Você está na página 1de 10

P1

Planos de
desenvolvimento
CURSO INTRODUTÓRIO MONTESSORI 6-12 ANOS | PLANOS DE DESENVOLVIMENTO 1
1. Planos de Desenvolvimento

Maria Montessori observou e identificou quatro fases do desenvolvimento, que


se revelam de grande importância em educação, ao explicarem o comportamento
humano em cada plano desenvolvimental:

 1º fase (0 aos 6 anos – A Independência Física),


 2ª fase (6 aos 12 – A Infância - A independência Intelectual),
 3ª fase (12 aos 18 anos – A adolescência / A independência Social)
 4ª fase (18 aos 24 anos – A maturidade – A Independência Moral).

Segundo Maria Montessori, as etapas a vermelho (cor que faz alusão às explosões
vulcânicas), indicam períodos de grandes transformações nos indivíduos, comparáveis
aos estados de metamorfose dos insetos. As etapas azuis representam períodos de
maior estabilidade. Estas fases podem entender-se como uma serie de renascimentos,
que iniciam aos zero meses, com o nascimento do embrião físico, para dar lugar ao
embrião espiritual na 1ª infância. Segue-se o embrião social, na infância e, aos doze
anos, o recém-nascido encontra-se com o Mundo.

1º Plano: do nascimento aos 6 anos | 1ª infância| A independência


física

Os primeiros anos de vida da criança, entre os 0 e os 6 anos, revelam-se


fundamentais naquilo que Maria Montessori (s/d) designa como a construção do

CURSO INTRODUTÓRIO MONTESSORI 6-12 ANOS | PLANOS DE DESENVOLVIMENTO 2


Homem. É na primeira etapa de desenvolvimento que se formarão a sua personalidade,
as suas capacidades básicas e o seu estilo de aprendizagem.
Para isso, a natureza dotou o ser humano de ferramentas inatas: a Mente
Absorvente e os Períodos Sensíveis, que atuam como leis do desenvolvimento Humano,
apresentando-se de forma universal, independentemente do contexto cultural,
económico ou do tempo histórico em que se situem os indivíduos e atravessam,
portanto, gerações.
Maria Montessori considerava que o Primeiro Plano de Desenvolvimento estava
dividido em duas sub-etapas:

 Dos 0 aos 3 anos, uma fase de grande construção e absorção;


 Dos 3 aos 6 anos, em que são afinadas e consolidadas as habilidades
adquiridas.

Antes de nascer o ser humano é considerado um embrião físico. É no ventre materno


que irá receber todos os nutrientes necessários para que se desenvolvam os seus
órgãos, aparelhos físicos e os seus sentidos. Para Maria Montessori, o recém-nascido é
um embrião espiritual, pois terá de desenvolver o movimento, a linguagem, o
pensamento, a personalidade, o ser único e irrepetível em que se tornará.
Do ponto de vista físico, ocorrem enormes transformações: o recém-nascido
nasce totalmente dependente e o seu desenvolvimento assenta em estruturas psíquicas
que antecedem o desenvolvimento dos mecanismos motores que lhe permitirão atingir
a independência física. A enorme tarefa do recém-nascido consiste em adaptar-se ao
seu meio ambiente, através da observação e da absorção.
É importante salientar a interdependência entre a vida psíquica (mneme), e o
desenvolvimento das estruturas motoras: por um lado, o desenvolvimento motor do ser
humano depende da vida psíquica, composta por predisposições inatas e por uma
energia latente mas, simultaneamente, o desenvolvimento psíquico óptimo dependerá
das oportunidades que o desenvolvimento motor e a maturação natural dos órgãos lhe
trarão para interagir com o seu meio.
Esta construção a partir do meio ambiente ocorre então, como um fenómeno
psíquico que precede à construção do homem consciente e ocorre no processo de
absorção do contexto e simultânea transformação interna, exclusiva da infância:
«E para isto vale-se de sua especial forma psíquica porque a forma
psíquica da criança é diferente da do adulto. Os adultos admiram o meio-
ambiente, podem recordá-lo, mas a criança absorve-o em si mesma. Ela não se
lembra das coisas que vê, mas estas coisas formam uma parte de sua psique;
encarna em si mesma as coisas que vê e ouve. Enquanto em nós, adultos, nada
muda, na criança ocorrem transformações; nós nos limitamos a recordar o meio-
ambiente enquanto a criança adapta-se a ele; esta forma especial de memória

