabelecimento de me- modelo de resistência mental baseado em 4Cs: Con-
tas, controle de atenção, relaxamento físico e mental trole, Comprometimento, Desaio (Challenge) e
entre outros pontos que, em alguns textos, podemos Coniança. A deinição de cada um destes elementos
encontrar deinidos como treinamento mental. pode ser observado no Quadro 1:
Capacidade do atleta para lidar com diversos elementos ao mesmo tempo. São diver-
Controle sos fatores que podem inluenciar o rendimento, e o controle faz com que ele perma-
neça inluente em vez de controlado.
92
EDUCAÇÃO FÍSICA
93
EDUCAÇÃO FÍSICA
Uma das variáveis psicológicas mais estudadas Quanto mais o atleta aprende a reconhecer
e que inluenciam diretamente no desempenho suas alterações de humor, e quanto mais ele con-
dos atletas é o humor. O humor relete os estados segue controlá-las, menores as chances de que elas
emocionais, corporais e comportamentais do atle- inluenciem negativamente no seu desempenho. O
ta, assim como também os sentimentos, os pensa- controle emocional e a capacidade de administrar os
mentos e o entusiasmo na realização da atividade níveis de medo, estresse e ansiedade causados pela
(WEINBERG; GOULD, 2017). situação faz com que os atletas sejam mais propen-
Como já vimos, as características psicológicas sos a alcançar níveis de ativação considerados óti-
das pessoas variam de acordo com suas experiências mos e resultados positivos durante uma competição
e suas vivências. O humor segue este mesmo pa- (WEINBERG; GOULD, 2017).
drão, pois segue as exigências provenientes do meio Entre algumas tentativas de formular conceitos
em que o atleta está inserido. Um ponto importan- sobre como trabalhar para que o desempenho de
te também é compreender que a maneira como a atletas seja o melhor possível, Morgan (1979) desen-
pessoa percebe o mundo à sua volta é inluenciado volveu o que ele chamou de Peril de Estados de Hu-
pelo seu estado de humor, o que pode diminuir ou mor, considerado um modelo de saúde mental que
aumentar o impacto dos acontecimentos e tam- muitos consideram eiciente para prever o sucesso
bém pode inluenciar a forma como essa pessoa se esportivo. Este modelo é avaliado a partir de um
comportará diante dos fatos (GAZZANIGA; HEA- instrumento psicométrico chamado POMS, que, no
THERTON, 2005). Brasil, foi validado por Rohlfs et al. (2008) e chama-
Exemplos para isso não faltam, basta observar do de Escala de Humor de Brunel (Brums).
como o atleta comporta-se em situações de treina- Este instrumento avalia seis características do
mento e em situações de competição. A situação de humor do atleta, que podem ser grandes indicati-
treinamento exige atenção e comportamento com- vos de como este está do ponto de vista psicológico
patíveis com a realidade, já as competições, os jo- e também físico. Os fatores avaliados são: Tensão,
gos e as particularidades do momento de confronto Fadiga, Depressão, Raiva, Confusão Mental e Vi-
exigem outro tipo de atenção e comportamento. São gor. Estes fatores devem ser analisados e podem
estas exigências e a forma como o atleta as percebe demonstrar alguns pontos a serem trabalhados
que podem comprometer o seu desempenho e, sa- com os atletas. São cinco fatores considerados ne-
bendo que as exigências em diferentes situações são gativos e, quando se apresentam elevados, podem
especíicas, é que o treinamento de habilidades psi- indicar uma possível queda de desempenho.Vere-
cológicas para evitar as alterações bruscas de humor mos como cada fator pode colaborar com o desem-
é importante (HAGTVET; HANIN, 2007). penho dos atletas, na Figura 6:
97
SEIS CARACTERÍSTICAS DO
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
HUMOR DO ATLETA
98
EDUCAÇÃO FÍSICA
Por im, temos o fator considerado positivo, o Vigor, que pode ser expres-
so pelos sentimentos de energia, animação e que são fundamentais para
o bom desempenho do atleta. A excitação causada pelo vigor é importante
para que o atleta tenha disposição e energia física (OLIVEIRA et al., 2015).
99
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
A partir destes seis fatores, Morgan avaliou diver- O humor é uma boa variável para se veriicar
sos atletas de rendimento e chegou ao que ele de- no contexto esportivo e, como ressaltado, pode dar
nomina Peril Iceberg. Este peril aponta que um indicativos importantes para se trabalhar com os
atleta bem-sucedido tem o fator positivo Vigor aci- atletas. Não é a única variável que pode atrapalhar o
ma da média da população, e os fatores considera- desempenho dos atletas, mas o modelo apresentado
dos negativos (Tensão, Depressão, Raiva, Fadiga e por Morgan (1979) mostra-nos seis fatores que fa-
Confusão Mental) abaixo da média da população. zem parte dessa variável psicológica. E se bem ana-
Este Peril Iceberg pode ser melhor compreendido lisados, estes podem ajudar muito os proissionais
por meio da Figura 7: que trabalham diretamente com os atletas. Buscar a
excelência esportiva é importante, porém mais im-
Escore T (50% = média da população )
65
portante é saber como analisar os fatores que podem
60 inluenciar esta busca.
55
50
45
40
35
Tensão Depressão Raiva Vigor Fadiga Confusão
Remadores
Lutadores
Corredores
100
considerações inais
Nossa Unidade III chega ao im, e nela abordamos mais alguns elementos que
são considerados, pela literatura, importantes para compreendermos o papel da
Psicologia do Esporte e do Exercício no trabalho com os atletas.
Começamos a Unidade discutindo um pouco sobre uma das variáveis mais
estudadas no contexto esportivo, a Motivação. Como sabemos, sem motivação
não conseguimos alcançar nossos objetivos, e com os atletas não é diferente. O
contexto do esporte é baseado em atingir metas ou, no caso, vencer. É impor-
tante os proissionais que atuam junto aos atletas compreenderem os principais
conceitos que circundam a motivação dos atletas e como ela pode inluenciar no
desempenho destes. E isso é importante também para as pessoas que praticam
alguma atividade física ou algum exercício com o objetivo de alcançar melhor
qualidade de vida.
Não é apenas a motivação, no entanto, que se torna importante neste cenário,
outras características psicológicas também funcionam como uma mola propul-
sora da busca pelo desempenho. Autoconiança e expectativas positivas de de-
sempenho são fundamentais para a caminhada rumo ao sucesso. A pessoa que
consegue desenvolver a autoconiança apresenta também um pensamento mais
propício para que as atividades diárias sejam mais prazerosas e possam, inclusive,
desenvolver o sentimento de paixão e felicidade na atividade.
Por isso, é importante que as habilidades psicológicas sejam trabalhadas no
dia a dia dos atletas. Quanto mais habilidade de controlar as emoções os atle-
tas apresentarem, melhor eles saberão lidar com elas em momentos de tensão
e estresse. Por isso, é importante conhecer a si mesmo e desenvolver também a
habilidade de controlar o humor, bem como os seus fatores envolvidos. Uma pes-
soa com boa capacidade de controlar suas emoções reconhece que há momentos
bons e momentos ruins, que isso é normal para todos, a diferença está em saber
como lidar com esta oscilação das emoções. Controle é muito importante.
