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Metodologia Montessori
Montessori criou seu método a partir da observação da criança, procurando sempre
seguir seu padrão de desenvolvimento e proporcionar um ambiente que pusesse ao seu
alcance os elementos necessários à sua autoconstrução. Pela observação da criança ela
percebeu que o seu desenvolvimento acontece através do esforço no trabalho livremente
escolhido. Assim, a metodologia Montessori parte do princípio filosófico de valorização do
trabalho, considera que é o trabalho, enquanto esforço na modificação e interpretação do
mundo, a via pela qual o indivíduo constrói sua personalidade.
Para favorecer a oportunidade desse trabalho, ela propõe a criação de um ambiente
preparado - ordenado e disposto de uma maneira tal que favoreça a autonomia do aluno,
em que ele tenha acesso aos objetos e instrumentos, de modo a facilitar ao máximo sua
tarefa de exploração e aprendizagem independente. Nesse ambiente o aluno encontra
atividades relativas a todas as facetas da vida para que possa, dentre elas, escolher
livremente a que o ajude a aperfeiçoar suas ferramentas naturais de aprendizagem e da
qual possa abstrair as informações específicas que está buscando no momento.
Além do mobiliário, que é todo projetado na escala da criança, são sete os elementos
básicos do ambiente Montessori:– 1. liberdade, 2. ordem e estrutura, 3. ligação com a
realidade e a natureza, 4. beleza, 5. materiais, 6. agrupamento, 7. professor. Todos esses
elementos estão a serviço da finalidade de apoiar a autoconstrução da criança.
1.Liberdade
O desenvolvimento é uma tarefa de autoconstrução. A tarefa da educação é apoiar a
mente da criança nesse trabalho de autoconstrução, é apenas uma tarefa de “ajuda à
vida” (em termos de Maria Montessori), pois o ambiente não é capaz de criar uma
característica, pode apenas favorecer seu desenvolvimento. Assim, para favorecer o
desenvolvimento, é essencial que o educador tenha a oportunidade de identificar as
características naturais da criança para poder apoiá-la e isso só ocorre em um ambiente
livre e aberto, pois só aí a criança se revela. Ela possui em si mesma o padrão para seu
desenvolvimento, precisa, então, ser deixada em liberdade para que sua intuição guie sua
evolução.
A tendência natural da criança é em direção à independência, ao desenvolvimento da
vontade e disciplina essenciais à liberdade. A capacidade de exercício da vontade, de
decisão e controle das próprias atitudes, se desenvolve desde a primeira infância, seja
através de situações físicas – que exijam domínio do corpo e tensão muscular – ou
situações sociais envolvendo aspectos afetivos - que exijam opções claras, objetivas e
rápidas. Todas as escolhas da criança devem ser respeitadas e observadas, pois
exprimem determinação e autocontrole. Apenas os atos destrutivos devem ser limitados.
A liberdade desfrutada pela criança no ambiente Montessori caracteriza-se pela
responsabilidade, assim ela tanto se concretiza na liberdade de escolha das atividades –
sendo importante que tenha variedade de exercícios para que a criança tenha
oportunidade de escolha -, como nos limites que a criança precisa respeitar - a
privacidade do outro, esperar a vez para usar o material e devolvê-lo ao lugar após o uso
em ordem para o próximo colega que queira utilizá-lo.
A atenção à liberdade da criança se estende ao cuidado com o tempo e a forma das
lições. A escolha das atividades depende de conhecimento sobre elas e, para estabelecer
esse conhecimento, a criança, muitas vezes, deve ter uma introdução a elas através de
uma lição individual dada pelo professor. No entanto, como essas lições interferem com a
liberdade da criança, elas devem ser breves, já que a aprendizagem vai ocorrer realmente
nas atividades subsequentes que serão escolhidas livremente pela criança.
Em função dessa liberdade, a rotina diária não é dividida em períodos determinados de
trabalho e recreio, de atividade física ou acadêmica, não há recompensas ou punições e
as crianças podem movimentar-se livremente pelo ambiente e trabalhar em associação
com algum colega ou individualmente de acordo com seu momento.
Essa liberdade faz com que a criança se conscientize das consequências de suas
escolhas, reconheça e torne-se capaz de antecipar o que a satisfaz e o que a desagrada
e aprenda quais são seus limites.
2. Ordem e estrutura
A ordem e a estrutura do ambiente, que a criança percebe como continuidade da ordem e
estrutura do universo, são essenciais para o seu trabalho de autoconstrução, pois são os
elementos que fundamentam a estruturação de sua mente e o estabelecimento do
sentimento básico de confiança. A constância do ambiente permite a criança conhecê-lo,
antecipar situações e, portanto, repetir ações prevendo consequências, o que leva às
ações intencionais.
