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Vanja Ferreira

Danç
Escolar
Um NOVO RITMO
paraa Educação Física

SPRINT
Dança
Escolar
Um NOVO RITMO
paraa Educação Física
Vanja Ferreira

2a edição

W. ZID
Direitos exclusivospara a língua portuguesa
Copyright 0 2005 by EDITORA SPRINT LTDA.
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Projeto gráfico: Julia Soares e Leandro Peres


Ilustração: Avaz
Revisão: Cristina da Costa Pereira

CIP-Brasil. Catalogação na fonte.


Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
FERREIRA,vanja
Dança escolar: um novo ritmo para a educação fisica
/ Vanja Ferreira
Rio de Janeiro: 2a edição : SPRINT, 2009

inclui bibliografia
ISBN 85-7332-232-2
1. Dança - Estudo e ensino (Ensino fundamental)
2. Educação fisica para crinaças - Estudo e ensino
3. Dança na educação

1. Título

04-3474 CDD 793.3


CDU 793.3

27.12.04 29.12.04 008661

Depósito Legal na Biblioteca Nacional, conforme


Decreto no 1.825 de 20 de dezembro de 1967.

Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Este livro foi elaborado pela Professora Vanja
Leila da Conceição Ferreira (conhecida no seu meio
por Vanja Ferreira), Mestre em Educação
(UNINCOR), Psicopedagoga (UFRJ), Pedagoga
(UNIS), Licenciada em Educação Física (FDBDF),
aplicadora de PEI (Israel), professora de Dança e
Recreação; autora dos livros Educação Física, recre-
açáo, jogos e desportos; Atividade Física na Terceira
Idade —o segredo da longevidade (Sprint); Educação
Física e interdisciplinaridade —aprendizagem e inclu-
são, com objetivo de fundamentar o trabalho da
Dança Escolar e dar um novo ritmo às aulas de Edu-
cação Física; e ainda demonstrar como a dança, in-
cluída no conteúdo ministrado nas aulas de Educa-
ção Física, pode contribuir para a melhoria da apren-
dizagem do educando, uma vez que desenvolve com-
petências primordiais para o convívio em sociedade
e para a organização do trabalho, além desenvolver
a percepção do próprio corpo e o domínio do es-
quema corporal, responsável por toda a aprendiza-
gem da criança.
Boa leitura.
V.L.C.F
Dedico à direção, professores,funcionários e aos
meus alunos da Escola Municipal Professora Cân-
dida Junqueira/ CAIC de Três Corações/MG, e aos
alunos do Projeto "Dançando para não dançar na
vida", pelo carinho e dedicação.
Introdução 11

1. A Dança Escolar. 15

2. Ritmo e Movimento 19
2.1 0 Ritmo na Dança Escolar 22
2,2. O Movimento na Dança Escolar 23

3. Metodologia aplicada à prática


da Dança Escolar 25
3.1. Meios utilizados para atingir a proposta 26
3.2. Como tornar a Dança Escolar
um verdadeiro fator educacional 28

4. A Tematização da aula .. 29
4.1. Sugestão de temas 31

5. Sugestão de atividades 33
5.1. Ciclo básico ou 12 à 3 2 série
do Ensino Fundamental 35
5.2. Ciclo intermediário ou 42 à 62 série
do Ensino Fundamental 41
5.3. Ciclo avançado ou 72 à 82 série
do Ensino Fundamental 48
6. Procedimentos didáticos 55
6.1. Como aplicar a dança na escola 57
6.2. Benefícios da prática da dança escolar 60
6.3. Coreografia —criação e comunicação do saber 61

7. Danças Folclóricas 63
7.1. Danças regionais brasileiras 65
7.2. Passosbásicos para o ensino da dança folclórica 66

Considerações finais 79

Referências bibliográficas 80
"Projetar o belo e criar o novo. " (Hélio Barbosa Prof.
de Recreação e Psicomotricidade —SP)

" movimento; é a partir da dança que podemos mu-


dar, criar, transformar, sentir, realizar e ter prazer".
(Paulo Henrique Castro —Prof. de Educação Física
e Filosofia da UCP)
"
"Dizer coisas. Escrever, verbalizar com o corpo.
(Murilo Guerra Prof. de Dança Recreativa
ENAF)
C

' Um trabalho de sensibilização, conscientização corpo-


ral e improvisação." (Valcir Rocha —Prof. de Dança

l
"Exprimir o inexprimível através do movimento. ' (Lilá
Sant'anna —Prof. de Ballet Clássico.)

"Expressar representativamente os diversos aspectos da


vida do homem." (Celi N.Z. Taffarel —Prof. Ms em
Ciências do Movimento —UNICAMP)

"Permitir ao corpo improvisação e expressão. Assim o


corpo funciona como uma orquestra. " (Maria Eugenia
R Morato —Prof. de Ginástica Jazz)

" (...) um trabalho árduo, acrobático e suscetívela


luxações e distensões. E importante que o profissional
saiba sobre anatomia para não lesionar os alunos .
(Thirza Borizon —Prof. de Dança —RJ)
" (...) uma das maiores terapias que existe". (Fábio Batista, bai-
larino Afro e acadêmico de Educação Física RJ)

(Não só) "botar o corpo em movimento; é necessário sentir e


conhecero corpo". (Alyne Alonso —Prof. de Dança Contem-
porânea —RJ)

(...) expressar seus sentimentos através do corpo em movimen-


to". (Paulo Miranda —Prof. de Axé e de Educação Física —
Três Corações —MG)

" (...) a coisa mais maravilhosa do mundo; é uma terapia; é vida;


é tudo"! (Walter Santos —Prof. de Dança de Salão —Três
Corações —MG)

(Ir) "além da alma. Com a dança consegue-se unir tudo, o físico,


a emoção, a fé, todo o corpo e a mente". (Ana Luiza Matuck —
Prof. de Dança do Ventre —UNICAMP e Três Corações —
MG)

" (...) buscar tesouros no fundo do mar e encontrar sua riqueza.


E determinaçãoe construção,sem as quais o homemse toma
uma coisa qualquer". (Luis Marcus M. Pereira —Três Cora-
ções - MG - 2004)

Dançar é uma expressãodo corpo em movimento...


Transcende o poder das Palavras.
(Vanja Ferreira, 2004).
e acordo com os PCN (ParâmetrosCurriculares Nacio-
nais), os conteúdos de Educação Física devem abranger
uma enorme gama de conhecimentos produzidos pela cultura cor-
poral e também conteúdos que contemplem áreas diversificadas a
fim de permitir aos educandos compreender o corpo integrado,
sem fragmentá-lo em físico e cognitivo.
Este bloco de conteúdos inclui manifestações da cultura que
têm como característica a expressãoe os estímulossonoros como
referência para o movimento corporal (dança e brincadeiras can-
tadas).
Num país onde a diversidadecultural tem na dança uma de
suas expressões mais significativas, constituindo um amplo leque
de possibilidades de aprendizagem, não se concebe a não-inclusão
desta modalidade como fator de fundamental importância nas es-
colas brasileiras.
Assim, o desafio é uma provocação; uma chamada para pen-
sarmos a dança enquanto agente formador,transformador e de
resgate cultural, visto que as danças, principalmente as folclóri-
cas, estão desaparecendo do contexto escolar.
O que procuro por meio deste livro é fundamentar teorica-
mente a dança na escola, dando um novo ritmo às aulas de Edu-
cação Física e fornecendo subsídiosque dêem sustentação às au-
Ias dos profissionaisque desejam incluir esta modalidade em sua
rotina de trabalho, demonstrando que:
—A dança na escola pode contribuir para que os educandos
adotem atitudes de valorizaçãoe apreciaçãodas manifestações
expressivase culturais brasileiras.
—A dança na escola pode contribuir para a melhoria da apren-
dizagemdo educando, visto que trabalha a percepção do próprio
corpo, elemento este indispensávelà aquisiçãodas habilidades:
leitura e escrita.
—A dança na escola possibilita que o educando amplie sua
capacidade de interação social fazendo-o conhecer e respeitar a
diversidade.
E também procuro ressaltar a importância da inclusão da dan-
ça e das atividades rítmicas e expressivasno conteúdo das aulas
de EducaçãoFísica,como componente auxiliarno desenvolvi-
mento psicomotor, cognitivo e afetivo-social do educando, apon-
tando o movimento expressivo corpóreo como forma de aprimo-
ramento e domínio do esquema corporal, da estruturação espacial
e da orientação temporal, elementos estes, responsáveis por toda
a aprendizagem da criança.
O trabalho da Educação Física no ensino fundamental possibi-
lita aos alunos terem, desde cedo, a oportunidade de desenvolver
habilidades corporais e de participarem de atividades culturais
como jogos, esporte, lutas, ginástica e danças, com finalidade de
lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções.
Os PCN dizem que a Educação Física deve ser uma proposta
que valorize a democratização, a humanização e a diversificação
da prática pedagógica da área, mas o que se tem notado na maio-
ria das escolas é somente a prática de desportos competitivos, re-
legando-se a dança e as atividades expressivasa segundo plano,
ou até mesmo excluindo-as do plano de ensino.
O papel deste livro será expor práticas pedagógicase argumen-
tos teóricos que explicitem a Dança Escolar como ferramenta au-
xiliar no processo ensino/ aprendizagem, possibilitando uma real
oportunidade de humanização, diversificação e democratização
conforme proposta dos PCN, abordando que:

a. A escola pode oferecer a dança como suporte da comu-


nicação e da expressão corporal.
b. A dança na escola pode desenvolver contínuas experi-
ências que se iniciam espontaneamente evoluindo para te-
mas de dança formalizada.

