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DESENVOLVIMENTO
INFANTIL
Desenvolvimento
físico e psicomotor
na segunda infância
Maria Beatriz Rodrigues
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A segunda infância é o período que vai dos três aos seis anos de idade, dependendo
das diferentes teorias, e marca a crescente autonomia da criança. Ela adquire
controle e destreza sempre maior nos movimentos e na linguagem, tem seu corpo
mudado e se prepara para maior independência de pensamentos e decisões.
É um período de ingresso na escola, e os relacionamentos sociais tornam-se
fundamentais para o crescimento.
O desenvolvimento físico e psicomotor marca a criança dessa fase pelo aumento
de peso, altura, tamanho e funcionamento do cérebro e pelas capacidades e ha-
bilidades que vão sendo conquistadas a partir desse desenvolvimento integrado.
A criança fica mais sujeita a acidentes e provas constantes de suas destrezas, o
que exige dos cuidadores um equilíbrio entre permissão e proibição.
Neste capítulo, você vai estudar o desenvolvimento físico, psicológico, cogni-
tivo e motor. Quando falamos em desenvolvimento físico, pensamos somente no
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Ainda que continue com sua grande plasticidade, o cérebro sofre muitas
transformações na segunda infância, com o crescimento das áreas frontais,
responsáveis pela capacidade de planejamento e metas. A plasticidade
se refere à flexibilidade das áreas cerebrais, e algumas ainda não estão
completamente especializadas. Se uma área está com problemas ou lesões,
se não for muito extensa, outra área pode assumir a função, se adequada-
mente estimulada. Há também um maior desenvolvimento do corpo caloso,
parte do cérebro que possibilita a comunicação entre os dois hemisférios
cerebrais e é responsável pela coordenação de sentidos, atenção e fala, e
sua mielinização continua até a adolescência (PAPALIA; MARTORELL, 2022).
O corpo caloso é um elemento do cérebro muito importante. Algumas ex-
periências demonstraram que, com intervenções cirúrgicas que separam
os dois hemisférios, os sujeitos da pesquisa mostraram quase como se
tivessem dois cérebros autônomos. Até mesmo a visão mudava, com os
olhos percebendo coisas diferentes ao mesmo tempo (BEAR; CONNORS;
PARADISO, 2017).
A atividade predominante do início da infância é brincar, que ocupa
todo o tempo da criança quando ela não está dormindo, se alimentando, se
higienizando ou cumprindo outras determinações dos adultos. O brinquedo
tem inúmeras funções, principalmente nessa fase da vida: aprendizagem
sobre os corpos e potencialidades, facilitador do desenvolvimento cog-
nitivo e afetivo, exercício da motricidade ampla e fina, desenvolvimento
do pensamento lógico e da abstração, etc. A criança vai adquirindo a
capacidade de pensar a partir dos outros e não somente sobre os seus
próprios pensamentos. No início da infância, as crianças são totalmente
egocêntricas. Essa fase é chamada de fase pré-conceitual, quando o
pensamento é concreto e as conclusões que chegam viram verdades
(GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). No brinquedo, as crianças imitam
o que veem, inventam um mundo próprio, pensam a respeito do que
acontece em suas vidas, etc.
O desenvolvimento afetivo contribui com as mudanças, assim como se
beneficia delas, e seus desafios maiores são a autonomia e a iniciativa.
A busca por autonomia faz com que as crianças tendam a contrariar tudo
o que lhes é solicitado, tendo facilidade para dizer não, como se fosse
um exercício de liberdade mais do que de desobediência. A iniciativa,
por outro lado, vem muito atrelada ao desenvolvimento motor e à ca-
pacidade de correr, subir, pular, pegar e lançar objetos, etc. Se não for
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Por volta dos 2 anos e meio, as crianças são capazes de saltar com as
duas pernas, algo que não conseguem antes disso, e com uma perna só são
capazes em torno dos 4 anos. Com 3 anos e meio, as crianças conseguem
subir escadas (mais fácil do que descer). Elas conseguem descer as escadas
alternando os pés aos 5 anos. Pular é difícil, e a conquista é atingida entre 4
e 6 anos. Esses desenvolvimentos são possíveis a partir da constituição de
cada criança, associada a oportunidades para que ela se exercite livremente
(MARTORELL, 2014).
Crianças nessa idade têm energia de sobra e não param quietas, mas é
claro que cada uma é diferente da outra. A forma de ser de cada um já vai se
delineando bem cedo, e comparações na educação não ajudam o desenvol-
vimento das crianças. É importante respeitar o jeito de ser de cada uma e
lembrar que estimular é diferente de comparar. Os marcos do desenvolvimento
servem como padrões, como proteção para as crianças, permitindo que um
atraso significativo possa ser observado e atendido.
