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Formalismo Russo

Objetivos
 estudar a literatura como uma disciplina através da “Poética” aristotélica:
 Criação de uma ciência da literatura
Ideias base e conceitos
 Definem a literatura como uma entidade autónoma pq antes de refletir para o
exterior reflete para ela mesma. Relação significante-significado.
 Formalistas estudam e o signo literário n é binário, mas triário, o signo primeiro
remete para ele mesmo fica no seu interior, não são imediatos na sua
significação, e só depois para o exterior. A potencialidade significativa fica no
signo e sente a palavra como palavra e os formalistas abordam isto com o
termo percecionar.
 Dentro da literatura a Poética é a disciplina mais formal, possibilita a existência
de todas as outras. Os formalistas concedem a ciência da literatura como
poética generalizada. Língua poética é um termo claramente formalista.
Mas a correta é linguagem poética.
 Para eles o autor e o contexto são elementos secundários.
 A forma (a forma cria 1 unidade) é mutável, ou seja, uma forma gera outra. Para
além disso a forma gera o conteúdo e por isso o conteúdo deriva da forma,
portanto estão interligados. A forma avalia tb a maneira que os elementos se
ligam, por exemplo o som e a grafia.
 Jakobson define o termo literariedade: que consiste em definir o que é literário
ou não.
 Ciência da literatura e teoria é igual (na verdade não é bem assim, mas para eles
é).
 Mais alguns pontos cruciais deste posicionamento: características da linguagem
de comunicação, linguagem poética e este dois fazem parte de um processo de
comunicação.
 Para haver comunicação é preciso 1 signo e este é submetido a operações
transformativas. Signo linguístico: corresponde a um referente numa leitura
exterior. Mas há uma separação entre o signo referente, que é algo extraído do
signo, para a sua dimensão de significado, que é transmitida para o exterior do
signo.
 No processo de leitura o signo transforma-se num significante mais complexo,
pois remete para o seu interior o que provoca a representação de vários
significados. E isto faz com que a literatura seja autónoma, pois remete para ela
mesma e dps para o exterior. Um texto para o exemplo disto é o de Fernando P.
intitulado “Ponho na altiva mente o fixo esforço”- exemplo típico de linguagem-
objeto, pois a reflexão da literatura é a literatura.
 Ponho na altiva mente o fixo esforço
         Da altura, e à sorte deixo,
         E às suas leis, o verso;
 Que, quando é alto e régio o pensamento,
         Súbdita a frase o busca
         E o escravo ritmo o serve.

 A interpretação não é realçada, uma vez que esta tem uma forte componente de
subjetividade/ponto de vista e por isso foge da cientificidade.
 Há divisão do trabalho dos formalistas onde partem de um momento
materialista, que é a atitude base, pegar nos textos e observá-los na sua
componente material, lê-los e analisá-los e separar o texto. Isolam a obra do
autor e contexto- atitude imanentista.
2 momento do Formalismo Russo
 O autor que mais se destaca neste momento formalista é Tynianov afirma que a
“evolução da forma” leva a que uma forma deixe de funcionar outra forma
aparece no sistema e cumpre a função que a anterior cumpria. Ou seja, trata a
sucessão das formas. E outro ponto visto, no ponto em baixo, qual a sua
funcionalidade falando até nesta fase Formalismo Funcionalista.
 Chklovsky em “Arte como processo” diz que a forma vai se caracterizar por
produzir um efeito de surpresa/estranheza. Na arte, a perceção é um fim em si
mesmo, pelo que a finalidade da arte não é instrumental, é existir como tal,
existe de si para si. A arte destina-se à pura contemplação, tem a ver com a
perceção. Assim, o Chklovsky diz que a arte se destina exatamente a
perceção, pelo que deve ser prolongada e dificultada. Nessa dimensão de
prolongamento e de criar possíveis resistências a uma atitude automatizada, a
arte vai implicar a desautomatização da perceção, não deve haver uma perceção
automática, sendo então necessário prolongá-la e dificultá-la. Isto leva a um
estranhamento que, por sua vez, leva a que consigamos sentir a linguagem como
linguagem.
 O pensamento formalista é resultante das teorias formais ou abstratas. Passam de
uma atitude imanentista, para estudarem a literatura em relação com outros
elementos do sistema social. Passamos de uma abordagem intrínseca, para uma
abordagem que estuda a literatura através da relação desta com a não literatura.
A literatura é social, mas não é uma entidade passiva. Recebe elementos do
exterior, mas transforma-os em elementos do interior, são interiorizados-
Tynianov.