12
c. Por meio da dança, a escola pode conttibuit para o resga-
tc da cultura brasileira corno forma dc despertar a identida•
de social do aluno no projeto de construção da cidadania,
além de promover uma maior interação social e fazê-lo par-
ticipar do processo de ensino/aprendizagem.

A dança é movimento, e segundo Lilá Santana (1983, p.21) é


a arte de exprimir o inexprimível por meio do movimento. Só que
os rumos que a dança tomou e a sua própria evolução passaram a
exigir a consciência e a formação de quem ensina, muito mais do
que simplesmente saber dançar.
De um modo geral, os profissionaisque trabalham com dança
na escola atuam em projetos, isolados da Educação Física, e aca-
bam confundindo a dança escolar com ballet, jazz etc. em que os
professoressão geralmente bailarinos, muitos sem formação em
Educação Física e que estão na escola para formar grupos de dan-
ça. Não conhecem didática, filosofia, sociologia, pedagogia, mé-
todos de ensino etc., portanto não possuem uma formação ade-
quada para trabalhar com crianças e adolescentes na área da eclu-
cação.
Tratar o corpo, seja em qualquer atividade física, é coisa muito
mais séria do que um somatório de passos combinados; requer um
mínimo de conhecimento sobre as funções anatômico-fisiológicas
do corpo humano; e a Dança Escolar, além disso, deve estar volta-
da para auxílio, aquisição e manutenção da saúde e aptidão social,
mental, psíquica e física. Sua prática deve contribuir para a con-
secução dos objetivos primeiros da Educação Física: formação
básica e educação do movimento.
Dessa forma, vamos ao cerne da questão: a qual dança estou me
referindo? Na minha concepção, a Dança Escolar é um somatório
da dança como arte e da dança como exercício físico; é também um
misto de ritmos, músicas, coreografias, expressões espontâneas cor-
porais, que podem ser conduzidas, mediadas e orientadas no senti-
do de desenvolver as competências: organização do trabalho, trata-
mento da informação e participação na vida social.
Nesse contexto, compete aos administradores e
profissionais
da área de Educação Física, compromissadoscom a
qualidade,
refletir e definir o que se pretende ao incluir o conteúdo
Dança na
escola; porque se for apenas uma prática pela prática, um
treina-
mento técnico profissionalou uma maneira de animar as
aulas de
Educação Física, a Dança deixa de cumprir sua função
educacio-
nal pedagógicae deixa de ser Dança Escolar.

14
Dança é arte e movimento; aprender arte envolve, além
do desenvolvimento das atividades artísticas e estéticas,
apreciar o belo, situar a produção artístico-social de todas as épo-
cas nas diversas culturas, estabelecer relações entre trabalhos ar-
tísticos individuais e grupais, assimilare perceber correlações en-
tre o que se faz na escola e o que se faz na sociedade local, regio-
nal, nacional e internacional.
Considera-se a Dança uma expressãorepresentativa de diver-
sos aspectos da vida do homem (Coletivo de autores, p. 82); por-
tanto, uma aula de Dança na escola permite ao professorconhe-
cer melhor o seu aluno, ou seja, saber suas preferências sobre o
que gosta de brincar, de cantar, de ouvir; discutir suas experiênci-
as; fazer fluir sua imaginação e verificar a influência dela na reali-
dade e nas atitudes da criança.
Isto quer dizer que a prática da Dança na Educação Física tem
que estar voltada não só para a recreação, ou simplesmente para o
treino de habilidades motoras, mas para o equilíbrio psíquico, para
criativa e espontânea, a fim de assegurar aos alunos a
possibilidade de reconhecimento e compreensão do universo sim-
bólico.
Na Dança Escolar,devem-se valorizaras possibilidadesexpres-
sivas de cada aluno; permitir a expressão espontânea e favorecer o
surgimento dela, abandonando a formação técnica formal, que
pode vir a esvaziaro aspectover a eiramentee ucacionalda
dança. Neste sentido, o que defendo aqui é o desenvolvimento de
diferentes tipos de dança sem ênfase em técnicas formais do ballet
clássico, do jazz, da dança contemporânea etc., possibilitandova-

QCA d-o—
riada experimentação corporal que desenvolva habilidades diver-
sas de execução/ expressão/ interpretação.
Quando se fala em desenvolvimento técnico formal, sugere-se
o não-desenvolvimento de fundamentos, necessário para um
bai-
larino profissional, como por exemplo:
a. Posição dos pés (1a 2a 3 2, arabesque, écarté etc.).
b. Adágio (pliés,develoPPes,battementsetc.).
Isto não quer dizer que as técnicas formais não sejam conheci-
mentos importantes, que sejam dispensáveis; porém, a visão
que
tenho sobre o trabalho da Dança na escola parte do princípiode
que o aluno deve conhecer o significadoque essesfundamentos
possuem para sua vida e não a execução da alta qualidade técnica.
Se algum aluno vier a se interessar e quiser desenvolver-seaté
atingir esses níveis elevados, o professor deverá orientá-lo dentro
de suas possibilidades,sem negar conhecimentos amplos e pro-
fundos, e encaminhá-lo para treino diferenciado.
A capacidade de expressão corporal desenvolve-se num pro-
cesso contínuo de experiências que se iniciam na interpretação
espontânea ou livre, evoluindo para a interpretação formalizada
em que, conscientemente,o corpo é o suporte da comunicação.
Compete à escola iniciar tal processo oferecendo, além da dança,
elementos como a mímica, o canto e as diversas atividades rítmi-
cas que contribuam para o desenvolvimento da expressão comu-
nicativa nos alunos.
A Dança Escolar deve possibilitar o regaste da cultura brasilei-
ra por meio da tematização das origens culturais, sejam do índio,
do branco ou do negro, como forma de despertar a identidade
social do aluno no projeto de construção da cidadania.
Os conteúdos selecionados para uma aula de Dança Escolar
devem promover uma concepção científica do mundo, a forma-
ção de interesse, e devem emergir da realidade dinâmica e con-
creta do aluno. Assim, quando se fala em valorizar a capacidade
expressiva espontânea do aluno, sugere-se trabalhar com danças
de livre interpretação, com interpretação de temas figurados,com
conteúdos relacionados a realidades e com expressão corporal ge-
ral. Por exemplo, você pode trabalhar com temas relacionados com:

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- as ações cotidianas (dormir, escovar os dentes, almoçar
etc.).
- os estados afetivos (amor, ódio, tristeza etc.).
- as sensações corporais (fome, frio, calor etc.).
- os seres e fenômenos da natureza (animal, vegetal, mine-
ral, furacão, terremoto etc.).
- o mundo do trabalho e do esporte (profissõesdiversas,
esportes diversos).
- o mundo escolar.
- os problemas sociopolíticos atuais ou antigos (corrupção,
violência, saúde, mídia, paz etc.).
E necessário, todavia, considerar os aspectos da
psicomotricidade quanto ao ritmo (cadência), espaço (forma, di-
reções e organizações) , equilíbrio, freio inibitório ou parada brus-
ca, energia (tensão, relaxamento, explosão),lateralidade (direita
e esquerda), identificando as relaçõesespaço- temporais,promo-
vendo o reconhecimento das inter-relaçõespessoaise a compre-
ensão da corporeidade e estimulando a criação, a organização e a
responsabilidade.
A partir daí o trabalho da Dança na escola passa a ser significa-
tivo, apontando para o incremento da atividade criadora e de um
sistema de relações sociais.
corporeidade

cadência
lateralidade

energia

tempo
espaço
egundo Cagical (apud MORATO, 1986,p. IO), a antropo-
S logia identifica a cultura física em duas realidades: o corpo
e o movimento, fatores primordiais da vida do ser humano.
E no esquema corporal que o ser humano gera todos seus mo-
vimentos e estes atendem aos mais variados fins que vão desde as
formas primárias de expressão, às lúdicas, às competitivas, à laboral,
até a simples necessidade de movimentar-se.
Esquema corporal é a representaçãomental, global, científica
e diferenciada que o ser humano possuide seu próprio corpo. Ele
se percebe e percebe os seres e as coisas que o cercam, em função
de sua pessoa (LE BOULCH, 1987).
A personalidade da criança se desenvolverá graças a uma pro-
gressiva tomada de consciência de seu corpo, de seu ser, de suas
possibilidadesde agir e transformar o mundo a sua volta.
Chave de toda a educação e aprendizagem,o esquema corpo-
ral corresponde à organização psicomotora global, compreenden-
do todos os mecanismos e processos nos níveis motores, tónicos,
perceptivos, sensoriaise expressivos,processos dos quais e pelos
quais o nível afetivo está constantemente investido (Le Boulch
apud FERREIRA, 2003, p.26).
A Dança Escolar deve priorizar os movimentos naturais, os
aspectos lúdicos do movimento e a expressãocriadora do movi-
mento como fatores de comunicação e de domínio do esquema
corporal.
Na Dança Escolar podemos desenvolver os quatro impulsos
primários que o ser humano possui, que são o sentimento, o ritmo,
o movimento e a expressão, os quais, ligados, irãÔ desenvolver o
impulso da dança, e que segundo MORATO (1986, p. 11),
esquematiza-se da seguinte forma;