101
atividades de estudo
1. De acordo com a Teoria da Autodeterminação, a 2. Estresse, ansiedade e medo são algumas emo-
motivação pode ser considerada a partir de duas ções que ocorrem em todos os seres humanos.
fontes: uma extrínseca e outra intrínseca. Sabe- O medo, assim como outras emoções primárias,
-se, também, que não apenas no esporte com- tem a função de “avisar” o organismo sobre pos-
petitivo, mas, nas práticas diárias, a motivação é síveis perigos que venham a ocorrer. Ele é bené-
fundamental para alcançar o objetivo proposto ico e saudável, mas, quando se torna excessivo,
(DECI; RYAN, 1985). A partir do que se sabe sobre pode se transformar em um transtorno psicoló-
a Teoria da Autodeterminação, assinale a alter- gico e prejudicar o desempenho de atletas. So-
nativa correta quanto à Motivação Intrínseca de bre o medo, assinale a alternativa correta:
Experiências Estimulantes: a) O medo é uma das principais emoções ne-
a) Ocorre quando o indivíduo regulariza, en- gativas que um atleta pode sentir, o que
tão, seu comportamento com o objetivo pode, em algumas situações, destruir a
de obter uma recompensa, ou evitar uma harmonia psíquica do indivíduo.
punição. A fonte de controle é perseguida b) Sentir medo não tem a ver com fatores cul-
pelo indivíduo como sendo completamen- turais, educacionais e sociais, por isso se
te externa a ele. torna fácil interpretar seus motivos.
b) Ocorre quando o indivíduo identiica-se c) Admitir que está com medo é fácil para
com as consequências (ex: sensação de atletas em geral, pelo fato de ser inerente
estar mais em forma) e ao comportamento a todos os seres humanos.
(ex: praticar uma atividade física).
d) A atenção e a velocidade de reação dimi-
c) É representada por muitos conceitos, tais nuem quando um atleta está com medo.
como a exploração, a curiosidade, os obje-
tivos intrínsecos de aprender, a motivação e) Técnicos e dirigentes proíbem seus atletas
intrínseca intelectual, a motivação intrínse- de sentirem medo em competições.
ca de aprender.
3. O Treinamento de Habilidades Psicológicas é
d) Ocorre quando uma pessoa faz uma ati- importante tanto para atletas de esportes indi-
vidade pelo simples prazer, sem objeti- viduais quanto coletivos. Sobre o THP, analise as
vo aparente (nem para aprender, nem airmativas a seguir.
por realizar qualquer coisa), se não por
I - É preciso desenvolver programas de acon-
apreciar a atividade; ter o prazer e sentir
selhamento psicológico individualizado
sensações prazerosas representam, pro-
com atletas para que estes possam lidar
vavelmente, a sensação mais pura de mo-
melhor com a sobrecarga emocional cau-
tivação intrínseca.
sada pelas altas exigências do esporte.
e) Ocorre quando uma pessoa sente-se moti-
II - É importante identiicar níveis de ansieda-
vada quando faz uma atividade pelo prazer
de e estresse, e o atleta precisa aprender
e pela satisfação que sente quando a reali-
a se automonitorar e, assim, direcionar ati-
za, cria qualquer coisa ou, ainda, tenta um
vidades especíicas que visem a auxiliar os
desaio difícil.
atletas a manejar a ansiedade e o estresse
em situações preparatórias e competitivas.
102
atividades de estudo
III - Tanto atletas quanto comissão técnica c) Experiência: quanto maior o tempo de
devem trabalhar em conjunto para que prática, menor será a ansiedade do atleta
os programas de manejo de estresse, de frente às situações importantes. A vivência
coesão de grupo e promoção da saúde e no esporte faz com que a ansiedade dimi-
bem-estar funcionem. nua.
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108
gabarito
1. D
2. A
3. E
4. C
5. E
109
INTRODUÇÃO
114
EDUCAÇÃO FÍSICA
muito o alcance das metas que foram delimitadas no a coesão como elemento multidimensional e tam-
início do trabalho. bém acrescenta dois fatores principais, a coesão para
Uma das estratégias utilizadas por técnicos a tarefa e a coesão social.
de sucesso é, já no início da temporada, assegurar Quando nos referimos à coesão para a tarefa,
que todos os seus jogadores se ajustem ao conceito temos em mente que signiica o quanto os mem-
de equipe e apoiem uns aos outros (WEINBERG; bros de um grupo trabalham juntos em função
GOULD, 2017). Mas, claro, a coesão de equipe não de objetivos comuns, neste caso, a conquista
é o único fator que pode levar ao sucesso, há outros de títulos e vitórias. Já a coesão social relete o
fatores envolvidos no processo. Há exemplos de quanto os membros desta equipe gostam uns dos
equipes que apresentam resultados positivos mesmo outros e também gostam de permanecer na com-
com uma aparente falta de coesão. panhia desses mesmos membros (NASCIMEN-
Uma das primeiras deinições de coesão foi re- TO JUNIOR; VIEIRA, 2013).
alizada por Festinger, Schacter e Back, em 1950, Do ponto de vista teórico, o ideal seria que uma
delimitando que ela seria um campo composto por equipe reletisse os dois tipos de coesão de forma
forças que agem para que os membros permaneçam satisfatória e elevada. Mas nem sempre isso ocorre,
no grupo (CARRON et al., 2002). Estas forças se- pois, como Weinberg e Gould (2017) relatam, diver-
riam deinidas como: a) a atratividade do grupo e b) sas equipes obtiveram resultados importantes, mas
o controle dos meios. com problemas de coesão. Um exemplo disso foi a
A atratividade do grupo é um elemento que se equipe do Los Angeles Lakers, no início dos anos
expressa no desejo de um indivíduo ter interações 2000, em que havia baixa coesão social, exemplii-
interpessoais com outros membros do grupo e de cada por discussões, brigas e comportamentos de
se envolver nas atividades deste grupo. Já o con- subgrupos. Mesmo com estes problemas, a coesão
trole dos meios refere-se aos benefícios que um para a tarefa era tão alta que supria a deiciência da
indivíduo pode obter ao fazer parte de um grupo coesão social, pois mesmo que atletas como Kobe
(WEINBERG; GOULD, 2017). Bryant e Shaquille O’Neal não se entendessem fora
Mais recentemente, Carron, Brawley e Widmeyer de quadra, dividiam o mesmo objetivo de vitória, re-
(1998) trouxeram outra deinição mais abrangente, sultando em títulos.
em que a coesão é considerada um processo dinâmi- Para compreender melhor esta discussão, Car-
co que se relete na tendência de um grupo unir-se e ron (1982) desenvolveu um modelo conceitual (Fi-
permanecer unido, sempre em busca de objetivos e/ gura 1) que auxilia na compreensão de como há di-
ou para satisfazer as necessidades afetivas dos mem- versos fatores envolvidos neste processo de coesão
bros deste grupo. Esta deinição leva a compreender de uma equipe.
115
EDUCAÇÃO FÍSICA
O sucesso de um atleta perpassa diversos elementos, cologia Organizacional, porém com algumas dife-
entre eles a qualidade da liderança. Principalmente no renças quanto às deinições. São várias também as
esporte infantil, o técnico e/ou professor deve ensinar deinições de liderança, pois cada autor conceitua de
a seus atletas quando é apropriado competir e quando acordo com sua perspectiva teórica, autores diferen-
é apropriado cooperar (WEINBERG; GOULD, 2017). tes apresentam deinições diferentes (NOCE; COS-
Seja no esporte coletivo, seja no individual, o TA; LOPES, 2009).
desempenho só será positivo frente a uma liderança Northouse (2010) deine liderança como um
eicaz, com boa qualidade de comunicação e com es- processo pelo qual uma pessoa exerce inluência
tilos de liderança sob uma perspectiva multidimen- sobre um grupo ou uma outra pessoa para que
sional. É preciso pensar, ainda, sobre a liderança que este alcance um determinado objetivo. No contex-
ocorre entre os próprios atletas. Não apenas técni- to esportivo, pensar em liderança é pensar em um
cos, mas também atletas são considerados grandes elemento multidimensional, em que as ações de
líderes, mesmo que aos olhos do público isso não um líder visam a tomar decisões, motivar os par-
seja tão visível. ticipantes do processo e oferecer feedback cons-
As discussões sobre liderança no contexto es- trutivo, o que visa também a mais qualidade nas
portivo tiveram base nos modelos teóricos da Psi- relações interpessoais.