No ambiente de sala de aula Montessori, esse princípio de ordem e estrutura significa que
a criança encontrará os materiais agrupados em função do interesse que despertam e
organizados em sequência de complexidade, sempre com todos os itens necessários
para a realização de uma atividade juntos e em perfeitas condições – nada quebrado ou
faltando peças. O espaço é usualmente dividido em áreas referentes à vida prática,
sensorial, matemática, linguagem e assuntos culturais e os materiais são dispostos em
prateleiras baixas e abertas que permitem o acesso independente da criança, de modo
que lhe seja garantida a escolha de com que ela quer trabalhar, a possibilidade de usar o
material por todo tempo que necessitar para atingir seus objetivos e de repô-lo no lugar
após o uso. Portanto, o ambiente é organizado de forma a que a criança possa completar
o ciclo de atividades.
A exigência de ordem e estrutura não significa que o ambiente deva ser estático, ao
contrário, assim como o universo, ele deve ser dinâmico, com mudanças harmoniosas, de
modo a ser sempre instigante e responsivo ao desenvolvimento da criança.
3. Ligação com a realidade e com a natureza
As ênfases na realidade e na natureza são importantes tanto por concretizar os limites
que a criança precisa respeitar como por concretizar a responsabilidade em relação ao
ambiente e ao outro. Assim, o fato de ter apenas um exemplar de cada material ensina a
criança a respeitar o trabalho do colega e esperar sua vez para usar o que quer; e o
cuidado que plantas e animais, que sempre devem fazer parte do ambiente, requerem
ensina a observar e procurar atender a necessidade dos outros seres, como exemplos.
4. Beleza
Segundo Maria Montessori a beleza e a harmonia são aspectos essenciais do ambiente
para despertar uma resposta positiva à vida. A beleza procurada se baseia em linhas
simples; os objetos devem ser de boa qualidade, sólidos e atraentes e as paredes e os
móveis de uma cor delicada para não entrar em choque com o colorido dos materiais, que
por sua vez são de cores básicas e não multicoloridos. Segundo a professora Talita de
Almeida: “É quase possível dizer que há uma relação matemática entre a beleza do
ambiente e a atividade da criança; ela fará descobertas ainda mais voluntariamente em
um ambiente gracioso do que em um feio.”
5. Materiais
Os materiais Montessori, que têm por objetivo proporcionar estímulos que captem a
atenção da criança para determinado aspecto da realidade, favorecendo a capacidade de
concentração e sistematização, atingem esse objetivo por possuírem cinco características
essenciais;
a) Os materiais são planejados variando apenas em um aspecto, ou seja, isolando
apenas uma qualidade, para, assim, servir de apoio à criança na construção do conceito
correspondente àquela qualidade. Por exemplo, a Torre Rosa que tem por objetivo o
desenvolvimento da percepção visual de diferenças de tamanho, é constituída de 10
cubos que variam de 1m3 a 10 m3,, enquanto mantêm constantes suas características de
cor e textura.
b) O material progride do simples para o complexo e do concreto para o abstrato. Os
materiais iniciais são conceitos concretizados e, gradualmente, tornam-se representações
cada vez mais abstratas, o que vale para o estudo do sistema decimal tanto quanto para a
análise morfológica. O primeiro material para análise morfológica, por exemplo, é a
fazendinha, depois são usadas as figuras representativas das classes gramaticais e, mais
adiante, as caixas gramaticais.
c) Os materiais são projetados com controle de erro, o que proporciona à criança a
possibilidade de independência, já que ela fica com o controle do processo de
aprendizagem. Inicialmente o controle do erro é mecânico - quando uma peça não
encaixa ou sobra, a criança percebe seu erro -, mais adiante o controle de erro depende
de observação da própria criança em relação ao resultado – numa organização
sequencial por tamanhos, por exemplo – e, finalmente, o controle de erro depende de
comparação de seus resultados com um modelo montado pelo professor para esse fim.
Ou seja, o controle de erro sempre está no controle da criança, depende de sua
capacidade de atenção e disposição para a repetição em busca da correção.
d) Os materiais sempre visam uma preparação para atividades posteriores. Por exemplo,
os pinos constantes em diversos materiais têm a finalidade de ir desenvolvendo na
criança a preensão necessária à escrita.
e) O material deve estar disposto ao livre acesso da criança, no entanto, existem regras
para sua utilização. O material deve ser tratado com respeito e manuseado de forma
adequada. A criança deve reunir todo material necessário para a atividade que quer
realizar e dispô-lo sobre um tapete ou mesa de forma organizada e, depois do uso,
retorná-lo ao lugar próprio deixando-o em ordem para a próxima criança que desejar usá-
lo.
O material deve satisfazer às necessidades internas da criança, o que significa que ele
precisa ser apresentado no momento certo do desenvolvimento. Embora existam idades
médias para o contato com cada material, a introdução deve ser determinada pela
observação da professora. A professora observa a qualidade da concentração da criança
e a repetição espontânea de suas ações com o material para perceber o significado
daquele material para ela naquele momento de desenvolvimento. Porque a combinação
do material com as necessidades da criança é essencial, não pode existir um roteiro fixo
de introdução dos materiais, o professor precisa ser flexível em alterar a sequência ou
omitir materiais que a criança mostre não precisar.
