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Análise da mobilidade sustentável de um campus

universitário
Uma Leitura baseada na aplicação da Sintaxe Espacial

EIRADO, Ricardo Stashnell Kosloski ¹


Universidade de Brasília, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
ricardo.eirado@aluno.unb.br

Resumo

A presente proposta de artigo parte da investigação da


mobilidade urbana sustentável sob o enfoque da morfologia urbana para
abordar a hipótese de que a análise configuracional pode auxiliar na
compreensão e planejamento das dinâmicas de movimentação em campus
universitários, tanto com relação à escala da metrópole quanto em
relação aos fluxos internos. Aborda o problema a partir da revisão de
literatura sobre a relação entre morfologia urbana e mobilidade
nos conjuntos universitários. Aplica, por meio de estudo de caso, análises
axial e de visibilidade baseadas na teoria da lógica social do espaço no
campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília como instrumento para
auxílio no planejamento de sua infraestrutura viária e de mobilidade. O
referido campus foi selecionado com base em sua relevância arquitetônica e
urbanística e o presente processo de atualização de seu plano diretor de uso
e ocupação. Também é aplicada simulação multiagente para correlacionar a
integração obtida por cálculo de visibilidade (VGA) com a dinâmica de
movimentação ensaiada no estudo de caso do campus. As análises
mostraram adequação da rede carroçável com as atividades desenvolvidas
na região e desintegração e descontinuidade na rede destinada à ciclistas e
pedestres, que possuem centros de integração em localidades distintas da
rede carroçável além de que mudanças de hierarquia viária no entorno do
conjunto podem se apresentar como potencialmente danosas à dinâmica de
movimentação do campus, diminuindo a sustentabilidade da mobilidade por
meios ativos. Podemos concluir que a análise axial e de visibilidade junto a
análise de usos e atividades têm potencial para antecipar e espacializar
padrões de caminhabilidade em câmpus universitários. Elucidou-se a
necessidade para a manutenção das características bucólicas da região
mesmo com edições posteriores de infraestrutura viária e discute-se a
precisão dos métodos utilizados para a o mapeamento de caminhos
peatonais.