Emocão
Ritmo Expressão + Cultura — Danca

Movimento

A palavra litmo vem do grego rhytmose designa aquilo que flui,


se move; movimento regulado. E um fenômeno da vida e é funda-
mental a atenção que se deve dar a este item: ritmo do movimento.
Para adquirir postura e ajuste do movimento firme e harmoni-
oso, segundo FERREIRA (2003, p.30), necessita-se de coordena-
ção entre contrair e relaxar, que são características do movimento
preciso e isto depende do domínio da coordenação neuromuscular,
rapidez e percepção espaço-temporal, equilíbrio e força.
A obtenção gradativa dessa capacidade depende do trabalho
rítmico; quando esta capacidade é desenvolvida, a criança obtém
maior disciplina na coordenação, economia de esforço, maior aten-
ção e equilíbrio, e assim sua capacidade de aprendizagem torna-se
mais eficaz.
Ao se trabalhar o ritmo, paralelamente desenvolve-se um con-
junto de outras capacidades entre as quais a flexibilidade, a velo-
cidade, a resistência, a coordenação, o equilíbrio, o freio inibitó-
rio, a percepção auditiva e visual e a orientação espaço - tempo-
ral; capacidades estas que irão possibilitar a descoberta do próprio
corpo e suas possibilidadesde movimento.
Segundo Fernandes (apud COSTA, 2001, p.36), "do princípio
ao fim a aprendizagem passa pelo corpo; e o corpo é o eixo comum
na prática da Educação Física, da Psicopedagogia e
Psicomotricidade;é o porta-voz dos sintomas, dos problemas de
aprendizagem e dos problemas psicomotores"; assim, por meio da
Dança Escolar praticada nas aulas de Educação Física, é possível
que o educando consiga desenvolver, eficazmente, sua capacida-
de de decodificar mensagens expressas numa linguagem sem sons

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verbalizados,entrelaçando objetividadee subjetividadeno con-
texto de aprender, pois o corpo, em seus movimentos, transmite e
capta mensagens o tempo todo.
Quando se tem uma união harmoniosa de movimento e ritmo
que permita combinar a ação de diversos grupos musculares com
eficiência, economia de tempo e rapidez de ação, diz-se que estamos
coordenados. Esta coordenação está intimamente ligada ao pen-
samento; assim, a coordenação é trabalho psicomotor e é respon-
sável pelo aprendizado (FERREIRA, 2003, p. 37).
Em função do exposto, acredita-se que a Educação Física, por
meio de suas especificidades e aqui, por meio da Dança Escolar,
pode vir a ser uma ferramenta facilitadorado processo ensino-
aprendizagem, uma vez que desenvolve sua prática baseada no
trabalho psicomotor.
2.1 0 RITMO NA DANÇA ESCOLAR

O objetivo de se trabalhar o ritmo nas aulas de Educação Físi-


ca, mais especificamente nas aulas de Dança Escolar, é desenvol-
ver o ritmo natural e tomar consciência dele e de sua importância
na vida diária, profissional, desportiva, de lazer e até mesmo na
vida escolar.
Educar o sentido rítmico implica prazer, memória, liberdade de
movimento, vivência, domínio do movimento.
Em relação ao desenvolvimento pedagógico e aos procedimen-
tos didáticos e metodológicos, sugere-se a abordagem do ritmo da
seguinte forma:
a. Cadência, estruturas rítmicas, pausa, compasso.
b. Espaço, formas, trajetos, volumes, direções e orientações.
c. Energia de movimento —relaxamento, explosão, freio.
d. Marcações diversas —palmas, pés, dedos, voz, palavras,
instrumentos e músicas.
e. Individual, pequenos grupos e grandes grupos.
f. Mecânico, natural, espontâneo, disciplinado, dirigido.
g. Ritmo de cada criança —diversidade.
h. Saltos, saltitos, passadas, corridas.

22
2.2. O MOVIMENTO NA DANÇA ESCOLAR

Existe uma diferença fundamental entre movimento e exercí-


cio. Segundo Langlade (apud MORATO, 1986, p.43), o movi-
mento é mais livre e espontâneo e o exercício implica método,
sujeição a princípios técnicos e repetição.
O que defendo aqui é um misto de exercícios repetitivos e exer-
cícios naturais, ou seja, repetição de exercícios inspirados nos
movimentos naturais que obedecem à estrutura do corpo e às con-
dições naturais da motricidade: andar, correr, saltar, equilibrar,
rodar, girar, flexionar, estender, rolar, enfim, exercícios que sejam
funcionais e úteis ao cotidiano da criança, repetidos com a finali-
dade básica de desenvolver capacidades psicomotoras e consciên-
cia corporal; que obedeçam ao impulso natural e que não causem
danos físicos como os movimentos de hiperextensão da coluna e
da pernas, como os exercícios que deformam os pés (trabalho de
ponta), exercícios que reforcem a lordose e a escoliose,e outros
exigidosnas aulas de ballet clássico.
Na Dança Escolar o que se pretende é relacionar movimento,
ritmo, orientação espaço-temporal,privilegiandoa interpretação
coletiva e a expressão/ comunicação por meio da corporeidade.
ma aula de Dança Escolar deve ser dividida em três par-
u tes ou etapas:
aquecimento (parte inicial).
trabalho psicomotor (parte principal).
- comunicação/ expressão (parte final).
A parte inicial tem a função de descontrair,mas ao mesmo
tempo fazer com que o aluno concentre-se na atividade que vai
ser realizada e se sinta motivado a participar da mesma. São utili-
zados movimentos espontâneos, naturais.
Na parte principal se desenvolvemas atividades que estimu-
lem a psicomotricidade, ou seja, a tomada de consciência do es-
quema corporal, da representação do espaço, da percepção visual/
auditiva, da lateralidade, da coordenação, da direcionalidade, en-
fim, a concepção de movimento organizado e integrado em fun-
ção das experiências vividas pelo aluno cuja ação é resultante de
sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.
A parte final é aquela em que o aluno vai verbalizar, exprimir,
expressar temas figurados, que podem evoluir para interpretação
técnica, coreografada, aprimorada ou mímicas criadas, ou não, por
eles mesmos.
3.1. MEIOS UTILIZADOS PARA ATINGIR A PROPOSTA

a. Atividades Posturais: visam à postura correta, disciplinan-


do os movimentos parciais do corpo (cabeça, ombro, joelho, pelve,
tornozelo, pés, mãos, pernas, braços), sendo trabalhados isolados,
combinados, alternados, dicotômicos, simétricos e assimétricos.

b. Atividades naturais ou espontâneas: visama experimen-


tar todas as capacidades de movimentos naturais como: rolar, gi-
rar, andar, saltar, correr, subir, arrastar, saltitar etc.

c. Atividades criativas: visam à representação de tudo o que


rodeia a criança, sua realidade. Também objetivam extravasar idéi-
as, emoções, sentimentos etc.

26
d. Atividades folclóricas: são brinquedos cantados, danças
folclóricas que contribuam para despertar o interesse pela cultura,
tradição e hábitos sociais.

e. Atividades rítmicas: vivência de tempo, sons, percepção


visual e auditiva, domínio do movimento e do espaço.
3.2. COMO TORNAR A DANÇA ESCOLAR UM VER-
DADEIRO FATOR EDUCACIONAL

A Dança Escolar tem que se preocupar com a formação ética,


a adaptação social, a organizaçãodo trabalho, o tratamento da
informação e com o desenvolvimento psicomotor da criança, com-
petências essas que são primordiais no cotidiano humano.
Para atingir essas metas, esses pressupostos, os profissionais da
Educação Física que trabalham com Dança, devem recorrer às
atividades pedagógicas, ou seja, açóes planejadas para o ensino,
que definam as perguntas: "Por que ensinar?" "C) que ensinar?"
Lembrando-se de que os conteúdos de aprendizagem serão todos
aqueles que possibilitarem:o desenvolvimento motor, afetivo, de
relação interpessoal e intrapessoal e a inserção social; também
deve-se lembrar do currículo ou conteúdo oculto que são aquelas
aprendizagens que nunca aparecem de forma explícita nos planos
de ensino.
Isso quer dizer que o profissional da Educação Física, mais do
que saber dançar, precisa definir seu modelo de ensino no "saber
fazer, saber ser e saber conviver", e ainda, preocupar-se com a
qualidade desses saberes, a liberdade e autonomia, a distribuição
social do saber, o trabalho coletivo, as transformaçõese mudan-
ças, a construção do conhecimento, a interação e a cooperação, a
disciplina e o respeito à diversidade. Significa, então, refletir a
prática, melhorar a aplicação (não basta repetir exercícios sem
mais nem menos), buscar atividades significativas e promover ex-
periências diversificadas; estes são os instrumentos formativos que
farão da Dança Escolar um conteúdo realmente educacional.
onforme mencionei anteriormente, uma aula de Dança
Escolar deve priorizar a promoção da leitura da realidade
do aluno; portanto, a seleção e organização de conteúdos devem
ser coerentes com este objetivo; deve-se, pois, analisar a origem
do conteúdo e conhecer o que determinou a necessidade do seu
ensino. Isso deve ser discutido com os alunos; depois, deve-se
determinar o tempo disponível para apreensão do conhecimento
(lembrando-se de que cada um tem seu ritmo de aprendizagem)
e, finalmente, concluir e avaliar os trabalhos realizados, levantan-
do-se opiniões e perspectivas para as próximas aulas.
Por exemplo, ao utilizar como tema de uma aula "Contração e
Relaxamento", no mínimo, serão necessárias quatro aulas de tra-
balho, devido à necessidade de dar o tempo "individual" suficien-
te para aprendizagem. Como organizar este trabalho?

