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MATERIAL DE APOIO

LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO
AULA 2- GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS

Profª Ma. Nilce Lucchese

Campo Grande, MS
2021

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SUMÁRIO

AULA 1- TEXTUALIDADE

AULA 3- LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

AULA 2- GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS

AULA 4- DIMENSÃO DISCURSIVA DA LINGUAGEM/CONTRIBUIÇÃO PARA A VIDA

PROFISSIONAL

AULA 5- LÍNGUA ESCRITA: USOS E FORMAS. NOÇÕES BÁSICAS DE COESÃO E

COERÊNCIA,

AULA 6- PADRÃO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO

AULA 7- ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ACADÊMICO CIENTÍFICO

AULA 8- MÉTODO CIENTÍFICO E NATUREZA DO CONHECIMENTO

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GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS
Aula “Gêneros não são apenas formas. Gêneros são formas de vida, modo de ser. São frames
02 para a ação social. São ambientes para aprendizagem. São lugares onde o sentido é
construído. Os gêneros moldam os pensamentos que formamos e as comunicações
através das quais interagimos. Gêneros são os lugares familiares para onde nos dirigimos
para criar ações comunicativas inteligíveis uns com os outros e são os modelos que
G utilizamos para explorar o não-familiar”.
Charles Bazerman, 2006
Ê
N
E No dia a dia é comum compartilharmos nossas experiências de trabalho em
reuniões, com os amigos e familiares. Desde o momento em que acordamos a
R
interação se inicia, seja por palavras, gestos, imagens, ícones, entre outras.
O São ações pelas quais podemos tornar nossas intenções e sentidos
S inteligíveis para os outros. Como resultado, o gênero dá forma a essas ações, um
meio de agência e não pode ser ensinado desvinculado da ação e situações

E motivadoras e significativas, assim são estudados por Bazerman (2006) como


“formas de vida”, “modo de ser”, “ação social”.
Nesse aspecto, reafirmamos, os gêneros jamais se desvinculam do caráter
T dinâmico e interativo em que pessoas ao realizarem coisas por meio da escrita, da
I fala, da imagem; em um mundo de constante mudança, praticam uma diversidade
P de gêneros. Portanto, essa teoria precisa incorporar-se a criatividade
improvisatória das pessoas na interpretação de suas situações, na identificação de
O
suas metas e no uso de novos recursos para alcançá-las.
S Assim, o objetivo dessa aula é apresentar uma visão interacional de gêneros
e tipos textuais, para fazer com que mais tipos de escrita se tornem significativas e
T proporcionem mais motivação para a leitura e produção.

E
X
T
U
A
I
S

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SEÇÃO 1: GÊNEROS E TIPOS DE TEXTO

Lucília Helena do Carmo Garcez


(texto adaptado)

• Qual o objetivo do texto?

• Quem serão os leitores?

• Como será estruturado?

• Quais as informações que vão compor o texto?

-CONTEXTUALIZAÇÃO E FINALIDADES

Durante muito tempo a noção de gênero se restringia às obras de natureza literária e se


circunscrevia a três formas básicas: o épico, o lírico e o dramático.
Com as reflexões teóricas, desenvolvidas principalmente por Bakhtin, compreendeu-se
que a língua é uma forma de ação social e histórica, e que todas as práticas sociais
comunicativas se realizam por meio de formas verbais relativamente estáveis: os gêneros.
Assim, sempre que ocorre uma comunicação verbal oral ou escrita, ela se enquadra em um
gênero.
Essas formas verbais são construções sócio-históricas que se estabelecem naturalmente
pela coletividade, ou seja, não são criações individuais ou voluntárias. Constituem eventos
discursivos maleáveis, dinâmicos que se delineiam e se estruturam conforme a situação e os
objetivos específicos do momento, e são realizados em práticas comunicativas concretas.
Os gêneros surgem, desaparecem e misturam-se, constituindo uma lista infinita de
possibilidades discursivas. Não há gêneros puros, pois eles se organizam de forma híbrida. Um
artigo de opinião pode ser também uma resenha crítica, por exemplo. Caracterizam-se
principalmente por seus aspectos sócio-comunicativos e funcionais. Assim, suas propriedades
funcionais em relação a seus objetivos, seu estilo, sua composição, o suporte ou canal em que
são veiculados, o domínio discursivo ou instância social em que se realizam determinam sua
constituição. Um artigo de opinião sobre um filme, publicado no caderno de artes do jornal,
pode ser classificado como uma resenha, por exemplo.

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Gêneros textuais
São modelos comunicativos que nos
possibilitam gerar expectativas e
previsões para compreender um
texto e, assim, interagir com o outro.
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Fig.1- slide da disciplina de LA

Vamos imaginar que um jornalista queira escrever para um jornal um texto sobre uma
experiência estética que viveu com um bom espetáculo teatral.
Para decidir qual gênero utilizar, antes de começar a escrever, o autor tem de
estabelecer: Qual o objetivo do texto? Quem serão os leitores? Como será estruturado? Quais
as informações que vão compor o texto?

Deve-se decidir também aspectos relativos ao tipo textual predominante e posicionar-se


quanto a:

• Contar acontecimentos (narrar).

Exemplo: Ontem eu fui ao teatro e assisti à peça...

• Apresentar uma reflexão teórica sobre o fato (dissertar).


Exemplo: Ir ao teatro e viver a experiência estética proporcionada pela peça...

• Convencer o seu leitor de seu ponto de vista (argumentar e persuadir).


Exemplo: É imperdível o espetáculo apresentado pelo grupo de teatro....

• Apresentar um resumo da peça (descrever).

Exemplo: Há dois personagens no palco. O cenário é uma sala de estar de uma casa de
aristocratas. Há objetos de valor e o ambiente é luxuoso. O diálogo é cheio de agressividade.

Simultaneamente a essas decisões preliminares, tem de decidir também que ponto de


vista adotar: quer se colocar de alguma forma no texto?

Exemplo: Eu fui ou Nós fomos,...


Ou prefere se distanciar?
Exemplo: Ir ao teatro é uma experiência surpreendente...

Quem vai assistir ao espetáculo... tem a oportunidade de ...


