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PARA SER ENTREGUE NO PRIMEIRO DIA DE AULA.

Leia atentamente o texto abaixo e depois responda a questão.

TEORIA LITERÁRIA
Benilton Cruz

O estudo literário apresenta-se como uma modalidade do conhecimento e não


pode ser confundido com a literatura em si, que é arte e, portanto, uma atividade
criadora1. Teoria Literária é parte da Ciência da Literatura, e se baseia na teoria que, por
sua vez, é o núcleo da ciência.
Teoria vem do verbo grego “théon” e significa “olhar”. O olhar é um sentido
teorizador, assim como o ouvir. Teorizar é usar os sentidos como base, o que implica uma
forma de conhecer e eleger o objeto de estudo.
O primeiro passo é, justamente, eleger o objeto, conceituá-lo, descrevê-lo,
caracterizá-lo. Para Wittgenstein, o objeto é a sua denotação, portanto utiliza-se da
linguagem conceitual, a que define, caracteriza e delimita o assunto estudado. A
delimitação é um recorte imprescindível na Ciência.
Outro aspecto importante: não confundir os antigos com algo em valor. No
passado, tivemos grandes pensadores sobre o fenômeno literário. Por exemplo, a noção
de Mímesis foi uma das primeiras tentativas e explicação da arte da palavra. Essa
preocupação surgiu entre os gregos antigos e se firmou com Platão, em uma passagem
da República.
No capítulo X, Platão convence seus alunos de que o pintor e o poeta estão
afastados três graus da verdade, que é a ideia, imutável e eterna. Ao se reportar sobre a
mesa, como exemplo, diz o filósofo que alguém um dia teve a ideia de uma mesa (esse
seria o demiúrgo, ou Deus) e que alguém reproduz a mesa (no caso o marceneiro) e
alguém que pinta a “imagem da mesa” – nesse caso, a idéia é o “objeto” mais importante
e não a sua imagem.

Portanto:
1. Deus
2. O marceneiro
3. O pintor (e o poeta)

Platão foi o fundador do idealismo na história do pensamento ocidental, era o


discípulo preferido de Sócrates. Então, a mímesis é criação a partir de um modelo pré-
existente.
Aristóteles, em sua Poética, continua a linha do mestre e acrescenta a palavra
“catarse”, o que corresponde a purificação ou a purgação. A obra literária, essencialmente
a dramática e a épica teriam como “funções” despertar o sentimento de purificação em
seus ouvintes e em seus leitores.

1
Na poseia: a) As palavras têm novos e múltiplos significados; b) A sonoridade das palavras é tão
importante quanto seu significado; c) Às vezes ocorrem neologismos: criação de vocábulos a partir das
possiblidades da língua. Cf. Características da linguagem da poesia In: Gancho, Cândida Beatriz Vilares.
Introdução à Poesia. São Paulo: Atual, 1989. (Tópicos da Linguagem), p. 20.
2

Nos dias de hoje, o que interessa na Poética moderna é a cogitação em torno da


palavra como uma poética. Sua estrutura interna no tecido do texto. A literatura é matéria
lúdica, e em certo sentido, desvia o arbitrário para realizar uma nova articulação possível,
rever o segredo das palavras2.
Outro ponto: oralidade ou escrita?
A literatura oral possui caráter comunitarista muito forte. Assim, autonomia do
autor é menos acentuada3. A amplitude do estudo literário se lançaria sobre a dinâmica da
palavra. É claro que não basta a palavra impressa para se constituir literatura, e nem se
dominar a linguagem para já se tornar o material da literatura. É preciso algo mais. É
preciso o encontro com o leitor.
Outra força: o mito. A narrativa mítica coloca uma ordem de mundo. Ordenar,
portanto, é tarefa da narrativa.
Um manual de literatura escreveu “discursar é significar”4, de acordo com a teoria
sígnica, a enunciação seria a busca deliberada de uma significação. Mas, dentro de um
domínio amplo de linguagem em que é pelos desvios que “encontra as melhores
surpresas”5, discursar é sair do curso, é desviar.
Ora “toda e qualquer matéria pode arbitrariamente ser dotada de significação”6. Eis
a literatura. Renné Wellek e Austin Warren, para um conceito de Teoria Literária, fazem a
defesa da crítica. Para eles, a obra de arte literária não pode ser analisada, caracterizada
ou valorada sem o recurso constante a princípios críticos. Assim, um conceito de Teoria
Literária como “o estudo dos princípios da literatura e das suas categorias, dos seus
critérios e matérias semelhantes”7 colocaria a literatura em condições de igualdade com a
postura de linguagem que se defende neste trabalho, ou melhor, da linguagem como “o
único modo de ser do pensamento, a sua realidade e sua realização.”8 para que se atinja
com a palavra o que o homem movimenta no seu pensamento, no seu corpo, na sua
alma, no seu todo possível de comunicação e criação.
Um conceito de Poética, segundo Tzvetan Todorov:

[...] o termo ‘poética’ designa toda a teoria interna da literatura. Aplica-se à


escolha feita por um autor entre todos os possíveis (na temática, composição,
estilo, etc.) literários; refere-se aos códigos normativos construídos por uma
escola literária. [...] a poética deve fornecer instrumentos para a descrição dum
textos literário: distinguir os níveis de sentido, identificar as unidades que os
constituem, descrever as relações nas quais estas participam.9

2
“Poeta é aquele que consegue desvendar o segredo das palavrs. [Conhecedor das] possibilidades que a
palavra oferece, brinca com o som, a forma gráfica e o significado da palavra. Jogando com o som e o ritmo
das palavras (nível fônico) o poeta se aproxima da música. Explorando a forma gráfica o poema se aproxima
das artes plásticas. O poeta inventa imagens sob um prisma inusitado.” Hemielewski, Ada Maria. Trabalhar
poesia é aprender a olhar e a sentir o mundo.
3
Coutinho, Afrânio. Literatura e Sociedade. São Paulo: Companhia Editora Nacional, p. 54. “Nas literaturas
orais a autonomia do autor é menos acentuada, enquanto é mais nítido o papel exercido pela obra na
organização da sociedade.”
4
Manuel Antônio de Castro. Natureza do Fenômeno Literário. In: Samuel, Rogel. (Org.) Manual de Teoria
Literária. Petrópolis, vozes, 1984, p. 45.
5
Barros, Manoel de. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993, p. 89. Poema VI da
3a parte “Mundo Pequeno”,
6
Barthes, Roland. Mitologias, p. 182
7
Warren, Austin e Wellek, Renné. op., cit,
8
Kristeva, Júlia História da Linguagem. Trad. Maria Margarida Barahona. Lisboa: Edições 70. 1988, p. 17.
9
Todorov, Tzvetan. Ducrot, Oswald. Dicionário das Ciências da Linguagem. 5a. Ed. Lisboa: Publicações
Dom Quixote, 1978, p. 105/106.
3

Logo, uma teoria interna para a literatura, com a peculiaridade da escolha de


temas, formas de composição, estilo, códigos normativos de uma escola — assim se
estenderia o domínio da Poética enquanto disciplina atrelada à Teoria Literária, e da qual
o seu objeto seria “o discurso literário enquanto princípio de engendramento duma
infinidade de textos.”10 para alcançar os manuseios da palavra em uma aproximação
teórica para a invenção verbal11. Daí se dispensaria idéias a partir do objeto comum,
porém, extraordinário12 no texto teórico. Em uma linha mais concisa, para a Poética
tornar-se “a ciência do estilo poético”13 quando o objeto é a palavra.

ATIVIDADE
Em uma folha à parte, redija sua resposta individualmente.
PARA REDIGIR BEM

- Noção clara de parágrafo.


- Seja conciso e consistente.
- Obedeça ao padrão da norma culta. (Resumido abaixo)
- Uso correto da ortografia: letra, alfabeto, notações léxicas (o acento, o til, o apóstrofo, a cedilha, o hífen),
regras de acentuação, divergências entre as ortografias adotadas em Portugal e no Brasil. Nestes casos,
observar bem as questões que envolvam autores portugueses.
- Domínio da frase, da oração e do período.
- O espaço entre uma palavra e outra é de uma letra.
- Partição das palavras no fim da linha.
- Noções de transcrição textual.
- Em caso de rasura em uma palavra: não use borracha e nem o “branquinho”. Risque-a e prossiga
adiante.
- Estabeleça você mesmo um mínimo e um máximo de linhas. (Lembres-se da máxima popular: “o pouco
parece ser bom, o muito enjoa”, ou seja, em nosso caso, não escreva pouco e não seja prolixo)

10
Todorov, Tzvetan. op., cit., p. 105.
11
“O poeta é poeta não pelo que pensou ou sentiu, mas pelo que disse. Não é um criador de idéias, mas de
palavras. Todo o seu gênio está na invenção verbal.” Cohen, Jean. Linguagem Poética p. 49. E na própria
Poética de Aristóteles “o poeta deve ser mais fabulador que versicador” Aristóteles . Arte Retórica e Arte
Poética. Trad. Antônio Pinto de Carvalho. Rio de Janeiro: Ediouro, S. D.
12
“Para que serve a dança, o jogo e o sexo, é o mesmo que perguntar para que serve a poesia: transformam o
comum no extraordinário.” Higwater, Jamake. Mito e Sexualidade. São Paulo: Saraiva, 1992.
13
Cohen, Jean. op., cit., p. 22.
4

1. Explique a Mímesis platônica

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