 Articulação muito íntima entre a linguística e poética presente num texto de
Jakobson e Tynianov. Nesse texto, vemos a ideia de que ao estudar a obra em
concreto, estudamos todo o sistema de literatura. A circulação da obra implica a
consciência do sistema e, portanto, a necessidade de articular toda a produção
existente anterior e contemporaneamente.
 Bakhtin trabalha numa disciplina que tenta estudar a linguagem em todas as suas
ações poéticas e de comunicação: translinguística, ou metalinguística (esta
disciplina vai se aproximar do posterior conceito de intertextualidade). Bakhtin
critica muito o pensamento formalista, mas afirma que este teve importância,
uma vez que foi este que fundou a abordagem teórica da literatura (todas as
teorias literárias posteriores ao formalismo, derivam deste). O pensamento de
Bakhtin é um pensamento em processo, em constante reformulação, através de
uma construção não linear ou direita. Para Bakhtin os géneros literários são
essenciais para o estudo da literatura, porque têm uma dimensão epistemológica
(Ramo da filosofia que se ocupa dos problemas que se relacionam com o
conhecimento humano, refletindo sobre a sua natureza e validade).
Alguns textos relacionados com a corrente:
 Sobre o Rigor na Ciência, Jorge Luís Borges. Este texto pode ser classificado
como uma parábola, é um texto objeto e um metatexto, tem uma dimensão
teórico-crítica. O título deixou o leitor a esperar um texto meramente teórico
acerca do rigor na ciência, mas na verdade é uma narrativa. Esta narrativa fala
acerca do alcance da perfeição (perfeição é essa que a ciência exige), que
acaba por ser negada pelas gerações seguintes. A vontade de se representar
tudo de forma rigorosa, fez com que esta civilização caísse em desgraça. Dá-se
um exemplo de perfeição, mas de forma irónica, uma vez que a perfeição e o
rigor não implicam um grande tamanho. O mapa falado no texto, apesar de ser
(supostamente) perfeito, não tinha qualquer tipo de utilidade, uma vez que era
impossível manuseá-lo. Este texto representa um erro que pode acontecer em
qualquer atitude conhecimento: por um lado, uma sobreteorização, por outro, a
ideia de que o rigor provém da acumulação ou do aumento de escala ou de
incluir tudo. As disciplinas são em constante expansão, mas se uma disciplina se
expande esquecendo o seu núcleo, deixa de cumprir o seu objetivo. A atitude
rigorosa, no texto, foi mal interpretada e, portanto, leva a destruição da
disciplina. Esta parábola parece remeter para o caso real da Retórica. Os
tratadistas desde o Renascimento até ao século XVIII, na excessiva procura de
figuras de retórica, fizeram que que o corpus das figuras se tornasse muito
pesado e, consequentemente, a teorização da retórica cai em desuso (a poética e
a retórica só são restauradas com os formalistas russos).
 Descoberta da literatura, João Cabral de Melo Neto. Tem uma dimensão
autobiográfica. É um poema onde se retrata um episódio vivido pelo autor na sua
infância, ou seja, anos 30 em Pernambuco, Brasil. É um texto com muitos
elementos lexicais de teor regionalista. O título remete para alguém que irá
descobrir algum tipo de literatura. Quem vai descobrir essa literatura são os
trabalhadores analfabetos da zona rural onde o autor vivia em criança. Estes
trabalhadores fazem um pacto com a criança, filho do Patrão, onde os
empregados compravam literatura de cordel (chamado romance na altura), livros
esses que a criança, que sabia ler, lhes lia o “romance” que eles tinham
comprado. Pela reação da criança, percebemos que a criança produz um juízo
negativo acerca destes livros, sendo que esta, sendo alfabetizada, estava
habituada a um outro tipo de textos e que estes romances tinham praticamente
sempre a mesma ação. A criança lê e, implicitamente, rejeita estes textos, mas vê
que estes textos produziam um efeito imenso naqueles trabalhadores que ouviam
a sua leitura. A certa altura a criança começa a ter medo da reação das pessoas,
porque percebe que os ouvintes não conseguem distinguir entre a realidade e a
ficção: a criança tem medo de que os ouvintes eventualmente o tomem pelo
Narrador, vilão ou herói. Esta situação eventualmente chega aos ouvidos dos
pais da criança, o que provoca um grande escândalo: o menino, filho dos
patrões, li a literatura de cordel para os empregados, o que era altamente
reprovável naquele contexto. Há aqui um juízo extremamente negativo
relativamente a esses textos por parte dos pais. Este juízo não é provocado pela
leitura da literatura de cordel (como juízo do menino), mas sim pela reputação
que essa literatura tinha. Vemos uma reprovação da literatura devido a
estereótipos. Aqui, a voz do social é muito marcante, define o valor de uma obra.