Outra decisão correlacionada às anteriores diz respeito ao nível de linguagem.

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Quer um texto mais subjetivo, coloquial, informal e facilitado, ou quer utilizar uma
linguagem formal, objetiva, distanciada?

Essa decisão vai influir:


• na estrutura da frase, mais simples ou mais complexa;

• na escolha do vocabulário;

• na forma como o autor se dirige ao leitor, citando-o ou não, no texto.

Fig.2- slide da aula de LA

As decisões da escrita estão relacionadas ao objetivo da comunicação e, portanto, sua


opção relativa ao gênero depende de suas escolhas. Pode ser um artigo de opinião, um
depoimento pessoal, uma crônica, uma crítica, uma resenha, uma reportagem, entre outros.
Sempre que produzimos uma forma qualquer de comunicação verbal estamos utilizando
um dos gêneros disponíveis na nossa cultura. Cada gênero já traz em si algumas escolhas
prévias em relação a estruturas básicas de linguagem que são utilizadas pelo redator com certa
flexibilidade.
Os falantes de uma língua assimilam esses formatos porque convivem com eles nas
práticas sociais. Sabem, quase naturalmente, qual é a forma de uma carta, quais são as

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maneiras de começar uma palestra, as diversas possibilidades de participação em uma
conversa, a melhor maneira de contar uma anedota, como relatar um acontecimento...
Ao utilizar um gênero numa comunicação verbal oral ou escrita empregamos tipologias
variadas de texto. Um gênero é composto por sequências tipológicas diversas, sendo que,
geralmente, há um tipo de texto predominante. Enquanto os gêneros são infinitos, os tipos
textuais constituem uma lista restrita.
Assim, em um romance encontramos prioritariamente sequências narrativas, mas há
também sequências descritivas, dialógicas, dissertativas, expositivas e argumentativas
que se sucedem e se entrelaçam compondo o enredo.
Podem mesmo ocorrer sequências injuntivas, como é o caso de Machado de Assis, que
se dirige ao leitor orientando o percurso da leitura: "Sim, leitora castíssima, como diria o meu
finado José Dias, podeis ler o capítulo até ao fim, sem susto nem vexame." Dom Casmurro,
cap. 57.
"A leitora, que é minha amiga e abriu este livro com o fim de descansar da cavatina de ontem
para a valsa de hoje, quer fechá-lo às pressas, ao ver que beiramos um abismo. Não faça isso,
querida; eu mudo de rumo." Dom Casmurro, cap. 119.

TIPOS TEXTUAIS
Os tipos textuais se definem pela natureza linguística intrínseca de sua composição. As
escolhas lexicais, os aspectos sintáticos, o emprego de tempos verbais, as relações lógicas
estabelecidas definem o tipo textual. No tipo textual narrativo predominam verbos no
pretérito passado, há estruturas circunstanciais que indicam acontecimentos, ou seja, ações de
agentes no tempo e no espaço.

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Exemplo: Ontem eu fui ao teatro e assisti a uma peça de Nelson Rodrigues. Os atores se
apresentaram de forma magnífica.
Há descrições narrativas quando os fatos são apresentados no presente,
simultaneamente ao acontecimento, como é o caso da narrativa de um jogo de futebol.

Exemplo: O jogador passa pela esquerda. O artilheiro chuta na direção do gol. O goleiro
abraça a bola.
O tipo textual descritivo se compõe prioritariamente com verbos estáticos no presente ou
no imperfeito e complementos circunstanciais.

Exemplo: O cenário é deslumbrante. Há luxuosos objetos que revelam a época em que se


situa a trama. A sala de estar se compõe de móveis de estilo. Há muitas flores.
A dissertação pode tender à simples exposição de ideias, de informações, de definições
e de conceitos.

Exemplo: As peças de Nelson Rodrigues tratam de denunciar toda a hipocrisia que paira sobre
uma sociedade vítima da repressão sexual. É o seu teatro que abre as portas para a
modernidade na dramaturgia brasileira.
O tipo dissertativo pode tender também à argumentação (tipo dissertativo-
argumentativo), quando organiza as ideias no sentido de persuadir o leitor, de convencê-lo.
Os enunciados (argumentos) atribuem qualidades e informações em relação ao objeto ou
fenômeno de que se fala no sentido de reforçar uma posição, um ponto de vista. Os
argumentos podem ser exemplos, qualidades, depoimentos, citações, fatos, evidências,
pequenas narrativas, dados estatísticos entre outros recursos de convencimento.

Exemplo: É impossível desconhecer que Nelson Rodrigues é o maior dramaturgo brasileiro de


todos os tempos. Foi revolucionário, renovador e ousado em relação ao teatro tradicional. Suas
dezessete peças são sucessivamente reeditadas. Sua obra é frequentemente encenada na
atualidade. Seus textos são os mais estudados nos cursos de Letras.
Os outros tipos textuais podem carregar traços de argumentação, pois numa simples
descrição de personagem, por exemplo, o que se deseja é convencer o leitor das
características selecionadas para definir aquele personagem.
No texto injuntivo há também traços argumentativos, pois há a intenção de convencer o
leitor a desempenhar aquela ação de acordo com as instruções.
O tipo textual injuntivo está centrado no leitor ou no ouvinte. É composto de verbos no
imperativo ou outras formas que incitam à ação, como, por exemplo: é necessário, deve-se, é

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preciso. É predominante em textos didáticos, manuais, guias, receitas e outros gêneros que
transmitem instruções de como realizar alguma ação.
Exemplo: Para chegar ao teatro João Caetano pegue o metrô até a Estação Carioca, siga pela
Rua da Carioca até a Praça Tiradentes.
Esses tipos textuais são utilizados, combinados, entrelaçados e organizados para compor
cada um dos gêneros. Geralmente há um tipo textual predominante que contribui para permitir
que o texto seja classificado como exemplar de um determinado gênero.
Para produzir cada tipo de texto e cada gênero algumas habilidades específicas de
linguagem são necessárias, e muitas delas se desenvolvem durante o período de
escolarização por meio de atividades de leitura, de análise e de produção de textos.
Como já vimos, a lista de gêneros é aberta e pode ser infinita. Observe o quadro abaixo,
em que estão listados alguns dos gêneros mais conhecidos.

