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DESENVOLVIMENTO
E ENVELHECIMENTO
HUMANO
Gustavo Leite Camargos
Introdução
O desenvolvimento humano se inicia na fecundação e finaliza com a morte
do indivíduo. Conhecer as diferentes etapas do processo de evolução do
ser humano permite entender como cada pessoa, em cada momento de
sua vida, interage com o meio em que vive. Além disso, permite elaborar
meios de intervenção que possam contribuir com esse processo. A partir
do nascimento, até os 2 anos de idade, temos o que se define como pri-
meira infância, um período marcado por grandes e acelerados processos
de evolução e desenvolvimento. Nessa fase, observam-se mudanças nos
aspectos motores, cognitivos e socio-afetivos.
Neste capítulo, você irá conhecer quais são as principais mudanças
ocorridas nas dimensões física, cognitiva e psicossocial durante a primeira
infância e compreender quais são os fatores que podem influenciar essas
transformações. Ainda, verá como o profissional de educação física pode
auxiliar nesse processo, compreendendo as principais recomendações
para orientação de atividade física nessa faixa de idade.
Desenvolvimento físico-motor
O desenvolvimento físico da criança nos dois primeiros anos de vida é extre-
mamente acentuado. O controle sobre seu corpo é algo descoordenado, e, na
medida em que a criança vai se desenvolvendo, passa a ter um maior controle
a partir dos membros superiores (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Durante os 2 primeiros meses de vida, a criança aprende a segurar o
pescoço e, aos 4 meses, aprende a sentar-se, ainda com ajuda ou suporte, mas
aos 7 meses passa a fazer isso sozinha. Os movimentos de rastejar e gatinhar
irão surgir a partir dos 9 meses (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013;
PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Em alguns casos, a criança aprenderá a ficar de pé por volta dos 9 meses,
contudo, essa posição é alcançada apoiando-se em algum outro objeto e, com
cerca de 11 meses, andar com auxílio passa a fazer parte do seu repertório
de movimentos.
Dos 12 aos 24 meses de vida, a criança já é capaz de explorar o espaço à
sua volta por conta de sua liberdade de movimento. Quanto à manipulação de
objetos, aos 5 meses já surgem algumas tentativas de movimento para alcançar
e agarrar, contudo, esse movimento ainda é descoordenado e só irá se tornará
mais firme por volta dos 10 meses.
O controle dos esfíncteres irá depender da maturidade do sistema nervoso,
mas, de forma geral, ele acontece entre os 16 e 18 meses, para alguns autores,
e entre os 18 e 36 meses para outros, não sendo um consenso na literatura
especializada (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; PAPALIA; FEL-
DMAN, 2013).
Desenvolvimento cognitivo
Seis grandes abordagens discutem o desenvolvimento cognitivo na primeira
infância, compreendida como o período dos dois primeiros anos de vida.
A abordagem behaviorista estuda como a aprendizagem ocorre ou como o
comportamento se altera em resposta a um estímulo ou experiência vivenciada
(COLL; MARCHESI; PALÁCIOS, 2004).
Tome como exemplo a seguinte situação: você mostra para uma criança
de 10 meses de idade um objeto que, ao emitir um som perceptível, dispara
uma luz sobre o rosto dela. O comportamento de fechar os olhos ou piscar
diante do estímulo visual é algo inato ou reflexo nessa criança. A medida que
você “repete” a experiência, a criança começa a associar tanto o objeto quanto
o som emitido à resposta de fechar os olhos para se proteger da luz. Nesse
momento, temos o condicionamento clássico, que se dá quando “emparelha-
mos” um estímulo neutro (objeto/som) a outro que automaticamente gera uma
resposta inata (fechar os olhos diante da luz). Assim, a criança passa a dar a
resposta não mais para a luz, mas para o estímulo que antes era neutro e agora
assume as características do estímulo luminoso. Essa resposta reflexa será
reforçada todos as vezes que a experiência for realizada, e poderá ser extinta
quando não houver mais o reforço, ou seja, apresentar o objeto e o som sem a
presença da luz. Esse tipo de aprendizagem ocorre baseando-se as respostas
inatas ao organismo, aquelas na qual a criança não precisa aprender a emitir
diante de um estímulo.
Em outra ação, a criança manifesta um comportamento qualquer, sem
significado próprio e sem intenção de resposta do ambiente. Nesse caso,
imagine que ela faça um som, um balbucio qualquer. Ao escutarem esse som,
os pais respondem a ele fazendo carinho e brincando com a criança. Então,
a partir desse processo, a criança passa a operar no ambiente, balbuciando
sons todas as vezes que percebe a presença dos pais, para ter a resposta, que
é o afeto deles. Ainda, de acordo com Coll, Marchesi e Palácios (2004), o que
temos aqui é o condicionamento operante, no qual a criança ou o indivíduo
opera sobre o ambiente para produzir a resposta desejada.
Alguns pesquisadores demonstraram que crianças de 2 a 6 meses de idade
conseguiram reproduzir o comportamento estabelecendo um condicionamento
operante diante do objeto original. Esse processo é estudado como o processo
cognitivo da memória em crianças na primeira infância. Já as crianças a
partir de 9 meses mantinham a memória e o condicionamento operante com
objetos similares.
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Desenvolvimento psicossocial
Seis grandes abordagens discutem o desenvolvimento cognitivo na primeira
infância, compreendida como o período dos dois primeiros anos de vida
(COLL; MARCHESI; PALÁCIOS, 2004).
