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GÊNEROS TEXTUAIS: DEFINIÇÃO E

FUNCIONALIDADE
Luís Antônio Marcuschi
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros
Textuais: definição e funcionalidade. In:
DIONÍSIO, ângela P.; MACHADO, Anna R.;
BEZERRA, Maria A. (Org.) Gêneros
Textuais e Ensino. 2ª ed. Rio de
Janeiro:Lucerna, 2003.
1. Gêneros textuais como
práticas sócio-históricas

• Contribuem para ordenar e estabilizar as


atividades comunicativas do dia-a-dia;
• São entidades sócio-discursivas e formas de
ação social incontornáveis em qualquer
situação comunicativa;
• Os gêneros textuais surgem situam-se e
integram-se funcionalmente nas culturas em
que se desenvolvem e caracterizam-se muito
mais por suas funções comunicativas,
cognitivas e institucionais do que por suas
peculiaridades lingüísticas e estruturais
2. Novos gêneros e velhas
bases
• As novas tecnologias, ou seja, a intensidade
do uso das tecnologias e suas interferências
nas atividades comunicativas diárias
propiciaram o surgimento de novos gêneros
textuais, formas inovadoras. Fato já notado
por Bakhtin(1997) quando falava na
transmutação dos gêneros e na assimilação
de um gênero por outro gerando novos. EX.:

BILHETE CARTA E-MAIL

CONVERSA TELEFONEMA REDES SOCIAIS


• Os limites entre a oralidade e a escrita
tornam-se menos visíveis, a isto chama-se
hibridismo que desafia as relações entre
oralidade e escrita e inviabiliza de forma
definitiva a visão dicotômica.
• Os gêneros híbridos permitem observar
melhor a integração entre os vários tipos de
semioses: signos verbais, sons, imagens e
formas em movimento.
• Gêneros textuais não se caracterizam nem se
definem por aspectos formais, sejam eles
estruturais ou linguísticos, e sim por aspectos
sócio-comunicativos e funcionais. Ex.: artigo
científico em revista e em jornal.
3. Definição de tipo e
gênero textual
• É impossível se comunicar verbalmente a não ser
por algum gênero, assim como é impossível se
comunicar verbalmente a não ser por algum
texto.
• Esta visão segue a noção de língua como
atividade social, histórica e cognitiva,
privilegia a natureza funcional e interativa.
• A língua é tida como uma forma de ação social e
histórica e que, ao dizer, também constitui a
realidade sem contudo cair num subjetivismo ou
idealismo ingênuo. Neste contexto os gêneros
textuais se constituem como ações sócio-
discursivas para agir sobre o mundo e dizer o
mundo, constituindo-o de algum modo.
 TEXTO é uma entidade
concreta realizada
materialmente e corporificada
em algum gênero textual.

 DISCURSO é aquilo que um


texto produz ao se manifestar
em alguma instância discursiva.
O discurso se realiza nos textos.
TIPOS TEXTUAIS

