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SUMÁRIO

DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL ...................................... 3

DENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA PRIMEIRA INFÂNCIA ............................ 4

INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL ................................................... 16

ESTIMULAÇÃO PRECOCE ...................................................................................... 18

MODELO LÚDICO ..................................................................................................... 19

ATIVIDADE LÚDICA NO TRATAMENTO ............................................................. 21

ABORDAGEM DA INTEGRAÇÃO SENSORIAL.................................................... 23

ABORDAGEM DO TRATAMENTO DO NEURODESENVOLVIMENTO ............ 24

AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO NEUROMOTOR .................................. 26

ORIENTAÇÃO FAMILIAR ........................................................................................ 31

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 36
DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NORMAL

A criança, agora em ambiente extra-uterino, passará por um período crítico do


desenvolvimento do sistema nervoso central, representado pelos primeiros meses de
vida. Nesta fase continua a mielinização dos feixes nervosos, o bebê vai obtendo maior
especificidade motora e intelectual, momento em que ocorrem as aquisições motoras
necessárias para a independência nesse novo ambiente, o que pode ser chamado de
marcos do desenvolvimento. (ZANINI, 2002)
Para Lefévre (1980), ao se iniciar a vida do bebê, não se sabe o que ele está
pensando nem sentindo, mas somente percebemos o que ele faz.
Para o bebê se expressar ele utiliza habilidades motoras simples e reflexas.
Desde a vida intra-uterina o feto está impulsionado a se mexer.
Grande parte do desenvolvimento motor parece surgir da maturação, mas antes
que o recém-nascido possa desempenhar um comportamento específico, ele precisa
estar fisiologicamente capaz de exibi-lo e seu ambiente deve permitir sua expressão.
Após o amadurecimento do sistema central, dos músculos, dos ossos e da
prática, o bebê se torna mais apto em cada habilidade que desenvolve, até fazê-lo com
perfeição. O bebê adquire uma certa obsessão para cada atividade nova e a cada nova
atividade que adquire maestria, prepara-se para a seguinte, na sequência pré-ordenada
de habilidades motoras. Um bebê não pode desempenhar uma atividade sem ter
dominado os movimentos do estágio anterior. Esta sequência se mantém para todos os
bebês, sejam eles de termo, prematuros ou pós-maturos. As crianças progridem de uma
ordem definida de certas atividades para outras, primeiro executam os movimentos

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simples aos mais complexos.

DENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA PRIMEIRA INFÂNCIA

É de máxima importância que se possa conceituar adequadamente o processo


evolutivo infantil junto aos princípios que o sustentam, bem como ter uma visão geral
das áreas do desenvolvimento na primeira infância.
No desenvolvimento infantil ocorre o processo contínuo onde estruturas e
funções de natureza biológica são organizadas e reorganizadas, tanto psicológica quanto
socialmente, onde o indivíduo se empenha por uma busca, adaptação e integração com o
ambiente. (RAMOS, 1992)
Entre os princípios de desenvolvimento, considera-se de máxima importância os
seguintes: Integração, Diferenciação, Individualidade, Vulnerabilidade e
Fundamentação.
No princípio de Integração, o processo evolutivo parte de estruturas e funções
isoladas a fim de alcançar tanto a própria criança como em seu vínculo com o ambiente.
A diferenciação, por sua vez, é um processo evolutivo que inicia indiferenciado
e inespecífico até chegar ao particular, diferenciado e específico.
Variando em ritmo, o processo da Individualidade é típico em cada criança. Nas
diferenças individuais estão incluídas tanto a população normal e a que apresenta
limitações.
A vulnerabilidade consiste em períodos onde a criança se mostra mais
suscetível a riscos, para chegar então a um nível de vigor e resistência para com os
mesmos.
Os primeiros anos de vida, ou seja, A Fundamentação, constituem a base do
desenvolvimento e sustentam a evolução das fases posteriores da infância. (RAMOS,
1992)
A fim de categorizar as diferenças nas áreas de desenvolvimento, ou tem-se por
base as teorias de PIAGET e ERICKSON,
Áreas do desenvolvimento:
- Física
- Motora
- Cognitiva

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- Linguagem
- Emocional-social.

• ÁREA DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

O desenvolvimento cognitivo fundamenta-se no potencial que a criança traz


consigo, bem como as situações e objetivos presentes em seu meio ambiente. Tal
interação resulta em experiências – por meio do inter jogo dos processos da assimilação
e da acomodação.
O primeiro consiste na ação da criança sobre o meio, no sentido de incorporar
novos dados da experiência aos esquemas mentais existentes ou adquiridos
anteriormente, e o segundo, em função daquelas trocas com o meio, refere-se às
modificações nos próprios esquemas, adaptando-se a realidade externa. Neste
movimento surgem novos esquemas. O conjunto dos diversos esquemas desenvolvidos
formam, num momento dado, uma estrutura dita cognitiva.
O processo de construção do conhecimento se faz, portanto, através da interação
da criança com o meio, em uma dinâmica bidirecional. Para alcançar tal processo se faz
necessário que a criança, não só perceba e manipule os objetos, como também os
compare, estabeleça semelhanças e diferenças, ordene-os, encontre relações causais etc.
Mesmo assim, o progresso na construção de seu pensamento vai depender, em grande
parte, de que as experiências significativas lhe sejam facilitadoras pelas pessoas que a
rodeiam. (RAMOS, 1992)

• ETAPA SENSÓRIO-MOTORA

Estende-se do nascimento até aos 24 meses, esta fase começa com o exercício
dos reflexos e finda quando a criança adquire a representação mental das ações dos
objetos.
Caracteriza-se então, conforme RAMOS, pelo uso dos sentidos e dos
movimentos da criança sobre o ambiente, necessitando para isto a presença dos ditos
estímulos. E mediante a interação da criança com o meio que ela vai construindo,
progressivamente, os esquemas de ação básica, os quais no início são rudimentares e
isolados e passam gradualmente pelo processo de generalização, diferenciação e
coordenação. De fato, é como a repetição das ações sobre o objetivo que os esquemas

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vão se consolidando: e assim que, para reafirmar a sucção, a criança a realiza reiteradas
vezes nos vários objetos, e as vai diferenciando. Não sugará da mesma maneira aquilo
que alimenta, daquilo que não alimenta (diferenciação) e também aplicará o esquema a
novos objetos sujeitos a sucção ( generelização). Posteriormente irá relacionando a
sucção com apreensão (coordenação). Neste momento, o estimulo tende a ser percebido
na sua totalidade, como também as qualidades relacionadas com o mesmo. (RAMOS,
1992)
Assim, a medida que a criança constrói a ideia do objetivo como possuindo
certos atributos, descobre os objetivos como sendo diferentes de outros.
A mobilização do corpo que está adquirido permite novos avanços – a posição
de sentar facilita uma perspectiva diferente dos objetos e o deslocamento permite a
exploração do espaço que rodeia a criança.
A etapa sensório-motora evolui por uma sequência de estágios citados por
RAMOS:
- Exercícios dos Reflexos: este estágio vai do nascimento até cerca de um
mês de idade. Consiste na repetição dos reflexos chamados funcionais, que se
modificam a medida que são ativados e passam a se transformar em ação voluntária.
- Reações Circulares Secundárias: neste estágios que vai do quarto até
cerca do oitavo mês, a criança coordena dois ou mais esquemas adquiridos
anteriormente, para alcançar um determinado objetivo. Ao ver um estímulo atrativo
colocado após uma almofada, melhor dizendo, um obstáculo que se interpõe entre este e
a criança, esta para agarrá-lo, golpeará a almofada várias vezes com a finalidade de
afastá-la do caminho. Desta maneira, coordenará os esquemas de golpear e agarrar o
objeto, tendo como meta alcançá-lo. No estágio anterior, contudo, não apresentava este
comportamento: naquele momento, mesmo que tivesse golpeado uma almofada
esqueceria o objeto.
- Coordenação de Esquemas Secundários: neste estágio, que se prolonga
dos oito aos doze meses aproximadamente, a criança repete as ações, mas agora utiliza
estímulos do mundo exterior para sentir o efeito resultante de sua atuação sobre os
mesmos. Assim, atira repetidamente um brinquedo fora do “ chiqueirinho” e o faz pelos
resultados que possa obter desta atividade. Descobre a relação de causa e efeito por
acidente, apesar de que sua conduta tem agora um objetivo (coisa que não tinha antes)
estabelecendo por causalidade.

