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 A Leitura e a escrita estão no centro de diversas

discussões na atualidade. Estamos sempre


preocupados com o tipo de trabalho que está
sendo desenvolvido com estudantes de diversas
áreas e com a eficiência de suas leituras como
forma de estudo e aprimoramento profissional.

 A Análise de Discurso Crítica pode trazer


ferramentas para desenvolver uma nova
percepção de leitura e uma nova significação
para a escrita que ajudam, não só os estudantes,
mas auxiliam suas novas atividades profissionais.
 Pensando na percepção de leitura como
inferências, Adler e Doren apud Silva (2012, p.
26), consideram que têm-se níveis de leitura
ativa, destacando-se três: a leitura exploratória,
a leitura analítica e a crítica.
 A leitura exploratória seria obter o maior
número de informações em um tempo mínimo
de tempo; a leitura analítica envolve um
processo de decomposição do todo em partes; e
a leitura crítica seria o ato de ler com um senso
acurado de julgamento. Tem-se, dessa forma,
na leitura exploratória, o texto em sua
globalidade; na leitura analítica, o texto
segundo o autor, e, na crítica, as ideologias
subjacentes à intencionalidade do autor e as
práticas sociais do leitor.
Mas, para que se consiga estabelecer uma leitura crítica
podemos utilizar outras percepções para a análise,
considerando uma análise discursiva, envolvendo
texto e discurso. Como metodologia, sugerimos,
seguindo a ADC, que sejam desenvolvidos os
seguintes passos:

◦ Análise linguística: considerar itens lexicais e observação


de significados;
◦ Análise textual: observar aspectos textuais como gênero ou
outras formas que poderiam ser representadas o texto;
◦ Análise discursiva: analisar a percepção do autor, as
ideologias propostas, as formas que podem ser
interpretadas pelo leitor e as suas funções;
◦ Análise social: observar qual a finalidade do referido texto
para a realidade social em que está inserido.