Palavras-Chave: Mobilidade Sustentável. Morfologia Urbana, Sintaxe


Espacial, Campus universitários, Universidade de Brasília.
Introdução

No campo do urbanismo, emergem os trabalhos que abordam a forma e


espaço como elementos que afetam o desempenho da dinâmica urbana que
são relacionados à sustentabilidade, já que a forma urbana, uma vez posta,
não continua ativamente exercendo consumo de recursos e degradando o
ambiente, mas influencia no consumo e na degradação (Newman &
Kenworthy, 1989; Bezerra e Gentil, 2013). No estudo da mobilidade urbana,
tal relevância pode ser observada a partir de trabalhos recentes que
propõem índices para avaliação da eficiência indicando que propriedades do
uso, da geometria e da configuração 1 do espaço influenciam sua eficiência.
(Nechet, 2012; Costa, 2007; Frank et al., 2005; Dobesova & Krivka, 2002;
ITDP, 2017).
Para Medeiros (2013) São mais recorrentes as abordagens morfológicas
sobre mobilidade acerca da articulação dos elementos urbanos (edificações,
vias e caminhos e quarteirões) em cidades inteiras ou pelo menos distritos,
conquanto o interesse por se compreender a relação forma-configuração em
sub-regiões da cidade é ciência que se encontra em desenvolvimento e há
relevância em se estudar a mobilidade em regiões menores, como
complexos edificados da cidade quando propõem certa intensificação em
sua direção dos fluxos que afetam a dinâmica global, exemplos são os
centros financeiros, industriais e institucionais, por sua forte convergência
populacional em cidades com estas atividades como foco. O presente papel
se debruça a conhecer o cenário nacional do estudo da mobilidade urbana
com foco em sustentabilidade em campus universitários, que segundo
Balsas (2003), geralmente constituem polos geradores de viagens na cidade,
causando impactos significativos em sua estrutura de movimentação
partindo do contexto da análise morfológica, em especial, a da configuração
urbana, por razão da escassez de trabalhos com este enfoque nos centros
universitários brasileiros e para responder como a análise configuracional
pode auxiliar a entender as dinâmicas de movimentação entre o campus e a
cidade e intra-campus. A razão de tal questionamento é pela presente
necessidade em se complementar o estudo da mobilidade em conjuntos
universitários com dados de configuração para apoiar o desenvolvimento de
índices holísticos desta temática, haja vista que a maior parte destes
instrumentos considera apenas questões sociais, de infraestrutura viária e
modos de transporte. (Dias, 2014; Gentil, 2015)
O objetivo geral é, portanto, a partir do conhecimento da relação
morfologia e mobilidade analisar o desempenho da mobilidade urbana em um
campus universitário, em seus fluxos internos e na relação com a cidade por
meio da configuração espacial. Os objetivos específicos são: a. realizar
revisão bibliográfica sobre os atributos morfológicos mais relacionados à
sustentabilidade da mobilidade urbana e caminhabilidade, o cenário de
estudos de mobilidade e de configuração em centros universitários, a
disponibilidade e adequação das ferramentas aplicáveis para a medição de
atributos configuracionais e b. proceder estudo empírico sobre um campus
universitário para se verificar a relação dos parâmetros configuracionais
analisados com emergências sobre a sustentabilidade da mobilidade da
cidade para o campus e dentro do campus, em sua dinâmica própria.
Quanto à metodologia, o trabalho consiste numa pesquisa aplicada, que
adota a revisão bibliográfica para confrontar o problema de mobilidade
passível de ser abordado pela configuração via teoria social do espaço
(Hillier & Hanson, 1984) em campus universitários a partir de consulta em
trabalhos relevantes indexados pelo buscador Google Acadêmico com menos

1
Configuração pode ser entendida como o aspecto proveniente da relação entre as
porções da forma.
de dez anos de publicação. A revisão precede a aplicação por meio de
estudo de caso em um campus universitário escolhido a partir do ineditismo
do estudo e possíveis contribuições ao planejamento de sua infraestrutura
viária e de mobilidade. O exercício utilizará de recursos telematizados e
softwares livres para o fornecimento de dados primários a serem
confrontados buscando relações com a facilidade de deslocamento, a
caminhabilidade e a predisposição da malha para adoção de meios ativos de
deslocamento.
A partir deste bloco o trabalho se divide na Revisão de Literatura, em que
se discute as a palavras-chaves fundamentais à compreensão do problema,
seguida por um bloco detalhando a metodologia utilizada, resultando na
confecção de quadro acerca do processo de sua aplicação. Por último os
resultados são expostos e os achados são discutidos no último bloco do
artigo junto às considerações finais.

