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A História da Educação Física escolar no Brasil

Ana Cristina Arantes


anacris.arantes@ig.com.br
(Brasil)
Doutor em Educação pela FEUSP.
Mestre em Educação Física EEFEUSP.
Especialista em História de São Paulo IHGSP.
Professor da UNIFIEO. Osasco; São Paulo.

Disponível em: http://www.efdeportes.com/


Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - N° 124 - Setiembre de 2008

Resumo
O texto apresenta a história da Educação Física escolar no Brasil;
analisa o ideário da época, as principais influências, as características dos seus
conteúdos, a docência, as questões de gênero, as instituições de atendimento
infantil, o tratamento diferenciado até a sua inclusão no Projeto Escolar. O
estudo contempla também tópicos inerentes a legislação, as abordagens ou
linhas pedagógicas favorecendo a compreensão sobre o estado da arte em que
se encontra. Pode ser considerada como uma pesquisa qualitativa na qual o
autor utilizou-se dos livros, artigos, as propostas curriculares em língua
portuguesa. O que se depreende a partir da análise dos fatos é que a
construção e inserção da Educação Física na sociedade e na escola foi (e
continua) sendo uma história de marchas e contra marchas; de convencimento
permanente para que o seu valor intrínseco seja conhecido e a implementação
das aulas seja uma realidade indiscutível.

Unitermos: Educação Física. História. Gymnástica.

“Não és tu que me dás felicidade


Que esta eu crio por mim, por mim somente
Dirigindo sarado a concordância
Da vida que me dou com o meu destino”
Mário de Andrade

Introdução

Quando se pensa sobre a história da Educação Física escolar no Brasil, é


muito importante lembrar que a sua recomendação, introdução e permanência
na educação formal ocorreu em um cenário de época bastante conservador;
ocupou um espaço físico modesto e foi marcada por uma história social com
muitos percalços.
Filha das fileiras militares, guiada por preceitos médicos, os nossos primeiros
professores de gymnástica foram os soldados de D. Leopoldina. Princesa
austríaca, e Imperatriz do Brasil, D. Leopoldina trouxe consigo um grupo
pequeno, porém, muito importante formado por cientistas e pela sua guarda
pessoal. Esta guarda pessoal praticava exercícios que foram adotados pelos
nossos soldados. A partir deste fato, a prática da gymnástica foi gradualmente
“ganhando espaços”. Vencendo os costumes, combatendo o preconceito e
ampliando seus conteúdos a citada prática motora de então, hoje, educação
física, é oferecida aos escolares brasileiros sem distinção de sexo, gênero ou
classe social.

Pequena história da educação formal

Durante o período entre 1559-1759 tratou-se organizar os primeiros núcleos


de educação escolar para os bons selvagens. Com orientação jesuítica, o
atendimento e a catequização das crianças realizavam-se nas aldeias
(CUSTÓDIO e HILSDORF, 1995), ou seja, os jesuítas caminhavam muitas
léguas para chegar às tribos. Embora não houvesse aulas de Educação Física,
as atividades ligadas ao movimento corporal estiveram asseguradas por meio
da prática da peteca, arco e flecha e das atividades recreativas às quais os
Inacianos não se opuseram.

Após a expulsão dos elementos da Contra Reforma, muito pouco se fez pela
educação formal das crianças brasileiras. Sobre este tema os estudiosos de
forma recorrente escrevem que o atendimento seguiu o ideário da época, ou
seja, as crianças abastadas recebiam orientação por meio das Aulas Régias.
As demais eram assistidas, abrigadas nos inúmeros Colégios como o de São
Pedro no Rio de Janeiro em 1766.

Este Colégio posteriormente Seminário de São Joaquim, fechado em


1808/1818, era uma instituição assistencialista para órfãos; recolhimento para
crianças e jovens, filhos de mães solteiras e ou abandonadas pelos pais
(CARDOSO, 2003).
Entre esta data e o ano de 1824, quando ocorre a promulgação da Primeira
Constituição, as instituições de abrigo tais como a São Joaquim, serviram para
a ocupação militar ou voltaram a atender os menores desvalidos - sua
ocupação inicial.