Dessa maneira, ao fazer uma leitura ativa,


considerando também aspectos sociais e discursivos,
teríamos uma verdadeira leitura crítica, passando por
critérios linguísticos e sociais, fazendo que o/a
leitor/a passe ao nível de compreensão discursiva.
 Quando se percebe a leitura com forma de um
processo social, como forma de interação social,
a escrita também se coloca em evidência, pois,
muitas vezes em nossas atividades de produção
textual, os elementos de escrita e leitura
encontram-se relacionados.
 Já, desde 2001, Fairclough, apresenta que, para
que haja uma Análise de Discurso Crítica, é
necessária uma reflexão sobre o que foi
pesquisado. Não basta apenas analisar o que o
autor queria propor ao redigir determinado
texto (produzir inferências), é de suma
importância que se pense nas posições em que
se está inserido, tanto no ato comunicativo,
quanto social, para a leitura crítica. Também se
deve pensar em como, ou a partir de que
prisma, está se vislumbrado determina ação
social representada no discurso.
 A partir da premissa que um discurso molda
e é moldado por outros discursos,
produzindo ações sociais, a escrita reflexiva
pode ser percebida como uma ferramenta de
ação social. Os alunos precisam se atentar
para as redações, não como uma tarefa
imposta com a finalidade de obter
determinada menção ou nota, mas como
forma de reflexão e até mesmo ação na
sociedade.
 Faz-se necessária a aplicação do conceito de
crítica como reflexão também para a escrita.
Objetivar quais as possíveis ações sociais da
escrita ou tentar perceber a recepção de um
possível leitor é fundamental.
 Como apresenta Bagno (2007, p. 73)
Em contraposição à noção de “erro”, e à “tradição
da queixa” derivada dela, a ciência linguística
oferece conceitos de variação e mudança.
Enquanto a Gramática Tradicional tenta construir
uma “língua” como uma entidade homogênea e
estável, a Linguística reconhece a língua como
uma realidade intrinsecamente heterogênea,
variável, mutante, em estreito vínculo com a
dinâmica social e com os usos que dela fazem
seus falantes. Uma sociedade extremamente
dinâmica e multifacetada só pode apresentar
uma língua igualmente dinâmica e multifacetada.
 Dessa maneira, evidencia-se a relação
entre a sociedade e a comunicação,
apresentando o caráter que muitas vezes
é despercebido e utilizado como forma
de poder: a própria língua.
 Segundo Juliana Dias:
 A Teoria Social do Discurso e Análise de Discurso
Critica desenvolvidas pela escola britânica,
especialmente por Norman Fairclough, foram
influenciadas pelos pensamentos de Michel Foucault
e de Antonio Gramsci.
• Podemos dizer que o discurso e socialmente
constitutivo em três aspectos fundamentais:
a) o discurso constrói as diversas posições de sujeito;
b) o discurso constitui também as diferentes relações
sociais;
c) o discurso colabora para a construção dos sistemas
de conhecimentos e crenças do mundo.
 Como ponto em comum entre as correntes
apresentadas, temos a percepção de texto
como “um tecido estruturado, uma entidade
significativa, uma entidade de comunicação e
um artefato sócio-histórico” (Marcuschi,
2008, p. 72). O texto está imerso em uma
rede de relações que envolvem questões
sociais e comunicativas que não devem ser
deixadas, ou vistas em segundo plano.
 Segundo a Linguística Textual – LT –, o texto
seria uma parte de um processo que envolve o
gênero textual e o discurso. Segundo Marcuschi
(2008, p.84), o discurso é a parte linguística
codificada associada a uma prática social
historicamente situada; o texto seria o
observável, apresentando todas as características
que dão acesso aos demais aspectos da análise; e
o gênero seria a prática social e prática textual-
discursiva, operando como uma ponte entre o
discurso e o texto propriamente dito.
 A Análise de Discurso Crítica – ADC – traz uma
visão tridimensional do discurso, na tentativa de
“reunir três tradições analíticas, cada uma das
quais indispensável para análise de discurso”.
 Outra corrente da linguística que utiliza a
interdisciplinaridade como ferramenta e
analisa o texto não somente por critérios
estruturais é a sociolinguística que também
questiona a produção e recepção de textos.
Bagno (2006) evidencia os tipos de
preconceitos que muitos alunos passaram ou
passam ao longo de seu percurso escolar.

 Para que haja uma Consciência Linguística


Crítica fatores sociais, psicológicos e
históricos devem estar presentes nas leituras
e análises para as possíveis escritas.
 Todo e qualquer texto é opus operatum e um modus operandi, ou
seja, é sempre um produto e, ao mesmo tempo, um processo
sociocultural no qual os sujeitos - produtor(es) e leitor(es) –
mobilizam quatro grandes sistemas de conhecimento
( HEINEMANN e VIEHWEGER, 1991):
 1) conhecimento linguístico: corresponde ao conhecimento do
léxico e da gramática, responsável pela escolha dos termos e a
organização do material linguístico na superfície textual, inclusive
dos elementos coesivos.
 2) conhecimento de mundo: compreende as informações
armazenadas na memória de cada indivíduo. Compreende o
conhecimento declarativo, manifestado por enunciações acerca
dos fatos do mundo e o conhecimento episódico e intuitivo,
adquirido através da experiência;
 3) conhecimentos interacionais: relaciona-se com a dimensão
interpessoal da linguagem
 4) conhecimento acerca dos modelos textuais globais: permite
aos usuários reconhecer um texto como pertencente a
determinado gênero textual ou gênero discursivo;
 A escrita de qualquer texto atende a um projeto
de dizer (GERALDI, 1990);
 Um texto é um artefato linguístico-discursivo,
mas seu(s) possível(is) sentido(s) só ganha(m)
acabamento e valor social se este texto tiver
circulação e recepção em espaços sociais. Não
existem textos fora das práticas comunicativas
vividas pelos sujeitos sociais;
 Um texto é o resultado de um trabalho: de
produção (escrita) e interpretação (leitura). Num
primeiro momento, deve ser organizado como
uma configuração coesa de forma a ser
coerentemente interpretável por alguma
comunidade de usuários (HANKS, 2008, p. 119).
 Texto será entendido como uma unidade
linguística concreta (perceptível pela
visão ou audição), que é tomada pelos
usuários da língua (falante,
escritor/ouvinte, leitor), em uma situação
de interação comunicativa, como uma
unidade de sentido e como preenchendo
uma função comunicativa reconhecível e
reconhecida, independentemente da sua
extensão (KOCH & TRAVAGLIA, 2004, p.
08).
O QUE É TEXTUALIDADE?