119
EDUCAÇÃO FÍSICA
Um dos problemas mais comuns na comuni- Este modelo apresentado na Figura 3 é muito utili-
cação é o quanto as pessoas esperam que os outros zado para se compreender como as pessoas se co-
leiam suas mentes, compreendam o que elas querem municam. No entanto, é preciso pensar que a co-
dizer sem ao menos emitir um mínimo de informa- municação pode ser compreendida de duas formas.
ções suicientes para serem compreendidas (SERPA, A primeira delas é o que se conhece por Comuni-
2002). Isso é o que os pesquisadores chamam de cação Interpessoal, que ocorre, geralmente, quan-
rupturas do processo de comunicação, e esta inei- do envolve, ao menos, duas pessoas. A segunda é
ciência na comunicação pode gerar efeitos negati- chamada de Comunicação Intrapessoal, que é a
vos nas relações que são estabelecidas (WEINBERG; comunicação que a pessoa tem com ela mesma, co-
GOULD, 2017). nhecida também como diálogo interior (SAMUL-
Martens (1987) descreve que a comunicação SKI; LOPES, 2009).
ocorre segundo um processo básico, que pode A Comunicação Interpessoal é a mais comum
ser dividido em cinco passos. O primeiro passo de ser observada e é a referência que temos quan-
(1) é a decisão pessoal de enviar uma mensagem; do se fala em comunicação. Uma pessoa envia uma
em seguida, (2) esta mesma pessoa codiica-a, ou mensagem, a outra recebe e interpreta, mas, nes-
seja, transforma os pensamentos em uma mensa- te processo, muitas vezes, ocorrem distorções do
gem que possa ser interpretada; após codiicá-la, a conteúdo enviado, é mal interpretada, o que pode
transmite (3) para um receptor. Essa transmissão, gerar alguns problemas. A comunicação não verbal
geralmente, é feita por meio de palavras, mas tam- é um fator importante neste tipo de comunicação,
bém pode ser não verbal. Ocorre, então, a recep- e, no contexto esportivo, muitas vezes, os compor-
ção (4) dessa mensagem, que é interpretada pelo tamentos não verbais dos adversários podem in-
receptor e, em seguida, ocorre uma resposta inter- luenciar nas expectativas de resultados dos atletas
na, baseada em emoções (interesse, raiva ou alívio (BUSCOMBE et al., 2006).
pela mensagem). Esses passos podem ser observa- Todos conversam consigo mesmos, portan-
dos na Figura 3: to, a Comunicação Intrapessoal é mais comum do
que imaginamos, além de ser muito importante.
Decisão de enviar Resposta interna do Essa comunicação interna ajuda a pessoa a mode-
uma mensagem receptor à mensagem
lar e a prever com ela age e se comporta. Quanto
mais positiva essa comunicação interna, maiores as
chances de inluenciar, por exemplo, a motivação da
Traduz pensamentos Receptor interpreta a
em uma mensagem mensagem pessoa para a prática de exercícios e também atle-
tas a continuarem na busca por melhores resultados
(WEINBERG; GOULD, 2017).
Mensagem canalizada Há algumas diretrizes que podem ser utilizadas
(verbal e não verbal)
para que o processo de comunicação seja mais eicaz
Figura 3 - Etapas do Processo de Comunicação
(MARTENS, 1987). Algumas dessas diretrizes po-
Fonte: adaptada de Martens (1987). dem ser observadas no Quadro 1:
123
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
Não espere que as pessoas descubram o que se passa na sua mente. Enviar a mensa-
Ser direto
gem indiretamente causa interpretações equivocadas.
Se você está emitindo uma mensagem, seja claro e diga “eu”. O que você diz, é o que
Ser dono de sua men-
você acredita. Não use outras pessoas para se proteger. Evite dizer “a equipe acha...”,
sagem
“a maioria acha”.
Ser completo e espe- Forneça todas as informações que o outro precisa receber para compreender sua
cíico mensagem.
Evite mensagens duplas, pois emitem signiicados contraditórios, causam confusão.
Ser claro e consistente
Um técnico precisa ser claro ao dizer os motivos pelos quais está escalando um atleta.
Expresse suas neces-
Os relacionamentos íntimos precisam ser baseados na coniança, e compartilhar sen-
sidades e sentimentos
timentos é importante para um grupo de pessoas que buscam os mesmos objetivos.
claramente
Não envie mensagens baseadas em ameaças, sarcasmo ou julgamentos. Isso pode
Demonstre apoio
gerar falta de interesse do receptor quanto à mensagem.
Repita (com cautela) os pontos importantes para reforçar o que pretende que as pes-
Reforce com repetição
soas entendam sobre o que está querendo dizer.
Adeque a mensagem Saiba com quem está falando para que sua mensagem possa ser adaptada e melhor
ao receptor compreendida pelo receptor. O vocabulário utilizado é importante neste processo.
Mesmo que uma pessoa utilize estratégias para se e amanhã já mudam de ideia e dizem algo oposto ao já
comunicar melhor, há sempre alguns ruídos que dito. Mas o receptor também pode ser responsável pe-
ocorrem neste processo. A comunicação eletrônica las falhas de comunicação ao interpretar, erroneamen-
facilita e melhora a rapidez da comunicação, mas te, uma mensagem, ou quando “deixam de escutar”.
não impede que ela seja ineiciente em alguns as- Pode-se considerar três níveis de escuta: Nível 1:
pectos. Alguns pontos são importantes de se com- escuta ativa, que denota a forma correta de se escutar
preender quando falamos de falhas no processo de uma mensagem; Nível 2: refere-se a escutar apenas
comunicação (WEINBERG; GOULD, 2017). o conteúdo quando ele é dito, gerando, no emissor, a
Uma das falhas mais comuns é a do emissor da sensação de desinteresse do receptor; Nível 3: ocorre
mensagem, que pode ser enviada de forma insatisfató- quando o receptor ouve apenas uma parte da men-
ria. A mensagem também pode ter uma característica sagem, o que leva a não compreender a mensagem
de incoerência, pois algumas pessoas dizem algo hoje correta (SAMULSKI; LOPES, 2009).
124
EDUCAÇÃO FÍSICA
125
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
A percepção que os atletas têm da situação esportiva dos competidores. Mas a competição em si não pro-
é muito importante. E isso só é possível com a ajuda duz o atleta agressivo e hostil. O que determina este
de técnicos, pais e demais proissionais do contex- tipo de comportamento e sentimento é o foco em
to esportivo. Considerando a competição como um fazer qualquer coisa para vencer, mesmo que isso
processo social aprendido e que sofre inluência do signiique prejudicar seu adversário (WEINBERG;
ambiente, é preciso pensar nos estágios deinidos GOULD, 2017).
por Martens como fundamentais para se compreen- Para os gregos, a competição era um princípio
der o ambiente esportivo. vital, e o sujeito crescia e se desenvolvia imerso em
um espírito criador, um competidor (RUBIO, 2002).