1. Revisão de Literatura - Morfologia urbana e mobilidade


sustentável

O presente trabalho adota o conceito desenhado pela OECD (1997) de


mobilidade sustentável como o deslocamento de bens e pessoas num regime
de consumo e degradação igual ou inferior ao que o sistema pode promover.
Quanto a forma urbana, segundo Holanda et al. (2000), é “qualquer espaço
em que nos encontremos, que é fisicamente delimitado, a ponto de
estruturamos sua noção a partir da consciência das relações topológicas e
perspectivas entre nosso corpo e as superfícies que realizam a demarcação
do espaço que estamos”. A morfologia urbana nasce como ciência descritiva
designada a estudar a relação entre o ambiente construído e a paisagem
natural segundo Schutter (1899) e que, para Conzen (1960), foi popularizada
a partir da segunda metade do século XX com os avanços tecnológicos que
permitiram novos meios de sentir e visualizar a cidade tanto em seus
aspectos geométricos como topológicos.
A análise morfológica inicia com os estudos descritivos, mas avança
pelo campo da configuração a partir de teorias e ferramentas que buscam
avaliar a interação entre as partes compositivas da malha urbana,
frequentemente quanto à rede viária. A teoria da lógica social do espaço
desenvolvida por Hillier & Hanson (1984) têm demonstrado eficácia em
antever cenários a partir da configuração urbana. Nesta ciência são recentes
os estudos que procuram vincular forma e espaço urbanos à mobilidade
sustentável e que ganharam força a partir do debate entre os modelos de
cidade que desempenhariam melhor esta função, o que atualmente tende às
qualidades dos modelos de cidades de compactas (Bezerra e Gentil, 2013)
Segundo as autoras os meios urbanos compactos tem alta densidade
edificada, baixa extensão de espaços vazios, malha urbana contínua e
conectada e quanto aos usos, há diversidade e coexistência espacial de
múltiplas funções reduzindo a distância média de deslocamentos. Estes
atributos são também apoiados por Gomes (2009), Neuman (2005) e Costa
(2007). Já as áreas consideradas dispersas são para os autores aquelas
caracterizadas pelo desenvolvimento descontínuo e linear que consome
vastas áreas de baixa densidade e com uso do solo restrito, influenciando
sobre o movimento pendular dos deslocamentos, reforçando o caráter de
‘cidades-dormitórios’, como é o caso de metrópoles como Brasília. Ewing
(1997) frisa que cidades que assumiram expansão urbana com progressivas
ampliações de seu perímetro ante a consolidação interna desenharam sua
trama para uma condição dispersa e descontínua, que além de gerar
problemas ambientais gera problemas de mobilidade (SILVA E ROMERO,
2011). É bom frisar, densidades muito altas também oferecem desafios ao
desenvolvimento sustentável, notadamente quanto à degradação e
contaminação do solo e do ar, a complexidade infraestrutural e para a
mobilidade, maiores dificuldades relativas à segurança no trânsito a
enfrentar do que em modelos dispersos de cidade (GENTIL, 2015).
A tabela 1 traz uma relação de características da forma que favorecem a
mobilidade sustentável segundo publicações recentes em suas propriedades:

a. Funcionais, que decorrem do padrão e distribuição das atividades em


relação a ocupação;
b. Geométricas, inerentes da forma que constitui o tecido urbano, tais
como a densidade e compacidade da massa construída e a extensão e
desenho das vias e;
c. Configuracionais, que são propriedades emergentes da relação entre
as partes constituintes do sistema urbano e que nesta análise
referem-se à relação entre os eixos viários e caminhos de pedestres e
ciclistas.

Tabela 1: Atributos da forma e ocupação urbana que contribuem para a mobilidade sustentável
segundo publicações recentes.

Uso Geometria Configuração


curtos
de

de
Alta possibilidade
Alta inteligibilidade
Atributos

Alta conectividade
Alta compacidade
Desconcentração

da forma

Alta visibilidade
Alta integração
Usos Mistos

Quarteirões
(<200m)

Autores

rotas
usos

Gentil (2015) x x x x x x x
Barros (2014) x x x x
Dias (2014) x x x x x
Bezerra (2013) x x x x x
Nechet (2013) x x x
Silva e Romero (2011) x x x x x x
Fonte: Elaborado pelo autor

Para Silva e Romero (2011), quanto aos usos, a diversidade e


dispersão podem ser eficientes para a redução de distâncias e tempos de
deslocamentos e influenciarem a população à adoção de transportes ativos.
A densidade alta também influencia na redução de consumo de combustível
per capta e no menor custo de infraestrutura viária e consumo de terras com
esta finalidade, fatores associados a sustentabilidade socioeconômica e
físico-ambiental (NEWMAN E KENWORTHY, 1999; BEZERRA, 2013). No que se
refere à configuração, em termos globais, sistemas com alta integração e
conectividade de suas malhas viárias tendem à maior sustentabilidade da
mobilidade por disporem de rede viária mais acessível e com maiores
possibilidades de caminhos do que sistemas com valores considerados
baixos destes atributos, estas características contribuem para a eficiência
do escoamento do trânsito (Medeiros, 2013).

