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RESENHA
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“Dança... ensino, sentidos e possibilidades na escola”

Clara Emanuelle
Aluna do Curso de Educação Física da Universidade Metodista de Piracicaba, bolsista de
Iniciação Científica PIBIC/UNIMEP – Projeto: Dança na escola: realidade ou espaço de
preconceito em aulas de Educação Física.

Cleuza Maria de Almeida


Mestre em Educação e professora de Dança da PUC Campinas e ESEF de Jundiaí

Roberta Gaio
Doutora em Educação, professora de Ginástica e Ginástica Rítmica da PUC Campinas e
orientadora do Projeto de Iniciação Cientifica - PIBIC/UNIMEP - Dança na escola: realidade ou
espaço de preconceito em aulas de Educação Física.

Dança... ensino, sentidos e possibilidades na escola é uma obra que foi


elaborada a partir da comparação de uma pesquisa com uma apresentação de dança.
A investigação se propôs analisar os discursos dos alunos graduandos do curso de
Educação Física da UNICAMP a respeito da dança, enquanto conteúdo a ser
desenvolvido na escola.
A autora começa o livro relacionando a sua pesquisa com os bastidores
de um espetáculo de dança, ou seja, o que vem por trás das cortinas/ pesquisas, o
que a levou a temática do espetáculo/pesquisar tal assunto e se deu o espetáculo/o
desenvolvimento da investigação.
Algumas partes da pesquisa enfocadas a partir de uma visão fenomenológica,
devem ser ressaltadas, como o conhecer de forma objetiva e subjetiva, o
desvelamento da essência e a historicidade do ser humano que dança. A sua estrutura
se divide em aula prática de dança, descrição dos alunos sobre essa prática;
levantamento e identificação da análise do individual para o geral; interpretação,
elaboração das possibilidades projetadas na compreensão, cruzamento da pesquisa
com os Parâmetros Curriculares Nacionais e autores que fundamentam a pesquisa, a
partir de estudos já realizados sobre a temática.
A escola é comparada ao palco e ao cenário, trazendo à baila as concepções de
educação, os objetivos, o projeto pedagógico, as atitudes dos educandos na escola - e
fora dela - o papel do educador e a relação entre educador-educando, enfim, tudo o

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que circunda a escola. Ela é relatada como sendo base do conhecimento, a estrutura
concreta em que o aluno possa se situar.
Apresentando uma prática pedagógica de ação crítica, criativa e
transformadora, ela deve sair do âmbito do conhecimento já contextualizado e
passado de ano para ano, para uma escola nova, reformulada, que reconstrua os
conhecimentos já existentes e crie condições aos alunos de incorporarem, nas
perspectivas social, cultural e política esses e novos conhecimentos. Propõe que a
escola dê subsídios para a abertura de comunicação e interação dos alunos com o
ambiente escolar, com os educadores e educandos, abrindo as portas para que a
comunicação externa participe da construção de uma possível nova escola e contribua
para esse processo.
Nessa nova escola, faz parte a improvisação em relação aos pensamentos e
atitudes; a composição ou construção de conhecimento; a apreciação desses
conhecimentos e valores que estão à sua volta; e o fruir ou usufruir desse
conhecimento.
O educador também tem seu papel fundamental nesse processo, cabe a ele a
conscientização do seu eu, estimulando o saber se relacionar com os alunos e,
também o saber perceber a hora de intervir ou deixar que os próprios alunos
construam, sozinhos, o conhecimento.
A autora, no seu olhar como licenciada em Dança, identifica alguns
obstáculos, em relação ao ensino da dança, como a não possibilidade dos licenciados
em dança ministrar essas aulas e ao mesmo tempo, se coloca como crítica a
participação dos licenciados em Educação Artística e Educação Física, habilitados à
isso, pois acredita que os mesmos não são aptos para tal ensino. Soluções para estes
problemas foram discutidas nos questionários respondidos pelos alunos que estavam
vivenciando a modalidade na prática, o que permitia um maior grau de compreensão.
Como professoras da área no Curso de Educação Física, cabe nesse momento,
discordarmos de Barreto, pois os alunos têm um embasamento sobre Dança, em
especial sobre essa temática como conteúdo da Educação Física Escolar. 1
Sem entrar no mérito da questão acima posta, continuando a relatar o show em
forma de pesquisa, o ensaio nos dá a possibilidade de fazermos os últimos ajustes
antes do grande final, isto é, a apresentação da sua dissertação, os resultados
coletados através de questionários e compreensão geral do fenômeno, através das
analises e interpretações das respostas, fechando essa primeira etapa da obra.