As mudanças oficiais

Em 1824 a Constituição do Império recomendou formalmente a


escolarização aos brasileiros. A gratuidade da instrução primária garantia a
existência de colégios e de universidades que ensinassem elementos das
ciências, belas artes e artes. A escolarização prescrita era, entretanto,
destinada aos filhos de proprietários, detentores de direitos políticos e civis, ou
seja, para ter acesso aos bancos escolares era necessário que o cidadão
(mormente a sua família) tivesse bens; portanto, a educação formal mesmo
oficialmente recomendada, era para poucos (ARANTES, 2002).

Não se observa preocupação indicando a atividade física orientada no texto


citado, entretanto, a arquiteta Maria Cecília N. HOMEM (2006), dissertando
sobre a construção das moradias em São Paulo, encontrou dados relativos à
prática da ginástica alemã de banheiro ou de quarto; exercitação possivelmente
realizada de maneira autônoma com orientação dada aos cidadãos por meio
dos Instructores de gymnástica que atuavam nas (poucas) escolas existentes
no país.

À medida que a Corte tomava para si a responsabilidade da educação formal


dos brasileiros, em 1832-1834 (CARDOSO, 2003), determinou-se a realização
de exames públicos para avaliar a competência dos futuros docentes segundo
critérios de conduta moral. Estas comissões eram formadas pelos párocos,
pais dos alunos e chefes de polícia (VILELLA, 2000 e SILVA, 2002), Não se
observa nos textos qualquer citação sobre a avaliação para os Mestres em
Educação Física.

Em todo o mundo de acordo com SOUZA (2000), o século XIX foi


caracterizado por intenso debate sobre a questão da educação popular.
Difundia-se a crença no poder da escola como fator de modernização,
progresso e mudança social. Era imperativo que se criasse uma escola que
atendesse as exigências que o processo de urbanização e de industrialização
exigia. Nesta esteira dos tempos modernos, a organização escolar, métodos de
ensino, livros e manuais de didáticos, classificação de alunos, estrutura física
da escola, formação docente e a inclusão de disciplinas tais como ciências,
desenho e educação física – ginástica- serviram a nova causa; orientar um
novo homem para uma nova sociedade. O Brasil na figura de Rui Barbosa, não
ficou alheio ao debate internacional. Preconizava-se até então, um ensino
menos verbalista, repetitivo e lotado de abstrações. Em seu lugar propunham-
se lições das coisas que hoje talvez pudesse ser visto como o ensino
significativo, no qual o aluno toma parte de maneira ativa.

O Collégio D. Pedro II

Em 1835 na cidade do Rio de Janeiro - sede da Corte no Brasil - observa-se


a prescrição de um Liceu cujas disciplinas reunidas servissem ao ensino
secundário em um único estabelecimento. Assim, dois anos depois, fundam-se
o Imperial Collégio de Pedro. CUNHA JÚNIOR (s.d) citando Haidar escreve
que “a história do Colégio Pedro II (é) como quase que a própria história do
ensino secundário no Brasil especialmente no período monárquico” (s.p). Com
um currículo destinado à elite, o curso oferecia aos seus alunos, futuros
bacharéis em Letras, a possibilidade de acesso às academias de ensino
superior.

Quanto á presença das aulas que tratassem de movimento humano CUNHA


JUNIOR (s.d), escreve que as mesmas foram orientadas pelos padrões
(europeus) vigentes. A pedagogia da educação physica articulava-se à
alimentação, ao vestuário, ao exercício corporal e a degenerescência física.
Supostamente presente no cotidiano escolar antes de 1841 e, (já) causando
certo desconforto, Antônio de Arrábia o primeiro Reitor da escola, em ofício ao
Ministro do Império escreve sobre certas irregularidades ocorridas nos
primeiros dias de aula de Latim e na de Gymnástica. Entretanto, por falta de
documentação segura o autor citado prefere afirmar que as atividades
corporais gymnásticas foram efetivamente praticadas a partir de 1841.
Como explicitado anteriormente, os nossos primeiros professores foram
pessoas com patentes militares. Este fato pode ser observado por meio da
recomendação que Joaquim Caetano Silva Reitor do Collégio citado, faz à
Candido José de Araujo Viana (Ministro e Secretário dos Negócios do Império).
Solicitando a contratação do Mestre de Gymnástica Guilherme Luiz Taube –
ex-capitão do Exército Imperial que se encontrava em difícil situação para
sustentar a sua numerosa família (CUNHA JÚNIOR, s.d). No suplicante ofício
comentava-se sobre a importância, adequação e o conteúdo dos exercícios
utilizados pelo Capitão Guilherme. Afirmava que práticas eram recomendadas
pelas revistas médicas e oferecidas nos diversos Collégios e Lyceos da
Europa, cujo efeito abrangia as forças do corpo e a alma. Assim, portadora e
alinhada aos preceitos da época, somada a possível grande contribuição que
daria, as aulas de Educação Física seriam muito úteis aos nossos alunos.

