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Material didático:

teoria e prática

Disciplina: Ensino e Aprendizagem de Língua Materna


e Língua Estrangeira.
Adriano Marinho
Alisson Gomes
Beatriz Neri
O que é Material Didático?
Material didático é todo o material que tem por objetivo apoiar a
atividade pedagógica, de modo que o seu conteúdo esteja
relacionado à transmissão do conhecimento de forma sistematizada
e de acordo com o planejamento pedagógico.
Quais são os tipos de Materiais
Didáticos?
São considerados materiais didáticos todo e qualquer instrumento
utilizado em um procedimento de ensino.
Esses materiais costumam ser classificados como recursos visuais,
auditivos ou audiovisuais, que servem para estimular o estudante
por meio da percepção visual e/ou auditiva simultaneamente.
Os tipos de materiais didáticos, com base na Classificação
Brasileira dos Recursos Audiovisuais, incluem:
• Recursos visuais: livros, álbuns, cartazes, exposição, fotografias, gravuras,
mapas, gráficos, flanelógrafo, modelos, mural, museus, objetos, quadros,
transparências, entre outros.
• Recursos auditivos: aparelho de som, discos, fitas cassete, CD, rádio,
CD-ROM;
• Recursos audiovisuais: filmes, cinema, televisão, videocassete, DVD,
computador, tablets, celulares, softwares e aplicativos.

Os materiais didáticos mais utilizados na educação brasileira, de acordo com


o MEC, são:
livros, álbum seriado, jornais, revistas, folders, cartazes, textos, mapas;
desenhos, gravuras, gráficos, maquetes, ilustrações, histórias em quadrinhos;
computadores, datashow, filmes, retroprojetor, slides, quadro, mural, modelos.
Qual a importância do Material Didático?

• O material didático ajuda o aluno a alcançar um melhor entendimento


da matéria que está sendo estudada, pois apresenta o tema de forma
mais completa e pode ser utilizado como consulta quantas vezes forem
necessárias para absorver o conteúdo.

• Ter à disposição um material didático também proporciona ao aluno


maior autonomia, justamente pelo fato de ele poder buscar o
conhecimento por si só. Ele pode, por exemplo, receber as instruções
do professor em sala de aula e complementar o conhecimento com o
material.

• Entretanto, para que isso seja possível, os professores precisam utilizar o


material didático de maneira adequada, e o próprio material precisa
ser estimulante, apresentando recursos e ferramentas tecnológicas.
Didático, então, é o livro que vai ser utilizado em aulas
e cursos, que provavelmente foi escrito, editado,
vendido e comprado, tendo em vista essa utilização
escolar e sistemática. Sua importância aumenta ainda
mais em países como o Brasil, onde uma precaríssima
Qual a situação educacional faz com que ele acabe
determinando conteúdos e condicionando estratégias
importância de ensino, marcando, pois, de forma decisiva, o que se
do livro ensina e como se ensina o que se ensina.
Como sugere o adjetivo didático, que qualifica e
didático? define um certo tipo de obra, o livro didático é
instrumento específico e importantíssimo de ensino e de
aprendizagem formal. Muito embora não seja o único
material de que professores e alunos vão valer-se no
processo de ensino e aprendizagem, ele pode ser
decisivo para a qualidade do aprendizado resultante
das atividades escolares.

Lajolo (1996, p.4)


Será mesmo?
Sobre a relevância do do material didático, destaca-se a colocação
de José William Vesentini, pioneiro da geografia crítica:
O livro didático constitui um elo importante na corrente do discurso
da competência: é o lugar do saber definido, pronto, acabado,
correto e, dessa forma, fonte única de referência e contrapartida
dos erros das experiências de vida.
O que caracteriza o livro didático?
A Bíblia do Professor: o livro didático
• Questionar os materiais didáticos é questionar o próprio ensino
que neles se cristaliza.
• Ensino e livro didático não têm existência isolada, ao contrário,
se encaixam numa tradição na escola brasileira, que se
(re)produz na engrenagem da sociedade brasileira, que por
sua vez integra outras engrenagens, etc, etc, etc.
• Segundo Suassuna (1994:85), “o livro didático põe em xeque
não apenas as práticas pedagógicas em si; mas também a
própria autoimagem do professor, seu ponto de apoio e
identidade. “
• O livro demonstra, na maioria da vezes, qual é a
metodologia e quais as concepções de língua, linguagem e
gramática utilizadas pelo educador, uma vez que este
material é essencial para as aulas.
Como analisar o LD?
• O ensino de língua portuguesa depende de vários elementos e
fatores para ser classificado como “bom” ou “mau”. Conforme
Matencio (1994:85), “poucos têm sido os resultados que as
alterações nos rumos nos estudos da linguagem e aprendizagem
trazem efetivamente para a grande maioria dos cursos de
formação de professores, e, conseqüentemente para nossas salas
de aula”.