Vemos aqui como uma determinada literatura, como forma (neste caso, romance
de cordel), cumpre funções e provoca reações completamente diferentes
dependendo do leitor/recetor, da sua instrução, da sua prática literária, etc.
Assim dá-se uma descoberta não só da literatura, mas do facto de que existem
vários tipos de literatura, bem como que o social determina a aceitação e
valorização da literatura. Esta descoberta é feita pela criança: esta, apesar de
resistir aos textos e de os ver de forma negativa, demonstra ter uma grande
consciência do efeito produzido pelo texto naqueles ouvintes analfabetos. A
criança é censurada, castigada por ler aqueles textos, por estes estarem num mau
português, por serem dirigidos a pessoas com pouca instrução: dá-se a censura
da literatura. Assim, a criança descobre acerca da relatividade da literatura.
Temos aqui, e entre outras coisas: a relatividade do objeto literário; O
papel da receção dentro do plano literário; Referências à avaliação dos
textos literários (atitude crítica); Um retratar de 2 comunidades
interpretativas específicas, a dos trabalhadores rurais e a da classe
dominante- vemos como o mesmo objeto desencadeia reações completamente
diferentes. Existem ligações com as ideias formalistas: temos a questão do
circuito de ligação; temos o público-alvo, havendo determinadas características
que apontam para o leitor alvo. Nesses textos não havia o estranhamento, pelo
contrário, havia estereótipos, não havia renovação. Daí estes textos não
produzirem efeito estético na criança, apesar de produzirem nos ouvintes
analfabetos. Isto dá-se porque o facto literário é relativo. A ausência da
renovação é o que produz efeitos estéticos sobre os trabalhadores. Assim a
literatura não é apenas abordada por uma perspetiva interna, tal como dizem os
formalistas. Os textos eram avaliados pelo seu lado documental, moral, cultural,
etc. Os formalistas rejeitam estas abordagens porque trabalham elementos que
não são intrínsecos da literatura, são exteriores, pelo que muitas vezes a
literatura não era avaliada por ela mesma.
O pensamento formalista, porém, não era fechado: a obra é dinâmica, logo, o
próprio sistema literário está em constante mudança e transformação. Temos várias
conceções de cultura opostas: uma cultura popular e uma cultura não popular. Esses
textos têm uma determinada estrutura, uma determinada linguagem, uma
determinada rima, etc. Ou seja, esses textos têm uma formulação própria, e a criança
apercebe-se disso.

Roman Ingarden
 Apesar de não pertencer ao ciclo de Praga teve muita influência sobre os
pragenses.
 Filosofo vai estudar a natureza da obra de arte, que admite ser complexa,
uma vez que, chama de estância paradoxal, pois tem uma componente
física, mas n é reduzível a ela, tem uma abstrata, mas não é redutível a ela.
 Artefacto: componente física da obra, parte material. A obra só existe como
obra a partir do momento em que é lida. Um artefacto que é lido e
interpretado. Ex: A faculdade tem 50 mil livros, mas para outro terá 3 mil pq
só leu 3 mil.
 Objeto estético: algo que está no pensamento de cada leitor aquele artefacto.
A obra implica a relação de componente material e imaterial. A cada
artefacto implica muitos objetos estéticos e por isso sempre singular e
heterónoma. A intencionalidade do autor não coincide com a do leitor.
Conjunto de referências de cada livro.
 A obra é estratificada, dois na materialidade linguística (não vamos dar
grande importância) e outros 2 relativas ao género e a referencialidade das
obras de arte.
 Dimensão heterónoma: Chama a atenção para a representação (está inserida
na referencialidade), a obra por mais exaustiva que seja está cheia de zonas
de indeterminação, que só se concretizam ou diminuem perante a
interpretação através da leitura, a obra vai materializar as zonas de
indeterminação, cada um imagina os dados do texto e interpreta de forma
diferente- não existência de um sentido único/especifico. Faz com que a obra
tenha necessariamente objetos distintos- heterónimos- elemento constitutivo.
Esta formulação dele vai ser fundamental no estudo das várias funcionalidades
na linguagem de comunicação e o estudo da função poética diferente de todas as
outras. Sem artefacto e objeto e estético não há obra, há um livro, mas não obra.
O facto de haver várias interpretações levam ao valor intemporal da obra, ainda
hoje lemos obras de há 50 anos atrás.