Discriminação histórica. Acerto ou equívoco? Picuinhas ou paridade


docente?

Em um terceiro documento, Joaquim Caetano da Silva, outro Reitor do


Collégio, propõe ao Ministro citado, que se pague ao “Instructor de Gymnástica
um ordenado anual de quatrocentos mil reis por sete horas de exercício
semanais; duas na quinta feira e huma em cada hum dos cinco dias de aula”
somada a esta sugestão o Reitor arrisca recomendar que ao Mestre não seja
concedido o título de professor devido à natureza prática da atividade (CUNHA
JÚNIOR, s.d). ou porque o mesmo não estivesse incluído nos exames públicos
de admissão como o obrigatório. Esse é um ponto a ser esclarecido....

Apesar de reconhecer a suma importância do trabalho, escassez de mão de


obra especializada, o Ministro responde ao responsável pela direção do
estabelecimento. Sobre o valor da renumeração do Instructor, afirma que a
mesma é muito superior a dos demais docentes tais como os de Inglez,
Francez, Dezenho e Música “todos pressionados e com muito mais trabalho
que o Mestre de Gymnástica”. Assim entendendo e, muito incomodado, em
junho de 1843, o reitor questiona a possibilidade de substituir-lhe por hum
mestre de dança (CUNHA JÚNIOR, s.d).
Quase dez anos depois, na Cidade do Rio de Janeiro, observa-se a
obrigatoriedade da prática da ginástica nas (poucas) escolas primárias do
Município da Corte; bem como em 1870 dá-se ali a construção do primeiro
prédio destinado exclusivamente para a escola pública (CARDOSO, 2003).

No século XIX dois métodos ginásticos são citados (1) a de quarto; realizada
por alunos em sala de aula por entre as carteiras, composta por exercícios
localizados visando melhoria da saúde e, (2) a ginástica alemã, (introduzida em
1852-para soldados), que objetivava o condicionamento físico dos alunos do
sexo masculino, pela utilização de exercícios acrobáticos exigindo disciplina e
certo grau de hipertrofia muscular (ARANTES, 2002).

As indicações sobre a realização das aulas de gymnástica se multiplicavam.


Aqui e acolá se se observa a recomendação deste conteúdo aos escolares.
Para exemplificar escrevo que no ano de 1852, na província do Amazonas, é
expedido um documento regulamentando a instrução pública primária, que
juntamente com as matérias para o desenvolvimento moral, lê-se a indicação
das práticas motoras orientadas:

”com a instrução primária, se dará também a educação física e moral, a


saber; a educação constituirá em limpeza, exercícios e posições e maneiras do
corpo, asseio e descências do vestuário, o mais simples e econômico possível,
danças e exercícios ginásticos, ornicultura, passeios de instrução “(MARINHO,
1943:46).

Para fomentar a prática da Educação Física e acompanhando os ditames da


época, inúmeros decretos, leis e atos oficiais foram criados. Outro exemplo é
representado pelo Decreto n. 8025 de 16 de março 1852 para os alunos das
Escolas Normais. “O referido documento determinava exercícios disciplinares,
movimentos parciais e flexões, marchas, corridas, saltos, exercícios piríricos,
equilíbrio e exercícios ginásticos” (PAIVA e PAIVA, 2001: s.p).

Educação Física e a profissão docente; capacitação profissional;


especificidade ou não?
De acordo com PAIVA e PAIVA (2001), em seu trabalho sobre o ensino da
gymnástica, escrevem que

“em 25 de abril de 1873, foi enviado aos membros da Comissão designada


para conduzir o processo de consulta acerca da proposta apresentada á
Inspectoria da Instrucção Pública da Corte pelo Cap. Ataliba M. Fernandes,
mestre de gymnástica, o oficio que encaminhava motivos e projetos
explicativos para a realização nas escolas públicas de Instrucção primária do
sexo masculino, o ensino racional, methódico e progressivo da gymnástica
elementar (visando) o desenvolvimento physico dos alunnos, (como)
aconselhado pelos preceitos higiênicos e regras de boa educação e civilidade”
(s.p).