• Fica evidente que o ensino depende da formação do professor,


da própria instituição de ensino, da concepção de língua e
linguagem, da escolha do material didático, que é o nosso objeto
de estudo, entre outros.
São nestes pontos que se encontram os problemas de definição
para objeto e objetivos do ensino de língua portuguesa: A
gramática? A leitura e a escrita? A língua oral? O processo de
enunciação dos textos orais e escritos? O domínio de uma
língua considerada lógica e correta em si mesma? O domínio
de uma variedade lingüística prestigiada socialmente? (Batista,
1997: 4).

• Dependendo das respostas que forem dadas a essas


questões, diferentes práticas ensinarão diferentes objetos, com
diferentes objetivos.

• Chegamos, então, ao “ponto chave” da questão: O que


ensinar? Como fazer? Que materiais didáticos adotar?
O que analisar no LD?
O aspecto a ser observado, na análise dos livros didáticos, é a
concepção subjacente de língua, linguagem e gramática que tais
livros adotam e como os autores explicitam essas concepções aos
professores e aos alunos.

• Tendo o livro didático como objeto de estudo, os pesquisadores


analisam: o ensino da gramática, da leitura, da análise linguística, da
produção de texto, os enunciados das atividades...enfim quais são as
concepções que estão presentes ali?
Que concepções estão presentes no
LD?
• Uma prática de ensino voltada exclusivamente para o livro
didático tem como “objetivos” um plano de trabalho
elaborado pelo autor do livro. Deste modo, “o professor é
quase um repetidor do que está no livro” (Matencio,1998:92).

• A adoção do livro didático significa, para Geraldi (1987:4), “ a


filiação do professor às concepções que orientaram a
organização do livro didático adotado (...) o livro didático
passa a conduzir o processo de ensino: de adotado passa
adotar o professor e os alunos.

• Um professor de língua precisa ter concepções de língua e


gramática bem definidas para poder, a partir desta escolha,
elaborar suas aulas e escolher seus materiais didáticos.
As principais perspectivas de análise do
livro didático
Suassuna (1994) apresenta 26 princípios para se fazer uma análise nos livros,
a saber, reconhecimento do fenômeno da variação lingüística, relatividade
dos usos lingüísticos, sistemacidade da linguagem, distinção entre o oral e o
escrito e suas submodalidades, terminologia adotada, concepção de
linguagem, concepção de gramática, concepção de texto etc.
Concordando com Ruiz (1986) e outros, partiremos do princípio de que “ todo
livro didático concretiza uma proposta metodológica. Como tal, articula uma
determinada forma de interpretação da realidade uma visão de mundo,
de que emergem como essenciais uma concepção epistemólogica da
área de conhecimento no caso, uma concepção de língua(gem) com os
procedimentos sugeridos para o trabalho em sala de aula.”
Que concepções de língua e
língua(gem) estão presentes no LD?
• As Concepções de Linguagem de Bakhtin (2004) caracterizaram a linguagem por
meio de três concepções, a saber: o Subjetivismo Idealista, o Objetivismo Abstrato
e a Concepção do Círculo de Bakhtin.
• Entretanto, com o decorrer do tempo, as referidas concepções de linguagem
foram revistas por vários teóricos, dentre os quais destacamos Geraldi (2005, p.
41), o qual aborda a linguagem como: expressão do pensamento; instrumento
de comunicação; como forma de interação social.
• Cabe aqui ressaltar que o que Geraldi fez foi analisar, renomear e expandir as
características destas concepções, de modo a adaptá-las à situação do ensino
brasileiro de línguas.
• A pesquisadora Fuza (2009) elucida que os estudos a respeito das concepções
de linguagem sofreram várias modificações ao longo dos anos, uma vez que
cada período histórico aprecia uma visão de língua distinta, evidenciando assim
o caráter ativo da linguagem no ambiente social e as diversas funções adotadas
pelos educadores e alunos, os quais são diretamente responsáveis pela
condução do ensino-aprendizagem da língua.
Que concepções de gramática estão
presentes no LD?
• Do mesmo modo que as concepções de linguagem conduzem o professor em seu fazer
pedagógico, também existem as concepções de gramática que são igualmente
necessárias ao educador.