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- Reações Circulares Terciárias: estágio que se estende por um período que
vai dos doze aos dezoito meses, aproximadamente, e se caracteriza pelo fato de a
criança utilizar esquemas de assimilação conhecidos, mas coordenando meios e fins de
modo individual. Assim, ela atirará várias vezes o brinquedo fora do “chiqueiro”, mas
de maneiras diferentes. Não repetirá a ação exatamente igual à que realizou antes, mas a
modificará dando a impressão de que quer averiguar as propriedades do brinquedo.
(RAMOS, 1992)

• ÁREAS DO DESENVOLVIMENTO FÍSICO

Tal área implica em uma série de mudanças progressivas produzidas na


estrutura e funções do organismo infantil, mudanças tais que não progridem com a
mesma velocidade nos diferentes momentos da primeira infância. Assim, a criança nos
primeiros tempos, cresce rapidamente e depois passa por uma etapa na qual a
velocidade é mais lenta. E, além disso, esta variação no ritmo se observa de criança a
criança e esta sujeita a uma série de fatores que atuam no desenvolvimento referido,
como é o ambiente sócio-cultural do qual ela procede, o grupo étnico a que pertence é
especialmente o tipo de alimentação que se lhe proporciona e os cuidados pela sua
saúde. Tais diferenças se podem apreciar nas tabelas de peso e altura, e perímetro
braquial, já que as mesmas constituem um importante indicador do nível de nutrição e
sobretudo do crescimento físico. (RAMOS, 1992)
Pode-se observar no desenvolvimento físico e em outras áreas a forma com que
elas interdependem, mesmo quando se constatam variações entre as mesmas:
O estado de ânimo de uma criança é refletido pelas condições orgânicas e de
saúde em que se encontra. Pelo contrário, quando se manifesta contente e alegre, podem
desenvolver mais suas atividades físicas e motoras. Além disso, o processo no
desenvolvimento físico continua como nas outras áreas, seguindo os princípios do
desenvolvimento anteriormente descritos, principalmente o de direcionalidade: cefalo-
caudal (cabeça aos pés) e no próximo distal (do eixo do corpo as extremidades do
mesmo). (Ramos, 1992)
Para compreender melhor este desenvolvimento, destacamos as seguintes etapas:
- Primeira etapa: implica em um crescimento rápido que pode ser situado
desde o nascimento até os 12 meses de vida.
Este período é de grande transcendência no desenvolvimento infantil, já que

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constitui as bases de todo o crescimento posterior. Trata-se de uma etapa de grande
vulnerabilidade, já que a criança, no primeiro ano de vida, é muito sensível as doenças e
ocorrem mudanças rápidas e determinantes. O tamanho do corpo aumenta mais de um
terço daquele que a criança tinha ao nascer; o peso também se triplica, a cabeça e o
sistema neurológico, muscular e a estrutura óssea crescem de maneira considerável. Os
músculos grandes se desenvolvem com maior intensidade do que os finos (pequenos), o
que permite à criança adquirir gradualmente o controle do pescoço, tronco e pernas.
Tudo isso determina melhor agilidade dos movimentos corporais e a participação mais
ativa da criança no meio ambiente.
As funções do organismo, como as do sono e da alimentação evoluem
notavelmente neste período. É assim que as horas do sono vão diminuindo
gradualmente: o recém-nascido dorme oitenta por cento do seu tempo, e à medida que
vai crescendo permanece acordado durante períodos mais prolongados e assim
adquirindo sua própria rotina. Posteriormente, passa a dormir de dez a doze horas
durante a noite e faz algum período de cochilo durante o dia, mantendo-se acordado
muitas horas. Ao se prolongar a vigília, as respostas aos estímulos tornam-se mais
estáveis. Com relação à alimentação, esta começa sendo liquida nos primeiros meses e
vai se incorporando posteriormente comida sólida fez dentro de horário com lapsos
mais distanciados. Tudo o que permite estabelecer o ritmo nas ditas funções conhecidas
pelo relógio biológico. (RAMOS, 1992)
Desta forma, percebe-se como o primeiro ano de vida requer atenção especial,
visto que desenvolve cuidado com nutrição, higiene, saúde e vinculação afetiva e
estável por parte dos adultos para com a criança. Do contrário o ritmo do crescimento
pode se desacelerar.
- Segunda etapa: o crescimento é lento, indo do primeiro até o terceiro ano
de vida.
Esta etapa se caracteriza, como o próprio nome a define, por aquisições menores
do que as adquiridas no primeiro ano de vida. O crescimento na altura, peso e
circunferência da cabeça se faz cada vez mais lento. Apesar disso, a criança pode
alcançar aos três anos a metade da estatura de quando seja adulto, ganhando em altura
uns doze centímetros no segundo ano e uns sete no terceiro ano de vida. Quadruplica-se
aos dois anos a circunferência craniana; de uns trinta e cinco centímetros ao nascer,
alcança uns 50 centímetros aos dois anos e uns 51 aos três. Quer dizer, aos dois anos a
cabeça da criança alcança uns oitenta e sete por cento da circunferência da que terá

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quando for adulta.
É interessante assimilar que a criança nesta etapa o desenvolvimento de
determinadas funções dos órgãos e sistemas, como gênito-urinário e o digestivo. Estas
últimas com a presença da primeira dentição dão lugar a novos hábitos de alimentação.
As mudanças no aparelho urinário são de importância para os fins do controle dos
esfíncteres esperado para esta fase evolutiva da criança. A capacidade para sentir a
bexiga cheia e a de poder reter a urina por algum tempo, auxiliar a criança na aquisição
dos hábitos referidos.
A dentição primária (dente de leite) se completa ao redor dos dois anos e meio,
e está composta por vinte peças. Devido as variações normais na erupção dental, ela não
é um bom elemento de juízo para avaliar o desenvolvimento físico como é o progresso
em altura, peso e circunferência craniana. A formação e calcificação normal dos dentes
depende de uma dieta adequada em proteínas, cálcio, fósforo e vitaminas (
especialmente C e D), sendo mais resistentes as cáries quando há administração
adequada de flúor. As deficiências nutricionais, doenças prolongadas e certos
medicamentos, especialmente alguns antibióticos, podem interferir na calcificação dos
dentes primários e também dos permanentes. (RAMOS, 1992)

• ÁREAS DO DESENVOLVIMENTO MOTOR

Considera-se aqui a mobilidade da criança e a intencionalidade com que ela usa


seus movimentos:
A área motora é considerada de grande valia para o desenvolvimento integral da
criança, já que se prevê efetiva interdependência desta com as demais. Além disso,
pode-se afirmar que a motricidade evolui de acordo com certos princípios que reagem
também as outras áreas, especialmente o da direcionalidade, cefalo-caudal ( da cabeça
aos pés) e próximo ao distal. A primeira direção consiste no progresso do
desenvolvimento partindo do controle da cabeça, passando pelo tronco (sentar-se,
gatinhar) para chegar às pernas e pés (caminhar, correr, etc.); a segunda, no controle
sequencial dos braços, mãos e dedos. (RAMOS, 1992)

Desta forma, os ganhos podem ser previsíveis, em virtude das diferenças


individuais entre as crianças, especialmente quanto ao ritmo do seu processo evolutivo.
Dentro da primeira infância, alguns progressos destacam-se mais, conforme