2.1 Caminhabilidade

Ozelim (2022) ao avaliar 192 indicadores internacionais diversos de


caminhabilidade constatou que mais de 70% estão relacionados a forma
urbana, apesar de que é recorrente que índices para aferição do grau de
sustentabilidade da mobilidade considerem atributos mensuráveis pela
sintaxe apesar de não a incluírem no processo, o que geralmente é feito de
modo qualitativo e descritivo (GENTIL, 2015, MARQUES BRACARENSE E
SOUSA, 2015). A tabela 2 mostra que a visibilidade e a existência de
barreiras ao deslocamento são componentes que influenciam sobre o grau
de apreensão do espaço, valores considerados altos destes atributos
favoreceriam a caminhabilidade e adoção de transportes ativos (LYNCH,
1960; BARROS, 2014).

Tabela 2: Atributos da forma e ocupação relacionados a caminhabilidade


Uso Geometria Configuração

curtos

Possibilidade de rotas
redução de barreiras
Atributos
da forma

Inteligibilidade
Conectividade
Usos Mistos

Quarteirões

Visibilidade
integração
(<200m)
Autores

Worls Resousrce
x x x x x x x
Institute (2015)
Design-Oriented
Traffic Development – x x x x
DOTS (2017)
Barros (2014) x x x x x x
Ozelim (2020) x x x x x
Silva e Romero (2011) x x x x x
Fonte: Elaborado pelo autor

Piezsy, Przestrzeni e Todzi (2020) afirmam forte relação entre índices de


integração, e conectividade com a dinâmica de movimentação peatonal,
espaços que favorecem e limitam a caminhabilidade são criados, por
estímulo de seus usos e sua forma de orientação. (HILLIER ET AL., 1993;
KAMRUZZAMAN, 2018; TURNER E PENN, 2002). Os autores encontraram
forte correlação entre valores de integração axial com as regiões mais
percorridas pelos pedestres através da simulação multiagente 2.

2.2 Mobilidade e morfologia em Campus Universitários

Os campi universitários podem ser interpretados como locais vinculados


ao ensino e pesquisa, de formação de tomadores de decisão e
frequentemente sua estrutura física e social é associada com exemplos de
boas práticas em diversos aspectos, e que certamente não exclui a
mobilidade, uma oportunidade para que se desenvolva de modo sustentável
como exemplo para a cidade (TOLLEY, 1996; MEIRELES, 2014; VALE ET AL.,
2018). Silva e Tan (2018) abordaram a mobilidade sustentável em campus
através do estabelecimento de um índice criado por Oliveira (2015), sendo
que são recorrentes os trabalham que buscam a aferição de fenômenos
contemplados por índices para avaliação holística da mobilidade apesar de
pouco comuns os que tratam da configuração urbana diretamente. O
trabalho se baseou em transferir um índice originalmente criado para
cidades para um contexto reduzido. É possível observar que assim como a

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Simulação multiagente se refere a partículas programadas com dada função, no caso
do estudo foram programadas como pedestres e atividades corriqueiras pela região
simulada.
maioria das análises focadas em mobilidade, o trabalho de Silva e Tan se
baseou em questões de infraestrutura viária e transportes.
A Tabela 3 elenca os parâmetros considerados pelo índice IMScamp,
destacando em vermelho aqueles que poderiam ser avaliados través da
sintaxe espacial.

