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As bases do sistema Montessori .

Maria Elizabeth Gastal Fassa , Mestre em Educação com foco em


Aprendizagens integrativas em Montessori, Endicott College/The Institute for
Educational Studies, EUA

O Sistema Montessori de Educação ergue-se sobre o tripé


constituído por sua teoria psicológica do desenvolvimento de uma
parte, por sua filosofia de educação cósmica de outra parte e por
uma metodologia específica que, a partir dessas duas vertentes,
procura proporcionar o caminho educativo que melhor favoreça o pleno desenvolvimento
de cada indivíduo.

Teoria do desenvolvimento do Sistema Montessori de Educação


Maria Montessori foi das primeiras cientistas a perceber a existência da infância como
uma entidade em si, não como uma etapa de passagem em direção ao ser adulto, mas
como uma diferente forma de ser, “o outro polo da humanidade”, essencial para o todo da
vida humana.
A criança nasce como gênio em potencial e seu desenvolvimento é um trabalho de
autoconstrução. Ela é a construtora de si mesma, construtora do homem e, portanto, da
sociedade e a educação deve ser, simplesmente, uma ajuda à vida. Ajuda essa que
consiste na ação de proporcionar à criança a relação com um ambiente que estimule o
desdobramento desse potencial inato.
Maria Montessori explicava essa possibilidade de autoconstrução pelo fato de que, assim
como a criança é dotada, desde antes do nascimento, de um padrão fisiológico que leva a
célula fertilizada a formar todo seu organismo, ela possui também um padrão para o seu
desenvolvimento psíquico, que leva o “embrião espiritual” a formar a sua personalidade.
Esse embrião espiritual, potencial inato, evolui, através do próprio processo de
desenvolvimento, para transformar-se na personalidade do indivíduo e realiza-se de
forma tão mais plena quanto melhor forem atendidas as duas condições essenciais ao
seu desenvolvimento: relação com o ambiente - através da qual a criança percebe a si
mesma e o outro, os seus limites - e liberdade – para deixar-se guiar por seu embrião
espiritual, por seu padrão singular de desenvolvimento.
Desenvolvimento e aprendizagem são relacionados como duas faces de uma mesma
moeda. A criança é motivada a aprender por uma curiosidade natural e pelo desejo de
fazer parte do mundo. A curiosidade natural é o impulso da vida em direção à
autoconstrução e o desejo de fazer parte do mundo é o impulso da vida em direção à
construção da sociedade. Assim, a autoconstrução é sistêmica, visa a evolução da
espécie humana tanto quanto a realização pessoal. A existência do indivíduo depende
dessa busca de realização pessoal através da relação com o ambiente.
Apesar de dispor de um padrão de desenvolvimento psíquico pré-determinado, a criança
não herda modelos de comportamento estabelecidos, ela precisa desenvolver seus
próprios esquemas de funcionamento escolhendo de seu ambiente o que é mais
adequado ao seu padrão singular de desenvolvimento. O contato com o ambiente põe em
ação estruturas inatas, constituintes do embrião espiritual - a Mente Absorvente, os
Períodos Sensíveis e as Tendências do Homem -, que são a base e a ferramenta para a
construção das estruturas psíquicas posteriores.
A Mente Absorvente é uma característica específica da mente infantil que faz com que a
criança absorva o conhecimento diretamente do ambiente. Através de um funcionamento
pré-consciente “as impressões não entram na mente apenas, elas a formam, elas
encarnam-se na mente”, estabelecendo os conceitos primordiais acerca do mundo. Mais
adiante, novas experiências mobilizam a construção do conhecimento e, então, em um
processo consciente, a criança buscará o que está armazenado no inconsciente para
associar à experiência atual e reorganizar em nova configuração. Nesse processo, ao
mesmo tempo, a criança constrói a estrutura da mente – a rede de associações -, as
funções – identificação, comparação, memória, raciocínio –, o conhecimento de si mesma
e do mundo e todas as características que formam a personalidade humana, tanto as
características intelectuais quanto as características afetivas.
Períodos Sensíveis são momentos em que a criança está especialmente focada em
determinada característica do ambiente. É tarefa da educação favorecer a oportunidade
de desenvolvimento que os Períodos Sensíveis significam organizando um ambiente em
que a criança encontre o que ela necessita para satisfazer seu interesse e não pode
buscar por si mesma. Há Períodos Sensíveis na vida da criança relacionados com a
necessidade de ordem no ambiente, o uso da mão, o desenvolvimento da capacidade de
caminhar, a fascinação por determinados objetos ou temas, o interesse social etc.
