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MENDES, Eric Ewans. O humano, a linguagem, o mundo e o livro em Heidegger e


Calvino: uma breve compreensão. Griot: Revista de Filosofia, Amargosa – BA, v.24
n.1, p. 16-28, fevereiro, 2024.

Nome do aluno1

Introdução:

Credenciais do autor: Doutorando em Filosofia pela Universidade Vale do Rio


dos Sinos (Unisinos), São Leopoldo-RS, Brasil e Professor de Filosofia da Linguagem,
da Religião e Projetos Integrador I e II da Unifacc-MT.

O Autor em ser artigo tem como objetivo geral compreender a relação do


homem com o livro e como este, em sua linguagem, fala com o seu leitor cujo
significado de determinada obra é “o livro da sua infância, da sua adolescência, da vida
adulta”, etc. Para isso, Mendes propõe uma investigação por meio de uma inicial
aproximação entre o filósofo Martin Heidegger e o escritor realista Ítalo Calvino. A
pesquisa está dividida em três partes: A primeira é uma compreensão do que é o livro à
luz do pensamento de Heidegger; a segunda parte, o conceito de livro proposto por Ítalo
Calvino; e a terceira parte é uma análise fenomenológica de trechos de algumas obras
famosas com base em ambos os autores apresentados.

Resumo:

Ao apresentar Heidegger em seu texto, Mendes afirma que o filósofo propôs em


sua ontologia fundamental realizar uma investigação sobre o sentido do ser a partir de
um ente que é historicamente constituído e compreende de certa forma sua própria
história na relação com as coisas, entre elas, o livro. Com base no que Heidegger
apresenta em Ser e Tempo (GA 02); A Caminho da Linguagem (GA 12); Ser e Verdade
(GA 36/37) e Sobre a Essência da Linguagem (GA 85), o livro é um instrumento que
não está isolado, pois ele está em conjunto com outros instrumentos como a estante, a
biblioteca, etc., possuindo sua “livracidade”, a saber, o que o livro “é” em seu propósito.

Na relação com o livro o homem (Dasein) usa os seus sentidos (visão, audição,
tato, olfato) e este instrumento “fala com ele”, isto é, o autor da obra fala com o leitor
dessa forma, pois o Dasein fala de várias maneiras e é aquele que possui a linguagem

1 Credenciais do aluno. Formação acadêmica e e-mail.


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como seu constitutivo existencial. No livro é possível ver que o autor revela o estado-
de-ânimo (como os personagens da trama se encontram – alegres, tristes, etc.), suas
tonalidades afetivas (humor) e seus sentimentos (estados internos da alma). O livro,
portanto, ganha significado importante para aquele que o lê como o livro de sua
infância, adolescência, fase adulta, ao escutar o que o autor diz e ao falar quando o livro
se cala.

Ítalo Calvino apresenta em sua obra Mundo Escrito e não Escrito – Esboços e
Conferências (2015), que o escritor possui dois mundos. O primeiro é o mundo escrito,
que apresenta riquezas de caráter linear-horizontal por meio das frases e parágrafos. O
mundo não-escrito por sua vez, é o mundo do autor, de caráter tridimensional,
compartilhado por bilhões de pessoas. Segundo ele, a relação entre esses mundos é
cheio de tensão, já que no mundo escrito é sabido sobre os fenômenos que acontecerão,
o que não acontece no mundo não-escrito que surpreende e assusta. Vale lembrar que o
mundo não-escrito é inspiração para o mundo escrito.

Mendes apresenta as considerações de Calvino quanto a relação da literatura


com outras ciências e a filosofia, o que permite o desenvolvimento de uma maior
criatividade, em uma tríade filosofia-ciência-literatura. O livro é como um espelho e
autorretrato do seu autor, que possibilita a compreensão do humano e suas experiências.
Uma questão que Calvino apresenta é: e quanto ao futuro do livro diante das versões
digitais? Segundo ele, mesmo com as versões digitais o livro nunca acabará. Outro
ponto importante apresentado por Calvino está na obra Porque Ler os Clássicos?
(2004), em que dentre as propostas apresentadas, é ler uma mesma obra mais de uma
vez, pois a experiência de ser um livro, por exemplo, na infância é diferente de ler na
vida adulta.

Com base no pensamento de Heidegger e Calvino, Mendes desenvolve o


próximo tópico que é uma interpretação fenomenológica de trechos de obras famosas,
as quais são: O Salmo 23 de Davi; Drácula de Bram Stoker; O Fausto de Goethe; O
Hobbit de JRR Tolkien; O Diário de Anne Frank; O Pequeno Príncipe de Antoine de
Saint-Exupérri e A Odisséia de Homero.

Segundo Mendes, os trechos do mundo escrito de cada obra apresenta os


estados-de-ânimo, tonalidades afetivas e sentimentos de cada personagem que
possibilitam ao leitor a compreensão das várias situações que o homem experimenta em
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sua vida e como ele reage a essas situações: buscar refúgio no divino (Salmo 23); deixar
as ciências e buscar o místico (O Fausto); o sonho de se ter uma amiga para
compartilhar suas intimidades registadas em diário (Anne Frank); a importância do
nome para compreensão de si mesmo, do seu próprio ser (O Hobbit); o temor diante de
uma ameaça iminente (Drácula); o clamor por justiça (A Odisséia); a importância e
abandono da criatividade (O Pequeno Príncipe).

Crítica:

Diante do que foi apresentado, é possível compreender que Mendes tentou,


através de Heidegger e Calvino apresentar uma fenomenologia do livro, ou melhor, uma
ontologia fundamental nas implicações da relação do homem (Dasein) com o livro e o
significado que este recebe do primeiro. Tal significado, conforme o autor do artigo
interpreta, é dado tanto por quem gosta de ler como por aquele cuja leitura não faz parte
do seu hábito por que não gosta, mas acaba fazendo para cumprir uma determinada
obrigação.

O desenvolvimento proposto pelo artigo segue uma cadeia lógica, que começa
apresentando a relevância do tema e chegando a informar o leitor de que esta foi uma
aproximação inicial, abrindo possibilidade para investigações futuras. Um exemplo é o
ponto apresentado pelo autor da afirmação de Calvino sobre o futuro do livro. Portanto,
recomenda-se o artigo tanto para leitura como também para uso como uma referência na
investigação do tema.

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