Primeira fase: por meio do diálogo, descobrir as facilidades


e dificuldades de cada aluno, em seguida preparar o materi-
al, a música etc., que ofereçam a possibilidade de diferenci-
ação dos dois conceitos (colchão, bola de soprar, bolinha
de tênis, elástico e outros).
Segunda fase: exercitar com materiais e depois com o pró-
prio corpo. Refletir e questionar:
Com quais materiais podemos fazer o mesmo movimento
com todo o corpo? (mãos, pés, pernas, articulações etc.).
Como relaxar e como contrair?
Que partes do corpo podem executar os movimentos de
contração e relaxamento?
Terceira fase: exercícios de contração muscular (abdômen,
coxa, peito, mãos etc.), com música, sons diversos, ritmos
diversos e, em seguida, exercícios de relaxamento.
Quarta fase: momento do "salto qualitativo" (Coletivo de
Autores, 1992, p. 111), ou seja, sistematização mais elabo-
rada do conhecimento. Onde e em que situações do cotidi-
ano o relaxamento é importante; o relaxamento está dire-
tamente ligado à atenção, à concentração, tão necessários
para uma boa aprendizagem?

Enfim, em cada tema trabalhado avaliam-se o processo ensi-


no-aprendizagem e a significância ou finalidade do conteúdo apli-
cado, por meio da observação, da análise dos procedimentos e da
forma dialógica, produtivo-crítica e participativa.

Danca

ducacã

30
SUGESTÃO DE 'ITMAS:

a. Cultura Afro-btasilcira: capoeira, Xangô,maculclê, frevo,


batuque, saniba etc.
b. Cultura Mineira: catita, quadrilha,peixe-vivoetc.)
c. Cultura Sulista: dança do pezinho, prenda, colhedora de
café, balaio, boleadeira etc.
d. Dança de Salão: valsa, bolero, tango, salsa etc.
e. Dança Urbana: rap, funk, break, pagode, strcet etc.
f. Manifestações musicais: axé, maracatu, baião etc.
g. Histórias e fábulas: Tarzan, Os sete anões, Os gatos etc.
h. Artes marciais ou lutas: karatê, judô, tai-chi, box etc.
i. Profissões:O quartel, A escola, A construção, O Hospi-
tal etc.
j. Países:Japão, Alemanha, Estados Unidos, africanos, Espanha
etc.

Depois de selecionar o tema, devem-se identificar os elemen-


tos da dança que estarão presentes nesse tema escolhido (saltos,
giros, equilíbrio, contraçóes, explosão etc.). Não é necessário que
os movimentos ou passos sejam o original da dança escolhida; você OU-)
pode criar vários passos e usar um, apenas, que seja realmente da /
dança original; o que importa é resgatar a cultura do local ou fazer
corn que os alunos conheçam as diversas expressões culturais. Pro-
cure, apenas, utilizar a música adequada às danças folclóricas.
Ao escolher o tema, levar em consideração que por meio da
dança os alunos poderão conhecer as qualidades do movimento
expressivo como leve-pesado, forte-fraco, rápido-lento, fluido-in-
terrompido, intensidade, duração, direçáo, além de resgatar as
manifestações culturais tradicionais da comunidade. Por isso, con-
vém abordar o maior e mais variado número de temas, possibili-
tando uma diversidade de conhecimentos, expressões mais signi-
ficativas e amplo leque de aprendizagem.
partir das sugestõesabaixo, o professordeve criar suas
atividades e tentar o maior número de variações possível.
O profissionalque trabalha com Dança na Educação Física deve
exercitar, constantemente, sua criatividade e a partir daí organi-
zar o conteúdo e os conhecimentos a serem adquiridos pelos alu-
nos, bem como o tempo escolar destinado a cada atividade a ser
desenvolvida.
Para as atividades descritas, estarei utilizando os seguintes ter-
mos para a organização dos alunos:

Bloco Quadrado

Fila Círculo

ooooooooo
Alinhamento ou direção:

Atrás Diagonal/atrás

Lateral direita Aluno Lateral esquerda

Diagonal/frente Em frente
(professor)

E necessário, ainda, lembrar-se sempre de que as aulas devem


ter um "o que , para quê" e um "como" ensinar,buscandoapro-
ximar o aluno da percepção da totalidade da aula, permitindo-lhe
articular uma ação (o que faz), com o pensamentosobre ela (o
que pensa) e com o sentido que dela tem (o que sente), não se
esquecendo de proporcionar paralelamente os conhecimentoses-
pecíficos da Educação Física e dos diversos aspectos das suas prá-
ticas na realidade social.

34
5.1. CICLO BÁSICO OU P à SÉRIE DO ENSINO
FUNDAMENTAL

Atividades que desenvolvam a organização, a relação espaço-


temporal, o reconhecimento das inter-relações pessoais, a
lateralidade, ou seja, dar ênfase ao desenvolvimento psicomotor e
também privilegiar a avaliação participativa da produção indivi-
dual e coletiva. Este é o Ciclo da Organização da Identificação da
realidade, segundo Coletivo de Autores (1992, p.S4).

a. Desenvolvendo o ritmo e a orientação espaço-temporal


1- Andar, correr, saltar e saltitar com batidas de palmas, pés,
apito, tambor, chocalho etc. (sob o comando do professor, inicial-
mente).

2- Andar por um espaço (quadra) sem encostar ou bater/


trombar no colega. Aumentar a velocidade.
Colocar uma música (ex.:Já é, de Lulu Santos), interromper a
música de vez em quando e retornar com a música em seguida; os
alunos deverão continuar na mesma cadência nas duas situações:
com música e sem música.
A medida que forem realizando corretamente a atividade, co-
locar uma música mais acelerada. (Esta atividade desenvolve tam-
bém a percepção auditiva.)

3- Correr, andar, saltar e saltitar com mudança de direção (para


frente, para trás, para a direita, para a esquerda, para a diagonal/
atrás, para a diagonal/ frente). Os alunos podem estar organizados
lado a lado ou dispersos na quadra quando estiverem mais avan-
çados, ou ainda em blocos. Utilizar músicas em diversos compas-
sos ou marcações com palmas, tambor, apito etc.
4- Dividir a sala em grupos. Cada grupo receberá um elástico
grande amarrado nas pontas e todos os componentes ficarão den-
tro do elástico, segurando-o. Combinar previamente que, sob o
comando do professor, a cada marcação com um determinado ins-
trumento, eles formarão uma figurageométrica,também determi-
nada, sem soltar o elástico. Ex.: palmas= círculo; apito = triân-
gulo; chocalho quadrado.

Aumente o número de elementos de marcação, à medida que


forem memorizando. Execute a atividade, primeiramente, só com
a marcação; depois, coloque uma música e faça, simultaneamen-
te, com música e marcação.
Num momento mais avançado, peça para se movimentarem
acompanhando o ritmo da música e realizando as figuras de acor-
do com as marcações, quando solicitadas. (Esta atividade tam-
bém permite desenvolver a memória, a percepção audiovisual, a
energia de movimento, as formas de movimento, os trajetos, as
direções, o trabalho de equipe ou grupal e o movimento discipli-
nado.)

5- Cada aluno deverá estar com um pequeno bastão de madei-


ra (cabo de vassoura cortado do tamanho de 25 cm), e eles esta-
rão sentados em círculo ou bloco. O professor conta até quatro
(que a partir de agora chamarei de tempo) e no 42 tempo o aluno
bate o bastão no chão uma vez. Depois, os alunos podem contar
os tempos, junto com o professor.

36
1-2-3

Variação: Contar 3 tempos, contar 2 tempos e bater uma vez o


bastão no chão,
—Contar 4 tempos, 3 tempos e 2 tempos e o aluno bater o
bastão 2 vezes no chão.
—Não contar verbalmente os tempos; fazer marcação estalan-
do os dedos, batendo palmas, tambor, batendo os pés (contar men-
talmente o tempo; mas tem que dizer, antes, qual vai ser a dura-
ção, se é de 4, 3 ou 2 tempos c quantas vezes vai bater o bastão no
chão).
—Com músicas diversas: lenta, moderada e acelerada e marca-
çáo verbal, simultaneamente.
Esta atividade desenvolve a atenção, a concentração, a per-
cepção auditiva e o movimento dirigido.