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abordamos a seguir:
- Primeira etapa: o ritmo é acelerado, indo do nascimento até os dois anos
de idade.
Neste período, a criança desenvolve sua motricidade, partindo das
reações reflexas iniciais, ao mesmo tempo generalizando até chegar a movimentos
intencionais, mas controlados e um tanto específicos. Destas aquisições se destacam
aquelas de maior significação que aparecem nos momentos sucessivos do
desenvolvimento desta etapa.
Durante os primeiros quatro meses ela manifesta um progressivo controle do
corpo, quer dizer, primeiro mantém a cabeça firme chegando até a posição ereta, depois
passa para o controle do tronco para chegar, ao 4º meses, a sentar-se com apoio. As
pernas vão adquirindo maior fortalecimento: ao levantar a criança pelas axilas, ela pode
ficar em pé com certa segurança, numa superfície firme. Da mesma maneira, vai
começando a controlar os braços e mãos; ao mostrar-lhe um objetivo atrativo agita os
braços e as mãos na intenção de segurá-lo; depois apanhará, desde que colocado
próximo dela.
Posteriormente, do quarto ao oitavo mês aproximadamente, seus movimentos
vão tendo mais amplitude e precisão, o que lhe facilitará sentar-se com o auxilio de suas
mãos e ao debruçar-se poder arrastar-se intencionalmente. Ao final destes meses
consegue flexionar os braços e pernas para realizar o ato de gatinhar, e tentar ficar de pé
apoiando-se em móveis. Estes ganhos lhe auxiliam a explorar o ambiente que a rodeia.
Ao mesmo tempo, denota-se progresso no uso das mãos. A princípio as utiliza em
forma de concha e pouco a pouco vai diferenciando este movimento; começa a
empregar o dedo indicador para apontar e o polegar junto com o dedo médio estacados e
abertos, para dar passo ao movimento inicial de pinça, como forma de agarrar as coisas
com alguma precisão.
A partir do oitavo mês, espera-se que a criança se sente sozinha por tempo
indefinido, mantendo-se em equilíbrio estável quando se inclina para frente ou para os
lados; e também passe facilmente ao engatinhar quando quer se deslocar para alcançar
um estímulo que esteja distante dela.
Ao finalizar o primeiro ano, começa uma fase muito importante no seu
desenvolvimento motor, como a de manter-se em pé e tentar dar os primeiros passos,
utilizando-se de apoios, e também o de subir e descer escadas engatinhando. Aparece o
movimento de pinça mais especifico, o que permite agarrar com precisão as coisas ou

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brinquedos pequenos.
O período compreendido entre um e dois anos caracteriza-se pela aquisição do
andar primeiro com auxílio e mais tarde sozinha. No início, esses progressos não são
seguros, mas posteriormente, a criança vai conseguindo maior precisão, equilíbrio,
flexibilidade e coordenação nos movimentos de todo o corpo; pode correr facilmente
embora não tenha adquirido ainda habilidade para deter-se devidamente; agachar-se
dobrando a cintura; sobe e desce escadas, mas pondo ambos os pés em cada degrau e
utilizando o corrimão como apoio; dar ponta pé na bola e inclusive pode atirá-la em
uma cesta. Ao mesmo tempo, ganha grande precisão em seus dedos, é capaz de apertar
soltar e agarrar objetos pequenos, empregando coordenadamente as pontas dos dedos; é
capaz de apertar, soltar e agarrar objetos pequenos, empregando coordenadamente as
pontas dos dedos do indicador e do polegar. Estes avanços a ajudam a explorar mais
livremente o espaço que a rodeia e também os objetivos nele contidos.
Ao finalizar este período, a criança caminha, corre, sobe e empurra objetos
grandes pondo à prova seu equilíbrio corporal, seus movimentos grossos e se inicia o
uso dos membros de forma diferenciada. (RAMOS, 1992)
- Segunda etapa: Ritmo lento (2 a 3 anos de idade)
Os movimentos da criança evoluem para ajustes mais complicados. A criança
começa a desenvolver habilidades de maior coordenação. (RAMOS, 1992)

• ÁREA DA LINGUAGEM

Na primeira infância, esta área se caracteriza por um processo que resulta no


desenvolvimento das habilidades iniciais da comunicação – quer verbal, gestual ou
gráfica.
Partindo de um repertório associado aos estímulos concretos e imediatos, a área
referida atinge os primeiros níveis dos conceitos gerais, conforme expressos
independentemente destas realidades.
Os processos que a criança vai adquirindo estão na dependência das
experiências linguísticas que se apresentam em conformidade com as aquisições que vai
obtendo. No início, as mesmas estão conectadas com o momento em que as ações são
realizadas, mais tarde, com as situações passadas ou distantes ou ainda relacionadas
com o futuro imediato na vida da criança.
E necessário considerar que a linguagem desempenha duas funções importantes

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no processo evolutivo infantil: a de servir como instrumento de pensamento e como
meio de comunicação. Isto quer dizer que através da linguagem, a criança expressa o
que sente e pensa e também estabelece contato com o demais, desde que lhe sejam
oferecidos oportunidades de uma aprendizagem ativa que satisfaça suas necessidades de
compreensão, expressão e interrelação. (RAMOS, 1992)
- Primeira etapa: A Pré-linguagem
Tendo início no primeiro mês de vida e terminando no final do primeiro ano a
etapa da pré-linguagem é um período em que a
principal manifestação da criança é o choro. A
medida que o tempo passa, a mãe consegue
diferenciar as diferentes funções por que o bebe chora
e pode então atender bem o bebe ao passo que
estabelece com ele um vínculo de comunicação.
O processo da emissão de sons é similar ao choro: no princípio são espontâneos
e isolados, respondem a estados desagradáveis ou a necessidades insatisfeitas. Pouco a
pouco, a vinculação com os adultos que cuidam da criança, principalmente com a mãe,
leva-la perceber que através dos sons pode se comunicar. Desta forma vai aperfeiçoando
suas primeiras vocalizações, com base nas experiências de escutar e imitar os sons dos
demais, e mais tarde, vai experimentar o prazer de ouvir a si mesma. Assim é como se
realiza o processo da reação circular secundária, mediante o exercício na emissão e
repetição de sons, por causa do efeito que os mesmos causam, o que paulatinamente se
transformam em vocalizações. (RAMOS, 1992)
Assim a criança passa a fazer progressos (arrulhos, gorjeios e gargalhadas) e os
sons passam a construir uma grande variedade, incluindo até mesmo algumas
consoantes que por fim se transformam em balbucio e lalação.
Tais sons indicam que a criança está desenvolvendo seu repertório fonético,
passando posteriormente a se esforçar para imprimir um significado próprio tanto ao
que ouve como ao que expressa.
Ainda pode-se observar como neste período a criança consegue detectar sons e
tratar de localizá-los, desenvolver a retroalimentação auditiva, aprender que o som e
usado para se comunicar, aprender que os sons têm significação e iniciar o
desenvolvimento da linguagem oral.
- Segunda etapa: Primeira linguagem
Tem início ao redor do 10º, ao 15º, mês de idade, com o aparecimento das

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primeiras palavras com sentido próprio. São construídos inicialmente por uma só sílaba
duplicada (mama, papa, etc.) e, posteriormente, pela união de certas silabas diferentes,
cujo progresso dependerá da estimulação das pessoas de seu convívio: A criança
começa a associar as palavras que designam objetos e ações, dando origem as palavras-
frases caracterizadas pela união de dois substantivos associados (“água-nenê”
significando, “nenê quer água”, sentidos para a criança e se formam cada vez mais, a
medida que sua experiência aumenta em função do contato com as pessoas que lhe
falaram. (RAMOS, 1992)
Enfatiza-se ainda, que a linguagem com significados evolui gradualmente
dependendo dos progressos que a criança alcança na expressão verbal e no
desenvolvimento da representação mental dos objetos e ações: das palavras-frases, a
criança vai perfilando a organização de frases com seus componentes essenciais, como
também passa a adquirir um maior numero de termos, mais elaborados e melhor
pronunciados. A criança nestas fases iniciais, ainda tem dificuldade de usar artigos,
preposições, conjunções e mesmo de empregar adequadamente tempos dos verbos. Sua
pronúncia ainda não é correta. Neste processo é importante a estimulação coloquial das
pessoas com que convive, sobretudo dos modelos verbais simplificados que empregam
na conversação com ela. É necessário considerar também que a linguagem que a criança
utiliza na primeira infância, é egocêntrica, isto é, ela fala de suas próprias experiências,
sem considerar ainda as do outro. (RAMOS, 1992)