SAIBA MAIS Mas estes fatos ocorrem em casos extremos. Há di-
versas situações esportivas de competição em que os
atletas aprendem a ajudar os companheiros, a traba-
Podemos classiicar os técnicos baseando em
cinco estilos principais de tomada de decisão: lharem em conjunto na busca dos mesmos objetivos,
autocrático, autocrático-consultivo, consul- e isso reduz a ênfase dada pelas pressões pela vitória.
tivo-individual, consultivo-grupal e grupal.
Estas características de grupo geram um ambiente
Embora os estilos de decisão autocrático e
consultivo-grupal sejam os preferidos dos social mais positivo e melhoram o desempenho.
treinadores, a escolha do estilo de decisão É importante que as crianças se insiram em am-
mais eiciente depende do técnico e de sua
bientes esportivos competitivos desde cedo, mas a
situação particular.
competição infantil deve ser baseada em práticas
Fonte: Chelladurai e Trail (2001).
pedagógicas, principalmente no contexto educacio-
nal, para que estas atividades gerem a possibilidade
de raciocínio e relexão sobre o contexto (RUFINO
Todo processo social precisa ser pensado de forma et al., 2016). O esporte competitivo, desde que tra-
especíica. Cada estágio apresentado sofre inluência balhado de forma educativa com as crianças, possi-
dos demais estágios, dos fatores ambientais exter- bilita a compreensão de que ele pode desenvolver a
nos, e o processo de competição deve conter o papel inclusão, a cooperação e a divisão de tarefas. Nin-
do processo de socialização e o contexto social para guém está sozinho no esporte, e a cooperação entre
determinar a orientação das ações (WEINBERG; os envolvidos é muito importante (TUBINO, 2010).
GOULD, 2017). As atitudes esportivas surgem des- As atividades que são realizadas em cooperação
de idades pouco avançadas na vida do ser humano, tendem a produzir desempenho melhor do que o
e as diferenças naturais que ocorrem, por exemplo, competitivo, no entanto, quando a atividade deve
por conta do sexo, são resultados das questões so- ser realizada com outra pessoa, os resultados são
ciais presentes, e não de questões apenas naturais sempre melhores do que quando trabalham sozi-
(ECCLES; HAROLD, 1991). nhos. Cooke et al. (2011) avaliaram diversas pessoas
O contexto competitivo, em que a ênfase é dada em atividades simples que envolviam alcançar resul-
no processo de vencer e derrotar um adversário, pro- tados em que deveriam dar o melhor de si. Quando
duz a ideia de hostilidade e agressividade por parte realizaram as atividades sozinhas, o resultado foi
128
EDUCAÇÃO FÍSICA
REFLITA
129
considerações inais
130
atividades de estudo
1. Liderança poderia ser considerada de forma ge- 2. Trabalhar com grupos de pessoas é uma das
nérica como “o processo pelo qual um indivíduo características da Psicologia, assim como outras
inluencia um grupo de indivíduos para o alcance áreas das Ciências do Esporte, em que a aplica-
de uma meta comum“ (NORTHOUSE, 2010, p. 3 ção dos conhecimentos é voltada para a saúde e
apud WEINBERG; GOULD, 2017, p. 187), porém, o rendimento dos atletas. No trabalho com gru-
no esporte, esta deinição precisa ser melhor pos, a Psicologia do Esporte e do Exercício visa a
discutida para que possa se adaptar a este am- intervir em equipes de esportes coletivos e, até
biente. Por isso, Chelladurai (1978) apresenta o mesmo, individuais, tendo em vista a quantidade
Modelo Multidimensional de Liderança no Es- de pessoas envolvidas no dia a dia. Sobre o tra-
porte, que indica algumas características do líder balho com grupos e o trabalho do proissional de
esportivo seja na competição, seja no momento Psicologia, analise as airmativas a seguir:
de treinamento. Considerando este modelo de I - Trabalhar sempre com programas de psi-
liderança, analise as airmações como seguem: coterapia individual, levando os atletas a
I - O Comportamento Treino-Instrução cor- lidarem melhor com a sobrecarga emocio-
responde ao comportamento do do trei- nal do cotidiano do esporte.
nador voltado para a melhoria da perfor- II - Trabalhar com elementos, como a ansie-
mance dos atletas por meio da focalização dade traço e a ansiedade estado e, assim,
das preocupações, nos treinos duros e poder direcionar atividades especíicas que
exigentes. visem a auxiliar os indivíduos a manejar o
II - O Comportamento de Suporte Social do estresse em situações de preparação para
técnico é quando ele não se importa com competições e durante competições.
o que os atletas fazem fora do ambiente III - Trabalhar em conjunto com atletas, téc-
esportivo, ou seja, na sua vida social. nicos e comissão técnica maneiras de
III - O Comportamento de Reforço é quando o enfrentar o estresse em competições,
treinador reforça, positivamente, o atleta, controle da concentração, ampliação das
reconhecendo e recompensando os seus habilidades de comunicação e de coesão
bons desempenhos. de equipe, padrões de resiliência diante
de situações de derrota em competições,
IV - O Comportamento Autocrático é o com-
desenvolvimento da noção de esporte
portamento do treinador que preconiza a
como promoção de saúde e bem-estar in-
independência nas tomadas de decisão e
dividual e coletivo.
vinca a sua autoridade pessoal.
É correto o que se airma em:
Está de acordo com o Modelo Multidimensional de
a) I, apenas.
Liderança no Esporte de Chelladurai a alternativa:
a. I e II. b) III, apenas.
b. II e IV. c) I e II, apenas.
c. I, III e IV. d) II e III, apenas.
d. I e III.
e) Todas as airmativas estão corretas.
e. I, II, III e IV.
131
atividades de estudo
3. Coesão é um processo dinâmico, que é rele- 5. Martens (1975) descreve quatro estágios do mo-
tido na tendência de um grupo a tornar-se e a delo de competição. Sobre o estágio situação com-
manter-se unido na busca de seus objetivos e/ petitiva subjetiva, analise as airmativas a seguir:
ou para a satisfação das necessidades afetivas I - Necessita sempre de um padrão de com-
de seus membros (CARRON et al., 2002). Expli- paração sobre o nível de desempenho.
que quais os dois tipos de coesão que devem ser
II - É o momento da comparação entre a res-
considerados ao se trabalhar com uma equipe posta do atleta e o padrão comparado.
esportiva, abordando quais as duas forças distin-
tas que agem para que os membros permane- III - É o momento em que a pessoa avalia a
situação e decide se vai continuar (enfren-
çam em um grupo.
tar), ou não, a situação.
4. O diálogo interior é um fator potencial de distra-
IV - Caracteriza-se como a maneira que uma
ção mental. Toda vez que o atleta pensa em algo,
pessoa percebe, aceita e avalia a situação
ele está conversando consigo mesmo. Este diálo- competitiva objetiva.
go interior também é chamado de Comunicação
Intrapessoal e tem sua importância no desempe- É correto o que se airma em:
nho do atleta. De acordo com Samulski e Lopes a) I, apenas.
(2009), descreva as características da Comunica-
b) III, apenas.
ção Intrapessoal.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) IV, apenas.
132
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136
gabarito
1. C
2. D
3. Uma das primeiras deinições de coesão foi realizada por Festinger, Schacter
e Back em 1950, delimitando que a coesão seria um campo composto por
forças que agem para que os membros permaneçam no grupo (CARRON et
al., 2002). Estas forças seriam deinidas como: a) a atratividade do grupo, e
b) o controle dos meios.
