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Governo do Estado do Rio Grande do Norte

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)


Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR)
Campus Avançado de Pau dos Ferros (CAPF)
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

A PEDAGOGIA ANTES DA PEDAGOGIA

PAU DOS FERROS – RN


2023
ANTONIA ANALICE PEREIRA FAGUNDES
EMILIA SELMA OLIVEIRA CALDAS

KATIUSSY PATRÍCIA DE LIMA OLIVEIRA

RAFAELA NAIANE FIGUEIREDO DA SILVA

SEMINÁRIO: A PEDAGOGIA ANTES DA PEDAGOGIA

Seminário da disciplina Introdução a


Pedagogia, turma do 1º período do curso de
Pedagogia/PARFOR da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte – UERN,
ministrada pela professora: Dra. Iandra
Fernandes Caldas.

PAU DOS FERROS


2023
Resumo do texto: A Pedagogia antes da Pedagogia

Em 1549 os jesuítas chegaram à colônia brasileira e implantaram os primeiros colégios


contando com o incentivo e subsídio da coroa portuguesa. Esse grupo enfrentou algumas
dificuldades tais como: grupo pequeno de missionários, condições inóspitas, escassez de
recursos, pois o rei enviava somente custeio para vestimenta e alimentação, mas não para
construções. Em 1552 na carta o Padre Manuel da Nóbrega relata dos recursos recebidos e sua
aplicação no colégio da Bahia, onde em trecho da mesma ainda relata a situação de carência
ao qual enfrentavam. No ano de 1564 essa situação é revertida com a criação do “Estatuto da
Redízima”, onde um décimo da receita obtida pela coroa portuguesa na colônia era destinado
à manutenção dos colégios jesuítas. Nessas condições bastante favoráveis, surge a Pedagogia
Católica, primeiro na versão do “Plano de Nóbrega que também conhecida como “Pedagogia
Brasílica”, na qual procurava adequar-se às condições específicas da colônia, e, depois na
versão do “Ratio Studiorum”, cujos cânones foram adotados pelos colégios jesuítas do mundo
inteiro.
A teoria da educação que orientou as primeiras atividades pedagógicas em nosso
território corresponde à pedagogia derivada da concepção humanista tradicional na sua
vertente religiosa. Essa primeira fase do período jesuítico foi marcada pelo plano de instrução
elaborado por Nóbrega, onde ele procurou implantar sobre “uma extensa cadeia de colégios
nas povoações litorâneas, colégio da Bahia ao norte e de São Vicente ao Sul. Esse plano tinha
as seguintes características: começava na escola de ler e escrever com a aprendizagem do
português e da doutrina católica, aprendiam também canto orfeônico (canto coral) e
instrumentos musicais. Essa primeira característica mencionada correspondia ao nível
primário, já no nível secundário: a maioria dos alunos era encaminhada para o aprendizado de
ofícios mecânicos ou agrícolas, e uma parte era selecionada para os estudos da gramática
latina, após serem enviados à Europa para estudar em Coimbra ou na Espanha. O objetivo
nesse contexto também do plano era formar novos jesuítas que viessem a colaborar com a
obra missionária que estava sendo desenvolvida pelos primeiros inacianos (referência a Santo
Inácio de Loyola, que foi fundador da campanha de Jesus).
Dessa forma podemos destacar três aspectos do plano de Nóbrega: a filosofia da
educação – seriam as ideias educacionais entendidas em sua máxima generalidade,
representada pela concepção cristã do mundo, do homem, e da formação humana; a teoria da
educação - enquanto organização dos meios abrangendo tanto os recursos materiais como os
procedimentos do ensino, envolvendo a inculcação (ação de demonstrar, procurar enganar) na
população colonial, das tradições e costumes do colonizador; e a prática pedagógica - que é a
realização efetiva do processo ensino-aprendizagem. Para atingir sua finalidade pedagógico-
catequética, os primeiros jesuítas lançaram mão da estratégia de agir sobre as crianças para
atrair os “gentios” (não cristões, pagãos). Desse modo iniciaram essa estratégia de mandar vir
de Lisboa meninos órfãos com os quais foram fundados os “Colégios dos Meninos de Jesus
da Bahia e de São Vicente”, o objetivo era a instrução desses meninos juntamente com as
crianças indígenas, chamadas curumins, entre elas os filhos dos caciques, para exercer
influência sobre seus pais, atraindo-os para a fé católica e para sua inserção nas tradições e
nos costumes portugueses.
Padre José de Anchieta ingressou na Companhia de Jesus em 1553, chegando ao
Brasil em missão jesuíta. Foi um grande poeta, historiador e teatrólogo. Ajudou a fundar a
cidade de São Paulo e do Rio de Janeiro. Anchieta se destacou pela criação de métodos e
procedimentos voltados para o plano de instrução elaborado por Nóbrega. E logo veio a
dominar a “língua geral” falada pelos índios do Brasil, o idioma tupi. A partir daí escreveu a
primeira gramática para dela servir no trabalho pedagógico realizado no Brasil. Ele utilizou e
produziu poesias e teatros como recurso pedagógico para facilitar no processo de educação
dos índios naquela época, que eram educados para viver como cristãos. Essa educação
significava uma imposição forçada de outra cultura, a cristã. Por isso, utilizava em seus autos
figuras mitológicas dos índios às representações cristãs, criando um imaginário estranho a
visão indígena, com o intuito de convencê-los a abandonar suas práticas presentes nas
cerimônias tupi e a seguir e obedecer a religião católica.
Diante disso, podemos dizer que as principais características das obras de José de
Anchieta são: função utilitária, teocentrismo, lirismo, caráter evangelizador, dramaticidade e
desvalorização da cultura indígena. Portanto, a teoria da educação presente no primeiro século