Tendências Humanas são impulsos naturais que direcionaram a evolução da
humanidade enquanto espécie e que direcionam cada criança, sem planejamento racional
ou consciente, a realizar ações favoráveis ao bem-estar do indivíduo e a perpetuação da
espécie, ou seja, favoráveis a que ele cumpra sua função para o sistema, adaptado a seu
tempo, espaço e grupo. Essas tendências são:
1. Autopreservação - a primeira e mais importante tendência é responsável por que a
criança busque alimento e proteção do ponto de vista individual e pelos impulsos sexuais
do ponto de vista de preservação da espécie.
2. Gregarismo – a tendência à vida em grupo é essencial tanto para proteção e
procriação como para o desenvolvimento das características intelectuais e afetivas
humanas.
3. Comunicação – permite que o indivíduo se sinta parte do grupo pelo compartilhar
de vivências inicialmente e, logo adiante, de experiências e ideias.
4. Exploração – atividade que leva ao encontro daquilo que pode satisfazer sua
necessidade.
5. Classificação – diferenciar o que propicia conforto e o que propicia desconforto, o
que dá prazer e o que causa dor é a primeira forma de classificação.
6. Ordem – a classificação das experiências é que permite à criança colocá-las em
ordem em sua mente. Por outro lado , a criança necessita e aprecia o ambiente e a rotina
ordenados para orientar-se nele, para poder saber o que esperar.
7. Imaginação e criatividade - quando a criança desenvolveu a percepção da
realidade e a ordenação dessas percepções, ela fica com a mente liberada para imaginar
e criar a partir dessa realidade conhecida, torna-se capaz de selecionar e combinar
características das coisas em novas ideias e soluções criativas. Maria Montessori enfatiza
que o desenvolvimento da imaginação e da criatividade se relaciona ao desenvolvimento
da atenção – que chega a um nível de concentração que se aproxima da meditação -,
relaciona-se ao desenvolvimento da independência em relação à direção e julgamento
externo e relaciona-se, ainda, a abertura da mente ao ambiente com um espírito de
expectativa e admiração.
8. Trabalho – o trabalho da criança satisfaz sua necessidade fundamental de
autoconstrução, promove a integração de sua personalidade, por isso ela emprega nele a
lei do máximo esforço. O que lhe interessa não é o resultado final de sua ação, mas o
processo, sua ação em si, a perfeita coordenação de movimentos. Por isso, em
liberdade, a criança dedica-se e repete a atividade que escolhe até sentir que atingiu o
domínio, quando, então, mostra-se tranquila, integrada, harmoniosa. Devendo ser esse
estado de integração psíquica o estado normal da criança, Maria Montessori chamou esse
processo “normalização”.
9. Independência - o desenvolvimento é uma trajetória em direção a níveis de
independência cada vez maiores, escolhas mais livres de direção e aprovação externas e
em maior consonância com o guia interior, mais adequadas ao padrão específico de
desenvolvimento daquela criança, especialmente no que se refere à vontade e à
concentração.
10. Atenção – quando a criança é espontaneamente atraída por uma situação
particular, esse interesse envolve a personalidade inteira com grande intensidade.
Inicialmente é alguma coisa concreta que atrai a criança, mas sua concentração sobre
aquele determinado objeto a faz viver uma experiência de aquisição de conhecimento que
estabelece o conhecimento interno do “conhecer” e que faz surgir o prazer de conhecer, o
prazer de aprender, a curiosidade intelectual em relação a tudo que está no ambiente.
Essa curiosidade intelectual propicia a possibilidade de manter o foco de atenção,
renunciando a estímulos que a dispersariam, o que desenvolve o autocontrole.
11. Desenvolvimento da vontade - decorrente da contínua atividade em relação com o
ambiente. A criança precisa escolher uma atividade para realizar e, ao escolhê-la, não
apenas tem que abrir mão de todas as outras opções, como tem mesmo que inibir seus
impulsos de atender a estímulos dispersivos. Assim, os próprios limites naturalmente
impostos pelo ambiente promovem a capacidade de escolher e agir de acordo com a
escolha, o que é a base para o desenvolvimento da vontade.
A vontade da criança se desenvolve em três estágios. No primeiro estágio – repetição - a
criança repete uma atividade até sentir que tem domínio sobre ela. Essa liberdade de
repetição e busca de domínio em seu próprio ritmo, dá a criança senso de poder e
independência e a repetição não deve ser interrompida para não prejudicar sua
autoconfiança e capacidade de perseverar em uma tarefa.
No segundo estágio a criança torna-se capaz de autodisciplina. A autodisciplina condensa
energia e proporciona autoconhecimento e poder sobre si própria, portanto, torna a
pessoa mais livre. A autodisciplina é complementada pela aceitação da responsabilidade
pelas próprias ações e dos limites da realidade, o que libera o próprio potencial para uso
criativo.
No terceiro estágio, a criança desenvolve o poder de obedecer. Maria Montessori
considera vontade e obediência como estágios de um mesmo processo, pois a vontade é
parte da força vital, dela depende a sobrevivência do indivíduo e a obediência é seu
estágio mais avançado porque é obediência às forças da vida das quais depende a
existência da sociedade.