Na defesa da implementação da atividade em tela, fazia-se menção a Grécia


antiga, e sendo integrante da educação da mocidade, favoreceria incorporação
de hábitos higiênicos. A sustentação das práticas motoras era defendia pela
necessidade “palpitante” da Educação Physica ás crianças.

Quanto ao método, propunham-se exercícios do corpo livre e os


dependentes do aparelho e acessórios. Em ambos a flexibilidade, equilíbrios,
lutas, forças, saltos exercícios pyrrichos, natação e de volteios militares seriam
praticados. O pórtico, barras fixas, argolas, escada de cordas, paus, cabos
volantes, barras paralelas, escadas de madeiras, graduador de saltos, pesos,
cordas, cabos, tamboretes seriam usados como facilitadores da aprendizagem
gimnica.

Os envolvidos no processo, não apreciaram a proposta (PAIVA e PAIVA,


2001), pois, a educação física oferecida nas escolas até então se atinha aos
exercícios elementares; movimentos parciais (analíticos), e de flexões,
marchas corridas, saltos simples, equilíbrios, em terra firme. O pórtico e todos
os exercícios que dali pudessem ser praticados foram vistos como não
recomendados seja pela falta de condições de instalação física, falta de
recursos, ou porque os alunos eram muito pequenos para tal prática. Em seu
lugar, os diretores sugeriram ao proponente Cap. Ataliba, a implementação de
outro método; (1) “o novo guia para o ensino da gynástica nas escolas públicas
da Prússia”, que havia sido distribuído pelo governo ou (2) que se adotasse o
método americano do Dr. Barnetts que se caracterizava pela exercitação a
mãos livres, com pequenos aparelhos e/ou pelo uso de tiras borrachas com
diferentes tipos de tensão” (s.p).

Condicionadas e adequando-se as modestíssimas instalações escolares, as


aulas de educação física, ficaram restritas apenas aos exercícios mais simples,
à prática da higiene... Exercícios mais complexos seriam praticados pelo
Exército e nas Escolas da Marinha; ou até que o governo reunisse condições
para construir os pórticos nas escolas...

Nessa discussão também foram apresentados itens relativos ao trabalho do


professor tão assoberbado com a aprendizagem de outros conteúdos sem
tempo para a implementação das aulas de gymnástica.

A competência técnica e a remuneração também foram objeto de discussão.


Quanto ao horário, definiu-se que seria no intervalo entre duas sessões;
podendo servir como diversão, recreio ou uma estratégia para amenizar ou
outros exercícios da vida escolar.... Às atividades motoras ministradas pelo
professor de escolarização inicial, somariam as de música e as de desenho
linear.....

O Capitão Ataliba imbuído de vigor defendeu que os docentes mesmo para o


ensino elementar deveriam possuir processo, método, linguagem concisa e
clara, dedicação ao trabalho, certo grau de energia e tenacidade; gente idônea.
Portanto, as aulas de Educação Física não poderiam ser ministradas por
qualquer pessoa como defendiam os diretores. Criava-se a necessidade de
formação adequada dos docentes, a realização de exames que dessem conta
das atividades motoras das crianças e que propusessem conteúdos mais
complexos a serem desenvolvidos posteriormente (PAIVA e PAIVA, 2001).

CARDOSO (2003) escreve que o período compreendido entre 1854–1859


caracterizou-se por inúmeras Reformas educacionais; Paulino de Souza, João
Alfredo, Leôncio de Carvalho, Rui Barbosa, Almeida de Oliveira; Barão de
Mamoré. Nessas reformas educacionais, por certo, incluem-se a revisão dos
conteúdos das aulas de Educação Física a serem ministradas nas escolas.

