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Resumo
Introdução
1
Configuração pode ser entendida como o aspecto proveniente da relação entre as porções da forma.
influenciam sua eficiência. (Nechet, 2012; Costa, 2007; Frank et al., 2005; Dobesova & Krivka,
2002; ITDP, 2017).
Para Medeiros (2013) São mais recorrentes as abordagens morfológicas sobre mobilidade
acerca da articulação dos elementos urbanos (edificações, vias e caminhos e quarteirões) em
cidades inteiras ou pelo menos distritos, conquanto o interesse por se compreender a relação
forma-configuração em sub-regiões da cidade é ciência que se encontra em desenvolvimento e
há relevância em se estudar a mobilidade em regiões menores, como complexos edificados da
cidade quando propõem certa intensificação em sua direção dos fluxos que afetam a dinâmica
global, exemplos são os centros financeiros, industriais e institucionais, por sua forte
convergência populacional em cidades com estas atividades como foco. O presente papel se
debruça a conhecer o cenário nacional do estudo da mobilidade urbana com foco em
sustentabilidade em campus universitários, que segundo Balsas (2003), geralmente constituem
polos geradores de viagens na cidade, causando impactos significativos em sua estrutura de
movimentação partindo do contexto da análise morfológica, em especial, a da configuração
urbana, por razão da escassez de trabalhos com este enfoque nos centros universitários
brasileiros e para responder como a análise configuracional pode auxiliar a entender as
dinâmicas de movimentação entre o campus e a cidade e intra-campus. A razão de tal
questionamento é pela presente necessidade em se complementar o estudo da mobilidade em
conjuntos universitários com dados de configuração para apoiar o desenvolvimento de índices
holísticos desta temática, haja vista que a maior parte destes instrumentos considera apenas
questões sociais, de infraestrutura viária e modos de transporte. (Dias, 2014; Gentil, 2015)
O objetivo geral é, portanto, a partir do conhecimento da relação morfologia e mobilidade
analisar o desempenho da mobilidade urbana em um campus universitário, em seus fluxos
internos e na relação com a cidade por meio da configuração espacial. Os objetivos específicos
são: a. realizar revisão bibliográfica sobre os atributos morfológicos mais relacionados à
sustentabilidade da mobilidade urbana e caminhabilidade, o cenário de estudos de mobilidade e
de configuração em centros universitários, a disponibilidade e adequação das ferramentas
aplicáveis para a medição de atributos configuracionais e b. proceder estudo empírico sobre um
campus universitário para se verificar a relação dos parâmetros configuracionais analisados com
emergências sobre a sustentabilidade da mobilidade da cidade para o campus e dentro do
campus, em sua dinâmica própria.
Quanto à metodologia, o trabalho consiste numa pesquisa aplicada, que adota a revisão
bibliográfica para confrontar o problema de mobilidade passível de ser abordado pela
configuração via teoria social do espaço (Hillier & Hanson, 1984) em campus universitários a
partir de consulta em trabalhos relevantes indexados pelo buscador Google Acadêmico com
menos de dez anos de publicação. A revisão precede a aplicação por meio de estudo de caso
em um campus universitário escolhido a partir do ineditismo do estudo e possíveis contribuições
ao planejamento de sua infraestrutura viária e de mobilidade. O exercício utilizará de recursos
telematizados e softwares livres para o fornecimento de dados primários a serem confrontados
buscando relações com a facilidade de deslocamento, a caminhabilidade e a predisposição da
malha para adoção de meios ativos de deslocamento.
A partir deste bloco o trabalho se divide na Revisão de Literatura, em que se discute as a
palavras-chaves fundamentais à compreensão do problema, seguida por um bloco detalhando a
metodologia utilizada, resultando na confecção de quadro acerca do processo de sua aplicação.
Por último os resultados são expostos e os achados são discutidos no último bloco do artigo junto
às considerações finais.
O presente trabalho adota o conceito desenhado pela OECD (1997) de mobilidade sustentável
como o deslocamento de bens e pessoas num regime de consumo e degradação igual ou inferior
ao que o sistema pode promover. Quanto a forma urbana, segundo Holanda et al. (2000), é
“qualquer espaço em que nos encontremos, que é fisicamente delimitado, a ponto de
estruturamos sua noção a partir da consciência das relações topológicas e perspectivas entre
nosso corpo e as superfícies que realizam a demarcação do espaço que estamos”. A morfologia
urbana nasce como ciência descritiva designada a estudar a relação entre o ambiente construído
e a paisagem natural segundo Schutter (1899) e que, para Conzen (1960), foi popularizada a
partir da segunda metade do século XX com os avanços tecnológicos que permitiram novos
meios de sentir e visualizar a cidade tanto em seus aspectos geométricos como topológicos.