Círculo de Praga
 Tem como base o pensamento de Saussure que estuda a Linguística e o sistema
linguístico. Começa em 26. uma estrutura implica uma hierarquização, uns
dominantes outro menos, mas não é estático é dinâmico, a superior pode passar
para a inferior e vice-versa- Composição por vários níveis (teoria implícita em
Praga). Leva tb ao estruturalismo pragense, que é dinâmico. Diferença entre
sistema e estrutura: cria um conjunto de leis e transforma-se e é uma totalidade
ao mudar uma coisa tenho de mudar outra, mostra tb a organização interna,
logica da composição. Pragenses apresentam-se num congresso com as teses 29.
Anos 30. Desenvolve a linguística, cria a disciplina da semiologia, várias
funções da linguagem.
 A semiologia da arte é criada por Mukarovsky, no texto A arte como
fator semiológico, que materializa a semiologia da arte, o que tinha sido
apenas teorizado por Jakobson. Portanto algo inovador, a ciência que vai
estudar os signos. O autor define o signo como qualquer conteúdo
psíquico que ultrapassa os limites da consciência individual, ou seja, o
signo é social, compartilhado, transcendental (termo kantiano). Segundo
este, aquilo a que chamamos obras de arte são signos artísticos (por
que as obras de arte comunicam), e combinam em si 3 entidades
(conceção triádica): Componente material, obra -coisa ou artefactos;
corresponde ao significante de Saussure; • Objeto estético, que implica a
imagem conceptual derivada da circulação do artefacto (leitura), mas
essa imagem/componente mental existe na convivência poética. Aqui
afasta-se de Ingarden, porque afirma que o objeto estético não pode estar
no individual, como dizia Ingarden, mas está antes no social. O objeto
estético implica aquilo que determinada cultura associa a um
determinado artefacto; • Relação com a coisa significada,
 Para Saussure, o referente era exterior ao signo (o signo era uma entidade
binária, constituída apenas por significante e significado). E já
Mukarovsky, diz que a referencialidade do signo com o referente é
indireta, metafórica, oblíqua e atinge a totalidade dos fenómenos sociais,
logo, tem uma dimensão social, coletiva. Assim, o autor afasta-se de
Saussure, uma vez que considera a referencialidade como um elemento
constitutivo dos signos.
 Mukarovsky diz que é necessário criar uma história literária (não história
da literatura), que implica uma abordagem sistemática dos fenómenos
ligados à produção e receção dos textos.
 Vodicka e Mukarovski definem 3 fatores da obra literária: instrumental;
Fechada (ligada aos registos metalinguísticos); Funcionamento poético.
Nesse funcionamento poético percebem que há uma ausência de
capacidade de explicar qual a diferença da linguagem poética que é
completamente relativa. o funcionamento poético, é uma qualidade de
certa maneira inespecífica, o que relativiza bastante os posicionamentos
que, à partida, postulam a distinção bem clara entre linguagem de
comunicação e linguagem poética. Há uma qualidade distintiva nos
textos poéticos, mas essa qualidade é indeterminável; não conseguimos
teorizar a diferença.
 Em “Norma, função e valor como factos sociais”, Mukarovsky chama a
atenção para o facto de a arte, como qualquer entidade que é social, estar
sujeita e de criar normas, há normas internas que regem o artístico e
normas externas. Históricas e relativas, o que faz com que a
funcionalidade de uma obra seja relativa também; Apesar de ser social, o
valor de uma obra é mutável.
 Vodicka diz que não é possível fazer uma avaliação objetiva de um objeto
estético, isto é, de uma obra de arte. Isto é o princípio constitutivo da crítica. A
crítica implica muito a historicidade, uma vez que o crítico está condicionado
pelo contexto histórico em que vive (ligação da literatura com a crítica e a
história). Vodicka diz que é impossível fazer uma avaliação crítica que seja
100% isenta de subjetividade. Vodicka segue Mukarovski diverge mais a sua
atenção e cria a disciplina da história e cria um programa, com 10 itens, porém
importam-nos estes. Ideia da evolução das práticas, teoria de géneros e a
sintagmática: mudanças na prática literária surgida pela própria evolução,
transformação da critica literária, ir a par com a dimensão sociológica. Este é o
panorama dos anos 30.
 Estruturalismo dinâmico é o de praga, pq a estrutura é dinâmica. A forma é
dinâmica, pq é mutável.
Alguns textos relacionados com a corrente
 No poema “Chove!” de José Gomes Ferreira, o sujeito poético passa por uma
experiência estética mesmo sem ter um objeto artístico, sendo então capaz de
tornar um objeto/situação não artístico em artístico, vivendo uma experiência
estética. Tem a capacidade de comunicar uma situação provocando uma
experiência estética- todos somos capazes de percecionar arte, mas nem todos
somos capazes de produzi-la. Não há uma natureza, uma essência da literatura,
há o conceito de literariedade, embora tenha vingado bastante, não ser correto.