6. Agrupamento
A reunião das crianças em agrupamentos de idade variada é um aspecto essencial do
sistema Montessori de educação. As crianças são agrupadas considerando a teoria de
desenvolvimento de Maria Montessori baseada em ciclos de três anos e, geralmente,
permanecem com a mesma professora por três anos.
Os grupos multi-idades ampliam a aprendizagem, os mais jovens são estimulados pela
observação do trabalho dos mais velhos e os mais velhos reforçam e sistematizam melhor
suas aquisições ao partilhar com os mais jovens.
Ademais, como cada turma tem um núcleo que permanece por três anos, constrói-se uma
herança do grupo que é transferida para o ano seguinte. O aluno que está entrando
naquele agrupamento naquele ano já encontra um grupo com identidade, com hábitos de
cooperação, que aprendeu a assumir a responsabilidade por si mesmo e por cada um dos
outros e encontra nos mais velhos capacidade de liderança, amizades confiáveis e
aprendizagem, que os colegas da mesma idade nem sempre proporcionam.
O ambiente multi-idades proporciona melhores oportunidades de desenvolvimento social,
pois as crianças têm que aprender a conviver com outras de diferentes idades e
habilidades, respeitar o trabalho e o espaço de trabalho de cada um e tratar todos com
cortesia, desenvolvendo tolerância e apreciação pelas diferenças entre as pessoas. Eles
aprendem a desculpar-se, a saudar o outro e a expressar solicitações de forma polida.
Agrupamentos multi-idades significam mais opções de pequeno-grupo relativas a
habilidades e interesses. É dada, tanto quanto possível, liberdade às crianças para
resolverem suas relações sociais. Elas falam um com o outro e desenvolvem atividades
juntas sempre que desejam. No entanto, elas não são forçadas a juntar-se em nenhuma
atividade de grupo ou partilhar seus conhecimentos com outros quando não se sentem
prontas ou não estão interessadas. Mas, justamente porque não são forçadas, seu desejo
natural de ajudar os outros desenvolve-se espontaneamente. Maria Montessori considera
que essa é a verdadeira vida social, pois a criança escolhe os parceiros para determinada
atividade, negocia processos e metas e, como consequência, cumpre as regras que
colaborou para construir.
7. Professor – o adulto preparado , o guia Montessori.
Como já foi dito, a tarefa da educação é “uma ajuda à vida”, cabe, então, ao professor
observar cuidadosamente a criança para perceber o que ela realmente necessita em seu
trabalho de autoconstrução e preparar o ambiente para que seja ativamente responsivo a
esse ser em contínua mudança.
O adulto encarregado dessa missão precisa, além de ser pessoa muito perspicaz, ser
muito flexível, pois como o processo de aprendizagem se dá a partir da motivação da
própria criança, o adulto tem que estar disponível para segui-la na atividade escolhida e
no seu ritmo próprio.
Essa pessoa precisa ser uma “generalista” interessada na vida, curiosa sobre assuntos
variados, pois o currículo não exige uma sequência rígida, assim não é possível “preparar
aulas”, mas ao mesmo tempo o professor tem que estar genuinamente interessado para
buscar junto com a criança informações e detalhes fascinantes sobre cada assunto e ser
capaz de tecê-los de forma a formar um quadro abrangente, significativo e relacionado
com assuntos anteriormente vistos e com o cotidiano. No entanto, o guia não tem que
saber tudo antecipadamente, pois é importante estar consciente de que não é sua tarefa
encher o aluno com informações, mas, sim, ser um modelo de curiosidade científica e
amor ao estudo, alguém interessado em desenvolver seu próprio potencial.
Ficando com cada criança por três anos, o professor Montessori desenvolve uma relação
profunda com cada uma. Ele se torna, além de um especialista em desenvolvimento
infantil, um especialista naquela criança em si, conhece seu ritmo, sabe o que pode lhe
interessar, que aspectos vão favorecer o máximo desenvolvimento do seu potencial por
atenderem às suas áreas naturais de interesse. O professor sente-se orgulhoso de ser
capaz de entender e seguir a criança e evita assumir a liderança; ao contrário, consciente
de que a criança é um ser dotado de grande potencial, que quer ser independente, o
professor usa uma abordagem indireta para despertar seu interesse e é cuidadoso em
preservar sua tranquilidade, evitando interferir ou corrigir.
Bibliografia:
Lillard, Paula Polk. (1996). Montessori Today: A Comprehensive Approach to Education
from Birth to Adulthood. New York: Schocken Books.
Lillard, Paula Polk. (1972). Montessori: A Modern Approach. New York: Schocken Books.
Kahn, David. (1995). What is Montessori Preschool? Cleveland: North America Montessori
Teachers’ Association.
Kahn, David. (1995). What is Montessori Elementary? Cleveland: North America
Montessori Teachers’ Association.
Almeida, Talita de & Bazillo, Luiz Cavalieri. (1979). Educação Cósmica: A Criança de 6 a
12 Anos. Rio de Janeiro: Organização Brasileira de Atividades Pedagógicas.
Wolf, Aline D. (1996). Nurturing the Spirit in Non-Sectarian Classrooms. Hollidaisburg:
Parent Child Press.