• ÁREA SÓCIO-EMOCIONAL

Conforme a classificação de ERIKSON, na área do desenvolvimento


sócioemocional da primeira infância distingue-se a etapa do desenvolvimento do
sentido da confiança básica e da superação do sentido da desconfiança básica, bem
como marca-se o inicio da autonomia ao mesmo tempo em que há superação da
vergonha e da dúvida. (RAMOS, 1992)
- Primeira etapa: Desenvolvimento no sentido da confiança básica e superação
do sentido da desconfiança básica.
O desenvolvimento, nesta etapa, depende de uma vinculação afetiva e regular
entre mãe e filho. É a mãe que atende o filho em suas necessidades proporcionando-lhe
alimentação, cuidados higiênicos, proteção, abrigo, carinho e estimulação. Sua
satisfação o induzirá a uma sensação de um ambiente agradável e acolhedor, ou seja, de

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sentir-se protegido, possibilitando, assim, o desenvolvimento nele do sentido de
confiança básica. Em contrapartida, quando estas necessidades não são satisfeitas
adequadamente, ele sentirá seu ambiente como frustrante e ameaçador, dificultando
assim a superação de sentido de desconfiança básica.
O sentido da confiança vai solidificando-se gradualmente, a medida que a
participação afetiva da mãe e a progressiva cooperação do filho se consolidem em um
vínculo de dar e receber recíproco. A criança sentirá o receber e o confiar da mãe
enquanto a atende.
Como se verifica, a própria criança indica pautas para a evolução de seu próprio
comportamento, tanto no desenvolvimento da confiança básica como da desconfiança
básica. Esta participação torna-se mais afetiva à medida que ela vai crescendo, o que lhe
reforçará a direção a seguir. A contribuição da criança, em todo caso, dependerá da
atenção e do afeto que receberá da mãe. Esta relação estreita em ambas começa a
distender-se a partir dos dezoito meses, sobretudo pelo fato da criança sentir-se mais
confiante em si mesma e no ambiente que a rodeia, além do que o contato e convivência
com outros membros da família lhe facilitarão seguir progredindo nas primeiras
tentativas de independência, como querer alimentar-se sozinho, andar sem ajuda, vestir-
se, etc. Desta forma, dar-se-á a mudança positiva para a segunda etapa. (RAMOS, 1992)
- Segunda etapa: Iniciação da autonomia e superação da vergonha e da dúvida.
Inicia por volta dos dezoito meses e se prolonga até cerca dos três anos de
idade, caracteriza-se principalmente pelos avanços no desenvolvimento de uma
gradativa autonomia da criança e se manifesta quando ela quer realizar tudo por si
mesma, isto é, agir conforme a sua vontade. As conquistas que ela obtém ao tornar-se
independente do adulto, faz com que se sinta mais satisfeita e segura.
Durante este período, ela vai afirmando sua própria identidade, uma vez que ao
atuar com independência acaba por perceber suas capacidades e limitações. Não
obstante, a percepção de suas limitações pode provocar inibições, insegurança e também
dependência dos outros, comportamentos que são antagônicos a formação do sentido da
autonomia. Pode-se explicar a manifestação de certos distúrbios de comportamento que
ocorrem nesta fase da vida (o negativismo, birras, teimosia), como decorrentes do
conflito não superado que se origina em função da coexistência de tendências opostas.
A superação deste conflito se traduz pela capacidade de agir por si mesma na
busca de satisfação das suas próprias necessidades, avanços que dependerão não só da
contribuição da própria criança, mas também de uma efetiva orientação por parte dos

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adultos que lhe facilitarão os recursos apropriados para que ela possa fazer suas
escolhas e ir, gradualmente, tornando-se responsável por si mesma e respeitando os
demais. (A falta desta ajuda poderá provocar na criança sentimentos de vergonha e de
dúvida sobre a própria identidade). Dos progressos que a criança vai alcançando
destacam-se as bases de auto-estima, da identidade pessoal e da interação com os
demais. Auto-estima se forma pela valorização que a criança tenha de si própria,
dependendo dos sucessos, emoções e ideias, como também da valorização que os
demais manifestam sobre sua pessoa.
Identidade pessoal se desenvolve em função da consciência que a criança tem
de si mesma e, também, das diferenças e semelhanças que percebe entre si e os demais.
Inicia-se a tipificação, que consiste na aquisição de comportamentos, sentimentos,
atitudes e conceitos relativos ao próprio sexo e a seu papel social. Nesta etapa
preliminar, observa-se que a criança ainda não tem uma ideia clara de que seu sexo é
uma característica permanente de si mesma.
Interação com os demais refere-se ao processo de socialização da criança com
seus pais e outros adultos. Aos dois anos de idade, as crianças desejam a presença dos
companheiros, mas brincam sozinhas. Em seguida passam a interagir com grupos
maiores e alcançar posteriormente a interação efetiva com as pessoas de seu ambiente.
(RAMOS, 1992)

REFLEXOS E REAÇÕES

Através dos reflexos e reações do primeiro ano de vida, pode-se inferir a


estrutura fundamental do cérebro. As características comportamentais do neonato
mostram que este está sob a dominância dos núcleos subcorticais, os quais maturam
antes do córtex. É por isso que o comportamento do lactente se caracteriza por estes
padrões que permanecem até idade ulterior sob a sua influência. Com a maturação
crescente do córtex são inibidos estes padrões primários, realizando-se a evolução em
direção crânio-caudal. O processo é visto com clareza máxima através do aparecimento
e desaparecimento de reflexos e reações, com a evolução motora normal. (FLEHMIG,
2002)
Padrões com o endireitamento, extensão protetora e reações de equilíbrio
são considerados respostas posturais maduras, porque se desenvolvem após o termo e

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persistem como uma base para o comportamento motor. O termo “reflexo” é reservado
para a situação anormal, na qual um padrão tenha se tornado estereotipado e obrigatório.
(MANDICH, 1994)

INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL

Abordaremos a intervenção para crianças sob risco de desenvolvimento e para


aquelas com déficits, e aspectos preeminentes do sistema de fornecimento de serviços
de Terapia Ocupacional e a capacidade do terapeuta ocupacional de fornecer programas
de intervenção efetivos para lactentes.
Terapia Ocupacional é a arte e a ciência de ajudar pessoas a realizarem as
atividades diárias que são importantes para elas, apesar de debilidades, incapacidades ou
deficiências. Ocupação em Terapia Ocupacional não se refere simplesmente a
profissões ou a treinamentos profissionais, ocupação em Terapia Ocupacional refere-se
a todas as atividades que ocupam o tempo das pessoas e dão sentido às suas vidas. Na
terminologia da Terapia Ocupacional, essas atividades são denominadas áreas de
performance ocupacional. Essas áreas de performance ocupacional podem ser divididas
em Atividades Diárias, Atividades Laborativas e Produtivas e Atividades de Lazer e
Diversão. (AOTA,1994) (WILLARD E SPACKMAN, 2002).
Segundo a World Federation of Occupational Therapits WFOT: Federação
Mundial a definição de Terapia Ocupacional é uma disciplina da saúde que diz respeito
a pessoas com deficiência, déficit ou incapacidade física ou mental, temporária ou
permanente. O Terapeuta Ocupacional profissionalmente qualificado envolve o paciente
em atividades destinadas a promover o restabelecimento e o máximo uso de suas
funções, como o propósito de ajudá-los a fazer frente as demandas de seu ambiente de

