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LÍNGUA MATERNA
1. INTRODUÇÃO
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Gêneros Discursivos: Contribuições Teóricas
Segundo Todorov (1980), a palavra gênero tem sido usada desde Platão, com a finalidade de
distinguir o lírico, na qual o autor apenas falava; o épico, o autor e personagem falam; o dramático,
apenas a personagem falava, sendo uma constante temática, interessava aos antigos, tanto na
retórica quanto às pesquisas em semiótica literária e teorias linguísticas. (BRANDÃO 2001,
apud Santos, 2004)
Considera-se o texto oral ou escrito como a manifestação concreta do discurso, em
qualquer passagem, falada ou escrita, que forma um todo significativo e independente de
suas extensão , uma unidade de sentido ou um contínuo comunicativo contextual
caracterizada como um conjunto de relações responsáveis pela estrutura do texto, um a
unidade de análise inserida numa perspectiva sócio semiótica , na qual conforme Koch
(2003) “os significados são entendidos como criados a partir de escolhas de unidades
discretas significativas, que são estruturalmente organizadas, disponíveis no sistema linguístico e
motivada s socialmente ”.
Segundo Kress (1985) discurso é constituí do por:
jogos sistematicamente organizados de declarações que dão expressão aos
significados e valores de uma instituição. Um discurso provê um jogo de possíveis
declarações sobre uma determinada área... Nisso provê descrições, regras,
permissões e proibições sociais e ações individuais.
Percebe-se que o discurso e gêneros são formados nas estruturas e processos sociais, na qual
deriva-se das instituições e gênero das ocasiões sociais em que a vida social acontece. Os textos são
determinados pelos sentidos do discurso que aparecem no texto e pelas formas, significados e
construções de um gênero específico. Trata-se de aspectos que são constituídos da natureza
empírica, sejam inseparáveis ou extrínsecos da língua, refere-se à situação realizada no campo do
discurso, ou seja, a uma situação discursiva, como o contexto alude o seu aspecto
sociocomunicativo. (MARCUSCHI 2008, p. 29-30)
Os gêneros do discurso não podem ser considerados como formas que se encontram
à disposição do locutor a fim de que este molde seu enunciado nessas formas. Trata-
se, na realidade, de atividades sociais que, por isso mesmo, são submetidas a um
critério de êxito. (MAINGUENEAU 2001, p. 37)
Para Marcuschi o gênero está entre o discurso, como uma atividade mais universal e o texto,
como uma peça empírica particularizada e configurada numa determinada composição observável
sendo visto como prática social e prática textual-discursiva, pois os gêneros são modelos
correspondentes a formas sociais reconhecíveis nas situações de comunicação em que ocorrem,
sendo relativa ao momento histórico-social em que surge e circula. (MARCUSCHI 2008, p. 84)
O gênero é uma escolha que leva consigo uma série de consequências
formais e funcionais. A própria seleção da linguagem segue a decisão do
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Percebe-se que o discurso e gêneros são formados nas estruturas e processos sociais, na qual
deriva-se das instituições e gênero das ocasiões sociais em que a vida social acontece. Os textos são
determinados pelos sentidos do discurso que aparecem no texto e pelas formas, significados e
construções de um gênero específico. Trata-se de aspectos que são constituídos da natureza
empírica, sejam inseparáveis ou extrínsecos da língua, refere-se à situação realizada no campo do
discurso, ou seja, a uma situação discursiva, como o contexto alude o seu aspecto
sociocomunicativo. (MARCUSCHI 2008, p. 29-30)
Os gêneros do discurso não podem ser considerados como formas que se encontram
à disposição do locutor a fim de que este molde seu enunciado nessas formas. Trata-
se, na realidade, de atividades sociais que, por isso mesmo, são submetidas a um
critério de êxito. (MAINGUENEAU 2001, p. 37)
Para Marcuschi o gênero está entre o discurso, como uma atividade mais universal e o texto,
como uma peça empírica particularizada e configurada numa determinada composição observável
sendo visto como prática social e prática textual-discursiva, pois os gêneros são modelos
correspondentes a formas sociais reconhecíveis nas situações de comunicação em que ocorrem,
sendo relativa ao momento histórico-social em que surge e circula. (MARCUSCHI 2008, p. 84)