A abordagem behaviorista estuda como a aprendizagem ocorre ou como o
comportamento se altera em resposta a um estímulo ou experiência vivenciada.
O desenvolvimento da criança ocorre em vários contextos com caracte-
rísticas específicas, ou seja, regras, valores e atitudes diferentes. A primeira
infância é um período de grandes mudanças no que diz respeito ao desenvol-
vimento psicossocial.
Crianças com 6 a 8 semanas de vida começam a ser receptivas à estimulação,
e ainda demonstram interesse e curiosidade, valendo-se da comunicação não
verbal, em que o contato com o mundo exterior é feito por meio do sorriso
para as pessoas.
Apesar desse desenvolvimento social ocorrer por meio da linguagem, um
comportamento interessante é que, aos 2 anos, a criança demonstra, também,
dificuldade em partilhar comportamentos, objetivos e ações, sendo que aos dois
anos e meio já é possível observá-la brincando com outras crianças, embora
em paralelo (COLL; MARCHESI; PALÁCIOS, 2004).
Quanto ao humor e ao desenvolvimento psicológico, segundo Coll, Mar-
chesi e Palácios (2004), criança apresenta grandes oscilações de humor nos
primeiros meses de vida, o que irá se estabilizar quase aos 3 anos, quando
passa a ser mais obediente e amável, demonstrando sentimentos de afeto,
compaixão e culpa.
Com 1 ano de idade, a criança ainda mantém um apego excessivo com
a mãe ou com quem cuida dela, e a separação ou ausência materna ainda a
perturba. Contudo, ela começa a entender que é alguém distinto da mãe e com
vontades próprias (COLL; MARCHESI; PALÁCIOS, 2004).
Esse desenvolvimento psicossocial não é um padrão, ocorrendo de forma
diferente para cada criança. É preciso levar em consideração as especificidades
hereditárias e aquelas que são resultantes da sua experiência de interação com
a realidade social e física. O processo de desenvolvimento da criança é pessoal
e único, construído em um contexto histórico e cultural.
Elementos fundamentais do
desenvolvimento das primeiras
características da primeira infância
O desenvolvimento humano é marcado por um conjunto de fatores históricos
e culturais, sofrendo influência direta do ambiente no qual está inserido.
Dessa forma, existe a necessidade de se avaliar e entender como os contextos
educacionais proporcionados às crianças, na primeira infância, irão repercurtir
em sua evolução.
Ambientes que proporcionem às crianças oportunidades para serem ativas
tanto física quanto cognitivamente parecem promover um desenvolvimento
mais abrangente e harmonioso. Nesse caso, pode-se pensar que a creche teria
um papel em potencial para o desenvolvimento e aprendizagem nessa fase
da vida. Carvalho (2005) aponta que o cuidado e o respeito com as crianças,
os reforços que recebem, se positivos ou negativos, como a creche trabalha
suas capacidades e sua individualidade serão fatores influenciadores para o
desenvolvimento da criança. De fato, crianças que iniciam a vida escolar mais
cedo, nas creches, parecem apresentar melhores resultados em avaliações
cognitivas e neuromotoras (DIAS; CORREIA; MARCELINO, 2013).
Assim, é possível compreender que a creche deve se organizada para apoiar
o desenvolvimento das crianças, ampliando as possibilidades de experiências
e aprendizado delas. Para isso, é necessário que os profissionais da educação
tenham conhecimentos específicos que possam ser úteis nesse processo. O
educador, a fim de promover o desenvolvimento integral da criança, deve ser
capaz de enxergar cada criança como um ser único, sabendo quais são suas
possíveis limitações. Ele pode auxiliar no desenvolvimento da afetividade e
interação social, ao passo, que, se atuar de forma incorreta, pode influenciar
negativamente nessas duas características (DIAS; CORREIA; MARCELINO,
2013).
Neurocientistas já vêm estudando como os estímulos ambientais podem
influenciar na organização neurológica dos bebês e em sua saúde futura. Sabe-
-se que um desenvolvimento inicial prejudicado afeta diretamente o compor-
tamento e a aprendizagem. Na fase pré e pós-natal, os estímulos transmitidos
ao cérebro pelos circuitos sensoriais irão contribuir para o desenvolvimento e
diferenciação dos circuitos neuronais, podendo ampliar a capacidade cognitiva,
afetiva e neuromotora dos bebês (MUSTARD, 2010).
Assim, o papel do ambiente é reforçado nesse processo. Estudos mostram
que gêmeos idênticos que possuem o mesmo DNA, mas apresentam experiên-
cias diferentes, desenvolvem expressões genéticas diferenciadas, modificando
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Leituras recomendadas
ALMEIDA, N. A importância do professor de Educação Física na primeira infância. 2018. Dis-
ponível em: https://www.educacaofisica.com.br/escolas/a-importancia-do-professor-
-de-educacao-fisica-na-primeira-infancia/. Acesso em: 07 abr. 2019.
DIDATCS. Behaviorismo (1): metodológico e radical. 2017. 1 vídeo (8min 4seg). Dispo-
nível em: https://www.youtube.com/watch?v=ipHFpXAgjiA. Acesso em: 07 abr. 2019.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
JONES, R. A.; OKELY, A. D. Recomendações relativas à atividade física na primeira infância.
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