6- Realizar toda a atividade acima descrita, em pé, com dois


bastões nas mãos de cada aluno; em vez de bater o bastão no chão,
bater um bastão no outro. Num momento mais avançado, realizar
com deslocamento.

1-2-3
4
b. Desenvolvendo a coordenação motora, a lateralidade
e a direcionalidade
1- Alunos numa quadra ou sala organizados em fila (um atrás
do outro). Deslocar, formando um círculo, um quadrado, na
diagonal (atrás e frente) , cobrinha, sem atropelar o colega da frente.
Fazer marcação com palmas tipo marcha. Trocar o instrumento de
marcação e depois utilizar músicas em vários ritmos.

0000 x 000 0000

O
O
2- Exercícios isolados: ombros, ca-
beça, quadril, pernas, mãos, braços etc.
Destacar os movimentos para frente/
para trás, para cima/para baixo, para
direita/para esquerda e movimentos cir-
culares. Utilizar músicas de ritmo mo-
derado.

3- Exercícios combinados: balance-


ar pernas, alternado o movimento dos
braços para frente e para trás.

30
—Balancear cabeça e braços —Alternar movimentos de
para a direita e esquerda. tornozelo e punhos para cima
e para baixo, para a direita e
para esquerda. Transferência.

—Movimento de ombros e pés —Movimento de braços e


com deslocamentos diversos. pernas (abrir/ fechar, distan-
ciar etc.).

39
4- Cada aluno com um arco, organizadosem bloco. Utilizar
músicas de vários ritmos: lenta, moderada, acelerada. Balancear o
arco para frente/para trás; trocar o arco de mão; levar para a direi-
ta e para a esquerda; girar com o arco acima da cabeça; colocar o
arco no chão e com um saltito pular dentro e fora do arco, sendo
pé direito para entrar e esquerdo para sair. Pegar o arco e reiniciar
os movimentos. Contagem em 4 tempos para cada exercício. Esta
atividade já é uma iniciação à coreografia, desenvolve a memória,
o trabalho de equipe e a orientação espaço-temporal, também.

40
5.2. CICLO INTERMEDIÁRIO OU 4a à 6a SÉRIE DO
ENSINO FUNDAMENTAL

Segundo o Coletivo de Autores (1992, p. 84), este é o ciclo de


Iniciação à sistematizaçãodo conhecimento; assim, o conteúdo
deve estar voltado para o estímulo à identificação dos persona-
gens da Dança com o tempo e a construção coletiva dos espaços
de representação e das coreografias, sem deixar de lado o trabalho
psicomotor.

a. Desenvolvendo o esquema corporal


1- Formar grupos organizados
em círculos. Colocar uma músi-
ca moderada; ao sinal do profes-
sor, dar três passos para a direita
e um giro com os braços acima
da cabeça; o importanteé não
sair da organização em círculo.
Repetir tudo para o lado esquer-
do. Pode fazer marcação com palmas ou tambor, sendo três toques
iguais para as passadas e um toque forte para o giro.

2- Alunos organizados em bloco


e localizados na parte final da qua-
dra. Fazer a marcação com um tam-
bor ou pandeiro e verbalizando com
3 tempos, sendo que nos dois pri-
meiros tempos, executar dois passos
curtos e no 32 tempo um salto, ora
com a perna direita, ora com a esquerda. Não ultrapassar o colega
da frente e não sair da organização inicial.

3- Alunos organizados em bloco; posição inicial de pé com as


pernas unidas e braços ao longo do corpo. Ao sinal, afastar o pé
direito para a lateral direita executanclo um círculo com a ponta
do pé, arrastando no chão em 3 tempos e no 49 tempo dar um
28
saltito para a direita juntando os dois pés. rimeiro, executar com
marc ção verbal; depois, com instrumento musical e em seguida
com música. Repetir com o pé esquerdo.

Variação: Executar o círculo com a ponta do pé na frente do


corpo e saltitar para frente.
—Executar o círculo com a ponta do pé atrás do corpo e saltitar
para trás.

2-3

4- Alunos organizadosem dupla, de


mãos dadas, espalhados pela quadra. Fa-
zer a marcação de 4 tempos com um pan-
deiro ou tambor, sendo que os alunos de-
verão dar 3 passos e no 42 tempo tirar o
pé direito do chão, depois o esquerdo, sem
atropelar o colega e sem perder o equilí-
brio ao tirar o pé do chão.
Variação: No quarto tempo, elevar a perna para trás
(aviãozinho).

—Organizados em bloco, dar três passos para a direita e elevar


a perna esquerda; dar três passos para a esquerda e elevar a perna
direita.
—Executar vários tipos de elevação de pernas (aviãozinho, gar-
ça, para frente etc.). Desenvolve o equilíbrioe a concentração.

b. Desenvolvendo o ritmo
1- Alunos organizados em bloco, com número par de elemen-
tos em cada fileira. Cada aluno segurando dois bastões de madeira
(cabo de vassoura cortado em 25 cm). Determinar antes, com
qual colega mais próximo será formada uma dupla durante o exer-
cício.
Inicialmente, a execução será em quatro tempos, sendo que
nos 3 primeiros tempos deve-se bater seu próprio bastão um no
outro e no 42 tempo, bater no bastão do colega com quem formou
dupla. Depois, realizar o exercício em 3 tempos e em 2 tempos, e
com música.
Variação: Bater o bastão no bastão do colega da frente; do
colega de trás; do lado esquerdo; da diagonal. Em cima da cabeça;
embaixo, próxirno ao chão; do lado do corpo etc.

1-2-3

2- Cada aluno com um arco, dispersosna quadra. Em três tem-


pos realizar dois passos, jogar o arco para cima e, no 4Qtempo,
pegar com a outra núo. Marcaçãoverbal, instrumentale com
música.

31

Variação: Organizados em bloco, balancear o arco para frente


e para trás, jogar o arco para cima e pegar com a outra mão.
—Realizar todo o exercício com deslocamento.

ii

44
3- Alunos organizados em bloco; cada um com uma bola de
borracha (que pule) na mão direita. Em três tempos, realizar um
círculo com o braço/ bola na frente do corpo e jogar a bola para
cima. No 4? tempo, pegar a bola com as duas mãos. Realizar o
mesmo exercício com a mão esquerda.

Variação: O mesmo exercício com deslocamento para a direi-


ta e para a esquerda.
—Enrolar a bola com as duas mãos em 2 tempos na frente do
corpo; no 32 tempo, bater a bola no chão e no 42 tempo, pegar a
bola com as duas mãos. Primeiro parado, depois deslocando para
frente, para trás e para a diagonal.
4- Alunos dispersosna quadra com uma bola de borracha.
Realizar em quatro tempos: 1 = bater a bola no chão com força. 2
e 3 = duas palmas. 4 = pegar a bola com as duas mãos.

2-3

Variação: Em vez de bater a bola no chão, jogar para o alto.


—Em vez de bater palmas, dar um giro de 360 graus.
—Em vez de bater palmas, abaixar.

46
5- Alunos dispersosna quadra. Usar variados ritmos (rock,
bolero, funk, axé, sapateado etc.) e, se possível, fazer uma monta-
gem unindo pequenos trechos de cada música ou ritmo. Misture
músicas lentas, moderadas e aceleradas.
Os alunos deverão realizar movimentos livres, espontâneos e
naturais a cada ritmo executado.
Variação: Consiga músicas que sugiram movimentos variados,
tais como marcha, galope, saltos, giros e que o aluno possa percebê-
10ssem orientação.
Utilize também músicas regionais (gaúchas, mineiras, nordesti-
nas, indígenas ou quadrilha, frevo, boi-bumbá, vanerão, samba etc.).
5.3. CICLO AVANÇADO OU 7? à 8a SÉRIE DO ENSI-
NO FUNDAMENTAL

Neste ciclo, também conhecido como Período da Sistematiza-


ção e Aprofundamento do Conhecimento, segundo Coletivo de
Autores (1992, p. 85), o importante é promover a compreensão
da corporeidade como suporte da expressão/ comunicação. Pode-
se estimular a criação de grupos de dança/ mímica com organiza-
ção, funcionamento e criatividade dos próprios alunos; promover
um misto de dança, teatro e canto também é uma atividade inte-
ressante, em que os alunos possam aprofundar seus conhecimen-
tos científicos e obter informaçõesde interessesociopolítico-cul-
tural da comunidade. Ex.: Dança ou expressão corporal/ musical
sobre o problema das drogas e violência.
Nesta etapa, podem-se trabalhar passos combinados, série de
exercícios, coreografias mais complexas sem se esquecer de fazer
prevalecer, durante a execução, a consciência corporal como re-
sultado e não o rigor técnico.
Os alunos nesta fase do desenvolvimento têm grande imagina-
ção; pode não parecer, mas adoram representar e dançar; portan-
to, com incentivo, é possível criarem coisas fantásticas. Sugira um
tema e observe o resultado, você vai se surpreender. (Ex.: Sexua-
lidade.)
Aqui, o aluno deverá aprender a movimentar-se, o que implica
planejar, experimentar, avaliar, optar entre alternativas, coorde-
nar açóes do corpo com objetos no tempo e no espaço, interagir
com outras pessoas, enfim, uma série de procedimentos ou com-
petências cognitivas que devem ser favorecidas e consideradas a
fim de auxiliar o processo ensino/ aprendizagem (FERREIRA, 2003,
p.08).

a. Desenvolvendo a expressão corporal


I- Divida a turma em grupos. Antecipadamente, escreva em
pedaços de papel algumas sensações ou estados afetivos (amor,
ódio, frio, calor, fome, alegria, tristeza etc.), e sorteie uma sensa-
çáo para cada grupo,
Primeira fase: Coloque uma música de ritmo moderado; peça
para que todos, ao mesmo tempo, criem movimentos individuais
sobre a sensação que o grupo vivenciou.