12. Desenvolvimento da inteligência – Maria Montessori define inteligência como “a
soma daquelas atividades reflexas e associativas ou reprodutivas que habilitam a mente a
construir-se, pondo-a em relação com o ambiente”. O desenvolvimento da inteligência
inicia pela percepção do ambiente, pela constatação das diferenças e similitudes. Depois
a criança precisa organizar essas percepções na mente em uma rede de agrupamentos
relacionados. Essa organização permite a rapidez e a ordenação das respostas e a
abertura da rede para expansão e complexidade crescentes.
13. Desenvolvimento da vida emocional e espiritual – que compreende a capacidade
de amar e o senso moral. A capacidade de amar e responder ao outro, assim como o
senso moral, faz parte do potencial inato da criança que vai desdobrá-lo, como faz com
todas as outras características, através dos estágios de absorção, imitação, resposta e,
finalmente, criação. A capacidade de amar responde à necessidade individual de amor e
o senso moral, que em seu estágio mais desenvolvido é a ética da solidariedade cósmica,
responde a necessidades sistêmicas da humanidade e do universo. O desenvolvimento
moral depende de um ambiente com limites claros, básicos e universais entre o bem e o
mal. Segundo Montessori: “Bem é vida, mal é morte; a distinção é tão clara como essas
palavras.”
A descrição do funcionamento da Mente Absorvente explica a característica específica da
mente infantil e o processo através do qual ela atinge seu conhecimento. Os Períodos
Sensíveis descrevem o padrão que a criança segue na aquisição de conhecimento do seu
ambiente. As Tendências Humanas indicam a motivação da aprendizagem, da
autoconstrução.

Os quatro planos do desenvolvimento:


Maria Montessori considerou que a evolução do indivíduo se divide em quatro planos
de desenvolvimento, cada um subdividido em dois períodos:
 De zero a seis anos: O período da Mente Absorvente
• Do nascimento aos três anos - é o auge do funcionamento da mente absorvente. A
criança absorve conhecimento do ambiente inconscientemente e, com isso, forma a
estrutura interna da sua mente e estabelece os conceitos básicos, pré-conscientes, que
constituem sua personalidade, aspectos afetivos e intelectuais.
• Dos três aos seis anos - o processo da criança de construção do conhecimento torna-
se consciente e é ainda muito ligado ao concreto, ao que ela absorve pelos sentidos. Ela
vai buscar o que foi armazenado pela mente absorvente na fase anterior para relacionar
com a vivência atual, constituindo-a em uma nova experiência, uma experiência-chave,
que atualiza e “intelectualiza” o conceito em foco. Com esses conceitos a criança
estrutura seu modelo interno de realidade, inclusive os limites dessa realidade e, portanto,
as bases da autodisciplina e da vontade – inclusive da possibilidade de obediência.
 De seis a doze anos: O período da mente que raciocina, imagina e abstrai
• Dos seis aos nove anos - a criança aprende a usar seus instrumentos de inteligência e
aprendizagem. Sua capacidade de abstração, permite-lhe desenvolver um raciocínio sem
a necessidade da realização concreta da experiência para concluir. A criança insere-se na
cultura de seu grupo social e desenvolve todas as habilidades básicas que a capacitam a
participar da produção do grupo.
• Dos nove aos doze anos - a criança aprendeu a usar as “ferramentas de pensar” na
fase anterior, isso oportuniza que desperte para um interesse intelectual por coisas mais
distantes de sua vida imediata, seus padrões de pensamento são bastante abstratos.
Aprende de forma plenamente consciente e racional e tem curiosidade sobre o passado
distante e por como será a vida no futuro, tem curiosidade sobre o universo e sobre a
biologia. Tudo desperta o seu interesse e, se o ambiente for rico e estimulante, pondo a
seu alcance o que ela necessita para satisfazer seu interesse e não pode buscar por si
mesma e dando liberdade para que ela aprofunde e estenda sua investigação sem
interrupções, estruturar-se-á, nesse período, a mente de um estudioso.
 De doze a dezoito anos: O período da mente formal com preocupações éticas
e sociais.
• Dos doze aos quinze anos - é o tempo da puberdade e do questionamento quanto a
sua identidade e lugar no mundo, portanto, interesse em conhecer esse mundo social e
suas possibilidades de relação. É um período de grande vulnerabilidade emocional.
Montessori, comparando-o com o período de 0 a 3 anos em que a criança está se
estruturando, diz que agora a criança está construindo o adulto e que o adolescente é
“como um caranguejo sem casca...”
• Dos quinze aos dezoito anos - desenha-se uma área de concentração de interesse
que o adolescente desejará estudar com mais profundidade. Da exploração dessa área e
da possibilidade de pôr em prática, em um ambiente protegido, suas ideias e habilidades
surgirá a capacidade de formalização de suas ideias e a definição de seu interesse
profissional.