Fig.4- tabela de gêneros textuais, Google

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Fig. 5- tabela de gêneros e tipos textuais Google

Podemos considerar que há hipergêneros baseados na situação e no domínio discursivo,


como é o caso da correspondência oficial, que se multiplica em vários subgêneros (ofício,
memorando, ata, parecer, requerimento etc.); e da redação escolar, que pode se realizar em
diversos gêneros mais específicos.
Há hipergêneros também quanto à estrutura formal, como é do caso da carta, que pode
se realizar com vários objetivos diferentes: carta familiar, carta comercial, carta de amor, carta
de leitor etc.
Muitos dos gêneros são limítrofes e pertencem a mais de uma classificação. Uma aula,
por exemplo, pode ter natureza instrucional, expositiva, argumentativa ou interativa. Pode
se confundir com palestra ou com entrevista, como é o caso das arguições empreendidas pelo
professor com os alunos. Um artigo de opinião pode também ser considerado uma crítica
literária, se seu objeto for um romance e estiver publicado em um veículo dedicado à literatura.
Uma redação escolar pode se aproximar de um artigo de opinião e de um editorial. Muitas
vezes os gêneros se definem pela situação em que se realizam, pela instância discursiva a que
estão vinculados.
Assim, não é importante, e provavelmente muitas vezes nem seja possível, uma
classificação rigorosa de um texto como pertencente exclusivamente a um gênero específico.
No universo escolar, que é um ambiente de aprendizagem, alguns gêneros podem ser
estudados e praticados apenas com esse objetivo, pois estão distantes do objetivo
comunicacional e da situação original em que ocorrem na vida real. Os professores devem

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trabalhar com exemplos que permitem uma simplificação de categorias classificatórias para
que os alunos tenham uma aproximação didática, de forma antecipada, a cada um dos gêneros
mais importantes que circulam nas práticas sociais.
É muito importante esclarecer qual é o seu objetivo, qual o seu funcionamento
pragmático, em que prática comunicativa ocorre, quais são as suas características essenciais,
de que sequências tipológicas é formado, quais as habilidades de linguagem que exige.
Sempre que possível, o professor deve aproveitar as situações reais da escola para exercitar
gêneros específicos, tais como: carta ao diretor fazendo alguma reivindicação, carta de
congratulações para um colega, abaixo-assinado solicitando alguma providência, artigos e
resenhas para o jornal escolar, entre muitos outros.

AFINAL, TIPOS OU GÊNEROS TEXTUAIS?

Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de construção teórica
definida pela natureza linguística de sua composição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos
verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de
categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção.

Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir
os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam
características sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e
composição característica. Se os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são
inúmeros. Alguns exemplos de gêneros textuais seriam: telefonema, sermão, carta
comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva,
reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de
remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito
policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta
eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante.

Gêneros textuais Tipos textuais


Romance Narração (predominância)
Resenha Descrição (predominância)
Edital de concurso Informativo/expositivo
Manual de instrução Injuntivo

Fig.6- Exemplo de tipos e gêneros textuais

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Os gêneros possuem finalidade própria e estes, por sua vez, podem ser expressados
por diferentes instrumentos. Os gêneros do discurso permitem capturar, para além de aspectos
estruturais presentes em um texto, também possuem aspectos socio-históricos e culturais, cuja
conconsciência é fundamental para favorecer os processos de compreensão e produção de
textos. Pode-se inferir sobre o contexto histórico e social através de um gênero.
Os gêneros textuais nos permitem concretizar um pouco mais a que forma de dizer em
circulação social estamos nos referindo, permitindo parâmetros mais claros para compreensão
e produção de textos.
Segundo Bakhtin (1997) e do seu grupo Círculo de estudos “A língua materna, seu
vocabulário e sua estrutura gramatical, não conhecemos por meio de dicionários ou manuais
de gramática, mas graças aos enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos na
comunicação efetiva com as pessoas que nos rodeiam". Nessa concepção, a língua só existe
em função do uso que locutores (quem fala ou escreve) e interlocutores (quem lê ou escuta)
fazem dela em situações (prosaicas ou formais) de comunicação.
O ensinar, o aprender e o empregar a linguagem passam necessariamente pelo sujeito, o
agente das relações sociais e o responsável pela composição e pelo estilo dos discursos. Esse
sujeito se vale do conhecimento de enunciados anteriores para formular suas falas e redigir
seus textos. Além disso, um enunciado sempre é modulado pelo falante para o contexto social,
histórico, cultural e ideológico. Caso contrário, ele não será compreendido.
Um dos aspectos mais inovadores dos estudos de Bakhtin foi enxergar a linguagem
como um constante processo de interação mediado pelo diálogo - e não apenas como um
sistema autônomo. Nessa relação dialógica entre locutor e interlocutor no meio social, em que
o verbal e o não-verbal influenciam de maneira determinante a construção dos enunciados,
outro dado ganhou contornos de tese: a interação por meio da linguagem se dá num contexto
em que todos participam em condição de igualdade. Aquele que enuncia seleciona palavras
apropriadas para formular uma mensagem compreensível para seus destinatários. Por outro
lado, o interlocutor interpreta e responde com postura ativa àquele enunciado, internamente
(por meio de seus pensamentos) ou externamente (por meio de um novo enunciado oral ou
escrito).
Nesse sentido, a organização do planejamento pedagógico pressupõe a reflexão sobre a
linguagem a partir de temáticas que exploram os diferentes gêneros discursivos e tipos de
textos, com o objetivo de analisar as práticas de linguagem, ou seja, leitura, análise linguística
e produção textual.
Os gêneros textuais
Para Porto (2009) os gêneros textuais são “modelos” de textos que circulam, socialmente
e que estabelecem formas próprias de organização do discurso. Segundo Bakhtin (1997,
p.179), são caracterizados pelo conteúdo temático, pelo estilo e pela construção composicional,