Tabela 3: Atributos considerados pelo IMScamp (Oliveira, 2015)

Fonte: Oliveira, 2015

O grau de acessibilidade de um sistema em seu potencial geométrico


pode ser medido pela sintaxe espacial através do atributo integração global,
enquanto outras variáveis como visibilidade e conectividade permitem a
obtenção de percepções sobre o desempenho da mobilidade das
infraestruturas viárias e sua adequação ao meio de transporte dominante.
Estudos que abarcam a configuração de campus universitários têm
aparecido em aplicações diversas, em especial à estruturação social e de
segurança (BARATA, 2019), medição do desempenho morfológico (OLIVEIRA
ET. AL, 2020), grau de orientação (MANO E BRAGA, 2018), estes encontraram
que no cenário de campus com baixa compacidade, a tendência da
caminhabilidade parece ser seguir por rotas indefinidas que convergem para
as áreas mais integradas e divergem para as áreas mais conectadas.

3. Estudo empírico de mobilidade em campus universitário

Há notícias de análises que tangenciam a seara da morfologia e


mobilidade para campus dos estados de Rio de Janeiro e São Paulo, Minas
Gerais e Florianópolis. Para o Distrito Federal, avanços nessa direção seriam
complementares aos estudos recentes sobre a configuração dos campi da
Universidade de Brasília. Seu conjunto mais tradicional, o campus Darcy
Ribeiro passa por processo de revisão de seu plano diretor, portanto novas
informações configuracionais podem ser apreciadas por seus eixos de
pesquisa tanto pela descrição do desempenho morfológico quanto para a
mobilidade sustentável, dados em que o estudo em tela pretende contribuir.
A localização do campus Darcy Ribeiro, da Universidade de Brasília é
implantado no contexto da escala bucólica da cidade, que prevê que a
característica de atividades na região seja relacionada à baixa densidade de
ocupação, alto índice de vegetação e fomento às atividades ao ar livre, com
contato com o ambiente natural preservado (IPHAN, 2018), portanto mesmo
que a literatura defenda a compactação e densificação para eficiência da
sustentabilidade da mobilidade, o caso do campus analisado resguarda
limitações impressas por suas diretrizes, mantidas como parte integrante do
tombamento do conjunto urbanístico da cidade.

4. Método

O primeiro passo para o estudo empírico foi a identificação dos


atributos morfológicos mais mencionados pela literatura consultada para as
duas escalas propostas de análises –
a. Escala ‘Macro’: Sintaxe espacial, análise axial, relação do campus
com a cidade
b. Escala ‘Micro’: Sintaxe espacial, análises axial e de visibilidade,
dinâmica interna do campus
Foi selecionado o campus Darcy Ribeiro da universidade pelos
critérios mencionados e os atributos investigados por meio da sintaxe foram
definidos: a compacidade, a integração global e regional, a conectividade e
a visibilidade; e os elementos investigados a partir da descrição morfológica
foram a categoria de atividades exercidas em cada edificação do conjunto e
a verificação da existência ou não de barreiras para a circulação.
Foi conduzida a modelagem de eixos para o cálculo sintático da região
em que o campus é situado o considerando como parte da cidade e como
sistema isolado, da sua rede cicloviária e peatonal através de desenho com
técnica adequada ao desenho de eixos e seus cruzamentos em software
para processamento geográfico de informações (QGIS) utilizando como base
imagens fornecidas pela Digital Globe e o cálculo sintático foi realizado pelo
plugin Depthmap_X_Net. Na segunda escala de análise os estudos de
caminhabilidade foram realizados a partir da confecção de mapas de
visibilidade (VGA), Isovistas e simulações multiagentes; realizadas a partir
da transcrição de mapa do campus extraído de ferramenta GIS. Os mapas de
visibilidade e isovistas foram usados para se aferir a área desobstruída e,
portanto, potenciais para favorecer a caminhabilidade. Como barreiras foram
consideradas as edificações, cercas e muros e transições abruptas de nível
como os arrimos. A planta resultante foi trabalhada no software DepthMap
0.80 para o cálculo das variáveis integração e conectividade no mapa VGA,
Gate counts e tráfego de agentes em simulação de 5 horas de tráfego pelo
campus nos. A Figura 1 resume o processo de análise desenvolvido até a
obtenção dos resultados.