 De dezoito a vinte e quatro anos: o jovem adulto encaminha-se para a plena
maturidade, prepara-se para o exercício profissional, torna-se um “explorador
especializado”.
É um período de mais calma e estabilidade em que se integram as modificações que
ocorreram no período anterior.
• Dos dezoito aos vinte e um anos – o jovem percebe as necessidades contemporâneas
da sociedade e procura fazer uma escolha profissional que corresponda a essas
necessidades e, ao mesmo tempo, lhe traga satisfação pessoal.
• Dos vinte e um aos vinte e quatro anos – o jovem adulto torna-se parte da sociedade,
adaptando-se às suas exigências. Percebendo-se útil e capaz de produzir, encaminha-se
para a plena independência econômica.

Filosofia de Educação Cósmica


A filosofia de educação Montessori baseia-se na visão cósmica do universo - um sistema
ordenado, integrado e harmonioso – e na visão do homem como ser cósmico - parte
integrante e solidária desse universo.
A Educação Cósmica tem por objetivo tornar consciente a função cósmica do ser
humano. A função cósmica está relacionada com a espiritualidade humana, com as
características básicas que tornam o homem especificamente humano: a consciência e a
capacidade de transcender o próprio corpo e a individualidade para “ser com o outro”, ser
solidário - bom, amoroso, cuidadoso, cooperativo, pacífico.
A função da espécie humana é espiritualizar a matéria e, através dessa espiritualidade,
fazer evoluir o cosmos.
Espiritualizar a matéria significa compreender a ordenação e integração do sistema ao qual
pertencemos. Compreender que tudo que existe, de qualquer dos três reinos – mineral,
vegetal ou animal - faz parte do cosmos e tem grande valor, pois tem nele uma função a
cumprir que beneficia o todo e produz harmonia. Compreender que todas essas funções
são inter-relacionadas, de modo que cada evento afeta todos os seres, embora cada ser
tenha diferente função e perspectiva no cosmos.
De modo geral, os seres cumprem suas funções de modo inconsciente e sem escolha;
apenas os seres humanos, por serem capazes de pensamento reflexivo, podem exercer
sua função com consciência e escolha.
Maria Montessori, tendo vivido as duas grandes guerras, considerava que a humanidade
estava desviada de sua função de espiritualizar a matéria e fazer evoluir o cosmos, pois,
voltada para conquistas materiais, envolvia-se continuamente em competição, guerra e
destruição. Ela sabia que o antídoto para essa doença da civilização era o amor
transcendental, que aceita todo ser que existe tal como é, sem julgamento e sem
condições, transcendendo, assim, a matéria, espiritualizando-a. Essa capacidade de
aceitação inclui, também, as outras pessoas, proporcionando uma coexistência mais
harmoniosa.
Percebia, portanto, a necessidade de provocar uma mudança no ser humano nessa
direção. Ao mesmo tempo, sabia o quanto é difícil mudar o adulto de qualquer espécie,
com sua estrutura já definida pelas experiências vividas, e quanto é fácil provocar
mudanças ou proteger o desenvolvimento natural nos seres em estágio embrionário.
Assim, pensou que a criança humana, a quem atribuía o status de embrião espiritual,
poderia ser o elemento dessa transformação, se fosse cercada por um ambiente que lhe
proporcionasse adequadas experiências físicas, psicológicas, intelectuais e espirituais,
pois, então, se tornaria um adulto da espécie humana que cumpriria sua função na vida
pelo pleno desenvolvimento de seu potencial. Essa ideia é a base do Sistema de
Educação Montessori.
Maria Montessori dava grande valor à infância, considerava que o adulto dependia da
criança tanto quanto ela do adulto, pois essas duas formas diferentes de vida humana,
existindo no mesmo tempo, exercem e devem exercer, uma sobre a outra, recíproca
influência formativa. O adulto exerce sobre a criança uma influência conservadora;
através dele se presentifica e atualiza o passado, o saldo positivo da cultura humana. A
criança exerce sobre o adulto a influência renovadora; presentifica o futuro com suas
inúmeras possibilidades.
O poder do embrião espiritual como renovador da humanidade decorre de sua essência
humana criativa e de forças que o impulsionam ao cumprimento de sua função cósmica: a
Mente Absorvente que promove sua autoconstrução, ou seja, a espiritualização da matéria;
os Períodos Sensíveis, que promovem seu sentimento de integração a seu grupo e cultura,
e as Tendências do Homem, que lhe trazem o equilíbrio entre sua individualidade e
participação social e que o apoiam na função de fazer evoluir o cosmos.
