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Referência:
BRISOLARA, M.C.F. Uma leitura de um conto de Marina Colasanti. In:TAGLIANI,
Dulce Cassol (org). Multiação: pensando o ensino de língua portuguesa. São Paulo: Paco
Editorial, 2012. Capítulo 3, p. 63-75.
Resumo
Tomando por base os postulados de Louis Hjelmslev, este artigo objetiva apresentar
um modelo de leitura que venha a propiciar os primeiros contatos do não-iniciado com
pressupostos da teoria semiótica greimasiana, bem como contribuir para a formação de
leitores competentes de textos.
Introdução
2 Há pelo menos três grandes teorias semióticas: a de Charles Sanders Peirce (EUA), a de
Algirdas Julien Greimas (França) e a de Iuri Lotman (Rússia).
Se o signo é o resultado de uma semiose, união de materialidade (a substância) e o
conceito (a forma), um texto pode ser entendido como um grande signo constituído por
outros signos menores. O morfema, por exemplo, é apenas o signo mínimo. Na perspectiva
da formulação de Hjelmslev, a semiótica alarga o conceito de texto. “Assim, as frases são
signos, os textos são signos, qualquer produção humana dotada de sentido é um signo.”
(Fiorin, 2002: 60)
O percurso de leitura que vamos pôr em prática leva em conta que os dois planos de
linguagem estão presentes em todos os textos, vistos os textos, conforme quer Hjelmslev,
como signos. Relacionam-se, ambos, de maneira interdependente, não podendo existir um
sem o outro. Com base nesta ideia de relação – princípio também adotado pela semiótica
greimasiana, teoria para a qual “relação” é a palavra-chave – é que o modelo se constrói. A
divisão dos dois planos será feita apenas para efeito didático, porque plano de expressão e
plano de conteúdo devem ser entendidos em conjunto.
Considerando que o plano de expressão constitui-se da materialidade através da
qual o texto se apresenta – no caso, por meio de signos verbais – propomos investigá-lo em
três níveis: o fonológico, o morfológico e o sintático. O conjunto perceptível de elementos
linguísticos sustenta um discurso. Esse discurso compreende o plano de conteúdo, plano
que, segundo nossa proposta, deverá comportar um exame em nível semântico.
Convém lembrar que o sentido de um texto, longe de ser uma mera decodificação de
letras, palavras e frases, implica uma estreita relação entre texto, leitor e contexto, pois
permeiam o ato de ler valores sociais, históricos e ideológicos.
Segundo Barros (2003: 188): “o texto se organiza e produz sentidos, como um
objeto de significação, e também se constrói na relação com os demais objetos culturais,
pois está inserido em uma sociedade, em um dado momento histórico”. Daí a ser
determinado ideologicamente como um objeto de significação.
Nenhum texto é peça isolada, nem a pura manifestação da individualidade de quem
o produziu. Constrói-se um texto para, através dele, marcar-se uma posição. E cada leitor, a
partir da sua experiência e conhecimento de mundo, interage com o universo textual,
desencadeia estratégias várias para elaborar sentidos, associa ao texto que lê outras
experiências de leitura.
Estabelecendo relações, traçando, progressivamente, um próprio percurso, um
leitor, constrói, enfim, uma autonomia, face ao que lê. O leitor deve ser um agente ativo no
processo de construção de sentidos. Dessa interação entre texto, autor, leitor e contexto
surge o leitor crítico.
Para realizar este trabalho, foi selecionado um conto da escritora Marina Colasanti,
da obra Contos de amor rasgados, publicada em 1986, pela Editora Rocco. A escolha foi
feita em função da brevidade do texto, o que permite uma análise menos extensa de uma
narrativa que contém todos os elementos de que necessitamos para um exame mais
completo. Afora isso, como veremos no desenvolvimento deste trabalho, o texto eleito é a
materialização de um discurso, no qual circulam valores que estão cada vez mais
enraizados na vida em sociedade.
Cientes da existência de correntes anti-historicistas que, diante de questões
relacionadas à zona de produção – a autoria – e à zona de produto – o texto em si –
defendem a ideia de que, no contexto, o autor está antes e fora do texto e que qualquer
referência ao autor é uma ingerência do extratextual ao textual, mantemos uma posição
historicamente formulada. Entendemos, sim, que o autor textual não coincide, nem
necessária nem totalmente, com o autor empírico e que nesse movimento criam-se relações
complexas de partilha e alteridade, mas que o autor, sujeito de carne e osso, e instância
narradora mantêm relações cuja pertinência e funcionalidade não podem ser desdenhadas.
Nessa visão – historicamente situada, sublinhamos – julgamos importante tratar da autoria.
Marina Colasanti é uma escritora e jornalista ítalo-brasileira. Nasceu em Asmara,
Etiópia, na então colônia italiana de Eritréia. Viveu sua infância na África e, ainda criança,
sua família voltou para a Itália, onde morou por onze anos. Chegou ao Brasil em 1948, aqui
estudou belas-artes e trabalhou como jornalista. Nessa área, foi redatora do Jornal do
Brasil, assinou seções nas revistas Senhor, Fatos&Fotos, Ele e Ela, Fairplay, Claudia e
Jóia. Na televisão, atuou como entrevistadora e foi âncora de programa cinematográfico.
Traduziu importantes textos da literatura italiana. Em 1968, foi lançado seu primeiro
livro, Eu Sozinha. Desde então, publicou mais de 35 livros, entre contos, poesia, prosa,
literatura infantil e infanto-juvenil. Em 1994, ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia, por Rota
de Colisão, e o Prêmio Jabuti Infantil ou Juvenil, por Ana Z, aonde vai você? Por Uma
ideia toda azul, livro de contos, ganhou o prêmio O Melhor para o Jovem, da Fundação
Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Em 2010, recebeu o Prêmio Jabuti pelo livro
Passageira em trânsito.
É uma constante na obra da escritora o uso de elementos simbólicos e é importante
que seu leitor perceba como se dá a tessitura dessas imagens simbólicas na construção de
seus textos que, de forma significativa, adentram o fantástico.
O conto
COLASANTI, Marina. Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. p. 131.
A análise
Plano de Expressão
Nível Fonológico
Nível Morfológico
Nível Sintático
Plano de Conteúdo
Considerações finais
A tradição escolar tem-nos mostrado que uma atividade de leitura em sala de aula,
muito frequentemente, é concluída com perguntas do tipo “O que você acha que o autor
quis dizer com este texto?”. Conduzir leitura não é dar ao leitor o poder de atribuir ao que
leu o significado que lhe convém, até porque ler não é nem só atribuir sentidos, nem só
captar sentidos, mas construir sentidos na interação com o texto.
Como aponta FIORIN (2001: 81), há diferentes possibilidades de se interpretar um
texto. Mas essas possibilidades já estão nele inseridas:
Inúmeras vezes ouvimos dizer que o texto é aberto e que, por isso, qualquer
interpretação de um texto é válida. Quando se diz que um texto está aberto para
várias leituras, isso significa que ele admite mais de uma e não qualquer leitura.
[...] As diversas leituras que o texto aceita já estão nele inscritas como
possibilidades. Isso quer dizer que o texto que admite múltiplas interpretações
possui indicadores dessa polissemia.
Bibliografia consultada:
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Estudos do discurso. In: FIORIN, José Luiz (org.).
Introdução à linguística II: princípios de análise. São Paulo: Contexto, 2003.
FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. 10ª ed; São Paulo: Contexto, 2001.
______. Teoria dos signos. In: FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à linguística I: objetos
teóricos. São Paulo: Contexto, 2002.