1
Ler mais sobre esse assunto no Livro Dança e Diversidade Humana da editora papirus/2006, especialmente no
capítulo de GAIO, R.; GOIS, A.A.
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A dança posta pela autora é fruto de tudo o que foi apontado anteriormente, e
assim ela nos leva a olhar para esse conteúdo e discuti-lo na perspectiva da escola. A
dança é todo movimento de expressão, sentimento, emoção e comunicação. No
âmbito da escola, é possível utilizar esses movimentos para expansão de seu
conhecimento, aumentando o nível de comunicação e de percepção entre o que está a
sua volta e melhor reflexão dos problemas sociais, tendo atitude e postura crítica
diante das situações.
A arte, em seu conceito, é vista como criação, possibilidades, movimento
constante; expressão de sentimentos, do imaginário, sem julgamento real. O artista
interprete da arte, desenvolve a compreensão própria, mesmo que ocorra a
manipulação dos seus movimentos, é permitido que ocorra transformações e (re)
criações. A obra também deve ser compreendida, ter significância para quem está a
interpretando.
A arte, na sua formação histórica, é considerada uma manifestação cultural. As
pedagogias tradicionais, usadas até então, nas quais o dançarino era mero repetidor
de movimentos é algo do passado. Em meados do século XX, a tendência da “livre
expressão” foi apresentada, ampliando o processo de criação do aluno. Depois, com o
intuito de reorientar essa tendência, houve um questionamento sobre a arte, mas isso
não migrou da Europa para o Brasil. Na década seguinte a tendência de propor o
conhecimento através das vivências dos alunos, provocou uma transformação do
ensino em Arte.
A arte deve ser entendida como linguagem através de seus objetivos,
desenvolvendo os alunos em sua competência e estética, estimulando o relacionando
pessoal e grupal, incorporando períodos históricos e culturais. Os conteúdos
relacionados à formação de cidadãos seguem critérios de ensino como a produção, a
fruição e a reflexão.
Os conteúdos propostos para a área específica da dança na escola estão
relacionados com uma performance de criatividade, de expressão, que emana de cada
corpo, em comunhão com outros corpos, sem exigência de técnica específica, não
ocorrendo, assim, discriminação e exclusão, mas sim, possibilidades de formação de
um ser humano mais equilibrado em suas formas de pensar, agir e sentir.
O corpo foi visto como máquina por muitos anos, o que refletia no treinamento
físico e mecânico na Educação Física. Mas é a partir do momento que ele começa a ser
entendido como movimento e expressividade, é que se começa a estudar
efetivamente o corpo embasado na motricidade humana, que consiste no ser humano
que se movimenta intencionalmente.

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Desenvolver a autonomia, a cooperação, a participação social e a afirmação de


valores e princípios democráticos são objetivos da Educação Física. No âmbito político
que até então era militarista, passou por um processo higienista e a Educação Física
foi implantado nas escolas municipais deixando de ser associada somente aos
militares. Esse estilo de ensino perdurou por anos abrindo espaço para a iniciação
esportiva na escola. Na atualidade, a Educação Física escolar articula propostas
filosóficas, psicológicas, antropológicas e sociológicas. Seus conteúdos abrangem
noções de esporte, jogo, lutas e ginástica; atividades rítmicas e expressivas e,
conhecimento sobre o corpo na teoria. A dança, como conteúdo da Educação Física
esta contemplada nas atividades rítmicas e expressivas.
O método da Dança-Educação Física surgiu como especialização para
profissionais dessa área, podendo atender o projeto de lei que a tornou obrigatória
aos níveis de primeiro e segundo grau.
A obra apresenta também a história da dança, não como uma camisa de força,
mas como um fator importante, com o intuito de conhecer melhor essa atividade e
sua relação com a história da humanidade, sem com isso ficarmos presos a ela, pois
as alterações no universo da dança vão acontecendo continuamente, sendo que cada
parte contribui tanto para modificação quanto para aprimoramento da próxima fase.
Voltando para o âmbito da dança na escola, entrando na pesquisa da autora, o
livro apresenta um estudo sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais e a relação com
a Dança, pois os mesmos sinalizam como objetivo geral, o ensino e a contribuição da
dança para o processo de formação do cidadão e a iniciação do dançarino. Através dos
discursos dos alunos graduandos, as categorias são mais abrangentes e se dividem
em subcategorias, a primeira refere-se aos conteúdos de dança se dividindo em
técnicas de expressão em dança e a coreologia, ou estudo da dança; a segunda se
resume em conteúdos sobre a dança, melhor explicando, conhecimento de outras
áreas que contribuem para o processo educacional; a próxima, o conteúdo de
sensibilização, também se subdivide em combinações da fruição e da apreciação
estética e da fruição e a apreciação de experiências do cotidiano.
A autora encerra a obra nos mostrando que todos os corpos pensantes dançam,
basta colocá-los em que situação deseja, de espectador, dançarino, educador,
educando, reflexivo, expressivo e cidadão.
O seu conteúdo nos revela categorias concretas denominadas pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais e outras mais subjetivas, apontadas pelos alunos graduandos,
nos dando uma abrangência de informações interligadas umas as outras, deixando

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claro que não devemos seguir pontualmente nem um nem outro método, mas sim
permitir possíveis reflexões e conclusões sobre o ensino da dança na escola.
Enfim vale dançar com a autora, seja na perspectiva de uma reflexão
profissional ou se vendo como dançarino, numa situação de co-participante da história
da dança, o importante é ler e reler a obra e tirar dela o essencial para conhecer,
criticar e construir um novo conhecimento na área.

Data de recebimento: 28/10/06


Data de aceite: 29/12/06

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