O próprio Jakobson, criador do termo de literariedade, acaba por propor a
substituição do conceito de literariedade pelo de poeticidade.
A atitude Crítica, Criticism
 Eliot nos anos 10 vai inaugurar um posicionamento diferente, rejeita o modo
como a literatura era lida e julgada na época (romantismo é importante liga-se a
uma democratização das obras publicadas), muita dela era através dos jornais,
ou seja, já chegava a uma parte mais abrangente da população. Chama a atenção
e mostra que a literatura era abordada por uma critica do sec. XIX e eles já
estavam no séc. XX. Sem rigor, na descrição de elementos contextuais e
esquece o texto e que era uma construção linguística e essa dimensão
artística era colocada de parte e preocupavam-se com a moralidade. O seu
ponto de partida é que o poema é uma construção de linguagem, submetida a um
conjunto de procedimentos, sendo isso o que deve ser estudado primeiro,
postulando, então, uma atitude semelhante à dos formalistas, intentando em
tornar a crítica numa prática rigorosa.
 A critica deve ser vista para Eliot como os formalistas, mas não o diz de acordo
com os termos formalistas, mas com termos da língua da época “poema é um
organismo vivo” - entidade autónoma Eliot. Tomar consciência dos fatores da
própria obra e não fatores externos. Desenvolve uma carreira de critico e
escritor. Eliot chama atenção também para a reactualização dos textos
tradicionais, pq nos provocam emoção sejam em que altura for e então fica na
história. Vai definir que a criação é impessoal, o “eu”, não é visto como os
românticos e aqui Eliot foge do romântico. A literatura é impessoal, e não uma
projeção da vivencia do autor e de pessoas que conhecia dando como
personagens. Poema tem uma existência autónoma. Critica tem de ser encarado
como algo sério. Tem objetivo de ensinar.
 Posteriormente, J.A. Richards encontra-se num problema: qual a maneira, o
método, para levar os alunos a tomar consciência do que há um texto literário.
Assim, reflete principalmente acerca do método que vai utilizar para atingir os
seus objetivos, seguindo as ideias postuladas por Eliot.
 As posições de Eliot e de Richards serão as bases para o posterior new
criticism. Esta escola pretende sistematizar de uma maneira muito simples um
conjunto de conceitos chave, basilares, para se trabalhar um texto literário,
demonstrando também como é que estes conceitos se relacionam entre si. Para
Eliot e Richards, o texto é orgânico, é uma totalidade. Para além disso criam a
fusão entre a teoria e o literário, ou seja, aquilo que é demonstrado
artisticamente só poderá ser explicado no mesmo nível, por exemplo, a poesia só
poderá ser explicada no mesmo nível.
 Cria também umas determinadas técnicas que permitem a aplicação desses
conceitos o que gera o close reading, ou seja, uma leitura próxima, que leia o
texto pelo texto, pondo de parte o que não faz parte ao essencial do texto, ou seja
excluindo todos os aspetos exteriores ao próprio texto.
 Linhas centrais dos New Critics baseiam-se o poema ser uma unidade/
totalidade; é ambíguo: a linguagem poética é ambígua e pode ter múltiplas
interpretações; é uma metáfora; é uma entidade autónoma, isto é, a escrita do
poema implica uma determinada distância, o que faz com que o poema seja
irónico. A ironia implica uma duplicação no registo linguístico, sendo que o
enunciado é o contrário do verdadeiro significado, pelo que a linguagem pode
ser então plurissignificativa. O new criticism utiliza também o conceito de
paradoxo, afirmando que os textos literários estão cheios de paradoxos, de
contradições, contudo contendo em si princípios construtivos, mas também
princípios construtivos, o que faz com que todas as interpretações sejam
erróneas. Falam também do poema enquanto um ícone verbal. Assim, o new
criticism é uma corrente imanentista, embora diferente do formalismo russo. os
new critics não quiseram constituir uma teoria ou ciência da literatura. Houve
uma falta de esforço para unificação desta corrente que vigorou até aos anos 60.
 Os new critics definem 4 falácias:
 • Falácia da intenção, sendo que procurarem intenção do autor para chegar à
interpretação do texto é falacioso;
 • Falácia afetiva, não devemos fazer coincidir o texto com os efeitos que ele
provoca;
 • Falácia dos conteúdos, não devemos confundir o texto na sua materialidade
com uma suposta mensagem única, de uma maneira única, de uma maneira
definitiva;
 • Falácia da mimese, a referencialidade do texto não pode ser confundida com a
referencialidade do mundo, porque o texto é autónomo.