O propósito fundamental do Sistema de Educação Montessori é melhorar o mundo, educar
para a paz, através da formação de um ser humano independente, adaptado ao seu
tempo/espaço/grupo, consciente de sua função e lugar no cosmos e que preencha essa
função pelo pleno desenvolvimento de seu potencial. O que MM afirma é que as pessoas
conscientes de sua função na vida e que a estão cumprindo, sentem-se satisfeitas, têm
autorrespeito, respeitam os outros e, consequentemente, são pacíficas, vivem em
harmonia. Essa realização pessoal, então, que serve ao indivíduo, serve também ao
sistema como um todo, ao cosmos, pois é a base para a paz do mundo.
Todo ser surge no mundo com a tendência de realizar plenamente seu potencial e com a
intuição de sua função na vida, portanto, também a criança. No entanto, as competências -
sejam de cumprimento da função cósmica, de usar a linguagem ou certos movimentos
especificamente humanos - não são geneticamente determinadas, elas dependem do
contato com o ambiente para passar do status de potencial ao status de função; o homem
se torna homem pelo contato com outros homens. Cabe a educação proporcionar à
criança o ambiente que promova seu pleno desenvolvimento e revele as competências
humanas para trazer ao mundo paz e harmonia.
A Educação Cósmica busca atender a criança em todos os seus aspectos físicos,
psicológicos, intelectuais e espirituais e promover o desenvolvimento de suas
competências para que ela seja capaz de satisfazer de forma independente as próprias
necessidades.
As necessidades físicas de ambiente limpo e cuidado e de contato humano cortês são
atendidas através do ambiente preparado e trabalhadas com a criança para que ela se
capacite para alcançar sua satisfação independentemente através das inúmeras atividades
da área de Vida Prática e dos exercícios que focam o desenvolvimento motor, o equilíbrio,
a precisão.
As necessidades psicológicas de segurança, amor e pertencimento são atendidas através
de respeito às escolhas e ao ritmo da criança e da não-interferência em seu trabalho. E a
capacidade de alcançar sua satisfação independentemente é favorecida por uma forma
de trabalho autônoma voltada para a autossatisfação e independente de motivação
externa – sem recompensas ou punições.
As necessidades intelectuais de desenvolvimento da inteligência, imaginação,
autoexpressão são atendidas pela oportunidade de realização de atividades referentes a
todas as áreas da vida. Ao mesmo tempo, como constrói os conceitos a partir do
concreto, com liberdade de escolha das atividades e em seu próprio ritmo, a criança
capacita-se a buscar de forma independente a satisfação dessas necessidades
intelectuais, a construção de suas respostas.
As necessidades espirituais de entender as relações existências através do confronto com
os interrogantes básicos da humanidade – quem sou?, de onde venho?, qual o sentido de
minha existência? - são atendidas proporcionando-se à criança, além de espaço
adequado para momentos de silêncio e encontro consigo mesma, nutrição espiritual
através de metáforas, histórias e atividades específicas. Essa valorização do
desenvolvimento espiritual capacita o indivíduo a compreender o significado da vida e a
comprometer-se com os valores de solidariedade essenciais para a construção desse
mundo de paz e harmonia.
A Educação Cósmica é uma educação para a paz. Estimula a paz ao cuidar do
desenvolvimento espiritual e ao estabelecer um currículo transdisciplinar com enfoque
histórico e multicultural. Esse currículo foca a evolução do universo e da cultura. Examina a
evolução do universo desde as primeiras partículas de matéria da qual tudo é feito,
passando pela formação dos átomos e elementos, passando pelos seres unicelulares, até
o pensamento reflexivo do homem; atentando–se, nesse estudo, aos diferentes níveis de
complexidade - do trabalho inconsciente e contribuição da matéria inanimada, ao trabalho
consciente e contribuição consciente do homo sapiens para o todo da vida. Na evolução
cultural focam-se as necessidades fundamentais do homem e as formas variadas que os
diversos povos encontraram para satisfazer essas necessidades em função da diversidade
ambiental em que vivem.
Através desse currículo transdisciplinar, a Educação Cósmica favorece a percepção do que
todo homem tem em comum - qual é a essência da humanidade -, a aceitação das
diferenças culturais e a percepção da inter-relação e interdependência de toda vida.

Metodologia Montessori
Montessori criou seu método a partir da observação da criança, procurando sempre
seguir seu padrão de desenvolvimento e proporcionar um ambiente que pusesse ao seu
alcance os elementos necessários à sua autoconstrução. Pela observação da criança ela
percebeu que o seu desenvolvimento acontece através do esforço no trabalho livremente
escolhido. Assim, a metodologia Montessori parte do princípio filosófico de valorização do
trabalho, considera que é o trabalho, enquanto esforço na modificação e interpretação do
mundo, a via pela qual o indivíduo constrói sua personalidade.