Mais recentemente, Carron, Brawley e Widmeyer (1998) trouxeram outra
deinição mais abrangente, em que a coesão seria considerada um pro-
cesso dinâmico que se relete na tendência de um grupo se unir e per-
manecer unido, sempre em busca de objetivos e/ou para satisfazer as
necessidades afetivas dos membros deste grupo. Esta deinição leva a
compreender a coesão como um elemento multidimensional e também
acrescenta dois fatores principais, a coesão para a tarefa e a coesão social.
Quando nos referimos à coesão para a tarefa, temos em mente que signiica
o quanto os membros de um grupo trabalham juntos em função de objeti-
vos comuns, neste caso, a conquista de títulos e vitórias. Já a coesão social
relete o quanto os membros desta equipe gostam uns dos outros e tam-
bém gostam de permanecer na companhia uns dos outros (NASCIMENTO
JUNIOR; VIEIRA, 2013).
4. É preciso pensar que a comunicação pode ser compreendida de duas for-
mas. A primeira delas é o que se conhece por Comunicação Interpessoal,
que ocorre, geralmente, quando envolve ao menos duas pessoas. A segunda
é chamada de Comunicação Intrapessoal, que é a comunicação que a pes-
soa tem com ela mesma, conhecida também como diálogo interior (SAMUL-
SKI; LOPES, 2009).
Todos conversam consigo mesmo, portanto, a Comunicação Intrapessoal é
mais comum do que imaginamos, além de ser muito importante. Essa co-
municação interna ajuda a pessoa a modelar e a prever com o ela age e
se comporta. Quanto mais positiva essa comunicação interna, maiores as
chances de inluenciar, por exemplo, a motivação da pessoa para a prática
de exercícios e também atletas a continuarem na busca por melhores resul-
tados (WEINBERG; GOULD, 2017).
5. E
137
INTRODUÇÃO
No senso comum, é fácil perceber o quanto as pes- Estimular a prática de esportes desde a infância é
soas consideram que praticar algum esporte e/ou um ponto que já discutimos. Os benefícios são inú-
fazer uma atividade física traz benefícios para a meros, e as experiências vividas na infância tendem
saúde dos praticantes. Apesar de os conceitos de a ter efeito para a vida toda (KAVUSSANU, 2002). A
saúde e de doença se alterarem ao longo do tempo, regularidade na prática esportiva é considerada um
é sempre válido atentar-se à deinição mais disse- dos fatores importantes na manutenção da saúde, e
minada da Organização Mundial da Saúde (WHO, investigar os benefícios psicológicos que esta prática
1948) que considera a saúde como o bem-estar fí- traz, não só para as crianças, mas para os adultos e
sico, mental e social, e não apenas ausência de do- também para os idosos, é um ponto fundamental.
ença. Esta é uma das principais questões a serem Algumas características psicológicas tendem a
avaliadas quando o assunto é Promoção da Saúde, melhorar com o envolvimento esportivo. O resga-
não focar tanto na doença. te da autoestima, a melhora no autoconceito e na
Com o avanço da tecnologia, as discussões qualidade de vida estão entre elas. Mas há que se
acerca do movimento das pessoas, principalmente lembrar também que nunca é tarde para iniciar esta
crianças, é assunto permanente. Alguns defenden- prática. Na fase adulta e/ou idosa, pode ser mais di-
do seus benefícios, outros criticando por conta dos fícil, mas não impossível, e adquirir o hábito pode
prejuízos que são causados. A demanda dos produ- levar um tempo.
tos eletrônicos disponíveis, atualmente, que visam A sensação de pertencimento a um grupo é
a facilitar a vida das pessoas, leva-nos a reletir jus- outro fator importante no contexto da prática es-
tamente sobre como essa tecnologia pode afetar a portiva. Sentir-se aceito gera a sensação de que há
saúde mental e o bem-estar físico e psicológico das preocupação dos demais para consigo, o que gera a
pessoas (OLIVEIRA et al., 2016). sensação de bem-estar individual (ORLICK, 2000).
Quando o assunto saúde torna-se um fator Estas características auxiliam no fortalecimento do
importante na vida das pessoas, é preciso pensar autoconceito, muito relacionado à satisfação com a
em como podemos ter estratégias para melhorá-la vida e pode ser deinido por Tamayo (2001) como
e em como lutar para mantê-la. Os dados sobre estrutura cognitiva que organiza as experiências
saúde mental da população, a quantidade de pes- passadas do indivíduo, controla o processo informa-
soas com diagnósticos de depressão, ansiedade e tivo relacionado a ele próprio e exerce uma função
demais transtornos de humor são cada vez mais de autorregulação.
alarmantes (WHO, 2015, on-line)1. O uso de me- Todo este mecanismo que gera sensações emo-
dicamentos é uma das formas de tratamento para cionais positivas nas pessoas faz com que a percep-
este tipo de enfermidade, e as pesquisas têm de- ção de competência e controle sobre um estilo de
monstrado a importância também da prática de vida ativo e saudável sejam também intensiicados.
atividade física e esporte que podem colaborar Diversas áreas da vida da pessoa são inluenciadas
com o tratamento, além de aumentar os sentimen- positivamente, vida emocional, vida interpessoal,
tos de bem-estar e contribuírem para a redução vida social e as relações sociais melhoram (CAL-
das enfermidades já citadas. MEIRO; MATOS, 2004). Veja que esta relação da
143
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
prática esportiva com a saúde mental não signiica O benefício social e para a saúde que a prática de
tratar alguma doença em especíico, sendo este o atividade física proporciona é muito importante. Há
mecanismo de Promoção da Saúde importante que é a consequência de contribuir com a cidadania, pro-
causado por este contexto (OLIVEIRA et al., 2016). porcionar atividades em grupo que possibilitam a
O autoconceito é apenas um fator que pode se compreensão sobre regras, respeito aos companhei-
beneiciar da prática esportiva. Este hábito saudável ros, além de melhorar o autoconceito e a autoestima
pode contribuir para um desenvolvimento integral já salientados. Todos são aspectos importantes para
das pessoas, levando a um melhor ajustamento pes- a compreensão da relação da atividade física com a
soal e social. Com isso, podemos pensar também na Promoção da Saúde (OLIVEIRA et al., 2016).
autoestima que envolve o grau em que o pratican- Os meios de comunicação e as pesquisas que são
te está satisfeito consigo mesmo. O sentimento que realizadas, atualmente, no campo da atividade física
envolve a percepção de uma baixa autoestima pode e da saúde, destacam a necessidade de a população
resultar em experiências negativas de fracasso pes- adquirir hábitos saudáveis de vida. Isso se torna uma
soal e a percepção de que a avaliação de terceiros ferramenta de combate aos danos causados à saúde,
também é negativa (TAMAYO, 2001). decorrentes, por exemplo, do estilo de vida urbana
Em sua pesquisa com atletas de voleibol, Vieira atual (SAMULSKI et al., 2009a).
et al. (2010) descrevem que o autoconceito represen- A atuação no campo da Promoção da Saúde é
ta uma característica do sujeito que o leva a certas complexo, pois envolve o pensamento de trabalho
escolhas, certos comportamentos, com isso, para interdisciplinar para compreender a complexidade
que o comportamento de uma pessoa mude, primei- do fenômeno descrito como saúde. Este fato envol-
ro é preciso que o seu autoconceito mude. Proissio- ve, entre outros aspectos, o incentivo ao desenvolvi-
nais que atuam junto a atletas precisam valorizar o mento de comportamentos saudáveis, o que inclui,
autoconceito à medida que necessitam de mudanças no nosso caso, a prática esportiva, e isso é social-
de comportamentos e atitudes para que sua percep- mente aceito (GUEDES, 2016).