CURSO INTRODUTÓRIO MONTESSORI 6-12 ANOS | PLANOS DE DESENVOLVIMENTO 3


vital que não recorda conscientemente, mas que absorve a imagem na própria
vida do indivíduo, foi chamada por Percy Nunn com um nome especial:
“Mneme”» (Montessori, s/d: 75)

A criança não possui, portanto, memória e em si o conhecimento acontece no


processo de autoconstrução inconsciente: serão as experiências e as impressões que
absorverá como uma esponja do ambiente que irão construir a sua mente: «a criança
ao contrário, sofre uma transformação: as impressões não só penetram na sua mente,
como a formam.» (Montessori, s/d:22). A construção da consciência, a construção do
Homem, acontece através desta Mente Absorvente, preparada para fazer seu tudo o
que a rodeia.
Maria Montessori também se referiu a este período como a infância alargada. A
criança nasce completamente indefesa, imóvel, tendo como única linguagem o choro e
tudo está por construir nos primeiros anos de vida. Por esse motivo, a qualidade das
experiências concretas, que lhe permitam o movimento coordenado e experiências
sensoriais com o contexto em que viva são fundamentais para o desenvolvimento:

«Se se considera que o homem não tem um pré-estabelecimento e que para a


criança a questão não é de despertar, mas é de criação psíquica, se compreenderá,
facilmente, o quanto é maior para o filho do homem o papel do ambiente.» (Montessori,
s/d:114)

A criança realiza nos primeiros anos de vida um trabalho incansável de


desenvolvimento e autoconstrução, não apenas adaptando-se ou adoptando as
características da sua espécie, mas criando um indivíduo irrepetível:

«Portanto, no caso do ser humano, não se trata de desenvolvimento, mas de criação,


que parte do zero. O passo maravilhoso dado pela criança é aquele que a conduz do
nada a algumas coisas, e é difícil para a nossa mente perceber esta maravilha.»
(Montessori, s/d: 34)
Entre os 3 e os 6 anos a Mente Absorvente inconsciente, que tudo absorvia do
mundo ao seu redor de uma forma sensorial, assume a forma Consciente, pois a criança
que já consegue interagir fisicamente com o contexto utiliza-o para aperfeiçoar as suas
aquisições e construir a inteligência através do trabalho da mão:

«Logo, existem duas tendências: a de desenvolver a consciência através da


atividade sobre o ambiente, e outra de aperfeiçoar e enriquecer as conquistas já
feitas. Elas indicam que o período que vai dos três aos seis anos é um período de
“aperfeiçoamento construtivo”. Ainda continua existindo o poder da mente de
absorver coisas do ambiente sem muito trabalho; porém, a absorção é ajudada
no sentido de' enriquecer as suas aquisições através de uma experiência ativa.

CURSO INTRODUTÓRIO MONTESSORI 6-12 ANOS | PLANOS DE DESENVOLVIMENTO 4


Não são mais apenas os sentidos, mas a mão que se transforma num “órgão de
captação” da inteligência. Enquanto a criança antes absorvia o mundo olhando
ao seu redor, sendo levada de cá para lá e observando cada coisa com vivo
interesse, agora mostra uma irresistível tendência para tocar em tudo e a se
deter junto aos objetos. Está sempre ocupada, feliz, sempre atarefada com as
suas mãos.» (Montessori, s/d: 187-188)
Na transição para o 2º Plano, algumas transformações físicas denunciarão a sua
proximidade: alterações na textura da pele, escurecimento do cabelo e mudança de
dentição são algumas delas.

2º Plano: dos 6 aos 12 anos | Infância | A independência intelectual

Entre os 6 e os 12 anos a criança começa a mostrar-se menos sensível à ordem e


mais impulsionada a relacionar-se com os seus pares, procurando alguma forma de
organização social nas suas atividades. Maria Montessori classificou esta fase como a do
embrião social. As crianças nesta etapa começam a apreciar pertencer a um grupo e a
colaborar para objetivos em comum.
Neste Plano de Desenvolvimento, a criança começa a desenvolver a mente
racional, estabelecendo relações, notando padrões e interessando-se pelos aspetos
culturais e sociais do Mundo, começando a distinguir o correto e o incorreto. É comum
que comece a manifestar as suas ideias de justo ou injusto.
A passagem à abstração e a intelectualização são também características desta
etapa, sendo a primeira estritamente ligada à sua recente capacidade de imaginação.
Estas, aliadas ao seu enorme interesse pelas diferentes culturas, pelo conhecimento do
mundo, por factos históricos e pelas grandes conquistas da Humanidade constituem
uma das chaves mais importantes na educação Montessori em primária, que procura
ampliar os materiais e conteúdos para alimentar este potencial de abstração. É,
portanto, uma passagem do plano sensorial, material e concreto, para o plano abstrato.
«Por volta dos sete anos, começa-se a fazer sentir a necessidade de abstração e
de intelectualização, enquanto que, até esta idade, a criança preocupava-se apenas em
estabelecer relações entre os objetos, isto é, em ordenar e absorver o mundo exterior
través dos sentidos. Produz-se, nesta idade, uma evolução para a esfera intelectual e
moral.» (Montessori, s/d: 11)
É considerada uma fase de estabilidade, em que as crianças não passam por
grandes transformações físicas e possuem muita energia e entusiasmo no sentimento
de pertença.
Uma outra característica das crianças nesta fase de desenvolvimento é não se
preocuparem com a sua imagem nem com a sua higiene.