Figura 1: Processo de análise

Fonte: Elaborado pelo autor


5. Resultados

O primeiro passo para o estudo empírico foi a identificação dos


atributos morfológicos mais mencionados pela literatura consultada para as
duas escalas propostas de análises como mostram os diagramas da figura 2.

Figura 2: Atributos analisados

Partindo da escala da cidade, a universidade se situa em uma região


com valores médios de integração mais baixos do que o centro da cidade e
seus eixos viários principais Norte e sul e Leste Oeste, o que pode ser visto
a partir da representação gráfica, que ilustra em cores mais quentes os
valores mais altos do atributo. Isto significa que apesar da grande população
universitária – cerca de 70 mil pessoas – o campus desempenha papel local
em relação aos fluxos potenciais da cidade, participando pouco da rede
regional (Figura 3). O segundo diagrama da figura 3 mostra uma nova
conexão que pode ser feita entre a universidade e um bairro de Brasília,
como uma nova saída para sua porção norte. Mantém-se a escala bucólica
no campus enquanto se mantém as características funcionais e
configuracionais da região, ao passo que se a universidade passa a ser
articuladora de fluxos regionais, um aumento do tráfego viário pode ser
esperado enquanto se especula que a característica local do trânsito na
universidade pode ser modificada, potencialmente afetando a
caminhabilidade e gerando dificuldades em termos de segurança para meios
ativos. Ao verificar esta possibilidade, foi observado um acréscimo no
atributo integração global médio sobre os eixos da universidade, o que é
interessante para antever cenários de maior potencial geométrico de
demanda de fluxos na região.

Figura 3: Análise Axial de Brasília


O segundo diagrama é resultado da simulação de integração global
recalculada considerando a presença de uma nova ponte para escoamento
de fluxos reginais, com trânsito pelo interior do campus, solução prevista no
plano diretor da cidade e que atualmente passa por consulta e que pode
entrar em conflito com a segurança da movimentação no campus por meios
ativos, dificultando a sustentabilidade da mobilidade.
Prosseguimos com o estudo do campus como sistema isolado para
compreender sua dinâmica interna, na figura 4 a modelagem de eixos revela
que a universidade tem comprimentos de eixo considerado altos, e de
segmentos considerados baixos em relação à metrópole e capitais
brasileiras (MEDEIROS E HOLANDA, 2010). O fato significa relativa
linearidade dos eixos e alta vascularidade do sistema, o que apoia a ideia de
quarteirões curtos como componente favorável a mobilidade (JACOBS, 1962)
e linearidade como fator favorável à orientação do pedestre (LYNCH, 1960).
A compacidade é baixa em relação à média de Brasília, mas sua manutenção
é importante para a manutenção da escala bucólica e densidade de
vegetação que caracterizam o lugar, favorecendo o acontecimento de
percursos aprazíveis ao caminhar, no contexto bioclimático.