Nota: Em 1957, a obra Anatomia da Crítica (ou Criticismo) de Herman Northrop Frye, tem no
seu primeiro capítulo uma análise crítica do impressionismo mascarado de close reading. Aqui,
chega à conclusão de que é, de facto, necessária uma teoria. Essa teoria que irá surgir é o
estruturalismo.
Textos relacionados com a corrente:

O Mundo é Pequeno, David Lodge


Essa obra de meados dos anos 80 cria a critic fiction. Muitas das personagens aparecem
numa obra anterior chamada A Troca. O início da ação dá-se quando acontece um
congresso e, no meio das peripécias, um jovem se apaixona por uma jovem estudante e,
essa jovem, corre o mundo de congresso em congresso, e o jovem vai atrás dela.
No final de um desses congressos, fala-se acerca das funções da crítica, com um painel
composto por críticos altamente conhecidos, que definem o que é, para eles, a função da
crítica.
Cinco teóricos de nacionalidades diferentes, que apresentam perspetivas diferentes
quanto à função da crítica: Philip Swallow representa a critica tradicional; Michel
Tordieu representa o estruturalismo;
Siegfried von Turpite representa a estética da receção; Fulvia Morgana representa a
crítica marxista; Moris Zapp representa o pósestruturalismo.
Philip Swallow (crítica tradicional) afirma que a função da literatura é ajudar a suportar
a vida, sendo uma vida de acesso à cultura. Diz que a missão do crítico (caráter religioso
em missões) é divulgar e atualizar a obra literária.
Michel Tardieu (estruturalismo), por sua vez, reivindica uma postura científica na
prática crítica, destruindo a ideia anterior. Há um corte absoluto com a primeira
intervenção. A crítica não é a interpretação, como estava associada anteriormente, sendo
que a interpretação tem uma componente subjetiva. A crítica tem de ser científica, logo
tem de se fixar no que é inerente à obra. É necessária uma abordagem formal.
Siegfried von Turpite (estética da receção) encadeia a sua intervenção com a anterior,
desenvolvendo-a. Diz que concorda com o espírito científico do colega francês, mas
específica tanto de um ponto de vista ontológico como teleológico. Há aqui uma leitura
e uma crítica ao comentário anterior. A dimensão formal só nos faz aceder a uma parte
da obra, do artefacto, porque este não é obra, pelo que a abordagem formal não é
suficiente.
Fulvia Morgana (marxismo) diz que a função da crítica é mover uma guerra, é
desmascarar a própria literatura.
Moris Zapp (pós-estruturalismo) fala da sua intervenção enquanto crítico. Demonstra
que começou por ser um crítico tradicional, afastando-se dessa sua fase por completo,
onde achava que já tinha abordado todas as interpretações possíveis (é impossível) - na
prática crítica, vemos uma atitude extremamente dogmática e arrogante.
No resto da sua intervenção, Zapp utiliza um conjunto de ideias de vários estudiosos
importantes, fazendo citações de vários textos teóricos. Há a ideia de que a
comunicação é sempre parcelar, o signo é polissémico. Passa da semiótica, para a teoria
do texto. Moris Zapp acaba por se auto definir um pós-estruturalista.
Todas as conceções apresentadas eram conceções que coexistiam com New
Criticism na sua época, mas que não tiveram tanta importância.
Este texto demonstra que não há uma teoria crítica que seja absolutamente correta
ou universalmente melhor. Não há uma só teoria porque não há uma verdade,
nenhum discurso contém a verdade cabal. Assim, o crítico deve escolher a teoria
que prefere, que considera mais completa e com a qual mais se identifica, e aplicá-
la de maneira correta. Aquilo que para um teórico é essencial, para outro pode ser
irrelevante, e aquilo que uma teoriza, a outra nega.
As teorias apresentadas são contrárias umas às outras (umas mais que outras). A teoria
do Philip Swallow e a de Fulvia Morgana estão nos antípodas dos uma da outra, há uma
oposição total. A participação de Moris Zapp apresenta as várias teorias que foi
defendendo ao longo da sua vida enquanto crítico. A intervenção de Zapp, no fundo,
teoriza todas as outras. Há a distinção de leitura enquanto percurso do texto, e de leitura
enquanto teórica-crítica.

Estruturalismo Francês
 Estrutura é uma rede de ligações.
 O conceito de literariedade- conceito de Jakobson é de novo puxado pelo
estruturalismo.