Para favorecer a oportunidade desse trabalho, ela propõe a criação de um ambiente
preparado - ordenado e disposto de uma maneira tal que favoreça a autonomia do aluno,
em que ele tenha acesso aos objetos e instrumentos, de modo a facilitar ao máximo sua
tarefa de exploração e aprendizagem independente. Nesse ambiente o aluno encontra
atividades relativas a todas as facetas da vida para que possa, dentre elas, escolher
livremente a que o ajude a aperfeiçoar suas ferramentas naturais de aprendizagem e da
qual possa abstrair as informações específicas que está buscando no momento.
Além do mobiliário, que é todo projetado na escala da criança, são sete os elementos
básicos do ambiente Montessori:– 1. liberdade, 2. ordem e estrutura, 3. ligação com a
realidade e a natureza, 4. beleza, 5. materiais, 6. agrupamento, 7. professor. Todos esses
elementos estão a serviço da finalidade de apoiar a autoconstrução da criança.
1.Liberdade
O desenvolvimento é uma tarefa de autoconstrução. A tarefa da educação é apoiar a
mente da criança nesse trabalho de autoconstrução, é apenas uma tarefa de “ajuda à
vida” (em termos de Maria Montessori), pois o ambiente não é capaz de criar uma
característica, pode apenas favorecer seu desenvolvimento. Assim, para favorecer o
desenvolvimento, é essencial que o educador tenha a oportunidade de identificar as
características naturais da criança para poder apoiá-la e isso só ocorre em um ambiente
livre e aberto, pois só aí a criança se revela. Ela possui em si mesma o padrão para seu
desenvolvimento, precisa, então, ser deixada em liberdade para que sua intuição guie sua
evolução.
A tendência natural da criança é em direção à independência, ao desenvolvimento da
vontade e disciplina essenciais à liberdade. A capacidade de exercício da vontade, de
decisão e controle das próprias atitudes, se desenvolve desde a primeira infância, seja
através de situações físicas – que exijam domínio do corpo e tensão muscular – ou
situações sociais envolvendo aspectos afetivos - que exijam opções claras, objetivas e
rápidas. Todas as escolhas da criança devem ser respeitadas e observadas, pois
exprimem determinação e autocontrole. Apenas os atos destrutivos devem ser limitados.
A liberdade desfrutada pela criança no ambiente Montessori caracteriza-se pela
responsabilidade, assim ela tanto se concretiza na liberdade de escolha das atividades –
sendo importante que tenha variedade de exercícios para que a criança tenha
oportunidade de escolha -, como nos limites que a criança precisa respeitar - a
privacidade do outro, esperar a vez para usar o material e devolvê-lo ao lugar após o uso
em ordem para o próximo colega que queira utilizá-lo.
A atenção à liberdade da criança se estende ao cuidado com o tempo e a forma das
lições. A escolha das atividades depende de conhecimento sobre elas e, para estabelecer
esse conhecimento, a criança, muitas vezes, deve ter uma introdução a elas através de
uma lição individual dada pelo professor. No entanto, como essas lições interferem com a
liberdade da criança, elas devem ser breves, já que a aprendizagem vai ocorrer realmente
nas atividades subsequentes que serão escolhidas livremente pela criança.
Em função dessa liberdade, a rotina diária não é dividida em períodos determinados de
trabalho e recreio, de atividade física ou acadêmica, não há recompensas ou punições e
as crianças podem movimentar-se livremente pelo ambiente e trabalhar em associação
com algum colega ou individualmente de acordo com seu momento.
Essa liberdade faz com que a criança se conscientize das consequências de suas
escolhas, reconheça e torne-se capaz de antecipar o que a satisfaz e o que a desagrada
e aprenda quais são seus limites.
2. Ordem e estrutura
A ordem e a estrutura do ambiente, que a criança percebe como continuidade da ordem e
estrutura do universo, são essenciais para o seu trabalho de autoconstrução, pois são os
elementos que fundamentam a estruturação de sua mente e o estabelecimento do
sentimento básico de confiança. A constância do ambiente permite a criança conhecê-lo,
antecipar situações e, portanto, repetir ações prevendo consequências, o que leva às
ações intencionais.
No ambiente de sala de aula Montessori, esse princípio de ordem e estrutura significa que
a criança encontrará os materiais agrupados em função do interesse que despertam e
organizados em sequência de complexidade, sempre com todos os itens necessários
para a realização de uma atividade juntos e em perfeitas condições – nada quebrado ou
faltando peças. O espaço é usualmente dividido em áreas referentes à vida prática,
sensorial, matemática, linguagem e assuntos culturais e os materiais são dispostos em
prateleiras baixas e abertas que permitem o acesso independente da criança, de modo
que lhe seja garantida a escolha de com que ela quer trabalhar, a possibilidade de usar o
material por todo tempo que necessitar para atingir seus objetivos e de repô-lo no lugar
após o uso. Portanto, o ambiente é organizado de forma a que a criança possa completar
o ciclo de atividades.