As aulas de Educação Física na Caetano de Campos em São Paulo

Sobre a formação docente e adequação de trabalho com classes iniciais


ARANTES (1990), disserta que em 1846 em São Paulo instalou-se o primeiro
Curso de Formação de Professores ou Curso Normal destinado a ambos os
sexos. A autora refere-se à Escola Normal da Praça da República cujo
currículo continha aulas de Educação Física. Ministradas por Instructores das
fileiras militares. As futuras professoras primárias viram-se às voltas com
exercícios de marchas e infiltrações, ordem unida e ginástica analítica. Essa
Educação Física se assemelhava àquela praticada no quartel (ARANTES et.al.
2001). Esse dado parece ser relevante uma vez que a Primeira Escola de
Educação Física para civis, forma sua primeira turma em somente 1935
(DAIUTO, 1994).

Rui Barbosa; o paladino da Educação Física

Completando as idéias de SOUZA já apresentadas (2000), a introdução da


Educação Física foi vista como uma inovação relevante. A prática da Educação
Física possuía “função moralizadora, higiênica, agente de prevenção dos
hábitos perigosos da infância, estratégia para a edificação de corpos
saudáveis, instrumento que impediria a degeneração da raça; cultivaria por
certo, valores cívicos e patrióticos concorrendo para a defesa da pátria” (s.p).

Assim sendo, e pensando nas questões de gênero, a Águia de Haia


recomendava aos meninos a ginástica e os exercícios militares e às meninas a
calistenia; caracterizada como uma combinação de exercícios e movimento
cuja prática não prejudicaria o desenvolvimento muscular, a doçura das
maneiras e a bela harmonia das formas femininas (SOUZA, citando Barbosa,
1883).

Em 1872, Rui Barbosa; eminente Parecerista do Império solicitou a paridade


das aulas de Educação Physica às demais disciplinas oferecidas pela escola
elementar. Mesmo avesso às atividades físicas que os tempos modernos
impunham (não apreciava o ciclismo), solicitou melhores condições físicas para
as aulas, a prática da gymnástica segundo preceitos médicos e
recomendações guiadas pela concepção de gênero, pedia também
remuneração adequada aos docentes (OLIVEIRA, 1989).

De volta ao passado

No final do século XIX, com a implementação do Jardim de Infância da


Caetano de Campos, a professora de sala, repassa aos seus alunos, os
mesmos exercícios que havia aprendido com seus Mestres. A educação
(formal) com inspiração froebeliana fazia-se presente e, o ensino, mais uma
vez alinhava-se à pedagogia praticada na Europa e na América (ARANTES,
1997).

O século XX; reflexos da Semana da Arte Moderna; a imigração; novos


ares, novas instituições

No início do século XX a cidade de São Paulo viveu um intenso processo de


desenvolvimento. A cidade modesta e de poucos fogos cresceu e o
adensamento populacional tornou-se uma realidade. Muitas pessoas do interior
chegaram à metrópole buscando oportunidades. Ingleses foram contratados
para construir dentro outras estruturas a Estação da Luz e deitar os dormentes
das estradas de ferro. Novas e muitas novidades européias foram conhecidas.
A segunda leva de imigrantes vindos da Itália ocupou a cidade, dividindo-a com
os brasileiros de longa data e outros (muitos) imigrantes. Mário de Andrade
percebendo a necessidade de divulgar a nossa cultura criou em 1935 na
cidade cerca de seis Parques Infantis destinados às crianças e aos jovens. O
grande escritor de Macunaíma; quando foi Secretário da Pasta da Cultura do
Governo de Fábio Prado imaginou e implantou uma instituição co-educacional
destinada aos filhos dos operários migrantes e imigrantes.

Mário de Andrade tinha por objetivo, a divulgação da cultura nacional por


meio de sessões de música, artes plásticas, danças, jogos da cultura popular e
tradicional, recreação e a prática da natação ministrada na piscina do Parque
da Vila Romana na Lapa.
Para hercúlea tarefa, contratou como parte do quadro de funcionários dos
Parques Infantis, nossos primeiros professores de Educação Physica
provavelmente oriundos do Instituto Superior Isolado de Educação Physica de
São Paulo (hoje Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São
Paulo). Este serviço assim como tantos outros que Mário criou, foram
pensados a partir da Semana de 1922 (movimento de vanguarda) que
valorizava a cultura nacional rompendo a tradição francesa até então muito
importante em São Paulo. Os Parques Infantis por várias questões foram
fechados em pouco tempo deixando desamparada culturalmente a infância
paulistana.