CURSO INTRODUTÓRIO MONTESSORI 6-12 ANOS | PLANOS DE DESENVOLVIMENTO 5


3º Plano: dos 12 aos 18 anos | Adolescência| A independência social

A adolescência é um novo período de mudanças intensas, quer físicas como


emocionais:
«Na realidade, o período em que o corpo atinge a sua maturidade
fisiológica, é um período difícil: o organismo transforma-se, num
desenvolvimento e é de tal modo delicado que os médicos comparam esse
momento ao do nascimento e ao do rápido crescimento dos primeiros anos. (...)
Trata-se de uma época, contudo, ainda mais crítica, do ponto de vista
psicológico: é a idade das dúvidas e das hesitações; das emoções violentas, do
desalento; por vezes observa-se mesmo uma diminuição das capacidades
intelectuais. A dificuldade de concentração e de estudo não se deve à falta de
vontade: ela constitui uma das características psicológicas desta fase. »
(Montessori, s/d: 73)

Maria Montessori considerou a adolescência como um renascimento e o


adolescente como um recém-nascido social, que começa a pensar em qual é o seu
papel na sociedade e a desenvolver um conceito abstrato da humanidade. Também
começa a refletir em quem é enquanto indivíduo.
A adolescência é uma fase de muitas dúvidas existenciais, na qual o adolescente
procura compreender as dinâmicas da sociedade e procura responder às questões
que começou a interrogar na fase anterior: quem sou?; para onde vou?; o que posso
fazer para melhorar o mundo?. É, portanto, uma fase de emoções intensas e de um
sentimento de desconexão com muitos dos ambientes sociais onde se integra, sendo
a relação com os pares fundamental. Nesta fase, a expressão do altruísmo alterna
com a expressão da rebeldia, enquanto procura respostas para a sua existência.
O seu corpo sofre muitas transformações e passa também por uma fase
desproporcional, necessitam de períodos de sono mais longos e têm maior
dificuldade de concentração, sendo que alguma capacidade intelectual fica
diminuída.

«A adolescência é caracterizada por um estado de espírito de espera, por


uma predileção por trabalhos criativos, por uma necessidade de reforçar a
confiança em si próprio. O jovem desta idade torna-se de um momento para o
outro hipersensível em relação aos modos bruscos, às humilhações que até aí
tinha suportado com paciente indiferença. E as reações cheias de rebeldia e de
amargura que daí derivam dão, por vezes, origem a graves anomalias do
carácter enquanto é, precisamente nesta fase, durante este “período sensível”,
que se deveriam desenvolver os sentimentos de justiça e de dignidade pessoal,
ou seja, os caracteres mais nobres que têm de preparar o homem para que se
torne num ser social.» (Montessori, s/d: 73)

CURSO INTRODUTÓRIO MONTESSORI 6-12 ANOS | PLANOS DE DESENVOLVIMENTO 6


Maria Montessori (s/d) defendia uma total reformulação do ensino dos
adolescentes, focando a necessidade de o ensino secundário não se organizar apenas
em áreas científicas e académicas compartimentadas em disciplinas, mas também por
um contacto direto com as mais diversas esferas da vida social e pela possibilidade de
viver situações de sucesso através da experiência prática da sua independência, por
exemplo ganhando dinheiro com o seu próprio trabalho. Defendia assim um ensino que
estivesse em sintonia com o desenvolvimento interior que o adolescente sofre: «A
reforma essencial consiste, portanto, em pôr o adolescente na posição de adquirir a
independência económica. Trata-se de criar uma “escola experimental da vida social”.
(p.75)