Q€GR/4

10

Segunda Fase: Dê 5 a 10 minutos para que cada grupo possa


montar 3 ou 4 movimentos relativos à sensação que vivenciou e
depois vá à frente e apresente os passos para o resto da turma.
Terceira fase: Depois de todos se apresentarem, um aluno de
cada grupo vai à frente e ensina ao restante da turma os passos do
seu grupo. Memorizados todos os movimentos de todos os grupos,
está pronta uma coreografia.(Desenvolvea criatividadee a me-
mória, também.)

2, Organização em bloco, aumente a distância entre os alunos.


Dê uma corda para cada aluno, que deverá segurá-la nas duas
pontas com a mão direita.
—Girar a corda sobre a cabeça.
—Girar a corda ao lado do corpo sem bater no chão.
—Girar a corda ao lado do corpo, sendo dois giros sem bater
no chão e dois batendo no chão.
—Cruzar a corda na frente do corpo.

49
Dominadosos movimentosda corda, colocar uma música e
executar movimentos com a corda, balanceando, contorcendo e
alongando o corpo, simultaneamente.

3- Organização em bloco. Alunos com um par de "casca de


coco" ou "toco de madeira".

1-2
—Executar dois passos no lugar com o pé di-
reito e dois com o pé esquerdo, batendo um coco
no outro, simultaneamente (à frente do corpo,
acima da cabeça, na lateral direita e esquerda).

1-2
—Girar em 4 tempos,ba-
tendo um coco no outro.

1-2¯-3-4

—Bater o pé direito três vezes


à frente do corpo e no 42 tempo
arrastá-lo, executando a batida do
coco, simultaneamente. Repetir
4 para a esquerda. Realizartodo o
1-2-3
exercício com música lenta, mode-
rada e acelerada.

50
4- Organização em bloco. Alunos abaixados, de cócoras. Subir
o corpo em quatro tempos, sendo que no 40 tempo deve-se reali-
zar um movimento de "explosão" e elevar os braços acima da ca-
beça.
4
31
21

—Em quatro tempos, levar os dois braços para a lateral passan-


do pelo centro do corpo e no 42 tempo, realizar um movimento de
"explosão" estendendo os braços e abrindo as mãos para a direita,
e depois repetir o movimento para a esquerda.

—Contrair o abdômen e retornar os braços à frente do corpo


em 4 tempos. No 42 tempo, bater uma palma forte.

1
4
2 3
—Realizar tudo com marcação verbal e, depois, com música
moderada.

b. Desenvolvendo a orientação espacial e a lateralidade


1- Organização em bloco. Alunos deitados no chão em decúbito
ventral com os braços e pernas estendidos. Rolar para a direita e
depois voltar; rolar para a esquerda e depois voltar. Em 4 tempos
cada rolamento; não atropelar o colega e procurar rolar e voltar
para o mesmo lugar. Primeiro, com marcação verbal e depois, com
música.

2- Organização em bloco. Alunos com um joelho no chão;


girar para a direita em 4 tempos e voltar. Realizar com o outro
joelho e para a esquerda, sem atropelar o colega. Marcação verbal
e depois com música.

3- Organização em bloco. Alunos em pé. Realizar uma volta


em 8 tempos, chegando ao mesmo lugar inicial. Depois, em 4 tem-
POS.Marcações: verbal, instrumental e musical.

52
c. Desenvolvendo a coordenação
—Andar e girar.
—Correr e girar.
—Andar e saltar/ correr e saltar.
—Saltar e amortecer a queda.
—Estender e flexionar.
—Contrair e relaxar.
—Dois passos para trás e duas palmas.
—Dois passos para trás, uma palma e um salto.
—Dois passos para a lateral e giro para trás.
—Dois passos para a frente, uma palma e um giro.
ara que a Dança Escolar seja realmente uma ferramenta
P significativa no processo de aprendizagem e construção do
conhecimento do aluno, é necessário que o professor de Educa-
ção Física siga algumas recomendações importantes:

a. Planejamento: é a preparaçãoantecipadado que vai ser


realizado na aula; isto implica preparar o material, a música e os
procedimentos que serão tomados no decorrer de cada aula.
A aula de Dança Escolar requer pesquisa musical, diversidade
de material e variação de atividades. A preparação das aulas não
pode ser negligenciada, improvisada, pois, se assim o for, o traba-
lho passa a ser desvalorizado.

b. Capacitação: é a qualidade do professor e é relativa ao co-


nhecimento do "o que se ensina", do "como se ensina" e do "para
que se ensina"; o professor tem que estar comprometido com o
educar e com o poder de comunicação, além de ter bom-senso e
autocrítica para saber se está preparado ou não para aplicar a Dança
Escolar.

c. Metodologia: é a maneira de aplicar e de transmitir didati-


camente um conteúdo ou conhecimento; isto implica observação
sistemática do aluno e atenção aos seus gestos, atitudes, compor-
tamentos individuais e inter-relacionais a fim de intervir, se ne-
cessário.
A transmissão verbal deve ser clara e objetiva, adequada à ida-
de do aluno e com nomeclaturas da área de Educação Física. Não
se devem usar palavras como: bumbum, esticar, erguer etc., ou
nomeclaturas técnicas como pliés,relevésetc.
A transmissão acústica, que pode ser expressa por marcações
(palmas, tambor, pandeiro etc.) ou músicas, deve ser selecionada
de forma que, implicitamente, eduquem a capacidade auditiva do
aluno; assim, convém evitar músicas com termos chulos, ainda
que pertençam à realidade da criança. Caso queira utilizar alguma
música que faça parte do contexto social ou do gosto do aluno,
sugiro que sejainstrumental, abolindo a letra; isso ajuda a motivar
a aula. Ex.: Batida do un , pois é ótima para exercitar o ritmo e os
jovens adoram.

d- Avaliação: "E um dos aspectos essenciaisde qualquer pro-


jeto pedagógico"(Coletivo de autores, 1992, p. 103), justamente
porque é por meio dela que se reformulam mecanismos estrutu-
rais e relevantes no processo ensino/aprendizagem.Assim, na
Dança Escolar, devem-se levar em consideração os aspectos de
conhecimento, habilidades e atitudes, além das condutas sociais
do aluno nas suas diversasmanifestaçõese no desenvolvimento
das atividades, de uma maneira geral.
Isto significa que, constantemente, devem ser observadose
analisados:
—o fazer individual e coletivo;
—as alterações do organismo;
—a construção do saber (esforço);
—a organização, a compreensão, a interpretação e a expres-
são dialógica, comunicativa, produtivo-criativa e
participativa do aluno.
Não se deve esquecer que os rumos de um processo podem ser
redimensionados e que as diferenças individuais devem ser leva-
das sempre em consideração.

56
6.1. COMO APLICAR A DANÇA NA ESCOLA.