A exigência de ordem e estrutura não significa que o ambiente deva ser estático, ao
contrário, assim como o universo, ele deve ser dinâmico, com mudanças harmoniosas, de
modo a ser sempre instigante e responsivo ao desenvolvimento da criança.
3. Ligação com a realidade e com a natureza
As ênfases na realidade e na natureza são importantes tanto por concretizar os limites
que a criança precisa respeitar como por concretizar a responsabilidade em relação ao
ambiente e ao outro. Assim, o fato de ter apenas um exemplar de cada material ensina a
criança a respeitar o trabalho do colega e esperar sua vez para usar o que quer; e o
cuidado que plantas e animais, que sempre devem fazer parte do ambiente, requerem
ensina a observar e procurar atender a necessidade dos outros seres, como exemplos.
4. Beleza
Segundo Maria Montessori a beleza e a harmonia são aspectos essenciais do ambiente
para despertar uma resposta positiva à vida. A beleza procurada se baseia em linhas
simples; os objetos devem ser de boa qualidade, sólidos e atraentes e as paredes e os
móveis de uma cor delicada para não entrar em choque com o colorido dos materiais, que
por sua vez são de cores básicas e não multicoloridos. Segundo a professora Talita de
Almeida: “É quase possível dizer que há uma relação matemática entre a beleza do
ambiente e a atividade da criança; ela fará descobertas ainda mais voluntariamente em
um ambiente gracioso do que em um feio.”
5. Materiais
Os materiais Montessori, que têm por objetivo proporcionar estímulos que captem a
atenção da criança para determinado aspecto da realidade, favorecendo a capacidade de
concentração e sistematização, atingem esse objetivo por possuírem cinco características
essenciais;
a) Os materiais são planejados variando apenas em um aspecto, ou seja, isolando
apenas uma qualidade, para, assim, servir de apoio à criança na construção do conceito
correspondente àquela qualidade. Por exemplo, a Torre Rosa que tem por objetivo o
desenvolvimento da percepção visual de diferenças de tamanho, é constituída de 10
cubos que variam de 1m3 a 10 m3,, enquanto mantêm constantes suas características de
cor e textura.
b) O material progride do simples para o complexo e do concreto para o abstrato. Os
materiais iniciais são conceitos concretizados e, gradualmente, tornam-se representações
cada vez mais abstratas, o que vale para o estudo do sistema decimal tanto quanto para a
análise morfológica. O primeiro material para análise morfológica, por exemplo, é a
fazendinha, depois são usadas as figuras representativas das classes gramaticais e, mais
adiante, as caixas gramaticais.
c) Os materiais são projetados com controle de erro, o que proporciona à criança a
possibilidade de independência, já que ela fica com o controle do processo de
aprendizagem. Inicialmente o controle do erro é mecânico - quando uma peça não
encaixa ou sobra, a criança percebe seu erro -, mais adiante o controle de erro depende
de observação da própria criança em relação ao resultado – numa organização
sequencial por tamanhos, por exemplo – e, finalmente, o controle de erro depende de
comparação de seus resultados com um modelo montado pelo professor para esse fim.
Ou seja, o controle de erro sempre está no controle da criança, depende de sua
capacidade de atenção e disposição para a repetição em busca da correção.
d) Os materiais sempre visam uma preparação para atividades posteriores. Por exemplo,
os pinos constantes em diversos materiais têm a finalidade de ir desenvolvendo na
criança a preensão necessária à escrita.
e) O material deve estar disposto ao livre acesso da criança, no entanto, existem regras
para sua utilização. O material deve ser tratado com respeito e manuseado de forma
adequada. A criança deve reunir todo material necessário para a atividade que quer
realizar e dispô-lo sobre um tapete ou mesa de forma organizada e, depois do uso,
retorná-lo ao lugar próprio deixando-o em ordem para a próxima criança que desejar usá-
lo.
O material deve satisfazer às necessidades internas da criança, o que significa que ele
precisa ser apresentado no momento certo do desenvolvimento. Embora existam idades
médias para o contato com cada material, a introdução deve ser determinada pela
observação da professora. A professora observa a qualidade da concentração da criança
e a repetição espontânea de suas ações com o material para perceber o significado
daquele material para ela naquele momento de desenvolvimento. Porque a combinação
do material com as necessidades da criança é essencial, não pode existir um roteiro fixo
de introdução dos materiais, o professor precisa ser flexível em alterar a sequência ou
omitir materiais que a criança mostre não precisar.
6. Agrupamento
A reunião das crianças em agrupamentos de idade variada é um aspecto essencial do
sistema Montessori de educação. As crianças são agrupadas considerando a teoria de
desenvolvimento de Maria Montessori baseada em ciclos de três anos e, geralmente,
permanecem com a mesma professora por três anos.