Figura 4: Cômputo de eixos e compacidade do campus


O primeiro diagrama da figura 5 apresenta uma comparação gráfica
entre a atividade principal desempenhada em cada edificação do campus e o
valor de integração global. Ao passo que a atividade desenvolvida em dado
local constitui a motivação para o deslocamento, o atributo integração
global pode medir o potencial de acessibilidade da rede, ou seja os locais
mais percorridos. A atividade de ensino e pesquisa é circundada pelos eixos
com maiores valores de integração e a manutenção desta característica
pode influenciar na encontrabilidade e vitalidade do espaço por estimular a
co-presença ao redor de áreas mais utilizadas pela comunidade acadêmica.
A porção residencial do conjunto remanesceu nas adjacências de regiões
com menores valores de Integração. Ao comparar o primeiro e terceiro
diagrama das figuras é possível observar pela varável integração os pontos
de convergência e pela variável conectividade os pontos de divergência de
fluxos, que se encontram na porção Leste do campus e oferecem um
conjunto mais vascularizado, com maior possibilidade de rotas. Dois grandes
estacionamentos são dispostos no centro do sistema, nas adjacências das
regiões mais integradas, apesar de serem espaços inertes.
A figura 6 expõe os mesmos atributos analisados para a rede ciclo-
viária, que foi modelada considerando as ciclovias e trilhas percorridas por
ciclistas. É possível observar grande descontinuidade e pouca cobertura da
área do conjunto universitário, O centro de integração das ciclovias – no
extremo sul do conjunto - não coincide com o centro da rede carroçável –
aproximadamente no centro geométrico do sistema. Tal relação indica
necessidade de incrementos na rede ciclo-viária e principalmente a
necessidade de aumento da rede ao redor do Instituto Central de Ciências –
ICC. Ao final da análise axial a figura 6 exibe a rede peatonal, que tem a
mesma situação de descontinuidade observada na rede ciclo-viária, também
há localidades de interrupção abrupta dos caminhos ou ligação de caçadas
diretamente em ciclovias, solução que feita com a devida segurança pode
aumentar a sustentabilidade da mobilidade a partir da coexistência de
modos ativos e graus parecidos de integração entre as redes peatonais,
carroçáveis e ciclo-viária, fato que não ocorre no caso observado. Ainda,
existem calçadas em partes no campus isoladas da rede principal, portanto
não representadas na análise axial. As descontinuidades ocorrem com maior
frequência nas proximidades do Hospital veterinário, Finatec, Colina, centro
de convenções e almoxarifado geral.
Figura 5: Integração global e regional e conectividade no Campus
Figura 6: Integração global e regional na rede cicloviária do Campus

A figura 8 expõe os diagramas produzidos pela análise de visibilidade, o


primeiro diagrama mostra relativa proporcionalidade entre os campos
desobstruídos para a caminhabilidade, destacam-se a presença de
edificações muradas nas porções centrai e Sul, o que diminui a visibilidade
prejudicando a caminhabilidade. Da análise de VGA no atributo integração se
encontrou correlação espacial com a simulação multiagente indicando que
este atributo pode ser eficaz na antecipação de cenários de fluxos peatonais
dominantes.
Figura 7: Integração global e regional e conectividade na rede peatonal do campus
A figura 8 expõe os diagramas produzidos pela análise de visibilidade,
o primeiro diagrama mostra relativa proporcionalidade entre os campos
desobstruídos para caminhabilidade, destacam-se a presença de edificações
muradas nas porções central e Sul, o que diminui a visibilidade prejudicando
a caminhabilidade.

Figura 8: Análises de visibilidade


Figura 9: Simulação baseada em agentes
Discussão

A modelagem axial de trilhas considera caminhos deixados pelos


usuários em trânsitos marcados no espaço não pavimentado, mas há certas
regiões em que as opções e trânsitos peatonais podem ser tão diversos que
meios apoiados por imagens de satélite se fazem insuficientes para um
mapeamento preciso de rotas em grandes campos abertos ou áreas de
estacionamento, requerendo para um mapeamento holístico dos percursos
de pedestres, observações feitas com outros tipos de instrumento.
Demonstrou-se que a avenida principal da Unb recebe fluxos
apropriados à dinâmica do campus, não sendo apropriada a novas dinâmicas
como a construção de nova ponte por mudar a escala local (bucólica).
A análise de visibilidade demonstra forte relação com os espaços
institucionais do campus apesar de que barreiras como muros e construções
sem passagens poderiam ser diminuídas para uma maior permeabilidade.

Referências

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aspecto relacional na análise da mobilidade urbana para o pedestre. Brasília,
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transferência de um índice de mobilidade sustentável para campus
universitário. Transportes, v. 27, n. 2, p. 31-41, 2019.

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