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trabalho, social, pessoal e doméstico e a participar da vida em seu mais pleno sentido.
Segundo o Committee of Occupational Therapists for the European Community
(COTEC) fornece a seguinte definição: Os terapeutas ocupacionais avaliam e tratam
pessoas empregado atividades com o objetivo de prevenir as incapacidades e
desenvolver a independência funcional.( HAGEDORN, 2003)
A atuação do terapeuta ocupacional com crianças com atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor enfoca, principalmente a melhora e competência nas
áreas do desenvolvimento neuropsicomotor e auxilia a família no manejo com a criança.
A Terapia Ocupacional pediátrica é normalmente prescrita para crianças que
nascem com algum tipo de desabilidade que não estão se desenvolvendo como
deveriam, tendo vários aspectos diferentes, cada um deles designado para áreas e
problemas específicos, sendo uma forma de intervenção na qual o terapeuta e a criança
trabalham para desenvolver e aumentar as habilidades necessárias para a atividade
diárias.
O trabalho do terapeuta ocupacional coloca-se como imprescindível na
Estimulação Precoce e Essencial, tendo como objetivo geral promover o
desenvolvimento global da criança aproximando-o ao máximo do normal, favorecendo
a manutenção e aprimoramento das funções existentes, prevenindo vícios posturais
patológicos e primando pela independência, recuperação ou adaptação em diferentes
níveis. Através da Estimulação Precoce e Essencial o Terapeuta Ocupacional busca
evitar e minimizar prejuízos futuros, buscando garantir a funcionalidade humana.
Para verificar a efetividade de uma criança para um trabalho de Terapia
Ocupacional, faz-se a anamnese. O profissional entrevista o responsável pela criança
para investigar sobre o histórico pré, peri e pós natal e o motivo de buscar tal
atendimento, observando a criança na realização de atividades, identificando a situação
sócio-econômica e culturais da família.
Após faz-se a avaliação. A avaliação de crianças com atraso de desenvolvimento
neuropsicomotor é realizada através da observação e aplicações de testes, roteiros
(padronizados ou não), para identificar os aspectos que estão impedindo um
desenvolvimento satisfatório.
A seguir ocorre a interpretação dos dados para identificar as capacidades e as
necessidades da criança, elabora-se o plano de tratamento e orienta-se a família quanto
as condutas que devem ser seguidas.
No processo terapêutico, a estimulação deve acontecer sempre, em todos os

17
contatos e encontros. Devemos observar também que o ambiente é uma situação
diferente para a criança, altera o seu funcionamento normal. Outro aspecto importante é
a frequência e continuidade das avaliações para se adequar a condução, direção do
processo terapêutico ocupacional e o registro de suas evoluções.

ESTIMULAÇÃO PRECOCE

RAMOS (1992) refere-se a um dos mais importantes fatos para a falta de


desenvolvimento da criança e o seu amadurecimento, que é a inadequação ou carência
de estimulação nos primeiros anos de vida, como fator de diminuição do seu ritmo de
desenvolvimento, podendo tal fato ser prevenido por programas de estimulação precoce.
De acordo com FONSECA (1995), a estimulação precoce funcionará como
alimento organismo, desde o afetivo, ao cognitivo e nutricional. A privação da
estimulação acarretará lentidão, além de anomalias de desenvolvimento e crescimento,
pois é nos primeiros anos que as estruturas cerebrais crescem, se desenvolvem e se
organizam. As experiências precoces são muito importantes, pois propiciarão condições
de desenvolvimento corporal e maturidade emocional. Por isso, a detecção precoce de
problemas psicomotores e de linguagem devem ser uma grande preocupação dos
exames pediátricos, identificando sinais de comprometimento, podendo-se mais cedo,
aplicar programas de estimulação precoce, maximizando a sua normalização e
otimizando as suas potencialidades funcionais.
Já OLIVEIRA (1983) adota o termo estimulação precoce considerando-o
adequado por se constituir num processo que vai atingir a criança em etapas críticas do
desenvolvimento psicomotor e ter caráter eminentemente preventivo. O autor define
estimulação precoce como um conjunto de técnicas e procedimentos da natureza psico-

18
pedagógica, de caráter preventivo, que visa ao incremento do processo de aprendizagem
de criança em etapas cruciais do desenvolvimento.
A criança necessita que seu corpo seja explorado e tocado pelas mãos de outro
para que possa perceber seu corpo, com isso ela experiência o “sentir”. A criança pouco
manipulada pode apresentar déficit em seu desenvolvimento motor global.
A própria rotina da criança é que favorece o treinamento para o desempenho de
atividades do desenvolvimento, onde as ações reflexas tornam-se voluntárias.

MODELO LÚDICO

Segundo FERLAND (2006), o modelo


lúdico tem por características principais, em sua
base, a proposição sistemática da utilização do
brincar na prática terapêutica ocupacional, além dos
caracteres elementares, assim entendido como o
quadro conceitual delineador da concepção
específica do brincar a ser realizado e de um
modelo de prática, ou seja, um conjunto de meios
concretos capazes de favorecer a aplicação do brincar no âmbito clínico. Assim
desenvolve as habilidades, interesses e atitudes da criança sendo o meio mais eficaz da
atuação e identificação do modelo lúdico na contribuição da melhoria da qualidade de
vida do paciente em seu cotidiano e no meio em que vive. O brincar, domínio próprio e
processo natural na infância, é abordado por meio de um Modelo Lúdico que
acompanha o redescobrimento de seu potencial terapêutico. Além disso, por esse
instrumento busca-se favorecer a interação da criança com o mundo a sua volta, quanto
à capacidade de autonomia, desenvolvendo suas habilidades, proporcionando ao
terapeuta ocupacional não apenas uma visão compartimentada, do comportamento da

19
criança, mas sim uma abordagem global, o que hoje entende-se por uma visão holística
do desenvolvimento infantil. O brincar encontra-se inserido no processo onde o
interesse manifestado pela criança, favorece a dinâmica das atividades por ela
apresentada, frente ao agir, a ação do corpo, mas também da ação mental.
Segundo FERLAND (2006), possibilita ao profissional da área, uma
consequente transformação na maneira de ser da criança. Deve-se buscar tornar as
potencialidades expressas pela criança, uma alavanca, através da atividade lúdica, em
prol do paciente. Para que ela venha a ter prazer de agir, o prazer de viver e
consequentemente o prazer de ser.
Desta forma, o modelo lúdico apresentado por Ferland (2006), afirma que
através da ação, da atitude e do interesse da criança, não apenas como componentes do
brincar, mas também essas estruturas interagem para resultarem no brincar. Assim
sendo o modelo, pode ser expresso como afirma Wilcok (1998), por meio dessa
constante interação entre os componentes de estruturas já colocados anteriormente. A
seguir, apresentaremos uma figura que representa o modelo lúdico baseado nos estudos
de (FERLAND, 2006).

FIGURA 1. (FERLAND, 2006).

A brincadeira é usada com maior frequência, quando uma habilidade específica


precisa ser ensinada, ou quando há necessidade de satisfazer necessidades específicas.
As metas e os objetivos são estabelecidos em relação a como a incapacidade está
afetando o desempenho da função por parte da criança. As atividades alegres são
empregadas em um senso mais definido ou estruturado, como um meio de alcançar

20
objetivos desejada. (Neistadt e Crepeau apud Wllard e Spackman, 2002).
Segundo NEISTADT e CREPEAU apud WLLARD e SPACKMAN (2002), na
estrutura de referência de desenvolvimento, as atividades lúdicas são utilizadas para
desenvolver as capacidades físicas, cognitivas, emocionais ou sociais. Os materiais de
brincadeira são empregados para atrair a criança, como quando um brinquedo é usado
para encorajar uma criança. Na estrutura de referência funcional, a brincadeira também
é usada para satisfazer um objetivo terapêutico por meio da adaptação da atividade ou
ambiente, ou no manuseio terapêutico da criança, enquanto ela está engajada na
atividade.