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que numa esfera de utilização apresentam tipos relativamente estáveis de enunciados, tais
como o conto, o relato, o texto de opinião, a entrevista, o artigo, o resumo, a receita, a conta de
luz, os manuais, entre outros. A escolha do gênero depende do contexto imediato e,
consequentemente, da finalidade a que se destina, dos destinatários e do conteúdo.
Segundo Marcuschi (2002), os gêneros textuais são fenômenos históricos,
profundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros
contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia a dia. São entidades
sóciodiscursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa.
Hoje contamos com uma diversidade infinita de gêneros. (...) os gêneros não são
instrumentos estanques e enrijecedores da ação criativa. Caracterizam-se como eventos
textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos”. Em nossas práticas comunicativas,
fazemos uso de inúmeros gêneros textuais, considerando-se o contexto, o tema, a relação
entre os interlocutores, etc.
São exemplos de gêneros textuais: diálogo face a face, bilhete, carta (pessoal, comercial,
etc.), receita culinária, horóscopo, artigo, romance, conto, novela, cardápio de restaurante, lista
de compras, aula virtual, piada, resenha, inquérito policial, ofício, requerimento, ata, relatório, o
bate-papo on-line (MSN), blog, twitter (micro blog), Facebook, mensagens SMS (celular),
Whatsapp, etc.
Bakhtin evidencia inúmeras maneiras de interação entre a humanidade, nas mais
variadas atividades sociais: vendendo, comprando, trabalhando, brincando, se divertindo, etc.
O gêneros são instrumentos dessas práticas. Ele classifica os gêneros em:
Primários: são simples e procedem da comunicação verbal espontânea (diálogos, cartas);
Secundários: frutos de uma comunicação cultural mais evoluída e mais complexa: romance,
discurso científico, teatro, etc. O trabalho com a diversidade de gêneros textuais possibilita o
confronto de diferentes discursos sobre a mesma temática e ainda, permite uma metodologia
“interdisciplinar com atenção especial para o funcionamento da língua e para as atividades
culturais e sociais” (MARCUSCHI, 2005, p.18).
Além disso, contribui para que o aluno perceba a organização e os elementos de
construção dos diferentes gêneros ou tipos textuais para que possa reconhecer a finalidade, as
características e produzir textos, seja do tipo narrativo, descritivo, argumentativo ou expositivo,
entre outros. Já se tornou trivial a ideia de que os gêneros textuais são fenômenos históricos,
profundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros
contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia a dia.
Quanto a esse último aspecto, uma simples observação histórica do surgimento dos
gêneros revela que, numa primeira fase, povos de cultura essencialmente oral desenvolveram
um conjunto limitado de gêneros. Após a invenção da escrita alfabética por volta do século VII
A. c., multiplicam-se os gêneros, surgindo os típicos da escrita. Numa terceira fase, a partir do

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século XV, os gêneros expandem-se com o florescimento da cultura impressa para, na fase
intermediária de industrialização iniciada no século XVIII, dar início a uma grande ampliação.
Hoje, em plena fase da denominada cultura eletrônica, com o telefone, o gravador, o rádio, a
TV e, particularmente o computador pessoal e sua aplicação mais notável, a internet,
presenciamos uma explosão de novos gêneros e novas formas de comunicação, tanto na
oralidade como na escrita. Eles surgem, situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas
em que se desenvolvem.
Pode-se constatar por meio dos dois últimos séculos que as novas tecnologias, em
especial as ligadas à área da comunicação, contribuíram e propiciaram o surgimento de novos
gêneros textuais. Por certo, não são propriamente as tecnologias, por si só, que originam os
gêneros e sim a intensidade dos usos dessas tecnologias e suas interferências nas atividades
comunicativas diárias.
Os novos gêneros não são totalmente inovações pois todos tem uma ancoragem em
outros gêneros já existentes. O fato já fora notado por Bakhtin [1997] que falava na
'transmutação' dos gêneros e na assimilação de um gênero por outro gerando novos. Ex.: a
diferença entre uma conversação face a face e um telefonema, com as estratégias que lhe são
peculiares. O e-mail (correio eletrônico) gera mensagens eletrônicas que têm nas cartas
(pessoais, comerciais, etc.) e nos bilhetes os seus antecessores. Contudo, as cartas
eletrônicas são gêneros novos com identidades próprias.

MAIS TIPOS TEXTUAIS

Segundo Marcuschi (2002), a tipologia textual é um termo que deve ser usado para
designar uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua
composição.
Em geral, os tipos textuais abrangem as categorias narração, argumentação, exposição,
descrição e injunção. Segundo ele, o termo tipologia textual é usado “para designar uma
espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição
(aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas).
Observe a tabela de Werlich (1973) a seguir, a qual propõe uma matriz de critérios,
partindo de estruturas linguísticas típicas dos enunciados que formam a base do texto. Werlich
toma a base temática do texto representada ou pelo título ou pelo início do texto como
adequada à formulação da tipologia.
Assim, são desenvolvidas as cinco bases temáticas textuais típicas que darão origem
aos tipos textuais:

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Algumas observações sobre os tipos textuais, em geral, a expressão "tipo de texto",
muito usada nos livros didáticos e no nosso dia a dia, é equivocadamente empregada e não
designa um tipo, mas sim um gênero de texto. Quando alguém diz, por exemplo, "a carta
pessoal é um tipo de texto informal!", ele não está empregando o termo "tipo de texto" de
maneira correta e deveria evitar essa forma de falar. Uma carta pessoal que você escreve para
sua mãe é um gênero textual, assim como um editorial, horóscopo/ receita médica, bula de
remédio, poema, piada, conversação casual, entrevista jornalística, artigo científico, resumo de
um artigo, prefácio de um livro.
É evidente que em todos estes gêneros também se está realizando tipos textuais,
podendo ocorrer que o mesmo gênero realize dois ou mais tipos. Assim, um texto é em geral
tipologicamente variado (heterogêneo).
Veja-se o caso da carta pessoal, que pode conter uma sequência narrativa (conta uma
história), uma argumentação (argumenta em função de algo), uma descrição (descreve uma
situação) e assim por diante.