O gênero é uma escolha que leva consigo uma série de consequências formais e
funcionais. A própria seleção da linguagem segue a decisão do gênero e seu
funcionamento discursivo no contexto pretendido. Na realidade, se observamos
como agimos nas nossas decisões na vida diárias, dá-se o seguinte: primeiramente,
tenho uma atividade a ser desenvolvida e para a qual cabe um discurso
característico. Esse discurso inicia com a escolha de um gênero que por sua vez
condiciona uma esquematização textual. (MARCUSCHI 2008, p. 85)
Para apoiar a concepção de tratar os gêneros textuais como elementos discursivos, inclui-se o
texto nas práticas discursivas sem dissociá-lo de sua historicidade e de suas condições de produção,
de modo que o gênero textual pode ser entendido como a diversidade socio culturalmente
discursivas humanas e a separação do textual e do discursivo é metodológica, levando em conta os
aspectos textuais e discursivos do gênero, optando pelo uso do termo gênero textual sem diferenciá-
lo do termo gênero discursivo. (Adam 1999 apud MARCUSCHI 2008, p. 83)
Trata-se de reiterar a articulação entre o plano discursivo e textual, considerando o
discurso como o “objeto de dizer” e o texto como o “objeto de figura”. O discurso
dar-se-ia no plano do dizer (a enunciação) e o texto no plano da esquematização (a
configuração). Entre ambos, o gênero é aquele que condiciona a atividade
enunciativa. (MARCUSCHI 2008, p. 81-82)
O domínio dos gêneros discursivos como instrumento possibilita aos agentes produtores e leitores
uma melhor relação com os textos, pois, ao compreender como utilizar o texto de um determinado
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gênero, deduz que a linguagem será de forma mais eficaz, mesmo diante de textos de gêneros ainda
desconhecidos, de modo que no gênero discursivo a linguagem é instrumento mediador do sujeito e
o mundo, não é externo ao sujeito como argumenta Schneuwly, mas interno a ele, pois para
Schneuwly:
o gênero sendo um instrumento tem duas faces: por um lado, há o artefato material
ou simbólico, o produto material existente fora do sujeito, materializando por sua
própria forma e as operações que esta torna possíveis os fins aos quais o instrumento
é destinado; por outro lado o do sujeito, há os esquemas de utilização do objeto que
articulam suas possibilidades às situações de ação (por exemplo, tarefas a resolver).
O instrumento, para se tornar mediador, ou seja, para tornar-se transformador da
atividade, precisa ser apropriado; ele não é eficaz senão à medida que se constroem,
por parte do sujeito, os esquemas de sua utilização. Estes esquemas de utilização são
plurifuncionais: através deles, o instrumento faz ver o mundo de uma certa maneira
e permite conhecimentos particulares do mundo, definindo classes de ação possíveis
através das finalidades que se pode atingir graças a ele, na qual guia e controla a
ação durante seu próprio desenvolvimento. A apropriação do instrumento pode ser
vista como um processo de instrumentalização que provoca novos conhecimentos e
saberes, que abre novas possibilidades de ações, que sustenta e orienta estas ações.
Segundo Geraldi o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria levar a cabo, a não ser
falando, estando relacionada à competência linguística internalizada, ou seja, ao conjunto de regras
que é dominado pelos falantes e que lhes permite o uso normal da língua, de modo que se reconhece
que a língua está em constante adaptação, por isso, organiza-se em gêneros discursivos
relativamente estáveis de comunicação, na qual circulam em sociedade e presentes nas aulas de
língua portuguesa. (GERALDI 2006, p 41) Volochínov ao criar sua teoria da interação verbal,
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destacou os diferentes tipos de discurso praticados nas mais diversas situações da vida corrente,
encontradas nas trocas de discurso cotidianas e são reforçadas pelos usos e pelas circunstâncias, seja
numa conversa espontânea com um amigo, ou entre marido e mulher, ou seja, as esferas sociais são
reguladas por discursos organizados, por gêneros linguísticos ou gêneros da fala. (VOLOCHÍNOV
2010, p. 130)
Para falar utilizamo-nos sempre dos gêneros do discurso, em outras palavras, todos
os nossos enunciados dispõem de uma forma padrão e relativamente de estruturação
e um todo. Possuímos um rico repertório dos gêneros do discurso orais (e escritos).
