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Breve História da

Educação
Brasileira

Roteiro didático da Unidade 1:


O longo passado jesuítico e a
herança católica na educação
brasileira (1549-1759)

Profa. Marisa Bittar

2021
Roteiro didático da Unidade 1:
O longo passado jesuítico e a herança católica na educação brasileira (1549-
1759)

1. Introdução.
O início da colonização portuguesa no Brasil e a escolha da Companhia de Jesus para
catequizar a população indígena.
Na Europa, a cristandade estava dividida desde as iniciativas de Martim Lutero por reformas
na Igreja (1517). Novas igrejas cristãs surgiram na Europa e se apartaram do poder papal
(Roma). Uma nova ordem religiosa foi formada nesse contexto de disputas e guerras
religiosas: A Companhia de Jesus (1540). Ela teve uma característica nova: não ficar apenas
nas sacristias, mas sair pelo mundo catequizando. Por sua fidelidade ao papado (Igreja
Católica Apostólica Romana), foi escolhida pelo governo português para a missão no Brasil.

2. O encontro entre dois mundos.


Importante ler a Carta de Pero Vaz de Caminha (22 de abril de 1500) para uma compreensão
antropológica sobre o impacto desse primeiro encontro entre os brancos e os indígenas. A
colonização começa em 1530. Os padres jesuítas começam a chegar em 1549.

3. Duas concepções de educação influenciavam o mundo na época.


Reformadores (protestantes): defendiam a alfabetização de todos e a escola primária, além
da co-educação. Pressionaram os Estados a criar os sistemas nacionais de educação. A
defesa da escola para todos tinha relação com a necessidade de que cada cristão lesse a
Bíblia e a interpretasse por si próprio.
Católicos: permaneceram defendendo a prerrogativa da Igreja na educação, deram ênfase à
educação das elites e formação de quadros (padres para a Igreja).
Observação: tanto um lado quanto o outro atuou na educação e criou colégios em todo o
mundo, contribuindo, assim, para a expansão destes. Mas, ao mesmo tempo, isso mostra
que ainda era grande a presença das Igrejas cristãs na educação.
4. Primeiras iniciativas no Brasil.
 Desde 1549, o primeiro mestre-escola (Vicente Rijo) e as primeiras escolas, chamadas
simplesmente “casas”; “casas de ler e escrever”.
 Tentativa de alfabetizar o indígena adulto e, em seguida, os jesuítas perceberam que
a catequese daria mais resultados com as crianças (curumins).
 O papel da criança: a chegada dos órfãos de Lisboa. Crianças que se tornaram
bilíngues e auxiliaram na tradução e aproximação das crianças indígenas à catequese.
Doutrinadas pelos jesuítas, elas transmitiam os valores da cultura ocidental cristã a
seus pais.
 O papel da música religiosa católica, cantada pelas crianças, também foi importante.
 A pluralidade linguística do primeiro século: tupi, nheengatu (língua geral),
português; latim (deveria ser empregado na educação e nas missas).
 Os jesuítas eram obrigados a aprender “a língua da terra”, mas negligenciavam. Essa
era uma determinação do fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola.

5. O Ratio Studiorum (1599): Plano e Organização de Estudos da Companhia


de Jesus.
 Foi elaborado enquanto os primeiros jesuítas já estavam no Brasil. Continha quase
500 regras disciplinando todo o sistema jesuítico de escolas ao redor do mundo.
 Contudo, os jesuítas, ao começarem a catequizar, encontraram dificuldades e
passaram a transgredir os dogmas e determinações de Roma e da Companhia de
Jesus.
 A força do meio foi mais forte que os dogmas. Os jesuítas tiveram de se adaptar ao
meio em que estavam.
 Transgressões mais frequentes: 1. uso do teatro popular, que estava proibido aos
cristãos na Europa. Anchieta escreveu peças simples de um único ato, sempre com
mensagem moral e cristã com finalidade de catequese e como recurso didático, o
que ajudou também na difusão do idioma português; 2. Uso de intérpretes nas
confissões, pois os padres alegavam não entender “a língua do bárbaro”; 3. Não uso
do latim.
 O método pedagógico previa disciplina rígida, emulação (competição, disputa) e
memorização (imitar os escritores clássicos). A sala de aula dos jesuítas era conhecida
como “sala de exercícios”.
 A importância dos colégios: passaram a ser mais privilegiados que a catequese. Os
jesuítas criaram colégios em todo o Brasil (costa, litoral); eles formavam os filhos dos
colonos portugueses e também padres para a Companhia. Os mais abastados
prosseguiam estudos em Portugal.
 Ensino de humanidades e também de ofícios mecânicos (para prover os próprios
colégios e todas as necessidades dos jesuítas).

6. A educação jesuítica e o que estava ocorrendo na Europa: a modernidade.


Expansão de colégios tanto deles próprios, jesuítas, quanto dos reformadores. Os colégios
passaram a ser a principal instituição na qual crianças e adolescentes passaram a frequentar.
No século XVII, começa a haver distinção e agrupamento das crianças por idade; os colégios
passaram a separá-las por idade. Os colégios também foram entendidos como lugares
apropriados nos quais as crianças se educariam e ficariam protegidas da “promiscuidade do
mundo dos adultos”.
Expansão dos colégios jesuíticos no mundo:
 1556: 29 colégios
 1750: 578 colégios
Nascimento do sentimento de infância: a criança passa a ser vista como criança, isto é,
necessitando de proteção e cuidado. Igrejas e escolas difundiram esse sentimento. Passa a
ser rejeitada também a “promiscuidade” em que ela vivia com os adultos, coisa que era
entendida desde a Idade Média como natural.

7. A expulsão (1759).
Razões políticas: interferências em questões de poder, intrigas palacianas etc.
Questões de fronteiras: tornaram-se obstáculos em negociações entre Portugal e Espanha
pela posse de territórios no sul da América do Sul.
Defenderam os indígenas contra a escravidão dos colonos portugueses.
Seu método de ensino e concepção de educação foram considerados inadequados pelo
Marquês de Pombal – governante de Portugal - frente ao pensamento burguês que se
propagava na Europa (Iluminismo; Revolução Francesa).
A expulsão foi determinada pelo Marquês de Pombal enquanto o fechamento da Companhia
de Jesus foi determinado pelo Papa.
8. Um vazio?
O que ficou como legado dos 210 anos de hegemonia jesuítica no Brasil.

9. Bibliografia
BITTAR, Marisa; FERREIRA Jr., Amarilio. Adaptações e improvisações: a pedagogia jesuítica
nos primeiros tempos do Brasil Colonial. Teoria e Prática da Educação, Maringá, v. 20, n. 1,
p. 49-62, jan./abr. 2017. Disponível em: <https://doi.org/10.4025/tpe.v20i1.44754>. Acesso
em: 11 mar. 2021.

FERREIRA Jr., Amarilio; BITTAR, Marisa. A pedagogia da escravidão nos Sermões do Padre
Antonio Vieira. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 84, n. 206/207/208, p.
43-53, jan./dez. 2003. Disponível em: <https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.84i206-07-
08.888>. Acesso em: 11 mar. 2021.

FERREIRA Jr. Amarilio. História da educação brasileira: da Colônia ao século XX. São Carlos:
Editora EdUFSCar, 2010, 124 p.

SOUZA, Éverton A. Moreira de; BITTAR, Marisa. A ação educativa de protestantes e católicos
na Idade Moderna. In: Cultura escolar: histórias e memórias em diferentes espaços sociais.
1. ed. Goiânia: Espaço Acadêmico, 2019, v. 1, p. 25-43.

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