Getúlio Vargas; Escola para todos. A Educação Física e o ufanismo


nacional

No ano de 1946 o Governo Federal criou e implementou Lei Orgânica; talvez


primeira lei na esfera educacional com caráter “democrático”. O ensino
brasileiro deveria iniciar-se aos sete anos de idade. Os desfavorecidos
deveriam cursar a escola técnica; os da elite seriam matriculados nas escolas
propedêuticas, também conhecidas pelo ensino enciclopédico, com vistas às
poucas universidades existentes. As aulas de Educação Physica ministradas
nas escolas tiveram participação significativa para aumentar o espírito
nacionalista. Grandes concentrações de estudantes e exibições de ginástica
com ou sem elementos foram praticadas a guisa de exibir o ufanismo nacional.
Para os pequenos os jogos de “dar e tomar” (MEDALHA, et. al. 1985), foram
utilizados para que desde tenra idade pudessem entrar em contato com as
regras socialmente aceitas.

A primeira lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 4024

Em 1961 promulgou-se a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional LBD. Nº 4024 As diferentes estruturas de educação escolar
receberam a denominação de Primário (quatro anos), (o quinto ano) e o
Ginásio também com quatro anos. Após este, havia o Curso Colegial
propedêutico e os Cursos Técnicos como Curso Normal ou Curso de Formação
de Professores; Curso de Contabilidade, de Secretariado, dentre outros.
Abrigadas sob esta estrutura vertical, a (aula de) Educação Física ministrada
pelos regentes “dada suas bases científicas, é atualmente considerada como
um aspecto de educação geral, oferecendo valiosa contribuição ao
educando” (Programa da Escola Primária de São Paulo, 1967:59).

“Na escola primária a educação física teve como objetivo a recreação


(individual e coletiva) nos seus variados aspectos era realizada por meio das
atividades naturais, jogos, atividades rítmicas, dramatizações, atividades
complementares” (Programa da Escola Primária de São Paulo, 1967:59),
visando abarcar a totalidade do desenvolvimento do aluno. A Educação Física
na década de 60, também se preocupou com a atitude postural adequada, com
a coordenação sensório motor, o refinamento dos sentidos, e o aumento da
sensibilidade rítmica, favorecendo a co educação, e o conhecimento de nossos
costumes.

Neste período houve por parte governamental e pela iniciativa privada, um


significativo esforço para uma escolarização diversificada. Essa realidade pode
ser notada pela criação de inúmeras experiências inovadoras no processo de
educação formal tais como os ginásios pluri-curriculares, vocacionais, a
unificação em dois níveis dos anos do primário formando apenas dois blocos. A
experiência não vingou e logo sofreu revezes devido ao regime implantado pelo
governo militar (ARANTES, 1991).

Quanto ás aulas de Educação Física para a juventude, consistiam em


ensinar a ginástica formativa, fundamentos de jogo (modalidades esportivas
coletivas), valendo-se do Método “da Desportiva Generalizada”; não se previa
processo de inclusão daqueles que não se adequassem a normalidade.

1971 - promulgação da Lei 5692. Educação Física Prática Educativa ou


Atividade?

Dez anos depois da LDB. Nº 4224/61 foi implementada a segunda Lei de


Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 5692. Os diferentes graus de
escolarização recebiam agora nova organização e unificação vertical. O
primeiro segmento denominado 1º Grau era composto por oito séries
integradas pelo Núcleo Comum e Parte Diversificada. Nomeavam-se Disciplina
aquelas com orientação teórica e por Atividade as de cunho prático sem
reprovação exceto por faltas; Educação Artística, Inglês e Educação Física
(PAR.CFE. 853/71).

O programa recomendado para as aulas de Educação Física compreendia


“um conjunto de ginástica, jogos desportos, danças e recreação, capaz de
promover o desenvolvimento harmonioso do corpo e do espírito e, de modo
especial, fortalecer a vontade, formar e disciplinar hábitos sadios, adquirir
habilidades, equilibrar e conservar a saúde e incentivar o espírito de equipe de
modo que seja alcançado o máximo de resistência orgânica e de eficiência
individual” (SÃO PAULO,SE/CENP,1985:158).

O 2o. Grau; composto por três ou quatro séries, de cunho técnico


profissionalizante foi oferecido a todos os estudantes. Abriram-se à população
a real possibilidade de acesso ao ensino superior.