Conforme descrevi no capítulo 3, ao se iniciar um trabalho de


Dança Escolar deve-se priorizaro desenvolvimento psicomotor e
não, a técnica; porém, é essencialque as crianças conheçam al-
guns itens, desde o primeiro momento, e os dominem, para que as
aulas possam transcorrer de forma agradável, dinâmica e com flui-
dez.
O primeiro item é a organização (em bloco, círculo etc.) e o
alinhamento ou direção, conforme descrito no capítulo 5,
O segundo item é a base ou apoio para a realizaçãodas ativi-
dades, que podem ser:
Base 1: Base 2: Base 3:
(apoio nos dois pés). (apoio num pé só — (apoio nos joelhos ou
direitoou esquerdo) ajoelhado)

Base 4: Base 5: Base 6:


(apoio num dos joe- (sentado) (deitado ou em
lhos —direito ou es- decúbito dorsal ou
querdo) ventral)
E o terceiro item compõe-se dos movimentos básicos: exten-
são, flexão, circundução, contração, relaxamento e rotação das
diversas partes do corpo.
E imprescindível que se comece a ministrar o conteúdo Dança
Escolar introduzindo estes itens ou conceitos acima, pois sem eles
o trabalho se tornará inviável e cansativo para o profissional que
ensina, já que o mesmo terá que interromper a aula a toda hora
para ensinar direções, formas etc., quebrando a seqüência e o rit-
mo do aluno, das atividades e da dança. Ao passo que, se o aluno
já dominar estes itens, o professor apenas dirá, por exemplo: "or-
ganizem-se em bloco; base 1 inicial e realizando os tais e tais exer-
cícios; deslocando-se para a diagonal esquerda" etc. Assim, o alu-
no terá mais facilidade de realizar seqüências.
Não podemos esquecer também da terminologia adequada (gi-
rar, inspirar e expirar, saltitar, rolar, saltar, deslocar etc.), que deve
fazer parte do vocabulário tanto do professor quanto do aluno;
evitar termos como pular, rodar, mexer, esticar, dobrar, encolher, e
outros que possam desvalorizar o trabalho pedagógico da Dança
Escolar.
Baseado nestas orientações, sugere-se aplicar a Dança Escolar
com a seguinte seqüência:
1g) Organização ou formações.
2 2) Direção ou alinhamento.
3 2) Bases ou apoio corporal.
4 2) Terminologia básica dos movimentos.
5 2) Atividades para desenvolvimento e domínio do Esquema
Corporal:
—ritmo;
—equilíbrio;
—lateralidade;
—flexibilidade;
—direcionalidade;
—postura;
—orientação espaço-temporal; e
—percepção visual e auditiva.

50
Primeiratncntc, utilizando o próprio corpo; depois, introduzin-
do materiais diversos, iniciar com marcação com instrumentos
(vide Cap. 2) e, em seguida, com músicas diversas.
(+) Movimentos isolados.
72) Movimentos combinados.
82) Movimentos espontâneos/ naturais.
9?) Expressão corporal/ mímica/ imitações/ folclore.
102) Coreografias e seqüências.

6.2. BENEFÍCOS DA PRÁTICA DA DANÇA ESCOLAR.

Segundo Jonh J. Ratey (apud FERREIRA, 2003, p. 9), a apren-


dizagem dos movimentos complexos da dança e de outros espor-
tes faz com que cresçam mais conexões entre os neurónios, apri-
morando a memória; assim, ficamos mais aptos a processar novas
informações e a aprender,
Certos exercícios podem produzir alterações químicas que nos
dão um cérebro mais forte, mais saudável e mais feliz e ainda po-
dem aumentar o número e a densidade dos vasos sangüíneos nas
áreas que mais necessitamdeles para a aprendizagem:o córtex
motor e o cerebelo.
Em relação ao seu papel pedagógico,a Dança Escolar deve
atuar integrada à EducaçãoFísica,visando o aumento da auto-
estima, o combate ao estresse, a melhoria da postura corporal,
além de auxiliar na aquisiçãoe manutenção da saúde, aptidão
social, mental, psíquica e física.
Além de todos esses benefícios a Dança Escolar ainda:
—desenvolve e melhora a respiração;
—melhora o condicionamento físico;
—aumenta a flexibilidade;
—fortalece os músculos e ossos;
—melhora a coordenação motora, o ritmo e o equilíbrio;
—promove a conscientização corporal; e
—promove as relações intra e interpessoal.

59
6.3. COREOGRAFIA - CRIAÇÃO E COMUNICAÇÃO
DO SABER

"Uma coreografia é a soma dos movimentos, combinaçõese


seqüências de temas." (MORATO, 1986, p.46). Quanto mais clara
e simples a coreografia for, melhores serão os efeitos visuais que
embelezam a seqüência.
A Dança Escolar,por meio da coreografia, pode desenvolver
a
capacidade de criação e expressão corporal da criança, uma
vez
que estimula a produção individual e coletiva.
Por meio da coreografia elaborada pelo grupo, poderemos
ob-
servar a personalidade e a expressão emocional de cada um,
que
se manifestam autenticamente pelas emoções que ocorrem
inter-
namente, e são externadas.
Os movimentos isolados, fragmentados não podem "escrever"
o texto corporal; é o mesmo processo que ocorre com as letras do
alfabeto que, sozinhas, não dão nome a nada, precisando se unir
umas às outras, para produzir.
A coreografia é a comunicação do saber por meio da expressão
corporal; é a escrita do movimento corpóreo. E ela só passa a ser
pedagógica e educativa se for construída pelo grupo e estimular a
criação, a auto-aceitação, a confiança e o respeito às próprias li-
mitações, aos colegas e ao espaço de cada um.
Uma coreografia pronta, imposta pelo professor, com intuito
de "demonstração", passa a ser um trabalho mecanizado, atuando
em função do "homem máquina", ou seja, dirigido, manipulado e
direcionado, e não tem função pedagógica.
Ao elaborar (criar) uma coreografia, o aluno está desenvol-
vendo competências e habilidades, uma vez que:
—escolhe uma música (percepção auditiva/visual);
—adapta a música a um tema (transferência) ;
—elabora movimentos isolados e os combina (interligação,
junção, articulação);
—ouve opiniões, sugestões e seleciona (capacidade de es-
colha, administração de conflitos, trabalho em equipe, re-
lações interpessoais) ;

60
—monta seqüências rítmicas, cadenciadas e combinadas
(adaptação, orientação espacial e temporal) ;
—executa os movimentos e treina (memória, ação, percep-
ção de si, domínio corporal, conhecimento de seus limites e
possibilidades) ;
—apresentação (desinibição, expressão corporal e comuni-
cação do saber).
Assim sendo, a coreografia na Dança Escolar pode ser direcionada
para uma criatividade com liberdade total, em grupos, em pares ou
individualmente, visando uma melhor improvisação de temas. Mas
também nada impede que o professor direcione a criatividade limi-
tando as formas, e exigindo maior capacidade de síntese, o que tam-
bém estará desenvolvendo competências.
egundo Aurélio (1993), "folclore é o conjunto ou estudo
das tradições, conhecimentos ou crenças de um povo, ex-
pressasem suas lendas, canções, danças e costumes".
é
A Dança Folclórica, inserida no contexto da Dança Escolar,
desen-
atividade física, formativa e de socialização, uma vez que
grupo e
volve os aspectos da personalidade, da valorização de um
de preservação de raízes culturais.
E um trabalho importante dentro da área da Educação Física,
porque mostra aos alunos a necessidade de se ter um patrimônio
cultural e histórico, uma vida social integrada e saudável, além de
despertar e promover outros interesses centrados na música, na
dança, no ritmo e na memória. Com isso, melhora a auto-estima
da criança e promove, assim, a inclusão escolar, pois valoriza os
costumes e o ambiente da comunidade onde a criança está inserida.
Para se ministrar uma aula de Dança Folclórica, não é necessá-
rio ser um expert em folclore; basta uma música adequada à dança
escolhida, um passo básico e criatividade.
Não é preciso utilizar os passos originais da Dança Folclórica
escolhida; até porque se tornaria inviável e também requer muita
pesquisa.O professor ou os próprios alunos podem criar movi-
mentos dentro do ritmo folclórico escolhido; o importante é de-
senvolver no aluno o gosto por ritmos de raiz e a curiosidade por
culturas diversificadas.
2
Para iniciar este trabalho com crianças do Ciclo Básico (ou 1
à 3a série) do Ensino Fundamental, você pode utilizar, como su-
gestão, os CDs da Editora Abril: Músicas FolclóricasBrasileiras—
Fundação Victor Civita, 2000/2001. São cantigas de roda tradici-
onais, porém com ritmos diversificados e bem atuais, que irão fa-
zer com que a criança dance e cante, desenvolvendo nelas o inte-
resse e o gostar da Dança Folclórica, pois algumas músicas já são
conhecidas delas e como o ritmo é bem "gostosinho e envolvente",
a criança sente-se motivada.

64
7.1. DANÇAS REGIONAIS BRASILEIRAS

O nosso país é muito rico em danças folclóricas e sofreu influ-


ência muito grande dos imigrantes que vieram de todas as partes
do mundo, como os negros africanos (estes, na condição de escra-
vos), os alemães, os holandeses, os portugueses, os japoneses. En-
fim, com esta mistura de vários povos e raças, originou-se uma
mistura cultural diversificada e de acordo com a região e com os
imigrantes que nela habitaram em maioria, criaram-se um costu-
me e um folclore diferentes.
Muitos estudiosos do folclore brasileiro afirmam que algumas
danças que cultivamos até hoje, vindas de outros países,já desapa-
receram do contexto desses mesmos países. Este é o caso da Capo-
eira, que é de origem africana, mas sobre a qual, em muitos países
da Africa, as pessoas dizem que nunca ouviram falar e sequer vi-
ram-na, conheceram-na.
Por isso, é de suma importância divulgar nosso folclore, para
que, com o passar dos anos, essa tradição não caia no esquecimento
e as futuras gerações ignorem a riqueza cultural que ora possuímos.
A seguir, darei alguns exemplos de danças regionais brasileiras,
algumasmuito conhecidas e praticadas até hoje nas diversasregi-
ões de origem:

REGIÃO SUL: Prenda Minha, Dança do Pezinho, Vanerão,


Dança do Saci, Colhedoras de Café, Dança do Balaio, Dança da
Boleadeira,Chula, Chimarrita.
REGIÃO NORTE: Boi-bumbá,Dança do índio, Carimbó,
Dança dos Deuses da Natureza, Coco.
REGIÃO NORDESTE: Maculeiê, Capoeira, Frevo, Ciran-
da, Afoxé, Xaxado, Axé, dança executada no ritual do candom-
blé, Mulher Rendeira, Xote, Baião, Forró.
REGIÃO SUDESTE: Peixe-Vivo,catira, Samba, Quadrilha,
Roda Viva, Folia-de-Reis, Retumbão, Calango, Fandango e
Moçambique.
REGIÃO CENTRO-OESTE: Dança do Boiadeiro,Dança
do Fogaréu, Congada, Cavalhada, Suça, Siriri, Chegança ou
Marujada.
7.2. PASSOS BÁSICOS PARA O ENSINO
DA DANÇA
FOLCLÓRICA

Para se entender melhor o que será exposto,


chamarei de "com.
passo" cada frase musical e separarei com uma barra
e um nume-
ral cada compasso, a fim de facilitar a leitura e a
mudança dos
passos descritos. Assim, a cada compasso será dado
um "passo"
diferente.