 Como produto linguístico, o texto é um


tecido, o resultado de uma tessitura. É o
conjunto de cadeias referenciais. Nelas
alguns elementos retomam outros ou,
mesmo, antecipam-nos formando um todo
de sentido. As cadeias referenciais podem
constituir-se de forma linear ou “tentacular”;
 Por textualidade define-se a “qualidade de
coerência/conectividade do texto” (HANKS,
2008, p. 120). Ela pode depender, em maior
ou menor grau, das propriedades inerentes
do artefato e das atividades interpretativas
de uma dada comunidade.
 a textualidade é constituída por:
 coesão – dimensão que caracteriza a maneira pela
qual os elementos da superfície textual (segmentos
linguísticos)se conectam mutuamente em uma
sequência;
 coerência – dimensão que concerne à maneira pela
qual os componentes do mundo textual (palavras e
orações, conceitos e relações subjacentes à
estrutura textual) compõem um todo significativo,
com uma situação de interlocução mantida pela
constância de sentido(s)
 intencionalidade – designa a propriedade que concerne às
atitudes do locutor, qual seja, a intenção de que a mensagem
tenha comunicabilidade, possa impressionar e, em condições
contextuais propícias, até mesmo convencer (pela razão) ou
persuadir (pela emoção) o interlocutor;
 aceitabilidade – concerne à atitude de reconhecimento do
interlocutor mediante a qual uma determinada configuração
de segmentos linguístico-discursivos pode
 ser considerada coesa e coerente;
 situacionalidade – tem a ver com fatores ou normas sociais
que fazem com que um texto seja relevante para uma
determinada situação, o que o torna apropriado
 ou adequado;
 informatividade – trata-se do princípio que transparece em
que medida as informações veiculadas num texto são
esperadas ou não, previsíveis ou imprevisíveis, o que envolve
o seguinte parâmetro: quanto maior a previsibilidade de um
texto, menor será o seu grau de informatividade e vice-versa;
 intertextualidade – característica que pode ser vista a partir
de dois prismas: enquanto, por um lado, tem-se a relação de
um texto com outros textos nos quais ele nasce e para os
quais ele aponta, por outro lado, existe
 sempre a possibilidade de o relacionar com suas paráfrases,
já que é possível encontrar num texto um conjunto de textos
possíveis
A coesão textual é a conexão interna ao
texto. É estabelecida entre seus vários
enunciados. A coesão promove a
articulação das partes do texto; ela diz
respeito aos “procedimentos por meio
dos quais os componentes da superfície
do texto são mutuamente conectados no
interior de uma sequência” (cf.
BEAUGRANDE & DRESSLER, 1981). É ela
que oferece estabilidade ao texto, para
que ele se mantenha como uma unidade
de sentido
 Além da pontuação, essas relações de
sentido se manifestam principalmente
mediante o uso, por parte do produtor do
texto, de um conjunto de palavras
denominadas conectivos textuais –
também conhecidos como articuladores
textuais ou também operadores
discursivos. “Sua função no texto é
exatamente a de pôr em evidência as
várias relações de sentido que existem
entre os enunciados” (PLATÃO & FIORIN,
2007, p. 271).

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