Já que mencionamos o caso da carta pessoal, tomemos este breve exemplo de uma
carta entre amigos. Aqui foram suprimidos alguns trechos e mudados os nomes e as siglas
para não identificação dos atores sociais envolvidos:

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Exemplo: Carta pessoal

É notável a variedade de sequências tipológicas nessa carta pessoal, em que


predominam descrições e exposições, o que é muito comum para esse gênero. Não há espaço
aqui para maiores detalhes, mas esse modo de análise pode ser desenvolvido com todos os
gêneros e, de uma maneira geral, vai-se notar que há uma grande heterogeneidade tipológica
nos gêneros textuais.
Portanto, entre as características básicas dos tipos textuais está o fato de eles serem
definidos por seus traços linguísticos predominantes. Por isso, um tipo textual é dado por um
conjunto de traços que formam uma sequência e não um texto.
A rigor, pode-se dizer que o segredo da coesão textual está precisamente na habilidade
demonstrada em fazer essa "costura" ou tessitura das sequências tipológicas como uma
armação de base, ou seja, uma malha infra estrutural do texto.
Como tais, os gêneros são uma espécie de armadura comunicativa geral preenchida por
sequências tipológicas de base que podem ser bastante heterogêneas mas relacionadas entre
si. Quando se nomeia um certo texto como "narrativo", "descritivo" ou "argumentativo", não se

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está nomeando o gênero e sim o predomínio de um tipo de sequência de base. Um elemento
central na organização de textos narrativos é a sequência temporal. Já no caso de textos
descritivos predominam as sequências de localização. Os textos expositivos apresentam o
predomínio de sequências analíticas ou então explicitamente explicativas. Os textos
argumentativos se dão pelo predomínio de sequências contrastivas explícitas. Por fim, os
textos injuntivos apresentam o predomínio de sequências imperativas.
Se voltarmos agora ao exemplo da carta pessoal apresentada anteriormente, veremos
que cada uma daquelas sequências lá identificadas realiza os traços linguísticos aqui
apresentados. Não é difícil tomar os gêneros textuais e analisá-los com esses critérios,
identificando-lhes as sequências.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade. Disponível em:.


Adaptado Acesso em 03 jul. de 2018.

NOÇÕES E FINALIDADES DOS GÊNEROS E TIPOS TEXTUAIS

À medida que a sociedade se modifica, novos gêneros surgem mediante uma


necessidade sóciocomunicativa e atratividades exercidas pela mídia eletrônica, dentre outras.
Em relação à questão da linguagem utilizada no ambiente virtual, observamos diversas
modificações na forma escrita; a escrita digital é muito diferente da escrita formal, devido à
necessidade de comunicação no mais curto espaço de tempo possível, em ambientes
síncronos com vários interlocutores; expressa também o caráter “falado” ao que
compulsoriamente tem de ser escrito, além de proporcionar uma grande interação e criar
vínculos afetivos entre os usuários.
Segundo Fiorin (2008, p. 65):

Não só cada gênero está em incessante alteração; também está em contínua


mudança seu repertório, pois, à medida que as esferas de atividade se
desenvolvem e ficam mais complexas, gêneros desaparecem ou aparecem,
gêneros diferenciam-se, gêneros ganham um novo sentido. Com o
aparecimento da internet, novos gêneros surgem: o chat, o blog, o mail, etc.

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Com isso, a escrita digital tem que ser breve e concisa, ou seja, uma escrita abreviada
que causa modificações no próprio ato de ler e de escrever das crianças e dos jovens.

Caso possa interessar, livros que encontrei sobre a linguagem corporal:

SOBRE A FORÇA ARGUMENTATIVA DAS CHARGES:

Gênero textual relacionado com o humor, as charges constroem seus significados a partir
da relação entre linguagem verbal e não verbal.
A charge é um tipo de ilustração que geralmente apresenta um discurso humorístico e
está presente em revistas e principalmente jornais. Trata-se de desenhos elaborados por
cartunistas que captam de maneira perspicaz as diversas situações do cotidiano, transpondo
para o desenho algum tipo de crítica, geralmente permeada por fina ironia.

Mas o que tem a charge a ver com a linguagem? A resposta para essa pergunta é: Tudo!
A charge não se resume a uma imagem, engana-se quem acha que ela nada mais é do que
uma piada gráfica. Não é por acaso que elas são normalmente publicadas em meio a artigos
de opinião e cartas de leitores. A charge constitui um gênero textual interessante, que combina
a linguagem verbal e a não verbal, e pode indicar opiniões e juízos de valores por parte de

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quem enuncia (o chargista). Também não é por acaso que cada vez mais as charges estejam
presentes nos diversos vestibulares como objeto de análise.

Fig. 7 Charge de Duke utiliza as linguagens verbal e não verbal para tecer uma crítica social e
política. Disponível em http://dukechargista.com.br/

Fig. 8- Charge do cartunista Angeli, publicada na Folha de São Paulo em 14 de maio de 2000 e texto-
base para questão do Enem do mesmo ano

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Fig. 9- Charge do cartunista Henfil, texto-base para questão da prova de Geografia da Fuvest em 2012

Fig. 10 A charge de Nani faz uma crítica severa através da linguagem não verbal. Disponível em
http://www.chargeonline.com.br/doano.htm

20
Fig.11- Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-
fLrE52Ov4Rc/UCAWrVfcdyI/AAAAAAAAAeg/qmAmVTwuijE/s1600/trai.jpg>. Acesso em 19 jun. 2013.

Fig.12 Disponível em: <http://joaopaulosampaio.files.wordpress.com/2011/02/charge70.jpg>. Acesso em 19


jun. 2013.