Em São Paulo, neste tempo (19..) deu-se a confecção do “Verdão” - material


de apoio e conteúdo obrigatoriamente seguido e desenvolvido por todos os
professores da rede pública estadual; apresentava orientação rígida e
estrutural. O “Verdão” vinha acompanhado por outro material explicativo o
Manual do Professor. Em Educação Física, o documento explicava as
seqüências pedagógicas dos diferentes conteúdos das modalidades ginásticas,
atléticas e esportivas (SÃO PAULO, s.d).

Documentos Oficiais: a Educação Física, a educação inicial e o currículo


escolar

Doze anos depois em São Paulo, a Coordenadoria de Estudos e Normas


Pedagógicas (CENP.) ofereceu ao professores da rede estadual, subsídios
para a implementação da Proposta Curricular de Educação Física para a pré-
escola. Acompanhada do Manual para o Professor, apresentava exercícios
versando a construção da imagem e consciência corporal, atividades temporo-
espaciais, expressão corporal e recreação (SÂO PAULO, SE/CENP. 1983).
De 1985 com a instalação do processo democrático, abriram-se novas
perspectivas para multiplicidade de Propostas Curriculares em todas as
Disciplinas e Atividades. Observa-se em São Paulo a formulação das
Propostas Curriculares pela Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
para as escolas estaduais.

Este processo de intensa discussão acerca dos conteúdos escolares


terminou em 1992 com a publicação do modelo final das Propostas
Curriculares para o 1º e 2º. Graus para todas as Disciplinas e Atividades
coordenadas pela CENP. Quanto ao Curso de Habilitação Específica para o
Magistério HEM. (antigo Curso Normal), além das disciplinas já implementadas,
haviam as denominadas Instrumentais; as de Metodologias das diferentes
Disciplinas ou Atividades a serem ensinadas aos alunos da escolarização até
4ª. série do 1º. Grau. As aulas de Metodologia da Educação Física estavam
previstas no documento demonstrando que seu conteúdo merecia ser
estudado.

O momento atual e a Educação Física

Desde 1996 o currículo vigente está organizado segundo a terceira Lei de


Diretrizes e Bases da Educação Nacional LBD. Nº 9394. O processo de
escolarização brasileiro apresenta-se agora completo. Iniciando pela Educação
infantil nosso Sistema Escolar termina formalmente na Graduação, no Ensino
Superior. Hoje, as propostas e os conteúdos têm a preocupação em atender,
incluir e integrar todos os estudantes em torno do Projeto Escolar.

As aulas de Educação Física ao contrário das épocas passadas, e, segundo


o artigo 26, deve ser “integrada à proposta pedagógica da escola, é
componente curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às
condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos” (São
Paulo; SE/CENP 1985;79).

A partir desta Lei vigente passou-se entender o currículo como um todo. A


escola, portanto, deve ser vista como um lugar de informação, de produção de
conhecimento, de socialização e de desenvolvimento integral de todos os
estudantes. Para consecução de tal tarefa, todos os especialistas, os
professores, as Disciplinas e os Componentes Curriculares, devem ter
compromisso com o desenvolvimento dos aspectos teórico práticos além de
articulá-los aos Temas ou Eixos Transversais (saúde, meio ambiente, trabalho
e consumo, orientação sexual e ética). O plano de curso, de ensino e das aulas
inclusive os de Educação Física devem ser pensados segundo o Projeto
Escolar e orientados de acordo com as características dos estudantes.

A nossa missão; um compromisso para a toda a vida

Hoje, possuímos muitas linhas ou abordagens filosóficas; cinesiológica,


motricidade humana, cultura corporal do movimento, aptidão física, tradicional,
desenvolvimentista, sócio construtivista, sócio interacionista e a ligada ao meio
ambiente. Demos um passo gigantesco se comparamos ao Capitão Ataliba e
aos idos século XIX.

Se esta realidade nos conforta e nos alimenta também nos alerta para a
construção de um Brasil com oportunidades mais amplas a todos. Somada a
isto e, dentro de nossa especificidade, tomara que possamos discutir e fazer
praticar com excelência o jogo, a luta, o esporte, a ginástica e a dança, sem
nos esquecermos da sensibilidade que deve guiar os todos os nossos passos.

Referências

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crianças. Pequeno cronograma sobre o processo de
escolarização no Brasil: incluindo-se a Educação Física escolar.
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curriculares nacionais; educação física. Secretaria de Educação
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