Na prática, usamo-los com segurança e destreza, mas podemos ignorar totalmente a
sua existência teórica.[...]...falamos em vários gêneros sem suspeitar de sua 37
Work. pap. linguíst., 10 (1): 33-43, Florianópolis, jan. jun., 2009 existência. [...] As
formas da língua e as formas típicas de enunciados, isto é, os gêneros do discurso,
introduzem-se em nossa experiência e em nossa consciência conjuntamente e sem
que sua estreita correlação seja rompida. Aprender a falar é aprender a estruturar
enunciados (porque falamos por enunciados e não por orações isoladas e, menos
ainda, é óbvio, por palavras isoladas). Os gêneros do discurso organizam nossa fala
da mesma maneira que a organizam as formas gramaticais (sintáticas) (BAKHTIN
2010, p. 301-302).
Para Bakhtin os gêneros aparecem na fala e na escrita dentro de um continuo tipológico das
práticas sociais de produção textual, onde a enunciação é um produto da relação social, além de
completar qualquer enunciado que faz parte de um gênero, onde a utilização da língua se realiza em
enunciado oral e escrito. Classifica os gêneros em primários que estão relacionados com o cotidiano
e os secundários que se referem ao discurso científico, teatro, entre outros, por sua vez explica que
os gêneros são aprendidos no decorrer da vida, como participantes de um determinado grupo social,
funcionando como modelos comunicativos na sociedade de forma concreta.
Os gêneros secundários do discurso – o romance, o teatro, o discurso científico, o
discurso jornalístico, etc. - aparecem em circunstâncias de uma comunicação
cultural mais complexa e relativamente mais evoluída, principalmente escrita:
artística, científica, sociopolítica. (BAKHTIN 2003, p. 281)
Segundo Campos o filósofo Bakhtin propõe um estudo da linguagem enquanto atividade
comunicativa, não comprometida somente com forma ou classificação, mas como um campo
interativo formado por gêneros de diferentes esferas da atividade humana, ao abordar os signos
verbais, seja na sua dimensão oral ou escrita, a orientação para o outro e o diálogo entre
consciências estabelecem como elementos indispensáveis aos estudos da linguagem, entende-se que
a linguagem é elemento fundamental na interação entre sujeitos social e historicamente situados, ou
seja o sujeito se constitui na e pela linguagem, através da interlocução que estabelece com o outro.
(CAMPOS 2016, p. 127)
Aprendemos a moldar nossa fala às formas do gênero e, ao ouvir o falado por outro,
sabemos de imediato, bem nas primeiras palavras, pressentir o gênero, adivinhar-lhe
o volume (a extensão aproximada do todo discursivo), a dada estrutura
composicional, prever o fim, ou seja, desde o início, somos sensíveis ao todo
discursivo que, em seguida, no processo da fala, evidenciará suas diferenciações.
(BAKHTIN 2010, p.302)
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Para Barbosa (2001) “a forma composicional pode ser compreendida como um conjunto de
restrições às formas de dizer que são impostas pelas situações recorrentes e específicas da
comunicação discursiva, comparada ao estilo, se apresenta como uma categoria mais fechada,
embora não seja estática”.
Em relação à construção composicional, trata da forma como determinado gênero
discursivo/textual se organiza, isto é, a forma padrão relativamente estável de estruturação de um
todo, mas esta pode modificar-se de acordo com as alterações nos projetos enunciativos e nas
relações dialógica. (COSTA-HÜBES e ESTEVES 2015, p. 91).