A análise morfológica inicia com os estudos descritivos, mas avança pelo campo da
configuração a partir de teorias e ferramentas que buscam avaliar a interação entre as partes
compositivas da malha urbana, frequentemente quanto à rede viária. A teoria da lógica social do
espaço desenvolvida por Hillier & Hanson (1984) têm demonstrado eficácia em antever cenários
a partir da configuração urbana. Nesta ciência são recentes os estudos que procuram vincular
forma e espaço urbanos à mobilidade sustentável e que ganharam força a partir do debate entre
os modelos de cidade que desempenhariam melhor esta função, o que atualmente tende às
qualidades dos modelos de cidades de compactas (Bezerra e Gentil, 2013) Segundo as autoras
os meios urbanos compactos tem alta densidade edificada, baixa extensão de espaços vazios,
malha urbana contínua e conectada e quanto aos usos, há diversidade e coexistência espacial
de múltiplas funções reduzindo a distância média de deslocamentos. Estes atributos são também
apoiados por Gomes (2009), Neuman (2005) e Costa (2007). Já as áreas consideradas dispersas
são para os autores aquelas caracterizadas pelo desenvolvimento descontínuo e linear que
consome vastas áreas de baixa densidade e com uso do solo restrito, influenciando sobre o
movimento pendular dos deslocamentos, reforçando o caráter de ‘cidades-dormitórios’, como é
o caso de metrópoles como Brasília. Ewing (1997) frisa que cidades que assumiram expansão
urbana com progressivas ampliações de seu perímetro ante a consolidação interna desenharam
sua trama para uma condição dispersa e descontínua, que além de gerar problemas ambientais
gera problemas de mobilidade (Silva e Romero, 2011). É bom frisar, densidades muito altas
também oferecem desafios ao desenvolvimento sustentável, notadamente quanto à degradação
e contaminação do solo e do ar, a complexidade infraestrutural e para a mobilidade, maiores
dificuldades relativas à segurança no trânsito a enfrentar do que em modelos dispersos de cidade
(Gentil, 2015).
A tabela 1 traz uma relação de características da forma que favorecem a mobilidade
sustentável segundo publicações recentes em suas propriedades:
Tabela 1: Atributos da forma e ocupação urbana que contribuem para a mobilidade sustentável segundo publicações
recentes.
Uso Geometria Configuração
Quarteirões curtos (<200m)
Atributos
da forma
Alta conectividade
Alta inteligibilidade
Alta compacidade
Alta integração
Alta visibilidade
Usos Mistos
Autores
Gentil (2015) x x x x x x x
Barros (2014) x x x x
Dias (2014) x x x x x
Bezerra (2013) x x x x x
Nechet (2013) x x x
Silva e Romero (2011) x x x x x x
Fonte: Elaborado pelo autor
Para Silva e Romero (2011), quanto aos usos, a diversidade e dispersão podem ser
eficientes para a redução de distâncias e tempos de deslocamentos e influenciarem a população
à adoção de transportes ativos. A densidade alta também influencia na redução de consumo de
combustível per capta e no menor custo de infraestrutura viária e consumo de terras com esta
finalidade, fatores associados a sustentabilidade socioeconômica e físico-ambiental (Newman e
Kenworthy, 1999; Bezerra, 2013). No que se refere à configuração, em termos globais, sistemas
com alta integração e conectividade de suas malhas viárias tendem à maior sustentabilidade da
mobilidade por disporem de rede viária mais acessível e com maiores possibilidades de
caminhos do que sistemas com valores considerados baixos destes atributos, estas
características contribuem para a eficiência do escoamento do trânsito (Medeiros, 2013).
2.1 Caminhabilidade
Possibilidade de rotas
da forma
Conectividade
Inteligibilidade
Visibilidade
Usos Mistos
integração
Autores
Piezsy, Przestrzeni e Todzi (2020) afirmam forte relação entre índices de integração, e
conectividade com a dinâmica de movimentação peatonal, espaços que favorecem e limitam a
caminhabilidade são criados, por estímulo de seus usos e sua forma de orientação. (Hillier et
al., 1993; Kamruzzaman, 2018; Turner e Penn, 2002). Os autores encontraram forte correlação
entre valores de integração axial com as regiões mais percorridas pelos pedestres através da
simulação multiagente2.
2
Simulação multiagente se refere a partículas programadas com dada função, no caso
do estudo foram programadas como pedestres e atividades corriqueiras pela região
simulada.