21
Fig.13- Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-7GkQ70iY3LM/UFtxJ8yTXQI/AAAAAAAAAAw/SKlD0-
LUjj4/s1600/charge_cristo_rio_de_janeiro.jpg>. Acesso em 19 jun. 2013

Fig.14-Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/portugues/como-interpretar-imagens

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Fig. 15 Disponível em:https://brainly.com.br/tarefa/10941403

A ARGUMENTAÇÃO E O DISCURSO

Usamos a expressão domínio discursivo para designar uma esfera ou instância de


produção discursiva ou de atividade humana. Esses domínios não são textos nem discursos,
mas propiciam o surgimento de discursos bastante específicos.
Do ponto de vista dos domínios, falamos em discurso jurídico, discurso jornalístico,
discurso religioso etc., já que as atividades jurídica, jornalística ou religiosa não abrangem um
Gênero em particular, mas dão origem a vários deles. Constituem práticas discursivas dentro
das quais podemos identificar um conjunto de gêneros textuais que, às vezes lhe são próprios
(em certos casos exclusivos) como práticas ou rotinas comunicativas institucionalizadas. Veja-
se o caso das jaculatórias, novenas e ladainhas, que são gêneros exclusivos do domínio
religioso e não aparecem em outros domínios. Tome-se este exemplo de uma jaculatória
praticada por pessoas religiosas. Ex.:

Senhora Aparecida, milagrosa padroeira, sede nossa guia nesta mortal carreira! a
Virgem Aparecida, sacrário do redentor, dai à alma desfalecida vosso poder e valor. A
Virgem Aparecida, fiel e seguro norte, alcançai-nos graças na vida, favorecei-nos na
morte!
(In: Rezemos o Terço. Aparecida} Editora Santuário, 1977, p.54)

Deve-se ter o cuidado de não confundir texto e discurso como se fossem a mesma coisa.
Embora haja muita discussão a esse respeito, pode-se dizer que texto é uma entidade concreta
realizada materialmente e corporificada em algum gênero textual. Discurso é aquilo que um

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texto produz ao se manifestar em alguma instância discursiva. Assim, o discurso se realiza
nos textos. Em outros termos, os textos realizam discursos em situações institucionais
históricas, sociais e ideológicas.
Os textos são acontecimentos discursivos para os quais convergem ações linguísticas,
sociais e cognitivas} segundo Robert de Beaugrande (1997).
Pode-se observar que a definição dada aos termos aqui utilizados é muito mais
operacional do que formal:
• Tipo textual - predomina a identificação de sequências linguísticas típicas como
norteadoras;
• Gênero textual - predominam os critérios de ação prática, circulação sócio-históricas,
funcionalidade, conteúdo temático, estilo e composicionalidade;
• Domínios discursivos - são as grandes esferas da atividade humana em que os textos
circulam.

A ARGUMENTAÇÃO NO TEXTO PUBLICITÁRIO


A publicidade é uma mensagem paga, veiculada nos meios de comunicação (mídia), que
cristaliza uma marca comercial, para um público-alvo (consumidor) previamente selecionado,
utilizando recursos linguísticos de ordenação, persuasão e sedução, através de apelos
racionais e emocionais. Toda a estrutura publicitária multimodal sustenta uma argumentação
icônico-linguística.
O anúncio publicitário compreende uma forma de diálogo com uma relação assimétrica
na qual o locutor, embora use o imperativo, transmite uma mensagem alheia a si próprio. O
verdadeiro produtor permanece ausente da cena enunciativa assim como seu interlocutor; este
é atingido pela intenção do produtor, sem ter direito de tomar seu torno nesse diálogo.
No que se refere às relações interpessoais das condições de produção discursiva,
SANT’ANNA (2011) afirma que o anúncio publicitário é o que vende um produto para ser
consumido; já a propaganda vende serviços. No Brasil, de forma geral, os serviços são
vendidos como produtos; logo, termo publicidade abarca a propaganda. Para o autor, esse
anúncio cria para seu auditório uma necessidade que será satisfeita, em pouco tempo e com
pouco custo, com o consumo do produto anunciado.
Para tanto, impõe, nos explícitos e implícitos, valores, mitos, ideais e outras elaborações
simbólicas, utilizando recursos multimodais que lhe servem de veículo. O principal recurso
utilizado no anúncio publicitário é a argumentação que, por meio da especificidade do seu
discurso, produz efeitos de sentido, visando alcançar seu maior objetivo, persuadir e aludir o
público-alvo à aquisição do referido produto ou serviço em questão ou mesmo uma simples
mudança de pensamento/comportamento.

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A argumentação é o direcionamento que o locutor faz, com o objetivo de levar seu
interlocutor a chegar à conclusão que ele deseja.
Segundo CITELLI (2003, p.7-8), [...] Convencer e persuadir, através do arranjo dos
diversos recursos oferecidos pela língua. é, numa formulação muito simples, a marca
fundamental do texto argumentativo. Percebe-se, nessa medida, por que a linguagem é uma
forma de ação e os textos argumentativos são modalidade onde se exerce com maior vigor a
persuasão.
A argumentação e o gênero textual-discurso anúncio publicitário impresso

Os textos diferenciam-se entre si pelos gêneros textuais- discursivos, decorrentes dos


usos que esses textos têm em sociedade, ou seja, como formas discursivas que são ligadas às
esferas da vida social. Segundo estudiosos do gênero, as pesquisas devem ser realizadas para
responder a seguinte pergunta: Por que os membros discursivos constroem textos da maneira
como são feitos?
Os resultados obtidos das análises indicam que a estrutura persuasiva do anúncio
publicitário multimodal impresso está baseada nos princípios aristotélicos: o apelo à emoção, o
oferecimento da prova e o apelo à credibilidade do comunicador.
O apelo à emoção, na verdade, é um apelo por valores, isto é, aquilo que os
consumidores valorizam e que estão procurando nos produtos. Eles decorrem de fatos
socioculturais, cuja produção de sentidos se faz através do senso comum, compartilhado, ou
seja, cognoscível entre anunciante e público-alvo.
No texto, a cognição social é selecionada como o valor positivo atribuído ao “sucesso
comercial”, pois no atual contexto sócio-histórico brasileiro ocorre o predomínio de crise
econômica e política. A seleção é feita para expressar “conte com a gente para ter a economia
que seu negócio precisa”. O oferecimento de provas é a afirmação das razões ou evidências de
por que o produto trará os benefícios que promete; é uma afirmação das características do
produto.
A inter-relação das imagens com o verbal constroem o oferecimento de provas para que
o apelo à emoção seja aceito. As imagens usando internet estão obtendo sucesso na sua
comunicação online, dando a elas “a felicidade”. Essas imagens complementam os segmentos
verbais das predicações e da ancoragem do texto.