ATIVIDADE LÚDICA NO TRATAMENTO

TEIXEIRA (2003) afirma, a criança necessita apenas ser auxiliada para ter a
oportunidade de descobrir e aprender, interagindo com o ambiente, buscando a
propriedade e função dos objetos, manipulando e transformando-os. Aos terapeutas cabe
fornecer dicas aos pais para facilitar o brincar, ressaltando a importância de brincar e
fazer com a criança e não por ela. È importante a realização de uma análise das
propriedades e características do brinquedo, procurando adaptar a manipulação e
exploração deste à capacidade individual da criança, como, por exemplo: um brinquedo
pequeno que caiba na mão, um pesado para estimulação proprioceptiva; um leve o
suficiente para que se mova ao menor toque, etc. Além de apresentar essas
propriedades, o brinquedo precisa oferecer desafios inicialmente fáceis de serem
superado, instigando a criança à resolução dos problemas, superando gradativamente os
21
obstáculos. È essencial que o terapeuta tenha domínio sobre o desenvolvimento
cognitivo e programe atividades que sejam pertinentes à fase na qual a criança está.
Segundo WILLARD e SPACKMAN, um objetivo importante da Terapia
Ocupacional é ajudar o individuo a conseguir um equilíbrio das atividades significativas
na vida diária. Para planejar o tratamento efetivo, o terapeuta precisa examinar o
desempenho das atividades lúdicas e seus significados. BUNDY (1993) afirmou:
Somente quando sabermos quais são os benefícios de determinadas atividades de lazer
para o cliente é que podemos ajudar aquela pessoa a conseguir aqueles mesmos
benefícios em atividades diferentes. O terapeuta precisa explorar as restrições para o
desempenho bem sucedido das atividades. A função do terapeuta é explorar estes tipos
de restrições para auxiliar o cliente na realização das escolhas de lazer realistas.
Segundo FERREIRA e VALDÉZ (2005), através do ato de brincar a criança
pode satisfazer seus desejos, seja de ordem afetiva, relacionada à estima ou a realização
de objetivos e finalidades. Brincando ela educa sua sensibilidade para apreciar seus
esforços e tentativas, o prazer que atinge quando consegue finalizar uma tarefa (montar
um quebra-cabeça ou pegar o colega) faz com que se sinta realizada por atingir uma
meta, elevando-a a auto-estima.
A criança constrói a sua personalidade brincando. A brincadeira é uma parcela
importante de sua vida. “[...] essa riqueza encontra-se principalmente na brincadeira e
na fantasia”. (VELASCO, 1996) Depois do surgimento da fala a brincadeira toma um
novo sentido, chegando o interesse pelo movimento, explorando vários tipos de
brincadeiras, como corrida, esconde-esconde, amarelinha, pula-corda, descobrindo
assim as noções de tempo, espaço e direção.
Os terapeutas também auxiliam os clientes no desenvolvimento da consciência
das opções e limites. Eles fornecem opções sobre as opções, ajudam a desenvolver as
habilidades e fornecem recursos, aumentando e refinando, desta maneira as opções e
construindo as competências. A Terapia Ocupacional com sua ênfase sobre a atividade
proposital é única no fato de ser capaz de fornecer todas estas etapas dentro do plano de
tratamento. (NEISTADT e CREPEAU apud WLILLARD e SPACKMAN 2002)
Tendo claro os objetivos de tratamento, a escolha do brinquedo ou da
brincadeira pode ser da criança. O Terapeuta não precisa ter medo de brincar com ela,
pensando que isso banalizará o tratamento, pois o brincar é o maior aliado e melhor
instrumento de terapia. (TEIXEIRA,2003)

22
ABORDAGEM DA INTEGRAÇÃO SENSORIAL

O princípio básico considera o desenvolvimento como uma espiral em que


existem ligações entre a entrada (input) sensorial e a saída (output) motora levando à
percepção. A integração sensorial é uma das funções do sistema nervoso central ao
nascer, a criança não está pronta a integrar suas sensações. (MOTTA in BARTALOTI,
2001)
Segundo AYRES apud LAMPERT (1999), a Integração Sensorial é um processo
neurológico que visa organizar as sensações do próprio indivíduo e do ambiente e torná-
la possíveis para utilizar o corpo efetivamente dentro do ambiente, conseguindo assim
realizar atividades voluntárias e significativas.
Os significados da Integração sensorial são melhorar o processo de informações
sensorial no SNC e melhorar os déficits resultantes dessa falha na integração dessas
informações.
Segundo A. Jean Ayres, IS é um processo neurológico de organização de
informações, provenientes do meio ou do próprio corpo, para que possam vir a ser
utilizadas de maneira eficiente. É, portanto, a habilidade para receber as informações
sensoriais do corpo e do ambiente, poder organizar essas informações e utilizá-las de
maneira funcional na vida diária. Ocorre de forma automática à medida que a pessoa
capta sensações nos receptores sensoriais, que incluem a pele, o ouvido interno, os
músculos e as articulações. (MOTTA in BARTALOTI, 2001) A Integração Sensorial
ocorre em uma sequência progressiva, desenvolvendo comportamentos complexos,
como resultado da presença de um aprendizado prévio. Portanto, a integração das
informações é um processo que ocorre desde a fase uterina e se perpetua até que todas
as funções do sistema nervoso estejam estabelecidas por volta da adolescência do
indivíduo, dando sentido ao mundo e significado às interações do ambiente. (MOTTA
in BARTALOTI, 2001)
O objetivo da Terapia Ocupacional com relação à Integração Sensorial e o
brincar são oferecer a está criança um melhor desenvolvimento, um auto conhecimento
de si e do seu corpo, possibilitando assim maior independência para desenvolver suas
potencialidades, promover melhor organização preparando-se para a vida adulta. A
importância dessa área do brincar onde o brincar do terapeuta ocupacional pode
encontrar o brincar do sujeito ou convidá-lo a brincar, conhecendo, dessa forma aquele
para qual a assistência em Terapia Ocupacional se destina. (TAKATORI;

23
BOMTEMPO; BENETTON, 2001)
De Carlo e Bartalotti (2001), relataram que a base da utilização da abordagem
Integração Sensorial é ter o brincar no papel de ocupação e a Integração Sensorial como
técnica de tratamento. Assim, a partir da terapia de Integração Sensorial a criança que
apresenta um distúrbio de Integração Sensorial entre outros, deverá ser submetida a
atividades que promovem estimulação sensorial, na maioria das vezes, utilizando
equipamentos suspensos. Essas atividades provocariam na criança um convite para
planejar e produzir respostas adaptativas.
Essas respostas adaptativas foram denominadas por Jean Ayres como a melhora
do processamento sensorial e motor que haverá melhora da resposta da criança no
ambiente. O ambiente será o motivador para que a criança experimente as sensações
táteis, vestibulares e proprioceptivas que resultam do movimento com propósito. A
motivação advinda do movimento normaliza a percepção sensorial e o
desenvolvimento, levando ao planejamento motor, dessa forma, estabelece-se a relação
entre as habilidades, o comportamento e as aferências sensoriais modificando a
eficiência e a capacidade neuromotora da criança. (MOTTA in BARTALOTI,2001)
Segundo NEISTADT e CREPEAU apud WLLARD e SPACKMAN (2002),
utilizar a técnica de Integração Sensorial em Terapia Ocupacional nos faz pensar na
diferença de uma brincadeira livre para uma brincadeira terapêutica. Na brincadeira
livre a criança brinca por brincar, para se divertir, ter finalidade especifica. Agora o
brincar terapêutico, tem objetivos e metas, que são estabelecidos pelo Terapeuta
Ocupacional; primeiro termo desta relação, a criança quando brinca no processo de
tratamento, ela tem que ser ativa, escolhendo e dirigindo o atendimento, sendo neste
momento o segundo termo da relação e o brincar o terceiro termo. Na Integração
sensorial a brincadeira é vista e valorizada como uma área pela qual se desenvolve,
dando ênfase também a brincadeira como uma ocupação, utilizando a alegria do brincar
como impulso competente para a integração com o mundo.

ABORDAGEM DO TRATAMENTO DO NEURODESENVOLVIMENTO

As técnicas, nessa abordagem, seguem os princípios do neurodesenvolvimento


motor normal, dos mecanismos de feedback e feedforward, dos componentes do
movimento e do desenvolvimento motor atípico. São amplamente usadas por terapeutas