ção seja positiva a ponto de colaborar com seu de- Apesar dos pontos já salientados, é fundamen-
sempenho. tal pensar que os benefícios causados pela prática
Autoconceito e autoestima não são a mesma esportiva não são automáticos e levam certo tempo
coisa, apesar de muitos tratarem como tal. A auto- para ocorrer. Na infância e na adolescência, o prin-
estima pode ser deinida como a forma como nos cipal elemento é contribuir para o desenvolvimen-
sentimos acerca de nós mesmos e pode ser consi- to psicológico e da personalidade. Já nos adultos e
derada um componente avaliador do autoconceito nos idosos, é preciso organizar o ambiente para que
(BRANDEN, 2000). Se a autoestima envolve avalia- possa contribuir com a qualidade de vida de forma
ção, a prática de esportes e atividade física podem satisfatória. O engajamento na atividade física ou no
contribuir, e muito, para que crianças e adolescen- esporte geram consequências por longos períodos
tes desenvolvam uma autoestima mais positiva e, de tempo, desenvolvem nas pessoas outros compor-
ao chegarem na idade adulta, possam utilizar estas tamentos considerados saudáveis, deixando também
características positivas a seu favor. as experiências sociais mais positivas.
144
EDUCAÇÃO FÍSICA
145
EDUCAÇÃO FÍSICA
A maioria dos transtornos psicológicos são tratados São diversos benefícios que a prática esportiva
com o uso de medicamentos, psicoterapias e demais pode causar, do ponto de vista psicológico, quanto
atividades do contexto médico e psicológico. Mas mais se pratica uma atividade física ou um espor-
como já destacado, a prática de atividade física tem te, maiores as chances de desenvolver níveis altos de
se tornado uma grande aliada ao tratamento de di- autoeicácia e competência percebida, aumentando
versas enfermidades. Dados epidemiológicos dão também a motivação para a prática (WEINBERG;
conta de contribuir com esta ideia sobre a inluência GOULD, 2017). Não é de hoje que os autores deba-
benéica que a atividade física e o esporte produzem tem estes benefícios psicológicos. Em 1985, Taylor
na vida da população (WEINBERG; GOULD, 2017). et al. (1985) descreveram alguns efeitos, mostran-
Os transtornos mentais mais comuns na popula- do que a prática esportiva aumenta o desempenho
ção mundial são a ansiedade e a depressão, e a ati- acadêmico, a positividade, a coniança, melhora a
vidade física pode ser um elemento de muita ajuda estabilidade emocional, a satisfação sexual e o bem-
neste processo de tratamento. Os efeitos agudos (ime- -estar. Além de diminuir os índices de abuso de
diatos) e crônicos (de longo prazo) podem inluen- substâncias nocivas, como o álcool, reduz os índices
ciar nas mudanças positivas da saúde mental dos pra- de raiva, ansiedade, depressão e tensão.
ticantes, independentemente do tipo de exercício.
Sobre a ansiedade, os estudos que investigam SAIBA MAIS
os efeitos crônicos na redução da ansiedade têm
tido grandes resultados, mostrando que práticas de O exercício está associado à redução de emo-
exercício por um tempo signiicativo (dois a quatro ções estressantes, como o estado ansioso, e
meses) tendem a diminuir de forma signiicativa está ligado a um nível reduzido de depressão
e ansiedade de leves a moderadas. A longo
os estados ansiosos dos praticantes (O´CONNOR; prazo, o exercício físico costuma estar asso-
PUETZ, 2005). Compreender quais mudanças psi- ciado a reduções de traços, como neurose e
cológicas podem ser esperadas com determinados ansiedade.
tipos de exercícios e também com os níveis de in- Fonte: Weinberg e Gould (2017).
147
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
Ser resiliente signiica ter capacidade de superar às vezes, não são consideradas importantes. Pensar
uma situação que poderia ter sido traumática, com nos motivos que levam as pessoas a se engajarem em
uma força renovada (ANAUT, 2005). Muitos auto- determinadas atividades, a idade dos praticantes,
res têm considerado um mecanismo importante de o sexo e a experiência em determinadas atividades
defesa contra o estresse e a adversidade (CLOUGH não podem ser descartadas. Há que se considerar
et al., 2002). características como a competência técnica, a possi-
O uso do esporte como parte de uma inter- bilidade de diversão, o prazer e a saúde, como discu-
venção médica ou terapêutica pode, de certa ma- tem Bernardes et al. (2015).
neira, encorajar uma abordagem positiva voltada O foco na infância e na adolescência é funda-
à promoção da saúde, no sentido de que os prati- mental. Os adolescentes encontram-se em uma
cantes de esporte e de atividade física incorporam fase de escolhas e decisões, e os comportamentos
e aprendem um estilo de vida mais saudável por emitidos neste momento podem determinar sua
meio do exercício (WEINBERG; GOULD, 2017). interação com a sociedade e aquisição de hábitos
Este estilo de vida pode ser descrito como um con- e atitudes que podem inluenciar outros compor-
junto de ações e comportamentos do cotidiano que tamentos positivos ao longo da vida (OLIVEIRA
relete as atitudes, os valores e que são realizados et al., 2017).
de forma consciente. O hábito pode ser considera- O trabalho da Psicologia, no estímulo da popu-
do consciente se a pessoa que realiza percebe que o lação à adesão de hábitos saudáveis, visa a relexão
valor de um comportamento deve ser mudado por sobre a importância deste processo para a saúde
meio de sua vontade própria (NAHAS, 2006; RA- global da sociedade, além de contribuir, também,
PHAELLI, 2009). para a diminuição de comportamentos de risco
O bem-estar psicológico causado pela prática entre as classes menos favorecidas. Martins et al.
esportiva faz parte do estabelecimento de um esti- (2012) discutem que incentivar jovens a criarem
lo de vida saudável, o que é fundamental para me- estratégias que possibilitem a adoção de hábitos
lhor qualidade de vida. Mas há que se lembrar que saudáveis pode ser fundamental para que estes
estes benefícios só são possíveis com a realização comportamentos de risco reduzam e se transfor-
constante, de forma regular, da atividade, além de mem em aspectos positivos.
ser orientada por proissionais qualiicados para tal. Vale ressaltar que o bem-estar psicológico pode
Não podemos esquecer que a atividade física ou o variar de acordo com o tipo de atividade que se rea-
esporte sozinhos não fazem milagre, é preciso ob- liza, além de se considerar os demais fatores envol-
servar outros elementos fundamentais, como a boa vidos na prática, como o ambiente físico, os prois-
alimentação, a hidratação adequada, o descanso re- sionais instrutores e a própria pessoa que realiza a
letido em noites bem dormidas, entre outras ativi- atividade. Isso nos leva a pensar novamente no su-
dades importantes (WHO, 2010). jeito é um ser biopsicossocial, remetendo à diicul-
A orientação adequada, com proissionais quali- dade de se estabelecer conceitos e estratégias que
icados, visa as questões que estão envolvidas e que, sejam comuns a todos (SAMULSKI et al., 2009a).