4º Plano: dos18 aos 24 anos | A maturidade| A independência moral

A partir dos 18 anos, o jovem já reconhece as suas características pessoais,


qualidades, limitações e interesses. Entre os 18 e os 24 anos, o indivíduo já está
moralmente formado, reconhece as suas responsabilidades morais e pode eleger a sua
vocação. O autoconhecimento que se formou na adolescência permitir-lhe-á que se
dirija conscientemente à realização do seu papel para o funcionamento da sociedade,
equilibrando as suas necessidades pessoais com as necessidades sociais:
«O homem que chega à universidade deixou para trás a infância e
a adolescência: é um homem que já está formado, e uma grande parte do
seu destino social e do seu aproveitamento nos estudos depende do modo
como decorreu a sua formação.
Aquilo que nos interessa é a “finalidade do homem”. E tal finalidade
não pode reduzir-se ao armazenamento de noções para o exercício de uma
profissão. Os estudantes universitários são adultos que deverão exercer a
sua influência na civilização da sua época. (...) Quando tiverem passado os
exames e se vierem a encontrar frente às portas do mundo, vão ter
necessidade de uma séria preparação moral. » (Montessori, s/d: 99)
Maria Montessori defendia que o ensino universitário deveria preparar um
homem culturalmente consciente, isto é, que fora preparado de maneira ativa e através
de experiências concretas. O universitário que tinha aprendido a estudar, poderia
adquirir a cultura por si próprio e teria a consciência de que a iria adquirir ao longo da
vida. Sobretudo, teria consciência da sua tarefa cósmica.

Conclusão

Oferecer um ambiente educativo adequado e óptimo ao desenvolvimento


humano pressupõe o conhecimento das fases de desenvolvimento e das suas
necessidades inerentes.
Montessori defendeu que não basta reconhecer os planos de desenvolvimento,
mas que é necessário utilizar esse conhecimento para criar ambientes e contextos
CURSO INTRODUTÓRIO MONTESSORI 6-12 ANOS | PLANOS DE DESENVOLVIMENTO 7
educativos que respondam efetivamente às suas necessidades, organizando-se de
forma distinta para receber crianças e jovens que se encontrem nos mesmos planos
desenvolvimentais (comunidade infantil, casa das crianças, atelier 1 e 2, erdkinder e
universidade).
Considerando que o desenvolvimento humano não é linear e ocorre por etapas
diferentes, com progressos, retrocessos, altos e baixos e que no final de cada etapa há
um momento de equilíbrio e consolidação da anterior, organizar contextos educativos
favoráveis à etapa em questão e que tenham em conta as suas características
específicas, isto é, as leis ditadas pela natureza, será a melhor forma de ajudar ao
desenvolvimento do potencial do Ser Humano:
«Se a base da educação se torna na “formação do homem”, é
necessário coordenar entre si, todos os graus de estudo, desde a
infância até à idade adulta, desde o infantário à universidade, porque o
homem, apesar de atravessar várias fases interdependentes é, sempre,
um todo único (...) Portanto, se a educação não visa apenas a cultura
mas também o desenvolvimento do homem, torna-se indispensável e
essencial uma coordenação rigorosa de todos os períodos da vida.»
(Montessori s/d: 95)

Maria Montessori enfatizou a importância da educação nos primeiros anos de


vida, entre o nascimento e os 6 anos, pois é aqui que se dá a criação o homem através
da formação da inteligência:
«Mas agora, que os psicólogos entregaram-se ao estudo da própria vida, vem-se
formando uma tendência que, se pode dizer, é totalmente oposta; muitos declaram,
como eu, que a parte mais importante da vida não é aquela que corresponde aos
estudos universitários, mas sim ao primeiro período, que vai desde o nascimento até os
seis anos, pois é exatamente nesta fase que se forma a inteligência, o grande
instrumento do homem. E não apenas a inteligência, mas também o complexo das
faculdades psíquicas.» (Montessori, s/d: 33)
Montessori ilustrou a sua concepção dos Planos com a imagem do Bolbo, que faz
referência a primeira etapa como a base do desenvolvimento e às seguintes como de
equilíbrio e novamente, na adolescência, uma etapa crítica:

CURSO INTRODUTÓRIO MONTESSORI 6-12 ANOS | PLANOS DE DESENVOLVIMENTO 8


Bibliografia de referência:

Montessori, M. (s/d) Da Infância à Adolescência. Portugal, Queluz de Baixo.


Portugália Editora
Montessori, M. (s/d) Mente Absorvente. Brasil, Portugália Editora

CURSO INTRODUTÓRIO MONTESSORI 6-12 ANOS | PLANOS DE DESENVOLVIMENTO 9

Você também pode gostar