constituem
definição

abrangem são
DOMÍNIO DISCURSIVO: Uma
esfera ou instância de produção
discursiva ou de atividade humana.
Não são textos nem discursos, mas
propiciam o surgimento de discursos
bastante específicos. Discurso
jurídico, discurso jornalístico,
discurso religioso, discurso político,
etc.
4. Algumas observações
sobre os tipos textuais
• um texto é em geral tipologicamente
variado (heterogêneo). Veja-se o caso
da carta pessoal, que pode conter uma
sequência narrativa (conta uma
historinha), uma argumentação
(argumenta em função de algo), uma
descrição (descreve uma situação) e
assim por diante.
• um tipo textual é dado por um conjunto
de traços que formam uma seqüência e
não um texto.
• A rigor, pode-se dizer que o segredo da
coesão textual está precisamente na
habilidade demonstrada em fazer essa
"costura" ou tessitura das seqüências
tipológicas como uma armação de base,
ou seja, uma malha infraestrutural do
texto.
Tipos Textuais – Classificação
segundo Werlich(1973)
Estrutura simples com um verbo estático no presente
ou imperfeito, um complemento e uma indicação
Descritiva circunstancial de lugar. Ex.: Sobre a mesa havia
milhares de vidros.
Exposição sintética pelo processo de composição. Um
sujeito e um predicado(no presente) e um
complemento com um grupo nominal. Enunciado de
identificação de fenômenos. Ex.: Uma parte do
cérebro é o córtex.
Exposição analítica pelo processo de decomposição.
Expositiva Um sujeito, um verbo da família do verbo ter(ou
verbos como contém, consiste, compreende) e um
complemento que estabelece com o sujeito uma
relação parte-todo.Enunciado de ligação de
fenômenos.Ex.: O cérebro tem dez milhões de
neurônios.
Tipos Textuais – Classificação
segundo Werlich(1973)
Verbo de mudança no passado, um
circunstancial de tempo e lugar. Enunciado
Narrativa indicativo de ação. Ex.: Os passageiros
aterrissaram em Nova York no meio da noite.
Uma forma verbal com o verbo ser no
presente e um complemento. Enunciado de
Argumentativa qualidade. Ex.: A obsessão com a
durabilidade nas Artes não é permanente.
Um verbo no imperativo. Enunciados
incitadores à ação. Podem assumir
configuração mais longe onde o imperativo é
Injuntiva substituído por “deve”. Ex.: Pare! Seja
razoável. Todos brasileiros acima de 18 anos
do sexo masculino devem comparecer ao
exército para alistarem-se.
• Intertextualidade inter-gêneros = um gênero com
função de outro
• Intertextualidade tipológica = um gênero com a
presença de vários tipos
• A possibilidade de operação e maleabilidade dá
aos gêneros enorme capacidade de adaptação e
ausência de rigidez. Miller(1984) considera o
gênero como “ação social” e diz: “uma definição
de gênero não deve centrar-se na substância
nem na forma do discurso, mas na ação em que
ele aparece para realizar-se.”
• Bakhtin(1997) indicava a “construção
composicional”, ao lado do “conteúdo temático” e
do “estilo” como as três características dos
gêneros.
• Os gêneros são, em última análise, o reflexo das
estruturas sociais recorrentes e típicas de cada
cultura.
5. Observações sobre
Gêneros Textuais
• Quando dominamos um gênero textual,
dominamos uma forma de realizar
lingüisticamente objetivos específicos
em situações sociais particulares.”A
apropriação dos gêneros é um
mecanismo fundamental de
socialização, de inserção prática nas
atividades comunicativas humanas” ->
Bronckart(1999) Os gêneros operam,
em certos contextos, como formas de
legitimação discursiva, já que se situam
numa relação sócio-histórica com fontes
de produção que lhes dão sustentação
muito além da justificativa individual.
Gêneros textuais Exemplos de gêneros:
telefonema, sermão, carta
comercial, carta pessoal,
romance, bilhete, aula
expositiva, reunião de
condomínio, horóscopo,
receita culinária, lista de
compras, cardápio,
instruções de uso, outdoor,
resenha, inquérito policial,
conferência, bate-papo
virtual, etc

Abrange um conjunto aberto e


praticamente ilimitado de
designações concretas determinadas
pelo canal, estilo, conteúdo,
composição e função.
6. Gêneros textuais e
ensino
• Ter em mente a questão da relação oralidade e
escrita no contexto dos gêneros textuais, desde os
mais informais até os mais formais e em todos os
contextos e situações de vida cotidiana.
• Os gêneros são modelos comunicativos e servem,
muitas vezes para criar uma expectativa no
interlocutor e prepará-lo para determinada reação.
Operam prospectivamente, abrindo o caminho da
compreensão, como frisou Bakhtin(1997).
• Os interlocutores seguem em geral três critérios para
designarem seus textos: [Elizabeth Gulich(1986)]
– Canal/ meio de comunicação(telefonema, carta, telegrama)
– Critérios formais(discussão, conto, debate, contrato, ata,
poema)
– Natureza do conteúdo(piada, prefácio de livro, receita
culinária, bula de remédio)
• Para Douglas Bilber(1988), os gêneros são geralmente
determinados com base nos objetivos dos falantes e na
natureza do tópico tratado.
• Os gêneros textuais se fundem em critérios
externos(sócio-comunicativos e discursivos) e os tipos
textuais fundam-se em critérios internos(lingüísticos e
formais).
• Adequação tipológica que diz respeito à relação que
deveria haver, na produção de cada gênero textual,
entre os seguintes aspectos:
– Natureza da informação ou do conteúdo veiculado;
– Nível de linguagem(formal, informal, dialetal, culta, etc)
– Tipo de situação em que o gênero se situa(pública, privada,
corriqueira, solene, etc)
– Relação entre os participantes(conhecidos, desconhecidos, nível
social, formação, etc)
– Natureza dos objetivos das atividades desenvolvidas.
Atividade em dupla

Elabore um texto dissertativo


pontuando as principais
contribuições conceituais tratadas no
texto e as implicações das reflexões
de Marchuschi para a organização
do trabalho com a leitura e a escrita
nas aulas de Língua Portuguesa para
a Educação Básica. Não esqueça de
deixar registrado no texto as suas
concordâncias e/ou discordâncias
com as ideias do autor.

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