A Tabela 3 elenca os parâmetros considerados pelo índice IMScamp, destacando em
vermelho aqueles que poderiam ser avaliados través da sintaxe espacial.
O grau de acessibilidade de um sistema em seu potencial geométrico pode ser medido pela
sintaxe espacial através do atributo integração global, enquanto outras variáveis como
visibilidade e conectividade permitem a obtenção de percepções sobre o desempenho da
mobilidade das infraestruturas viárias e sua adequação ao meio de transporte dominante.
Estudos que abarcam a configuração de campus universitários têm aparecido em aplicações
diversas, em especial à estruturação social e de segurança (Barata, 2019), medição do
desempenho morfológico ( Oliveira et. Al, 2020), grau de orientação (Mano e Braga, 2018), estes
encontraram que no cenário de campus com baixa compacidade, a tendência da
caminhabilidade parece ser seguir por rotas indefinidas que convergem para as áreas mais
integradas e divergem para as áreas mais conectadas.
4. Método
O primeiro passo para o estudo empírico foi a identificação dos atributos morfológicos
mais mencionados pela literatura consultada para as duas escalas propostas de análises –
a. Escala ‘Macro’: Sintaxe espacial, análise axial, relação do campus com a cidade
b. Escala ‘Micro’: Sintaxe espacial, análises axial e de visibilidade, dinâmica interna do
campus
Foi selecionado o campus Darcy Ribeiro da universidade pelos critérios mencionados e
os atributos investigados por meio da sintaxe foram definidos: a compacidade, a integração
global e regional, a conectividade e a visibilidade; e os elementos investigados a partir da
descrição morfológica foram a categoria de atividades exercidas em cada edificação do conjunto
e a verificação da existência ou não de barreiras para a circulação.
Foi conduzida a modelagem de eixos para o cálculo sintático da região em que o campus
é situado o considerando como parte da cidade e como sistema isolado, da sua rede cicloviária
e peatonal através de desenho com técnica adequada ao desenho de eixos e seus cruzamentos
em software para processamento geográfico de informações (QGIS) utilizando como base
imagens fornecidas pela Digital Globe e o cálculo sintático foi realizado pelo plugin
Depthmap_X_Net. Na segunda escala de análise os estudos de caminhabilidade foram
realizados a partir da confecção de mapas de visibilidade (VGA), Isovistas e simulações
multiagentes; realizadas a partir da transcrição de mapa do campus extraído de ferramenta GIS.
Os mapas de visibilidade e isovistas foram usados para se aferir a área desobstruída e, portanto,
potenciais para favorecer a caminhabilidade. Como barreiras foram consideradas as edificações,
cercas e muros e transições abruptas de nível como os arrimos. A planta resultante foi trabalhada
no software DepthMap 0.80 para o cálculo das variáveis integração e conectividade no mapa
VGA, Gate counts e tráfego de agentes em simulação de 5 horas de tráfego pelo campus nos. A
Figura 1 resume o processo de análise desenvolvido até a obtenção dos resultados.
5. Resultados
O primeiro passo para o estudo empírico foi a identificação dos atributos morfológicos
mais mencionados pela literatura consultada para as duas escalas propostas de análises como
mostram os diagramas da figura 2.
Partindo da escala da cidade, a universidade se situa em uma região com valores médios
de integração mais baixos do que o centro da cidade e seus eixos viários principais Norte e sul
e Leste Oeste, o que pode ser visto a partir da representação gráfica, que ilustra em cores mais
quentes os valores mais altos do atributo. Isto significa que apesar da grande população
universitária – cerca de 70 mil pessoas – o campus desempenha papel local em relação aos
fluxos potenciais da cidade, participando pouco da rede regional (Figura 3). O segundo diagrama
da figura 3 mostra uma nova conexão que pode ser feita entre a universidade e um bairro de
Brasília, como uma nova saída para sua porção norte. Mantém-se a escala bucólica no campus
enquanto se mantém as características funcionais e configuracionais da região, ao passo que se
a universidade passa a ser articuladora de fluxos regionais, um aumento do tráfego viário pode
ser esperado enquanto se especula que a característica local do trânsito na universidade pode
ser modificada, potencialmente afetando a caminhabilidade e gerando dificuldades em termos
de segurança para meios ativos. Ao verificar esta possibilidade, foi observado um acréscimo no
atributo integração global médio sobre os eixos da universidade, o que é interessante para
antever cenários de maior potencial geométrico de demanda de fluxos na região.
Figura 3: Análise Axial de Brasília
Discussão
Referências
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Determinação do índice de mobilidade sustentável para campus universitário (IMSCAMP) da
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