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As pessoas compram o que você apresenta e não o que você sabe

Todos nós devemos ter em mente que só temos uma chance de causar uma primeira boa
impressão e todo designer ou criativo deve saber que não é apenas o seu trabalho que deve garantir
bons negócio. Segundo Kress e van Leeuwen (2001), o texto multimodal oferece várias

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orientações de leitura, dependendo da distribuição e do tamanho das imagens, sua nitidez, suas
cores e figura e fundo. Tratar das cognições sociais implica tratar de valores e de ideologia que estão
presentes no discurso publicitário.
Segundo Almeida (2001), o anúncio publicitário tem por objetivo primário o de convencer o
consumidor que se ele adquirir o produto anunciado, sua satisfação e prazer será atingido, ou seja, é
atingida a máxima da necessidade humana de adquirir um bem tão almejado, na busca incessante
da felicidade plena.
Partimos do pressuposto de que a linguagem publicitária é, por si só, argumentativa. Carvalho
(2007) ressalta que todo enunciado é argumentativo por essência, ou seja, ele tenta intervir
persuasivamente no destinatário, a fim de mudar suas crenças, suas atitudes, seus valores, dentre
outros. Na linguagem publicitária essa afirmativa torna-se evidente e marcada, pois "os enunciados
que compõem a mensagem publicitária potencializam essa tendência, e para isso contam com os
recursos cotidianos da língua, acrescidos daqueles que decorrem da preocupação estética"
(CARVALHO, 2007, p.94).
O que caracteriza a publicidade, essencialmente, é o uso da linguagem retórica, aquela que
objetiva convencer e persuadir. Para conseguir conquistar o consumidor, além de apresentar as
informações sobre o produto ou serviço o qual se oferece a linguagem publicitária tenta convencer o
leitor, levando-o a aderir a uma tese que, quase sempre, é comprar um produto ou criar uma atitude
frente ao serviço que está sendo vendido, mesmo quando não há a necessidade disso.
Por isso, é extremamente importante conseguir ler nas entrelinhas, isto é, perceber o sentido
implícito de uma mensagem em um anúncio publicitário, por exemplo. Os textos publicitários
merecem uma leitura crítica e inteligente do consumidor.

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SEÇÃO 2: PERSUASÃO

Para saber mais sobre persuasão, leia o livro na íntegra. Ele é parte da nossa
bibliografia básica.

Segue o resumo da obra

por Daniela da Silveira Miranda*


* Pós-Graduanda - Especialização em Língua Portuguesa - Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-SP). 116 As técnicas argumentativas são as chamadas definições e são
.
A ARTE DE ARGUMENTAR
ABREU, Antônio Suárez
Cotia: Ateliê Editorial, 2006.

Antônio Suárez Abreu, em sua obra A arte de argumentar, detém-se a levar aos leitores o
conhecimento acerca das estratégias argumentativas. Oferece uma leitura prazerosa e
simplificada para quem quer saber um pouco a respeito do assunto. Primeiramente, parte da
explicação da palavra argumentar que é "obter aquilo que queremos, mas de modo cooperativo
e construtivo" (p.10), desmistificando o senso comum que permite o significado de que
argumentar é vencer alguém.
Segundo o autor, o ato de transformar as informações recebidas pelos diversos meios é
mais importante que as próprias informações pois, desta forma, pode-se perceber uma
manipulação, uma visão distorcida acerca de um assunto.
Assim, deve-se aprender a gerenciar as informações que são veiculadas no meio de
comunicação. Abreu também observa que há de se aprender gerenciar as relações com o
outro, uma vez que não podemos viver isolados, sem contato com a sociedade. Partindo
deste pressuposto, se vivemos em sociedade e compartilhamos relações, necessitamos,
assim, da argumentação para convencer e persuadir o outro.
Persuadir, para o autor, é "falar à emoção" (p.25) e convencer é "falar à razão" (p.25);
logo, a argumentação é o ato de convencer o outro por meio do gerenciamento da informação,
já que usamos argumentos racionais, e persuadir por meio do gerenciamento da relação, pois
presumimos os valores do outro.
O autor aponta que há de se ter um ponto referencial, ou seja, uma tese a ser defendida
e ela, por conseguinte, deve ser resposta a alguma pergunta já pré-formulada. O outro, aquele
a quem devemos convencer, deve entender nossa comunicação, por isso, devemos nos utilizar
de uma linguagem pertinente ao público e termos um contato positivo com ele, observarmos
com atenção o que ele diz e como age, ser honestos, éticos e transparentes para mantermos
uma relação favorável com o público. Tecnicamente, toda argumentação estabelece um elo da
tese de adesão inicial com a tese principal.
As técnicas podem ser divididas em dois grupos: o dos argumentos quase lógicos e o dos
argumentos fundamentados na estrutura real. Os argumentos quase lógicos são aqueles que
demonstram a tese de adesão inicial compatível ou incompatível com a tese inicial, já a técnica
quase lógica é a que se estabelece por meio de assuntos lógicos como a física, química e
matemática.

As técnicas argumentativas são as chamadas definições e são quatro: lógicas,


expressivas, normativas e etimológicas. Também há argumentos fundamentados na estrutura