Os grupos multi-idades ampliam a aprendizagem, os mais jovens são estimulados pela
observação do trabalho dos mais velhos e os mais velhos reforçam e sistematizam melhor
suas aquisições ao partilhar com os mais jovens.
Ademais, como cada turma tem um núcleo que permanece por três anos, constrói-se uma
herança do grupo que é transferida para o ano seguinte. O aluno que está entrando
naquele agrupamento naquele ano já encontra um grupo com identidade, com hábitos de
cooperação, que aprendeu a assumir a responsabilidade por si mesmo e por cada um dos
outros e encontra nos mais velhos capacidade de liderança, amizades confiáveis e
aprendizagem, que os colegas da mesma idade nem sempre proporcionam.
O ambiente multi-idades proporciona melhores oportunidades de desenvolvimento social,
pois as crianças têm que aprender a conviver com outras de diferentes idades e
habilidades, respeitar o trabalho e o espaço de trabalho de cada um e tratar todos com
cortesia, desenvolvendo tolerância e apreciação pelas diferenças entre as pessoas. Eles
aprendem a desculpar-se, a saudar o outro e a expressar solicitações de forma polida.
Agrupamentos multi-idades significam mais opções de pequeno-grupo relativas a
habilidades e interesses. É dada, tanto quanto possível, liberdade às crianças para
resolverem suas relações sociais. Elas falam um com o outro e desenvolvem atividades
juntas sempre que desejam. No entanto, elas não são forçadas a juntar-se em nenhuma
atividade de grupo ou partilhar seus conhecimentos com outros quando não se sentem
prontas ou não estão interessadas. Mas, justamente porque não são forçadas, seu desejo
natural de ajudar os outros desenvolve-se espontaneamente. Maria Montessori considera
que essa é a verdadeira vida social, pois a criança escolhe os parceiros para determinada
atividade, negocia processos e metas e, como consequência, cumpre as regras que
colaborou para construir.
7. Professor – o adulto preparado , o guia Montessori.
Como já foi dito, a tarefa da educação é “uma ajuda à vida”, cabe, então, ao professor
observar cuidadosamente a criança para perceber o que ela realmente necessita em seu
trabalho de autoconstrução e preparar o ambiente para que seja ativamente responsivo a
esse ser em contínua mudança.
O adulto encarregado dessa missão precisa, além de ser pessoa muito perspicaz, ser
muito flexível, pois como o processo de aprendizagem se dá a partir da motivação da
própria criança, o adulto tem que estar disponível para segui-la na atividade escolhida e
no seu ritmo próprio.
Essa pessoa precisa ser uma “generalista” interessada na vida, curiosa sobre assuntos
variados, pois o currículo não exige uma sequência rígida, assim não é possível “preparar
aulas”, mas ao mesmo tempo o professor tem que estar genuinamente interessado para
buscar junto com a criança informações e detalhes fascinantes sobre cada assunto e ser
capaz de tecê-los de forma a formar um quadro abrangente, significativo e relacionado
com assuntos anteriormente vistos e com o cotidiano. No entanto, o guia não tem que
saber tudo antecipadamente, pois é importante estar consciente de que não é sua tarefa
encher o aluno com informações, mas, sim, ser um modelo de curiosidade científica e
amor ao estudo, alguém interessado em desenvolver seu próprio potencial.
Ficando com cada criança por três anos, o professor Montessori desenvolve uma relação
profunda com cada uma. Ele se torna, além de um especialista em desenvolvimento
infantil, um especialista naquela criança em si, conhece seu ritmo, sabe o que pode lhe
interessar, que aspectos vão favorecer o máximo desenvolvimento do seu potencial por
atenderem às suas áreas naturais de interesse. O professor sente-se orgulhoso de ser
capaz de entender e seguir a criança e evita assumir a liderança; ao contrário, consciente
de que a criança é um ser dotado de grande potencial, que quer ser independente, o
professor usa uma abordagem indireta para despertar seu interesse e é cuidadoso em
preservar sua tranquilidade, evitando interferir ou corrigir.

Bibliografia:
Lillard, Paula Polk. (1996). Montessori Today: A Comprehensive Approach to Education
from Birth to Adulthood. New York: Schocken Books.
Lillard, Paula Polk. (1972). Montessori: A Modern Approach. New York: Schocken Books.
Kahn, David. (1995). What is Montessori Preschool? Cleveland: North America Montessori
Teachers’ Association.
Kahn, David. (1995). What is Montessori Elementary? Cleveland: North America
Montessori Teachers’ Association.
Almeida, Talita de & Bazillo, Luiz Cavalieri. (1979). Educação Cósmica: A Criança de 6 a
12 Anos. Rio de Janeiro: Organização Brasileira de Atividades Pedagógicas.
Wolf, Aline D. (1996). Nurturing the Spirit in Non-Sectarian Classrooms. Hollidaisburg:
Parent Child Press.

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