• As concepções de gramática adotadas pelo professor de língua são importantes porque


atuam como norteadoras para a elaboração de atividades com a linguagem.

• Alguns teóricos da Linguística como Possenti (1996), Mendonça (2000) e Travaglia (2005)
apontam a existência de três concepções de gramática, cada uma delas associada a
uma concepção de linguagem, a saber: a Gramática Normativa (associada à teoria da
linguagem como expressão de pensamento); a Gramática Descritiva (associada à
concepção de linguagem como meio de comunicação); e a Gramática Internalizada
(associada à concepção de linguagem como processo de interação).
Quais são as pesquisas na área de
material didático?
Ao reconhecer e estudar o papel da pesquisa focada no livro didático,
observa-se um aumento significativo e constante de pesquisas e publicações,
no Brasil, desde a década de 1980 (FARIA, 1984; FREITAG, MOTTA, COSTA, 1987;
GERALDI, 1993; SILVA, 2000; FRACALANZA, 2006; LOPES, 2007).
O tema geral é o Livro Didático (LD), mas os focos e a metodologia de análise
são variados, o que suscita a construção de um mapeamento dessa
produção.
O livro didático é um instrumento de informações a serviço do professor e dos
estudantes, que se constitui muitas vezes num método/guia de ensino.
Diversas pesquisas em Educação têm propiciado a construção de uma visão
crítica de docentes e alunos, no processo de formação profissional, sobre a
qualidade dos livros didáticos, bem como seus limites e possibilidades de uso.
Logo, uma análise dessa produção é fundamental, para que a investigação e
caracterização das concepções e práticas descritas evidenciem as
concepções epistemológicas e as condições históricas de produção das
mesmas.
O livro didático como objeto de
estudo.
Os estudos acerca dos LDP podem ser observados a partir de diferentes
abordagens, dependendo da perspectiva teórica assumida.

O TRATAMENTO DO CONCEITO DE GRAMÁTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS,


Bunzen, 1999.2
1) LUFT, Celso Pedro & CORREA, Maria Helena. (1996). A palavra é sua:
língua portuguesa. São Paulo: Scipione.
2) CARVALHO, Ângela & RIBEIRO, Jorge. (1998). Nossa Palavra. São
Paulo: Ática.
3) TIEPOLO, E., GREGOLIN, R., MEDEIROS, S. (1998). Linguagem e
interação. Curitiba: Módulo. 2
“A nossa entrada pelo mundo dos
livros didáticos”

Para Buzen (2005, p. 558) apud Cargnelutti (2010),


“(...)o olhar que normalmente é lançado para entender esse livro
é sempre à procura do homogêneo, do fio ‘uno’ e claro; são
estudos normalmente avaliativos, que utilizam o livro didático de
Português ‘para fazer uma análise do conteúdo’ e discutir a
maneira com que algum objeto de interesse científico (...) está
sendo tratado pelos autores de livros didáticos”
Para Bunzen (2005), o livro didático de Português se caracteriza
muito mais por uma incompletude e por uma heterogeneidade
de saberes, de crenças e de valores sobre a língua e seu
ensino/aprendizagem do que num saber fazer homogêneo e sem
conflitos.
Na sala de aula, os LDP são “objetos de movimentos de
recontextualização e de re-significação, em que as concepções
dos professores e dos alunos assumem importantes significados
nesse processo. Bunzen (2005, p.12)
O livro didático sob o viés da
Análise do Discurso
● Ferreira (2013), em sua dissertação de mestrado, propõe um
estudo acerca do LDP como um enunciado em um gênero do
discurso, construído através da “interação com outros
discursos em circulação no contexto em que ele foi
produzido”.

● A pesquisa de Ferreira (2013) adentra o âmbito dos estudos do


livro didático sob à luz da Teoria Dialógica do Discurso e outros
conceitos-chave ligados aos escritos de Bakhtin e o Círculo.