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Percebe-se que durante as nossas atividades cotidianas há a interação com outros participantes e
papéis e é ai que os gêneros discursivos desempenham as funções de representação do mundo e
constituições de papéis e relações, visto que quando o ensino de língua portuguesa apoiado nos
gêneros discursivos contribui na formação de leitores e escritores, pois os alunos podem sim ter o
contato com as práticas sociais de linguagem, materializadas nos gêneros. (MOTTA e ROTH 2008,
p. 249)
Nos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) de Língua Portuguesa percebe-se a linguagem
como:
ação interindividual orientada por uma finalidade específica, um processo de
interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de
uma sociedade, nos distintos momentos de sua história, onde todo texto se organiza
dentro de determinado gênero em função das intenções comunicativas, como parte
das condições de produção dos discursos, as quais geram usos sociais que os
determinam, pois os gêneros discursivos/textuais são determinados historicamente,
constituindo formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultural.
(PCNs 1998, p. 20-21)
Conforme a visão crítica dos Parâmetros Curriculares Nacionais, percebe-se a importância dada
às mudanças qualitativas dos paradigmas para o processo de ensino aprendizagem de línguas. A
escola deve trabalhar a linguagem numa perspectiva sociointeracionista, pois o objetivo principal é
a interação, a comunicação com o outro, dentro de um contexto social, pois o estudo dos gêneros
discursivos e como se articulam irá proporcionar aos alunos e ao professor uma visão ampla das
possibilidades de usos da linguagem, de modo que a atividade verbal é interposta por interações
sócio verbais, fazendo com que a linguagem adquira uma conceição comunicativa.
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Ao estudar a linguagem a partir de textos reais há a introdução de uma concepção de texto como
uma resposta a outros textos, que tratam do mesmo princípio do discurso, na qual se relaciona, de
modo que é ainda uma resposta orientada ao seu interlocutor. Conclui-se que cada texto é uma
língua, que sendo única, um lugar de sentidos, ao ser reproduzida por um sujeito será sempre um
acontecimento novo. (CAMPOS 2016, p. 127)
O professor de língua materna ao seguir a noção de texto como algo concreto, onde está presente
na sociedade, com propósitos discursivos específicos, irá contribuir na formação crítica de seus
alunos, pois a produção de um discurso, conforme Campos (2016) “ao apoiar-se na filosofia
materialista bakhtiniana será sempre um acontecimento em resposta/ativa a outro discurso”.
Os professores devem abordar os gêneros em sala de aula de forma que aflore para ser produzido
a ligação entre quem e o que se quer dizer, para quem se quer dizer, com que intenção e em que
momento, especificamente nos níveis fundamental e médio, visto que é nesses níveis de ensino que
os alunos estão se constituindo como leitores e produtores de texto. (SCHOMOLLER 2009, p. 34)
A organização da linguagem dentro dos gêneros discursivos é de forma social e histórico-
culturais, na qual é nesse contexto em que se dá a interação verbal, de modo que o professor tem
papel importante na mediação entre os alunos e a variedade de modelos discursivos, visto que a
escola é o espaço em que se dá a transformação da linguagem oral e escrita do sujeito.
(SCHOMOLLER 2009, p. 37) Conforme Swales:
um gênero engloba uma classe de eventos comunicativos, cujos membros
compartilham algum conjunto de objetivos comunicativos. Esses objetivos são
reconhecidos pelos membros peritos da comunidade discursiva de origem, e dessa
forma constituem a razão para o gênero. Essa razão formata a estrutura esquemática
do discurso e influencia e delimita a escolha de conteúdo e estilo (SWALES 1992, p.
58).