 Se queremos chegar á estrutura temos de definir o objeto, o método e operações
que vou seguir para chegar a algum objetivo. Em baixo estão algumas palavras
chave e o seu significado.
 Método- conjunto de processos até chegar ao objeto final. Para chegar um
conhecimento de validade, que nos tempos de Aristóteles se dizia a verdade.
 Estruturalismo- procura as estruturas abstratas e a sua exemplificação.
 Metodologia trabalha mais com a prática, a teoria é mais superior.
 Episteme: tem um alcance geral, num modelo do conhecimento específico e
uma modalidade. Investimento na teoria e a sua aplicação e assim nasce este
conceito.
 Objeto formal resulta de um determinado ponto de vista.
 Há uma grande aproximação do formalismo com o estruturalismo.
 Critico estruturalista- não manifesta juízos de valor, tipo se é boa ou má
diretamente, apenas descreve-a e nós dps entendemos o ponto de vista-
Descrição na critica- decompõe o objeto.
 Poética: Todorov- Poética tem uma dimensão científica e por isso estuda as leis
que a regem o seu alcance geral. Fecho dos possíveis literários. Poética define o
discurso literário, mas para a poética poder estudar bem a poética tem de se
estudar a ela mesma, da mesma forma que desenvolve um discurso
metalinguístico, mas tb um discurso dela mesma. Meta-poética: antes de ser
literatura tem de se estudar a ela mesma. Aristóteles tb é o principal aqui no
estudo da poesia. Aparecimento do conceito de Mimesis. Poética científica.
 A literatura é uma prática que é autoconsciente e por isso tem uma
dimensão meta-literária.
 Exemplo disto é o poema, O outro Tigre de Jorge Luís Borges, que está
explicado em baixo.
 Levi Strauss fala de uma atividade estruturalista que consiste numa série de
operações mentais que implicam a análise e decomposição de um texto e a sua
posterior recomposição, colocando aqui evidente a estrutura desse texto. Este
autor, afirma que a estrutura não é visível a olho nu, mas facilmente pode ficar
visível. A estrutura é inteligível, chegamos a ela através de operações mentais.
Há um ponto de vista estrutural.
 Este estruturalismo com Levi Strauss prescinde de um sujeito de conhecimento,
reduz, falando de um ponto de vista estruturalista, dando conta do objeto através
das suas relações de combinação.
 Procura dar conta da realidade a partir da descoberta de elementos constitutivos
e das suas possibilidades colaterais. De um ponto de vista estrutural, o sentido
do texto não é outra coisa senão a sua estrutura. Portanto, o essencial é conhecer
a estrutura desse texto.
 O estruturalismo francês, que condiciona todo o pensamento da década de 60, é
o último porque partilha alguns dos princípios do formalismo russo, sendo
muitas vezes chamado como formalismo francês.
 Falam em 4 pontos: a poética; ler de um ponto de vista saussuriano a retórica;
criar uma disciplina nova que já estava presente no formalismo russo, a
narratologia; releitura da semiótica e investimento na área da semiótica (na
altura, chamada semiologia) e de maneira muito clara, uma atitude sistemática
de criação e publicação de revistas e, por isso, um enfoque especial na crítica e
na metacrítica.
 Isto implica que os grandes nomes do estruturalismo, como Barthes, Genette,
Greimes, entre outros, vão ler e reatualizar a obra do poeta e teórico muito
importante, Paul Valéry. Este teórico, discípulo Mallarmé, herdou a ânsia do
rigor e da forma e princípio de depuração, que se articulam com a releitura da
tradição clássica.
 Mallarmé trabalha no sentido de rejeitar a mimésis em nome da semiosis,
repensando o papel estruturante, fundador, nuclear que a normatividade como
princípio de escrita, desempenhava no mundo do classicismo.
 Valéry, nos anos 40, propõe algo de certa forma escandaloso, isto é, um curso de
Poética, articulando-a com a Poiética bastando apenas falar da maneira como o
objeto se expande. A poiética estaria ligada a esse lado do infinito
engendramento que implica a poesia.
 Para Paul Valéry, a poesia é um corpo em movimento e a prosa (no sentido de
linguagem de comunicação) é puro movimento.
 Mais tarde, Sartre, um grande pensador, escreve textos literários e peças de
trabalho onde conseguiu concretizar e explicitar momentos centrais do
existencialismo. Nos anos 40/50, definir escrita como uma prática intransitiva. O
escritor é alguém para quem a linguagem se põe como uma prática específica. A
escrita é algo onde o mundo é submetido à prova de linguagem. Tanto Valéry
como Sartre serão fundamentais para os estruturalistas franceses. Valéry por ser
um estruturalista, Sartre por definir a prática de escrita como uma espécie de luta
com a linguagem.