da colonização brasileira foi marcada pela prática educativa ensinada pelos jesuítas, em que a
filosofia da educação católica se alinhava as particularidades da nova colônia. Sendo praticada
pela “pedagogia brasílica” criada por Nóbrega.
Essa pedagogia encontrou oposição na própria ordem jesuítica, e através dos estudos
organizados pela Companhia de Jesus foi consolidada a segunda versão “Ratio Studiorum”
que em português significa Plano e organização de estudos da Companhia de Jesus, publicada
em 1599. O plano foi constituído por 467 regras destinadas as atividades de todos os agentes
de ensino, com o objetivo de auxiliar o trabalho pedagógico. Determinando as normas de
conduta dos professores e alunos, em relação a formação moral, literária, filosófica e
teológica, podendo ser considerado um código de leis. No Ratio o plano era de caráter
universalista (adotado por todos os jesuítas em qualquer lugar) e elitista (destinado aos filhos
dos colonos para formação da elite colonial). Excluía as etapas de estudos elaborados por
Nóbrega e tomou dois rumos: educar os colonizadores e catequizar os índios, tornando-os
mais dóceis e mão de obra barata.
A base principal no trabalho de sistematização desse plano foi dada pela corrente do
tomismo, executado por Tomás de Aquino, estudioso de Aristóteles, filósofo e teólogo
medieval. Corrente esse que consiste numa articulação entre a filosofia de Aristóteles e a
tradição cristã. E o tomismo tem algumas regras presentes na Ratio, como a regra de número
2 do professor de filosofia que, “em questões de alguma importância não se afaste de
Aristóteles”. E a regra de número 6 recomendava falar sempre com respeito de Santo Tomás.
A regra de número 30 do prefeito dos estudos recomendava que se coloque nas mãos dos
estudantes a Summa Theologica de Santo Tomás, para os teólogos, e Aristóteles para os
filósofos.
E foi entre 1750 e 1777, que Sebastião José de Carvalho, o marquês de pombal,
estabeleceu uma série de reformas modernas com o objetivo de melhorar a administração do
império português e aumentar as rendas obtidas através da exploração colonial, mas essas
reformas, inspiradas no “Iluminismo lusitano” também conhecida como “Reformas
Pombalinas”, só começaram a ser implantadas a partir de 1759. Cuja sistematização
pedagógica foi das aulas régias, com disciplinas avulsas, de forma que uma não dependia da
outra, que veio para substituir o ensino jesuítico. Temos então, a influência da pedagogia do
humanismo racionalista, onde a ciência ganha um lugar de destaque,
Essas reformas surgiram no momento quando a intervenção política de pombal
apresentava vários problemas econômicos por isso, Marquês estava sempre em busca de como
solucionar esses problemas. Até então, grande parte dos professores de primeiras letras,
principalmente no meio rural, adotavam o ensino individual.
Após 1808, quando o Brasil passa a ser sede da Coroa Portuguesa, deu-se início a
divulgação do método de ensino mútuo, também conhecido como lancasteriano, em que a
responsabilidade era dividida entre o professor e os monitores (que são aqueles alunos mais
bem capacitados que já foram antes instruídos pelo professor sobre os conteúdos), visando
uma democratização das funções de ensinar. É basicamente um método de ensino, no qual os
próprios alunos, se ensinam. Que foi proposto e difundido pelos ingleses Andrew Bell e
Joseph Lancaster, diante a necessidade de ensinar uma maior quantidade de alunos
gratuitamente.
Assim, a principal vantagem destacada do método é de ordem econômica, por permitir
que um professor ensine, em pouco tempo, grande número de alunos. Mas esse método de
ensino só veio se tornar oficial em 15 de outubro de 1827, com a aprovação da lei das Escolas
de Primeiras Letras.
Surge então a substituição do método de ensino mútuo pelo o método intuitivo ou
lições de coisas. Esse método de ensino tinha o intuito de resolver o problema de ineficiência
do ensino. E queria adequar o ensino a mudanças que estavam sendo feitas após a Revolução
Industrial. Muitos materiais como quadro negros, parentais, mapas, caixas de ensino, foram
introduzidos nas escolas para adoção desse método. Abilio César Borges o Barão de
Macahubas fez parte do movimento, ele introduziu também nas escolas aparelhos escolares
que importou da Europa e outros inventados por ele mesmo. O método intuitivo era
entendido como uma orientação do professor para a condução dos alunos em sala de aula.
Para ressaltar essa preparação do professor o livro por exemplo, vai adquirir outro papel
pedagógico nesse contexto. Ao invés de ser utilizado pelos alunos como material didático ele
era utilizado pelo professor como manual.
O mais famoso desses manuais foi denominado primeiras lições de coisas, escrito por
Norman Allison Calkins e traduzido por Rui Barbosa e publicado em 1886 no Brasil. De
acordo com método intuitivo o ensino deve partir de uma percepção sensível. O princípio da
intuição exige o oferecimento de dados sensíveis à observação e à percepção do aluno.
Desenvolve-se, então todos os processos de ilustração com objetos, animais ou suas figuras.
Essa pedagogia do método intuitivo foi referência durante a Primeira República em todo
Brasil, sendo que na década de 1920, ela se fez presente também no movimento da Escola
Nova, que teve como metas eliminar o ensino tradicional, buscando princípios da ação,
solidariedade e cooperação social, em que daria as bases para a superação das desigualdades
sociais.

Referência

SAVIANI, Dermeval. A pedagogia no Brasil: história e teoria/Dermeval saviani. - 3.ed. - Campinas,


SP: Editora Autores Associados, 2021.

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