Ao escolher os gêneros como objeto de ensino tem como vantagens facilitar a compreensão de
contextos sócio-históricos essenciais para o processo de compreensão e produção de textos, permitir
ao aluno formas adequadas a se dizer no meio social, compreendendo e produzindo textos mais
adequados, fornece ferramentas para que as práticas de uso de linguagem tenham um fundamento e
uma sequenciação funcional e executável. (SOUZA 2004, p. 163-164)
Para Bakhtin, a distinção entre dois gêneros deve ser levada em conta porque:
ignorar a natureza dos enunciados e as particularidades do gênero que assinalam a
variedade do discurso em qualquer área do estudo linguístico leva ao formalismo e à
abstração, desvirtua a historicidade do estudo, enfraquece o vínculo existente entre a
língua e a vida. A língua penetra na vida através dos enunciados concretos que a
realizam, e é também através dos enunciados concretos que a vida penetra na língua.
(BAKHTIN 1992, P. 283)
A escola deve proporcionar aos alunos a possibilidade de escrever diferentes papéis sociais e para
diferentes interlocutores com finalidades variadas e é no estudo de gêneros que atenderão às
necessidades dessas condições de produção, constituindo a reprodução e a transformação de
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sentidos e de sujeitos e é estes sujeitos que podem criar meios e elementos que façam com que a
produção de textos acadêmicos se transforme de modo significativo em contexto social de
produção, circulação e recepção, por sua vez devemos priorizar a leitura e produção de textos e
discursos, pois a principal finalidade da escola, além da competência linguística aos alunos, é a
formação de leitores críticos e competentes produtores de textos, conscientes do lugar que ocupam e
de sua capacidade de interação social.
Conforme no PCN:
o texto deve ser objeto de ensino privilegiado e deve ser visto como forma
discursiva que reflete a diversidade de gêneros recorrentes na sociedade, em que o
objetivo geral é criar condições para que o aluno possa desenvolver sua competência
discursiva, pois a competência discursiva refere-se a um sistema de contratos
semânticos responsável por uma espécie de filtragem que opera os conteúdos em
dois domínios interligados que caracterizam o dizível: o universo intertextual e os
dispositivos estilísticos acessíveis à enunciação dos diversos discursos. (PCN 1997,
p. 31).
Por sua vez para Biasi-Rodrigues (2002) os preceitos do PCN são obedecidos, visto que nos
inúmeros livros didáticos do ensino fundamental propõe atividade a partir da noção de gêneros, mas
que nem sempre as propostas contemplam realmente o desenvolvimento de competências
comunicativas ou a efetiva relação entre teoria e prática, sendo inúmeras vezes o velho
estruturalismo com roupagem de sócio interacionismo.
Referente as mudanças na disciplina de língua portuguesa, se faz necessário para os professores
uma mudança de perspectiva, na qual afetaria sua concepção de língua, de gramática, de texto,
assim na prática pedagógica repensar, redimensionar e refazer as perspectivas e os paradigmas, pois
os professores sozinhos não conseguiam fazer. (ANTUNES 2002, p. 71).
Bakhtin, na obra Questões de estilística e ensino, acerca das formas gramaticais em relação à
estilística, afirma:
o aluno aprende em quais condições uma oração subordinada adjetiva pode ser
transformada em um particípio e quando tal mudança é impossível, além de tomar
conhecimento da técnica gramatical dessa conversão. Entretanto, nem os professores
nem o manual explicam ao aluno quando e para que essa alteração é feita.
Involuntariamente o aluno se pergunta: para que preciso saber fazer tal
transformação, se não entendo o seu objetivo? (BAKHTIN 2013, p. 25).
Para Meurer a importância do estudo do gênero em linguística aplicada é ser uma forma mais
atrativa do que o ensino da linguagem humana fundamentada na gramática, coesão, modalidades
retóricas e coerência, em uma maneira mais adequada a questões relativas aos diferentes usos da
linguagem e sua interface com o exercício da cidadania, onde a ineficiência da abordagem
tradicional se deve ao fato de não se preocupar e não dar conta das situações específicas em que os
indivíduos efetivamente utilizam a linguagem como instrumento de interação, reprodução e
alteração social. (MEURER 2000, p. 152).