148
EDUCAÇÃO FÍSICA
149
EDUCAÇÃO FÍSICA
so icar atento às questões psicológicas, principalmente que torna este modelo útil para discutirmos suas
as consideradas negativas, para que programas de pre- características e contribuições.
venção sejam estabelecidos com o intuito de, pelo me- O modelo de Kübler-Ross (2008), adaptado ao
nos, minimizar os efeitos negativos das lesões. As cau- contexto esportivo, visa a descrever como os atletas e/
sas do estresse são inúmeras, desde situações sociais e ou praticantes de esportes e exercícios que se lesionam
competitivas, até exigências em excesso e estrutura psi- agem diante de tal fato. O processo todo é descrito
cológica que, muitas vezes, entra em contradição com em cinco estágios: negação, raiva, barganha ou nego-
a noção do senso comum de que esporte e saúde são a ciação, depressão, aceitação e reorganização. Embora
única relação existente (WEINBERG; GOULD, 2017). esses estágios sejam bem descritos pela autora, é ne-
cessário lembrar que os indivíduos lesionados, não ne-
REFLITA
cessariamente, seguem um padrão estabelecido nem
demonstram suas emoções baseadas nestes cinco está-
gios. Mas, levando em consideração esse modelo, rele-
Lesões ocorrem por diversos motivos, e isso
exige atenção interdisciplinar no processo de tiremos sobre como cada momento pode ser enfrenta-
reabilitação, dando atenção tanto às altera- do pelos atletas. A maioria passa por todos os estágios,
ções musculoesqueléticas quanto às altera- no entanto o tempo e a duração deles é dependente das
ções psíquicas.
características psicológicas apresentadas pelos atletas
(GORDON et al., 1991).
As reações psicológicas envolvidas nas lesões esporti- Logo nos momentos que seguem uma lesão, é
vas é o que nos interessa neste momento. Como já vi- possível veriicar no atleta a fase de Negação, carac-
mos, há fatores psicológicos que podem desencadear terizada pela descrença sobre o ocorrido, o que o leva
reações isiológicas que deixam o atleta mais propen- a negar sua importância. Com o passar do tempo e
so a se lesionar. Mas quais os fatores psicológicos en- a percepção de que a lesão é séria e terá consequên-
volvidos após a lesão? Como trabalhar para fortalecer cias, instala-se o estágio de Raiva, sendo demonstra-
os aspectos psicológicos de um atleta ou praticante de da por meio de agressividade com os demais à sua
atividade física no processo de recuperação? volta. A fase de Barganha ocorre quando o atleta co-
Independentemente da causa, do tipo e da in- meça a negociar consigo mesmo algumas estratégias
tensidade da lesão, as respostas emocionais preci- na tentativa de se recuperar de forma mais rápida.
sam ser analisadas. Kübler-Ross (2008), em seus es- As estratégias giram em torno de propor soluções na
tudos sobre a morte e o morrer, estabeleceu que as tentativa de evitar a realidade da situação. Ao per-
pessoas experimentam reações de ajustamento que ceber conscientemente a situação grave da lesão, o
podem ser chamadas de estágios do processo de atleta pode experimentar um período de Depressão
morrer. Algumas pesquisas na área esportiva têm e incerteza sobre o futuro, principalmente sobre o
utilizado este modelo para discutir a importância retorno da prática esportiva. Por im, a Aceitação
da intervenção psicológica nestes casos (VELOSO; instala-se, e essa fase é importante para que possa
PIRES, 2007), as implicações psicológicas nas le- iniciar o processo de reabilitação e retorno às ativi-
sões (VASCONCELOS-RAPOSO et al., 2014), o dades (SAMULSKI; AZEVEDO, 2009).
151
EDUCAÇÃO FÍSICA
Após compreender alguns dos mecanismos psicoló- podem colaborar para o alívio da dor e do próprio
gicos presentes nas situações de lesão, no contexto estresse da situação, além da redução da tensão mus-
esportivo, é preciso pensar em como a Psicologia cular, melhora no luxo sanguíneo e melhora do sis-
pode colaborar com a recuperação dos lesionados, tema imunológico (NATA, 2011).
sendo atletas ou não. Do ponto de vista da estrutura Todos os proissionais envolvidos no processo
psicológica, pessoas lesionadas que utilizam melhor de recuperação de um atleta precisam compreender
suas estratégias de estabelecimento de metas, men- que esta é uma fase complexa, cheia de percalços. Da
talização e possuem estratégias de enfrentamento parte da psicologia, a compreensão dos fatores de
mais adequadas são aquelas que se recuperam tam- risco nesta situação faz-se importante para intervir
bém mais rápido (IEVLEVA; ORLICK, 1991). de acordo com as necessidades estabelecidas. Mas
De acordo com Samulski e Azevedo (2009), o o trabalho isolado da Psicologia, sem comunicação
atleta lesionado precisa receber o máximo de in- com as demais áreas, torna o alcance dos resultados
formações possível sobre a gravidade da lesão bem mais complicado.
como sobre o processo de reabilitação. A informa-
ção sobre a realidade da situação deixa o atleta mais
seguro e com possibilidade de lidar melhor com a
reabilitação e as possíveis intercorrências.
As técnicas psicológicas são importantes ferra-
mentas nesse momento. Proporcionar ao atleta es-
tratégias de estabelecimento de metas, baseando-se
nos prazos para um possível retorno, nas sessões de
isioterapia necessárias, tipos de exercícios a serem
realizados, pode ajudar o atleta a manter o foco no
processo. Estabelecer uma meta relaciona-se com a
expectativa do sucesso, mantendo o atleta concen-
trado nas atividades que precisa realizar. Mas estas
metas precisam se concentrar nas possibilidades,
na realidade, não podem ser muito exageradas, pois
isso pode causar frustração pelo não alcance destas
(NUNES et al., 2010).
Com as metas traçadas, ica mais fácil aderir a
outras técnicas, como o diálogo interno, que ajuda
na retomada da autoconiança e pode ser utiliza-
do, inclusive, para bloquear pensamentos negativos
que surgem em decorrência da lesão (HATZIGE-
ORGIADIS et al., 2008). Por ser um momento que
causa estresse no atleta, as técnicas de relaxamento
153
EDUCAÇÃO FÍSICA
Como abordado no tópico anterior, as lesões po- ocorre por conta de um repouso insatisfatório, o
dem ser causadas, entre outros fatores, pelo exces- que gera queda do desempenho (U. S. OLYMPIC
so de treinamento, falta de descanso e atividades COMMITTEE, 1998).
mal orientadas. O excesso de prática esportiva, Do ponto de vista isiológico, a estafa é muito
proissional ou não, pode ter consequências não comum, que se caracteriza por um estado isiológico
tão agradáveis assim a quem pratica. Abordare- de treinamento excessivo que pode ser manifestado
mos, agora, algumas destas consequências que, como prontidão esportiva deteriorada (WILMORE;
infelizmente, ocorrem de forma silenciosa e, apa- COSTILL, 2001). A estafa tem como sinal principal
rentemente, repentina. a queda do desempenho do atleta, mas também há
O excesso de treinamento é muito conhecido sinais psicológicos, como alteração do humor, po-
pelo termo em inglês overtraining e pode ocorrer, dendo evoluir para quadros depressivos.
muitas vezes, pela pressão para que os atletas obte- Atualmente, muitas pesquisas estão estudando
nham resultados positivos e permaneçam treinando os efeitos psicológicos do excesso de treinamento e
o ano todo com vigor e intensidade máximos. Além concluindo que o burnout também é uma das suas
de fatores extraesporte que incluem questões pu- consequências. No Brasil, as pesquisas de Pires et
blicitárias, status e a ideia de quanto mais, melhor al. (2005) tentam compreender este fenômeno que
(WEINBERG; GOULD, 2017). causa afastamento físico, emocional e social de uma
O excesso de treinamento tornou-se um proble- atividade física (ou esporte) que antes era agradável.
ma signiicativo no contexto esportivo. No entanto Como nos casos clínicos, esse afastamento pode ser
atletas amadores e praticantes de atividade física acompanhado por exaustão emocional e física, além
também estão chegando ao limite da prática, sofren- de uma desvalorização do esporte praticado.