A. DANÇA DO PEZINHO: (formaçãoem pares


organiza-
dos em blocos).

Oi "bota" aqui / oi "bota" ali / o seu pezi / nho


(movimentar o pé à frente e atrás, ora o direito, ora o esquerdo).

O seu pezinho bem juntinho com o meu


(colocar o pé direito à frente e balançá-lo para um lado e para o
ou tro).

66
1 2 3
E dcl)0is/ não vai dizer /
(dar os braços, girar para o lado direito e bater duas palmas),

1 2 3
Que seu par / se arrependeu /
(dar as mãos no alto da cabeça, girar para o lado esquerdo e bater
as mãos nas coxas duas vezes).

B. DANÇA DO BALAIO: (organização em círculo, cada alu-


no deverá ter um balaio ou peneira na mão).

1 2
Balaio meu bem / balaio sinhá
(caminhar no sentido horário, sendo dois passos com o pé direito
e dois com o esquerdo; levar o balaio de um lado para o outro;
também, em dois tempos simultaneamente com os passos).
Balaio do coração
(girar em quatro tempos com o balaio acima da cabeça).

Moça / que não tem / balaio, sinhá


(virar o corpo para dentro do círculo e levar o pé direito à frente,
balançar o balaio para o centro do círculo embaixo e depois para
trás no alto).

60
1 2
"Bota" a costura / no chão
(girar o corpo para fora do círculo com o pé esquerdo à frente e em
quatro tempos, sendo que no 42 tempo colocar o balaio no chão,
ficando de costas para o centro do círculo).

1 2
Eu queria ser / balaio
(levar o corpo ora para a direita e bater duas palmas; ora para a
esquerda e bater duas palmas).

1 2
Balaio eu queria / ser
(dar um pulinho para a frente balançando as mãos acima da cabe-
ça e dar um pulinho para trás balançado as mãos atrás).
1 2 3 4
Pra / viver/ "depen/ durado"
(girar em sentido horário em 4 tempos; uma das mãos na cintura e
a outra, braço aberto para o lado).

3
1 4 5
Na / cintu/ ra / de vo/ cê
(segurarna cintura um do outro, girar o círculo todo no sentido
horário em quatro passos largos e pegar o balaio mais próximo).

C. PEIXE-VIVO: (organização inicial em círculo e depois em


bloco).

1 2
Como pode / um peixe vivo
(girar o círculo no sentido horário, bater duas palmas para o cerv
tro do círculo e duas para fora do círculo).

70
1 2
Viver fora / d'água fria
(virar o corpo para fora do círculo realizando um movimento de
"onda" com as mãos; elevar os braços e balançar as mãos acima da
cabeça).

1 2
COInopoderei viver / como poderei viver
(caminhar até fazer a formação em bloco, dando dois passinhos
com o pé direito e dois com o esquerdo, sucessivamente).
1 2
Sem a tua / sem a tua
(um passo para a direita e o braço direito estendido para a direita;
um passo para a esquerda e estender o braço para a esquerda).

1
Sem a tua companhia
(girar dando uma volta completa em 4 tempos, elevando as mãos
acima da cabeça).

D. CAI CAI BALÃO (organização em bloco. Cada aluno com


um balão de papelão na mão).

1
Cai cai balão
(dar um passo para o lado direito, elevando o balão).

72
1
Cai cai balão
(dar um passo à frente e ficar na base 4 (ajoelhado), elevando o
balão acima da cabeça).

12 3 4
Aqui / na minha / mão
(segurar o balão somente com uma das mãos; apoiar a outra mão
no chão; estender a perna para a lateral e fazer um movimento
com o balão até chegar acima da cabeça).
Não cai não, / não cai não,/ não cai não
(ficar na base 3 segurando o balão com as duas mãos; depois, na
base 4, e finalmente em pé com um pulinho).

Cai na rua do sabão


(dar um passo para o lado esquerdo, elevando o balão).

E. PRENDA MINHA: (organização em bloco; formação em


pares).

Vou-me/ embora / vou-me embora / Prenda minha


(dois passos para a direita e dois para a esquerda —2 vezes).
1 2
Tenhomuito / que fazer
(dois galopes para a direita; dois para a esquerda).

1 2
Vou partir para bem longe, / Prenda minha,
(a dama dá a volta em torno do cavalheiro, segurando na mão
dele, e este deve estar na base 4).

1
Atrás do meu bem-querer
(os dois devem encostar ombro no ombro e
fazer um giro comple-
to em 6 tempos).
F. CARIMBO: (organização em dois círculos, um dentro do ou-
tro, formação em pares).

1 2
Vou ensinar, / Sinhá Pureza
(cada um de costas para o seu par. Bater o pé direito duas vezes no
chão e, depois, o esquerdo).

1
A dançar o meu sirimbó
(mãos nos joelhos, pernas afastadas, abaixar em 4 tempos jogando
o quadril de um lado para o outro).

1
Carimbó, sirimbó é gostoso,
(virar um de frente para o outro, dar as mãos e ir com o corpo para
frente e para trás, balançando).

76
E gostosoem Belém do Pará
(dar o braço para o parceiro e girar em 4 tempos).
G. FREVO: (organização em bloco).

Qualquer música de frevo; realizar cada passo básico, 4 vezes.


Dança na escola quando aplicada com metodologia ade-
quada e, principalmente, com consciência pedagógica,
passa a ser uma ferramenta de grande valia na prática da Educa-
ção Física, pois além do desenvolvimento corporal, possibilita que
o educando amplie sua capacidade de interação social, contribu-
indo, assim, para a promoção de atitudes de valorização, respeito
à diversidade, apreciação de manifestações expressivas e culturais
e melhoria da aprendizagem, uma vez que envolve e desenvolve
todos os princípios psicomotores.
A Dança Escolar,por sua forma lúdica e não-competitiva, pas-
sa a ser um agente formador e transformador, possibilitando uma
real oportunidade de humanização, diversificação e democratiza-
ção, conforme prevêem os PCN, pois valoriza as diferenças, limi-
tes e capacidades individuais, integra estas diferenças e capacida-
des no contexto grupal e aproveita, sem discriminação, qualquer
movimento ou expressão apresentados pelo aluno. Com isso, au-
menta a auto-estima de todos e põe em prática o verdadeiro sen-
tido do "pertencimentoe do compartilhamento",conceitos tão
citados na educação inclusiva.
O que ficou demonstrado nesta obra é que, a partir da inclusão
da Dança Escolar no conteúdo curricular, estaremos, com certe-
za, dando um NOVO RITMO Às AULAS DE EDUCAÇÃO
FÍSICA.
ALLEN, Barbie. Dança aeróbica. Rio de Janeiro: Record, 1982.
o
COLETIVO DE AUTORES. Metodologiaaplicada ao da
Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
COSTA, Auredite Cardoso. Psicopedagogiae Psicomotricidade.
Rio de Janeiro: Vozes, 2001.
DIETRICH, Maria Gladys A. Danças infantis. Porto Alegre:
Grafosul, 1976.
FERREIRA, Vanja. Educação Física c interdisciplinaridade.Três
Corações: UNINCOR, 2003.
Educação Física, recreação, jogos e desportos.
Rio de Janeiro: Sprint, 2003.
LE BOULCH, Jean. A Psicocinéticana idade escolar.Porto Ale-
gre: Artmed, 1987.
MORATO, Maria Eugênia 12A dança na Educação Física. São
Paulo: Manole, 1986.
NEIRA, Marcos Garcia. Educação Física. Desenvolvendocompe- .
tências. São Paulo: Phorte, 2003.
PCN - PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS.
Educação Física, vol. 07. Rio de Janeiro: DP & A, 2000.
REVISTA EDUCAÇÃO FÍSICA/ CONFEF. "Dança - ativida-
de física e arte em harmonia", março, 2002.
"Capoeira", dezembro, 2001.
SANTANA, Lilá. Dicionário de Ballet. Madeleine Rosay. Brasil:
Nórdica, 1983.

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