● Nesse âmbito, conceitos como cronotopo, exotopia,


carnavalização, interdiscursividade e intertextualidade, entre
outros, são salutares aos estudos do livro didático sob a
perspectiva dos discursos.
A natureza dialógica dos LDP na
pesquisa de Ferreira (2012)

1) na seleção de textos, objetos e metodologias de ensino;


2) na citação de teorias linguísticas, leis educacionais e
documentos oficiais;
3) nas axiologias da autora sobre os objetos de ensino;
4) nos processos de interação entre os interlocutores (autora/
professor). Dessa forma, descrevem-se as formas de assimilação
das vozes oficiais (leis educacionais e teorias linguísticas) no
discurso da autora dos LDPs.
A materialidade linguística ou o
extralinguístico?

(...) as relações dialógicas são extralinguísticas. Ao mesmo tempo,


porém, não podem ser separadas do campo do discurso, ou seja,
da língua enquanto fenômeno integral concreto. A linguagem só
vive na comunicação dialógica daqueles que a usam. É
precisamente essa comunicação dialógica que constitui o
verdadeiro campo da vida da linguagem. Toda a vida da
linguagem, seja qual for o seu campo de emprego (a linguagem
cotidiana, a prática, a científica, a artística, etc.), está
impregnada de relações dialógicas. (BAKHTIN, 2010, p. 209).
O que diz Marcuschi?

(... ) a aula de língua materna é um tipo de ação que transcende


o aspecto meramente interno ao sistema da língua e vai além da
atividade comunicativa e informacional. O meio em que o ser
humano vive e no qual ele se acha imerso é muito maior que seu
ambiente físico e seu contorno imediato, já que está envolto
também por sua história, sua sociedade e seus discursos. A
vivência cultural humana está sempre envolta em linguagem e
todos os textos situam-se nessas vivências estabilizadas
simbolicamente. Isto é um convite claro para o ensino situado em
contextos reais da vida cotidiana. Marcuschi (2008, p 173)
Sob uma perspectiva ligada aos documentos oficiais, Cargnelutti
(2010) aponta que:
“Bunzen e Rojo defendem a relevância de se tratar o LDP como
um gênero do discurso, que nasce nas décadas de 50 e 60 e
encontra seu lugar na década de 70 do século passado, quando,
na esteira do acordo MEC/USAID, promulga-se a Lei 5692, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1971, que reestrutura
a educação brasileira e acarreta mudanças curriculares de
fundo, configurando-se na Lei 5682/71.”
O LDP como produto sócio-histórico
e cultural

Nas palavras de Bunzen e Rojo (2005, p. 87) apud Cargnelutti (2010):


(...) se o gênero é resultado de um trabalho coletivo histórico que
está intrinsecamente relacionado com a interação do locutor com o
interlocutor, no interior de uma determinada cultura, podemos
claramente dizer que enfocar o livro didático de português como
gênero do discurso significa dar relevo à sua própria historicidade, ou
seja, compreendê-lo não como um conjunto de agregados de
propriedades sincrônicas fixas, mas observar suas contínuas
transformações, que têm uma forte relação com o dinamismo das
atividades humanas.
O LDP como gênero do discurso
Conforme vimos, Bunzen e Rojo (2005) destacam exemplos que podem nos
ajudar a compreender a relação dinâmica existente ao se considerar o LDP
como um gênero do discurso.
• O surgimento, na década de 70, do chamado “Livro do Professor” com
respostas, comentários das questões e sugestões de avaliação;

• A própria mudança na seleção do material dos LDP que reflete uma


determinada apreciação sobre o que ensinar em língua materna.

• Quando repensam os objetivos de ensino e a concepção de


ensino/aprendizagem, os autores deixam de selecionar apenas os textos
literários que ditavam o “modelo correto de língua” e começam a
incorporar também textos de divulgação científica, jornalísticos,
publicitários etc.
Conforme destaca Cargnelutti (2010), para Bunzen e Rojo (2005)
há duas interpretações principais da natureza discursiva para
tratar o livro didático de Português:

1. o livro didático de Português como suporte de textos de outras


esferas de circulação, didatizados,

2. ou livros didáticos de Português como gênero do discurso,


complexo e tramado pela intercalação de gêneros.
As bases para os LDP de hoje
Cargnelutti (2010, p.38) defende que:
• A origem da configuração atual do gênero livro didático de
Português advém justamente de uma confluência de três
outros gêneros: a antologia, a gramática e a aula;
• Durante alguns séculos, o ensino de LP foi transmitido por meio
de antologias, gramáticas e manuais de Retórica e Poética;
• Paulatinamente, um novo modelo de livro didático surge em
função dos novos objetivos da disciplina e dos novos perfis de
alunos e professores, em decorrência do processo de
democratização de acesso à escola.
O LDP em perspectiva: o que diz
Rojo (2012)?
Bunzen destaca , acerca de um possível retrato para o LDP, investigações
na área de Linguística Aplicada ao ensino de português nos últimos vinte
anos, com destaque para a produção do Grupo de Pesquisa LDP-Propefil,
as considerações de Rojo (2012).
• “o seu papel estruturador e cristalizador de currículos”;

• o livro didático como manual;

• o apego a um “paradigma de ensino”;

• o livro didático “beletrista”.


Traços da tradição - Rangel (2010)
▪ “privilégio da norma culta e da escrita; e acrescento: com
destaque, às vezes, para uma norma-padrão bastante
defasada, a esta altura, em relação aos usos cultos do
português brasileiro”;
▪ “linguagem oral posta em segundo plano (quando não
esquecida), tratada com superficialidade ou mesmo como
simples atividade-meio para a realização de atividades”;
▪ “concepção de leitura como resgate do tema e depreensão
da estrutura do texto, deixando-se de lado sua dimensão
discursiva”;
▪ “privilégio da forma e da gramática normativa no tratamento
dado aos conhecimentos linguísticos”.
A esse respeito, destaca Rangel
(2010):
• Para além dessas características, o LDP tenderia a organizar-se
de forma a prescindir do planejamento e mesmo da prática do
professor. Do que parece resultar, de acordo com as pesquisas
referidas por Rojo, uma limitação do protagonismo docente e
uma tendência a desconsiderar as demandas específicas do
contexto em que se atua.

• Poderíamos dizer, então, que, como instrumento fundamental do


ensino-aprendizado, o LDP teria acumulado, ao longo do tempo,
defasagens e inadequações capazes de suscitar
questionamentos quanto ao seu papel, funções e formatos. Não
por acaso, a aparição, a partir dos anos 2000, de alternativas
impressas como os apostilados, os cadernos do professor e do
aluno e as sequências didáticas, assim como o surgimento, ainda
mais recente, dos materiais didáticos digitais, são interpretados
por Rojo (2012) como uma decorrência — potencialmente
promissora — desse estado de coisas.
A CONTRIBUIÇÃO DA LINGUÍSTICA APLICADA NA
ELABORAÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA
PORTUGUESA
• A LA atua a partir do entendimento de que a língua é um
fenômeno cultural, histórico, social e cognitivo que sofre
variações com o passar do tempo e de acordo com os
falantes: a língua se manifesta no seu funcionamento, estando
sensível ao contexto. (MARCUSCHI, 2008).
• A LA se interessa em estudar as práticas de uso e de
aprendizagem da língua, seus problemas e contribuições,
cabendo neste contexto o livro didático como objeto de
investigação.
• Quando nos referimos à linguagem escrita e/ou falada ou ao
letramento como prática social, pensamos nos gêneros textuais
e que estes estão também inseridos nos livros didáticos de
Língua Portuguesa, e deste modo, eles podem configurar-se
como instrumentos das atividades de linguagem [...] e por
conseguinte torna-se também um objeto de estudo da LA.
As Concepções de Linguagem
Subjetivismo Idealista, o Objetivismo Abstrato e a Concepção do
Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 2004)