Para melhor compreender as aquisições das crianças nesse período, nor-
malmente as habilidades motoras são divididas em amplas e finas. As amplas
envolvem os grandes músculos e são atividades como saltar e correr, já as finas
são habilidades de manipulação, que envolvem músculos pequenos e exigem a
coordenação dos olhos com os movimentos das mãos. Nas habilidades finas,
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Estabilidade
Locomoção Manipulação
(ênfase no equi-
Fases do (ênfase no (ênfase na força
líbrio do corpo
desenvolvi- transporte do transmitida a
em situações de
mento motor corpo de um um objeto ou
movimento está-
ponto a outro) recebida dele)
tico e dinâmico)
casos, a criança tende a ser um adulto obeso. Por outro lado, se o problema
for atendido precocemente (a tendência à obesidade pode ser percebida
desde os seis meses de idade), contar com o auxílio da família e tornar a
criança sempre mais ativa, pode haver sucesso no tratamento. É importante
pensar que o excesso de massa corporal é prejudicial à saúde (PAPALIA;
MARTORELL, 2022).
A prevenção da obesidade depende da ingestão de alimentos, sua quali-
dade e quantidade, e deve-se ter horas adequadas de sono e assistir pouca
televisão. É provado que cada hora adicional de TV, além das duas sugeridas
ao dia, aumenta a probabilidade de obesidade em 7%, a não ser que as ho-
ras adicionais sejam compensadas com exercícios na mesma proporção. As
crianças precisam consumir nutrientes adequados para favorecer o cresci-
mento saudável, pois esse período tem grandes exigências de crescimento,
com aumento do cérebro, dos ossos e dos músculos. A má nutrição não está
associada somente à pobreza, mas preponderantemente aos maus hábitos
alimentares (PAPALIA; MARTORELL, 2022).
Algumas famílias incentivam, até sem perceberem, a alimentação desorde-
nada, em que as crianças têm acesso irrestrito a alimentos em qualquer hora
do dia. Ninguém deve proibir as crianças de comerem, mas se elas obedecerem
a certos horários, sem rigidez, isso vai organizar a necessidade de aporte
calórico durante o dia. Existem diferenças entre sentir fome e querer comer
por gula ou por necessidades de doces e farináceos. É claro que as crianças
gostam de doces e devem consumi-los, mas com cuidado para não exceder.
A questão não é punir, mas sim ficar atento para maus hábitos alimentares
que, uma vez estabelecidos, são difíceis de modificar.
cuidador) está submetida a um forte estresse, faz uso de drogas e álcool, está
deprimida ou sofrendo algum outro tipo de transtorno mental que a impede de
demonstrar afeto, o bebê vai estar sujeito a maiores riscos.
aos serviços. As crianças, muitas vezes, são deixadas sozinhas por longos
períodos, inclusive cuidando ou sendo cuidadas por outras crianças, para
que os pais possam trabalhar. A falta de moradia contribui para os riscos da
infância, como o desenvolvimento de doenças pulmonares, estupros, maus
tratos, doença mental de genitores e cuidadores, contato com parasitas e
locais infectos, uso de álcool e drogas. O contato com tabagismo, a poluição
atmosférica e os venenos de lavouras são outros riscos adicionais (PAPALIA;
MARTORELL, 2022).
São inúmeras as influências do desenvolvimento físico e psicomotor. As
crianças precisam ser protegidas em todas as fases de desenvolvimento, para
que possam gozar de boa saúde e ter o direito de serem crianças felizes e
despreocupadas, tornando-se adultos saudáveis e responsáveis. Estudar o
desenvolvimento infantil em todos os âmbitos é de suma importância para
compreender de forma ampla e crítica os padrões, os marcos esperados e
os marcos menos esperados, mas que caracterizam as condições de vida de
muitas crianças.
Referências
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema
nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
FONSECA, V. Desenvolvimento psicomotor e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008.
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C.; GOODWAY, J. D. Compreendendo o desenvolvimento motor:
bebês, crianças, adolescentes e adultos. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
MARTORELL, G. O desenvolvimento da criança: do nascimento à adolescência. Porto
Alegre: AMGH, 2014.
PAPALIA, D. E.; MARTORELL, G. Desenvolvimento humano. 14. ed. Porto Alegre: AMGH,
2022. E-book.