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Schneuwly e Dolz desenvolvem a ideia de que o gênero deve ser utilizado como meio de
articulação entre as práticas escolares, no ensino da produção e compreensão de textos,
considerando o papel central dos gêneros como objeto e instrumento de trabalho para o
desenvolvimento da linguagem:
toda introdução de um gênero na escola é o resultado de uma decisão didática que
visa a objetivos precisos de aprendizagem, que são sempre de dois tipos: trata-se de
aprender a dominar o gênero para melhor saber compreendê-lo, para melhor
produzi-lo na escola ou fora dela; e, em segundo lugar, de desenvolver capacidades
que ultrapassam o gênero e que são transferíveis para outros gêneros próximos ou
distantes, pelo fato de que o gênero funciona num outro lugar social, diferente da
quele em que foi originado, ele sofre, forçosamente, uma transformação. Ele não
tem mais o mesmo sentido; ele é, principalmente, sempre – gênero a aprender,
embora permaneça gênero para comunicar. Trata-se de colocar os alunos em
situações de comunicação que sejam o mais próximas possível de verdadeiras
situações de comunicação, que tenham um sentido para eles, a fim de melhor
dominá-las como realmente são, ao mesmo tempo sabendo, o tempo todo, que os
objetivos visados são (também) outros. O gênero trabalhado na escola é sempre uma
variação do gênero de referência, construída numa dinâmica de ensinoaprendizagem,
para funcionar numa instituição cujo objetivo primeiramente é precisamente este.
(SCHNEUWLY e DOLZ 2004, p. 80-81).
De acordo com Bazerman (2005) “os alunos ao terminarem seus estudos, precisam estar aptos a
produzir muitas diferentes formas de escrita, habilidade e flexibilidade suficientes para se adaptar às
situações variantes da escrita”, pois os alunos na maior parte mostram-se pouco aptos a elaborar
textos temáticos argumentativos coesos, coerentes, apresentando dificuldades de organizar suas
idéias conforme as exigências da norma padrão, sendo necessário a partir da reflexão sobre os
gêneros discursivos ser instrumento internalizado ao indivíduo, que ao apropriar-se passa a utilizálo
como mediador e produtor de sentidos no mundo social, tendo como foco os problemas e
possibilitem sua superação ou minimização, tendo como domínio dos modos de produção de
sentido, próprios da escrita e da oralidade. Conforme Biasi-Rodrigues (2002) “as atividades com
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gêneros na sala de aula podem simular a realidade e propiciar um exercício que permita imaginar
um público ouvinte ou leitor potencial que não inclua o professor”.
4. REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandré Costa. Língua, uso lingüístico e ensino. Perspectiva. Florianópolis, v. 20,
n.1, 2002.
______. Os Gêneros do discurso. In: BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 5. ed.
Tradução Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2010, p. 261-306.
BAZERMAN, Charles. Gêneros textuais, tipificação e interação. São Paulo: Cortez, 2005.
BONINI, Adair. (1998). O ensino de tipologia textual em manuais didáticos do 2º grau para
Língua Portuguesa. Trabalhos em Lingüística Aplicada, n. 31.
BRANDÃO, Helena Nagamine (org). Gêneros do discurso na escola, 2 ed. São Paulo, Cortez.
2001.
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KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Desvendando os segredos do texto. 2ed. São Paulo: Cortez,
2003.
MARCUSCHI, L. A. (1996). Por uma proposta para a classificação dos gêneros textuais.
Recife.
MEURER, José Luiz; MOTTA-ROTH, Desirée. Gêneros textuais. Bauru: EDUSC, 2002
ROJO, Roxane Helena Rodrigues (org). Gêneros discursivos e textuais: questões teóricas e
aplicadas. In: MEURER, J.L., BONINI, Adair.; MOTTA-ROTH Désirée.(orgs.). Gêneros: teorias,
métodos, debates. São Paulo: Parábola Editorial, 2005
SOUZA, K.M. As regras de construção dos gêneros discursivos produzidos na escola. In:
FERNANDES, C.A. & SANTOS, J.B.C. (Orgs.) Análise do Discurso: unidade e dispersão.
Uberlândia: EntreMeios, 2004.