Linguagem como expressão Linguagem como instrumento Linguagem como forma ou


do pensamento de comunicação processo de interação
idealiza a língua como um a língua constitui um código, a língua se institui em um
sistema inflexível a ser isto é, um conjunto de signos procedimento contínuo,
usufruído por determinado linguísticos que possuem concretizado por meio da
falante, acreditando assim regras específicas, tendo interação social dos falantes
que esta nasce na como única função a e não apenas como um
consciência do indivíduo e transmissão de informações sistema invariável.
possui ainda a capacidade através de textos.
de transmitir fielmente o que
ele pensa.
Sobre a linguagem como processo
de interação…
• Koch (2002, p. 17) alega que “[...] o texto passa a ser considerado o
próprio lugar da interação e os interlocutores, como sujeitos ativos
que, dialogicamente, nele se constroem e são construídos […]”.
• O ato de ler, nesse caso, é visto como um período de interação e
produção de sentidos, fazendo com que o estudante se torne um
sujeito ativo, já que tem consciência e compreende o que diz,
além de ter noção de como organizar e transmitir seus
pensamentos para os outros sujeitos.
• “Ler é uma operação inteligente, difícil, exigente, mas gratificante.
Ninguém lê ou estuda autenticamente se não assume, diante do
texto ou do objeto da curiosidade a forma crítica de ser ou de estar
sendo sujeito da curiosidade, sujeito da leitura, sujeito do processo
de conhecer em que se acha.” (PAULO FREIRE, 1989)
Concepções de gramática
As concepções de gramática adotadas pelo professor de língua
são importantes porque atuam como norteadoras para a
elaboração de atividades com a linguagem.
linguagem como linguagem como linguagem como
expressão de meio de processo de
pensamento comunicação interação

GRAMÁTICA GRAMÁTICA GRAMÁTICA


NORMATIVA DESCRITIVA INTERNALIZADA
A concepção da Gramática Normativa ou prescritiva vincula-se a
conceitos e regras de bom uso, defendendo o emprego da norma
padrão, considerando tudo o que foge a esta norma como um “erro”
cometido pelo falante.

Na Gramática Descritiva “a preocupação central é tornar


conhecidas, de forma explícita, as regras de fato utilizadas pelos
falantes”(POSSENTI, 1996)

Gramática Internalizada: nesta concepção, os falantes adequam os


seus recursos linguísticos às diversas situações comunicativas,
permitindo a estes construir um número infinito de frases e produzir
textos com diferentes finalidades
Algumas considerações…
A Gramática Internalizada, diferentemente das outras,
“corresponde ao saber linguístico que o falante de uma língua
desenvolve dentro de certos limites impostos pela a sua própria
dotação genética humana, em condições apropriadas de
natureza social e antropológica”.
Além disso, defende o pressuposto de que o aluno antes de ter o
contato com o espaço escolar, já adquiriu um dado
conhecimento linguístico em virtude de suas diversas situações
comunicativas, ou seja, que sabe fazer uso de sua língua mesmo
que de modo inconsciente.
As atividades e o livro didático
Os critérios classificatórios do Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD) destacam a importância do uso da linguagem oral e da
interação em sala de aula como instrumentos de
ensino-aprendizagem pois esta atitude explora as diferenças e
afinidades que se estabelecem entre as diversas formas de uso da
linguagem oral e escrita, além das características discursivas e
textuais.
“As particularidades lexicais e sintáticas da escrita formal, própria
dos contextos da comunicação pública, ou aquelas da interação
coloquial privada, somente podem ser entendidas se o livro
didático providenciar contextos diferentes, nos quais esses
padrões sejam reconhecidos como adequados.”
Considerações sobre atividades e o
LD
• as propostas do livro didático voltadas para a produção de
textos pelos estudantes devem corresponder aos diferentes
usos sociais da escrita;
• o exercício da leitura aperfeiçoa a atividade da produção
escrita pois esta consiste numa atividade de interação entre
sujeitos e pressupõe muito mais que a simples decodificação
de sinais gráficos.
• o livro didático necessita abordar atividades de leitura que
visem o conhecimento prévio do leitor;
Livro 1 representa a década
de 1980

1. Como os conteúdos
gramaticais são
explorados?
2. O texto inicial é
contextualizado?
3. Qu técnicas de redação
são abordados no livro?
Livro 2 representa a
década de 1990

1. Como os
conteúdos
gramaticais são
explorados?
2. O texto inicial é
contextualizado?
3. Qu técnicas de
redação são
abordados no livro?
Livro 3 representa a
década de 2000

1. Como os
conteúdos
gramaticais são
explorados?
2. O texto inicial é
contextualizado?
3. Qu técnicas de
redação são
abordados no livro?
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TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. 10. ed. São
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O livro do professor precisa interagir com seu
leitor-professor não como a mercadoria dialoga
com seus consumidores, mas como dialogam
aliados na construção de um objetivo comum:
ambos, professores e livros didáticos, são
parceiros em um processo de ensino muito
especial, cujo beneficiário final é o aluno.
Lajolo, 1996, p.5

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