24
ocupacionais no tratamento de pacientes com alterações neuromusculares. (MOTTA in
BARTALOTI, 2001)
O trabalho desenvolvido pelo dr. Karel Bobath e pela fisioterapeuta Berta
Bobath, desde a década de 1940, a partir de estudos sobre mecanismos
neurofisiológicos na paralisia cerebral e sobre o desenvolvimento motor nos diferentes
tipos de paralisia cerebral, resultou numa técnica de tratamento que leva o nome de seus
criadores, e tem como princípio básico a facilitação do desenvolvimento motor normal,
pela inibição dos reflexos primitivos e das posturas anormais o mais precoce possível,
aproveitando a maior plasticidade cerebral e prevenindo fixações de postura, padrões de
movimento anormais e deformidades consequentes. A base desse tratamento,
originalmente, foi desenvolvida e utilizada em crianças que apresentavam alterações
neurológicas, em especial aquelas com o diagnóstico de paralisia cerebral.
Posteriormente, foi utilizada no tratamento de adultos em hemiplegia. (MOTTA in
BARTALOTI, 2001)
Considerando que a aprendizagem do movimento voluntário depende da própria
execução do movimento, os autores preconizam que a sensação (proprioceptiva e tátil)
do movimento deve ser aprendida pela movimentação ativa, e não se basear somente no
movimento em si. As posturas básicas e os padrões de movimento são aprendidos para
tornarem-se padrões funcionais. Pressupõem que o desenvolvimento ocorre por estágios
que se relacionam com a aquisição das habilidades sensório-motoras. Assim, é preciso
que a criança primeiro adquira o controle cervical para então poder conseguir
permanecer na posição sentada, arrastar-se primeiro para depois pôr-se em pé, andar etc.
(MOTTA in BARTALOTI,2001)
O ato motor necessita das aferências – informações sensoriais – recebidas do
ambiente (feedback) que irão guiar, dirigir e coordenar o movimento e a postura durante
as atividades por preparação postural que precede a ação. Pode, ainda, estar relacionado
às experiências anteriores que permitirão a antecipação do ato (feedforward), outro
importante conceito que no início das formulações teóricas dessa técnica de tratamento
ainda não havia sido reconhecido. Pela inibição de padrões de reflexos posturais
anormais e reações associadas, tem como objetivo normalizar o tônus mediante input
tátil, proprioceptivo e cinestésico; estimular a simetria das posturas e a realização das
atividades sensório-motoras na linha media, facilitando a movimentação normal e a
dissociação dos movimentos; e desenvolver as reações de equilíbrio e endireitamento.
Preconiza evitar posturas compensatórias e prevenir contraturas e deformidades por

25
meio da manipulação, do posicionamento e do uso de órteses. (MOTTA in
BARTALOTI, 2001)
Ao adotar essa abordagem, o terapeuta ocupacional deve considerar fator
importante a possibilidade de utilizar, em sua prática, atividades que sejam funcionais.
Não adianta facilitar o movimento se este não conduzir a um objetivo final: a realização
de atividades importantes no desenvolvimento e de interesse da criança. A atitude do
terapeuta deve facilitar o envolvimento, a participação, o interesse e a iniciativa da
criança, condições essas que levarão à percepção, e. como já mencionado, ao
conhecimento. (MOTTA in BARTALOTI, 2001)
O terapeuta ocupacional, ao estabelecer como meta atividades funcionais, deve
pensar em atividades que proporcionem o desenvolvimento de habilidades motoras
finas para a manipulação e preensão, fundamentadas na independência das atividades de
vida diária. O papel do terapeuta ocupacional é o de facilitar, com a assistência, a
capacidade de interagir, descobrir e compreender o mundo, oferecendo condições
ambientais que levem a criança, pela sua intencionalidade, à descoberta e
transformações das relações com o ambiente. Portanto, o papel não é o fazer pela
criança, mas fazer com a criança e intermediar a ação, despertando seu interesse e sua
curiosidade e encorajando sua participação. (MOTTA in BARTALOTI, 2001)

AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO NEUROMOTOR

As avaliações devem ser realizadas em ambiente calmo e livre de estímulos


externos, com ou sem a presença da mãe. Segundo FLEHMIG (2002) neste capitulo a
autora abordará algumas variáveis utilizadas: “cabeça – vira para os lados
independentemente” e “braços – alcança na frente” em supino, partindo do preceito que
a lateralização voluntária da cabeça e o alcance dos braços à frente implicam a
capacidade de atingir a linha média, a não persistência de reflexos cervicais tônicos
(RTCA, RTCS), uma adequada coordenação visuo-motora, e para levar os braços à
frente o lactente tem ainda que ser capaz de controlar o tônus e movimentação de tronco
superior para liberar a cintura escapular. Em prono, as variáveis “angulação da cabeça
em relação ao tronco” e “suporte em antebraços” (para lactentes com 4 meses) e
“suporte em braços estendidos” (para lactentes com 6 e 8 meses) constituem as
variáveis analisadas, levando em consideração a pressuposta noção de que são

26
necessárias para a realização destas atividades: uma adequada capacidade extensora de
tronco, a incorporação de reflexos primitivos (RTCA, RTCS, flexor palmar, Moro) e
adequadas reações de equilíbrio e tônus, respostas estas consideradas então implícitas.
Na posição sentada, é considerado o “alinhamento” e “presença de apoio lombar”,
sendo que para a resposta positiva para o item alinhamento e negativa para a presença
de apoio, o lactente deve possuir um bom controle de tronco, adequadas reações de
proteção e equilíbrio, incorporação dos reflexos primitivos (Galant, RTCA, RTL,
Moro), bom controle de tônus e bom controle na linha média.

• CABEÇA – VIRA PARA OS LADOS INDEPENDENTEMENTE

Com a criança deitada em supino, em superfície macia, sob estimulação visuo-


sonora com brinquedo posicionado primeiramente na linha média, a 20 centímetros de
distância dos olhos da criança, deslocado dentro do campo visual desta para ambos os
lados, até alcançar a superfície de apoio. Realizada com brinquedos diferentes, caso a
primeira resposta for negativa. É considerada normal quando a criança acompanha o
brinquedo até a linha dos ombros, assim como afirma FLEHMIG, 2002, e alterada
quando não é realizada para ambos os lados.

• BRAÇOS - ALCANÇA NA FRENTE


O alcance dos membros superiores do lactente na linha média, posicionado
em supino em superfície macia, com estimulação visual e sonora, com brinquedo
posicionado primeiramente a cerca de 60 centímetros de distância da criança, e trazido
para cerca de 15 centímetros da região torácica desta. O objeto deve ser segurado nesta
posição, à espera da resposta da criança, e se negativa, numa segunda tentativa então

27
deve-se oferecer um outro brinquedo. De acordo com FLEHMIG, 2002, esta variável é
considerada normal quando a criança leva ambos membros superiores à frente na linha
média, e alterada quando, apesar do olhar atento ao objeto, o bebê não demonstra
controle motor suficiente para deslocar o membro superior à frente na linha média.

• ANGULAÇÃO DA CABEÇA EM RELAÇÃO AO TRONCO


Esta avaliação é analisada através de fotografias dos bebês posicionados em
decúbito ventral, e sob estimulação visuo-auditiva de brinquedos colocados 20 cm à sua
frente, primeiramente em seu campo visual e levados até acima da linha da cabeça. Com
o auxílio de transferidor, é realizada a mensuração do ângulo céfaloespinhal, com linha
média lateral cefálica traçada no trajeto do pavilhão auditivo, cruzando com linha média
lateral de tronco acompanhando o trajeto da coluna tóraco-lombar. É considerada
normal quando o bebê atinge o ângulo céfaloespinhal de 90º.

28
• SUPORTE EM ANTEBRAÇOS/BRAÇOS ESTENDIDOS
Para a análise deste marco do desenvolvimento, a criança deve ser posicionada
em decúbito ventral em superfície acolchoada, e estimulada a explorar o ambiente. O
suporte em antebraços foi o item cuja resposta positiva era esperada para as crianças
com 4 meses de idade corrigida, e se a criança o realizava esta variável era então
considerada normal; e o suporte em braços estendidos para as crianças com 6 ou 8
meses de idade corrigida. De acordo com FLEHMIG (2002), tais suportes eram
considerados efetivos quando a criança era capaz de deslocar o peso para a região
abdômino-pélvica, evidenciado pela elevação dos ombros e tórax da superfície de apoio.
Esta variável é considerada alterada quando a criança aos 4 meses mantém os cotovelos
demasiadamente lateralizados e não elevava a cabeça e o tórax, e aos 6 e 8 meses
quando a criança realiza apenas o suporte em antebraços, sem estender a articulação do
cotovelo.

• ALINHAMENTO
O alinhamento na postura sentada é considerado positivo quando a criança
é capaz de sustentar o tronco e cabeça na linha média simetricamente. Tal fato é
evidenciado quando, ao se traçar uma linha reta sobre a linha média, desde a cabeça até
a pelve, esta continha a glabela, mento, ponto medial da linha mamilar e cicatriz
umbilical. Para a análise desta variável, a criança é puxada para sentar desde a posição
supina, e mantida na posição sentada com apoio lombar, quando necessário, com os
membros inferiores estendidos. A variável é considerada normal quando ocorre a
simetria, e alterada quando a apresentação na postura sentada era assimétrica.