 Assim, o grande campo dos estruturalistas franceses é a critica e a metacrítica
científica, que não é normativa nem judicativa, mas que procura estar mais
próxima do texto, descrevendo-o e comentando-o.
 É Jakobson que cria o conceito de estruturalismo, no círculo de Praga, e mais
tarde, em conjunto com Levi Strauss, cria o estruturalismo francês, que acabou
por ser o mais conhecido e estudado.
 O estruturalismo, como o formalismo num primeiro momento, vai-se focar na
necessidade de abordar a literatura a partir de uma análise científica. Neste
sentido, dão a conhecer ao mundo as ideias formalistas anteriores. Nos primeiros
tempos do estruturalismo francês, não só possível como necessária a criação
dessa ciência da literatura.
 Temos aqui uma constelação de disciplinas (semiótica, estética, história literária,
etc.) que se vai articular a partir, por um lado do pensamento teórico e
metoteórico, mas também com disciplinas que os próprios formalistas tinham
restaurado, a Poética e a Retórica, que são pontos-chave dos clássicos.
 A crítica, no Romantismo, ganha o estatuto de arte, sendo esta criação, o poeta é
um poeta crítico.
 A literatura é a única arte que nos faz aceder a uma consciência de outros, sendo
definida também como uma forma de conhecimento. No estruturalismo francês
há um desenvolvimento de uma visão formal e formalizante, uma exploração de
características da linguagem, sendo possível passar de uma linguagem de
comunicação para uma linguagem literária, mas nunca o oposto (isso resultaria
na destruição da obra).
 A crítica, como disciplina, desenvolve sempre uma estrutura de segundo grau.
Há a relação que o crítico estabelece com a linguagem de comunicação, mas
também a relação que a linguagem literária estabelece com o mundo. Para um
estruturalista, a questão da interpretação é secundária
 A atividade crítica vai ser central no estruturalismo porque ao rejeitar a
interpretação, vai definir-se como uma atividade científica. A relação de um
sujeito cartesiano com um texto literário, para um estruturalista, não se vai focar
naquilo que particulariza o texto, mas sim aproximar-se de uma atitude teórica e
perceber de que maneira a literariedade se manifesta naquele texto em concreto.
Texto relacionado com a corrente
O outro tigre, Jorge Luís Borges
É um poema que descreve e narra ao mesmo tempo a sua própria constituição sendo
o tema o próprio processo de escrita, é um texto-objeto.
O texto diz que o sujeito poético tem consciência de que esse tigre está a imaginar
uma construção linguística, resultado de uma lente sua e não um tigre verdadeiro
que existe. O facto de ele pensar também num tigre que existe, faz com que esse
mesmo tigre se transforme também num produto da linguagem, porque nós só
conseguimos pensar em alguma coisa através da linguagem. Tudo aquilo que é
verbalizável faz parte da linguagem. Tudo o que existe é traduzível em palavras.
Fala de uma aventura insensata e antiga de procurar um terceiro tigre- refere-se à
literatura. Há aqui uma referência ao processo de escrita: ao pensamento, a escrita
do texto e a consciência de que todos os objetos em que a linguagem toca se
transformam em objetos literários. Temos, portanto, uma demonstração figuração
poética daquilo que é o processo de construção, temos referência ao processo de
escrita, e uma referência à literatura, que é uma prática autoconsciente, pelo que
cada texto literário é um metatexto, sendo que alguns podem ser texto-objeto.
A teoria da literatura é mais simples do que a literatura, tem muitos mais limites (da
linguagem e do conhecimento), pelo que não há uma só teoria da literatura, há
várias.
Nouvelle Critique
Uma corrente que surge na Europa no mundo francófono, mas que têm muita influência
na Escócia e nos Estados Unidos da América, surgindo na escola de Genebra, por volta
dos anos 20/30, cruzando-se muitas vezes com o estruturalismo francês.
O crítico é alguém que demonstra pelas suas análises, da maneira mais transparente
possível, como é que aquilo a que chamamos literatura se encontra materializado nas
diferentes obras. Assim, para a primeira geração da escola de Genebra, existe uma
vocação crítica, uma determinada sensibilidade, o que faz com que a crítica seja uma
continuação da obra que a torna mais próxima de nós leitores, permitindo-nos aplicar a
nossa conceção de literatura.
Abordagem do fenómeno literário, através de parâmetros livres, mas tem de explicitar
de que princípios parte e que métodos utiliza e gera mais críticas. Os mais importantes
foram estruturalistas.

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