do problemas físicos e psicológicos, o que ocasiona, Alguns pesquisadores dedicam-se a compreen-
muitas vezes, o encerramento da carreira e da práti- der quais fatores podem levar o atleta ao excesso de
ca. A periodização do treinamento é uma das prin- treinamento, tendo em vista este ser um fator muito
cipais ferramentas para minimizar as consequências individual e de difícil mensuração. Apesar da relação
negativas da prática, é uma estratégia de expor os básica entre o volume de treinamento e as reações a
atletas a cargas de treinamento de grande volume e este volume excessivo, há evidências de que o estres-
alta intensidade, seguidas por uma carga de treina- se não esportivo pode ser associado ao treinamento
mento mais baixa, chamada de repouso ou polimen- excessivo (MEEHAN et al., 2004). Tobar (2012) en-
to (GOMES, 2009). controu também que o excesso de treinamento tem
Quando este treinamento vira excessivo, relação com alterações de humor e a ansiedade dos
ocorre um ciclo mais curto em que os atletas atletas, mas ainda com a ressalva de que isso depen-
são expostos a cargas de treinamento excessivas, de da estrutura psicológica individual.
próximas da capacidade máxima. Como este tra- Levando em consideração estes fatores, o Qua-
balho com sobrecarga é um processo individu- dro 1 apresenta os principais sinais e sintomas que
al, por vezes, torna-se demais, podendo resultar podemos encontrar nos casos de excesso de treina-
em lesões e demais consequências negativas. Isso mento e de burnout no esporte.
155
PSICOLOGIA DO ESPORTE E DO EXERCÍCIO
Como podemos observar no Quadro 1, os sintomas transições naturais que ocorrem no contexto espor-
do excesso de treinamento e do burnout são mui- tivo, tornando-as insatisfatórias e, até mesmo, não
to parecidos e são de natureza física e psicológica. ocorrer, em neste caso, evoluindo para o abandono
Estes fatores tornaram-se um problema signiicativo da prática (STAMBULOVA; WYLLEMAN, 2014).
no contexto esportivo, principalmente de alto nível, Em cada idade, o tipo de treinamento é espe-
o que tem causado, em alguns casos, o encerramento cíico, mas é sempre necessário que os envolvidos
precoce de uma carreira que poderia ser de sucesso tenham consciência de um planejamento especíico
(SAMULSKI et al., 2009b). Isto leva à importância para evitar que o excesso de treinamento e a pres-
do fato de os proissionais envolvidos no contexto são estabelecida ocasionem o abandono da carreira
entenderem dos sintomas que podem surgir por do atleta e, até mesmo, o surgimento de comporta-
conta do excesso de treinamento. mentos considerados prejudiciais à carreira. Manter
A pressão por resultados e pela dedicação na o corpo e a mente saudáveis é fundamental para o
prática pode ter algumas consequências negati- andamento da carreira, seja um atleta proissional,
vas. Quando se fala em crianças e adolescentes, os seja um praticante de atividade física. O estresse
efeitos psicológicos e físicos podem ser bem seve- crônico causado pelo excesso de treinamento e pelas
ros, podem ocorrer quedas de desempenho, baixa condições diárias da prática cobram um alto preço
autoestima, surgimento de transtornos alimentares ao corpo e à mente do atleta, portanto, cuidar da
e lesões crônicas (CARR; WEIGAND, 2014). Estes saúde mental, no contexto esportivo, é tão impor-
sintomas podem surgir em decorrência do excesso tante quanto cuidar da saúde física (WEINBERG;
de treinamento e acabam prejudicando também as GOULD, 2017).
156
considerações inais
Chegamos ao inal de mais uma unidade e, nesta última etapa da nossa disciplina,
focamos em aspectos que fogem um pouco do contexto do esporte de rendimen-
to, mas que são tão importantes quanto, pois o destaque icou por conta da saúde
e do bem-estar do atleta e também do praticante de atividade física.
O primeiro ponto discutido foi a respeito de como o esporte pode ser um
elemento a ser trabalhado, visando a qualidade de vida e a promoção da saúde da
população como um todo. Praticar um esporte signiica mais do que cuidar do
corpo, signiica, também, manter a mente em condições saudáveis ao ponto de
guiar os comportamentos de forma mais qualitativa, visando a saúde.
As consequências psicológicas da prática esportiva são amplamente discu-
tidas nas pesquisas da área, principalmente destacando os efeitos positivos de
como o esporte pode colaborar com o bem-estar psicológico das pessoas. A re-
lação mente e corpo, nestes casos, é o ponto importante a ser pensado, tendo em
vista a natureza humana indissociável neste caso.
Apesar das consequências positivas da prática esportiva, precisamos pensar
também em como o esporte pode ocasionar fatores negativos, como as lesões. As
diferentes modalidades esportivas geram diferentes estímulos, e também os atle-
tas estão sujeitos a diferentes tipos de lesões. As lesões podem prejudicar muito
a carreira de um atleta e inluenciar, negativamente, a motivação de uma pessoa
para a prática esportiva.
Por im, ainda discutindo aspectos referentes às lesões, uma temática tem
preocupado os envolvidos no esporte, que é o caso do excesso de prática esporti-
va, denominado overtraining. O excesso de prática pode ter consequências sérias
aos atletas, como o estresse elevado (burnout), lesões, comportamentos adictivos
e, até mesmo, o abandono da carreira. Com isso, fechamos a ideia de que pensar
no esporte vai além de pensar no aspecto físico, foca-se, também, no aspecto psi-
cológico, que é tão importante quanto.
157
atividades de estudo
158
referências
161
referências
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referências
Referências on-line:
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163
gabarito
164
conclusão geral
Prezado(a) aluno(a), espero que este livro tenha Este conhecimento vai desde o início da práti-
contribuído com sua formação, com vistas à impor- ca, considerando os motivos que levam a pessoa a se
tância dos aspectos psicológicos envolvidos no es- inserir neste contexto, até os diversos pontos, como
porte, seja ele de rendimento, voltado para a saúde, as variáveis que contribuem para a continuidade
seja de bem-estar psicológico. Ao longo das cinco da prática e as variáveis que podem prejudicar esta
unidades, abordamos temáticas que não esgotam o atividade. No que concerne ao esporte proissional,
universo da Psicologia do Esporte e do Exercício, há as exigências físicas aumentadas e, com isso, as
mas estão em alta nas discussões em frentes de atu- exigências psicológicas também aumentam, pois a
ação no Ensino, na Pesquisa e na Intervenção no busca por resultados em uma competição é, muitas
contexto esportivo. vezes, barreira a ser ultrapassada que demanda de-
É fundamental a compreensão de que o traba- masiado esforço. O objetivo é contribuir para que
lho da Psicologia do Esporte e do Exercício pode um atleta possa desempenhar suas atividades de for-
ser realizado tanto por proissionais de Psicologia ma saudável, física e psicologicamente.
quanto de Educação Física, desde que respeita- Já a prática esportiva voltada à saúde deve ser
dos os limites da prática proissional. Conhecer considerada uma atividade permanente na vida das
os fatores psicológicos envolvidos no esporte e pessoas, desenvolvendo estratégias que colaboram
na atividade física é fundamental, e o proissional com o desenvolvimento saudável da população bem
de Educação Física necessita deste conhecimen- como para a promoção da saúde geral.
to para que seu trabalho ultrapasse a barreira de Desta forma, espero que tenham aproveitado, e
focar apenas nas questões físicas do esporte e da que este conteúdo possa ser aplicado, diariamente,
atividade física. em sua prática proissional.