29
• PRESENÇA DE APOIO LOMBAR
Para evidenciar a necessidade de apoio lombar para a manutenção da postura
sentada, o lactente é posicionado na postura sentada com os membros inferiores
estendidos, e o apoio lombar manual fornecido pelo avaliador retirado ou mantido de
acordo com a capacidade de sustentação do tronco frente à gravidade. A manutenção da
postura sentada com retração escapular e imobilidade de membros superiores é
considerada positiva para a necessidade de apoio lombar. A resposta positiva é esperada
para as crianças com 4 meses de idade corrigida, e aceitável para as crianças com 6
meses de idade corrigida. Aos 8 meses a resposta esperada para se considerar o
desenvolvimento neuromotor normal é negativa. Esta variável é então considerada
normal quando aos 4 e 6 meses era positiva e aos 8 meses negativa, e alterada quando é
positiva ainda aos 8 meses de idade corrigida.

Quanto mais tarde a criança iniciar o plano de normalização, mais defasado


estará o seu desenvolvimento motor, juntamente com a perda na área sensorial,
refletindo na perda da noção espacial, esquema corporal, percepção, que poderá

30
contribuir com a falta de atenção ou dificuldades cognitivas (TELG, 1991). O
tratamento por meio do conceito neuroevolutivo (Bobath) foi originalmente
desenvolvido pelos Bobath na Inglaterra no início da década de 1940 para o tratamento
de indivíduos com fisiopatologias do SNC. Esse método foi descrito como um conceito
de vida e, como tal, continuou a evoluir com o passar dos anos.
(SHEAHAN, BROCKWAY, TECKLIN, 2002)
O tratamento pelo desenvolvimento neurológico, como planejado por Bobath,
usa o manuseio para inibir respostas anormais enquanto facilita reações automáticas. O
manuseio proporciona experiências sensoriais e motoras normais que darão base para o
desenvolvimento motor. Com as abordagens sensóriomotoras, estímulos sensoriais
específicos são administrados para estimular uma resposta comportamental ou motora
desejada. Técnicas de integração sensorial algumas vezes são incorporadas nos
programas sensório-motores. A intervenção sensório-motora pode ser aplicada a bebês
de alto risco de várias maneiras, por exemplo, o rolamento linear em uma bola pequena
para estimular o sistema vestibular e promover um estado de alerta. Estímulos
proprioceptivos e táteis profundos poderão promover um comportamento calmo e auto
regulatório. (SHEAHAN, BROCKWAY, TECKLIN, 2002)

ORIENTAÇÃO FAMILIAR

Entendemos que, para o tratamento do bebê, a presença materna é fundamental, mesmo


porque o bebê é totalmente dependente de um ambiente, físico e psíquico, representado
pela mãe ou cuidador. Winnicott (apud Takatori, 1999, p. 74) “nos fala da rotina

31
completa do cuidado que deve ser pessoal e voltado para as características de cada bebê.
Nessa rotina estão o carregar no colo, manipulação na hora do banho, vestir, despir,
hora da alimentação, enfim, atividades básicas e presentes no cotidiano, levando em
conta que o tônus muscular, a sensibilidade cutânea e a temperatura corpórea são
diferentes em cada bebê”.
Acompanhar a mãe é necessário, pois elas estão muito fragilizadas neste
momento, sentindo- se culpadas por às vezes não poderem vir todo dia para o hospital,
culpadas por deixarem outros filhos em casa, precisando de esclarecimentos para
dúvidas simples (por exemplo: posso pegar o bebê no colo?
Ele está chorando, o que eu faço? Será que ele me ouve? Será que ele me
entende.
Realizamos estimulação tátil, visual e auditiva, orientando a mãe para a
importância desses estímulos para o desenvolvimento. O suporte à mãe é importante
para favorecer o vínculo mãe bebê, porque, muitas vezes, a mãe tem receio em tocar o
bebê, acha que ele não a entende, acha que não pode pegá-lo, enfim. Essas dúvidas e
dificuldades precisam ser esclarecidas para ajudá-la na relação com seu filho. Bebês
muito irritados podem provocar ansiedade nas mães causando dificuldade de
aconchego. O apoio do profissional é importante para ajudar a mãe nesse processo, para
ajudar a aconchegar o bebê.
No preparo para o processo de alta, é importante orientar as mães para que elas
se sintam seguras na realização das AVDs (banho, alimentação, troca), pois, a partir
disso, serão as responsáveis pelos cuidados com o bebê. Não podemos esquecer de
envolver toda a família para que a mãe não seja a única cuidadora, sobrecarregando- se.
Também orientamos sobre a importância da colocação de móbiles e brinquedos
coloridos e sonoros no berço, pois a mãe de bebê prematuro muitas vezes se esquece
disso. É preciso lembrar a mãe sobre a importância do brincar, já que esta é a atividade
básica de toda criança.
Muitas mães só vão ficar atentas para isso, quando perguntamos sobre a
preparação para a chegada da criança. Explicamos a importância do brincar para o
desenvolvimento neuropsicomotor e como a mãe pode estimular o bebê.

32
A AVALIAÇÃO E O DIAGNÓSTICO TERAPÊUTICO
OCUPACIONAL

Ao construir o diagnóstico em Terapia Ocupacional, o terapeuta busca


informações sobre o que a criança faz no seu dia-a-dia, ou gosta de fazer, como faz,
com quem faz, conhecendo suas possibilidades e dificuldades. Essas informações
podem ser obtidas na relação terapêutica, ao se propor e fazer atividades com a criança e
mediante a família e outras pessoas que participam do seu cotidiano. Observar e
perceber a criança em seu modo de ser e fazer facilita a percepção de suas necessidades.
Outras informações sobre as possibilidades da criança podem também ser avaliadas por
instrumentos como os testes. Além disso, devemos considerar os fatores que compõem
a biografia da criança, ou seja, a história de vida dessa criança desde a gestação. Os
componentes da biografia são: as diferenças individuais da criança, o local e a extensão
do distúrbio ou lesão, o diagnóstico médico, a incidência pelo aspecto de diferenças
sexuais de motivação da criança e da família, bem como as condições ambientais
favoráveis ou não. Diante desse perfil o terapeuta ocupacional poderá definir as
condutas terapêuticas necessárias. (MOTTA in BARTALOTI, 2001)
O olhar do terapeuta ocupacional recai sobre a percepção da criança em sua
forma de ser e fazer, abrindo caminhos para a percepção de suas necessidades. Esse
olhar define como o processo terapêutico pode ser direcionado pela construção de um
diagnóstico em Terapia Ocupacional a partir do qual os objetivos terapêuticos serão
delineados. O diagnóstico aqui não se refere à patologia em si nem a uma categorização
do paciente, mas a um conjunto de elementos de sua história que nos permite uma visão
da situação atual do paciente e dos prejuízos dessa situação nas suas atividades.
(MOTTA in BARTALOTI, 2001)
Segundo Meyerhof, (1997) “a intervenção envolve tanto a inibição quanto a
estimulação. O terapeuta deverá estruturar o ambiente de tal forma que o bebê consiga
uma melhor auto-organização. Portanto, o objetivo da intervenção será tanto no sentido
de promover o ‘input’ sensorial como a de proteger o bebê do excesso de estimulação,
graduando os estímulos de acordo com o desenvolvimento adaptativo do neonato”.
Acreditamos que é importante observar o fazer do bebê, todos os movimentos
que realiza desde as expressões faciais, os sinais de aproximação ou de rejeição até o
movimento mais discreto, já que são essas suas atividades. Esses movimentos
inicialmente são reflexos, ou seja, movimentos involuntários, que com o passar do

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tempo e da experiência tornam-se ações voluntárias. (MEYERHOF, 1997)
Preocupado com as possibilidades e dificuldades que a criança apresenta no seu
cotidiano ou, em alguns casos, com sua ausência, o terapeuta ocupacional vai estar
atento à facilitação do ingresso dessa criança nas experiências. Para tanto, utilizar-se-á,
quando necessário, das técnicas como a Integração Sensorial, neurodesenvolvimento,
que podem auxiliá-la na realização de suas atividades, facilitando o seu processo de
desenvolvimento. (MOTTA in BARTALOTI, 2001)

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