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do real, ou seja, em um ponto de vista, os principais argumentos são: argumentos pragmáticos,
de desperdício, de exemplo, pelo modelo e pela analogia.
A argumentação pelo exemplo é uma das mais utilizadas, pois é com ela que utilizamos
outros modelos para embasar nossa tese, usamos citações de pessoas competentes e ilustres
que compartilham a nossa ideia.
O recurso da presença ilustra a tese da qual queremos defender, são as histórias que
inserimos em nosso texto "procure sempre agregar histórias aos seus argumentos. Eles ficarão
infinitamente mais sedutores" (p.70).
Na persuasão, devemos fazer com que o outro saiba o que ele tem a ganhar aderindo o
que queremos, por exemplo num anúncio de carro, queremos persuadir o comprador a adquirir
o bem pois ele é confortável, bonito etc; desta forma, o futuro consumidor saberá que está
ganhando ao comprar o automóvel.
Para persuadirmos, então, devemos saber os valores do outro, pois o homem é um ser
predominantemente emocional e não racional como se imaginava "os homens planejam o
futuro sobretudo com suas emoções" (p.74). Esses valores podem ser considerados concretos,
quando são bens materiais; e abstratos que são os sentimentos e valores, por exemplo, a paz,
a justiça, a felicidade. E para cada valor, há uma hierarquia individual e variável, por isso, para
persuadirmos uma pessoa, devemos ter noção dos valores por ela hierarquizados.
Caso queiramos que nossa plateia re-hierarquize os valores, utilizamo-nos de algumas
técnicas que recebem o nome de lugares da argumentação, que são seis: lugar de quantidade,
que se utiliza quantidade para valorar coisas; lugar de qualidade, que não se preocupa com
quantidade, valoriza a estima, um exemplo de lugar de qualidade é um bicho de estimação;
lugar de ordem estabelece a superioridade ou inferioridade, por exemplo quando se fala que a
mulher brasileira é a mais bonita do mundo; lugar de essência valoriza o indivíduo como
representante de uma essência, por exemplo o concurso para miss; lugar de pessoa, que
estabelece superioridade das pessoas sobre as coisas; e, por fim, lugar do existente, que
prefere aquilo que existe em detrimento de aquilo que não existe.
Na argumentação, algumas figuras da retórica são importantes, porque permeiam e
marcam o texto. As figuras de palavras são amplamente utilizadas, a metonímia e a metáfora
representam sensações quando utilizadas. As figuras de construção retomam ideias,
referentes, são o pleonasmo, anáfora, epístrofe e concatenação. As figuras de pensamento
constroem oposição ou aludem algo, são a antítese, o paradoxo e a alusão. Por fim,
podemos verificar os recursos argumentativos em todos os textos e eles marcam a retórica, a
persuasão e o convencimento. Por meio da argumentação, estabelecemos a relação com o
outro, com a informação, e sabemos como entender melhor o público ou um texto.
Trata-se, portanto, de um livro que retoma e resume os estudos da Retórica de
Aristóteles e da Nova Retórica de Perelman e Olbrechts-Tyteca. Tem o objetivo de simplificar
os conceitos em uma só obra, com leitura agradável e clara, de forma objetiva, contendo
exemplos atuais, que possibilitam maior aprendizagem sobre argumentação e como utilizá-la
no dia-a-dia.

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SEÇÃO 3- RESUMO: COLAGEM OU UM NOVO TEXTO?

Resumir um texto não é reproduzir frases ou partes integrais do texto original, construindo uma
espécie de colagem de suas ideias principais. Isso é fragmentar um texto. Em um resumo,
devemos apresentar, com nossas próprias palavras, os pontos relevantes de um texto.
Fazer um resumo, portanto, requer técnica e significa elaborar um novo texto. Assim, é
impossível fazê-lo sem antes compreender o conteúdo global do texto primitivo. (CEREJA,
WILLIAN ROBERTO; MAGALHÃES, T.C.; 2005).
Sugestões para a elaboração de um resumo:
a) Ler integralmente o texto a ser resumido, do começo ao fim, tentando responder
mentalmente à pergunta: DO QUE TRATA O TEXTO?
b) Ler uma segunda vez, interpretando a leitura para compreender o significado de palavras
desconhecidas (e recorrer ao dicionário, se preciso) ou para captar o sentido das frases
mais longas ou complexas, que contenham inversões etc. Nessa leitura é preciso,
ainda, estar atento à relação entre frases, prestando atenção nas locuções adverbiais,
como em primeiro lugar, consequentemente, de novo, em breve etc., e nos elementos
conectivos, ou seja, aqueles que estabelecem conexões entre as ideias, como,
entretanto, já que, embora etc.
c) Segmentar o texto em blocos de ideias que contenham alguma unidade de significação.
Dessa forma, se o texto a ser resumido for pequeno, pode-se segmenta-lo em
parágrafos, se for um capítulo de um livro, ou um livro todo, convém procurar outros
critérios de segmentação, de acordo com o tipo de texto. Se for um romance, por
exemplo, pode-se segmenta-lo com base em oposição de fatos, personagens, tempo
etc. Feito isso, resumir a ideia contida em cada segmento, procurando empregar
palavras abrangentes.
d) Redigir o resumo, procurando reduzir as segmentações ao essencial e encadeá-las numa
ordem em que as ideias se sucedam e se relacionem.

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REFERÊNCIAS

BRONCKART, J. P. Atividades de linguagem, textos e discursos. São Paulo: EDUC, 1999.

CEREJA, W.R.; MAGALHÃES, T.C., Texto e interação: uma proposta de interação textual a
partir de gêneros e projetos. Atual Editora, São Paulo, 2005.

DIONISIO, Angela Paiva; MACHADO, Anna Rachel, BEZERRRA, Maria Auxiliadora. Gêneros
Textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

FALCO, Arlete. A PERSUASÃO NO TEXTO PUBLICITÁRIO. Revista Entrelinhas – Vol. 9, n. 1


(jan./jun. 2015) ISSN 1806-9509.

FREITAS, Henrique Campos & MARRA,Mayra Natanne Alves .Tipos de argumentos utilizados
nos anúncios publicitários das Havaianas. DOI: 10.14393/DL21-v10n1a2016-16. Dispoível em:

FUNDAÇÃO BRADESCO: Gêneros textuais: definições, funcionalidades e atividades.


Fascículo único, s/d.

MIRANDA, Daniela. Resumo da obra A arte de argumentar , escrito por ABREU, Antônio
Suárez. Cotia: Atiliê Editorial, 2006.Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/linhadagua/article/view/37308/40028.

SCHNEUWLY Bernard e DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. São Paulo: Mercado de
Letras, 2010.

SILVEIRA, Regina Célia P. ARGUMENTAÇÃO EM TEXTOS MULTIMODAIS PUBLICITÁRIOS


(PUC/SP). DOI 10.26512/discursos.v3i2.2018/20949

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